Buscar

Atualidades 11-05.258

Prévia do material em texto

004
ALUNO:
TEMA: GEOPOLÍTICA
ATUALIDADES
DATA: 11/05/15
TURMA:
Leia abaixo o trecho de Ordem Mundial, último livro de Hen-
ry Kissinger, arquiteto da aproximação entre EUA e China nos 
anos 70 e um dos diplomatas mais influentes do século 20.
Henry Kissinger foi secretário de Estado de 1973 a 1977. Em 
1973, ganhou o Nobel da Paz pela retirada americana do 
Vietnã. Ainda nos anos 70, promoveu a aproximação com a 
China e a redução das tensões com os soviéticos. Depois de 
sair do governo, escreveu mais de uma dezena de livros.
“Cada era tem seu tema central recorrente, um conjunto de 
crenças que explica o universo, que inspira e conforta o indi-
víduo ao oferecer uma explicação para a multiplicidade de 
acontecimentos que lhe são impingidos. No período medie-
val, era a religião. No Iluminismo, era a razão. Nos séculos 19 
e 20, foi o nacionalismo combinado a uma visão da história 
enquanto força motivadora.
A ciência e a tecnologia são os conceitos que servem de guia 
para nossa era. Ao longo da história, a ciência e a tecnologia 
proporcionaram avanços sem precedentes para o bem-estar 
humano e também produziram armas capazes de destruir 
a humanidade. Mais recentemente, a tecnologia criou um 
meio de comunicação que permite contato instantâneo en-
tre indivíduos ou instituições em qualquer lugar do planeta, 
assim como o armazenamento e a recuperação de enormes 
quantidades de informação ao toque de um botão.
Essa tecnologia está imbuída de que propósitos? O que acon-
tecerá à ordem internacional, dado que a tecnologia se inte-
grou de tal maneira à vida cotidiana a ponto de definir seu 
próprio universo como sendo o único relevante? A capacida-
de de destruição da tecnologia associada às armas modernas 
é tão imensa que um medo comum pode unir a humanidade 
para eliminar o flagelo da guerra?
Ou a posse dessas armas acabará por criar um mau pressá-
gio permanente? O alcance da comunicação fará cair as bar-
reiras entre sociedades e proporcionará uma transparência 
de tal magnitude que os sonhos seculares a respeito de uma 
comunidade humana se tornarão realidade? Ou ocorrerá 
o oposto: a humanidade, em meio às armas de destruição 
em massa, transparência em rede e a ausência de privacida-
de, se projetará rumo a um mundo sem limites nem ordem, 
adernando em meio a crises sem compreendê-las? 
Não sou um especialista nas modalidades mais avançadas 
de tecnologia. Minha preocupação se restringe às suas con-
sequências. Durante a maior parte da história, as mudanças 
tecnológicas se deram ao longo de décadas e séculos pelo 
acúmulo de avanços mínimos que aprimoravam e combina-
vam as tecnologias já existentes.
Mesmo inovações radicais, com o passar do tempo, podiam 
ser ajustadas a doutrinas táticas e estratégicas que já existiam 
previamente. As referências anteriores aos tanques eram os 
séculos do uso militar da cavalaria. Aviões podiam ser traba-
lhados conceitualmente como outra forma de artilharia.
Em que pese todo o poder de multiplicação proporcionado por 
sua força destrutiva, até mesmo as armas nucleares são, em 
alguns aspectos, uma extrapolação com base numa experiên-
cia prévia. O que há de novo na era atual é o ritmo da mudança 
proporcionado pelo poder dos computadores e a expansão da 
tecnologia da informação para todas as esferas da existência.
Os computadores encolheram de tamanho, baixaram de custo 
e têm se tornado exponencialmente mais velozes a ponto de 
unidades de processamento de computadores avançados po-
derem agora ser inseridas em praticamente qualquer objeto — 
telefones, relógios, carros, aparelhos domésticos, sistemas de 
armas, aeronaves não pilotadas e no próprio corpo humano.
A revolução da computação é a primeira a reunir um núme-
ro tão grande de indivíduos e processos sob a ação do mes-
mo meio de comunicação e a traduzir e rastrear suas ações 
numa única linguagem tecnológica. O ciberespaço — palavra 
cunhada na década de 80 como um conceito essencialmen-
te hipotético — colonizou o espaço físico e, pelo menos nos 
grandes centros urbanos, começou a se fundir com ele.
À medida que tarefas que, na geração passada, eram prio-
ritariamente manuais ou tinham o papel de suporte — ler, 
fazer compras, ter acesso à educação, falar com os amigos, 
fazer pesquisas, organizar campanhas políticas, gerenciar as 
finanças, cuidar da vigilância e estratégia militar — são filtra-
das pelo domínio da computação, as atividades humanas vão 
sendo cada vez mais transformadas em ‘dados’ e parte de 
um único sistema ‘quantificável, analisável’.
O BIG BROTHER ESTÁ DE OLHO
Isso é verdade num grau ainda maior quando o número de dis-
positivos conectados atualmente à internet beira os 10 bilhões 
e está projetado para subir para 50 bilhões em 2020, e uma 
‘internet das coisas’ ou uma ‘internet de tudo’ já começa a ser 
vislumbrada. Indivíduos munidos de smartphones (e estima-se 
que hoje sejam cerca de 1 bilhão de pessoas) agora dispõem de 
