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003 ALUNO: TEMA: SUSTENTABILIDADE ATUALIDADES DATA: 11/05/15 TURMA: Leia abaixo um trecho do novo livro de Jeffrey Sanchs, um dos mais renomados economistas do mundo. Em “A era do desenvolvimento sustentável”, Sanchs defende que a hu- manidade conseguirá enfrentar os desafios climáticos que ameaçam o planeta. Poluição cobre uma avenida da cidade de Linfen, na China “O desenvolvimento sustentável é o maior e mais complicado desafio que a humanidade já enfrentou. A mudança climáti- ca sozinha é uma dificuldade extraordinária. Somam-se a ela outros dilemas, como a rápida urbanização, o crescimento populacional, a exploração excessiva de recursos oceânicos e terrestres, entre outras inúmeras questões. Esse é um problema multigeracional e atinge áreas centrais de nossa vida econômica, como energia, transporte, infraes- trutura e suprimento alimentar — todas carentes de gran- des reformulações tecnológicas. Para tornar esse tema ainda mais complexo, há poderosos interesses constituídos, como os das grandes empresas petrolíferas internacionais. Elas obstruíram o esclarecimento da opinião pública e o progres- so da implementação de fontes mais limpas. As demandas se multiplicam e os prazos são apertados. Mas não devemos desistir. Hoje, identificamos maneiras muito específicas de prever como alcançar os objetivos de sustentabilidade. Conhecemos as tecnologias que podem ‘descarbonizar’ o sistema energético mundial e levar a uma eficácia energética tremenda. Sabemos quais tecnologias au- mentam a produtividade agrícola e reduzem o uso de defen- sivos e fertilizantes. Mostramos como cidades podem planejar o futuro e proje- tar infraestruturas inteligentes. Essas são oportunidades a nosso alcance, não é ficção científica, mas coisas que sabe- mos como fazer e são acessíveis. Em muitos casos, como nas energias eólica e solar, os custos já estão próximos das tec- nologias tradicionais, ao menos em algumas regiões privile- giadas do planeta. ADVERTISEMENT Podemos, então, sonhar em ser bem-sucedidos com as novas Metas do Desenvolvimento Sustentável. Esse é o nome do do- cumento que deverá ser aprovado em setembro, durante a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, com objetivos como frear as mudanças climáticas, acabar com a pobreza extrema e oferecer educação efetiva a todas as crianças e jovens. Acredito que, apesar da escuridão e da confusão que pairam sobre muitas dessas questões, podemos fazer um grande avanço. E, para isso, a mensagem mais importante é que o poder das ideias conta. Elas têm um efeito sobre as políticas públicas que vai além do que os cínicos podem imaginar. As ideias foram transformado- ras em toda a história e desencadearam alguns dos maiores movimentos de transformação dos dois últimos séculos — jus- tamente o período de nosso crescimento econômico moderno. Considere-se, em primeiro lugar, o fim da escravidão. Trans- correram décadas em meio a muito cinismo e acordos obs- cenos, mas em 1807 o Império Britânico aboliu o tráfico de escravos e, em 1833, eliminou por completo a escravidão nas colônias britânicas. Isso ocorreu mesmo contra poderosos e arraigados interesses econômicos. No fim, as ideias e a mora- lidade foram as forças subjacentes da transformação. A luta contra o regime colonial europeu, liderada por Mahat- ma Gandhi e muitos de seus contemporâneos na África e na Ásia, também parecia inicialmente impossível. Em 1910 ou 1930, qualquer um apostaria que Gandhi já teria sido esque- cido nos dias de hoje e que o Império Britânico teria continu- ado a governar a Índia e a África para sempre. Mas foi a liderança de Gandhi que ajudou a dar fim ao colo- nialismo e depois inspirou o movimento por direitos civis e humanos no mundo todo. Ideias e moralidade pavimenta- ram repetidamente o caminho para grandes rupturas. O mo- vimento pelos direitos das mulheres está em formação lite- ralmente há centenas de anos, mas obteve grandes avanços nas últimas décadas, muitas vezes nos lugares menos prová- veis e em grande parte em razão de combatentes e ativistas ousadas. Isso nos traz às ideias-chave de nosso tempo. A ideia de que podemos acabar com a pobreza extrema é hoje uma doutrina oficial de grandes instituições, como o Banco Mundial, e provavelmente estará, em breve, no centro do novo conjunto de Metas do Desenvolvimento Sustentável. A ideia do desenvolvimento sustentável é hoje um compro- misso mundial por um planeta mais seguro, próspero e justo. Obviamente, alcançar esses objetivos vai requerer investi- mentos: novas infraestruturas em água, energia e transporte; novos sistemas educacionais e de assistência à