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TRABALHO PSI JURIDICA 2015

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	CURSO: DIREITO PERÍODO: 8º
	TRABALHO DE PSICOLOGIA JURÍDICA
	PROFESSOR: CLAUDIA RESENDE ALVES VENTURINI
	ALUNO: FERNANDO HENRIQUE DE FREITAS E GONTIJO
TEXTO 1
LEI, TRANSGRESSÕES, FAMÍLIAS E INSTITUIÇÕES: ELEMENTOS PARA UMA REFLEXÃO SISTÊMICA
Júlia Sursis Nobre Ferro Bucher-Maluschke 
Nas famílias de delinquentes há, muitas vezes, uma total alienação diante das leis vigentes. Independentemente da classe social, nessas famílias, ou em alguns de seus membros, a lei maior não é considerada nem respeitada e, muitas vezes, até desprezada. As leis para uns pertencem aos livros e para outros, à classe social ligada ao poder. Perrone (1989) nos assinalou que o processo de interiorização da lei passa pela etapa de sua aceitação em benefício próprio, incluindo aos poucos o respeito do outro como ser diferente de si mesmo, até atingir o reconhecimento do outro na etapa final de aceitação da lei.
 Na primeira etapa, a lei seria percebida por meio do medo reverencial. Dentro do nosso contexto cultural, observa-se como se torna importante, nesse nível, a figura do juiz, do magistrado, do advogado, do delegado, do padre etc. Mas, geralmente, a reverência é ligada ao temor, muito mais do que uma compreensão realmente do que é a lei e para que ela é feita. É personalizada nas figuras de pessoas que representam a lei e observa-se nas formas com as quais as famílias fazem referências àqueles que representam a figura do “doutor” – no Brasil, todo advogado, delegado é “doutor”, e nas falas é muito frequente “o doutor disse...”, “toma cuidado, porque o doutor falou...”, “o doutor pode prender”, entre outras. A percepção da função que é atribuída a essas pessoas é muito importante, pois indicam que a lei não foi internalizada. Ela o é somente por intermédio desses personagens. 
A segunda etapa para a interiorização seria a “lei para a proteção de si mesmo”. Observamos na linguagem familiar, muitas vezes, outra forma de abordar a questão. Se alguém cometeu uma infração, dizem: “Vamos chamar depressa o advogado, porque ele vai protegê-lo.” A lei passa a ser percebida como a serviço da proteção de si mesmo. É o início da passagem para a etapa da lei na função de proteção dos seus membros. 
A terceira etapa é a da interiorização da “Lei propriamente dita. Levaria em consideração a etapa anterior, da proteção de si mesmo e a do respeito do outro, ou seja, do outro enquanto diferente de si mesmo, o reconhecimento do outro, ou seja, o reconhecimento de direitos e deveres iguais.
 BUCHER-MALUSCHKE, Júlia Sursis Nobre Ferro. “Lei, transgressões, famílias e instituições: elementos para uma reflexão sistêmica”. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, v. 23, nº esp., 2007.
 QUESTÃO 1: “As leis para uns pertencem aos livros e para outros, à classe social ligada ao poder.” De acordo com a autora, como poderia ser explicada esta situação? 
RESPOSTA: Analisa-se a alienação das leis vigentes perante famílias de delinquente, pois independente de classe social, para estas famílias, ou as vezes apenas alguns membros dela, a lei maior não é considerada ao ponto de respeitar-se, exceto em caso do momento da imposição das forças que o Estado tem, que então passa-se a ter um medo reverencial. Assim sendo, é por este motivo que se faz necessário as figuras de juízes, advogados, delegados, força policial, etc.
QUESTÃO2: Para a autora, como ocorre o processo de internalização da lei? Qual o papel da família nesse processo?
RESPOSTA: O processo da interiorização é notado no texto, quando a autora defende que “lei para a proteção de si mesmo”, onde resta claro que a linguagem familiar, na normalidade, aborda de outra forma esta questão. Assim sendo, quando alguém comete uma infração, então surge a necessidade de um protetor, então por meio dessa necessidade que a lei passa a ser percebida como a serviço da proteção de si mesmo, iniciando-se a passagem para a etapa da lei na função de proteção dos membros familiares.
