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Justiça Restaurativa e Medida Socioeducativa

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Profª Ms. Cecilia Santos	 Apostila 08
Justiça Restaurativa e Medidas Socioeducativas
Justiça Restaurativa
As origens mais remotas da Justiça Restaurativa se encontram na justiça tribal. Os índios sentavam-se em círculos para discutir os problemas que aconteciam nas aldeias. A Nova Zelândia incorpora algumas práticas da justiça ancestral dos aborígenes Maoris. 
Justiça restaurativa – enfoca a reparação dos danos causados às pessoas e aos relacionamentos, em vez de atribuir pura e simplesmente uma reprimenda penal aos transgressores.
Aspecto fundamental - O crime causa danos às pessoas, e a justiça exige que esse dano seja reduzido ao mínimo possível.
Mecanismo nuclear: Consenso e Mútua cooperação entre vítima e agressor para minimizar os resultados danosos do crime
A Justiça Restaurativa propõe que em vez do autor ser simplesmente punido através de um sistema restritivo de liberdade de questionável eficiência, seja oportunizado ao transgressor assumir socialmente sua atitude, e agir de forma consciente para reparar seu erro, mediante a adoção de compromissos concretos.
Resgatar a convivência pacífica no ambiente afetado pelo crime – o diálogo entre as partes interessada, devidamente focado no processo colaborativo, configura uma alternativa apara resolver os conflito gerados pela transgressão. 
Busca do acordo visando reintegração social dos envolvidos 
Participação do transgressor, vítima, membros da comunidade envolvida.
Questões importantes que devem ser respondidas para correta avaliação dos resultados deixados pelo crime: Quem foi prejudicado? Quais são as suas necessidades? Como atender a essas necessidades?
As Partes - As partes principais são as vítimas e os transgressores. As partes secundárias são integradas pela sociedade, representada pelo Estado, pelos vizinhos, organizações (religiosa, educacionais, sociais entre outras). O dano sofrido por estas é indireto e impessoal, e se espera que elas auxiliem e apoiem os processos restaurativos. 
Diferenças entre a Justiça Restaurativa e a Justiça Convencional
	Valores
	Justiça Retributiva
	Justiça Restaurativa
	Conceito jurídico-normativo de Crime – ato contra a sociedade representada pelo Estado - Unidisciplinariedade
	Conceito realístico de Crime – Ato que traumatiza a vítima, causando-lhe danos – Multidisciplinariedade 
	Primado do interesse público (Sociedade, representada pelo Estado, o Centro) – Monopólio estatal da Justiça Criminal
	Primado do interesse das pessoas envolvidas e comunidade – Justiça Criminal Participativa
	Processo Decisório a cargo de autoridades (Policial, Delegado, Promotor, Juiz e profissionais do Direito).
	Processo Decisório compartilhado com as pessoas envolvidas (vítima, infrator e comunidade). 
	Culpabilidade individual voltada para o passado.
	Responsabilidade, pela restauração numa dimensão social, compartilhada coletivamente e voltada para o futuro.
	Uso dogmático do Direito Penal Positivo
	Uso Crítico e Alternativo do Direito
	Indiferença do Estado quanto às necessidades do infrator, vitima e comunidade afetados - desconexão
	Comprometimento com a inclusão e Justiça Social gerando conexões
	Monocultural e excludente
	Culturalmente flexível (respeito à diferença, tolerância) 
	Procedimentos
	Justiça Retributiva
	Justiça Restaurativa
	Ritual Solene e Público
	Ritual informal e comunitário, com as pessoas envolvidas.
	Indisponibilidade da Ação Penal
	Princípio da Oportunidade
	Contencioso e contraditório
	Voluntário e colaborativo
	Linguagem, normas e procedimentos formais e complexos - garantias.
	Procedimento informal com confidencialidade
	Atores principais - autoridades (representando o Estado) e profissionais do Direito
	Atores principais – vítimas, infratores, pessoas da Comunidade, ONGs.
