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COMPENDIO DE HISTORIA GERAL DO DIREITO OBRAS JURIDICAS DO AUTOR : FRAGMENTOS JURIDICO-PHILOSOPHICOS, 1 vol. HISTORIA DO DIREITO NACIONAL, 1 Vol. OBRAS LITTERARIAS DO MESMO : A POESIA SCIENTIFICA, (estudo critico) l vol. VISÕES DE HOJE, (poema) l vol. ESTILHAÇOS (versos) l vol. TELA POLYCHROMA, (versos) 1 vol. COMPENDIO OK HISTORIA GERAL DO DIREITO POR J. I Z I D O R O M A R T I N S J U N I O R Lente Cathedratico da Faculdade do Recife. PERNAMBUCO RAMIRO M. COSTA & C ~ EDITORES LIVRARIA CONTEMPOHANEA 1898 A Sylvio Roméro O GRANDE JURISTAPHILOSOPHO, CUJA OBRA CRITIO-LITTERARIA É O ORGULHO DA ACTUAL GERACÃO BRASILEIRA. HOMENAGEM De uni dos mais humildes da Escola do Recife. Du jour où on a connu le sanscrit et entrevu les lois de la transformation du langage à travers les temps et les lieux, on s'est aperçu que la spéculation pure etait impuissante et qu'on perdait son temps à n' étudier qu'une seule langue, fût-ce le gree ou le latin. Il en est de même de la science du droit. Si elle se livre à la spéculation abstraite. elle s'égare; si elle se renferme dans Vétude d'un texte unique, fût-ce le Digeste ou le Code Civil, elle se condamne à voir sans comprendre. Elle ne peut trouver la raison des choses qu'à la condition de n'ignorer aucun des monuments de lé' gislation, de les rapprocher les uns des autres et de les embrasser tous dans leur ensemble. R. DARESTE : Études d'histoire du Droit. HISTDHH GERAL DO OIBEIIO I Evoluçào do Direito e leis que a dominam Oonsiderado como nnrma agetidi, como coniplexo de regras cousuebudinarias ou escriptas, o Direito nâo é sô uni engenlioso mffhaninmo regulador da co-existencia social ein tal ou quai griipo Jiuiiiîino ; é tambem, e principal mente, uni organismo, mu quasi ser estrueturado e vivo, nascendo, evoiuindo e fluando-se en» condiçôes détenu inaveis. (1) Olhando-o por esse, prisma é que se pôde repetir, coin K. Von Jhering, que o Direito «présenta «fcodos os attributos de uni produeto natural : a unidade na maltiplieidade, a indivi-dualidade, o cresciinento, etc. » K é sobretudo nesse ponto de vis!a que se pôde fallar jein mua evoluçào juridica, porquauto o lado mechanico e cul-tural do Direito presta-se ninito meiios à inanifestaçao desse pheuoiueno. Talvez por nao ter attendido ao duplo modo de ser, orga-hnco e viechanico, do Direito, foi que 6, Tarde oppoz a idéa de (1 ; Vid. Historia do Direito National, pelo ftntor, pags. 8,9 e 10. OOMTENDIO DE H1HTOKIA evolaçâo juridica a de meras tranuformaçOet, determinadas, îa m6r parte dos casos, pelo espirito de tmUnçâo. (1) I Real mente, visto no geu aspoeto de instituto social, de np-p;trelho regiilador e «Hector fabricado voluntariainente para réalisai- na Cidade lui mai la «o accordo das vontadea, produziu-do a equaçâo dos intéresses », o Direito pôde apparecer-nos desegual, fragmentndo, imitativo, e em miiitos casos regrettaioo\ niesnio. Nîlo assim si o virntos na sua feie&o fondamental e orga-nloa, conio nm prodûéto natural determinndo por fatal idades bio-sbc.iologicas. EéimpoKKivnl recusar ver o Direito por esse priant», hoje que OH methodoe das scioncias unturaee reunvaram OH estudos soeiaese dominant em nbaoluto o campo dos conhecimentos lui-manoa, Passaram on tempos em qoe se podia dizer que «o Direito) é nm acto do livre-arbitrio, fundado na Ici moral e portait (o lima expansao da voutade detorminada pela Intelligeucia. (S) A propria modalidade cultnral, apparentement» voluntaria, do Direito, conforme o veinos entre on povos modemos. ôbedeee a il Mi deteriiiiiiismo especial. em «pie ON antécédentes e o laeio représentai!! o papel principal. AMM»ntenios, pois, que te pode fallar desa»sombradameiito de umn eeoluçâo jttridictt, d<> inesmo niud<> que se pode fallar de nma truluriio dan e*p*d«ê (phllogênin..- on da evolnçao de uma especie végétal ou animal detorminada tiuttiygfnUt). O niesnio jurintu philosopho que acima Htamoa, o autor do livro Le* Traiv/ormaUojtit du Ihoit nfto M auimon a repellir, de modo absolut*, a idéa de que se trala. <tejeitando • porito de vista biologico »<» eatudo da idéa,-typo do d«M*uvolvintento, pe-diu «Ile MM idéa àê iela da mechanica e da loglea, • propo«*«*B a « iudicar os priuçïpaea traçoa da emihtçêm <l<> IHrwHm, concebldal coroo uma alta e complexa operaçfto de logica noeial.» ; «J K K A I . DO DIKEITO 9 I A eoncepçâo de uni Direito orgnnismo, movendo-se, desenvol vendo-se ou evohiindo, no tempo c no espnco, alravez dos povos e dos paizes ; uurgindo do plasma piimitivo do facto ou do costume para especializar-se nas regras législatives e nos codigos ; liga-se iutiniamente a esta outra eoncepçSo da Socie-I dade-organismo, que ê a ceci ta e défend ida hoje polos melbores e majores espiritos, em que pesé a G- uniplowicz, o illustre au-tor da Luta dan riiçu». m A Sociedade-organinmo evoluiu e évolue anatomica, mor-phologioa, pbysiologica <• psycbologicamenle, por intermedio da luta e sob o agnilhao dos elenieutos bereditarios e mesolo-gieos ; o Direjto- organisnio, visceralinente ligado â .Soeiedade, evoh'ie coin ella e do niesuio modo que clin, fazcndo idoufciçà trajeetoria. supporfando egunes influeucias e In las, obtendo as mes mas victorias e der rotas. fi' esta a lioao dos lac!os ; é este o depoimento da arcbeo-iogia, da antbiopok)giu e da historia. I Assim, porexemplo, qnando remontainos & phase inicial de associacionisnio, em que varies nueleos de iudividuos coiisan-guineos e afiins, divididos em tribus e bordas, viviam nomades ou sedentarios, sem mua organisacao politiea régular, entregueS exclusivanicnte as neeessidndes pbysiologicas da alimenraçâo e da procreacao : vamos encontiar types de familia eaboticos e rudiinentares, refleetindo o pro]*rio cabos das aggremiacôes primitivas. E' aqii i o hetairisnio, ali o nintriarobado polyan-drico, mais longe a polyganiia p.itriarcbal endogamiea e exo-gainica e raraniente, ncsle ou uaquelle ponto, o typo mouo-gamico da uuiao conjugal. (1) Tu do coufuso e informe, conio o envolucro sopial respective H Si enearamos o phenomeno da propriedade, vemol-a por H (1) Para o fim ijue aqui temos em rista nâo carecemos Raber si promis- enidade, polyandrie, polyganiia e moiiog-areia dereni ser oonsiderados phases rejrnlareu e suoeessivas da evolneâo da familiii. Conheccnios as divergen-oias dos antorcs a esse reapeito e saluanos quaoto «5 atacavel n seriaçào de que se trata. embora propoata e defendida pela gvneralidadc dos sociolo-Igicos e juvistas, 2 10 COMPENDÎO DE HISTORIA H . sua vex evoluir, adnptaudo-se snceessivanieutû nos vavios roo-dos de coustitnicao social : isto e. vemol-a mobiliaria on im-movel, individual ou colleçtiva, colleetiva da fumilia ou dai tribu, conforme as eondieôes de existeneia e desenvolvimento dos agrnpamentos sociaes primitivos. (1) Foi da familia patriarchal, e posteriormente do clan e da M'ibu, que nasceram as primeiras sautcnyas, portauto as pri-roeiras regras de Diieito. « Por toda parte, no régime patriarchal, a justica esta no arbitrio dos jimes, loi é a decis&o do pae» do chefë dessus aggregaçôes de pessoas, familias ou clans que por jnstaposiç&o constituent jâ uni povo nias nâo formaiu ainda uuia iiayâo. Isolados os homcus cm grnpos faïuiliarësj a palavra do pae é a Ici cm oada casa : é a nnica loi. Depois, aggregadas as familias cm clans, coustiluida a nnidadc da villa, os grnpos relaeionamse, e o enefe. ré'i, coude, consul, juiss, king, konig, graf, soplietim, etc.-r é coino o pae de mua familia mais vasta e o .juiz de «nui asseiubléa mais nniuerosa ; mas o seu arbitrio. inspirado pelas Ihàntistes e nâo apeuas caprichoso, é ainda a nnica lei, amaueira do que fora a do pae nos limites mais acanhados do l'ôro domestico. » (2") Os primeiros institntos penaes bu ma nos. taes como o Miâo e a vinganya lamilial : o barbare instruinento processnal das ordaliwi wjuizox de Dcus, revelam tambem, de modo éloquente, a ligayao intima das eoncepeôea e ereacôes juridicas coin o es-tado gérai, — mental, affectivo e pratieo—das sociedades cm que ellas surgem. Nâo teuios necessidade de mais para nos conveneermos de que o Diieito organismo tein, como o organisant social, de qne é commensal, uma evolnyao que se pôde déterminai- e cujas leis superiores precisam ser estudadas. (1 ) Ainda neste ponto devranos advertir qne uào nos préoccupa a questâo de sabot si a marcha da evoluçfi" effeetuon-se, nascendo o communismo familial do oommunisxno da aldeiâ on da tribn. ou este dnquelle. Basta-nos ter certeza de que as dnns formas alludidas ezistiram, tendo alias como con-temporanea e talvez como predecessora a propriedade individual mobiliaria. \ enibora exeepcional e limitadissima. (2) Oliveira Martin» : Qnadro das Instilniçôes primitivas, pâgf. 145, 11 I Encarando a qnesrào no se» aspeefco mais gérai, podeuios dizer que a lei que préside il evplûçâo do Direito é a mesma que rege a Historia, no seu desenvol viuiento secular, e da quai é uni resuino a vida intelleetual de cada individno j por isso que jà eni biologia, jâ em sooiologia, a ontogênia é uni resuino ou reproduclo individnal da pkilogênia. Qualqner que seja a formula ofPerecida para traduzir a rel'e-rida lei da Historia, ver-se-lia que o instincto juridico da ha-inauidade adaptou-se seinpre as fatal idades da mesma lei. ES uueinos, por exeniplo, a célèbre lei dos très estados, forum lada pelo fiindador da Philosophia Position e pelo inesmo philosopho lançada eomo alicerce da Sociologia : — Todas asl nossas eoncepçdes, qner iiulioiduaes quer collectivas. passant pelos tres estados seguintes : o theologico, o metaphi/sico e o positivo. Sabe-se que nessa concepçào de Auguste