TEXTO 2
INVISIBILIDADE SOCIAL: OUTRA FORMA DE PRECONCEITO
 Vivian Fernanda Garcia da Costa e Mateus de Lucca Constantino 
Ser invisível é sofrer a indiferença, é não ter importância. Essa maneira de discriminação está cada vez mais inserida na sociedade. A invisibilidade social é um conceito aplicado a seres socialmente invisíveis, seja pela indiferença ou pelo preconceito.
 No livro Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social, o psicólogo Fernando Braga da Costa conseguiu comprovar a existência da invisibilidade pública, por meio de uma mudança de personalidade. Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari na Universidade de São Paulo. Segundo ele, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são “seres invisíveis, sem nome”. 
Há vários fatores que podem contribuir para que essa invisibilidade ocorra: sociais, culturais, econômicos e estéticos. De acordo com psicólogo Samuel Gachet a invisibilidade pode levar a processos depressivos, de abandono e de aceitação da condição de “ninguém”, mas também pode levar à mobilização e organização da minoria discriminada. 
Massa invisível
 Um dos principais causadores da invisibilidade é a questão econômica. “O sistema capitalista sobrevive sob a lei da mais-valia, na qual para que um ganhe é imediatamente necessário que outro perca. Desse modo, a população de baixa renda é vista como um vasto mercado consumidor, e essa é sua única forma de visibilidade”, explica Gachet. 
Para a universitária Sabrina Ribeiro Rodrigues a invisibilidade não só é provocada pelo fator econômico. “A educação familiar é determinante para a maneira como as pessoas tratam o outro”, completa. A bibliotecária Marlene Araújo acrescenta ainda que existe preconceito com as pessoas que não estão adequadas aos padrões de beleza. “Se fosse loira, alta e de olhos claros, com certeza me tratariam de outra maneira”, ressalta. “Para mim o fator econômico não é o principal causador da invisibilidade social, e sim o status que adquirimos diante da sociedade. Se um professor de uma faculdade particular aqui do Brasil estiver em uma faculdade renomada como a de Harvard, também se sentirá invisível”, explica a universitária Vanessa Evangelista. 
Segundo Gachet, o preconceito que gera invisibilidade se estende a tudo o que está fora dos padrões de vida das classes hierarquicamente superiores. Muitos são os indivíduos que sofrem com a invisibilidade social, como, por exemplo, profissionais do sexo, pedintes, usuários de drogas, trabalhadores rurais, portadores de necessidades especiais e homossexuais. 
Consequências 
A invisibilidade social provoca sentimentos de desprezo e humilhação em indivíduos que com ela convivem. De acordo com Gachet, ser invisível pode levar as pessoas a processos depressivos. “Aparecer é ser importante para a espécie humana, ser valorizado de alguma forma, é parte integrante de nossa passagem pela vida; temos que ser alguém, um bom profissional, um bom estudante, um bom pai, uma boa mãe, enfim, desempenhar com louvor algum papel social”, diz. 
Outra consequência dessa invisibilidade é a mobilização dos “invisíveis”, grupos de pessoas que se juntam para conseguir “aparecer” perante a sociedade. Muitos são os exemplos desses grupos: MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra), a Central Única de Favelas (CUFA), fóruns nacionais, estaduais e municipais de defesa dos direitos da criança e do adolescente. Esses grupos também podem ser encontrados no crime organizado: o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho). 
A invisibilidade social já está cotidianamente estabelecida e a sociedade acostumou-se a ela; passar por um pedinte na rua ou observar uma criança “cheirando cola” em uma esquina é algo corriqueiro na vida social; segundo Gachet, aceitar isso é violar os direitos humanos. “É preciso não só ver esses invisíveis, mas é preciso olhar para eles e sentir junto com eles, é preciso ‘colocar óculos em toda humanidade”, finaliza.
 QUESTÃO: A invisibilidadesocial já está cotidianamente estabelecida e a sociedade acostumou-se a ela. De que forma o Direito contribui para esta situação social? 
