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21 - PAGAMENTO INDEVIDO

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DO PAGAMENTO INDEVIDO
1. CONCEITO
O pagamento indevido constitui um dos modos de enriquecimento sem causa. Este representa o gênero do qual aquele é espécie. 
Desde o direito romano se proclama que ninguém pode locupletar-se, sem causa ou razão jurídica, com o alheio (nemo potest locupletari detrimento alterius). 
Por essa razão, preceitua o art. 876 do Código Civil de 2002, primeira parte:
 “Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir”.
O Código Civil de 1916 não continha nenhuma regra genérica sobre o enriquecimento sem causa. Todavia, aplicava o aludido princípio em dispositivos esparsos, adotando sempre soluções destinadas a afastar o locupletamento ilícito de uma pessoa à custa de outra, especialmente quando tal fato ocorria em decorrência de um pagamento indevido. Somente o pagamento indevido foi disciplinada sistematicamente, em uma das seções do capítulo concernente ao pagamento, que é o modo normal de extinção das obrigações.
O Código Civil de 2002 disciplina o enriquecimento sem causa e o pagamento indevido no Título VII, concernente aos “Atos unilaterais”, ao lado da promessa de recompensa e da gestão de negócios. 
Reconheceu o legislador, no pagamento indevido, a natureza de fonte unilateral das obrigações, por legitimar o “solvens” para a ação de repetição do indébito. Assim como o pagamento devido extingue a obrigação (CC, arts. 304 a 312), o indevido cria a obrigação de restituir.
Todo enriquecimento sem causa jurídica e que acarrete como consequência o empobrecimento de outrem induz obrigação de restituir em favor de quem se prejudica com o pagamento. 
Verifica-se assim que, além do enriquecimento do “accipiens”, também o empobrecimento do “solvens” constitui requisito para a caracterização do indébito.
O principal pressuposto do pagamento indevido é a inexistência de causa para o pagamento, uma vez que nem todo enriquecimento é considerado injusto, mas somente o que não representa a consequência de uma causa lícita ou jurídica.
Aduz o aludido art. 876 do Código Civil, na segunda parte, que a mesma obrigação de restituir 
“incumbe àquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a condição”. 
Como a prestação só se torna exigível após a ocorrência de evento futuro e incerto, ela não pode ser reclamada antes de tal fato, pois, como enfatiza Clóvis, a obrigação condicional ainda não existe e, assim, cumpri-la é dar o que por enquanto não é devido.
►►Entretanto, não será obrigado a restituir o que recebeu o pagamento antes do termo, porque é lícito ao devedor renunciar a ele e pagar a dívida antes do vencimento (CC, art. 133), sem poder alegar que o credor enriqueceu indevidamente. 
Se o pagamento indevido tiver consistido no desempenho de “obrigação de fazer ou para eximir-se da obrigação de não fazer”, aquele que recebeu a prestação fica na “obrigação de indenizar o que a cumpriu, na medida do lucro obtido” (art. 881).
OBSERVAÇÃO: constitui requisito da ação de repetição de indébito que o pagamento tenha sido efetuado voluntariamente e por erro. 
Dispõe, com efeito, o art. 877 do Código Civil:
 “Àquele que voluntariamente pagou o indevido incumbe a prova de tê-lo feito por erro”. 
Inexistindo erro, portanto, mas ato refletido e consciente, afastado fica o direito à repetição. O ônus da prova é, como se vê, do “solvens”.
A doutrina, entretanto, afasta a prova do erro e defere a restituição ao “solvens”, nas hipóteses em que não se poderia exigir deste conduta diversa. 
A propósito, preleciona Newton de Lucca:
 “Se o pagamento foi voluntário, porém efetuado “ad cautelam”, não poderemos qualificar esse ato de coação “stricto sensu”, mas identificável será o constrangimento, impelindo o “solvens” a pagar com o intuito de resguardar-se de eventual constrição patrimonial ou penalidade. Em situações como essa afastada fica a voluntariedade do pagamento”.
Silvio Venosa afirma que não deve provar erro não só o “solvens” que pagar sob coação, senão também o que “for colocado em uma situação na qual não tinha outra saída, como o caso de pagamento de tributos não devidos. Neste caso, o não pagamento acarretaria uma série de consequências nefastas para o contribuinte e não seria justo, do mesmo modo, recusar a repetição de indébito ao solvens”.
►►Se o pagamento não foi efetuado espontaneamente, mas em virtude de decisão judicial, incabível se mostra a ação de repetição de indébito, ainda que se trate de quantia não devida, sendo adequada a ação rescisória do julgado. 
