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Apostila Civil

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AULA Nº 1 06/02/07
DIREITO CIVIL III
PROF. MAURÍCIO
CONTRATOS EM ESPÉCIE
COMPRA E VENDA
- CONSIDERAÇÕES GERAIS
	O contrato de compra e venda é o primeiro contrato do CC. Este é um contrato realizado entre particulares. Duas pessoas comuns (sem características espaciais) estão realizando o contrato entre si. Então, fazendo esta ressalva, porque muitas vezes pode acontecer do indivíduo, dependendo da característica de um deles, acaba caindo em outro contrato, ex., se fosse pessoa jurídica de direito público, acabaria caindo em um contrato administrativo que tem regras diferenciadas. Se um deles fosse comerciante poderia recair no Código de Defesa do Consumidor, o que também leva a características diferenciadas. Então, o contrato de compra e venda é um contrato realizado entre particulares. Este contrato é o mais comum, o mais usual no dia-a-dia. 
	Geralmente, o legislador não conceitua, simplesmente regulamenta e o conceito fica por conta da doutrina. Mas, os contratos têm uma situação diferenciada, pois são conceituados. Se observarmos o art. 481 do CC vai perceber que este dispositivo, basicamente, é um conceito do contrato de compra e venda: “Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”. Então, este fica sendo o conceito. O contrato de compra e venda é o contrato onde me obrigo a transferir o domínio de determinado bem a alguém, em contrapartida, este alguém paga o avençado. 
	Por este conceito, retira-se de mais importante duas coisas: OBRIGA E COISA EM DINHEIRO. Coisa em dinheiro, porque devemos ter um objeto (aquilo a que se refere o contrato de compra e venda). E o obriga, porque dá a clara noção do que é como funciona o contrato de compra e venda entre nós.
	No Sistema Francês, o contrato é forma aquisitiva. Para nós, no Sistema Nacional, o contrato é fonte obrigacional. Agente percebe a diferença dos próprios efeitos, tanto do sistema francês quanto o brasileiro. 
No francês, se celebramos um contrato, automaticamente, os efeitos já se produzem (fonte aquisitiva). Ex.: Contrato com alguém a venda de um gravador. Negocio e acerto o preço. A partir do momento em que acerto o preço, isto é, que fechamos o contrato, automaticamente, já sou o dono. Se ela, de má fé, vende o objeto a terceiro, eu posso tirar do terceiro, visto que sou o dono. O bem é meu, está injustamente na mão de terceiro, então eu tomo da mão de terceiro. Os riscos também são diferentes. Ex.: “A” me vende um gravador para ser entregue em momento futuro. Se o gravador quebra neste período, quem perde sou eu. Mas, o sistema nacional funciona diferente. Quando diz o Código que o contrato é uma fonte obrigacional, “A” se obriga a me transferir a propriedade e eu a pagar o preço em dinheiro. A partir do estante em que fechamos o contrato, se o gravador se quebra, quem perde é “A”. Se fosse combinado que “A” entregasse o bem na próxima semana, e, no meio do caminho, vende para terceiro de boa fé o objeto, não posso fazer nada com relação a este terceiro. Somente poderei reclamar com quem contratei, visto que a outra parte descumpriu a obrigação. “A” se comprometeu, no caso, a dar coisa certa e não tem o objeto para dar por culpa, então irá responder pelo descumprimento contratual mais as perdas e danos.
	No nosso sistema a propriedade se transmite de forma diferente (no francês basta contratar), exigindo certos requisitos: para os bens móveis a “tradição” e para os imóveis “escritura pública” e o “registro”. Então, a palavra “obriga” é muito importante, pois marca dois momentos diferentes do contrato. O momento ora estudado é o da “contratação” (parte negocial, contratual) e existe um segundo momento que é a “execução” (momento em que o contato é cumprido).
- CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO (OU CLASSIFICAÇÃO)
	Em qualquer contrato, as características passam a ser importantes para se saber se o contrato é unilateral, oneroso ou gratuito, consensual, real, solene ou não solene, personalíssimo e uma série de classificação possível para os contratos. Estudaremos somente as classificações que mais interessam de cada contrato, somente as mais importantes. 
A classificação tem um lado importante, que é o de gerar um resultado, p. ex., o contrato de compra e venda é um (1) contrato bilateral, pois há obrigações recíprocas para os contratantes. Sendo um contrato bilateral, automaticamente e implicitamente, poria se admitir como conseqüência que este contrato tem uma (2) “cláusula resolutória tácita”, pois todo o contrato bilateral tem esta cláusula, ou seja, se celebro um contrato e você não cumpriu sua parte eu posso exigir o cumprimento coativo ou pedir a rescisão com perdas e danos. A outra parte não pode questionar alegando que o contrato não continha tal cláusula, já que esta é implícita nos contratos bilaterais.
Além dessas características (contrato bilateral e cláusula resolutória tácita), há a (3) “exceção de contrato não cumprido” (que também é uma conseqüência natural do contrato bilateral) que se trata de um meio de defesa que tenho, através do qual, se eu for cobrado, eu não sou obrigado a cumprir a minha parte do contrato enquanto você não cumprir a sua, ou seja, enquanto você fica inadimplente na sua parte do contrato eu não preciso cumprir a minha.
O contrato de compra e venda, evidentemente, é um contrato (4) “oneroso”, ou seja, leva a um sacrifício patrimonial das duas partes. Como conseqüência de ser oneroso, ele está sujeito a vício redibitório, evicção e resolução por onerosidade excessiva.
É também um contrato (5) “consensual”, já que ele se perfaz mediante simples acordo, não exigindo nenhum ato material de entrega para que o contrato se considere perfeito e acabado.
Via de regra, é um contrato (6) “não solene”, pois, a princípio, ele se considera perfeito e acabado de qualquer maneira onde fique evidenciado a intenção das partes em contratar, ou seja, basta que fique claro que as partes desejam o contrato, que o contrato está perfeito e acabado. Então, pode ser escrito, por gesto, por sinais, expresso, tácito, de qualquer maneira desde que fique claro que as partes querem contratar. Ex.: Se você vai ao mercado comprar uma caixa de fósforos, pode-se fazer um contrato escrito, pode-se realizar da forma verbal. Pode ser também por gestos, p. ex, nos bares é comum pedir uma cerveja por gestos, mostrando a garrafa vazia, mostrando o rótulo da marca e etc., o garçom já sabe que o cliente está pedindo uma cerveja, mesmo sem dizer uma palavra. Portanto, no contrato de compra e venda, se ficar claro que uma parte quer comprar e a outra quer vender, o contrato está perfeito, por isso, em regra, o contrato é não solene. Exceção dos imóveis que, via de regra, exigem escritura pública.
 É um contrato (7) “não personalíssimo”, ou seja, as características do sujeito são menos importantes. Agente não vende, não compra pelas características do sujeito.
É um contrato, via de regra, de (8) “execução imediata” ,ou seja, se nada for convencionado, o cumprimento é a vista.
É um contrato, via de regra, (9) “comutativo”, o que significa, a princípio, que as partes sabem exatamente aquilo que estão contratando, aquilo que vai ser objeto do contrato (eu sei o que vai ser objeto da transferência do domínio e qual vai ser o preço a ser pago). É lógico que nada impede que, pela natureza do contrato ou pelo acordo, a parte possa tornar o contrato (10) “aleatório”. Mas, a princípio, na forma normal da compra e venda agente sabe exatamente o que será entregue e o que será pago.
- ELEMENTOS DO CONTRATO
A- Forma / B- Objeto / C- Sujeito
A - Forma( Como anteriormente fora dito que este é um contrato não solene, a forma é LIVRE (com exceção dos imóveis que exigem escritura pública), ou seja, o contrato pode ser formalizado de qualquer maneira.
B - Objeto( O conceito do artigo 481 delimitadois objetos:
B.1 – Coisa / B.2 – Preço em dinheiro
B.1 – Coisa( Pelo próprio conceito de coisa, é clara a intenção do legislador de delimitar o objeto da compra e venda. 
Como primeira característica da coisa, esta precisa ter (1) “existência física”. Alguns autores dizem que a compra e venda pode ser de direitos, obrigações, o que parece que não. Direitos e obrigações não são objetos de compra e venda, são objetos de um negócio jurídico específico que se chama cessão. Então, quando o legislador, no próprio conceito, delimitou coisa, ele quis transmitir exatamente esta existência física, ou seja, o objeto da compra e venda necessariamente tem que ter existência física. Porém, como já dito, esta é uma questão questionada, há divergências. 
	Além disso, o objeto da compra e venda teria que ter (2) “valor econômico” (“já que vamos pagar, precisa ter valor econômico”); tem que ser (3) “suscetível de apropriação”, ou seja, tem que ser uma coisa da qual eu possa me tornar dono (Ex: “Uns anos atrás, um pessoal se sentiu lesado, porque um corretor teria negociado com eles lotes no céu. O primeiro questionamento é a existência do céu, que há divergências e se trata de uma questão filosófica. E, segundo, supondo que se possa comprar, pode-se ser dono de um lote situado no céu? Claro que não. Então, o céu não pode ser nunca objeto de compra e venda”.). Então, o objeto tem que ser suscetível de apropriação, isto é, alguma coisa que se possa ter propriedade, como, p. ex, não se pode ser dono da lua (que tem valor econômico, tem existência física, mas não se pode ser dono dela).
	Também, o objeto da compra e venda tem que ser (4) “comercializável”, ou seja, não basta, apenas, que o objeto possa ser apropriado, é necessário que este objeto possa ter transferido o seu domínio a outrem, possa ser comercializado. Agente verifica, que vários objetos, a despeito de terem dono, terem valor econômico, não podem ser comercializados, como os casos das propriedades da União, dos Estados, bens cravados com cláusulas de inalienabilidade (Ex: doação com cláusula de inalienabilidade).
	O objeto também deve ser (5) “lícito”, assim como todo objeto jurídico deve ter licitude, sob pena de inexistir o contrato.
	Obs.: Como foi dito, o nosso sistema, não necessariamente, agrega no mesmo instante todo o contrato, ele na verdade divide nosso contrato em dois momentos bem claros: contratação e execução. O momento da contratação é o momento que eu acordo, quando estou combinando, ex, quando combino a compra de um gravador. O outro momento é o momento da entrega do gravador, do pagamento deste. O interessante é o seguinte: o objeto da compra e venda precisa existir necessariamente no momento da compra? Não. Como agente marca dois momentos diferenciados, não me parece necessário que o objeto exista no momento da contratação. O importante é que ele tenha existência, pelo menos, teórica, provável no momento da execução. O contrato é perfeito e acabado desde que o objeto seja possível, ter o seu cumprimento no momento da execução. 
B.2 – Preço( Nos termos do artigo 481, o preço, obrigatoriamente, deve ser pago em “dinheiro”, sob pena de desnaturalizar o contrato caso seja modificado o objeto do pagamento. Se o pagamento se efetuar com outro objeto ou bem, nós estaríamos diante de uma troca ou permuta. Se fosse serviço, estaríamos diante de uma prestação de serviço. A compra e venda, obrigatoriamente, tem como objeto o dinheiro (em espécie ou equivalente como: ordem de pagamento, cheque, cartão de crédito etc.).
	A doutrina também admite que, eventualmente, sem desnaturar o contrato, até pode existir algum outro objeto como prestação, desde que, a parte preponderante seja em dinheiro. Então, quanto ao objeto, seria uma complementação (Ex: “estou comprando o seu carro pelo valor de R$ 10.000, 00. Pago R$ 8.000,00 em dinheiro e uma moto no valor de R$ 2.000,00 – maior parte em dinheiro. Se fosse o inverso, a moto vale R$ 8.000,000 e dou R$ 2.000,00 em dinheiro, já não seria compra e venda, seria troca”). Então, para o nosso conceito, a doutrina admite que possa ser complementado por outro objeto, mas será mera complementação. Obrigatoriamente, a parte preponderante tem que ser em dinheiro.
	Sendo uma obrigação em dinheiro, devemos nos lembrar de que vige no Brasil o “Princípio do curso forçado da moeda corrente nacional”. Isto significa que as obrigações em dinheiro no país têm que ser em REAL (moeda corrente). Ninguém pode se recusar a receber ou recusar a pagar em Real. Ninguém pode, via de regra, exigir o pagamento ou exigir o recebimento em moeda diferente do Real (“não posso obrigar ninguém a aceitar o pagamento em Dólar”). 
*EXCEÇÃO: Só são admitidos como exceção para negociação e cumprimento em moeda estrangeira, se o contrato tiver origem em contrato internacional (Ex: Importação e Exportação).
	
O preço pode ser determinado ou determinável, sendo o mais comum o determinado, ou seja, no momento da contratação já é fixado o preço. Mas, nada impede que o contrato se considere perfeito e acabado ainda que o preço não esteja exatamente estabelecido (determinável). 
	O Código admite que as partes possam atrelar o pagamento a um objeto ou a um bem com um valor próprio ou um valor de cotação (valor indexador – termo mais adequado). Ex: “É muito comum quando agente vai fazer algum tipo de negócio, em especial um contrato de compra e venda de imóveis rurais, que o pagamento não se faça a vista, que se faça em parcelas. Como se faz essa negociação? Se faz da seguinte forma: a entrada se faz a vista, em dinheiro. Para as outras parcelas são estabelecidos os preços e são indexados em um objeto (normalmente soja, ou arroba de boi). Então, o contrato fica da seguinte forma: pagarei pelo imóvel o valor de R$ 9.000.000,00, sendo R$ 3.000.000,00 a vista, R$ 3.000.000.,00 com o um ano, R$ 3.000.000,00 com dois anos, que o valor da parcela de R$ 3.000.000,00 equivale na data de hoje a tantas sacas de soja (ou tantas arrobas de boi). Então, quando estamos indexando estamos atrelando preço. No exemplo acima, quanto seria devido em um ano? Não é possível saber. Não são três milhões, pois o valor foi indexado. Assim, daqui um ano vamos pegar a quantidade de sacas de soja ou arrobas de boi, vamos fazer a conversão pelo preço do dia e este será o preço do pagamento”). Isto é comum na compra e venda de bens imóveis rurais, compras parceladas que podem ter a variação do GP, INPC, GPN, IPC. Quando você coloca o índice de variável já altera o valor, pois não se sabe quanto vai pagar. Se colocar a variação do GPN, depende da variação do GPN mês a mês e assim por diante.
	E os contratos indexados em dólar? Valem? Via de regra, não, porque nossa moeda é o Real (curso forçado). Eventualmente, é possível, desde que haja também uma relação a contratos internacionais. Ex: “Alguns anos atrás, várias pessoas fizeram leasing, contratos de alienação fiduciária e outros tipos de contratos em relação a carros, cujo valor da parcela era indexado no dólar. Muita gente fez isso, p. ex, com carros importados. Faziam a compra e o valor da prestação era indexado em moeda estrangeira. Quando teve o problema da alta do dólar, essas pessoas foram questionar isso em juízo. Algumas pessoas ganhavam e outras não. Porquê? Justificativa: “A” comprou um Gol, fabricado no Brasil. Os insumos são nacionais. Todos os produtos e mão de obra são nacionais, ou seja, tudo pago em real, portanto, a variação do dólar não afetou em nada. Para “A” o preço, se foi indexado em dólar foi ilegal. Então, o dólar subiu, mas o carro dela continua o mesmo preço. Então, “A” entra na justiça alegando que o preço foi indexado em dólar. Agora, “B” comprou uma BMW, carro importado. Quando foi questionar em juízo que o valor de suas prestações subiu muito, porque estava indexado em dólar, ele perdeu, haja vista que seu carro é cotado em dólar. Ele está pagando a importação do seu carro em dólar. 
	Então, pode-se indexar em moeda estrangeira? Depende. Se tiver origem em contrato internacional,pode ter a parcela indexada. Caso contrário não.
	Também pode ser determinado o preço, conforme diz o Código, se as partes deixarem a fixação do preço a critério de terceiro. Então, o contrato é perfeito e acabado, ainda que não haja preço fixado, se as partes de comum acordo elegerem um terceiro para fixar o preço. Inclusive, o Código veda expressamente que seja uma das partes que fixe unilateralmente o preço. Mas, nada impede que se estabeleça, feche o contrato e escolha um terceiro de comum acordo para que diga o preço. Via de regra, estando ele de boa fé e não incorrendo em erro grave o preço que ele fixar será o preço do contrato (não cabe arrependimento). Então, vamos imaginar assim: “Estou comprando o gravador de “A”, nós não estamos chegando a um acordo em relação ao preço. Então, vamos escolher alguém para dizer o preço. Se acho que o gravador vale R$50,00 e “A” acha que vale R$100,00, portanto, não estamos chegando a um consenso, mas estou querendo comprar e “A” está querendo vender. Vamos escolher uma pessoa que nós confiamos e ela vai dar o preço,e este preço não pode ser contestado. Se ele determinar que o gravador vale R$55,00 e “A” achar que vale mais, não interessa. E, se ele determinar que vale R$100,00, eu também não poderei contestar. Terei que pagar e aceitar o preço.
	Então, as partes estabelecendo este terceiro, o preço que ele fixar é o preço que vai valer, SALVO, má fé, ou seja, ele intencionalmente dá um preço para prejudicar uma das partes, ou que ele esteja induzido em erro grave (ele achou que era determinado objeto, deu um valor para este objeto e o objeto não era o que ele imaginava).
	Outro exemplo: “tenho uma obra de arte que tem um valo histórico. Preciso de dinheiro e quero vender e “A” quer comprar exatamente por causa deste valor histórico. Agente pode escolher uma pessoa que entende do assunto (ex: em leiloeiro) para que possa arbitrar este valor e determinar o preço.Como as partes escolheram este terceiro de consenso, ninguém poderá contestar sua decisão.
	Lógico, o fato de que nós escolhemos alguém, não obriga o terceiro. Ex: “vamos escolher alguém para ser o nosso avaliador para dar o preço. Agente leva para ele e fala que ele vai dizer o preço. Pelo princípio da relatividade ele não está obrigado a aceitar. Não é porque escolhemo-lo que cria obrigação para terceiro. 
Então, o que acontece se ele não quiser? Via de regra, pelo Código velho, para que não se desfizesse o contrato, era autorizado que ele escolhesse um outro terceiro. No Código atual, acontece uma coisa interessante, ele prima por um “princípio do aproveitamento dos contratos”. Para evitar, não só nesta situação, mas em qualquer contrato cuja única divergência seja o preço, o Código autoriza que se possa buscar subsídios em qualquer elemento objetivo para poder arbitrar o preço. Assim, o próprio juiz poderia arbitrar o preço do contrato para evitar que ele fosse desfeito. 
Vamos imaginar algumas situações: “1- Nós escolhemos alguém e esse alguém não quer dar o preço e não tem nenhuma outra pessoa de confiança nossa. 2- Nós indexamos nosso preço a um determinado objeto que não existe mais, ou não tem mais cotação ou é ilícita (ex: indexamos o preço a arroba do boi no frigorífico ‘X’ na cidade ‘tal’ para ser pago daqui um ano. Só que nesse uma ano o frigorífico quebra, não tendo mais cotação.). 3- Durante uma semana, três anos atrás, em uma mudança que fizeram na legislação de tóxicos, o lança perfume foi um objeto lícito, pois na hora que regulamentaram não o colocaram. Nisso, indexamos o nosso valor em lança perfume na semana em que era lícito. Uma semana depois o governo percebeu a besteira que fez e editou uma emenda para proibi-lo. Agora, nosso objeto de indexação passou a ser ilícito, já não podemos mais cotar deste jeito.