RESPOSTA: Existe um dito clichê no curso de Direito de que “O papel do direito é compor conflitos e estabelecer a paz social” entretanto a que ponto se garante esta paz social? (me deixo mais liberto a discutir esta questão, tendo em vista que na pergunta não diz ser conforme visão do autor) Para o direito contribuir com algo, primeiramente necessita estar normatizado, fora isso ele se torna inexistente ao clichê de que “o seu direito acaba ao fronteirar o do próximo”. Assim sendo, para mim, o direito pouco contribuiria para esta invisibilidade social, pois ele normatiza o comportamento humano a partir de suas leis, onde deixa-se aberto para partir um referencial onde seja possível promover uma convivência social e pacifica entre os indivíduos, e ao meu ver ele faz. 
O que dá o dom da invisibilidade são as necessidades sociais, em que, por exemplo, faz uma pessoa adentrar em um ônibus e não cumprimentar o motorista, pois a mesma já entra de mal humor porque o ônibus oferece um péssimo serviço e a pessoa fica chateada consigo mesma por depender de tal trabalho e assim acaba descontando em terceiros, involuntariamente, por estar perdida em seus pensamentos/frustrações.
Outro bom exemplo é a invisibilidade de um mendigo, pois todos estão em momento de crise e com necessidades, e então você passa por um mendigo no trânsito e alguns vem de um modo até ofensivo para tentar ganhar uma moeda na brutalidade. Agora porque os ignoramos? Eu por exemplo, não ignoraria um mendigo caso fosse uma vez ou outra, entretanto só no caminho que faço para a faculdade, duas vezes por dia, totalizando então duas viagens de ida e duas viagens de volta, de segunda à sexta, e com aproximadamente 5 mendigos por viagem. Infelizmente sou azarado e normalmente as moedas que estão no meu bolso são de 50 centavos. Então calculando, por dia eu gastaria 10 reais, semanalmente 50 reais e mensalmente 200 reais, anualmente 2.400 reais, mais que o dobro do meu 13º salarial. 
Assim sendo, por fim, devido a ineficiência política (ao meu ver), estas pessoas sofrem da invisibilidade social, assim como as outras, as vezes até com um certo remorso, se forçam a torna-las invisíveis, entretanto no que tange ao direito, o fato de não ocorrer invasão de fronteiras de direito, então está tendo uma amenização do conflito pela norma, dando uma bilateralidade nas relações jurídicas, mesmo que seja por respeito a lei, e não ao próximo.
TEXTO 3
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E AS UNIÕES HOMOAFETIVAS 
Maria Berenice Dias 
Agora é lei. Está afirmado em lei federal que as uniões homoafetivas constituem entidade familiar. No momento em que é afirmado que está sob o abrigo da lei a mulher, sem se distinguir sua orientação sexual, alcançam-se tanto lésbicas como travestis, transexuais e transgêneros que mantêm relação íntima de afeto em ambiente familiar ou de convívio. Em todos esses relacionamentos, as situações de violência contra o gênero feminino justificam especial proteção.
 No entanto, a lei não se limita a coibir e a prevenir a violência doméstica contra a mulher independentemente de sua identidade sexual. Seu alcance tem extensão muito maior. Como a proteção é assegurada a fatos que ocorrem no ambiente doméstico, isso quer dizer que as uniões de pessoas do mesmo sexo são entidade familiar. 
Violência doméstica, como diz o próprio nome, é violência que acontece no seio de uma família. Diante da expressão legal, é imperioso reconhecer que as uniões homoafetivas constituem uma unidade doméstica, não importando o sexo dos parceiros. Quer as uniões formadas por um homem e uma mulher, quer as formadas por duas mulheres, quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta identidade de gênero, todas configuram entidade familiar.
 Ainda que a lei tenha por finalidade proteger a mulher, fato é que ampliou o conceito de família, independentemente do sexo dos parceiros. Se também família é a união entre duas mulheres, igualmente é família a união entre dois homens. Basta invocar o princípio da igualdade. No momento em que as uniões de pessoas do mesmo sexo estão sob a tutela da lei que visa a combater a violência doméstica, isso significa, inquestionavelmente, que são reconhecidas como uma família, estando sob a égide do Direito de Família. Não mais podem ser reconhecidas como sociedades de fato, sob pena de se estar negando vigência à lei federal. 