Comte o estado theologico caracterisa-se pela predomiiiancia do sobrenatura-lisrao religioso na explicaçâo de todos os pheuomenos ; o estado metaphysico, negativo e dissolvente, consiste ua explicaçâo dos phénomènes por entidades imaginarias, verdadeiros entes de razâo, desprovidos do earacter de Divindade ; o estado positivo, eiufim, traduz-se n1 unia interpretaç&o do miindo, fornecida pelos processos scientificos, se m preoccupaçao de causas originarias ou finaes. Dada como verdadeira a lei comteaua, poder-se-ha dizer que o Direito perron e tanihem os très estados allodidosf Pa-rece-nos que si in. Na India, na China, na Assyria. no Egypto, na Grecia, eut Borna, no Péril e no Mexico, para sô fallar das grandes civili-saçôes anfàgas, o primitivo Direito, quando nao foi francamente theocratioo, foi profundaraeiile theologico. E' o que verifica-remos amplamente no correr do nosso estudo, quando tivermos de tratar em particular das velhas civilisaçôes referidas, e den- COMPENDIO DK ItlSTOKIA tro em ponco, qnando assignalarJUGs a confns&o originaria do| Direito coin a lîeligiao e a Moral. O periodo metapUysico do Direito foi, e ainda é actual-mente. mua realidade ïrrecrisavél. Quando, coin o correr dos tempos, os jurisconsultes e phi losophe* abri ram brecha, em nome dus idéas de justiça e de bumanidndc, no velho rednoto do Direito patriarohal e sagrado, comecou para a Jnrisprudencia a phase criticn e dissolvente, que do seoalo XV em dennte o espirilo humaiio inieiou, na theoria e na pratiea, oontra o regimen eatholioo feudnl. Basta recordar a obra dos» prudente* e dos pretor°s no Direito Romane para avaliar a importancia da trausformaçao re.nl isada na di- iweao a que alludimoa. A cequHm, o jux honorarimn, forain na vida jnridica pcoidentail a primeira lunuifcstayao do philoso pbisiuo qne (!rotins e sons discipulos transformaram liesse ex-1 tenso compendio de mi'taphysica qne veio a chamar-se Direito Natural, eein que l'allam ainda hoje uiuitosjnristas. I O cstado poHtivo do Direito é, pot sen turno, uni facto in-negavel. Corrcspondendo a nma coneepçao scientifica do mun-do, que KO em ineiados do nosso seeulo nos ponde aer fornecida, elle esta necessariameute no seu inicio, e coexiste ainda coin os restos dos estados anteriores. Entretanto é indiscutivel que a concepcao qne hoje tomes do Direito saturase eada ve* mais de espirito scientitico, isto é. positivo. A substitnicao do conneito de um Direito Natural, etemo. iinmntavel e anterior ao homeui, pelo de uni Direito hutnano, variavel e évolutive, fil lu» das necessidades organicas e cuit limes da sociedade, é o signal da crescente e definitiva positiva-e&o das iutniçoes e instituiyôes juridicas. Além disse ahi estào as récentes e progrcssivas applicaçôes dos methodos das sciencias naturaes aos problemas do direito pénal e mesmo do civil, para attestai' a entrada do Direito em uma phase nova, puramente naturalistica e scientifica. Vê-se que, estudaudo a evoluçâo juridica, poder-se-hia as- j signalar- lhe conio lei capital a inesma que Auguste Comte deu coino base & Sociologia. GKRAJ", DO DIREITO H Mas OH jinistiis nfto Ne téin contentado coni isso, e procura m as leis espeeîaes do phénomène que nos estd ocenpando. E' assim que G. D'Agnanno, em sen notavel trabalho Lui \genesi e Vevoluzione del Diritto Civile, insère uni capitulo des-tinado a esfcndar as leis que governam a vida do Direito. I O illustre ci vi lista italiano, subordiuaudo-se ao ponto de vista anthropologico que domina toda sua obra, aponta a he-rança, o meio, e a Ivta, oomo sendo as lois em qnostao. (1) Nâo ha d ii vidar que os l'a H os a que se réfère D'Agnanno H&O verdadoiros e que tacs factos podem explicar a desenvo-Incâo do Direito, eomo parte intégrante do orgauismo social, que, por sua vez, obodoce as condiçÔes de licreditariedade, e que In ta. para adaptar-se convonicntemente ao meio em que évolue. Mas o que torna pou eu apreciavel a explicaeîlo do mestre italiano é exactamente a ncnlmma peeuliaridade jnridica das leis que elle «présenta eomo doininadnraa das insitituiçôVs rcs- peetiv'iiH. Pedindo cinprestadas a os natiu «listas Darwin e Hn>- ekel as leis geraes du cvolm/ào das especies, D'Agnanno lez o inesiuo que t'aria queiu se limitasse a dizer, segundo a coneepeao de Comte, acima ex posta, que o Direito atravessa os très esta- dos revelados na Historia durante o evoluir da mentalidade hn- niana. ■ X estas condiçÔes nâo podemos considérai' as leis de D'Agnanno senâo eomo iudicadoras de que o Direito-organisnio évolue do mesmo modo, e soi» os inesmos impulses, que a Sociedade-orgunismo ; — exactamente eomo na hypothèse da lei comteaua. H Ao contrario de Oiuseppe d'Agiiauno, um sen illustre pa-tricio, Pietro Cogliolo, atiron-se résolu lamente na pista das lei* technico* e expeeifica* da evoJneao juridica. (2) (1) Note-se que D'Agnanno, no munmario du capitulo cm que se occupa deste luwampto cnunicrti as leis alludidns destc modo ; 1* traditione, 2" crédita- S'lotta pel diritto ; muH no desejivorrànonto du su» thèse équipant si tradiçâo à herança (que iuïo difforcm rcalmcutc) e indien, o umbicnle on meio oomo o maior modificador do Direito. ao lado da hereditarieda.de e da lubi. (2) Vid. Pietro Cogliolo : Filomfiu del Diritto Privato. u ■COMPEKOlf» PP. HISTOUIA Eis as que elle fonnulon, clêpois do inquerito a que pvoce-deu nos dotai nios da historia : 0 Direito (• primrtramente formudo un OKXS e ua familim e pouco a pouco i tranxferido ao Estado; A ewcciiçHo das sentaneos é primeiramente pessodl e dépôts \rwtl ; M As relttçôt'x juridicas antlgas ne enearuam ntis forma» pro-\ eessftae» ; Todas a* formas ne modifieam. simplificamlo-se, e passa ado pelo estad i» do HIMULATA PEO VBR18; Os êodigÔS de uni poco surgnn unqiielle periodo em que os eostumes e an regras sâo nmue.rosos e est&o a eorromper-se. ■■ Algumas (lestas leis, especiulihetité a 3*. e a 4»., sîlo alta-meutc npreciaveis. A preeedencia (la aclio sobre o jus on do Direito adjectivo sobre o substaut-ivo, é uni dos facto» mais intéressantes e génies <la formucao (lo Direito ; a moditicayào e .siiupli fi cacao graduaes das foimas prooessnacs 6, coino veremos daqui a pouco, mua importante lei da evoluçao juridica, — loi, alias, jâ assignalada por Pierre Alex, no aeu intéressante estndo iutitulado : Le Droit et le Positivisme. Ontro antor itaîiano, (i. Carie, l'ai la em mua M de progrès- j sir a tspiritualisaeào do Direito, em virlude da quai » força se subordina â razâo, o eerto se fax seinpre melhor interprète do ver-dudeiro <■ a autoridade procura eada vcz mais o apoio da razâo. « Por forya dêssa lei, dix. elle, o Direito veui seinpre se despindo do que tin ha de material e de rude mis suas origens para fazer-se de mais em mais interprète bénigne e huinnno dos principios de razâo ». Podiamos adoptai- pnra e siniplesmente as leis on aigu mas das leis propostas por Cogliolo, on a indieada por Carie, simpli-ficando assiiu a nossa tarda e pondo remate aqui ao assumpto. Mas parece-nos que tomando ponto de vista différente do dos an- j tores da Filosofia del Diritto Privato, e da Vita del Diritto pode-remos obter, uesta materia, aigu nui cousa de mais simples e de mais précise. GERAT. DO DIREITO 15 TTina vez que considéra mos o Direito uni organismo social «Ni tjewrix, nâo é difficil :it(ribuii'-llie um aspecto physiologîco, ou antes, aiinlowo-physiologieo e um aspecto morphologico. E' o que julgamus necessario fàzer para mais régulai' en- caminbameiito do traballio que temns cm vista. Vamos pois, indngar separadamei ite, 1', quai o modo de evoluçao do Direito o.ncarado como organismo activo, dotado de energias fnnceio-naes ; 2; quai o modo de evoluçao de suas Formas exteriores. Vejamos. Nos primordioB dus vol h as sociedades. avôs da civilisacao, a vida collectiva ostentaria o vultuoso polymorpliismo que ve») rificamos lias sociedades de hqjeî Absolutamente uâo. A confusao mais compléta, o syncre-tismo mais absolu to doiuiuavam auquel las epochas as iustitui-çôes soeiaes e as relaçôes iiidividuaes ; religiâo, moral, sc.itncin, arte e iudiistria eram rai os de um mesmo circulo, coincidiudo e sobrepoudo-se uns aos oiitros. A antoridade que autbropomor-pbisava Deus ou os Denses era a mesma que estatuia sobre os costumes privados, que dava a e.xplicaeào do euigma do m un do, que inspira va. as creaçôes artisbicas e regulava a actividade pra-fica. Tu do esta va como uo cabos biblico : escuro e araorpho. 1 " Abra-se o Mattava Dharma Saatra, a collecçao de leis de Manu, e. ver-se-ba que os sens doze livros te m por objeeto, além da creaçâo, da voeaç&o religiosu. das regras de abstiuencia, da penitcncia e expiaçào e da transmigra çâo das aimas, mais: o easamento, os modos de acquisiç&o, os deveres dos jnizes, as leis ci vis e criininaes, o direito de successao e os deveres dos agri-cultores, dos industriacs e dos famulos. Quadro somelhante nos offerecem o Zend-Avetita de Zoroas-tro. es livros de Confucius, os hierogryphos egypeios, a legis-laçào de Mnysés o o livro sagrado da religiâo mahoraetana — o Koran. Em todos esses monuraentos da mentalidade antiga ha 10 COM PENDU) DE HiSTOKIA mn f'Oino sinete anagranuuatieo fia religiao. da moral edaartc, entrelaçadas an Dire.ito, marcaudn totlas as manifestaçôes (la aetividadë social priniitiva. K' assitn latnbeui na Grecia, (;m Renia e entre os antigos germanos. Na Grecia, diz Ahre.ns, o direito e. a lei u&o se des-taearam iiiinca da ethica ; na tlieoria e na pratica o direito e iv politica sào eoiisideiados, notadamciite por Platao c Aristo-| te les, conio consti timide siniple.