Buscar

Direito Civil V

Prévia do material em texto

AULA Nº 01					3º BIMESTRE 				 02/07/07
DIREITO CIVIL III
PROF. MAURÍCIO
RESPONSABILIDADE CIVIL
- CONSIDERAÇÕES GERAIS
	O tema da responsabilidade civil é tratado em poucos dispositivos legais. Isso se justifica diante da grande dificuldade em se estabelecer todas as hipóteses que ensejariam responsabilidade civil. Por esta razão, o legislador preferiu deixar em aberto, incumbindo aos estudiosos do Direito conceituar. É o que acontece, p. ex, com o art. 186 do CC, que diz que aquele que agir com culpa deve reparar o dano. Quando alguém age com culpa? Nós vamos ter que analisar caso a caso e ponderar para saber até que ponto há ilícito civil. Deste modo, trabalharemos basicamente com conceitos, o que dificulta de certo modo o estudo. Por outro lado, a responsabilidade civil está mais próxima do nosso dia-a-dia, mais próximo da nossa realidade, tipo: “O meu vizinho bateu no meu portão”. “Fulano ofendeu a minha mãe”. Tal tema está tão próximo de nós, que basta lembrar o recente acidente com o avião da TAM. Somente neste caso temos diversos exemplos. “O avião da TAM não consegue parar, bate de frente com um prédio e explode matando todos a bordo. O taxista que estava no posto de combustível do lado é atingido e também morre. Portanto, já são 186 pessoas no avião, mais as pessoas do prédio, mais o taxista. O que um posto de combustível está fazendo do lado de um aeroporto? Como é possível a construção de um aeroporto sem área de escape? Quem deve ser responsabilizado? Quanto se vai poder cobrar? Outro caso recentíssimo é o que aconteceu nos EUA, onde a ponte que passa sobre o rio “Mississipi” caiu. Não houve implosão, nenhum navio trombou, ela simplesmente caiu, matando várias pessoas, danificando carros e etc. Quem nós vamos processar? Outros ex: Uma mulher foi fazer alisamento no cabelo e morreu intoxicada com o formol, substância que ela era alérgica e o produto possuía uma quantidade excessiva. Podemos processar alguém? Uma mulher fazia compras no supermercado quando uma garrafa ‘pet’ de refrigerante explodiu, atingindo-a no olho, fazendo-a perder parte da visão. Quem pode ser processado?”.
	Assim, se a gente parar para perceber, no nosso dia-a-dia nós estamos cercados de situações interessantes para o estudo do presente tema, sendo a melhor forma de estudo justamente a leitura de jornais, revistas, noticiários, etc. Devemos sempre nos questionar quando nos depararmos com alguma situação: Quem deve pagar? Quanto? Por quê?
	Como dito, nós estaremos aprimorando conceitos, nós estaremos estabelecendo uma lógica de responsabilidade civil dentro do nosso sistema (brasileiro). Nós teremos que tentar esquecer algumas questões como, p. ex, de cultura americana. O brasileiro começou a se dar conta de uma cultura judicial, tipo, tudo é motivo para se “processar”. Essa é uma cultura tipicamente americana – “cultura do processo” – “tudo é processo”. Isso cria na própria coletividade uma necessidade de uma conduta diferenciada, mais diligente, cautelosa, diferentemente do que acontecia até então (“síndrome do temor do processo”). Fato que ocorreu nos EUA: “Uma pessoa vai ao dentista. Este, após diagnosticar, informa ao paciente que deverá ser feito um tratamento que irá durar 6 meses ou, caso ele preferisse,que também seria possível extrair os dentes e colocar uma prótese. O paciente opta pela segunda opção. Ocorre que no dia seguinte o dentista é procurado por um advogado do paciente informando que ele estava sendo processado por ter arrancado dente sem necessidade, haja vista que havia possibilidade de tratamento. Como o dentista não tinha provas de que a extração havia sido escolha do indivíduo, ele foi processado e condenado a pagar indenização no valor de quinze mil dólares. Mas ele agiu errado? De repente sim, de repente não, mas ele tinha que tomar algum tipo de cautela”. 
Como se vê, nos EUA, as pessoas possuem um pensamento equivocado. Eles olham a responsabilidade civil como fonte de indenização. A nossa filosofia, isto é, a nossa idéia de responsabilidade civil é uma idéia de reparar ou indenizar o dano, baseado na nossa evolução. Nossa evolução se iniciou nas famosas “Leis de Talião”. No princípio, a idéia de responsabilidade era sempre uma idéia de vingança (“fazer você responder pelo mau que você me fez – mau pelo mau. Ex..: Alguém pisa no meu pé. Eu, então, encho a pessoa de bomba e a explodo em mil pedaços, ou seja, eu simplesmente fiz o mau para ela, assim como ela me havia feito”). Nisso, veio a interessante Lei de Talião. Interessante porque surge no nosso sistema uma idéia de “proporcionalidade”. Essa proporcionalidade faz com que você responda exatamente por aquilo que você fez, nem mais e nem menos. Isso é extremamente interessante. “Se a Juliana pisou no meu pé, eu posso pisar no pé dela. Não posso dar um soco no rosto, mas também não posso dar um tapinha no braço” – “olho por olho, dente por dente”.