Consequentemente, as demandas não devem continuar tramitando nas varas cíveis, impondo-se sua distribuição às varas de família. Diante da definição de entidade familiar, não mais se justifica que o amor entre iguais seja banido do âmbito da proteção jurídica, visto que suas desavenças são reconhecidas como violência doméstica. 
Maria Berenice Dias é Desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. 
QUESTÃO 1: Diferencie violência doméstica de violência intrafamiliar.: 
RESPOSTA:Violência doméstica é todo tipo de violência, desde que praticada em um ambiente familiar comum, podendo ocorrer entre pais e filhos ou até genro e sogra, mas respeitando o âmbito familiar. Já, quando se fala de violência intrafamiliar, deve-se considerar qualquer tipo e relação de abuso praticado no contexto privado da família contra qualquer um dos seus membros
QUESTÃO 2: O Brasil é um local de tolerância da violência doméstica? Justifique sua resposta.
RESPOSTA: Como a pergunta não foi sobre a lei, então digo que sim, pois as autoridades não dão o respeito e atenção devida que a lei impõe, só tomam atitude quando resulta a morte. Enquanto não mudar a postura, punindo os responsáveis por tal conduta, iremos lidar com a fática visão de cônjuges mortos nos noticiários, pelas mão de companheiros desequilibrados.
TEXTO 4
CLIENTES ESPECIAIS
Por: Maria Rita Kehl 
Rapazes que espancaram doméstica, no Rio, são obedientes às leis ditadas por uma sociedade que endeusa a falta de limites. Antes de mais nada, como já se notou, existe o viés social. De um lado existem “jovens” que ocasionalmente cometem atos delinqüentes. É o caso de Júlio, Leonardo e seus colegas, espancadores da Barra. Inspiram-nos cuidado semelhante ao que dispensamos aos nossos filhos. 
Tentamos compreender: o que aconteceu? (Psicólogos são chamados a justificar.) E existem os outros, os que já são bandidos antes de chegar (quando chegam) diante do juiz. A execução sumária confirma, a posteriori, o veredicto que a imprensa divulga sem questionar: A polícia matou 18 “suspeitos” em confrontos com supostos “bandidos”... 
Ninguém persegue o resultado das investigações sobre as tantas chacinas que caem no esquecimento. O que distingue uns dos outros é o número do CEP: na Barra, nos Jardins, no Plano Piloto vivem os jovens. Os outros, adultos anônimos desde os 14, vêm de bairros que não figuram no mapa: “Periferia é periferia em qualquer lugar.” 
Qualquer delegado de bom senso percebe na hora a diferença. Se a cor da pele confirmar o veredicto, melhor. A sociedade, representada pelo Dr. Ludovico Ramalho, pai de Rubens Arruda, se tranqüiliza: as travessuras dos “jovens”, adultos infantilizados das classes A e B, não ameaçam a segurança da gente de bem. Espancaram uma doméstica, mas pensavam que fosse prostituta. Ah, bom.
 Nos bairros onde vivem os jovens não há solidariedade com os chacinados das favelas, com os executados a esmo em Queimados, com os meninos abatidos na praça do Jaraguá, em SP. Os movimentos “pela paz” nunca se manifestam por eles. Ninguém de fora 
Mas, quanto mais o Brasil maltrata seus pobres, quanto mais a polícia sai impune dos excessos cometidos contra os anônimos cujas famílias não protestam por temor de represálias, quanto mais o país confia na lógica do “nós cá, eles lá”, mais o gozo da violência se dissemina entre todas as classes sociais. 
Para pacificar o país, seria preciso redesenhar o mapa do respeito e da civilidade de modo a não deixarninguém de fora. Uma sociedade que assiste sem se chocar, ou sem se mobilizar, ao extermínio dos pobres — bandidos ou não — está autorizando o uso da violência como modo de resolução de conflitos, à margem da lei. 
Tomemos o ato de delinquência cometido pelos meninos “de família” da Barra, no Rio. Que a culpa seja dos pais, vá lá. As declarações do pai de Rubens Arruda são reveladoras. Não que ele não transmita valores a seu filho. Mas serão valores relacionados à vida pública? Não terá o Dr. Ludovico educado seu filho para “levar vantagem em tudo”? Esse pai não admite que o filho seja punido pelo crime que cometeu.