-nu-nte mu ramo das sciencias ethiens. A se il tnrno os pri moires legisladores ruina nos obedeceram a fatalidatle liistoriea. O autor eitado assevera que a priineira epocha do direito romano teiu autos de tudo mn earneter re.li-gioso, tïindando a nnidade de toda a existeneia e de todas as instituiçôes eom a ligayao délias a religiao. B rei'erindo-se aos germanos, escreve: entre os autigos allemaes nos vamns achat* mua allianca do Direito e da Religiao analoga a aquella que eu-eoiitrainos nos tempos primitives do povo i iu l iano e na velha Renia. Todos os autores cslâo accordes nesse ponto, e Biagio Brugi résume a opini&o dos confrades quando affirma o seguinte : « Xa-quellas lunginqnas sociodades, as quaes queiramos remontai*, o Direito, n&o se apresenta conio uni eonceito distincte dos outres lados da vida social : ha sim mua homogeneidade da vida priniitiva. O Direito confuude-se coin o costume, coin a moral e eom a religiao, que envolvem toda a vida do individuo, inclusive os principios juridicos. » De tudo ifcto verifica-se que no estadio inicial das civilisa-Çôes, o Direito nos apparece visceraliuente uuido, ou antes con-fundido coin a religiao, a nierai e a arte, pelo menos. Mas gradati va mente e dia a dia elle se vae differenciando, especialisando, individnando ; destaca-se pouco a pouco da placenta conimnm e arroja-se para a vida conio uni ser indepen-dente, automone, disponde de vida propria. Dâ-se ocaso, înuito conhecido pelés naturalistas, da reproducyao por sisciparidade. E essa passagem do complexe para o simples, do homoge-neo para o etberogeneo, nao se effectua sô a partir da massa GERAT, DO DIREITO 17 synelirefcica das regras sociaës primitivas até cbegar a accen-tnayâo do canon juridico j<l espeeialisado e individualisado. Primei rameute é o Direito que se sépara d» Religiao, daj Moral, etc. ; a differenciacâo é entîlo de natuiezn heteronomica. ISegue-se, poiém, a isto a differenciacâo autonomica do Direito, a evohiçao que, sô nelle e a partir simplesmcnte délie, se effectua, pela segmentaçâo constante e creseente do respectivo organis-1110, sob a aeç&o expansiva das suas euergius intimas e ao iufluxo do condicionulismo mesologieo. H E é assim que da massa primitivainente homogenea e compacta das regras juridicas salie m uo oorrer dos tempos as mo-dalidades diversas do Direito : distiiigucm-se o Privado do Publiée, o adjcctivo do substautivo pela scparay&o do jus e da aetio (para nos servirmos da linguagem romanft); no Privado o houorario ou doutiinario do escriplo, o real do pessoal ; noPu-blico o Jnternacional ou cxterno do interuo, etc.. (1) Glîegados a este ponto, é-nos licito indii/ir, e proclamai'a seguinte lei de evoluçâo juridica : Organica e phyniologieamtnte} o Direito eeuliie pmaaudn do [ttyncretico para o diwreto, do .simples para o componto, do ho- \mogeneo para o heterogeneo. Confirma-se. assiui, ueste particular, a lei fondamental da philosophia spenoeriaua. I Examineuios agora a desenvoluçao do Direito no tocante a sua morphoîogia. Nao lia bistoriographo-jnrista que deixe de assignalar ol complicado formaiismo do primitivo Direito, em opposiçâo â| simplicidade das nossas actuaes regras de processo. Todos os povos fornccem-nos documeiitos, mais ou métros abondantes, da existencia e predouiinio do symbolisme e das formas sac rame n tacs nos primordios da vida juridica. Em Borna, sobretudo, o facto é évidentissimo. As Institutax de Gaio nos iniciam no segredo das legis actio-\%es, isto é, das cinco formas sacraïuentaes a que obedecia o primitivo processo romauo (a nacramentum, a postulat io, a condictio, (I), Vid. Historia do Direito National, do autor ; introd. 3 18 ^ COMPENDIO DK HISTORIA a manu» injeetioe a pignoris capio). Modificado este. meclianismo pelaLex JRbutia, o régimeii adoptado foi o An* formula- (ad fic-\Ition-em legte action-uni) que vigoron até o tempo de Dioeleciauo, sendo entâo suplantado pelas cognitiones extraordinariw— ina-j nifcstaçâo ultima do direito prnccs.su al entre os romanos. Esses très systemas, «spécialmente os dois primeiros, eram eminentemente. symbolicos e dramuticos, cbeios de actos e pala-vras consagradas, de formalidades e ce remontas rigorosas, iniu-friugiveis sob pena de perda da demaiidn. H Entre os germaiios o formalismo processual nao teve a fî-l que/.a e a rigidez do romano ; mas nem por isso deixou de exis-tir e de impor-se por toda parte. (1) Foi em face do phenomeno de que se trata que Frederick Pollock, na sua obra Introduction à r élude de la science politique, disse o segniutc : «Quanto mais remontamos ao passado mais eneontramos os povos esc-ravos do formalismo, e, como hoje diriamos, saerificando total mente o fnndo dos negocios â forma. » Poderiamos a este juutar mu il os outros testemunlios de mestres respeitados. Relembramos, porém, apenas o estadio do simulutu pro verts assignai ado por Oogliolo, e a par délie o ,jà citado trabalho de Pierre Alex, que explorou o assnmpto com | proficiencia e exgotou-o. Resta-nos sômente formulai* a lei que de tudo isso resalta, ' e fal-o- bemos nestes termos : Morphologica ou plasticamente, o Direito évolue simplificando e abolindo gradualmente as cérémonies symbolicas e an formas sa- j cramentxies primitivas. Para nos sao portant o estas, que vimos de formulai-, as dnas grandes leis teclinicas e especificas da evolnçâo juridica. Outras podevao ser ennociadas e propostas, mas s6 para completal-ns, nunca para anuullal-as. H Ao fazermos nossa viagem atravez da historia do Direito, havemos de aehar, em cada povo e no conjuncto de todos elles, a verdade dessus leis, que acabamos de constatai'. (1) Vid. ob. cit. do nutor ; introd. II I Os primcrdios do Direito objectivo nas raças inferiores.(*) Disse H. Suniner Maine, uni dos inestres (lesta mater i a, que kf as idéas rndiiiientares do Direito sa» para o jurisconsulte o que as cainadas prinlilivas da terra sao para o geologo : con-teem poteneial meute todas as l'or m as que o Direito tomarâ mais1 tarde. » A consequeucia a tirar deste îrrefutavel asserto é que o ju-rista- historiographo deve remontai' taoto quanto possivel aos primeiros dias da bnmanidade para surpreheoder no seu surto inieial a sementeira dos instiuctos juridicos. E nao basta apreciar os primeiros brôtos da arvore do Direito nas raças superiores e nos périodes francaniente liistoricos. (*) FONTES : D'Affunniio. La genesi e l'evoluzione del Diritto Civile ;| O. Miirtins. Raças hum. e a civil, primil. ; Topioard, L'anthropologie; Le-tourneau, La Sociologie ; Lubbock. Les origines de la civilisation ; O. Maintins, Quadrodas inst. primit, : Spencer, Sociologie ; Laveleye, De la propriété ; Letourneau, L'évolution, jurid. dans les div. races hum ; A. Bspinas, Les sociétés animales ; Bevilaqua, Contribuiçiiee para a historia do Direito (Re-vista da Faeuldade, anno I). 20 COMFENDIO DE HISTORIA Ha necessidade de ir mais longe, visitando com o espirito nao, s6 os povos que por defeito organico ou influeneîas do meio esta-caram logo na aurora da intell igencia e da cul tara, como tam-bem as régi Ces ante-historicas onde o homo primigenius se con-funde ainda com os mais graduados dos sens antepassados animaes- Pov esta raz&o somos obrigados a tratar a materia deste capital o de modo mais lato do que o indicado pela sua épigraphe, lnuitando-nos, entretanto, a indicaçôes muito ligeiras. Principiemos por affirmai- que sendo o Direito uni a fata-lidade social, lima nccessidade organica da vida em co uni m, nao se lhe pôde assignaiav mua existeucia limitada ao chamado \reino humiliai da velha philosophia inetaphysica. Os primeiros lineamentos rudimeutares de aigu mas iustifcniçôes de ordem ju-ridica podem ser encontrados entre certos animaes inferiores uos qnaes o instincto de sociabiluiade appareee em grâo apre-ciavel. Convencido disto disse uni pnblicista notavel : «Todos os animaes procriam, algnns cbegam a amar ; todos combatem, al-gnus sentem a gloria e o orgulho da Victoria : observam-se che-fes em certos ban dos, veeiivse reis nas colmeias; distingue-se faoilmente o medo, embryao dos cultos, e quem sabe si no cere-bro dos brutos se nao desenham rudimentos de religiao ? » Abundaudo no mesmo pensamento escreveu algures o nosso eminente collega Clovis Bevilaqna : « Algumas dessas organisa-çôes associativas (as dos animaes considerados inferiores) offe- j recem 1 nuit os pontos de semelhanya coin as nossas ; pôde-se mesmo dizer que existe ahi uni pbeiiomeno correspondent*! ao direito objectivo sob a forma de costumes imperiosameute obri-gatoi'ios. E tambem nao lhes poderemos uegar a face snbje-ctiva do direito, senao a idéa, ao meuos o sentimento juridico, vendo-os combater denodadamente, immolar-se pela defeza de sens nucleos associativos, de sens graueis de inverno, de suas cidadelas. O direito humano tera uni caracter proprio indnbi-tavelniente : o que se affirma é que équivale e corresponde as iusbituiçôes que encontramos em estadios meuos elevados da evoluçao do ser. Foi la que se debuxaram os primeiros esboços GEK.U. DO DIREITO m do direito, como ('• là que cm peregrinaçfto descensinunl iremos deparar coin as radiculas de quasi todas as art es, e, o que é mais, de quasi todos os sentimentos hnmanos. » H Si qnizessemos voltar il nossu thèse do Direito-orgauisnio teriamos nesses dizeres mais um argnmento em favor délia. Devenu», poréro, prosegnir no deseuvolvimento do nosso assumpto actual. Assentado que o estndo da enibryogenia juridica é uma 'necessidade para a expianayâo desta materia, e qne ella nos for-nece o nixux formativus do Direito pondo em relevo os costumes e mesmo os sentimentos de certas espeoies animaes, dotadas de forte instincto social ; temos precisâo de bnscar, nos grupos hnmanos mais visinhos da animalidade ancestral, o desdobramento dos institntos jnridicos iniciaes. Para isso é necessario qne tcnhamos :i vista uma classiifca-yao ou divisao das rayas humanas, — cotisa que parece facil e que entretanto é problema dos mais complicados. Basta notai? que tratando-se de rayas, vem a ton a immédiat a monte o célèbre debate sobre a unidade ou pluralidade originaria das espeeies bumanas, — a diflicilima queslân do monogenUrmo e polygeninmu, ou alites, do tiionophyletismo o polyphylrtimw. Força é, comtudo, dizer algumas palavras sobre esta materia, necessariaincute ligada ao nosso piano de estudo. A.té principios do nosso seculo fallava-se geraluiente e con- victameute de uma experte liumana, o que iuiportava affirmai- à priori a unidade originaria de todas as rayas. A Sciencia eaPé davam-se aos ma os uesse ponto, e a legenda de Adào tinba fôros | de cidade nos dbiniiiios da philosophia. As doutrinas dos naturalistes casavam-se com a tradiyâo biblica. Cuvior foi o grande defèiisor dessc estado de cousas e seu nome symbolisa o intransigente monogenismo classico, de que Quatrcfages, em nossos dias, se tornou o mais eminente représentante. Agassiz, porém, rompeu com a doutrina dominante e fez-se o arauto do polygenismo, susteiitando que as rayas bumanas |nasceram separadamente em oito pontos do globo, distiiic.tos uns ! dos outros por uma fauna e uma flora propria. 