 Portanto, hoje devemos pensar na responsabilidade exatamente ponderando sobre esta questão. Nós queremos que você seja reparado – voltar ao estado quo ante – se puder voltar in natura é melhor, mas voltar tal como você se encontrava, mas se não for possível, a gente pode compensar economicamente – você volta economicamente àquela posição em que você se encontrava anteriormente – nem mais e nem menos – eu não quero que você ganhe dinheiro, mas também não quero que você perca. Nesse contexto: A Juliana tem uma caneta e eu a estraguei. Não é justo que eu devolva uma “Bic”para ela, pois ela possuía uma caneta melhor (não é justo que ela perca), só que também ela não pode me cobrar uma “Mont Blanc”.
Fazendo isso, a gente traz exatamente a nossa lógica, a nossa idéia de responsabilidade é exclusivamente econômica e não um ato punitivo. Desde o Direito Romano com a cisão da responsabilidade civil com o direito penal. Disso surgem dois prismas: Civil ( finalidade de ressarcimento econômico. Penal ( finalidade punitiva. 
Pensando nisso, quando se manda alguém reparar algum dano, não se está punindo a pessoa (isso cabe ao direito penal), está-se tentando fazer com que o lesado retorne ao status quo ante. É nisso que a gente tem que pensar para criar a nossa cultura sobre responsabilidade – não é para se ganhar dinheiro e nem para se perder. 
Como dito, este pensamento é para se diferenciar daquele pensamento americanizado, onde a gente muitas vezes acaba verificando que o critério utilizado não é o econômico, a responsabilidade civil acaba não se diferenciando da responsabilidade penal. Então, eles jogam a responsabilidade para um lado punitivo e muito severo. Exemplos: “Um sujeito fuma e em dado momento da sua vida ele descobre que tem câncer. Como o câncer já se encontra em um estágio avançado, ele sabe que vai morrer. Ele, então, processa a indústria tabagista. O juiz acolhe a ação e condena a empresa tabagista a pagar um valor de aproximadamente 500 bilhões de dólares para um único fumante. Isso gera um pensamento de levar vantagem, p. ex, uma pessoa toma ciência desta indenização e resolve começar a fumar para também conseguir este valor”. “Uma mulher vai ao ‘Mc Donald’ e pede um café. O café estava quente e ela se queimou. Pela dor e pela vergonha que passou, ela resolve processar o ‘Mc Donald’ e fatura de indenização três bilhões de dólares”. “Um sujeito compra uma escada e na hora que foi subir a colocou em uma superfície escorregadia e caiu quebrando a perna. Ele processa o fabricante e leva uma indenização de sete milhões de dólares porque o fabricante deveria avisar que não se pode colocar uma escada sobre uma superfície escorregadia”. “Um indivíduo pula na casa do vizinho e fica atentando o cachorro até que este dá uma mordida nele. Ele processa o dono do cachorro e ganha 35 milhões de dólares de indenização”. “Um sujeito vai à um bar e tenta escapar pela janela do banheiro para não pagar a conta. Ele fica entalado e processa o estabelecimento pela situação vexatória ganhando a título de indenização 75 milhões de dólares. “Um ladrão, aproveitando-se de que a família não estavaem casa a invadiu. Ao empreender fuga ele acaba ficando preso na garagem da residência e lá permanece por aproximadamente 15 dias. Durante este período ele foi obrigado a sobreviver com refrigerante e ração de cachorro que se encontrava na garagem. Tal sujeito processa a família pelo trauma psicológico que sofreu e ganha um milhão e meio de dólares”. 
Com isso a gente acaba vendo a responsabilidade como uma forma de ganhar dinheiro. Isso é típico de uma cultura americana, uma cultura burra. Esse semestre nós estaremos tentando tirar esta idéia e estaremos tentando fazer o enquadramento da responsabilidade civil dentro da nossa lógica, dentro do nosso sistema.
Na nossa forma de trabalhar, a primeira coisa que a gente vai comentar é sobre os elementos:
1) São ELEMENTOS da responsabilidade civil:
CONDUTA;
NEXO CAUSAL;
 DANO e
Eventualmente CULPA.
Porque eventualmente culpa?
No Direito Romano, um ponto importante que surgiu foi uma lei denominada “Lex Aqüilia”. Esta norma trouxe um fato inovador consistente no seguinte: Até então a responsabilidade era derivada do dano, isto é, se causou um dano tinha que responder. A lex aqüilia fala em indenização, mas proveniente de um “dano injusto” (não depende apenas da ocorrência de um dano, este tem que ser injusto. Se o dano, a contrario sensu, fosse justo, não haveria necessidade de reparar). 