 Há aqueles que não admitem que a escola reprove o jovem que tirou notas baixas, os que ameaçam o síndico do condomínio que mandou baixar o som depois das 22h etc. Olham o mundo pela ótica dos direitos do consumidor: se eu pago, eu compro. Entendem seus direitos (mas nunca seus deveres) pela lógica da vida privada, como fizeram as elites portuguesas desde a colonização. Quem disse que os jovens não lhes obedecem? Obedecem direitinho. Param em fila dupla, jogam lixo nas ruas, humilham os empregados — igualzinho a seus pais. Vez por outra, quando os pais precisam impor alguma interdição, já não se sentem capazes. 
O que nos coloca a pergunta: que valores, que representações, no imaginário social, sustentam o exercício necessário da autoridade paterna? Em nome de que um pai ou uma mãe, hoje, se sentem autorizados a coibir ou mesmo punir seus filhos? A autoridade não é um atributo individual das figuras paternas. A autoridade dos pais — e da escola, que também anda em apuros (quem viu Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim?) — deriva de uma lei simbólica que interdita os excessos de gozo. Uma lei que deve valer para todos. 
O pai que “tem moral” com seus filhos é aquele que também se submete à mesma lei, traduzida em regras de civilidade, de respeito e da chamada boa educação.
 Cliente especial
 Mas em nome de que, no imaginário social, a lei simbólica se transmite? Já não falamos em “Deus, pátria e família”, significantes desmoralizados em nome dos quais muitos abusos foram cometidos, sobretudo no período de 1964 a 1980 [regime militar]. No lugar deles, no entanto, que outros valores ligados à vida pública foram inventados pela sociedade brasileira? Em nome de que um pai que diz “não pode” responde à inevitável pergunta: “Não posso por quê?” 
Ocorre que a palavra de ordem que organiza nossa sociedade dita de consumo (onde todos são chamados, mas poucos os escolhidos) é: você pode. Você merece. Não há limites para você, cliente especial. 
 Que o apelo ao narcisismo mais infantil vise a mobilizar apenas a vontade de comprar objetos não impede que narcisismo e infantilidade governem a atitude de cada um diante de seus semelhantes — principalmente quando o tal semelhante faz obstáculo ao imperativo do gozo. O que queriam os rapazes que espancaram Sirlei Dias de Carvalho Pinto? Um celular usado? Um trocado para comprar mais um papel? Descontar a insegurança sexual? “No limits”, diz um anúncio de tênis. Ou de cigarro, tanto faz. E os meninos obedecem. No fundo, são rapazes muito obedientes. Se a ordem é passar dos limites, pode contar com eles. 
Disponível em www.diap.org.br 
QUESTÃO 1 Como a autora contextualiza a questão da transmissão da lei simbólica nos dias atuais? 
RESPOSTA: Não justificando mais com os ditos “Deus, pátria e família, que foram agentes justificadores para vários abusos cometidos, sobretudo, no regime militar.
QUESTÃO 2 De acordo com o texto, o que está sendo valorizado e desmoralizado em nossa sociedade atual? Qual sua opinião sobre isso?
RESPOSTA: A ausência de limites, coisa que realmente precisa ser reavisada diante nossos nobres legisladores para que as leis cumpram, efetivamente, seu papel delimitador de limites, mantendo o respeito dentre todos. Ainda, reitero, que não basta apenas o legislador criar a lei, pois de leis criadas, mas inefetivas, nosso “Vade Mecum” já está com muitas páginas. Necessita também uma garantia do Estado para que estas leis sejam aplicadas, dando reforço ao Judiciário, neste quesito da aplicabilidade, fornecendo os devidos fiscalizadores (seria como ter mais policiais nas ruas para tentar inibir o crime; mais fiscais do meio ambiente em rua para se fazer notado os crimes ambientais; etc), pois de nada adianta continuar na mão do povo a fiscalização, mas quando o povo denuncia, vem a velha ineficiência por falta de efetivos.

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