22 fJOMPEKDIO DE ÎIIHTORI.V A questâo parecia insoluvcl quando os modernes traballios de Darwin, Wallace, Hœckel e sens discipulos vieram facUitar-v Ilhe a sollicita O trausforiuismo de Lamarck, revigoradoe eom-pletado na ïnglaterra e na Allemanlia veio Faxer arrefecer o de-bate, niodifioando os termos do probleina, que segnndo Topi-nard, sfto hoje os seguiiites : «Os typos huinanos mais elementares nos qnaes se possaremontai', os typos de al g n ma sorte irrodiictiveis, tenhain elles |o valor de generos ou de especies no sentido dudo babitualmente a estas palavras, sahiram de varios antepassados anthropoides, pitheeoides ou ontros, —ou dérivant de uni sô tronco represen-tado por nm sô genero actualniente conheeido ou nâo î Os da-dos da anthropologia pareeem-nos mais favoraveis â primeira opiniîio. As rayas melhnr caraeterisadas, vivns on ex ti ne tas, nâo formam nma série ascendente unica, comparavel a uni a escala ou a uma arvore, mas rednzidus a sua mais simples ex-pressâo a uma série de linhas limitas vezes paralellas. » E coin Topiuard a maioria dos hoinens de sciencia sustenta modernaiiiente a origem polyphyletica das raças e linguas hu-manas. Mas esta conqnista scientiftea difticnlton ainda mais o probleina da taxinomia ou classificaçao das raças. Desde a antiga divisâo de Linneu (1) a té a classifieaçao lingnistica de Fr. Huilier tem-se procurado resolver a questâo, se ni que até esta hora se cbegasse a uni aeoordo sobre a inelhor das divisées propostas. M As eondiçôes geographieas, os caractères pliysipos externos, as partieularidades anatomicas, as aptidôes moraes, as diver-Isidades de idiomas -tudo têm si do procurado como base para as classificacôes das especies huinauas. Deixaudo de parte os niais antigos, podemos citar coino antores de divisôes notaveis : Leibniz, Kant, Morton, Agassiz, Isidore Sant-Hilaire, Huxley e Hœckel. A verdade, porém, é que a mais simples e uma das mais antigas de todas as tentativas taxinoniicas foi a que se enruisou niais ibrteinente no canipo de sciencia : reterimo-nos aclassifica- (1) Homo sapiens, homo férus, homo mtmstruosits. GERAT. DO DIREITO 23 ç&o de Bluinenback, resninida, ou an tes, redusida por Olivier. Distingnindo 1res grandes raças bnmanas (a hranca ou eau est sica, a amarella on mongolien e a negra ou ctbiopica) tal ilassi-iieaçào, apezar de superficial e aceentuadaniente mouogenista, ganhou até as adbesôes dos scientistas ;ict nues, adeptos d;> plu-ralidade originaria das espeeies. Para exemplo basfca citar Le-tonrneau, que adoptoua francnuieiite. De todos os natiiralistas modernos loi Quatrefages 0 que inclhoi- desenvolveu a divisâo ciivieriana. Dos très troneos ci-tados sabem respect!vanicnte. os aryanos, seaiilas e allopliylos ; os mongol i.ios e oiigria.nos : os negrifos, melnnesios, alVieanos e saabs (hottentotes). Tomaudo por base este quadro, ennipre-uos agora iudagar quaes das raças indicadas podeiu ser eousideradas inferiuies vo\ ponté de vista do desenvol vimento pbysiologico e psycliico. H O citado atitor de La sociologie d'après Vethnographie iim-nifesta-se. a respeito de modo inequivoco, di/.endo : « O typo mais inferior eiu gérai é o typo uegro. Nunea o uegro, abmdonado a si niesnio, sein mistura com raças snpe-riores, soube créai' uma civilisaçâo elévada. Sob esta relaçîlo o boinein amarello, o mongol, é muito superior. Muito eedo os inelbores représentantes deste typo, os mongôes asiatieos, loi -niarain grandes soeiedades, sabiamente organisadas que, coino a sociedade ebineza. rivalisam coiu as civilisaçôes das raças brancas e sob cerfcas relaçôes podem ntê lhes servir de modelos. Mesino os inongoloides mais inferiores, os mais pobres cm cere-| bro, os a me ri rai) os, souberam, por sens typos superiores, dar outrora, no Mexico e no Perd, nofcaveis exemplos de progresso social. » E' cousa sabida coin effeito que entre os varios grupos do typo negro é que se encontraiii os exemplares mais complétas da inl'erioridade buiuana, quer quanto â orgauisayâo physiea qner quanto ao desenvol vimento psycliico. Espalbado pelaOcea-n ia ( pu puas e wgritos) pela Africa (ethiopios on guineauos e ca\ \fres) e por alguns pontos da Asia (weddahs e negro» da india) os représentantes desse typo bumano começam a ser inferiores pelas condiçôes anatomicas. Todos os efclinograplios e antbropo- 24 COMPENDIO DK HIHTORIA logistas assignahtm-lhcs nm enuien alongndo on dolichocéphale» (quando muito mcMilicppluiln e $uh-brachic*phnl.o cm certas sub-raças). lima front© estreita na base e fugidfa no alto, lima nuta-vel salioneia dos maxil lares ( prognat'wnio) aU'm de militas outras particnlaridades osteologicas que se nfto encontram notyponma-rello o sobretndo no hranco. E' claro que eoiu uni» tal estmetura e sobretudo coin a con-fornia<;âo craneana que lhe é propria, o negro na<» pôde possuir nui cerebro desenvolvido e npto as mais elevadas funeçôes dessej orgao— séde da iiossa vida de relaçao. Suas concepeôes, por-lanto,—religiosas, mornes, artisticas, juridieas—hao de ser forçosauiente rndimentares como o îespectivo apparelho cérébral. (I) Estit démos, pois, os primordios do Diroito cm aigu ILS dos grupos mais conheoidos desxa raya. Poetas c homeus de sciencia estao de accorde em affirmai' que a fome e o amor, o iiistinctu de conservaçao e o de repro-J dueeao, forant e sao os dois primeiros e grandes motores do des-envolvimento bumano. Délies surgiram a familia e a proprie-dade — dois institutos jnridicos fundamentaes. Consequentemente vejamos quai é o esta do ou eondiçfio desses institutos entre alguus povos negrosdaOceauia eda Afri-ca. Em Beguida nos occupareuios das suas intuiçoes e institui-yôes de ordeiu repressiva ou pénal. (1) Burchell quer que <> bosohimano esteja abaixo de todos os homens ; D'Urville dâ esse logar aos australios e tasmanios, Owen aos andamans. Os weddahs de quem Dury affirma nâo terem nomes individuaes medem m.1.50 ; as mulhercs menos. Os negritos après entam nos sens hnbitos évidentes re- minisoencias sîmianas. Bowriug vin cm Ceram nma tribu qne vivia nas ar-j vores e noton a agilidade corn que o negrito trepa e desce, snspenso polos pés, as enzareias dos nnvios. (0. Martins : A» raças Humana* e a civil, primit. vol. II). GERA t. DO 1MKK1TO a) Oceaniu. — Os nsos familiarcs e mntrinionincs das popu-laçôes espalhadns pelas mimerosas il bas lia Oeeaiiifi sâo o quej ha de maisgrosseiro è rudimeutar. tînindo-se sexual mente de uni modo todo animal, more canino, o homciu e a mnlber nào teem, cm gérai, outra preoecnpaeao se nào a de dur pasto aos| Sens a petites seusuaes. Nas tribus mais atrazadas da Australia, da Tasmania e de Andamuii, o qne se nota oomo ponto do par-It ida da sociedade conjugal é mua larga promiscuidade ; cele-bram-se até Testas destinadas a annimciar nos rapazes e rapa-rigas chegados a certa edade que lhes é permittido entregar-se livremente as relaeôes sexnaes. Entre os andainans as nui Ibères pertencem a toclos os homens da tribu, seudo para ellas uni cri-nie negarem-se a qnalquer délies. I Ha entretaiito, no meio disso certas u unies relativamcnte d m'admiras, determinadaspela prenlicz da ni i i l l ie re nnscimcuto de uni lillio. Nesta hypothèse os progénitures de creanea eon-servaw-se nnidus até que o lilho possa alimentar-se pur si. Nisso uada teem os selvageus de sii|)erior aoa cliamados irraeionaes, que, coino se sabe, proeedem do mesmo modo para coin a proie. Ao lado da promincuidade ou hetairismo, que éj pur suai natureza, endogamica, encontramos nos povos oceanianos uni processo especial de ncqnisiçao de mulbcres a que os au tores diamant exogamico, por se eflecluar entre individuos de tribus différentes. O que caractérisa esfe proewSSO c o rapto da mnlber, que ora é verdadeiro e brutal por meio de uma pancada na ca-beça e arrastamento pelos cabellos, ora 6 simulado.oii ficticio, eomo entre os tasmanios, segundo affirma o padre Bonwick. Constitue essa pratiea uma forma de casaineuto, destinada a c on s t i t u i r familia regularf Peusaïuos coin Leloiirncau qne isso que os viajautes tem impropriauiente cbamado casameuto é « apenas a captura de uma escrava, que sein duvida poden't servir aos prazeres amorosos dodouo si elle o qnizer, pois que ella é seu animal domestico, sua propriedade, uni ser (pie elle tem o direito de bâter, ferir, matai-, e mesmo, segundo a necessidade, de corner. » £111 todo caso a apropriayao das mulberes pfelo rapto reall ou ficto dâ logar a uni certo esboço de relaeôes familiales, mais 4 26 COMPENDIO DK HI8TORIA extensas e profundas qiïe :is (las uttiôes livres endogamieas. Militas vt'/.cs as duas tribus a que pciteneem mptor e raptada' eonsagrain pybTicàuiciite a uniâo dos dois por nicio de festas e banquetcs, e até em algumas celebrum-se certas ceremonias es-! peciacs, como a de amarrai' os con,juges sV mosinn arvore, qué-brando a anibos o mcsmo dente iucisivo. Por toda parte a miilhcr e propriedade do honieni que a toinou para si e que tant o direito de toinar quantas queira, pois que a polygamia é o costume dominante. Alguns chefes de| tribus, Bobrctudo, possuein centenas de mulheres, sendo uni pequeno numéro de légitimas (cujos lilhos sào os unieos reco-nlice.idos) e a maioria do eoncubinas ou escravas, — todas ellas passiveis de quaesquer encargos e desprovidas de quaesquer direitos. Todavia esse ente rebaixado e nullo é, dcbaixo de eerto Iponto de vista, superior ao iiomem e dominador da l'ami lia, po-| dendo-se perfeitamente l'allar de uma gynecocracia geral'entre os povos de que nos oecupainos. O facto da maternidade sendo o unieo eerto para déterminai1 a filisiçâo c o parentesco (dada a promiscuidade e as pratieus adulterinas limitas vexes i m postas i'is mulberes pelos pi'oprios maridos) acontece que o matrîar-chado ea nota dominante lias tribus océan binas. Nas uniôes exogamicas, os lilhos pertencein â tribu de sua mâe e nâo & de seu pae, e îuesnio mis endogamieas o pae e o fil ho nao sào con-siderados como parentes., cabendo, quasi seinpre, a niutio a au- j toridadc patenta. Em rosunio. e para encerrar esta materia, digamos coin o autor de La Sociologie (Va-j-rèn Vethnographie, o quai nos tem ser-vido de guia na présente explanaçâo : «Os costumes melanesios fazem nos assistir â origem do casameuto ua raça. Ha a prin-cipio uma promiscuidade compléta, subsistindo ainda maison imenos larganieute nos diverses grupos ethuicos; depuis a rari-dade dus mulheres e a necessidade de uma ou varias lestas de cargn levaram a praticar tanto quanto possivel o rapto exoga-l mico, a principio coin extrema violenoia. Posteriormeiitc as tribus iiiteressadas ratifiearam, dépôts de exaine e por conveni-îlo| débat ida, o facto consummado. Mas scmpre a polygamia foi «KR\I. DO DfREITO 27 1 ici ta ; sempre a miilber foi a propriedade do do no, nào poden-do ser- lhe infiel seuâo qnando elle o ordenava ; nao tendo jamais o direito de ser ci osa de sen mai ido e estando sempre exposta a todos os inaos tratamentos que elle llie qnizesse infligir. » Pnssemos agora a observai- o phenomeno da propriedade) entre os oceanianos. Como veremos no correr de nossa viagein liistorica, o col- lectivisnio é o caracter dominante da propriedade priinitiva. Conforme observa uni autor, emqnauto nos agrupamentos hu-niauos o nexo associaiivo repensa sobre o principio de consan-guinidade e nào sobre o da contignidade local, a familla, a gens, o clan, a horda, a tribu possuem moveis e imnioveis em com-nium, podendo se qnando mnito fallar no dominio individual de certes utensilios, adornos e armas. Nem entre os povos nomades, eaçadores ou pastores, se pôde coin p relie nder a apropria-yâo individual da terra. Xa Oceania, entretanto, vamos encontrar o caso singular da existcncia' da propriedade individual reeabindo sobre a terra. O facto foi assignalado por Eyre, o autor do importante tra-balbo Discoveriex in A uxlralia e fcem sido coufirniado por ontros etlinogi-aplios, como Letonriieau, que a proposito escreve estas palavras : «é curioso acbar em unia das raças mais inferiores da humanidade a propriedade individual e alienavel ; isto é, tal quai existe entre os povos modernos. » Cuuipre notar, porém, que é sobretndo ua Anstralia e na Nova Caledonia que se dâ o facto alludido. Em miiitos outros pontos da Oceania a regra gérai é o collectivismo da familia ou da tribu- Entre os tasmaniauos, por exemplo, a propriedade territorial, pessoal ou individual, nào existe. O que existe é o dominio venatorio da borda ou tribu, isto é, a cxteusâo de terra necessaria para a caça, de que vive a communidade. E essa terra é propriedade indivisa da commiinhao. A propriedade individual australiana inanifesta-sc do se-guintc modo: cada individuo do sexo masculiuo possiie uma| parcella determinada do tcrrifcorio da tribu, e tem o direito de vender. trocar c repartir sua terra entre sens lilhos. O mesnio se dâ em Ko va Caledonia, onde todo boinein, pos- 28 COMPENDIO DE HISTOEIAl sue nma extensâo mais ou menos consideravel de campos culti-vados. Aqtii o caso do individualismo domanial é menos extra-nbavel qne o da A nstralia, pois os ueo-caledonios sâo, era gérai, agrie-ultores e n&o caçadores. Reduz-se a isto o que sabemos do institnto da propricdade entre os oceanianos. I 6) Africa. As institniçôes familiares das numerosas tri-j bus africanas sâo fnndamentalmeute semelhantes as dos povos da Oceania. Entretanto a promiscuidade e o ebamado casa-inento pelo rapto s&o, no grande continente negro, mais raros do que entre os australianos e melanesios. Por outro lado o'| regimen do matriarchado appareee-nos aqiii mais nitido e des-envolvido. Nas populaçôes da Costa de Gui né, no Sénégal, eni Loanda, uo Congo, o purentesco femiiiino on de procedencia materna é a| regra gérai. Tambem na Africa central prevalece identico re-Igimen, de moda a transmittir-se a soberania ao fllho da irmâ- do soberano e nâo ao deste* Em algnmas tribus guinéanas quando a mâe é escrava os fdbos sâo tambem escravos, inda que sen pae seja o chefe ou rei da tribu. Sempre obedecendo ao mesmo priucipio os filhos dos Kimbnndas perteucem ao tio materno, que tem o direito de vendel-os. Entre os Goinmi o filho de uni boniem da tribu e de nma inulher estraugeira nâo é Commi ; é estrangeiro como sua mâe. Os Tuaregs, por sua vez, obedecem a preoceupaçâo de que «é o ventre que tinge ofilbo». A criança tuareg é apenas filbo de sua mae : nobre si a mâe é nobre, es-eravo si a mâe é escrava. Além disso os bens adquiridos pela familia, de caracter collectîvo, sâo berdados pelo primogenito da irmâ primogenita, boni preterieâo dos proprios filbos da de-funta. Quanto ao regimen das uniôes conjugaes, deparamos corn U808 muito variados, entre os povos da Africa negra. J& obser-vâmos que o casamento exogamico pelo rapto ou captura existe em algumos tribus, mas nâo é ali o mais geueralisado. Coin effeito, na môr parte das popnlaeôes africa nus a comprit toma-o logar do ronbo, o contracte oneroso substitue a violencia na constituiçâo da sociedade conjugal. Assim na Hottentocia os GKR.U. IX) PIREITO 29 pues (la n i i i l hc r nubil trocnm-n'a amigavelntente por mua rez, considéra «do o ca sautento como nm aoto puramenfe commercial, résoluve] a vontade e desprovido de qnalqner sanccao. Os ca-fres coiuprani suas esposas aos pars desde que cl las salient dai prime ira infancia. Entre os Timatiis e Mandingas a mnlher n&o é consultadn iiunea para o cnsaniciito ; os pretendentes as compram aos paes, fazendo o pagamento eni espeei arias diver-aas. As hordas do Gab&o vendent as tillias desde a edade de très ou qnatro minus e os eompradores l'a zem-se sens ninridos ao eoiiipletarein ellas doze ou treze an nos — epocha normal dit tm-hilidadc feminina entre as populaeôes alricanas. A polygamia é por toda parte admittida como na Oceania, e do ntesnio modo qne ali a mnlher é seinpre propriedade do| marido, qne pôde usar da pessoa e serviyos délia segundo os sens capriclios. tendu o direito de puniro seu adulterio eom a mutilaç&o de nui metnbro ou eom a morte. Eni certas tribus o divorcio é permittido quer A iiiullier quer ao marido, mediante.] compe-nsaçôcs ajustadas. S&o estas asprincipaes iustituiydes atVieanas. eni materia de l'a mil ia e easameuto. Vejainos as eondicôes da propriedade. *-*. Ao contrario do que viiiios na Austral ia, vamos ver ua Africa a propriedade territorial indivisa e collectiva. Quanto a movel, aqui, como ali, lia o comniunisnio e o iudividiialisiiio — este para os objectas de me.ro uso pessoal. H Os calres, ja. agricultores, alias, attribuent a tribu o dominin do territorio aravel, e nuia vez destribuido este entre os nieni- bros da commiitiidade pelo cliefe, cada porçâo de solo distribui-(la [tassa a ser propriedade collectiva da l'ami lia que aadqneriu. Entre os Yoloff's, u ici ou chel'e, assistido de uni couselho de aucioes, reparte anntialmente pelas familias os lûtes de terras a cultivai". Ha entretanto regiôes da Alïica equatorial eni que parece nâo baver idéa de uuia propriedade territorial, seja collectiva seja individual. Sao as habitadas pur certas tribus muito pouco sedentarias que construem uma aldeia ltoje para queimul-a amanliâ, si uma doença qnalquer produz mua baixa entre os sens. Para taes tribus a propriedade ou riqneza comuiuni con- 30 rOMPBNDIO DF 1ÏIHTORIA siste priiicipalmente na porfsè do maioi- numéro de mulliPres e| escravos. I Como se vê, nâo é possivel encontrar entre os negros da Afriea um» coneepçao précisa do doininio. como facto juridico. Podemos affirmai* talvez que o union direito de propriedade de que elles terni idéa é o do mari do sobre a mullier, proveniente da compra desta. Debaixo deste ponto de vista os negros austral ianos e neo-caledonios levam vantagem nos da Afriea. En-tretanto estes sao snperiores a aqnelles 110 que diz respeito ao| desenvolvimento das instituicoes familiaes e sobretudo no régi inen do casaniento, que deixa de ser nm producto da força para tornar-se mn contracto