Este dano injusto posteriormente foi devidamente traduzido para “culpa”. Portanto, tem que haver culpa para poder haver reparação. Durante muito tempo foi esse entendimento que predominou: o elemento fundamental da responsabilidade sempre foi a culpa. Então, a responsabilidade se palpava em quatro elementos, quais sejam, conduta, nexo causal, dano e CULPA. Foi a época de ouro da chamada “responsabilidade subjetiva”, ou seja, a responsabilidade fundada na culpa (para que houvesse a obrigatoriedade da reparação havia a necessidade de comprovação da culpa).
Metade do século passado para cá, começou a surgir uma nova ideologia que não levava mais em consideração a culpa, mas já começava a pensar em uma estrutura moderna calcada no chamado “RISCO”. Muitas vezes, existem determinadas atividades que por si só englobam uma lógica de risco e aquele que se aventura àquela atividade automaticamente assume o risco do que ela possa vir a causar. Essa responsabilidade calcada no risco independia do seu consentimento (culpa). Então, desaparece a culpa como elemento da responsabilidade civil, bastava que a sua conduta causasse um dano – isso se chama “responsabilidade objetiva”. 
No Brasil, a Teoria do risco integral somente é aplicada nos casos de dano ambiental ou dano nuclear.
Tem-se entendido o seguinte: Fora dito que na responsabilidade objetiva independe de culpa. É muito comum ouvir alguém falando que a responsabilidade objetiva é aquela em que o agente age sem culpa. Não foi isso o que foi dito, fora dito que “independe”. Isso significa que não interessa como o agente tenha agido, ou seja, agindo com culpa ou não, se o agente causa um dano ele é obrigado a reparar. Portanto, se a gente fosse tratar da responsabilidade objetiva bastaria que existissem três elementos, quais sejam, conduta, nexo causal e dano.
Em suma: Responsabilidade objetiva( 3 elementos: Conduta, nexo causal e dano. (art. 927, § único)
 Responsabilidade subjetiva( 4 elementos: Conduta, nexo causal, dano e culpa. (art. 186 e 927)
	Para que se tem que saber os elementos?
	Tem que conhecer bem os elementos, pois se faltar um dos elementos, automaticamente, não há falar-se em responsabilidade. Todos os elementos têm que estar presentes. Ex.: “A Andressa está dirigindo bêbada a 160 km/h, na contra mão na avenida principal de Prudente. Se ela não bater em ninguém, não atropelar ninguém (lembre-se que aqui não estamos discutindo responsabilidade administrativa – ex. multa – e nem a responsabilidade penal e sim a responsabilidade civil), ou seja, se não houver DANO não haverá responsabilidade civil. Todos os elementos têm que estar presentes ao mesmo tempo!
Contratual – deriva de uma relação contratual, de três fases: pré-contrato, contratação e pós-contratação, sendo que seu inadimplemento surge um dever de ressarci o dano.
Extracontratual - A “Lex Aquilia” deriva de uma relação extracontratual, fora de uma relação contratual, p. ex., uma briga, alguma desavença em âmbito familiar, etc.
	Segundo passo: 
	A partir do momento que a gente sai dos elementos e verifica a presença destes, o segundo passo que a gente tem que averiguar para que se possa falar em responsabilidade civil é: inexistir o que se chama “causa excludente”.
2) INEXISTÊNCIA DE CAUSA EXCLUDENTE( Não basta que os elementos estejam presentes, se estiver presente também uma causa excludente, não se pode falar em responsabilidade civil. Ex.: “Eu efetuei quatro tiros contra alguém e o matei. Houve um dano? Houve (morte). Houve uma conduta da minha parte? Houve (peguei o revólver e atirei). O dano foi conseqüência direta da minha conduta (nexo causal)? Foi (o indivíduo morreu porque eu atirei nele). Houve culpa lato sensu? Houve (na realidade – dolo (culpa lato sensu). Estão presentes os elementos da responsabilidade civil? Estão. Agora a gente tem que começar a verificar se não há causas excludentes. Uma destas causas, segundo o que diz o CC no art. 188 é a “legítima defesa”. Tal indivíduo queria me matar e dirigiu-se contra mim. Tentei fazê-lo parar de todo jeito, mas ele continuou. Vi que não tinha jeito, peguei o meu revólver e disparei o primeiro tiro. Como ele não parou, disparei o segundo tiro. Como não tinha solução dei mais dois tiros e o matei. Foi legítima defesa? Foi. Então, embora eu tenha agido intencionalmente e causado um dano, como há uma causa excludente, automaticamente desaparece a responsabilidade”.
	Portanto este é o nosso segundo passo: começar estudando os elementos e depois estudar as causas excludentes.
	3) Por fim, no final do semestre a gente vai avaliar a “RESPONSABILIDADE CIVIL EM ESPÉCIE”. Avaliaremos situações específicas de responsabilidade civil. Ex.: Responsabilidade civil do Estado.
Bibliografia correlata:
Curso e Manuais de Direito Civil:
- Sílvio Venosa – Vol. 4;
- Maria Helena Diniz – Vol. 7;
- Caio Mário Vol. 1;
- Washington Monteiro de Barros – Vol. 1;
- Orlando Gomes – Vol. 1.
Livros Específicos:
- Carlos Alberto Gonçalves;
- Sérgio Cavalhieri Filho;
* Para fins pedagógicos, o professor recomenda estes dois autores.
** Melhor obra de responsabilidade civil segundo o professor:
- Ruy Stoco – “Tratado de Responsabilidade Civil”. Não recomendado para acadêmicos (primeira leitura), tal obra é voltada para o uso profissional (aprofundamento).
AULA Nº. 02											07/08/2007
DIREITO CIVIL III
PROF. MAURÍCIO
- SÍNTESE DA AULA PASSADA
Na aula passada nós estávamos falando sobre a responsabilidade objetiva e subjetiva. Na nossa ótica, a gente acabaria vislumbrando o seguinte: a regra geral é a responsabilidade subjetiva, ou seja, a princípio, a conduta que vai causar o dano tem que ser uma conduta culposa. Então, pra esse tipo de responsabilidade tem que haver quatro elementos: conduta, nexo causal, dano e culpa. Ao lado dela a gente encontra a responsabilidade chamada responsabilidade objetiva. Responsabilidade objetiva cuja lógica diz que ela não é fundada, ela não é derivada da culpa. Desta forma, não precisa o agente ter agido com culpa, basta que a sua conduta cause o dano. Na nossa forma de raciocínio que tivemos na aula passada, a lógica dela se baseia na idéia do risco. A partir do instante em que eu optar em tomar alguma atividade, eu assumo naturalmente os riscos do que possa vir a acontecer. Se acontecer alguma coisa, eu pago por isso. 
Ex: Desenvolvimento de atividade nuclear para produção de energia. Há outras alternativas, mas a usina nuclear tem um lado interessante: o impacto ambiental muitas vezes é menor; as necessidades e insurgências climáticas são bem menores (ex.: energia solar pode ser prejudicada por tempo chuvoso, a energia eólica precisado vento, energia híbrida precisa que os rios estejam cheios, porque no tempo de seca diminui a capacidade de produzir energia, etc.) Em contrapartida, a energia nuclear consegue produzir independente de fatores externos, mas tem seus riscos. Assim, quem se aventura nesta atividade deve assumir os seus riscos. 
Portanto, a responsabilidade objetiva está fundada na idéia do risco, tanto que o Código diz que a responsabilidade é objetiva, ou em razão desses riscos naturais, ou porque a lei manda. Se a lei manda não tem o que discutir, lei é lei. Nesse tipo de responsabilidade agente encontraria só três elementos, bastando haver a conduta, dano e o nexo causal.
Conforme a gente mencionou na aula passada, qual a importância dos elementos? É que se faltar um dos elementos, não há que se falar em responsabilidade civil. Ex.: Se na responsabilidade subjetiva faltar conduta, nexo causal, dano ou a culpa não tem que se falar em responsabilidade, pelo menos a civil. Na objetiva se faltar conduta, nexo causal ou dano, não haverá responsabilização. 
Situação: a Juliana vinha dirigindo a 160 km/h na contramão, bêbada, às quatro horas da madrugada. O que a gente vislumbraria neste caso? Se ela não atropelar ninguém, se não bater em nada, não nos interessa. É só a parte civil que nos interessa. Não nos interessa se ela avançou o sinal (interesse do direito administrativo - cassar a carteira porque estava dirigindo na contramão em alta velocidade, etc.) Para o direito civil, só vai começar a interessar se ela atropelar alguém, bater num poste, atropelar um gato, etc.
Primeiro elemento: 
1) CONDUTA
( Art. 186 do CC: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
 “Aquele que, por ação ou omissão voluntária...”. Portanto, o artigo 186 está para aquilo que a gente chama de RESPONSABILIDADE DIRETA, ou seja, determina que o sujeito responda pelo que ele faz, pratique. Isto significa que nós somos responsáveis pelos nossos próprios atos.
 O que a gente pode extrair deste dispositivo? Ele nos diz que aquele que com sua ação ou omissão voluntária... Então, podemos concluir que poderá haver responsabilidade por uma conduta:
( POSITIVA: ação; ou 
( NEGATIVA: omissão. 