saúde; e ou- tras áreas críticas. Mas sempre vale fazer a velha e boa per- gunta: quem pagará essa conta? De alguma maneira, todos vamos pagar, porque como cida- dãos e consumidores temos de pagar pelos bens e serviços que fazem parte de nossa vida. Esse pagamento se dará de duas maneiras: via mercados e via instituições públicas e po- líticas. Naturalmente, esse debate gera disputas muito áspe- ras entre o papel de cada um. Os defensores do livre mercado argumentam que os mercados serão mais eficientes do que os governos. Já os defensores da presença do Estado argumentam que os mercados não estão fazendo os investimentos e provendo os serviços necessários. Por isso, segundo eles, um enfoque público é essencial. Há casos em que o mercado operou brilhantemente quase sozinho. O maior exemplo disso é a expansão maciça da tele- fonia móvel no mundo todo. Em meros 25 anos, o número de assinantes de linhas celulares aumentou de algumas dezenas de milhões nos anos 90 para cerca de 7 bilhões de usuários hoje, incluindo muitas das pessoas mais pobres do mundo. Essa escalada não se deu com base num programa governa- mental. Foi realizada principalmente por companhias priva- das de telecomunicações, movidas pelo lucro e por consu- midores que adquiriram aparelhos e acesso à conectividade. Outros tipos de atividades cruciais não tiveram a mesma di- nâmica dos telefones celulares. Mais de uma década atrás, quando companhias produtoras de mosquiteiros tratados com inseticidas para o combate da malária tentaram comercializar seus produtos, descobriram que as pessoas eram tão pobres que não conseguiam pagar por esse tipo de proteção. A economia nos ensina sobre quais são os limites corre- tos. Há algumas razões cruciais para que o enfoque do se- tor privado — que idealmente seria universal — não tenha conseguido solucionar questões críticas. Os mercados são concebidos basicamente para ignorar os pobres, já que eles geralmente não são bons consumidores — o que torna pra- ticamente impossível, nesse caso, combater a pobreza extre- ma. É aí que entra o conceito de ‘bens de interesse público’. Existem áreas de nossa vida econômica — saúde e educação, por exemplo — em que o governo deve prover serviços quer as pessoas possam pagar por eles, quer não. Por quê? Por- que esses são bens de interesse público, bens que deveriam ser universalmente acessíveis. O financiamento público também é fundamental em áreas nas quais é difícil haver o retorno do investimento. O desen- volvimento da ciência básica, por exemplo, raramente se transforma em um produto a ser comercializado. Felizmente, muitos países reconhecem isso e o apoiam. No momento em que queremos acelerar a pesquisa e o desenvolvimento de novas fontes de energia que emitam pouco carbono, o finan- ciamento público é absolutamente essencial. AJUDA HUMANITÁRIA No financiamento da sustentabilidade, a ajuda humanitária internacional das nações de alta renda também desempe- nhará um importante papel para auxiliar os países pobres a cumprir as Metas do Desenvolvimento Sustentável. Nesse aspecto, há críticos ferrenhos ao apoio externo. Há quem acredite que é um desperdício. Outros veema aju- da humanitária como algo absolutamente debilitante, que gera um tipo de dependência e diminui a motivação. Estou entre os que argumentam que esse tipo de financiamento é vital, salva vidas e é fundamental para organizações e entida- des internacionais voltadas a amparar os mais pobres. Ele é essencial quando as pessoas são miseráveis e enfren- tam desafios de vida ou morte, como a proliferação da malá- ria e da Aids ou a falta de água potável e alimentos. Para ser bem-sucedido, contudo, tal apoio precisa ser bem direciona- do e bem administrado. São fortes as evidências de que esse tipo de apoio funciona bem e é possível fazê-lo sem corrup- ção, roubo e ineficiências burocráticas. Com um sistema eficaz montado, os custos incrementais para alcançar as Metas do Desenvolvimento Sustentável provavel- mente deverão consumir de 1% a 2% do PIB mundial por ano. Esse nível de esforço financeiro, com certeza, não levará o mun- do à falência. O desenvolvimento sustentável é um processo. É uma forma de resolver problemas de forma pacífica, utili- zando a ciência e a tecnologia, nosso conhecimento adqui- rido ao longo do tempo e nossa ética global para solucionar necessidades comuns. Todos nós respiramos hoje o mesmo ar poluído. Isso é uma ameaça a nosso bem-estar e à nos- sa sobrevivência no futuro. Todos nós prezamos o futuro de nossos filhos. Logo, tenho plena convicção de que saberemos fazer tudo aquilo que precisa ser feito.” ANOTAÇÕES
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