de compra e venda. Inntitufos pennes oceano- a/ricos. Por mais atrazados que sejam os différentes povos da raça negra, força é convir que os principaes délies cliegarain nao sô| a esbnyar a familia e a propriedade, como a coneeber e réalisai*I nlguinas instituicoes do que nos chaînâmes direito publico. A existencia entre elles de chefes ou reis e de assemblons e eonsc-Ihos das tribus encarregado de dirigir ou de julgar, segnndo «s usas ou costumes dominantes, nao deixa duvida a esse respeito. j Assim, anteriorniente a essa phase é provavel que a vin*l ganya individnal fosse a regra em materia de pénalidadc ; mas nôsjâ encontrainos regularmentada essa vingança, que foi trans-ierida do homein para a tribu, fazendo-se gradnalmente collecta va. Entre os ausfaralianos, por exemplo, assignalain os cthno-graphos a existencia, cm cada horda, de uni eonselho (teudi) que fnucciona como tribunal de justiya e cujas decisôes sao defini-tivas e obrigatorias. E' esse tribunal, composto dos mais velhos da tribu, que toina conhecimento das trausgressôcs dos usos eonsagradose décréta as pénalidades respect! vas. O furto, o ronbo, as lesôes corporaos, o assassina to sao os I actes gérai mente cousiderados cornu criniinosos. Tambem o adultérin o é, mas nao como figura criminal distincta ; sim coiiio uni furto ou roubo de natureza espeeial. Para tacs crimes, com excepcâo do hoinieidin, us pciins sfto, em regra, as bastonadas, os golpes de lança, os tiros de flecba, GERAI. DO DIREITO m iipplicados segundo o principio do tali&o, isto é, produziudo no i"éo, (auto quaiito possivel, o mal (eifco ao oifendido. Aigu nias vezes é por meio de duellos entre offciisores e victimas que se effectua a pénal idade. Termina o duello desde que o offenser e ferido. Onde b laliào se toron eoinpleto é no caso de pena)idade por lioiiiif idio. Quer o assassine pertença ao clan, quer seja (le t r i b u différente, a morte é purçida eom a morte. Mas a pena uâo (cm uni earacter pessoal ; o verdadeiro oriniinoso raraS ve-| zes ]>aga per si o crime counnettido. B' son irmào mais vellio, seu pae ou um seu parente proximo, do se.xo masculine, queni 11* m de ser victinnulo pela sentenea do tendi; sô na lai ta do quai quer délies lecalie a pena sobre o verdadeiro liomicida. Sise (rata de uni assassïnato por iudividno de outra tribu, os inciii-bros da do morte décrétai» o l a l i à o contra todo o clan do assassine e sàii todos solidarios na exeençâo. Conforme a jerarcliia d" assassinado, maior ou menof numéro de victiiuas estrangeiras lem de ser saeri/ioado. H Explicam-se estes t'actos pela nalureza. especial dos agritpa-nientos tribaes, onde o i u . l i v i d n o desapparece na collectividade,| onde a nocîio de personalidade nao esta, aiuda nilidamenle l'or mulada. Na Al'rica as regras ou anles OE costumei penaes differen-eam-se, embora nao fundanientalmente, dos da Australia. Viinoaj que a vendetta primitiva, exerci<la por ineio do desfbrço pessoal, ja uâo appnrece entre os a n si rai i an os ; entre os afrieanos, po-réni, cl la coexiste aiuda eom a regulamentaçâo instituida pelos elie(es. Km conipensacao encontramos na. Afriea uni progresso sobre o taliîio australiano ; cm alguiuas tribus e em certes cases adinitte-se como substitutive da pena a eoiuponiçâo, on compen-8'içao em val ores. O quadroda cri m inalidade entre os al'rica nos, é uni poueo mais lato que o de sens irmàos da Oceauia. Entrelanto as prin-cipaes figuras de crimes sfw> as que ali notàmos e mais a feitiça-\rui. O roubo e o adulterio, sobretndo, sâo as mais notaveis, por isso que sîlo as mais terrivelmente punidas. Digamos desde jâ que a puniçao, qnando nao é uni restiltado da vingança pessoal •* 32 OOMPENOIO DE HISTOBT& o directn, 6 imposta petos rois ou ehefes de tribus, que, segundo «eu arliitrio, onveiu on n&n uni Oonselho de velhos. Compre-bende-se isto, uinn vez que sis tribus-nfricanas sao, em gérai,| monarcliicas. H O roubo aoarreta a pena de morte, luesiao quando seja de; uni objeefco de peqne,uo valor. E' assim no Congo e é tanibem assim entre os Vuazaramox du Africa Oriental, que décapitai» o eriuiinoso e, expôe.m Ihe a eabeça na entrada do aldeiamenfco. Note-se. poréiii, que o furto ou roubo so é eonsiderado crime quando é praticado dentro da tribu e reeahe sobre objectes délia-A rapinagem e esbulho dos estrangeiros e espeeialmente dos brancos nao sô ficam impunes, eomo sào a té protegidos por uni fétiche espeeial — o fétiche do roubo, înuito venerado no Congo. A puniçâo do adulterio— outra mod alidade do roubo eomo na Oceania — é realisada iinplïioavel e ferozmente, quando o crime é conmiettido coin mua mulher de al ta jerareliia. E' o que se dâ principal mente no Gabao e no Congo onde os crimi-l nosos sào quasi seinpre mortos violen lamente. Aigu mas tribus eomo em Fernando Pô, sein distingnir mesmo a condiçâo das niulheres, cor ta m os punlios aos culpados e os abaudouam fora e longe da aldeia. Em certos casos, entretanto, a pena do adulterio é simplesme.nte nma eompensaçao ou indemnisucao em objeotos do use ou coinmercio. Entre os povos da Costa Oriental, por exemple, a pena para o homem culpado é esta : paga-j inento de pinco escravos ao marido lesado, si este é uni cbefe ;j de uni sô escravo si o marido é de baixa condiçâo. O crime de feitiyaria é tambem punido rigorosame.nte, ej coin a morte na nier parte dos casos. Por isso mesmo que sao fetichistas, os africain» acreditam que certos individnos sao outras tantos espiritos malfazejos, causadores de doenças e de mortes. Os individnos tidos eomo taes sao quasi sempre condemna-dos a morrer na fogueira. Para o homicidio, entretanto, as penas .sào relativanionte nul las, por isso que se red nzem ao preço do sangue, indemnisa-]çao ou coniposiçâo, maior ou nienor conforme a qualidade da victima, e consistent^ as mais das vezes na entrega aos pa- GERAI. DO DIBBITO 33 rentes do oflendido de mua certa porç&o de gado, como car-neiros, cabras, etc. Acciescentemof» apenas ao que ahi fira que é coi rente nas tribus da Afriea o uso dus ordalian, como nieio de prova nos casos crimes. O veneno, o fogo, a agnn fervente e ontros instrumentes de tortnra «fto àppli endos nos areusados para 8e lhes recoubecer a criiuinalidade on a innoceiwia. F" escusado dizer que coni taes expedicntes processuaes raro é o innocente que deixa de ser oondeinnado. Islo, porérn, nao p6de ser censnrado aos pobres negros i n fer i ores, porque os niesinos expedientes ireuios encontrar nu edademédia entre OH indn-europcus, de pelle branoa e cerebro largo. III As grandes monarchias antigas da raça amarella» Institutos juridicos da China, Peru' e Mexico. (*) § Eni unia adniiravel lioyâo de liistoria, dada lia Escola Po-lytechnica de Bordeaux, no aimo de 1871, (lieyâo que infeliz-mente foi unira) o grande espirito que se ehainou Emile Littré, apresentou a se us discipulos uni programma completo do curso que se propunha a fazer, e nesse programma inseriu a seguinte nota: «Ooino entre o homein préhistorien e os egypeios, enja civilisaçâo apparece toda formada, uma lacuua existe, eu inter-calo uma civilisacSo intermediaria, cujo typo tomo entre os Mexicanos e Peruvianos». Esta observaç&o do eminente escriptor francez aponta-nos o (*) PONTES s-r E. Littrô, La science au point de vue philosophique;1 TrajaDO de Moura : Do Homem americano ; D« Naclaillae : L'Amerique\ préhistorique ; Th. Braga : Historia Universal ; P. Laffitte : Considérations générales sur l'ensemble de la civilisation chinoise ; A. Ott. : L'Inde et la Chine ; Ahrens : Encyclopédie juridique ; Lctourneau : Lu Sociologie e L'évolution jurid. dans les div. rac. hum.; Sylvie Romero : Ethnographia braaileira. I ORK.VT. HO niRKITO liiuiav que devenios transpor para penetrar no gigaulesco edi-ficio das antigas civilisaçôes ûo oriente, ftindadas sobre o empirisme» e artes industriaes. BeaTuiente, de pois dos uegros inferiores que antecedente-mente estudamos, a propria classificaçâo das raças proclamada por Bluiueubac- .il, Olivier e Quatrefages, nos obrigava a descan-sar uni poiic-o no segmido degrao da escadaria que vae dos ini-| ci os das sooiedades ao s«u mais brilhanto apogeu. O troneo amarello da buiiianidudo, de craneo brac-hic-eplialo e de cerebro proporcionalmente desenvolvido, nâo podia deixar de prender-mos a attençao, conio o elo neeessario entre a selvageria priini-tiva e as elevadas civilisaçôes do oriente nsiatieo- africano e do occidente europeu. Jà deixamos dito, n'a nia citaçao de Letourueau, que nao Isô os mongôes asiatieos eoiuo os ebamados mongoloïdes ameri-canos. derain ao nmudo docnmentos notaveis do sen val or social coin as civilisaçôes chineza, peniviana e wexicana. E', agora occasiào de apreeiar taes civilisaçôes, no pouto de vista juridieo. A notaçao feita por Littré uo seu programma de historia parece que nos deveria conduzir a séparai' de qnalquer outro grupo buniano os dois curiosos typos das antigas populaçôes aniericanas, que sao commumente representadas pelos qqni-cbilas e Aztecs. Certas razôcs, porém, nos assistent para en-corporar a este capitule) o estudo da velha eivilisaçâo cbineza, lligando assim por uni laço meramente logico as .très grandes monarebias antigas da raya amarella. Dizemos por uni laço meramente logico para siguificar desde ja que nâo é nossa inten-çfto nom esta em nossas idéas dar como cousa provada a origem asiatica dos povos americanos, estabeleeendo uni cordâo um-bilical de natureza etbniea entre os ehinezes, incas e aztecs. Sabemos que tal opiniao é valoutemeute defeudida por scientistas e sabios da maior competoncia e que se» o nome de uni délies, Huiuboldt, é cnpaz de impor adlièsôes a primeira