 O que vai acontecer nessas hipóteses? O Código Civil que o juiz possa usar elementos subjetivos ( valor de mercado, valor usual de contratação, etc.) para arbitrar um valor a este contrato. Qual a função disso? Evitar que nós desfaçamos o contrato. Se o único problema é o preço, o Código trouxe a possibilidade de usar elementos subjetivos para atribuir um valor a este contrato, para que possa permanecer íntegro entre as partes.
O Preço, além de legal, determinado, determinável, tem que ser SÉRIO. Sério não é utilizado na conotação de ser o preço que realmente quero pagar. A seriedade ora tratada tem outra conotação. Ela tem a ver com o “princípio da paridade” ou “princípio do equilíbrio”, através do qual, o preço tem que ter uma correlação com o equilíbrio em relação a coisa, ou objeto da venda. Se há uma disparidade muito grande e injustificada entre o preço e a coisa, onde o preço é muito maior que o valor real ou muito menor que o valor da coisa, esse contrato começa a guardar características de nulidade, pois, na realidade estamos mascarando um outro negócio fantasiando ele de compra e venda. Não estamos celebrando um contrato verdadeiro de compra e venda, só estamos simulando o contrato. Ex: “Diz a lei que se eu estiver casado, na constância do casamento, não posso doar para uma amante. Mas eu posso vender e posso comprar. Então vamos imaginar o seguinte: já que não vou poder doar nada para minha amante, vou comprar um carro zero e vou vender para ela por mil reais. Ou compro uma caneta dela por mil reais. No papel estamos formulando uma compra e venda, mas qual é a real intenção das partes? O que estamos celebrando na realidade? Uma doação. Estamos mascarando uma doação fantasiando ela de compra e venda. Preciso falar a seriedade”. Quando o preço começa a ficar muito desproporcional em razão da coisa, agente começa a vislumbrar uma outra contratação, que na verdade nós não intencionamos uma compra e venda intencionamos uma doação. Ex: “quando retiro para minha amante um carro por mil reais eu não quero vender o carro, quero dar o carro a ela. Quando comprei a caneta por mil reais eu não quis a caneta, eu quis dar o dinheiro a ela. Mascaramos o que eu realmente quero, fantasiando de compra e venda”. Por isso que falamos na seriedade. Essa paridade, essa proporcionalidade é interessante, porque há algumas restrições na doação que não existe na compra e venda. Então, às vezes eu não posso doar, mas posso vender. Assim, o preço tem que ser razoavelmente proporcional. 
Pode haver desproporcionalidade desde que haja uma causa justificada (Ex: valor sentimental ou valor histórico poderiam interferir no preço, fazendo com que eu pague um valor maior do que o verdadeiro valor do objeto – p.ex. – capacete do Ayrton Senna).
C - Sujeitos( Em que hipótese posso fazer um contrato? Se não posso fazer um contrato, logo o contrato é nulo. Todos os contratos, de forma geral, devem ser analisados sob o seguinte prisma: 1- CAPACIDADE e 2- LEGITIMAÇÃO. 
1- Capacidade é a aptidão genérica para praticar atos jurídicos. O agente capaz é o agente que a princípio tem aptidão para praticar atos jurídicos de uma forma geral. O agente incapaz tem restrição para todos os atos jurídicos. Capacidade é uma análise generalizada.
2- Legitimação se refere às limitações específicas, ou seja, a princípio o sujeito é agente capaz. Mas, nós vamos avaliar se aquele ato específico ele poderia praticar. Vamos imaginar o seguinte: “Eu, maior de idade, sem nenhum tipo restrições, como doença mental, sou capaz de doar meu celular para alguém? Sim, eu posso doar. Mas, posso doar para minha amante? Não. Embora eu seja agente capaz e possa realizar os atos jurídicos em geral, eu tenho um problema de legitimação. Posso doar para quem eu quiser, menos para amásia”. Essa é a idéia de legitimação. A legitimação trabalha com agente que, a princípio, é capaz. Mas nós vamos avaliar em ralação a um negócio específico, se este negócio o agente pode praticar.
Na legitimação, um dos maiores problemas que agente encontra em sede, não só da compra e venda, mas contratos de uma forma geral estão ligados à questão de relações familiares. Ex: pai que vende para o filio, para a esposa, a pessoa que tem filhose vai vender para terceiros, a pessoa que é casada e vai vender para terceiros. Para que agente possa dar seguimento do assunto, é preciso fazer algumas considerações acerca do Direito de Família. 
1º “Filho é filho”. A própria Constituição veda qualquer tipo de limitação, qualquer tipo de restrição em relação ao filho. Então, impedimento para um filho é para qualquer filho (seja filho do casamento ou fora dele, seja filho natural ou por inseminação, seja filho adotado e etc.).
2º Em relação a pessoas casadas, casamento é casamento e união estável é união estável, ou seja, não são a mesma coisa. Dizer que quem vive em união estável tem os mesmo direitos de pessoas casadas, pois são como se casadas fossem é besteira. Um instituto não se confunde com o outro. As regras de um não necessariamente se aplicam ao outro. Se fossem a mesma coisa a Constituição não iria dizer que se deve facilitar a conversão da união estável em casamento.
3º O casamento admite várias formas. Várias formas no seguinte contexto: “Regime Patrimonial de Bens”. Os casamentos a princípio de direito das obrigações morais são os mesmos (“se sou casado devo ser fiel independentemente do regime patrimonial adotado”). Mas o regime patrimonial altera a administração. Então, é interessante agente pensar no regime patrimonial, haja vista que haverá variação na contratação e nos atos negociais (atos de gerência, administração, alienação, de venda e etc.). De uma forma simplificada, já que tal conteúdo será objeto de estudos mais detalhados em Direito de Família, existem os seguintes regimes:
A) Regime Legal( É legal ou supletivo, pois se não for escolhido regime nenhum este será aplicado. Este é o regime da “comunhão parcial de bens”. Neste regime, o que um dos cônjuges tem antes do casamento é dele e será ele quem administrará tais bens, e o que o outro tiver será dele e por ele será administrado. Tudo que for construído na constância do casamento, será de ambos os cônjuges.
B) Regime da Comunhão Universal( Neste regime, via de regra, não existe o dela e não existe o meu. Tudo forma um patrimônio só que é de ambos os cônjuges (“se ‘A’ tem um bem antes de se casar, este bem passará a ser de ambos os cônjuges. A mesma coisa acontecerá se tal bem for adquirido na constância do casamento, tudo irá para o patrimônio comum”).
C) Regime da Separação de Bens( A princípio, sempre haverá dois patrimônios (“ou é dela ou é meu, não existe o nosso”). O que um cônjuge tem antes do casamento é dele. O mesmo ocorre se tal bem for comprado depois de casado, não há patrimônio comum (“se compro uma lancha, esta lancha será minha. Se minha esposa compra uma casa, tal casa será dela”). Mas a separação tem duas modalidades:
C.1) Separação Convencional( É aquela separação através da qual, as partes, por opção, por escolha, resolvem se casar no regime da separação. Seria mais ou menos assim: “’A’, maior de idade e sem nenhum impedimento e ‘B’, maior de idade e sem nenhum impedimento, resolvem se casar, por opção, pela separação, embora pudessem escolher qualquer outra forma de regime patrimonial de bens. Esta será a separação convencional”. Logo, esta separação só existe por intenção das partes (por questão administrativa, p.ex.). Mas, ao lado desta separação existe a:
C.2) Separação Legal ou Separação Obrigatória de Bens( Regido pelo artigo 1641 do CC. Por este regime não se casa por opção. Casa-se por imposição legal. O Código determina que determinadas pessoas em determinadas situações, obrigatoriamente, devem casar pelo regime de separação (“não podemos por opção casar em comunhão”). O aludido dispositivo trás as hipóteses de separação obrigatória. Qual a justificativa para este comportamento do legislador? A idéia é evitar a confusão patrimonial e proteger o patrimônio de um cônjuge em relação ao outro. Existe sempre alguém tutelado pela norma, e o legislador que evitar a confusão patrimonial e proteger o patrimônio daquele que está no artigo 1641. Ex: “’A’ está com 70 anos de idade e é detentor de fazendas, gados, imóveis, enfim, um elevado patrimônio. Resolve se casar com uma moça de 20 anos. A intenção do legislador é impedir que sua esposa tenha acesso ao seu patrimônio. Sua intenção é proteger ‘A’ e não a moça de 20 anos, pois entende que se esta decide se casar com uma pessoa muito mais velha, deve se casar por que quer ter uma vida em comum com o marido e não pelo seu patrimônio”. 
Isto gera afetação, p.ex., na doação. Ex: “’A’ possui 38 anos e ‘B’ 26 anos. Por opção, resolvem se casar pelo regime de separação. Se ‘A’ deseja doar um carro a ‘B’, pelo regime da separação convencional, isto é possível. Agora, se fosse o caso do primeiro exemplo, pelo regime da separação legal, não poderia haver tal doação”. Se, no caso da separação legal, houver doação, esta doação será ilegal. Se o legislador não quer que um cônjuge tenha acesso ao patrimônio do outro, este não poderia ficar doando seu patrimônio. Já na convencional, os cônjuges estão neste regime por opção e não por imposição. Logo, é possível que um cônjuge doe bens a outros.
D) Regime Dotal( (CC/16). “Dote”. O pai da noiva quando esta se casava dava um dote ao noivo para que ele administrasse. Funções deste dote: “desencalhar a filha” (fazer com que a filha case) e compensar o noivo pelas despesas que a filha dava. Justificativa: Até o começo do século passado, quando o CC/16 fora elaborado, o regime era adequado, porque, basicamente, a mulher era criada para parir os filhos e cuidar da casa. Efetivamente, enquanto a mulher ficava na casa do pai, esta somente dava despesa para o pai, já que sua educação era voltada inteiramente ao casamento. Naquela época a mulher não trabalhava, não produzia. Este regime saiu do Código, é claro, por não haver mais motivos para a sua aplicação. 
