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Profa. Lívea Oliveira Psicopatologia Profa. MSc. Lívea Oliveira livea.oliveira@yahoo.com livea.oliveira@usp.br Profa. Lívea Oliveira Bibliografia Sugerida DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2.ed.Porto Alegre: Artmed, 2008 O Que é Semiologia (Em geral Médica e Psicopatológica) A semiologia, tomada em um sentido geral, é a ciência dos signos, não se restringindo obviamente à medicina, à psiquiatria ou à psicologia. Tratam particularmente dos signos (sinais) e sintomas que indicam a existência de sofrimento mental, transtornos e patologias. São os sinais comportamentais objetivos, verificáveis pela observação direta do paciente. A semiologia médica é o estudo dos sintomas e dos sinais das doenças, estudo este que permite ao profissional de saúde identificar alterações físicas e mentais, ordenar os fenômenos observados, formular diagnósticos e empreender terapêuticas. Isto é, as vivências subjetivas relatadas pelos pacientes, suas queixas e narrativas, aquilo que o sujeito experimenta e, de alguma forma, comunica a alguém » A psicopatologia é um ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença mental, suas causas, as mudanças estruturais e suas formas de manifestação (Campbell, 1986). » Ela pode ser definida, em uma acepção mais ampla, como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. CAMPO » Fenômenos humanos especiais associados a doença mental. ˃ São vivências, estados mentais e padrões comportamentais que apresentam, por um lado, uma especificidade psicológica e, por outro, conexões complexas com a psicologia do normal (o mundo da doença mental não é um mundo totalmente estranho ao mundo das experiências psicológicas "normais") RAÍZES » Tradição médica » Tradição humanistica (filosofia, literatura, artes, psicanálise): "alienação mental", no pathos do sofrimento mental extremo, uma possibilidade excepcionalmente rica de reconhecimento de dimensões humanas. » Karl Jaspers (1883-1969) ˃ Os limites da ciência psicopatológica consistem precisamente em que nunca se pode reduzir por completo o ser humano a conceitos psicopatológicos. Dito de outra forma, não se pode compreender ou explicar tudo o que existe em um homem por meio de conceitos psicopatológicos. Assim, ao se diagnosticar Van Gogh como esquizofrênico (epiléptico, maníaco-depressivo ou qualquer que seja o diagnóstico formulado), ao se fazer uma análise psicopatológica de sua biografia, isso nunca explicará totalmente sua vida e sua obra. Sempre resta algo que transcende à psicopatologia e mesmo à ciência, permanecendo no domínio do mistério. FORMA E CONTEÚDO DOS SINTOMAS Forma dos sintomas: Sua estrutura básica, relativamente semelhante nos diversos pacientes (alucinação, delírio, ideia obsessiva, labilidade afetiva, etc.). Conteúdo: aquilo que preenche a alteração estrutural (conteúdo de culpa, religioso, de perseguição, etc.). Este último é geralmente mais pessoal, dependendo da história de vidado paciente, de seu universo cultural e da personalidade prévia ao adoecimento. Quando se estudam os sintomas psicopatológicos, dois aspectos básicos costumam ser enfocados Os conteúdos dos sintomas estão relacionados aos ternas centrais da existência humana, tais como sobrevivência e segurança, sexualidade, temores básicos (morte, doença, miséria, etc.), religiosidade, entre outros. Esses temas representam uma espécie de substrato, que entra como ingrediente fundamental na constituição da experiência psicopatológica. Quando se estudam os sintomas psicopatológicos, dois aspectos básicos costumam ser enfocados 2. Descrever os principais critérios de normalidade. Objetivos da aula de hoje Que é loucura: Ser cavaleiro andante ou segui-lo como escudeiro? De nós dois, quem o louco verdadeiro? O que, acordado, sonha