	Processo Decisório a cargo de autoridades (Policial, Delegado, Promotor, Juiz e profissionais do Direito - Unidimensionalidade
	Processo Decisório compartilhado com as pessoas envolvidas (vítima, infrator e comunidade) – Multi-dimensionalidade
	Resultados
	Justiça Retributiva
	Justiça Restaurativa
	Prevenção Geral e Especial 
Foco no infrator para intimidar e punir
	Abordagem do Crime e consequências 
Foco nas relações entre as partes, para restaurar
	Penalização
Penas privativas de liberdade, restritivas de diretos, multa
Estigmatização e Discriminação
	Pedido de Desculpas, Reparação, restituição, prestação de serviços comunitários Reparação do trauma moral e dos Prejuízos emocionais – Restauração e Inclusão.
	Tutela Penal de Bens e Interesses, com a punição do infrator e Proteção da Sociedade
	Resulta responsabilização espontânea por parte do infrator
	Penas desarrazoadas e desproporcionais em regime carcerário desumano, cruel, degradante e criminógeno – ou – penas alternativas ineficazes (cestas básicas)
	Proporcionalidade e razoabilidade das obrigações assumidas no Acordo Restaurativo
	Vítima e Infrator isolados, desamparados e desintegrados. Ressocialização Secundária
	Reintegração do Infrator e da Vítima Prioritárias
	Paz Social com Tensão
	Paz Social com Dignidade
	Efeitos para a Vítima
	Justiça Retributiva
	Justiça Restaurativa
	Pouquíssima ou nenhuma consideração, ocupando lugar periférico e alienado no processo. Não tem participação, nem proteção, mal sabe o que se passa.
	Ocupa o centro do processo, com um papel e com voz ativa. Participa e tem controle sobre o que se passa.
	Praticamente nenhuma assistência psicológica, social, econômica ou jurídica do Estado.
	Recebe assistência, afeto, restituição de perdas materiais e reparação.
	Frustração e Ressentimento com o sistema
	Ganhos positivos. Suprem-se as necessidades individuais e coletivas da vítima e comunidade
	Efeitos para o Infrator
	Justiça Retributiva
	Justiça Restaurativa
	Infrator considerado em suas faltas e sua má-formação
	Infrator visto no seu potencial de responsabilizar-se pelos danos e consequências do delito
	Raramente tem participação
	Participa ativa e diretamente
	Comunica-se com o sistema por Advogado
	Interage com a vítima e com a comunidade
	É desestimulado e mesmo inibido a dialogar com a vítima
	Tem oportunidade de desculpar-se ao sensibilizar-se com o trauma da vítima
	É desinformado e alienado sobre os fatos processuais
	É informado sobre os fatos do processo restaurativo e contribui para a decisão
	Não é efetivamente responsabilizado, mas punido pelo fato
	É inteirado das consequências do fato para a vítima e comunidade
	Fica intocável
	Fica acessível e se vê envolvido no processo
Referência
TRINDADE, Jorge. A Justiça Restaurativa: outro paradigma. In Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora. 2014.
Medidas Socioeducativas
O que são?  - Medidas socioeducativas são medidas aplicáveis a adolescentes autores de atos infracionais e estão previstas no art. 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Apesar de configurarem resposta à prática de um delito, apresentam um caráter predominantemente educativo e não punitivo. 
Quem recebe?- Pessoas na faixa etária entre 12 e 18 anos, podendo-se, excepcionalmente, estender sua aplicação a jovens com até 21 anos incompletos, conforme previsto no art. 2º do ECA.
Quem aplica?- O Juiz da Infância e da Juventude é o competente para proferir sentenças socioeducativas, após análise da capacidade do adolescente de cumprir a medida, das circunstâncias do fato e da gravidade da infração.
Em conformidade ao preconizado pelo ECA, a aplicação de medidas socioeducativas necessita considerar a capacidade do adolescente em cumpri-las, as circunstâncias e a gravidade da infração praticada. Basicamente, pode-se dividi-las em medida socioeducativa de meio aberto ou fechado. As executadas em meio aberto são: Advertência, Obrigaçãode reparar o dano, Prestação de serviços à comunidade e Liberdade Assistida. 
ADVERTÊNCIA (ART. 115 DO ECA)
O que é: uma repreensão judicial, com o objetivo de sensibilizar e esclarecer o adolescente sobre as consequências de uma reincidência infracional. 
Consiste na repreensão verbal aplicada pela autoridade judicial que deverá ser reduzida a termo e assinada. A medida de advertência é aplicada e executada pelo próprio Juiz da Infância e Juventude. Portanto, esgota-se em si, com efeito imediato. A medida de advertência possui caráter educativo e sancionatório uma vez que busca a orientação do jovem, a internalização de valores sociais que induzam a comportamentos considerados adequados para a vida em sociedade, ao mesmo tempo em que censura sua conduta, prevenindo sua reincidência. 
OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO (ART. 116 DO ECA)
O que é: ressarcimento por parte do adolescente do dano ou prejuízo econômico causado à vítima. 
Aplicada em situações em que o ato infracional resulta em danos patrimoniais, o juiz pode determinar que o adolescente repare ou restitua o bem, ou ainda compense o prejuízo financeiro causado à vítima. 
Por não necessitarem de programas estruturados para sua execução, as medidas de advertência e obrigação de reparar o dano são comumente executadas pelo Poder Judiciário sem intervenção da equipe de CREAS ou das demais políticas intersetoriais envolvidas. Porém, há de se reconhecer o desafio para a elaboração de mecanismos de participação social na execução de tais medidas, seja no acompanhamento das regras legais para a advertência, seja na fiscalização, cooperação nas situações de compensação das vítimas e mediação, como forma de resolução de conflitos. 
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE (ART. 117 DO ECA)
O que é: realização de tarefas gratuitas e de interesse comunitário por parte do adolescente em conflito com a lei, durante período máximo de seis meses e oito horas semanais. 
Consiste no cumprimento de tarefas gratuitas de interesse geral em entidades assistenciais, hospitais, escolas ou instituições afins. A medida deve ser aplicada durante uma jornada máxima de oito horas semanais, em horário que não prejudique a frequência à escola ou o turno de trabalho, não podendo ultrapassar seis meses. 
Com cunho educativo e não repressivo ou de punição, precisa fornecer ao adolescente instrumentais para o seu crescimento social e intelectual, tendo como principal escopo a inserção em novas possibilidades de vida e oportunidades de relacionamentos e trabalho. 
A equipe irá monitorar o adolescente, com constância, bem como efetivar sua responsabilização de acordo com a proposta pedagógica e metodológica proposta. Os locais de prestação de serviço devem ser avaliados conforme a característica individual de cada adolescente, podendo ser desenvolvido em organizações da sociedade civil, escolas, hospitais, equipamentos públicos e outros.
LIBERDADE ASSISTIDA (ARTS. 118 E 119 DO ECA)
O que é: acompanhamento, auxílio e orientação do adolescente em conflito com a lei por equipes multidisciplinares, por período mínimo de seis meses, objetivando oferecer atendimento nas diversas áreas de políticas públicas, como saúde, educação, cultura, esporte, lazer e profissionalização, com vistas à sua promoção social e de sua família, bem como inserção no mercado de trabalho. 
Medida adotada sempre que se configurar a necessidade de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. Um orientador acompanha o adolescente por um prazo mínimo de seis meses. Esse orientador deve promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, quando necessário, em programa de assistência social. 
Esta ação possui um viés sociopedagógico, usando como alicerce as possibilidades que o adolescente possui para não se inserir no grupo de risco quanto à violação de direitos e violências. 
Para tal faz-se necessária a escuta qualificada de suas angustias, metas de vida, anseios, relacionamentos, buscando objetivamente a superação de conflitos familiares e a inserção deste adolescente aos meios comunitários e sociais. Para tal deve-se ofertar além da escolarização outras possibilidades tais quais: oficinas, danças, informática, cursos profissionalizantes, etc. Estas ações auxiliam o adolescente atendido a perceber novas possibilidades, bem como a satisfazer-se pessoalmente, o que pode propiciar uma elevação de sua autoestima. O Artigo 118 do ECA versa sobre a Liberdade Assistida: 
Art. 118 A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. § 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento. § 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor. 
Medida socioeducativa em meio fechado: Semiliberdade e Internação
SEMILIBERDADE (ART. 120 DO ECA)
O que é: vinculação do adolescente a unidades especializadas, com restrição da sua liberdade, possibilitada a realização de atividades externas, sendo obrigatórias a escolarização e a profissionalização. O jovem poderá permanecer com a família aos finais de semana, desde que autorizado pela coordenação da Unidade de Semiliberdade. 
Durante a semiliberdade, o jovem fica vinculado a uma instituição, geralmente no formato de uma casa, mas deve participar de atividades externas, sem necessidade de autorização do juiz. Durante a aplicação da medida, o jovem deve frequentar a escola ou centros de profissionalização existentes na comunidade. A medida não tem prazo determinado, e sua manutenção deve ser reavaliada a cada seis meses. Tal medida pode ser aplicada desde o início como medida socioeducativa ou como forma de transição da internação para o meio aberto. 
Com a nova leitura do Estatuto da Criança e do Adolescente esta ação tem como objetivo o acompanhamento constante do adolescente não só evitando que este jovem pratique novos atos infracionais, mas direcionando-o na edificação de um novo projeto de vida, respeitando suas individualidades e limites, bem como o inserindo em proposta de convivência social, procurando sempre esforços para inseri-lo nos meios familiares e comunitários.
INTERNAÇÃO (ARTS. 121 A 125 DO ECA)
O que é: medida socioeducativa privativa da liberdade, adotada pela autoridade judiciária quando o ato infracional praticado pelo adolescente se enquadrar nas situações previstas no art. 122, incisos I, II e III, do ECA. A internação está sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. A internação pode ocorrer em caráter provisório ou estrito. 
Caracterizada por medida privativa de liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de desenvolvimento. Deve ser aplicada somente nos casos de grave ameaça ou violência à pessoa; de reiteração no cometimento de infrações graves; ou de descumprimento da medida proposta anteriormente. A internação não tem prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada a cada seis meses. O período máximo de internação, entretanto, é de três anos, com liberação compulsória aos vinte e um anos de idade. Deve ser cumprida em local exclusivo para adolescentes. Os internos devem ser separados por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração. Durante o cumprimento da medida, as atividades de escolarização são obrigatórias, bem como a estruturação do Plano Individual de Atendimento (PIA). 
De todas as sentenças proferidas pelos juízes da Vara da Infância e da Juventude e da Vara Regional de Atos Infracionais da Infância e da Juventude cabe apelação (recurso de sentença) no prazo de 10 dias, juntamente com a apresentação das razões.
A permanência do acompanhamento do adolescente pelas equipes de SINASE varia de acordo coma medida expedida, num período máximo de seis meses para medida socioeducativa de Prestação de Serviços à Comunidade e num período mínimo de seis meses e máximo de três anos para Liberdade Assistida. 
A reavaliação da manutenção, da substituição ou da suspensão das medidas e do Plano individual de Atendimento (PIA) pode ser solicitada a qualquer tempo pela equipe técnica responsável, pelo defensor, Ministério Público, adolescente, pais ou responsáveis. O desligamento procede por conclusão processual, pelo cumprimento da Medida Socioeducativa, pela evolução para outra medida mais agravante (meio fechado) e/ou por idade limite de dezoito ou vinte e um anos para casos ainda vinculados ao procedimento judicial. 
A partir da vinculação do adolescente no CREAS, apura-se junto ao adolescente e sua família e/ou responsável, a situação atual de inserção, permanência e sucesso escolar, serviço de convivência e fortalecimento de vínculos, cursos e capacitação profissional, mercado de trabalho, prevenção e tratamento de saúde, atendimento de usuários de substâncias psicoativas e demais recursos comunitários de apoio e orientação familiar. 
Para tal, disponibiliza-se a Rede Social pela qual propõe a atuação intersetorial compreendendo instituições governamentais (estadual e municipal), Poder Judiciário e Organizações da Sociedade Civil (OSC), por meio de ações que objetivam a promoção social do adolescente e sua família.
Referência 
Poder Judiciário da União - TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
http://www.tjdft.jus.br/cidadaos/infancia-e-juventude/informacoes/medidas-socioeducativas-1#section-8
PROGRAMA DO SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO SINASE- Curitiba/2014
http://www.conselhodacrianca.al.gov.br/sala-de-imprensa/publicacoes/Guia-MedidasSocioeducativas.pdf

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