Deste modo, a gente visualiza duas coisas: ou eu sou responsável por alguma coisa que eu faço (positiva - uma ação); ou por alguma coisa que eu deixo de fazer (negativa – omissão). A ação é a situação mais simples da gente imaginar porque a ação, lógico, ela se exterioriza, ela se transparece para o mundo externo. De alguma maneira a gente consegue constatar efetivamente que ouve uma conduta que eu pratiquei, por ex., se eu bato na Juliana, lógico que isso vai se exteriorizar no mundo externo, se eu ofender também, porque embora seja por palavras ela vai se exteriorizar. E com isso torna muito mais fácil para a gente imaginar até uma idéia de nexo de causalidade, p. ex., brigando com a Juliana eu dei um soco no olho dela, descolamento de retina, ficou roxo e tal. Então a gente evidencia mais ou menos o seguinte: em razão da minha prática, porque eu bati na Juliana, ela vai perder visão, descolamento de retina, vai prejudicar a visão, caso de hospital e polícia e etc. Evidente que a gente consegue facilmente constatar o nexo de causalidade, ou seja, a Juliana vai ter essa diminuição da capacidade visual em razão da minha conduta, foi meu soco quem causou o dano para ela. Então a ação nos liga mais facilmente ao nexo de causalidade.
De outro lado, quando a gente fala em omissão, é mais complicada a sua visualização, haja vista que a omissão é deixar de fazer, a omissão não aparece, não é uma coisa que eu quis fazer e sim uma coisa que eu deixo de fazer. A omissão merece certas restrições, certas limitações, porque se a gente fosse partir do pressuposto de que você possa ligar ao nexo qualquer omissão que você tenha praticado, em fato concreto, você poderia se responsabilizar por tudo, por ex., o que você doou na campanha do agasalho esse ano? Nada. Muita gente morreu este ano por causa do frio. Se você tivesse doado talvez aquelas pessoas não morreriam. Então a gente poderia dizer que você é responsável pela morte do pedinte que morreu? Não! Por quê? Não é que isso não tem nexo de causalidade, a gente poderia buscar um nexo de causalidade longínquo onde tudo pode ser responsabilizado por tudo. 
Concluindo: a omissão que leva a responsabilidade, é a omissão de não algo que eu poderia, mas algo que eu deveria, por determinação legal ou profissional que se esperava aquilo, obrigação legal ou profissional que eu tivesse praticado, mas em razão de eu não ter feito causou o dano. 
Ex: acidente de trânsito ( policial, médico, bombeiro e o próprio causador do acidente têm o dever de socorrer porque senão é omissão de socorro. Você como transeunte poderia ter parado, socorrido, de repente poderia até ter salvado, mas você como transeunte não tem o dever e, por conseqüência, não tem responsabilidade. Ao passo que se você fosse policial você teria que agir. Se você fosse o causador do acidente você teria que socorrer, se você é médico você teria que socorrer. Para eles nós poderíamos dizer, houve a omissão de socorro, omissão como um dever legal, eles têm que ter esse tipo de consciência. Se ficar constatado que em razão da ausência dele, que a ausência da atividade do profissional ou do causador agravou o dano ou causou a morte, ele vai ser o responsável. 
Portanto, a omissão que a gente está trabalhando, é a omissão do dever legal ou profissional, aquilo que você deveria ter feito. 
Outro exemplo: Nos cruzamentos com ferrovia, sempre havia uma pessoa responsável ligar os alarmes e fechar a cancela quando o trem se aproximava para impedir o trânsito naquele instante. Várias vezes aconteciam acidentes porque não havia a baixa da cancela. Você até escutava o trem, mas você não o via, às vezes ele vinha fazendo uma curva, quando você ia cruzando, o trem pegava o carro no meio do caminho, por culpa daquela pessoa que deveria ter acionado, mas não o fez. Então eu não estou respondendo pelo que eu fiz, por que não fui eu quem jogou o carro ou fez alguma coisa, na verdade é pelo que eu não fiz, poderia ter acionado a cancela para parar o trânsito e em razão de eu não ter feito isso, aconteceu o acidente.
Então é esse tipo de omissão ( omissão de um dever legal ou profissional que deixa de cumprir, e em razão disso sobrevenha o acidente, ele responde pela sua culpa. É o que a doutrina chama de responsabilidade direta. Responsabilidade direta, é lógico, recai sobre o agente causador.
Ao lado dessa chamada responsabilidade direta, a gente encontra também uma coisa que a doutrina chama de RESPONSABILIDADE INDIRETA. Responsabilidade indireta são situações em que não é você quem pratica o ato, mas ao ditame da lei é você quem vai, ou também vai responder pelo dano. Não sou eu quem fiz, mas a lei diz, sou eu quem vou pagar, ou sou eu que também vou pagar. Fui na casa da Juliana e lá tinha um cachorro. Ela me disse que ele não mordia, mas quando eu entrei, ele me mordeu. Quem é que mordeu? O cachorro. Quem é que vai pagar? O dono. Nessa situação a gente fala na responsabilidade indireta, você pode nem ter praticado o ato, não foi você quem causou o dano, mas para efeito legal é você é quem vai ter que ressarcir.