doidamente? O que, mesmo vendado, vê o real e segue o sonho de um doido pelas bruxas embruxado? Carlos Drummond de Andrade (Quixote e Sancho Portinari, 1974) O conceito de normalidade é extremamente controverso em psicopatologia. A fronteira entre o normal e o patológico só não é difícil de ser delineada em alguns casos como: - alterações comportamentais de intensidade acentuada e longa duração. - alterações mentais de intensidade acentuada e longa duração. O problema é extensivo a todo o campo da medicina: nível de tensão arterial (hipertensão), de glicemia (diabetes) etc. O conceito de normalidade em psicopatologia implica também na própria definição do que é saúde e do que é doença mental, definição que tem repercussões em várias áreas da saúde mental: 1. Psiquiatria legal ou forense – a determinação de anormalidade psicopatológica pode ter importantes implicações legais, criminais e éticas, podendo definir o destino social, institucional e legal de um sujeito. 2. Psiquiatria cultural e etnopsiquiatria – o conceito de normalidade em psicopatologia impõe a análise do contexto sócio-cultural e exige o estudo da relação entre o fenômeno supostamente patológico e o contexto social no qual tal fenômeno emerge e recebe este ou aquele significado cultural. 3. Prática clínica. CRITÉRIOS DE NORMALIDADE: 1. Normalidade como ausência de doença: o primeiro critério que se utiliza é de saúde como “ausência de sintomas, de sinais ou de doenças”. Normal, desse ponto de vista, seria aquele indivíduo que simplesmente não é portador de um transtorno mental definido. Tal critério é bastante falho e precário, pois, além de redundante, baseia-se em uma “definição negativa”, ou seja, definiu-se a normalidade não por aquilo que ela supostamente é, mas sim por aquilo que ela não é, pelo que lhe falta. CRITÉRIOS DE NORMALIDADE: 2. Normalidade ideal: a normalidade é tomada aqui como uma certa “utopia”. Estabelece-se arbitrariamente uma norma ideal, o que é supostamente “sadio” e mais “evoluído”. Trata- se de uma norma constituída e referendada socialmente. Depende, portanto, de critérios sócioculturais e ideológicos arbitrários. Exemplos de tais conceitos de normalidade são aqueles baseados na adaptação do indivíduo às normas morais e políticas de determinada sociedade. Ex: diagnóstico de dissidentes políticos como doentes mentais na antiga União Soviética. CRITÉRIOS DE NORMALIDADE: 3. Normalidade estatística: a normalidade estatística é aquela que identifica norma e frequência. É um conceito de normalidade que se aplica especialmente a fenômenos quantitativos, com determinada distribuição estatística na população geral – como peso, altura, tensão arterial, horas de sono etc. O normal passa a ser aquilo que se observa com maior frequência. Os indivíduos que se situam estatisticamente fora (ou no extremo) de uma curva de distribuição normal passam a ser considerados anormais ou doentes. Este é um critério muitas vezes falho em saúde geral e mental, pois nem tudo o que é frequente é necessariamente saudável, assim como nem tudo o que é raro ou infrequente é patológico. CRITÉRIOS DE NORMALIDADE: 4. Normalidade com bem-estar: A OMS – Organização Mundial de Saúde – definiu em 1958 a saúde como o “completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença”. É um conceito criticado por ser muito vasto e muito impreciso, pois bem-estar é algo difícil de se definir objetivamente. Além disso, esse completo bem-estar físico, mental e social é tão utópico, que poucas pessoas se encaixariam na categoria “saudáveis”. CRITÉRIOS DE NORMALIDADE: 5. Normalidade funcional: este conceito se assenta sobre aspectosfuncionais e não necessariamente quantitativos. Um fenômeno é considerado como patológico a partir do momento em que é disfuncional, provoca sofrimento para o próprio indivíduo ou para o grupo social. Concepção relativista de normalidade. CRITÉRIOS DE NORMALIDADE: 6. Normalidade como processo: nesse caso, se considera os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e reestruturações ao longo do tempo, de crises, de mudanças próprias a determinadas faixas etárias. Este conceito é particularmente útil em psiquiatria infantil e de adolescentes, assim como em psiquiatria geriátrica. 7. Normalidade subjetiva: aqui é dada ênfase maior à percepção subjetiva do próprio indivíduo em relação ao seu estado de saúde, à suas próprias vivências subjetivas. O ponto falho desse critério é que muitos indivíduos que se sentem bem, muito saudáveis e felizes, como no caso de pessoas em fase maníaca, apresentam, de fato, um transtorno mental grave. CRITÉRIOS DE NORMALIDADE: 8. Normalidade como liberdade: alguns autores de orientação fenomenológica e existencial propõem conceituar a doença mental como perda da liberdade existencial (Henri Ey, por exemplo). A saúde mental estaria vinculada às possibilidades de transitar, com graus distintos de liberdade, sobre o mundo e sobre o próprio destino. A doença mental é constrangimento do ser, é fechamento, fossilização das possibilidades existenciais. Objetivo: Explicar como deve ser realizado o diagnóstico psicopatológico. . Capítulo 4 PODEMOS IDENTIFICAR DUAS POSIÇÕES EXTREMAS DE DIAGNÓSTICO: 1. Afirma que o diagnóstico não tem nenhum valor pois cada pessoa é uma realidade única e inclassificável: Nesse caso, o diagnóstico teria a função apenas de rotular as pessoas diferentes, excêntricas, permitindo o poder médico e o controle social sobre o indivíduo desadaptado ou questional (diagnóstico puro). 2. A outra posição diz que o diagnóstico é imprescindível na avaliação das patologias mentais, pois observar os aspectos singulares e subjetivos do indivíduo é muito importante, mas sem um diagnóstico psicopatológico aprofundado não se pode compreender adequadamente o paciente e seu sofrimento, nem escolher o tipo de estratégia terapêutica mais adequada. PODEMOS IDENTIFICAR DUAS POSIÇÕES EXTREMAS DE DIAGNÓSTICO: 1. Afirma que o diagnóstico não tem nenhum valor pois cada pessoa é uma realidade única e inclassificável: Nesse caso, o diagnóstico teria a função apenas de rotular as pessoas diferentes, excêntricas, permitindo o poder médico e o controle social sobre o indivíduo desadaptado ou questional (diagnóstico puro). 2. A outra posição diz que o diagnóstico é imprescindível na avaliação das patologias mentais, pois observar os aspectos singulares e subjetivos do indivíduo é muito importante, mas sem um diagnóstico psicopatológico aprofundado não se pode compreender adequadamente o paciente e seu sofrimento, nem escolher o tipo de estratégia terapêutica mais adequada. NA NATUREZA HUMANA, PODE-SE DISTINGUIR TRÊS GRUPOS DE FENÔMENOS EM RELAÇÃO À SUA POSSIBILIDADE DE CLASSIFICAÇÃO: 1. Aspectos e fenômenos que encontramos em todos os seres humanos: este grupo de fenômenos faz parte de uma ampla categoria que é demais para a classificação, sendo pouco útil para a mesma. Fenômenos como: a privação das horas de sono causa sonolência; a restrição alimentar, causa fome; ou seja, são fenômenos notórios, comuns a todos, que não despertam grande interesse à psicopatologia e são triviais. 2. Aspectos e fenômenos que encontramos em algumas pessoas, mas não em todas: estes são os fenômenos de maior interesse para a classificação diagnóstica em psicopatologia, onde se situam a maior parte dos sinais, sintomas e transtornos mentais. NA NATUREZA HUMANA, PODE-SE DISTINGUIR TRÊS GRUPOS DE FENÔMENOS EM RELAÇÃO À SUA POSSIBILIDADE DE CLASSIFICAÇÃO: 3. Aspectos e fenômenos que encontramos em apenas um ser humano em particular: tais fenômenos, embora de interesse para a compreensão do ser humano, são restritos demais e de difícil classificação e agrupamento, tendo maior interesse os seus aspectos antropológicos, existenciais e estéticos do que propriamente taxionômicos (classificatórios). 2. Aspectos e fenômenos que encontramos em algumas pessoas, mas não em todas: estes são os fenômenos de maior interesse para a classificação diagnóstica em psicopatologia, onde se situam a maior parte dos sinais, sintomas e transtornos mentais. ASPECTOS PARTICULARES DO DIAGNÓSTICO PSICOPATOLÓGICO 1. Baseado preponderantemente nos dados clínicos: Dosagens laboratoriais, exames de neuroimagem estrutural, testes psicológicos. 2. Baseia-se principalmente no perfil de sinais e sintomas apresentados pelo paciente na história da doença e no momento da entrevista. P. Ex.: ao ouvir do paciente ou familiar a história de vida repleta de sofrimentos, fatos emocionalmente dolorosos ocorridos pouco antes do eclodir dos sintomas, a tendência natural é estabelecer o diagnóstico. Mas isso pode ser um equívoco, pois a maioria dos quadros psiquiátricos surge após eventos estressantes da vida. Muitas vezes o raciocínio diagnóstico baseado em pressupostos etiológicos mais confunde que esclarece. ASPECTOS PARTICULARES DO DIAGNÓSTICO PSICOPATOLÓGICO Deve-se manter duas linhas paralelas de raciocínio clínico: 1. Linha diagnóstica baseada na cuidadosa descrição evolutiva e atual dos sintomas. 2. Linha etiológica: que busca, na totalidade de dados biológicos, psicológicos e sociais, uma formulação hipotética plausível sobre os possíveis fatores etiológicos envolvidos no caso. 3. De modo geral não existem sinais ou sintomas psicopatológicos totalmente específicos de determinado transtorno mental. 4. O diagnóstico psicopatológico é, apenas possível, com a observação do curso da doença. Sistemas classificatórios: DSM IV e CID-10 DSM-IV O Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais é uma publicação da American Psychiatric Association, Washington D.C., sendo a sua 4ª edição conhecida pela designação “DSM-IV”. Este manual fornece critérios de diagnóstico para a generalidade das perturbações mentais, incluindo componentes descritivas, de diagnóstico e de tratamento, constituindo um instrumento de trabalho de referência para os profissionais da saúde mental. O DSM-IV é um sistema de classificação categórica. As categorias são protótipos, e um paciente com uma íntima aproximação ao protótipo é dito como tendo um transtorno. Qualificadores são algumas vezes usados, por exemplo leve, moderada e severa formas de transtorno. Para quase metade dos transtornos, sintomas podem ser suficientes para causar “aflição clinicamente significativa ou afecção social, ocupacional ou em outras importantes áreas de trabalho”. Cada categoria de transtorno mental tem um código numérico tirado do sistema de códigos da CID, usado por serviços de saúde (incluindo seguradoras) com propósitos administrativos. Sistemas classificatórios: DSM V e CID- 10DSM-V Sistema Multiaxial O sistema multiaxial envolve uma avaliação em diversos eixos, cada qual relativo a um diferente domínio de informações capaz de ajudar o clínico a planejar o tratamento e predizer o resultado. A classificação multiaxial do DSM-IV é composta de cinco eixos: Eixo I: transtornos clínicos, incluindo principalmente transtornos mentais, Outras condições que podem ser foco de atenção clínica Eixo II: transtornos de personalidade ou invasivos, bem como retardo mental; Eixo III: condições médicas agudas ou desordens físicas; Eixo IV: fatores ambientais ou psicossociais contribuindo para desordens; Eixo V: Avaliação Global do FuncionamentoSistemas classificatórios: DSM IV e CID-10 DSM-IV - Sistema Multiaxial - Exemplo Eixo I: Transtornos clínicos, incluindo principalmente transtornos mentais, Outras condições que podem ser foco de atenção