E) Participação Final de Aqüestro( Este regime surgiu com o CC/02. A grosso modo este regime funciona da seguinte forma: “Enquanto estamos casados, vivemos quase como em separação de bens, ou seja, enquanto casados ela administra os bens dela, se ela comprar, vender, enfim, praticar qualquer ato negocial será ela quem administrará. O mesmo acontece comigo. Administro sem interferência da minha esposa e vice versa. Isto funciona enquanto estamos casados. Na hora que se desfaz o casamento (morte, anulação, divórcio etc.) agente termina como se fosse comunhão parcial. É uma espécie de regime ‘misto’ entre a separação e a comunhão parcial. Na constância do casamento, o regime é o da separação. Na hora que se extingue o casamento, o regime será o da comunhão parcial, ou seja, tudo aquilo que é adquirido por ambos os cônjuges durante o casamento, é reunido e dividido em os dois. Por isso este regime se chama participação final de aqüestro, a divisão se dá somente no final”.
	
DANILO PEREIRA LEITE
AULA Nº 2 08/02/07
DIREITO CIVIL III
PROF. MAURÍCIO
- CONTINUAÇÃO DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA 
- SÍNTESE DA AULA PASSADA 
	Na aula passada, agente já começou a falar sabre o contrato de compra e venda. Falamos o que é o contrato de compra e venda (conceito no artigo 481 CC), dizendo que este é um contrato obrigacional.
 	Após, passamos a analisar as características do contrato, somente as que mais interessavam para a relação de contrato naquele instante (bilateral, oneroso, consensual e etc.) pensando sempre no seguinte: a classificação traz naturalmente conseqüências. 
Entramos, então, logo em seguida, na questão dos elementos, falamos que este contrato possui a forma livre, contrato não solene (excepcionando os imóveis que exigem registro e escritura pública). 
O objeto era objeto próprio, estávamos limitando objeto a fim de que agente não pudesse chamar qualquer negócio de compra e venda (é um negócio específico, tem objeto específico e tem características específicas). Assim, na compra e venda a coisa tinha que ser algum bem, que eventualmente tivesse existênciafísica, valor econômico, sujeito a apropriação e comercialização, além de ser lícito e que tivesse como contraprestação um preço pago em dinheiro. Pode ser determinado ou determinável o preço que o contrato é considerado perfeito e acabado. As únicas restrições feitas foram: não pode ser em moeda estrangeira (salvo contrato de origem internacional), pode-se indexar o preço no que desejar, salvo em moeda estrangeira sem justificativa, SALÁRIO MÍNIMO (0bs: aula passada o professor não falou nada em relação ao salário mínimo) ou objeto ilícito. Falamos também que o preço tinha que ser sério, porque se faltasse seriedade, estar-se-ia mascarando o contrato, na verdade estaria sendo feito uma doação, fazendo de conta que se estaria fazendo uma compra e venda. A seriedade do preço é exatamente para que agente saiba que, efetivamente, está-se fazendo uma compra e venda.
 Mantendo a nossa forma de raciocínio, continuando nos elementos, falamos sobre os sujeitos (comprador e vendedor). Comprador é aquele que paga o preço e adquire a coisa e Vendedor é aquele que entrega a coisa e recebe um valor como contraprestação (preço). De forma equivocada, é extremamente comum a utilização como sinônimas de comprador e vendedor, as expressões “alienante e adquirente”. Tecnicamente não são sinônimos. Podemos utilizar essas expressões para designar comprador e vendedor, mas não como sinônimos, pois a expressão alienante vem daquele que transfere, ou seja, aquele que transfere a coisa é alienante e aquele que recebe é adquirente. Só que qualquer um que transfira o domínio, a coisa, é alienante. Então, tanto na compra e venda, como na troca, na doação e etc., aquele que entrega o bem é alienante e aquele que recebe é adquirente. Por isso, não podemos usar como sinônimos. Devemos tomar as devidas cautelas. Na realidade, podemos dizer que alienante é gênero e vendedor é espécie. Adquirente é gênero e comprador é espécie.
Depois foi dito que devemos fazer as devidas restrições pensando em capacidade e legitimação (do comprador e do vendedor). Via de regra, pra comprar e vender o agente precisa ser capaz. Se o agente for incapaz, este deve ser representado ou assistido. Também foi feita outra observação no contexto de que devemos ponderar sobre a seguinte idéia: temos uma regra, através da qual, a alienação de bens de incapazes depende de autorização judicial, isto é, para alienar (gênero – comprar é espécie) bem de incapaz é necessário passar pelo crivo do juízo, o que significa que para o incapaz vender o bem de sua propriedade ele necessariamente tem que passar por autorização judicial. O incapaz vai a juízo, representado ou assistido, solicitar que o juiz autorize a venda, pois o juiz e o MP vão funcionar como fiscais, para verificar que o menor ou incapaz não está sendo prejudicado por esta alienação. 
Passamos então a falar sobre legitimação. Começamos a falar sobre o seguinte: enquanto a capacidade é genérica, geral (ex: “sou incapaz para qualquer compra e venda”), a legitimação é específica (não é em relação ao todo, é em relação a apenas algumas coisas). O maior foco da legitimação está na relação familiar. As observações feitas foram as seguintes:
1º) “filho é filho” (tanto faz se adotado, legítimo, não interessa o porquê);
2º) “união estável é união estável e casamento é casamento”. As regras do casamento não necessariamente se aplicam a união estável, haja vista que não são a mesma coisa;
3º) “regime de bens”. Foram ponderados quatro regimes (são os regimes que atualmente existem):
 1- regime legal ou supletivo (comunhão parcial)( Se não escolher regime nenhum, casa-se na comunhão parcial. Neste regime existem três patrimônios: “o que é meu antes de casar é meu, o que da minha esposa antes de casar é dela e o que agente adquirir por esforço comum na constância do casamento é nosso”. 
2- comunhão universal( do ponto de vista teórico só existe um patrimônio (“se era meu antes do casamento, ou dela antes do casamento não interessa”.). Seja adquirido antes ou na constância do casamento, tudo vai para um único patrimônio comum. Quem pretende se casar por este regime, faz-se necessário a realização de um “pacto antenupcial” (autorizar antecipadamente).
3- regime de separação( Existem somente dois patrimônios: “ou é meu ou é dela, não existe o nosso. O que é meu antes do casamento é meu. O que ela comprar antes do casamento é dela. O que eu comprar antes do casamento é meu, enfim, não haverá formação de patrimônio comum”. Este regime de separação pode ser: A) Convencional (porque os cônjuges optaram por casar em regime de separação) ou B) Legal (separação obrigatória). Na separação legal, os cônjuges não têm escolha (pessoas do art. 1641 CC). Porque a lei manda casar no regime de separação de bens? Para proteger um dos cônjuges, ou seja, a pessoa do art. 1641, fazendo com que a outra pessoa não tenha acesso ao patrimônio do cônjuge. Não é por opção, é porque a lei determina, querendo que a pessoa não case apenas por causa do patrimônio.
4- regime dotal( (código de 1916). Os pais davam um dote ao noivo para “desencalhar” filha e para facilitar o casamento (despesas que a noiva dava), o que hoje já não tem mais justificativa e por isso não existe no Código atual. Surgiu com o novo Código Civil o:
5- regime de participação final de aqüestros( Foi aqui que paramos na última aula. Falamos que este é um “regime híbrido”. É um misto entre a união parcial e a separação. Este regime procura o melhor da união parcial e o melhor da separação. Quem desejar casar por este regime, assim como nas outras hipóteses, tem que fazer o “pacto antenupcial”. Este regime funciona da seguinte forma: “Enquanto estamos casados vivemos como se fosse em separação, ou seja, a administração é independente. O que é meu eu administro, o que eu adquiri eu administro, a minha esposa não interfere, acontecendo o mesmo com ela (o que é dela ela administra, o ela comprar ela administra e eu não interfiro”). Mas, na hora de terminar o casamento, não importando o porque (separação, anulação, divórcio, morte), agente termina como se fosse uma comunhão parcial, isto é, tudo aquilo que adquiri enquanto casado e tudo aquilo que ela adquiriu enquanto casada se reúne para formar um patrimônio comum e depois dividimos. Todo o patrimônio adquirido na constância do casamento será partilhado”.
É comum este regime? Não. Por duas questões: 1- porque é novo (CC/02), então é desconhecido e 2- porque brasileiro é meio desafeto a determinadas práticas, ele não gosta de casar e fazer “pacto antenupcial”, assim como não gosta de fazer testamento ou seguro de vida, pois acham que não é normal. Acham que se é feito um testamento é porque vai morrer. Por isso, acham que se fizer o pacto, ou seja, escolherem um regime de bens é porque acham que o casamento não vai dar certo e já estão pensando em uma separação, por isso não fazem e acabam escolhendo a comunhão parcial. Mas isso é uma besteira, pois este é até um regime interessante, visto que cada um irá administrar os seus bens, se houver separação tudo será dividido. Qual a diferença da comunhão? Qual a vantagem? A administração fica facilitada pelo seguinte: “se eu estivesse casado por comunhão, e durante o casamento eu comprasse um carro, de quem será o carro? Nosso. O grande problema é o seguinte: Quem é que administra o lar? Os Dois (do ponto de vista teórico). Vamos pensar isso no sistema da comunhão. Se eu comprei um carro e quem manda no lar são os dois, se eu quiser emprestar um carro e minha esposa não quer, que é que tem razão? Na comunhão não tem solução, ou se vai a juízo para se ver o que deverá ser feito, já que nós dois mandamos igual, não interessando no nome de quem fora adquirido o carro. Agora, na participação final de aqüestros não, agente age como se fosse em separação. Está no nome de quem o carro? No meu. Então, quem manda sou eu e se quero emprestar eu empresto, mesmo contra a vontade da minha esposa. Então, a diferença está exatamente nisso: na administração, evitando conflitos. É meu e vocênão interfere na minha administração e é seu e quem não interfere na sua administração sou eu. A administração fica muito mais fácil”. 
* Obs.: Um aluno questionou a respeito das dívidas. P. ex., se a esposa contrai uma dívida muito grande, esta dívida é compartilhada na divisão patrimonial com o marido?
O professor respondeu que as dívidas, via de regra, desde que foi estabelecido o estatuto da mulher casada, tem uma regra que funciona da seguinte forma: “as dívidas não se comunicam, salvo, provado que reverteram em benefício comum”. Portanto, se a esposa se endivida, ela que arcará com o patrimônio dela (salvo se comprovada que tal dívida fora contraída em benefício comum). Vamos imaginar a seguinte hipótese: “A minha esposa administra muito mal e se endividou comprando roupas, jóias, sapatos, etc., enfim, tudo em benefício próprio. Quem responderá? Ela e somente ela com o seu patrimônio. Agora se ela tivesse contraído em benefício comum, p.ex., compra para a casa, nesse caso as dívidas se comunicariam”.
- LEGITIMAÇÃO (cont.) – restrições específicas para determinados atos.
	Vamos começar a estudar em relação às “pessoas casadas”. Como os negócios são realizados por pessoas casadas? Vamos ponderar sobre as pessoas casados sob duas ópticas:
Pessoas casadas entre si;
Pessoas casadas em relação a terceiros.
- PESSOAS CASADAS VENDENDO ENTRE SI
 O que estamos avaliando? Marido vendendo para a esposa ou vice versa. Nós vamos interpretar um entendimento em razão do artigo 499 do CC (“É lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens excluídos da comunhão”). Este dispositivo diz que é que é licita, é válida a compra e venda de pessoas casadas entre si dos bens fora da comunhão, dos bens que não integram a comunhão. Então, os bens que não fazem parte da comunhão podem ser vendidos e comprados entre si. A contrario sensu, o legislador está dizendo que não pode comprar e vender bens da comunhão. Aliás, esta é uma regra sem sentido, porque ela não existia no Código velho e não precisaria existir no Código atual, pois isto é tudo uma questão de lógica. É o seguinte, porque não pode vender bens da comunhão entre si? Porque não tem sentido a venda de bens da comunhão, não se estaria saindo do lugar. Agente poderia dizer que é um “nada jurídico”, isto é, é um ato jurídico inexistente. “Você pode praticar atos materiais, mas juridicamente você não sai do lugar. Você continua na mesma situação que você se encontrava originariamente. Então, imaginem que eu estou casado e que comprei um gravador enquanto casado. Minha esposa vai me vender o gravador. Antes dela me vender de quem é o gravador? Metade dela, metade meu. E agora que ela me vendeu de quem que é o gravador? Metade meu, metade dela, ou seja, continua a mesma coisa. O dinheiro que vou pagar a ela, de quem que é o dinheiro? Nosso. E quando ela receber, o dinheiro é de quem? Nosso. Na verdade, apenas se troca de mão. Troca-se de mão o dinheiro, troca-se de mão a coisa”.
	Como fora dito anteriormente, essa norma é dispensável, não precisaria constar no CC. O que estiver na comunhão não adianta comprar e vender entre si, porque comprar e vender entre si são um “nada jurídico”. Mas, o que não for da comunhão pode, porque, pelo menos, existe uma transferência patrimonial, ou seja, “se era bem exclusivo da minha esposa e ela vende a mim, sai da propriedade dela e entra na minha propriedade”. Então, o que não for parte da comunhão pode ser comprado e vendido.
	Algumas questões que devemos considerar: 
Uma delas diz respeito à SUB-ROGAÇÃO. O que é sub-rogação? Grosso modo é uma substituição. Compra e venda de bens excluídos da comunhão, aquele que comprar e aquele que vender com o patrimônio excluído da comunhão, aquilo que receber como contraprestação se sub-roga na posição da prestação. Ex. “casei em comunhão parcial de bens. A minha esposa tem um bem antes de casar. Ela me vende tal bem. Eu tenho um dinheiro no banco que adquiri antes do casamento e comprei o bem enquanto casados. De quem será o bem? Meu. O dinheiro era só meu, o bem era só dela. Quando eu comprei, o que eu comprar vem em substituição ao dinheiro, ou seja, se o dinheiro era só meu o que entrar no lugar dele será só meu. Se eu vender posteriormente este bem, o dinheiro que vai entrar continua a ser somente meu (não vai para o patrimônio comum). O bem entra no meu patrimônio em sub-rogação ao dinheiro que prestei”. 
Outra observação a ser feita. Ao que me concerne, as pessoas casadas em SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA (legal) podem comprar bens do seu cônjuge, mas não podem vender para ele. Na separação obrigatória, não se casa por este regime por opção e sim porque a lei mandou (Art. 1641 CC). Foi dito na aula passada que tem alguém a quem a lei protege. “Tenho 80 anos e casei com uma mulher de 20 anos. Sou fazendeiro, possuo vários imóveis, bois, carros. Neste caso, só posso casar em regime de separação de bens para me proteger, para proteger o meu patrimônio para que minha esposa não tenha acesso. Eu, protegido pela norma (1641), se desejar posso comprar da minha esposa. Mas eu não posso vender”. Justificativas: Porque a lei deixa a pessoa protegida pelo art. 1641 comprar, mas não deixa vender? Porque quem compra materializa, quem vende não. “Quando eu compro me desfaço do dinheiro, mas, pelo menos, vejo materializado o resultado. E quem vende não materializa, pois quem vende recebe dinheiro. O que é dinheiro? Não é o papel, ele apenas representa. Dinheiro na realidade é o valor. Como já dito, quem compra materializa, pois é possível se constatar que efetivamente houve um negócio, agora quem vende não é possível tal constatação, visto que este recebe dinheiro e dinheiro é crédito. Como se faz para saber que quem vendeu efetivamente recebeu o crédito ou não? E se eu quiser esconder uma doação, fingindo que vou vender, dizendo que recebi, mas na realidade não recebi? Via de regra, eu casado em regime de separação não posso doar para minha esposa, haja vista que, caso contrário, estaria fraudando a lei. Mesmo que se pudesse doar, esta doação guardaria caráter de imoralidade, visto que se estaria muito próximo da prostituição, pois não se estaria casando por amor e sim pelo dinheiro. É isso que o legislador quis evitar ao criar esta forma de regime patrimonial de bens”.
Poder-se-ia fraudar na compra? Sim, mas é muito mais difícil do que na venda, pois é fácil a constatação, haja vista que a desproporcionalidade poderia ser percebida. Ex: “Vendo um gravador por dez mil reais. A desproporcionalidade é clara. Qualquer um perceberia que na realidade o se está fazendo é uma doação. Então esta fraude seria muito tola, por isso não teve a preocupação do legislador. Agora, na venda é fácil fraudar. Basta eu vender pelo real valor e não receber, ou receber um valor muito aquém. Como se provaria que não recebi? Mas, como se faz para provar que fora doado (vendido por um valor desproporcional) dinheiro? Eu não posso dar dinheiro para minha esposa se sou casado em separação? Tecnicamente não. Mas, como já mencionado em outras passagens, a comprovação é muito difícil, pois dinheiro é valor. Não há como impedir, mas o legislador preferiu colocar uma restrição e fraudar na venda é muito mais fácil do que fraudar na compra. Não poder doar não significa que não posso, p.ex., dar dinheiro para minha esposa para as compra do lar. Ou, então, dar um presente no aniversário, roupas e etc. O que se está impedindo é que o cônjuge protegido pela Lei transfira seu patrimônio para o outro cônjuge indiscriminadamente”.
- PESSOAS CASADAS VENDENDO PARA TERCEIROS
	Aqui nós vamos comentar a respeito de pessoas casadas vendendo para terceiros, vendendo para pessoa diversa do cônjuge.
*Art. 1.647, I, CC – “Ressalvado o disposto no art. 1648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: I – alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis”. 
	Este artigo fala que para alienar bens imóveis é necessária a anuência do cônjuge. Observações importantes devem serfeitas em relação a este artigo. Primeiramente percebem que a restrição diz respeito à imóveis, não se aplicando à bens móveis (“eu posso vender bens móveis sem autorização da minha esposa”). 
	Houve uma alteração do código velho em relação ao código atual, uma vez que no Código velho havia uma afirmação onde esta regra se aplicava indistintamente a qualquer regime de bens. Sempre e em qualquer hipótese para venda de imóveis fazia-se necessária a anuência do cônjuge, independentemente do regime adotado por eles. O Código atual abriu uma exceção. No próprio caput do artigo 1647 ele diz: “...exceto no regime da separação absoluta”. Então, quem casou no regime de separação não tem esta limitação, portanto, podem vender imóveis independentemente da anuência do cônjuge. 
	É preciso tomar a devida cautela em relação ao artigo 1647 caput, porque em relação a venda de imóveis dá a impressão de que em qualquer outra situação é preciso anuência do cônjuge, o que não é verdadeiro em razão do artigo 1656 que diz: “No pacto antenupcial, que adotar o regime de participação final de aqüestos, poder-se-á convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares”. Portanto, pessoas casadas no regime de participação final de aqüestos podem vender imóveis particulares, desde que conste esta autorização no pacto antenupcial. O que são estes imóveis particulares? São aqueles imóveis que não vão integrar a meação, ou seja, que é meu antes do casamento. O que eu adquirir de imóvel durante o casamento, mesmo que a administração seja somente minha, eu vou precisar da autorização da minha esposa.
	Porque que o legislador exige anuência do cônjuge para vender imóveis? Para maior segurança patrimonial do casal, um funcionando como “consciência” do outro.
	Se o cônjuge não tiver um justo motivo para a recusa, o outro pode pedir suprimento judicial (Ex: “preciso de dinheiro para ajudar minha mãe e decido vender a casa. Minha esposa não consente por ter desavenças com a sogra. Este não é um justo motivo”). Portanto, se não houver motivo justificado, o cônjuge prejudicado deve ir à juízo para expor a situação. Se o juiz entender que o motivo da recusa do cônjuge não é justificável, sua sentença irá suprir a assinatura.
	Porque esta restrição só se aplica aos imóveis? Pôquer não se faz necessário o consentimento do cônjuge para a venda de bens móveis? As justificativas são as seguintes:
1ª) A maioria dos bens móveis são baratos;
2ª) O bem móvel é de difícil fiscalização, difícil rastreamento (difícil acompanhar);
3ª) Como os bens móveis se transmitem pela tradição, poderemos ter problemas com terceiros de boa fé, uma vez que o cônjuge não poderia se prevalecer perante terceiro de boa fé (Ex: “Se eu tivesse vendido determinado bem móvel, sem autorização da minha esposa, mesmo que ela fosse a juízo teria que provar que o terceiro agiu de má fé, ou seja, comprou sabendo que eu era casado e que minha esposa não concordava. Se não tiver prova de má fé, prevalece o terceiro”);
4ª) Bem móvel não dá segurança econômica para ninguém. 
- PAI VENDENDO PARA O FILHO (não o filho vendendo para o pai)
	A venda é anulável se não houver a anuência de todos os filhos e do cônjuge do alienante (artigo 496 do CC).
DANILO PEREIRA LEITE
	
AULA Nº 03 13/02/07
DIREITOCIVIL III
PROF. MAURÍCIO
- PAI VENDENDO PARA O FILHO (obs.: não o filho vendendo para o pai)
	Em aulas passadas nós estávamos falando sobre os sujeitos da compra e venda. Em linhas gerais comentamos a respeito da capacidade, legitimação, regimes de bens. Falamos a respeito das pessoas casadas entre si, que não podem vender bem da comunhão, mas poderiam vender bens fora da comunhão (salvo exceções) e pessoas casadas vendendo para terceiros. 
	No final da aula passada, estávamos falando sobre o artigo 496 (“É anulável a venda de ascendentes a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido”), onde estávamos imaginando mais ou menos que: “a venda de ascendentes para descendentes (pai vendendo para o filho). Essa regra não se aplica para o inverso, p.ex., filho vendendo para o pai. Então, quando o pai vende para o filho, é preciso da anuência dos demais descendentes e do cônjuge do alienante (cônjuge do pai). É um requisito de validade. O Código fala inclusive em nulidade relativa caso o agente não obedeça este pressuposto”. É preciso anuência dos cônjuges dos irmãos? Não, o Código só fala dos filhos. 
A razão desta anuência está em evitar uma fraude sucessória. Se agente for pensar pela lógica do Código, para doar, o pai pode doar ao filho sem nenhuma restrição e sem nenhum requisito especial. Então não há nenhuma exigência para o pai poder doar ao filho, nem mesmo a anuência dos outros filhos. Porque se pode doar mas não se pode vender? Porque a doação é ato verdadeiro e pressupõe adiantamento de herança, ou seja, “estou adiantando uma cota parte daquilo que ele teria direito de receber de herança”. O que vai acontecer? Os herdeiros, por ocasião da morte do pai, com base no instituto chamado “colação”, trazem de volta aquilo que foi doado para ser descontado da cota parte daquele que recebeu a doação. Tudo aquilo que foi recebido, é trazido o valor econômico (obs.: não é o valor do bem hoje. Ex. “recebo de doação um carro zero cujo o valor é de vinte mil reais na época que meu pai me doou. Quando meu pai falece o carro está valendo três mil reais – valor aquém”) para que se possa equilibrar. Se, em vida, doei para um filho um carro que vale vinte mil, uma parte igual vai para os outros herdeiros e se divide o resto. Se o filho que recebeu o carro recebe, p. ex., cem mil de herança, os demais herdeiros recebem cem mil mais vinte mil. Esta é a função da colação. 
Mas a colação, em sede de direito contratual, só vai ser aplicada na doação, não se aplicando na compra e venda. Na compra e venda não se pode chamar de volta à doação. A lógica é: “em tese, na compra e venda eu não ganho nada do meu pai, haja vista que eu paguei por isto. Se adquiri um carro que vale vinte mil, em contra partida eu paguei um preço de vinte mil a ele, o que significa que ele não teve diminuição nenhuma em sua herança e eu não tirei vantagem nenhuma”. O que era comum acontecer? Dentro da nossa tradição canônico-romano onde tudo ficava em torno do filho primogênito (filho homem mais velho), os pais costumavam deixar tudo ao filho mais velho. As filhas casavam e levavam o dote, a mãe ficava atrelada ao filho mais velho e os irmãos agregados ao filho mais velho, já que este ficava com todo o patrimônio. Como o Código manda dividir entre os herdeiros, aos poucos começou a surgir a idéia de fraudes, isto é, “se eu doasse você teria que trazer de volta para partilhar. Então, eu vendia. Mas essa venda era fictícia, era uma simulação. Na verdade eu estava doando para o meu filho, passando tudo de graça a ele para que quando morresse ficasse tudo para o primogênito”. Era nessa linha que se trabalhava muito e que veio esse artigo 496 para se evitar essa fraude, ou seja, que o pai passe tudo beneficiando um filho, fazendo de conta que é uma compra e venda, sendo na verdade uma doação, e os outros herdeiros não serem prejudicados. Essa é a lógica do sistema. Para que isso vai funcionar? A minha herdeira vai acompanhar o negócio que estou fazendo com meu filho e vai anuir dizendo que a compra é verdadeira, e mesmo que tenha sido fraude ela depois não pode reclamar, já que ela não pode alegar a própria torpeza em benefício próprio. Se foi uma simulação e ela assinou em baixo, para ela morreu a simulação, ela não pode mais discutir. Por isso que o Código vem e traz essa necessidade de anuência dos demais herdeiros para evitar exatamente a fraude sucessória e defender o seu quinhão.
O Código também acrescentou “cônjuge do alienante”, para que ele também venha a anuir ao ato. A necessidade da anuência docônjuge do alienante tem uma justificativa bastante razoável e é fundada na mudança que houve em relação ao quadro sucessório. Porque na ordem hereditária, na hora do recebimento da herança, o Código faz uma graduação: “primeiro este, depois aquele e assim por diante”. No Código velho funcionava como? Falecendo alguém, primeiro recebem os filhos (descendentes), se não houvesse descendentes ir-se-ia para os ascendentes, se não houvesse ascendentes ir-se-ia para os cônjuges. Então, pelo Código de 1916, o cônjuge estava na terceira linha (ordem) da vocação hereditária. No Código atual, no artigo 1829, agente percebe uma modificação. O cônjuge vai participar, em igualdade de condições, com os filhos na primeira linha de sucessão, ou seja, “se tenho três filhos e mais o cônjuge vou pegar tudo e dividir por cabeça. Quatro cabeças – um quarto para cada um”. 
Curiosidade (matéria que será estudada no direito de família): Na verdade o Código diz assim: “o cônjuge vai concorrer por cabeça os bens que não integraram a comunhão. Ex: Eu estou casado e tenho três filhos. Eu, antes de casado, possuía um imóvel. Casei-me e comprei outro imóvel. Quando eu morrer, aquele imóvel que eu adquiri na constância do casamento, na verdade minha esposa tem a meação, isto é, metade é dela. Ela não está herdando, ela está pegando a parte dela. A minha metade da meação só será dividida entre os meus filhos. Agora aquela outra casa que eu possuía antes do casamento, que não foi para a meação, será dividido em quatro partes (1/4 para cada filha mais 1/4 para minha esposa)”. 
Então agente percebe o seguinte: Porque que houve o acréscimo no 496 do cônjuge do alienante?
 Porque o cônjuge do alienante, ali especificamente, está defendendo o seu quinhão hereditário, haja vista que o cônjuge também é herdeiro em primeiro grau. Assim como os outros filhos defendem sua parte, da mesma forma o cônjuge também tem participação nesta herança, por isso que a Lei exige a participação do cônjuge do alienante.
“*A contrario sensu, o meu ponto de vista pessoal, como eu gosto de regras que sejam razoavelmente isonômicas, se para vender para um filho eu preciso da anuência dos outros filhos e do cônjuge, parece-me evidente que para vender para o cônjuge eu preciso da anuência dos outros filhos. Isso me parece razoável”.
Se lermos o artigo 496, perceberemos que o que na verdade o legislador fez foi só adaptar o 1829, que mudou a ordem da vocação hereditária. Histórico do CC/02: Foi com Miguel Reale, quando foi chamado para elaborar o Novo Código, o que ele fez? Ele pegou e dividiu em sete livros (eram seis), chamou sete juízes da sua confiança e outorgou a responsabilidade de trabalhar em cima daquela parte do Código Civil. No final ele iria sistematizar tudo para que ficasse coerente. Na sistematização o código tem que estar em harmonia, por isso que “quando mudei a ordem hereditária eu preciso mudar aqui” e ele mudou acrescentando o cônjuge do alienante. Mas o que houve no Código na realidade? Miguel Reale deu a volta na orientação sem sentido e determinou que fosse atualizado o Código, tirando o que estiver ultrapassado e sanando as controvérsias. O que veio de novo Miguel Reale colocou depois. Mas na primeira aula foi dito que precisamos começar a repensar. Primeiro: a leitura do dispositivo deve ser feito no contexto total, ou seja, não podemos nos focalizar em um artigo só. Segundo: precisamos aprender a ler o Código.
Pelo 496, se fosse feita uma interpretação literal, eu diria: “para vender para o filho eu preciso da anuência dos filhos e do cônjuge do alienante”. Se eu fosse fazer uma interpretação buscando o verdadeiro sentido, o que o legislador estava querendo dizer? Está querendo dizer que “para vender para um herdeiro tem que ter a anuência dos outros herdeiros”. Tanto é verdade, que o artigo 1829 é o parágrafo único do artigo 496.
O parágrafo único do artigo 496 diz que não precisa da anuência do cônjuge se for casado em regime de separação obrigatória. Por quê? Porque no 1829 já ressalva que o cônjuge não é herdeiro necessário, está no terceiro grau de sucessão, não concorrendo com os filhos. Então não precisa da anuência do cônjuge porque não é herdeiro. Eu só preciso da anuência dos herdeiros, como não é herdeiro não precisa. Portanto, a leitura mais adequada é esta: “para vender para herdeiro é preciso da anuência dos demais herdeiros”. Com isso, busca-se evitar uma “fraude sucessória”. 
- UNIÃO ESTÁVEL
	Como já fora dito, união estável não se confunde com casamento, sendo situações diferenciadas. No entanto, o Código menciona que a união estável, se não houver contrato que regule as partes, elas vão ser reguladas pelo regime da união parcial. “O que nós adquirirmos na constância da união estável é nosso”. Mais ou menos dentro deste contexto, vamos estabelecer o seguinte: As regras intrínsecas (dentro da relação, ou seja, de um convivente para com o outro) relativas ao matrimônio são as mesmas da união estável (companheiro vendendo para a companheira, aplica-se a mesma coisa – EX- bens da comunhão não podem vender – bens fora da comunhão podem). Nas relações extrínsecas, ou seja, fora da união, não se aplicam as regras relativas ao matrimônio (Ex: impedimentos como: na venda para terceiros de imóveis é necessário anuência do cônjuge; venda pra filhos é preciso anuência do cônjuge. Tais regras não se aplicam à união estável). A justificativa é a seguinte: “Porque você vai pedir autorização do cônjuge para vender imóveis? Para segurança do casamento. Parece-me que partindo deste pressuposto para a união estável não é correto. O matrimônio, que é uma relação jurídica constituída pela autoridade competente, se eu brigar com minha esposa e sair de casa eu continuarei casado (até que se homologue a separação). Então, se quero vender um imóvel e minha esposa não permite, eu não poderei vender o imóvel. Na união estável, para vender para terceiro um imóvel, se minha companheira não concordar e eu precise de sua anuência, basta sair de casa, pois assim que eu sair de casa a união estável acaba”. 
	Para vender para um filho também não teria necessidade de anuência da companheira, porque o código não faz menção ao companheiro como sendo herdeiro necessário. Portanto, dentro da relação extrínseca, da relação fora da união estável, para vender para terceiros não se terão aquelas restrições que existem para pessoas casadas (somente nas relações internas).
*( Impedimento do artigo 497: “Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública” (seguem os incisos). Neste caso o vício é de maior gravidade, já que, diferentemente do artigo 496, onde o código falava que era “anulável”, aqui o vício é de “nulidade”, ou seja, o ato é inválido, jamais vai se consubstanciar, jamais vai se sanar. Lendo este dispositivo agente percebe que esta regra é uma regra de caráter eminentemente moral. Agente poderia pensar que esta é uma regra para impedir a fraude, pois todas as pessoas constantes nos incisos do artigo poderiam ser beneficiadas ou se beneficiarem pela sua condição. Ex: Como é o tutor que representa o tutelado ou o curador que representa o curatelado seria muito fácil para ele facilitar a venda do incapaz para ele mesmo. Seria muito fácil para a autoridade (prefeito) comprar determinado bem do município já que será ele quem estipulará o preço. Seria muito fácil para o juiz ou para o avaliador adquirir o bem já que ele tem participação (o avaliador que determina o preço e o juiz pode vetar a avaliação e determinar a diminuição do valor pra posteriormente adquirir o bem). Então, em todas as situações do 497 é evidente que pode haver uma fraude. 
Entretanto, como já dito, parece que o contexto deste dispositivo é mais amplo do que isso. Na verdade o legislador não está preocupado com a fraude, ele está preocupado com a moralidade, haja vista que quando estava preocupado com a fraude no 496 o ato era anulável (anulável se houve fraude, ex., o filho pode não ter sido beneficiado com a compra), já neste caso o atoé nulo, não interessando se o agente pagou o valor justo, aqui não se pode vender em hipótese nenhuma, nem mesmo em hasta pública. A justificativa é a seguinte: mesmo que se tenha realizado um ato verdadeiro sempre vai pairar a dúvida social de até que ponto não houve benefício, se tais agentes se beneficiaram de suas condições.
	*( Outro impedimento que nos interessa e que se deve uma cautela especial é a “PREFERÊNCIA LEGAL”. Existem determinadas situações tal qual a lei reconhece a preferência legal de alguém na aquisição de um determinado bem. É o caso, p. e.x, do “condomínio de coisas indivisíveis” e do “arrendatário rural”. Ex. “Condomínio de coisas indivisíveis( Uma coisa indivisível é aquela coisa que por sua natureza física ou jurídica não pode ser fracionada sem perda de valor ou de substância. Em determinadas situações você se encontra em uma relação de condomínio de coisas indivisíveis, como no caso do falecimento de um pai que deixa um único imóvel para a esposa e para os três filhos. Como era o único imóvel e não é possível dividir a casa ao meio entre os quatro, cada um fica sendo dono de uma cota ideal da casa – 1/4 do imóvel. A lei determina que se um dos condôminos desta coisa indivisível desejar vender, antes de vender a um terceiro, é necessário primeiro oferecer aos demais condôminos, porque eles têm a preferência legal. Se eu burlar a preferência legal vendendo a cota parte sem antes oferecer aos condôminos, qualquer um dos condôminos pode mudar o valor e tomar a coisa. Portanto, na compra e venda, quando há esta preferência legal, agente tem que observar que isto também importa numa falta de legitimação.
OBRIGAÇÕES NO CONTRATO DE COMPRA E VENDA
Quando agente fala em obrigações o importante é pensar nas obrigações fundamentais, nas obrigações essenciais do contrato de compra e venda. Obrigações características são o que marca um contrato. Os autores de forma geral falam de diversas obrigações, mas o contrato de compra e venda possui duas obrigações fundamentais, isto é, obrigações da compra e venda em que não há possibilidades de alterá-las (obrigações inatas que se não existirem desnatura o contrato). São elas:
Obrigação do devedor de transferir o domínio da coisa e
Obrigação do comprador de pagar o preço em dinheiro.
Essas são obrigações inafastáveis do contrato de compra e venda. Todas as demais obrigações apresentadas, ao modo de ver do professor, não são típicas (inerentes) da compra e venda. Todas as demais obrigações, segundo o professor, podem ser: A) Convencionais ou 2) Complementares. São convencionais porque são frutos de acordo. São complementares porque são dispositivas, ou seja, podem ser modificadas pela vontade das partes. (Obs.: ler artigos: 490 a 494, 502 e 503 do CC( essas normas são eminentemente dispositivas (não são cogentes), ou seja, são de caráter complementar. São regras que podem ser alteradas por vontade das partes. Entretanto, se não houver essa disposição ou ela for ilegal – inválida – nós aplicamos a lei. O Código só vem em forma complementar, isto é, as partes podem mudar da forma que desejarem desde que não seja imoral ou ilegal). Ex: 490. Por este motivo que tais regras não interessam muito, haja vista que, apesar de serem bem claras, o que vai valer mais é a vontade das partes.
 CLÁUSULAS ESPECIAIS DA COMPRA E VENDA
	A compra e venda em si tem uma lógica dos seus efeitos e um caráter de definitividade, ou seja, uma vez que as obrigações forem cumpridas o contrato é definitivo e acabado. Nessa sistemática, nós imaginaremos o seguinte : “que em um contrato de compra e venda, regular, eu vou comprar um brinco e estou acertando o preço. A partir do estanque que a vendedora entrega o brinco e eu, em contra partida, pago o preço, ela cumpre a obrigação que lhe competia e eu cumpro a minha, ou seja, quando as duas obrigações forem cumpridas o contrato é definitivo e acabado (com a tradição virei dono da coisa e ela virou a dona do valor em dinheiro). O mesmo acontece com os imóveis: quando compro um imóvel, sendo me passado a escritura e eu registrei, o imóvel passa a ser meu, em contrapartida, o dinheiro passa a ser dela e em caráter definitivo (via de regra). Vamos supor que eu tenha comprado o brinco e depois percebo que não gosto dele, eu posso devolver e pegar meu dinheiro de volta? Não, pois o contrato é definitivo. Entretanto, agente pode inserir no contrato de compra e venda umas cláusulas que modifiquem um pouco esta lógica da compra e venda, por isso o Código chama de “cláusulas especiais da compra e venda”. Tais cláusulas têm que ser “convencionadas”, não sendo naturais do contrato de compra e venda.
1- VENDA A CONTENTO E COISAS SUJEITAS A PROVA (art. 509 e seguintes)
	Todo mundo, reconhecidamente, já esteve diante de uma situação de venda a contento, mesmo não sabendo do que se trata. O que é uma venda a contento? È a venda realizada vinculada a uma condição, podemos dizer que se trata de uma “cláusula de satisfação”. Esta é a condição: “a satisfação do comprador”. A venda só se torna realmente definitiva mediante a satisfação do comprador. Expressões muito comuns do dia a dia deixam claro o significado, p. ex.: “011 000 000 – se você não estiver satisfeito em 30 dias nós devolvemos seu dinheiro”. A venda normal não está vinculada a nenhuma condição, já neste caso sim, que é a satisfação do comprador. “Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta”. Isto é característica tipicamente da venda a contento.
Características:
	1) A venda a contento é uma cláusula que se agente for analisar a natureza jurídica dela, veremos que é uma cláusula condicional, haja vista que está sujeita a um evento futuro e incerto (satisfação).
	2) È também uma cláusula potestativa, pois está vinculada exclusivamente a vontade do comprador. Basta que o comprador manifeste o seu desagrado e o contrato perde seu efeito.
	3) A vontade é subjetiva. Agente não pode avaliar sob o critério objetivo. Se o comprador não gostou, não interessa o motivo, o contrato está desfeito. Desde que verdadeira esta manifestação, não interessam as causas. O que eu quero dizer com verdadeira? Quero dizer que o comprador deve estar manifestando a sua real intenção. Ele só não pode estar de má fé. Portanto, só não valeria esta manifestação se comprovada a má fé do agente (Ex.: “vamos supor que eu vá comprar um computador a contento só para terminar um trabalho que preciso fazer. Depois que usei o computador para as minhas necessidades eu devolvo o aparelho dizendo que não estou satisfeito. Este tipo de má fé não é admitida. Não houve a real manifestação da vontade que era a de apenas utilizar o aparelho momentaneamente. O agente compra para não ficar satisfeito, ele procura levar vantagem na cláusula”. Outro Ex.: “Estou vendendo a contento pacotes de bolacha. Uma pessoa compra o produto e depois só devolve os “caquinhos” que se acumulam no final dizendo que não gostou. A má fé está clara. Enquanto havia 500 g de bolacha a compradora não tinha o que reclamar, mas devolveu os restos dizendo que não gostou”. Então, não se poderia ter este tipo de má fé. Agora, no mais, não interessam as causas. Se verdadeira e de boa fé a manifestação da vontade, o comprador terá que assumir os riscos do negócio, ou seja, se o comprador ficar insatisfeito, o negócio é desfeito junto com seus efeitos.
4) São inatas da venda a contento a entrega do objeto e a experimentação (existe obrigatoriamente em toda venda a contento). Não tem como o comprador dizer que gostou da coisa sem antes experimentar. 
5) Como foi dito acima, na venda a contento a entrega do objeto e a experimentação são inerentes ao negócio (“coisas sujeitas a prova – experimentação”). Existe um fator que agente precisa avaliar. A venda a contento, normalmente, não tem execução imediata, pois em geral, ela precisa de um prazo que se chama “prazo de experimentação”. É um prazo concedido para que o comprador possa experimentar o produto e dizer se gosta ou não. 
Que prazo é este? Qual o tempo para a experimentação? 
Oprazo deve ser convencionado. O ideal é que: se a venda a contento é convencionada o prazo também deve ser. Mas este prazo deve ser efetivamente suficiente para a experimentação. “Se pensássemos na hipótese da pessoa que compra a contento um pacote de bolacha. Qual o prazo para a experimentação? 24 h parecem o suficiente. E no caso da compra a contento de um aparelho de abdominal? O prazo de experimentação também deveria ser de 24 h? Não, já que não é possível ver o resultado neste prazo. E 30 dias? Este sim parece ser um prazo razoável, não que vá produzir os efeitos esperados, mas já é possível se avaliar os efeitos. E pílula para emagrecimento? Qual o prazo? 30 dias também é razoável, haja vista que os efeitos já podem ser percebidos como, p. ex., já se pode sentir se houve reações adversas como: náuseas, diarréia, problemas cardíacos, e também já se pode sentir se o comprador está emagrecendo ou não”. 
Portanto, cada objeto tem um prazo, não existindo um prazo legal. O prazo é convencionado e este prazo deve ser razoável para a experimentação. 
6) Obs.: A satisfação não precisa ser declarada, ela pode ser presumida. Nada impede que eu faça expressamente, mas, no entanto, pode ser presumida. Às vezes pode ser presumida por gestos e atitudes, p. ex., eu vendi determinado produto para alguém e esta pessoa indicou meu produto para outra pessoa. Logo, presume-se que ela gostou do produto, pois ela não indicaria uma coisa que não gostasse. 
Existia uma regra no Código de 1916 e que não existe no Código atual, mas continua sendo aplicada, que é do seguinte contexto: “Se há um prazo e eu deixar transcorrer integralmente o prazo, presume-se satisfação. Dentro do prazo convencionado entre as partes, se quem comprou nada declarar durante o prezo, presume-se a satisfação”. Portanto, a satisfação não precisa ser declarada. O que tem que ser evidente é a insatisfação.
7) O Código diz que a venda a contento presume-se em condição suspensiva. Mas, as partes, por acordo, podem transformá-la em uma condição resolutiva. 
Questões:
1- Qual a vantagem em se comprar a contento por condição suspensiva ou resolutiva?
2- A compra por telefone, ex.: “0800 234 234 – satisfação garantida ou seu dinheiro de volta”. Esta venda é feita em condição suspensiva ou resolutiva? Por quê?
DANILO PEREIRA LEITE
AULA Nº 4 15/02/07
DIREITOCIVIL III
PROF. MAURÍCIO
- SÍNTESE DA AULA PASSADA
	Na aula passada nós começamos a falar das normas especiais da compra e venda. Nós falamos que tinham algumas regras regulamentadas pelo legislador e começamos a tratar da venda a contento. Esta venda é vinculada a satisfação do comprador (“satisfação garantida ou o seu dinheiro de volta”). Caso o comprador não fique satisfeito o negócio pode não se tornar definitivo. Fórmula contratual da venda a contento: cláusula convencional, sendo esta cláusula potestativa (vinculada apenas a vontade do comprador); a vontade do comprador é subjetiva (satisfação garantida) desde que de boa fé (a má fé acontece quando o agente tira vantagem ilícita da cláusula); a satisfação subjetiva pressupõe a entrega do objeto para a experimentação do produto e um prazo essa experimentação (o ideal é que quando se faz o contrato, as partes já estabeleçam um prazo para a experimentação. Caso não seja convencionado, o vendedor notifica o comprador para que este manifeste sua vontade em um prazo improrrogável), sendo este prazo variável de produto para produto (conforme as características dos produtos); a satisfação não precisa ser declarada, podendo ser presumida (pela conduta, pela forma, pelo vencimento do prazo etc.), mas a insatisfação deve ser expressa. A venda a contento, via de regra, se faz em condição suspensiva, mas as partes podem por acordo transforma-la em condição resolutiva. Então, a disposição do Código imagina que: “se nós não combinamos nada, o legislador presume que a venda é em condição suspensiva, mas nada impede que nós transformamo-na em condição resolutiva”. 
	No final da aula foram deixados os seguintes questionamentos: 
1) Qual a vantagem em se comprar a contento por condição suspensiva ou resolutiva? Qual a diferença?
Condição é subordinada a evento futuro e incerto. O que é condição suspensiva e o que é resolução resolutiva? A divisão da condição em resolutiva e suspensiva é vinculada e tem principal aplicação à eficácia do negócio (efeitos). Na condição suspensiva agente celebra o negócio, celebra o ato, mas os efeitos estão suspensos até que sobrevenha a condição (o negócio não produz efeitos até que sobrevenha a condição). No caso específico, qual é a condição suspensiva? A satisfação do comprador. Então, celebramos o negócio, mas ele não produz efeitos até que sobrevenha a satisfação do comprador (se o comprador não estiver satisfeito o negócio não produz efeitos). Na condição resolutiva o negócio é celebrado e já produz efeitos e eficácia, entretanto, se sobrevier determinada condição o negócio se resolve, se desfaz. Neste caso a condição é a insatisfação do comprador, ou seja, “está vendido, está perfeito o negócio, mas se o comprador ficar insatisfeito nós desfazemos o negócio”. Em uma o negócio vai produzir efeitos a partir da satisfação (suspensiva), em outra o negócio já produz efeitos, mas vai se desfazer (resolutiva). Como já dito, a venda a contento é feita presumidamente em condição suspensiva, mas nós podemos transformá-la em resolutiva. Mas também foi dito que há um pressuposto natural na venda a contento, ou seja, independentemente de estar combinado ou não, faz parte típica da relação. Isso quer dizer o seguinte: quer seja resolutiva quer seja suspensiva, o contrato de compra e venda a contento, o pressuposto natural é a “entrega do objeto e a experimentação”. Então, em qualquer modalidade das condições, o vendedor entrega o objeto e o comprador usa o objeto. Agora vamos pensar do ponto de vista jurídico: “nós trabalhamos com a regra ‘a coisa perece para o dono’. O vendedor me entrega o objeto para a experimentação e vem um ladrão e rouba o objeto. Quem perdeu? O dono. Quem é o dono? Depende da condição. Se suspensiva a perda é do devedor. Mas o objeto já não foi entregue? Sim, mas não transfere a propriedade, pois os efeitos da venda estão suspensos. Os riscos são do vendedor. Já no caso da condição resolutiva o contrato produz efeitos, mas se o comprador ficar insatisfeito o negócio é desfeito. Então, seguindo a mesma linha de raciocínio, se, em se tratando de condição resolutiva, alguém rouba o objeto. Quem perde? O comprador. Por quê? Porque o contrato já está produzindo efeitos e o comprador já passa a ser o dono. Quando o vendedor entrega o objeto através da tradição, automaticamente ele faz a transferência de propriedade”.
Portanto, agente percebe que os riscos nos efeitos obrigacionais são as principais diferenças do contrato feito em condição resolutiva e suspensiva. Como o Código diz que se nada for combinado, via de regra, a condição é suspensa (é como no caso do comodatário, é como se o vendedor estivesse emprestando o bem ao comprador para a experimentação). Por isso que o Código faz essa ressalva, porque para os efeitos legais isso passa a ser importante.
*Obs.: Ficar atento quanto ao fato de o devedor (comprador) estar em culpa ou não. No caso a cima (roubo) o devedor não incorre em culpa. Se o objeto se perde por culpa do devedor, quem perde será ele (minha observação).
2) A outra questão foi a seguinte: A compra por telefone, ex.: “0800 234 234 – satisfação garantida ou seu dinheiro de volta”, realizado pela TV. Esta venda é feita em condição suspensiva ou resolutiva? Por quê?
	Trata-se de uma condição “resolutiva” porque a obrigação já está produzindo efeitos (o comprador já está pagando). Se fosse suspensiva o objeto seria enviado para a experimentação. Se o comprador gostasse aí começaria a traçar as obrigações. Mas, no caso da TV, já houve o pagamento,

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