Na realidade, alguns doutrinadores argumentam dizendo que tanto na responsabilidade direta como na responsabilidade indireta, alguém que tinha algum tipo de dever se omitiu, ex, a Juliana tinha que cuidar do cachorro, e o cachorro me mordeu, quem mordeu foi o cachorro, mas a Ju agiu de forma omissa porque ela deixou o cachorro me morder. Situação: Eu peguei o carro da Juliana emprestado e atropelei alguém. A responsabilidade direta é do motorista e a responsabilidade indireta é do dono do carro, da Juliana, porque o carro é dela, ela tinha que ter tomado mais cuidado com o carro dela.
 E se houvesse avisos de “cuidado cão bravo” e “cachorroferoz”? Para um analfabeto ou uma criança pequena isso não quer dizer nada. Então a gente poderia dizer o seguinte: eventualmente pode até interferir ou minimizar, mas não tira tua responsabilidade, basicamente pensaríamos: por que o cachorro me mordeu? Porque é o instinto do cachorro e você sabe disso. Então, por que você não cuida do seu cachorro? Pois se ele me mordeu é porque você não está cuidando do seu cachorro direito. Então você é o responsável para efeito de reparação, você sabe que o cachorro morde.
Dentro da idéia da responsabilidade indireta, está:
Responsabilidade pelo fato de terceiro;
Responsabilidade pelo fato da coisa;
Responsabilidade pelo fato do animal.
1) RESPONSABILIDADE PELO FATO DE TERCEIRO
Responsabilidade por fato de terceiro, como eu falei, não sou eu quem pratica o ato, não sou eu quem realiza a conduta, sou eu quem também vou responder com a vítima. Também por quê? Porque ao dizer do legislador, lógico, de forma solidária, a vítima poderia acionar o agente causador direto, aquele que causou o dano, e o chamado responsável indireto. Então, em relação à vítima, há uma solidariedade entre os dois, pra vítima os dois são solidários, depois a questão da relação interna a gente vai ver em um momento posterior, mas por enquanto a gente vai trabalhar com o que? Para a vítima, a responsabilidade é dos dois. Assim, pode-se tanto acionar o responsável quanto o responsável indireto, ou, ainda, os dois.
Quando se fala em responsabilidade indireta, a análise que se faz, leva sempre em consideração o artigo 932. 
* Obs.: Este artigo NÃO É TAXATIVO! Isto significa que há outras situações que podem ocorrer fora das hipóteses do art. 932, mas as situações fora do art. 932, a responsabilidade é subjetiva.
Quais são as vantagens do art. 932? 
1) Nas hipóteses do artigo 932, não cabe discussão quando se fala em responsabilidade indireta, porque a lei diz que é responsável e ponto final (imposição legal). Ex.: O pai em relação ao filho. Por que o pai tem que responder pelo filho? Tem as lógicas, mas também tem o ditame legal, a lei diz que o pai vai responder pelo filho, então acabou a discussão, essa é a primeira grande vantagem, nessas hipóteses não tem que se questionar a responsabilidade por fato de terceiro. 
2) Nós vislumbramos o seguinte: na evolução da responsabilidade pelo fato de terceiro a gente constata que no Código velho, esse regra estava no art. 521 mais ou menos, mas por uma questão de lobby, no Código velho veio a se incluir uma regra que veio a se firmar no artigo 1523, que diz que os responsáveis indiretos, responsáveis pelo fato de terceiro só respondiam se provada sua culpa. O que no primeiro momento levou a uma situação de irresponsabilidade, porque para vítima ficava praticamente impossível demonstrar culpa. Então, vamos imaginar o pai em relação ao filho, patrão em relação ao empregado, eu não sei quais foram os critérios que o patrão utilizou para admitir o empregado, se eu não sei quais foram os critérios como eu posso dizer que ele errou na hora de escolhê-lo? Situação B: como eu posso falar que o pai errou na criação de seu filho se eu não faço a mínima idéia de como ele foi criado? Então levou a uma situação de irresponsabilidade. 
No segundo momento houve uma situação de “presunção de culpa”. A idéia que a jurisprudência firmou, jogava a situação para presunção de culpa, na idéia de que agente presume que o patrão errou na hora de contratar o empregado, a gente presume que o pai errou ao criar filho, porque se tivesse contratado bem ou criado bem não tinha acontecido o ilícito. Mas essa presunção em nenhum momento levou a inversão do ônus da prova, na idéia de que, o patrão que tinha que provar que acertou, que usou os critérios corretos ao escolher o seu funcionário, ou o pai tinha que provar que usou os meios adequados pra educação do filho. Após houve uma progressão: essa presunção passou a ser uma “presunção absoluta”, ao qual não cabia mais discussão. Veio a cominar no Código atual, art. 932 caput, que diz que a responsabilidade pelo fato de terceiro nas pessoas ali do art. 932 ela é OBJETIVA, ou seja, independe de comprovação da culpa. Esta é mais uma vantagem do art. 932.