vista. Mas a vordade é que a hypothèse das successivas e di versas migraçôcs de povos do velho para o uovo mundo cm e pochas tnte-historicas é aiuda lis aub judice, e parece uiesmo ir per- 3b OOMPENDIO DE HISTOKIA dendo terreno deante da idéa do antochtonismo das raças anie-rieanas. idéa que mais se coaduna coin a doutrina polyphyle-Itica, vencedora hoje nos dominios da ethuogenia. Uma bel!a aflfirmac&o do que dizemos é o notavel trabalho do DOSSO illustre patrieio Dr. Trajano de Moura sobre o Homem americano ; trabalho que levou seu antor as conclusôes se-' guintes : « Deslocamentos de povos asiaticos para a America poderiam se ter realisado ri a epocha quateruaria, si ja entao a fauna e a| flora deste continente nâo nprescntassem caractères pecnliares, inteiramente independentes, e si por ta! facto uâo fi casse plena-mente refutadaa hypothèse da chamada ponte aleutica e do célèbre continente da Atlantide, que sô ezistiu na imaginaçao de Platao. » — «Contactas casuaes tiverain logar, coino esta prova-do, entre os habitantes do Novo e do Velho Mundo uos tempos pre-colombianos, mas nâo forain sufficientes para prodnzir uma modificayâo dnradonra nos caractères geraes do homein americano.» — «O pretendido type mongolo-americauo sô existe mes regiôes hyperboreas da Asia, America e Buropa, onde aiuda hoje é patente e franca a mescla de sens habitantes.» — «Os povos americauos, pelo conjuncto de caractères physicos e moraes. podiam ser considerados, ao tempo da descoberta, como varie-dades multiplas, constituidas no espaço e no tempo, de uma \ mesma especie indigena — Homo americanus. » Yao neste rnmo as nossas sympatbias theoricas; porém nâo nos é licite considérai* absolutamente inanes muitas das ail égayées produzidas em favor da thèse contraria. Beduzindo a questâo do asiatismo dos americauos ao qmi dro do uosso trabalho, mencionaremos aigu us dos facto» que a varios autores serviram para levantar a hypothèse de estreito | parentesco entre chinezes e americauos do Peni e Mexico. O principal dos referidos factos é a tradiçâo ehineza rela-tiva ao paiz de Fu-sang, si tu ado a leste do mar oriental. (Le pays connu des anciens chinois sous le nom de Fu-Sang, por D'Her-vey de Saint Denis). A esse mysterioso paiz se réfère taniheni a obra de Ch. Levand : Fusang or the discovery of America by chinese buddhist priests in the fifth century. Como se vê deste GEKAL DO DIEEITO 37 expressivo titulo o autor présume que no secnlo V padres bu-i dhistas chinezes cstiverani em uni ponto qnalquer do nosso continente. A autoridade de De Guignes veio dnr força a essa hypothèse pela uffirniae&o, que fez, de que o paiz de Fu-sang era de facto a America. Por outro lado descobertas archeologicas vieram fortifies r as presumpeôes dos asiatistas : naa rainas de Chimu e Chinca-Alta foram encontrados idolos de typo egual aos do Céleste Im-perio. Accresce ainda que aigu us au tores n'aérant insistente-mcnte notai* a extraordinaria seii'ellia nça existante entre as raças mongol icas e os habitantes do uoroeste da America. (1) Por nltimo, o Viscoude de Nadaillae resnmin deste modo 0 pouto em questao : «De Guignes attribue à iminigraçôes chinezas aeivilisayao dos peruviniioB. As eu ri osa s analogias que se notam nos costumes, nos regnlameutos minuciosos que attingem a todos as acçôes exteriores do honiein, o putronato concedido â agriciil-tura. a lesta animal celebrada em boura dos agricultorcs pelo inca do Perd e o imperador da China, o systema das irrigaeôes, o paganieuto dos impostos em especies, o uso dos quipog, a con-strucçâo das pontes snspeusas coiu cordas, a semelhança de certes detalhes de architectiira. a das barcas pernvianas eom os jiincos chinezes, sao todas de natnreza a justitirai- esta hypothèse. » C'hegadosa este pouto nao ê déniais observai' que o etni-uente historiador e philosophe Theophilo Braga expressamente ligou os mexicanos aos chinezes, considerando-os como ramos «la iiiesma arvure ethnica — » nu;» turaniana- Segundo a clas-sificaçao perfilhada pelo notavel autor portugnez, as raças his-torieas distribuem-se em très grandes grupos : o turaniauo (cru-1 samento do typo branco eom o amarello) o IcuschUo-setiiita (cru-samento do braneo eom o negro) e o ârico (branco extrême de crusamento). B' verda<le que esta classificayâo tem sido rudeiiicnte coin- (1) A semelhança é tal, dix um autor ing-lez, que sem o seu rabicho e habitos différentes, séria diffieil distinpuir os chinezes dos indios. 38 . rOMPENDIO DR HIKTORTA batida, sobretudo nas suas subdivisôes e detalhes cthnographi-cos. E entre os adve.rsavios do turanùmo asiatieo auiericano estai o iiosso grande critieo Sylvio Roméro. Nada importa, porém, isso ao nosso proposito, que é siraplesincnte assignalar a exis-tcneia de valiosas opiniôes era favov da ideutidade de caractères cthiiioos e sociaes entre chûiezcs e ainericauos do Mexico e Perd. Oonsignado isto volfcamos a affirmât que si ligamos neste capitulo as très grandes niouarchias antigas da raya amarella, fazemol-o por outras razôes que nao as de Th. Braga, Humboldt, De Guignes, Nadaillac, etc. Fazemol-o porqno, no nosso ponto de vista todo xoeiologico, eheg&mos a verificaçao de que o conjuncto das coucepçoes re-| ligiosas e poli tiens dos qqnichûas e aztecs corresponde nosseus pontos Ciipitaes ao conjuncto das mesmas concepçôes entre os ehiuezes. E' assim que vemos qualquèr desses povos no mesmo estadio da evolny&o religiosa ; a astrolatria, a phase ultiina, do fetichismo iaicial, é que domina era todos elles, uni tanto me-diticadajâ por uni grosseiro esboço de polytheismo : o inipera-dor filho do Céo e o incafilho do sol obedecem à mesma preoe- cnpayao nstrolatrica. Quanto nos mexicanos, hasta Citar estas palavras de uin amerieanista notavel : «tudo provaque o polytheismo existia entre elles, e mesmo uni polytheinmo muito infe-\ rior eomo concepçâo a a quel le que a historia nos mostra entre os egypeios e os gregos. » Si cousideramos as respectivas organisâmes politico-sociaes, aindit ohinezes, peruanos e mexicanos nos appareceni ligados logicamente por n m mesmo vinculo instifn-cional, coino veremos daqui a pouco. Accresce que as duas nayôes americanas nao passaram o limite que sépara o regiraen das classes sociaes mais on menos liierarchisadas do systema das castas. Outrotanto aconteeeu ua China, conforme nos diz A. Ott. E digamos de passagem, que por este motivo é que nao podemos ebamar theocraticus, noj rigor do teruio, as eonstituiçôes dos povos de que se trata ; pois seguuda a lucida observaç&o de Laffitte «o que caractérisa a theocracia, cuja base é necessariameute polytheica, é o rigimen das castas e a coordenaçâo das diversas castas entre si pela pre- 11 GERAL DO DIREITO 39 pondéra nc-ia du cnsta sacerdotal.» Nâo qner isto dizer, porém, que as instituiçOes dos ohinczes, peruvianos e inexicanos nào fosseni profundaiiiente théologiens. Bem ao contrario, é essa a {respectiva earacteristica fondamental. Ex postas a largos traços estas idéas introductorias, apres-senio-nos a 1 ratai- propriaiiionle do nosso assiimpto. § H China.—Este iiumenso paiz da extrema oriental do velho continente offerece aos olhos curiosos dos occidentaes o especta-culo de aina naçào de cerca de quatrocentos inilhôes de i n d i v i - duos, a quai dois mil an nos an tes da era christs jà possuia a original organisaç&o politico-social qiieainda hoje apresenta. Tracejemos ein primeiro logar o sen direito publico ; vero-mos depois suas instituiçOes de direito pi'ivado. A constiluiçâo politica da China é a de mua monarchia absolu ta e hereditaria calcada sobre o typo domestico do patrio poder. eujo ehefe éfilîio do céo sendo ao mesmo tempo pae e mâe de fodos os chinezes. A. suprema autoridade paternal, eoncen- traila nas mâos do imperador, dirige e régula todos os intéresses publicos e privados par iuterniedio de mua extensissima rede de fnnccionarios, sahidos da classe dos lettrados. Governando em vi r i i i de de um niaudato do ceo, o imperador te m a responsa- hilidade de tu do, até mesmo das pertu rbaeôes eli mater i cas. A m un lai responsabilidade é> natural que corresponda uni poder iiiiinenso. H Segnndo Laffîtte, as duas forças que presidiram ao desen- volvimciito graduai da civiiisaç&o chinez» forain : 1* uniu lïnnilia impérial represcnta<ia pur uni individuo uiiieo, que é o sen ehefe, 2" unia classe particular, a dos lettrados, que nao a l t i n g i u a sua verdadeira constiluiçâo senâo depois de Confucio, mas cnjos fuiidamentos existiam desde niuito an tes. R Esta classe, uuica dirigente ou governante ao lado do imperador, uHo constitue entretanto lima aristocracia hereditaria. Ella é rccrntada em todas as classes da populac&o por meio de 40 COMPENDÏO DE HI8TORIA exnmes diversos que conferem titnlos analogos aos de bacharel, licenciado e. doutor. A. esses exames pôde eoncorrer qualquer individuo qne qneira habilitasse ao mandarinato (1) on funecio-nalisino publiée. Os org&os da administraçâo snperior do Estado sâo, além do impcrador, nm conseilla privado o seis ministerios que se sub-dividem em uraa iufiuidade de reparti çôes secuudarias. Uni importante e enriosissinio documento attribuido a Tcheû-kong, irmâo do fundador da dynastia dos Tcheûs, nos fornece indica-çÔes intéressantes e complétas sobre o inechanistno do direito publico chinez, qne, alias nenhunia alteraçâo notavel tem sof-frido até hoje. Esse documento é o Tcheû-li (ritos de tcheû) — especie de almanack administrative do imperio chinez, na epocha em que foi escripto (secnlo XI mites da era christs..) Segnndo o Tcheû-li. a (esta da administraçâo esta uni pri-meiro ministro, o ministro do eêo, que é quem centralisa toda a acçao administrativa e tem sob suas ordens cinco outros ministerios : o da terra ou do ensino, o da primavera ou dos ritos, o do verâo ou da guerra, o do outomno ou da justiça e o do inverno\ ou dos trabalhos publicos. N&o ha na organisaçâo politica da China vestigios de inter. venç&o directa ou indirecta do povo na gestâo das cotisas pu-blicas. A lei ou esta feita nos livros de Confncio ou fal-a o imperador segundo o seu criterio. Todavia vê-se pelo Tcheû-li que em très easos a multid&o era consultada em assemblea gérai : quando o imperio estava em perigo ; quando se tratava de mudar de capital ou se transportava a populaç&o de uni ter- ritorio para outro por insufficiencia das condiçôes de subsisten-cia ; einfim, quando vagava o throno e era preciso eleger mu principe. Accrescenta o Tcheû-li que tambem se consultava o povo em caso de condemnaçao capital e sô se exécuta vain os cri-minosos quando a inultidao nâo pedia que elles fosse n perdoa-dos. (1) Convem observât que as palavrns mwndarini, mandarinato, îifio siio de origem cbineza, e sim portugueza. GEKA L DO DIKEITO 41 O podcr judiciario uao teni existencia independente da do 'executive, entre os chiuezes. O ministro do oulomno éo grande j jni z criminal, que por si ou por sens agentes julga definitiva- ïhente no civel e no crime. Os processos criniimies que podem dnrlogar a pena de morte sao instrnidos pelos preboslcs de justdça masjiilgados pelos ministros a porta exterior do palacio. Quan- to â," qm>stô< « eiveis, as partes comparecem à andiencia eosi uni feixe do fleciias, emblema da rectid&o de suas intençôes ou dâo trinta libras de ouro para demonstrar sua sinceridade. Os po- bres ficam coin o reenrso de tocar uni grande tanibôr collocado a porta do palacio e destinado a chaînai- a attencao do ffflio do Cêo sobre os infelizes. I Notemos, por fini,qne a siieeessao impérial nâo estasujeita ao direito de primogenitura, podendo o imperador escolher qualquer de sens filhos para succeder-lhe, e lereinos, nas suas linhiis geraes, o direito publico chinez. A principal instituiçâo de direito privado, a l'amilia, é altamente considernda no Céleste Imperio. Foi pelo seu typo patriarchal que se modelou o Est ado e é ella quein J'ornece aos chiuezes uma das mais importantes modal idndcs de .sua religio-sidade. fetichista— o cnlto dos antepassados e respect!vos ritos fnnerarios. Subordinayao e respeito ao pae e irmaos niais ve-Ihos, veueraçao â mâe e aos antepassados. sao os caracteristicoB da fainilia chineza, eujo typo gérai, entretanto, r.âo é o niono-gamico, pois a lei, embora t-ô reconhecendo uma mulher légitima, permitte e saneciona uni coiicubinato régulai-. Comtudo a polygamia sô prédomina entre as classes elevadas e ri cas da so-ciedade, a partir do imperador. E' quasi excusado accentuar a iniportancia do patrio poder pas relaçôes da ta mi lia chineza : o pae teni autoridade absolu ta sobre os filhos podendo vendel-os e castigal-os até o ponto de tirar-lhes a vida. Os filhos porém, succedeni â inteslado, por qoanto o direito de suecessao é baseado sobre a mauutenç-ao da unidade das familias. Quanto ao casa niento é elle gérai mente contrahido sob a forma de compra da esposa, sendo o eelibato prohibido qner para o houiom quer para a mulher. Eis, se-gundo A. Ott., o que ensina o Tcheû-H a esse respeito : Uni of- 42 OOMPEXIMO DE KISTORIA ficial dos easamcntos régistni as uni Ses conjugues e providencia para que toda mu Hier seja ensnda nos vinte annos e todo o ho-muni se case o mais tardai- aos tri ut a annos de idade. Na lua do meio da primavern é ordenada umn reuniao gérai de homens e mulheres. Aquelles que n&o se eonforiuum aos editos sein mua causa especial sao punidos pelo dito officiai dos casauientos,! «pie é (plein os effectua e qiieni jnlga todos os cusos de relacôes sécrétas entre homeui e inulher- A legislaçao, on mellior o costume, permit te o divorcio por consentimeuto ni ut no ; além disso o iiïarîdo pode répudiai' a niulber por diversos motivos, coino sejam : esterilidade, immo-t'alidade, inclinaçao an fnrto, maledicencia, etc. A propriedade individual, movel e iinniovel, existe un Chi-j nae é protegida por varias dispostçôes de Ici. O dominio territorial proprianiente dito soffren di versas niodificaeôes no curso da liistoria. Citareraos a este proposito, as seguintes palavras de A lire n s, que synthétisant sufficienteniente a materia : «Antc-riormente ao meiado do terceiro seculo A. O. o imperador era o i inico douo do solo e a propriedade territorial era repartida por elle entre os particulares, de modo quo sobre uma extensao de terreno determinada, uove décimas partes fosse m cultivadas em proveito do doado e a outra cm proveito do doador. Mais tarde as provinciasforain dadas pelo imperador aos sens logares-tenentes seguudo a maneira feudal, e finalmente a maior parte do solo foi cedida aos particulares, a titnlo de propriedade pri-vada alienavel e hereditaria. mediante o pagamento de dizimos e a prestaçâo de services feudaes.» Resta-nos fallar das institnicôes chinezas em materia crimi-j nal e pénal. A este assumpto consagrou Letonr-neau dois grandes capitnlos de sua obra L'évolution juridique dans les diverses races humaines. E' elaro que nâ-o podemos condensar em alguns periodos a larga exposiçao do sociologo francez, ne m isso é précise a uosso ver. Além do que deixamos dito sobre a organisaçâo judiciaria da China, consignaremos apenas o segninte : O Tcheû-li informa-nos que os crimes dos chinezes sao punidos coin a prisao temporaria, com a coudemnaçao a trabalhos ignomiuiosos, com a escravisaeao e ainda com estas outras pe- ORRA T. DO WRRITO 13 lias : a inarca uegra no rosfco, H ampufacâo do nariz, a reolusâo uo palacio (castracâo), a ampntaç&o dos pèse a execne&o capital. Podiani ser aecresceutadas a essa enumeraçao outras peu as ainda hoje em us<> ; nias nos limitaremos a citar a bas-tonada de bambû, pois no dizer incisivo de Letourneau KO bain-brt bastouante é a caracteristica da pénal idade chineza. » Ha casos, porém. em que qualqner d'essas penas é suhsti-tuida por unia composiç&o pecuniaria, porquauto, coino ainda observa Letourneau o resgate pénal existe ua China desde a mais alta antignidade, e o Chouking (uni dos mais antigos livres sagi ados) estabelece que a inarca uegra na face pode ser resga-tada por 100 hoan, a amputaç&o do nariz por 200, a dos pes e a] eastraçao por 500 e a peua capital por 1.000, H Além do homicidio, das offensas pbysicns em gérai, do adultérin, do rapto, do incendio e do furto, a legislacao clii-| neza elassiflca coiuo crimes, e dos mais graves : a rebelliâo, a deslealdade, a deserç&o, o parricidio, o massacre, o sacrib'gio, a discordia, a impicdade, a insubordinacao e o iucesto. O homicidio, em regra acarreta a pena de morte, e si se trata de parricidio o autor d'elle e sens cuniplices silo condemnados â| morte leuta e dolorosa. I Vê-se ahi uma revivescencia do taliâo e da vingança. Terni in aremos nota H do que a justiça chineza loin mais em vista a importancia do prejnizo causado pelo facto delictuoso do que a intençâo ou grao de perversidade do deliuquente, E' assim que os homicidios casuaes, fortnitos, ou por erro, sao pu ni dos pela estrangulaçâo, e que o incendio, mcsnio quaudo accidentai, détermina a pena de bas ton ad as. Perû e Mexico.— Na epocha da conquista hespanhola, o im-perio dos in cas ou a velha nacao peruviana, tinba cerea de 3000 léguas de extensâo e 400 de largura, coinprehendendo nos seus limites o Perû, a Bolivia, o Equador, e mna parte do Chili e da Republica Argentina actuacs. Tinha cerea de dess mil Iules de habitantes e as raças prédominantes eram as dos qquichûs e aymâras que pelos costumes e liuguagem se tinham quasi iden-ti/icado, vivendo alias os aymaras no plaiô dos Andes e os qqui-chûas nos arredores de Cozco — a capital do imperio. A tra- 44 OOMPENDI© DE HIOTOEIA diyfto narra, diz Nadaillnc, qoe Manco-Capac e a bella Mauia-Oello, sua irm& e mulher. fizeram conhecer os primeiros ele-mentos da civilisaç&o a tribus atë entfio selvagens e barba ras, e que & sua voz tacs tribus quebrnram sens idolos para adorar uni dous do quai o sol e a hia eram a forma visivel. Segnudo o niesmo autor P de accordo eom a legenda, Manco-Capac e Oello sahiram da ilha de Titicaca, por ordem do Sol, levando uni ranio de ouro que n'uni certo ponto dévia in terra r-se no solo. Foi em Cuzco que o prodigio se operou e OR incàs, eheios de reeon hec.imento, estalieleceram alli a séda do seu i ni péri o. De Manco-Capac a Atahualpa (l(Mi2 a 1534) quatorze incas rei-n ara ni no antigo Perû, fundando e dirigindo uni a das mais ori-ginaes e brilliantes civilisayôes da terra. Jâ sabenios que do niesmo modo que na China, a phase as-trolatricn do fétichisme era a que dominava entre os qqnichiias, eni materia de religiao e culto. E' précise» agora indagar quai a sua organisayao politica e juridica. Vanios fazel-o, reprodu-zindo as indicaçôes do autor da America préhistorien, que tam-liem quanto ao Mexico nos servira de guia. O systema de governo era a mouarchia absojuta e despo- tica fundada sobre o respeito religioso devido ao descendente do Sol. (Como na China, onde o Impcrador é fil ho do Céo). Uma hierarchia administrativa sabiamente combinada levava dos simples decuriôes (chefes de decurias e conjunctos de decurias) aos curacaH ou governadores de provineias, nui ni dos de poderes extensos e hereditarins. (Tambeui entre, os chinezes, segundoo Tcheû-U, cinco familias formant uni grupo : cinco grupos for mant uma seeçao ; quatro secçôes fazem uma commuua ; cinco comninnas uni cautào, etc.). Os
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