clínica Eixo I: 296.23 Transtorno depressivo maior, Episódio único, Grave Sem características psicóticas 305.00 Abuso de álcool Eixo II: Transtornos de personalidade ou invasivos, bem como retardo mental; Eixo II: 301.6 Transtorno de personalidade dependente Uso frequente de negação Eixo III: Condições médicas agudas ou desordens físicas; Eixo III: Nenhum Eixo IV: fatores ambientais ou psicossociais contribuindo para desordens; Eixo IV: Ameaça de perda do emprego Eixo V: Avaliação Global do Funcionamento Eixo V: AGF 35 Sistemas classificatórios: DSM IV e CID-10 CID-10 A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, frequentemente designada pela sigla CID (em inglês: International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems - ICD) fornece códigos relativos à classificação de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças. A cada estado de saúde é atribuída uma categoria única à qual corresponde um código, que contém até 6 caracteres. Tais categorias podem incluir um conjunto de doenças semelhantes. A CID é publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e é usada globalmente para estatísticas de morbilidade e de mortalidade, sistemas de reembolso e de decisões automáticas de suporte em medicina. O sistema foi desenhado para permitir e promover a comparação internacional da colecção, processamento, classificação e apresentação do tipo de estatísticas supra-citado. ICD A CID é uma classificação base da Família Internacional de Clasificações da OMS (WHO-FIC). Se os critérios são satisfeitos atualmente, um dos seguintes especificadores de gravidade pode ser anotado após o diagnóstico: » Leve ˃ Presença de poucos sintomas, se algum, além dos exigidos para fazer o diagnóstico, e os sintomas produzem não mais do que um leve prejuízo no funcionamento social ou ocupacional. » Moderado ˃ Presença de sintomas ou prejuízo funcional entre “leve” e “grave”. » Grave ˃ Presença de muitos sintomas além dos exigidos para fazer o diagnóstico ou presença de vários sintomas particularmente graves, ou os sintomas resultam em prejuízo acentuado no funcionamento social ou ocupacional. Se os critérios não são mais satisfeitos, um dos seguintes especificadores pode ser anotado. » Em remissão parcial ˃ Todos os critérios do transtorno foram satisfeitos anteriormente, mas no momento apenas alguns dos sintomas ou sinais do transtorno permanecem presentes. » Em remissão completa ˃ Não há mais quaisquer sintomas ou sinais do transtorno, mas sua observação ainda é clinicamente importante. P. ex. em um indivíduo com episódios anteriores de Transtorno Bipolar que está assintomático, mas que tomou lítio durante os três últimos anos. » Histórico Prévio ˃ Para algumas finalidades, pode ser útil anotar um histórico de preenchimento dos critérios de um determinado transtorno, mesmo quando o indivíduo é considerado recuperado. + P. ex.: Transtorno de Ansiedade de Separação, Histórico prévio Explicar deve ser realizado o diagnóstico psicopatológico. . Objetivo 3 » Os fenômenos em Psicopatologia se classificam em crises ou ataques, episódios, fases e surtos. » A CRISE OU ATAQUE caracteriza-se, geralmente pelo surgimento e término abruptos, durante segundos e minutos, raramente horas. Utilizam-se os termos crises ou ataques para fenômenos de pânico, crises histéricas, crises de agitação psicomotora, etc. » O EPISÓDIO tem geralmente a duração de dias até semanas. Tanto o termo crise quanto o termo episódio nada especificam sobre a natureza do fenômeno mórbido. ˃ O termo episódio, assim como o termo crise (ou ataque), são denominações referentes apenas ao aspecto temporal do fenômeno. » A Fase refere-se particularmente, aos períodos de depressão e de mania dos transtornos afetivos. » Passada a fase, o indivíduo retorna ao que era antes dela, sem que fiquem alterações duradouras na personalidade, não ocorrendo sequelas na mesma. » A FASE é, na sua gênese, incompreensível psicologicamente, tendo um caráter endógeno. » Uma FASE pode durar semanas ou meses, menos frequentemente, anos. Fala-se, então, em fase depressiva, fase maníaca e período interfásico assintomático. » O SURTO, é uma ocorrência aguda, que se instala de forma repentina, fazendo eclodir uma doença de base endógena, não compreensível psicologicamente. » O característico do SURTO é que ele produz sequelas irreversíveis, danos à personalidade e/ou à esfera cognitiva do indivíduo. Exemplos: surto esquizofrênico agudo, surto catatônico, etc. » Após vários anos de doença, com vários surtos, o paciente se encontra no chamado estado residual da doença, apresentando apenas sintomas e sinais sequelares dela, sintomas predominantemente negativos. » COMORBIDADE » Um indivíduo pode sofrer de dois ou mais transtornos psicológicos ao mesmo tempo. Exemplos: depressão e abuso de substância; depressão e esquizofrenia; ansiedade geral e fobias. » Como alguns transtornos tendem a co-ocorrer juntos mais do que outros, em alguns casos de comorbidade, pode haver conexões entre os transtornos. 1) Dois transtornos ao mesmo tempo simplesmente por acaso, sem que haja conexão entre eles. 2) Um transtorno leva a outro: transtorno alimentar que leva a depressão. 3) Os dois transtornos tem uma causa comum: transtorno alimentar e depressão por falha na mesma região do cérebro que controla os dois. Não sei, não sei. Não devia de estar relembrando isto, contando assim o sombrio das coisas. Lenga-lenga! Não devia de. O senhor é de fora, meu amigo mas meu estranho. Mas, talvez por isto mesmo. Falar com o estranho assim, que bem ouve e logo longe se vai embora, é um segundo proveito: faz do jeito que eu falasse mais mesmo comigo. João Guimarães Rosa (Grande sertão: veredas, 1956) A avaliação psiquiátrica possui duas dimensões: » LONGITUDINAL (histórica, temporal), se trata de uma linha horizontal do passado para o futuro. » TRANSVERSAL (momentânea, atual), se trata de uma linha vertical, o presente da vida do entrevistado. » Sem a dimensão longitudinal, a transversal fica obscura e incompleta, sendo difícil uma devida apreciação. A avaliação do paciente em psicopatologia é feita principalmente por meio da entrevista, que não pode ser vista de forma alguma como uma coisa banal ou um simples perguntar ao paciente sobre alguns itens da sua vida. Através da entrevista psicopatológica, chegamos a dois principais aspectos da avaliação: » Anamnese, ou seja, o histórico dos sintomas e sinais/signos que o paciente tem apresentado ao longo de sua vida, seus antecedentes pessoais e familiares, assim como de sua família e meio social. » Exame Psíquico, ou Exame de estado mental. » A avaliação física e neurológica deve ser considerada, pois ajudará no psicodiagnóstico. O PSICODIAGNÓSTICO A área desenvolvida pela psicologia clínica, denominada psicodiagnóstico representa um importante meio de auxílio no diagnóstico psicopatológico, e em sua maioria, são viabilizados através da aplicação de testes projetivos, psicométricos e da personalidade, ou também por testes rastreadores de possíveis alterações orgânicas, como o Bender, assim como testes neuropsicológicos mais específicos, destinados a detectar alterações cognitivas. Exames complementares: os exames complementares laboratoriais, neurofisiológicos e de neuroimagem são também auxílio fundamental ao diagnóstico psicopatológico. ENTREVISTA COM O PACIENTEO domínio da técnica de realizar entrevistas é o que qualifica o profissional habilidoso (Sullivan, 1983), sendo um atributo fundamental e insubstituível do profissional de saúde. A habilidade do entrevistador revela-se: Pelas perguntas que formula Por aquelas que evita