informação e capacidade analítica que estão além do alcance do 
que muitos órgãos de inteligência tinham na geração passada.
Grandes corporações que acumulam e monitoram os dados 
trocados por esses indivíduos dispõem de uma capacidade 
de influência e de vigilância que supera a de muitos Estados 
e mesmo a de potências mais tradicionais.
Governo algum, mesmo o mais totalitário, foi capaz de im-
pedir o fluxo ou de resistir à tendência a transferir cada vez 
mais suas operações para o domínio digital. Como tudo isso 
afeta a ordem internacional? O mundo contemporâneo her-
da o legado das armas nucleares, que têm a capacidade de 
destruir a vida civilizada.
Porém, por mais catastróficas que sejam suas implicações, 
seu significado e sua utilização ainda podem ser analisados 
em termos de ciclos separáveis de paz e guerra. Já a internet 
abre possibilidades inteiramente novas. O ciberespaço desa-
fia toda experiência histórica. As ameaças que emergem do 
ciberespaço são nebulosas e indefinidas. Muitas vezes é difí-
cil identificar seus autores.
A natureza das comunicações em rede, com sua capacidade 
de tudo impregnar e penetrar — nos setores sociais, financei-
ros, industriais e militares —, tem apresentado aspectos incri-
velmente benéficos. Mas esse processo de digitalização tam-
bém aumentou as vulnerabilidades e atropelou a maior parte 
das regras e dos regulamentos (e, na verdade, a compreensão 
técnica de muitos empenhados em sua regulamentação).
Antes da era da informática, o poderio das nações ainda 
podia ser aferido por meio de uma combinação de efetivos 
humanos, equipamento, geografia, economia e moral. Havia 
uma clara distinção entre períodos de paz e de guerra. As 
hostilidades eram desencadeadas por acontecimentos defi-
nidos e praticadas por meio de estratégias para as quais al-
guma doutrina inteligível havia sido formulada.
A tecnologia da internet, porém, não tem se deixado enqua-
drar por estratégias ou doutrinas — pelo menos até o mo-
mento. Na nova era, existem capacidades para as quais ainda 
não há nenhuma interpretação comum. Entre os que a utili-
zam existem poucos limites — se é que existem — no sentido 
de definir restrições tácitas ou explícitas.
Quando pessoas de filiação ambígua são capazes de empre-
ender ações cada vez mais ambiciosas e de maior penetra-
ção, a própria definição de autoridade do Estado pode se tor-
nar ambígua. A complexidade é aumentada pelo fato de que 
é mais fácil articular ataques informáticos do que se defen-
der deles, encorajando possivelmente uma postura ofensiva 
na construção de novas capacidades.
O perigo é multiplicado pela inexistência de acordos inter-
nacionais para os quais, mesmo que venham a ser firmados, 
não existe nenhum sistema capaz de aplicar penalidades. Um 
laptop pode produzir um fato de consequências globais. Um 
agente solitário dotado de poder informático suficiente podeter acesso ao ciberespaço para desativar ou potencialmente 
destruir infraestruturas vitais, agindo a partir de uma posição 
de quase completo anonimato.
Redes elétricas podem ser levadas a sofrer pane e usinas de 
energia podem ser desligadas por meio de ações de fora do 
território físico de uma nação (ou pelo menos de seu territó-
rio da forma como é compreendido em termos convencio-
nais). Um grupo clandestino de hackers já se mostrou capaz 
de penetrar em redes governamentais e difundir informa-
ções sigilosas numa escala grande o bastante para afetar a 
conduta diplomática.
Um ataque informático apoiado por um Estado conseguiu in-
terromper e atrasar as atividades nucleares do Irã, num grau, 
segundo alguns relatos, que rivaliza com os efeitos de um 
ataque militar limitado. O ataque da Rússia dirigido contra a 
Estônia em 2007 paralisou as comunicações do país durante 
dias. Tal estado de coisas, mesmo que temporariamente van-
tajoso para os países avançados, não pode se prolongar de 
forma indefinida. As razões são claras.
O caminho rumo a uma ordem mundial pode ser longo e in-
certo, porém nenhum progresso significativo será possível se a 
internet, um dos elementos de maior penetração da vida inter-
nacional, for excluída de qualquer diálogo sério. É altamente 
improvável que todas as partes, especialmente aquelas mol-
dadas por tradições culturais diferentes, cheguem de forma 
independente às mesmas conclusões a respeito da natureza 
e dos usos permissíveis de suas novas capacidades invasivas.
É essencial que se promova alguma tentativa de mapear uma 
percepção comum da nova condição em que nos encontra-
mos. Na ausência dela, as partes continuarão a operar com 
base em instituições separadas, aumentando muito as chan-
ces de um resultado caótico.
Na ausência de alguma articulação de limites e de um acordo 
em torno de metas de mútua contenção, uma situação de 
crise tem grande risco de ocorrer, mesmo que não intencio-
nalmente. Em resumo, o próprio conceito de ordem interna-
cional pode estar sujeito a pressões crescentes.”
ANOTAÇÕES

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes