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As correntes teóricas INTERNACIONAL

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As correntes teóricas: voluntaristas e objetivistas 
Os internacionalistas, ao abordarem o tema do fundamento do Direito Internacional, filiam-se, na maior parte das vezes, a duas grandes correntes distintas: a voluntarista e a objetivista. Com base nelas, ao longo da história, surgiram diversas orientações que, por orbitarem ao redor das duas, não obtiveram autonomia e destaque.
Os voluntaristas, como o próprio nome já sugere, encontram a obrigatoriedade do Direito Internacional na vontade dos próprios Estados (em conjunto ou isoladamente). A vontade estatal é expressa, na maior parte das vezes, em tratados ou convenções internacionais. Em outras palavras, para os adeptos dessa doutrina, a validade do Direito Internacional emana sempre da índole da vontade que o exprime. Tal corrente doutrinária é comumente subdividida em Teoria da Vontade Coletiva, Teoria da Auto-limitação, Teoria do Consentimento dos Estados e Teoria da Delegação do Direito Interno.
Uma outra possível divisão da corrente voluntarista nos é apresentada por Antonio Truyol y Serra. O autor afirma que os voluntaristas seguem necessariamente uma linha de pensamento hegeliana ou positivista, sendo ambas, na realidade, uma verdadeira negação do caráter compulsório das normas internacionais ou um mero pseudo- reconhecimento dela.
Os objetivistas, por sua vez, aparecem como uma voraz reação aos voluntaristas. A idéia dessa corrente tem origem bastante remota, podendo ser buscada na Antigüidade Clássica.  Em se tratando do Direito Internacional, contudo, o objetivismo surge nos últimos anos do século XIX. Para essa corrente, a vontade estatal não determina a obrigatoriedade do Direito Internacional. Assim como os voluntaristas, a corrente objetivista não é homogênea, tendo, muitas vezes, como único ponto de intersecção entre as suas inúmeras variantes um componente negativo: a negação do voluntarismo. Entre os diversos ramos do objetivismo destacam-se a Teoria do Objetivismo Lógico, a Teoria Sociológica e a Teoria do Direito Natural. 
Adherbal Meira Natos, contrariando a divisão já consagrada, prefere um critério de pureza, dividindo os sistemas em originais e ecléticos. Dentro dos primeiros estariam os jusnaturalistas, os voluntaristas e os normativistas; dentro dos segundos, estariam a Teoria da Convicção Jurídica, Teoria do Consenso Majoritário e Teoria da Necessidade Social.
Podemos, além disso, encontrar autores que, partindo de uma visão crítica acerca dessas duas correntes, preferem uma posição intermediária. Guido Fernando Silva Soares, por exemplo, afirma, com razão, que ambas as correntes são problemáticas, devendo ser temperadas, a fim de se evitar perigos nos excessos. 
O eminente internacionalista esclarece que o voluntarismo incorre no erro de exacerbar a noção de soberania, a ponto de minimizar conceitos como o de interesse comum da humanidade e comunidade internacional, além de não conseguir explicar como determinadas fontes do Direito Internacional (e.g. princípios gerais do direito e costume internacional) obrigam até mesmo aqueles Estados que não participaram de sua formação. Por outro lado, os objetivistas minimizam o conceito de soberania, desconsiderando, muitas vezes, a importância de uma possível vontade estatal na criação do Direito Internacional.
 
3. Conclusão 
O problema do fundamento do Direito Internacional é, para muitos, um tema sem relevância (ou com relevância meramente teórica). Outros afirmam que essa discussão não é cabível no âmbito do direito, sendo um assunto de teoria política ou da filosofia. Como se nota facilmente, no entanto, as críticas relativas ao estudo do tema baseiam-se na concepção de direito como direito estritamente positivo, isto é, como norma jurídica já formada e acabada. Tal concepção é, naturalmente, restritiva em demasia, pois não atribui importância ao processo de formação da norma, momento de aquisição de algum grau de obrigatoriedade.
No campo da teoria, a grande importância do estudo do fundamento do Direito Internacional está na relação que este tema tem com o conceito de soberania. Tomando este na sua acepção clássica, defendida por Hugo Grotius, a soberania significa poder incontrastável, não submetido a nenhum outro.
Ora, com fulcro nessa idéia, como é possível se admitir a existência de um Direito Internacional, no qual os principais atores a ele submetidos são Estados que ainda se dizem soberanos? Só temos condições de responder essa questão basilar se nos debruçarmos, com todo afinco, sobre o assunto ora tratado neste efêmero artigo.
Se formos cientificamente rigorosos notaremos que os conceitos de Direito Internacional (ou seria Interestatal ?) e soberania, da maneira que hoje são estruturados e conceituados podem aparentar ser mutuamente excludentes. Qualquer tentativa de manutenção conjunta de ambos teria de passar por uma série de reformulações conceituais.
Alguns autores, num grande esforço conciliatório, redefinem a soberania, conferindo-lhe um significado mais flexível, a fim de inseri-la numa nova realidade mundial, sem notar que se faz cada vez mais necessário a utilização de categorias mais adequadas, capazes de abranger os novos fenômenos.
As duas grandes correntes doutrinárias do Direito Internacional, cada qual a seu modo, tentam, sem sucesso, solucionar esse problema. Essa indefinição tem graves reflexos na realidade, proporcionando a constante criação de hipóteses ad hoc para o problema, nas quais os Estados, por meio de seus dirigentes, ora aderem a uma corrente, ora aderem à outra, conforme seja mais favorável para a justificação de seus atos (os quais, muitas vezes, são pautados apenas pelo atendimento de interesses de uma pequena minoria). A incapacidade do direito de lidar com o problema dá oportunidade ao cometimento de barbaridades políticas fundamentadas ou sem a necessidade de justificação.
É possível vislumbrarmos, portanto, a relevância do tema sob a ótica meramente teórica e sob um ângulo que o insere na realidade. A primeira diz respeito à problemática convivência entre soberania e Direito Internacional, dois conceitos aparentemente excludentes, já a importância - em termos práticos - está em esclarecer que os argumentos utilizados pelas duas correntes doutrinárias dominantes são insuficientes para explicar a obrigatoriedade do Direito Internacional. Isso, acumulado com a ausência de novas perspectivas teóricas para o tema, é responsável por uma situação propícia a um quadro internacional apenas aparentemente regrado, mas, de fato, suscetível à satisfação arbitrária de interesses daqueles que detêm maior poder. A existência de um Direito Internacional Público válido e efetivo passa, necessariamente, por um aprofundamento - por parte de acadêmicos, aplicador

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