formular e pela decisão de quando e como falar ou apenas se calar e ouvir. ENTREVISTA COM O PACIENTE O profissional que conduz a entrevista deve também estabelecer uma relação empática e ao mesmo tempo útil do ponto de vista humano, além de saber acolher e ouvir o sofrimento do indivíduo, escutando o doente em suas dificuldades e idiossincrasias (maneira própria de ver, sentir e reagir de cada um). Além de paciência, respeito e empatia, o profissional necessita de uma certa têmpera (moderação, equilíbrio) e habilidade para estabelecer limites aos pacientes invasivos ou agressivos, e assim proteger-se e proteger o conteúdo da entrevista. ENTREVISTA COM O PACIENTE A postura do entrevistador varia muito em função: Do paciente; sua personalidade, seu estado mental e emocional. Às vezes o entrevistador precisa ouvir muito, pois o paciente preciso muito falar, desabafar. Outras vezes, o entrevistador deve falar mais, para que o paciente não se sinta muito tímido ou retraído; Do contexto institucional da entrevista, ou seja, onde será realizadas esta entrevista, em um pronto socorro, enfermaria, ambulatório, etc. Dos objetivos da entrevista, se a mesma está sendo realizada para um diagnóstico clínico, estabelecimento de vínculos terapêuticos, questões forense, etc; Da personalidade do entrevistador, ou seja, alguns profissionais são ótimos entrevistadores falando pouco durante a entrevista, sendo discretos e introvertidos; outros, porém só conseguem trabalhar bem e realizar boas entrevistas, sendo espontâneos, falantes e extrovertidos. ENTREVISTA COM O PACIENTE Pontos negativos que devem ser evitados pelo profissional na realização da entrevista: Posturas rígidas e estereotipadas, que são fórmulas que o profissional deduz que funcionariam bem com alguns pacientes e, portanto devem funcionar com todos. Portanto, o profissional deve buscar uma atitude flexível que se adapte à personalidade e aos sintomas do indivíduo, assim como sua cultura, ideologia e valores pessoais; Atitude excessivamente neutra ou fria, que transmita ao paciente muitas vezes uma situação de distância e desprezo; Reações exageradamente emotivas ou artificialmente calorosas, que produzem uma falsa intimidade. O que se deve fazer é criar uma relação de respeito e consideração pelo paciente, mas de uma maneira genuína, sem extrema frieza ou cautela exagerada; Comentários valorativos ou julgamentos sobre o que o paciente relata, sente, vivencia ou apresenta; ENTREVISTA COM O PACIENTE Pontos negativos que devem ser evitados pelo profissional na realização da entrevista: Reações emocionais intensas de pena ou compaixão, pois um paciente desesperadamente transtornado beneficia-se muito mais de um profissional que acolha tal sofrimento de forma empática do que um profissional que se desespere com ele; Responder com hostilidade ou agressão às investidas hostis ou agressividades do paciente. O profissional deve deixar claro que o paciente está sendo inadequadamente hostil e que, embora em tom sereno e brando, deve deixar evidente que não aceitará agressões físicas ou verbais exagerada, pois tais comportamentos e discussões costumam ser inúteis ou negativas no contato com o paciente; Entrevistas excessivamente prolixas ( muito longo ou difuso; enfadonho), mas no fundo não diz nada de substancial sobre o seu sofrimento. Quando isso ocorrer, o profissional deve ter habilidade de conduzir a entrevista para pontos e termos mais significantes interrompendo a fala do paciente quando julgar necessário; ENTREVISTA COM O PACIENTE Pontos negativos que devem ser evitados pelo profissional na realização da entrevista: Fazer muitas anotações durante a entrevista, pois esse comportamento adotado pelo entrevistador pode transmitir ao paciente que as anotações são mais importantes do que a própria entrevista, por isso é fundamentalmente importante observar se o ato de fazer anotações incomoda o paciente. A(S) PRIMEIRA(S) ENTREVISTA(S) A entrevista inicial é considerada um momento crucial no diagnóstico e tratamento em saúde mental. Esse primeiro contato, quando bem conduzido, deve produzir no paciente uma sensação de confiança e esperança no alívio do seu sofrimento. A APRESENTAÇÃO É conveniente que o profissional se apresente, dizendo seu nome, profissão, especialidade e, se for o caso, o motivo ou razão da entrevista. A confidencialidade, a privacidade e o sigilo podem ser explicitamente garantidos, caso se note o paciente tímido ou desconfiado.. A(S) PRIMEIRA(S) ENTREVISTA(S) TRASNFERÊNCIA E CONTRATRASNFERÊNCIA O conceito de transferência e contratransferência introduzidos por Sigmund Freud, é um fator que ocorre não só na entrevista inicial, mas com futuras entrevistas. As transferências são reações emocionais, tanto de caráter afetuoso como hostil, que não se baseiam na situação real, sendo antes derivadas de suas relações com os pais (complexo de Édipo). A partir deste conceito, o paciente projeta inconscientemente no profissional de saúde os sentimentos primordiais que nutria por seus pais ou figuras significantemente emocionais na infância. A(S) PRIMEIRA(S) ENTREVISTA(S) TRASNFERÊNCIA E CONTRATRASNFERÊNCIA A contratransferência, por sua vez, é a transferência que o profissional estabelece com o seu paciente, onde o profissional projeta inconscientemente no paciente sentimentos que nutria no passado por pessoas significativas de sua vida, Sem saber por que, este ou aquele paciente desperta no profissional sentimentos de raiva, medo, piedade, carinho, repulsa, etc. O desfecho da entrevista só se dará de uma forma positiva quando o profissional identificar que tais reações contratransferenciais têm a ver com os seus próprios conflitos internos. A(S) PRIMEIRA(S) ENTREVISTA(S) ASPECTO GLOBAL DO PACIENTE Um fator importante nas fases iniciais é notar a e descrever o aspecto global do paciente, expresso pelo corpo e pela postura corporal, pela indumentária (roupas, sapatos, etc), pelos acessórios (colares, brincos, piercing, etc.), por detalhes como maquiagem, perfumes, odres, marcas corporais (tatuagens, queimaduras, etc.) A aparência do paciente, suas vestes, seu olhar sua postura, revela muito de seu estado mental interior e é recurso fundamental para o diagnóstico. A(S) PRIMEIRA(S) ENTREVISTA(S) SIMULAÇÃO E DISSIMULAÇÃO Dissimulação, que é o ato de esconder ou negar voluntariamente a presença de sinais e sintomas psicopatológicos. Tal negativa ocorre por medo de uma possível internação, de tomar medicamentos psiquiátricos ou de simplesmente ser cotado como “louco” ou “doente mental”. O processo de simulação, que ao contrário da dissimulação, é a tentativa de criar, apresentar voluntariamente um sintoma, sinal ou vivência que realmente não tenha, ou seja, diz ouvir vozes, sentir dores psicossomáticas, de estar desequilibrado emocionalmente sempre com o intuito de obter algo como: aposentadoria, dispensa do trabalho, não ir para a cadeia, ou muitos outros fatores que podem ser evitados com um diagnóstico de doença mental. A(S) PRIMEIRA(S) ENTREVISTA(S) RELATO DO CASO APÓS A ENTREVISTA Ao final da entrevista forma-se um esboço do caso na mente do entrevistador. Ele então irá elaborar um relato de caso, ou seja, um esboço, sempre dando ênfase e usando as próprias palavras do paciente e do(s) informante(s). A caligrafia deve ser legível e deve-se evitar terminologias por demais técnicas. Deve-se tomar cuidado também coma interpretação precoce dos dados, que acarretará em possíveis erros e evitando a possibilidade de que o profissional “enxergue” mais o paciente que está a sua frente.
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