Como dito, as hipóteses deste artigo não são taxativas e são de responsabilidade objetivas. Contudo, Para se responsabilizar pelo fato de terceiro fora do art. 932, deve-se constatar um dever e provar culpa.
Análise dos incisos do art. 932:
Art. 932 – São também responsáveis pela reparação civil:
Inciso I – os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
Trata-se da responsabilidade do pai em relação ao filho. O que a gente constata é o seguinte: o pai é responsável pelo filho, mas não é uma responsabilidade ad perpetua, o pai é responsável pelo filho enquanto estiver sobre sua autoridade, enquanto estiver em uma menoridade para efeitos legais. O pai responde pela conduta do filho. A vantagem é que se está a conduta nas hipóteses do art. 932 é legal, então, você responde independentemente de culpa, a responsabilidade civil é objetiva, porém se não estiver nas hipóteses do art. 932, cai na regra geral de ser comprovada a culpa lato sensu, da responsabilidade civil subjetiva.
Requisitos:
1) Relação de paternidade (civil ou natural).
2) Autoridade: autoridade representada na idéia do poder familiar, pátrio poder. Então, enquanto ele detiver esse poder familiar sobre o filho, é dele a responsabilidade, o que o filho praticar de danoso quem responde é o pai. Se porventura eu estiver suspenso, ou perdido esse poder familiar, esse pátrio poder, é evidente que a gente não pode falar agora em responsabilidade do pai. Então se legalmente eu perdi o pátrio poder, está suspenso o pátrio poder não sou o responsável, então na suspensão ou na perda, a partir da perda eu já não repondo mais pelo dano. 
3) Companhia: Também vai responder pelo filho que tiver autoridade e o filho estar em sua companhia, o que implica, lógico, no dever de guarda. Para se imaginar: Maurício casou com a Juliana. Tivemos um filho e nos separamos, a guarda ficou com a Juliana, eu tenho pátrio poder? Tenho, mas não tenho a guarda, o direito de guarda, a guarda pertence a Juliana. Nesse caso quem é que vai responder objetivamente na forma do artigo 932, inciso I se o menor praticar algum mal, algum ato ilícito? Objetivamente a Juliana. Por quê? Porque ela tem o pátrio poder e tem companhia legal, ela tem o direito e o dever de guarda sobre a criança. E o pai? O pai não está enquadrado no art. 932, inciso I, o que não significa entanto, que o pai não vai responder por nada, estou dizendo só que ele não é responsável objetivamente, ele pode ser responsável subjetivamente, porque ele embora ele não detenha a guarda, ele também detém o poder familiar, só não tem mais o direito de guarda, mas ele tem poder familiar sobre o menor.
Justificando: aqui, o dever de guarda significa dever de vigilância, estar cuidando, estar tomando conta, quem tem a guarda tem esse dever. Vamos imaginar a situação: você pegou seu filho, levou pra escolinha e foi trabalhar. Na escolinha a criança pegou uma pedra e deu uma pedrada em um transeunte que vem passando, posso responsabilizar os pais? Posso porque é o pai, se ele tem o poder familiar e o direito e dever de guarda a responsabilidade é dele objetivamente falando, não há desculpa pra isso. Uma vez dando essa aula um aluno me perguntou: quer dizer então que se eu levar pra escola ou deixar com a avó eu sou o responsável? Pra vítima é, você é o responsável. Quer dizer que eu tenho que ficar tomando conta 24 horas do meu filho? Sim. Isso porque até a Constituição de 1967, havia-se uma noção de família que vinha desde os primórdios da humanidade, baseado em: o Maurício casou com a Juliana, somos uma sociedade conjugal. Então uma das finalidades primordiais do casamento era a procriação, porque até então em 1950 quem transava antes do casamento era considerada prostituta. Então, a maternidade só poderia decorrer, de acordo com os costumes da sociedade,de uma relação de casamento, o casamento vinha pra viabilizar a procriação. O que a gente constava, por isso que o dote era muito comum, várias vezes o dote dava a noção clara da função social da mulher, a função social da mulher era naturalmente parideira, a única função da mulher era parir, não tinha outra função. Hoje a gente percebe que já não é mais uma finalidade essencial, vital para o casamento, vamos dizer: é uma finalidade secundária. Até então a Juliana era criada pra casar, ser boa esposa, parir e cuidar os filhos. Hoje a gente percebe que a função da mulher na sociedade ela mudou, hoje ela participa ativamente, hoje a mulher é criada para ser uma boa profissional (médica, advogada, etc.). 