A doutrina entende que efetua uma liberalidade e não tem direito à repetição aquele que deliberadamente satisfaz o que sabe não devido. 
►►Em caso de dúvida, deve o “solvens” consignar o pagamento, sob pena de assumir o risco de pagar mal e não poder invocar o art. 877 do Código Civil.
A jurisprudência tem dispensado a prova do erro e deferido a restituição ao “solvens” quando se trata de pagamento de impostos, contentando-se com a prova de sua ilegalidade ou inconstitucionalidade. Também tem proclamado que a correção monetária é devida a partir do indevido pagamento e não apenas a contar do ajuizamento da ação de repetição do indébito. Entretanto, o Código Tributário Nacional estabelece que os juros só são devidos desde o trânsito em julgado da sentença (art. 167, parágrafo único).
►►A Súmula 322 do Superior Tribunal de Justiça:
 “Para a repetição de indébito, nos contratos de abertura de crédito em conta corrente, não se exige a prova do erro”.
2. ESPÉCIES DE PAGAMENTO INDEVIDO
Há duas espécies de pagamento indevido: o indébito objetivo e o indébito subjetivo. 
Dá-se o INDÉBITO OBJETIVO ou “indebito ex re “quando o erro diz respeito à existência e extensão da obrigação:
quando o “solvens” paga dívida inexistente (indébito absoluto), mas que supunha existir, 
quando o débito que já existiu mas se encontra extinto,
quando paga dívida pendente de condição suspensiva ainda não implementada; ou, ainda, 
quando paga mais do que realmente deve;
quando se engana quanto ao objeto da obrigação e entrega ao “accipiens” uma coisa no lugar de outra. 
Configura-se o indébito subjetivo ou “indebito ex persona” quando a dívida realmente existe e o engano é pertinente a quem paga (que não é a pessoa obrigada) ou a quem recebe (que não é o verdadeiro credor). 
Exemplos: 01 - quando alguém, por engano, paga dívida da empresa da qual é sócio, supondo que se tratava de dívida pessoal; 02 -ou de quem, por engano, deposita o pagamento na conta bancária de quem não é o verdadeiro credor, mas seu irmão cujo nome é semelhante ao daquele.
3. “ACCIPIENS” DE BOA E DE MÁ-FÉ
Prescreve o art. 878 do Código Civil que:
 “aos frutos, acessões, benfeitorias e deteriorações sobrevindas à coisa dada em pagamento indevido, aplica-se o disposto neste Código sobre o possuidor de boa-fé ou de má-fé, conforme o caso”.
3.1 - ACCIPIENS DE BOA-FÉ: 
Desse modo, aquele que recebe, de boa-fé, pagamento indevido, sendo obrigado a restituí-lo, é equiparado ao possuidor de boa-fé, fazendo jus aos frutos que percebeu da coisa recebida, à indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis, podendo levantar as voluptuárias, e ao direito de retenção pelo valor daquelas, não respondendo pela perda ou deterioração da coisa (CC, arts. 1.214, 1.217 e 1.219).
3.2 - “ACCIPIENS” DE MÁ-FE:
O 	“”accipiens de má-fé, todavia, não tem direito aos frutos e responde por eles, inclusive juros e deteriorações, desde o recebimento da coisa. 
No tocante às benfeitorias, será ressarcido somente pelas necessárias, sem direito de levantar as voluptuárias e de poder valer-se do “jus retentionis” (CC, art. 1.220). Faz jus à indenização das benfeitorias necessárias porque, caso contrário, o “solvens” experimentaria um enriquecimento indevido.
4. RECEBIMENTO INDEVIDO DE IMÓVEL
Dispõe o art. 879 do Código Civil:
“Se aquele que indevidamente recebeu um imóvel o tiver alienado em boa-fé, por título oneroso, responde somente pela quantia recebida; mas, se agiu de má-fé, além do valor do imóvel, responde por perdas e danos.Parágrafo único. Se o imóvel foi alienado por título gratuito, ou se, alienado por título oneroso, o terceiro adquirente agiu de má-fé, cabe ao que pagou por erro o direito de reivindicação”.
O dispositivo em tela cuida, especificamente, das hipóteses em que aquele que recebeu o imóvel em pagamento (de obrigação de dar coisa certa ou sob a forma de dação em pagamento, p. ex.) tenha em seguida efetuado nova alienação, a título oneroso ou gratuito, a terceiro de boa ou má-fé.
Quando o pagamento é representado pela entrega de um imóvel e se revela indevido, este deve ser restituído ao “solvens”. 
►Às vezes, no entanto, o “accipiens” já o alienou a terceiro. Se o fez em boa-fé, por título oneroso, responde somente pela quantia recebida; mas, se agiu de má-fé, além do valor do imóvel, responde por perdas e danos. 
►Se o terceiro adquiriu o imóvel a título oneroso e de boa-fé, o proprietário, que o entregou indevidamente em pagamento, não obterá sucesso na reivindicação. 
A lei, nesses casos, protege o terceiro de boa-fé. O “solvens” terá direito, apenas, ao preço recebido do terceiro pelo “accipiens”, que ainda responderá por perdas e danos, se obrou de má-fé, como supramencionado.
Tendo que optar entre proteger o direito do proprietário, que pagou por seu próprio erro, e o do terceiro que agiu de boa-fé, sendo conduzido a um negócio por circunstâncias que induziriam qualquer pessoa, o legislador preferiu resguardar o deste último, que não colaborou para aquela situação de fato e poderia, caso contrário, sofrer um prejuízo injustificado. 
O proprietário somente recuperará o imóvel, sofrendo a perda o terceiro, se este o adquiriu de má-fé, isto é, sabendo que o alienante o recebera indevidamente, ou se o adquiriu a título gratuito. Neste caso, não importa se agiu de boa ou de má-fé. Perderá o imóvel para o proprietário, nos dois casos, conforme proclama o parágrafo único do aludido art. 879 do Código Civil.
5. PAGAMENTO INDEVIDO SEM DIREITO À REPETIÇÃO
O Código Civil abre três exceções à regra que assegura o direito à repetição a quem efetua pagamento indevido, voluntariamente e por erro.
►►A primeira acha-se no art. 880, segundo o qual:
 “fica isento de restituir pagamento indevido aquele que, recebendo-o como parte de dívida verdadeira, inutilizou o título, deixou prescrever a pretensão ou abriu mão das garantias que asseguravam seu direito; mas aquele que pagou dispõe de ação regressiva contra o verdadeiro devedor e seu fiador”.
Trata o dispositivo do recebimento, de boa-fé, de dívida verdadeira, paga por quem descobre, posteriormente, não ser o devedor. 
Se o título foi inutilizado, o credor não está obrigado a restituir a importância recebida, porque não poderá mais, sem título, cobrar a dívida, do verdadeiro devedor. 
Contra este o “solvens, que não deve ser prejudicado, dirigirá a ação regressiva, para evitar o enriquecimento indevido do réu. Assim também ocorrerá se o “accipiens” de boa-fé deixou prescrever a pretensão que poderia deduzir contra o verdadeiro devedor, ou se abriu mão das garantias de seu crédito.
É natural que, recebendo pagamento de dívida verdadeira, efetuado por quem se julga devedor, o “accipiens” não tenha interesse em conservar-lhe o título comprobatório, ou se quede inerte, permitindo se consume a prescrição em curso. 
Tendo de escolher entre o interesse do “solvens”, que pagou por erro, e o do “accipiens”, que teve um comportamento normal e isento de censura, prefere o legislador o deste último e o desobriga de restituir o que recebeu.
►►A segunda exceção está contemplada no art. 882:
 “Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível”. 
Quem paga obrigação natural, judicialmente inexigível, como dívida de jogo, cumpre um dever moral, que se encontra em seu íntimo. Não pode afirmar que pagou indevidamente, nem que o “accipiens” experimentou enriquecimento sem causa.
 Embora inexigível, a dívida, paga voluntariamente, existia. O mesmo ocorre com a dívida prescrita.
►►Por fim, dispõe o art. 883: 
“Não terá direito à repetição aquele que deu alguma coisa para obter fim ilícito, imoral, ou proibido por lei”. 
Se alguém, por exemplo, contrata uma pessoa, pagando-lhe certa importância para que cometa um crime, não terá direito de repetir se esta embolsar o dinheiro e não cumprir o prometido. 
Mesmo que, nesse caso, possa haver um enriquecimento ilícito do criminoso, que embolsou o pagamento, não assiste ao “solvens” direito à repetição, pois o legislador deu prevalência ao princípio de que ninguém pode valer-se da própria torpeza (nemo auditur propriam turpitudinem allegans). 
Nesse caso, “o que se deu reverterá em favor de estabelecimento local de beneficência, a critério do juiz”, como estatui o parágrafo único do supratranscrito dispositivo.
Preceitua ainda o art. 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor que
 “o consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável”.

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