Com isso eu quero chegar no seguinte: a maternidade é opção, ou voluntária ou involuntária, mas é opção e um risco. Se você optou por ter um filho, nada mais justo que você o eduque. Você tem a opção de educar seu filho, porque a partir do instante que você educou seu filho ele não vai te dar problemas, agora se você não criar seu filho você vai responder por isso, ou passar 24 horas cuidando dele.
Observações:
1) Maioridade cessa responsabilidade dos pais. Como dito, estava em sua autoridade e companhia, no caso havendo o rompimento do pátrio poder, rompe-se a responsabilidade do pai. Então isso é interessante a gente avaliar, principalmente porque tange a idéia de emancipação. A Juliana até os 18 anos, o que ela fez de errado, quem responde é o pai, 18 anos já é adulta, o pai pode ser responsável? Só se demonstrar culpa havendo uma situação onde ele não é mais objetivamente responsável.
2) Emancipação por casamento: a Juliana, 17 anos, casou, o casamento é forma de emancipação legal, então, a partir do instante que ela casou ela passa a ser maior, agente capaz, e como contingência disso, cessa a responsabilidade do pai. 
3) Emancipação voluntária: O que a doutrina e a jurisprudência têm acrescentado de diferente nesse contexto, é mais ou menos o seguinte: emancipação voluntária. Emancipação voluntária é aquela que os pais emancipam o filho, a partir dos 16 anos eles vão ao cartório e emancipam o filho para ele já ser responsável por seus atos, o que a doutrina e jurisprudência dizem? A emancipação voluntária só isenta a responsabilidade dos pais se demonstrada que ela foi feita no interesse exclusivo do menor, foi antecipada. Porque tem entendido a doutrina e jurisprudência, que não seria justo, não seria lícito, os pais para retirar o peso de suas costas, emanciparem o filho para não terem que responder pelos seus atos. Ex.: admitamos que a Juliana recebeu uma herança do avô, empresas, fazenda, gado, dinheiro, ela é menor, como ela sempre foi criada com o avô, como ela sabe mexer com o gado, sabe mexer com a fazenda, para que ela possa administrar e tomar conta do seu patrimônio, a gente emancipa ela, para ela poder tomar cuidado e não ficar na dependência dos pais, até pode existir uma situação nesse contexto.
Situação B: o Felipe é um cara revoltado, é uma pessoa problemática, não respeita os pais, não tem noção de limite, e agora ele inventou que quer fazer cursinho em São Paulo e fazer direito na USP. Se aqui debaixo da minha asa eu não consigo controlar o Felipe, vive fazendo atrapalhadas uma atrás da outra, em São Paulo longe das minhas vistas vai ser muito pior. Qual a solução? Emancipação. E se ele fizer alguma besteira azar o dele, eu não tenho mais nada a ver com isso, e é exatamente isso que a jurisprudência, o juiz não tem aceitado, eu vou emancipar o Felipe não porque é para o bem dele, mas pensando direta ou indiretamente em excluir a minha responsabilidade, isso não teria como, não é legal, então mesmo que eu tenha emancipado, se o Felipe praticar um ato ilegal, o pai tem que responder.
Inciso II – o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
Para os tutores e curadores em relação aos tutelados e curatelados, analogicamente, aplica-se a mesma situação do inciso I, só que ao invés dos pais, também esse dever de autoridade e fiscalização recaindo sobre tutores em relação a menores, e curadores sobre os demais incapazes, pois possuem uma obrigação similar dos pais.
Inciso III – o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
Os patrões ou comitentes em relação aos seus empregados ou prepostos. Vamos dizer que há direta ou indiretamente uma situação de representação, onde o patrão responde pelos atos do empregado, ou aquele que designar alguém para agir em seu nome, em relação aos atos desse seu preposto. Na forma do código velho, isso seria uma evolução se atentar a chamar culpa in eligendo (culpa na escolha), uma evolução da idéia de que a partir do instante que você opta que alguém vai fazer o trabalho no seu lugar, você responde pela opção que você fez. Se eu vou designar um empregado pra exercer determinada atividade no meu lugar, se ele fizer uma bobagem quem responde sou eu, porque eu errei pessoalmente. Ou por relação ao preposto, eu podia ter feito, mas como eu mandei alguém pra agir em meu nome, fazer no meu nome, eu respondo. 
Há de se entender o seguinte: em relação a esse inciso III, o que a gente vislumbra, o Código diz que o patrão ou comitente em relação ao empregado ou preposto, ela existe ou ela se situa na idéia do que? A responsabilidade aí ocorre se o ato danoso advém desse responsável direto no exercício da atividade para o qual foi nomeado, ou em razão dele. 
EXERCÍCIO DA ATIVIDADE: No exercício, cumprindo aquilo para o qual foi nomeado. Ex.: contratei o Tiago que está com capacete pra ser entregador de pizza, então eu coloco ele pra entregar pizza, e tem os pedidos, ele vai entregar, cruza o sinal vermelho e bate num carro, para o dono do carro quem responde? Você (Tiago) é o causador direto, e eu (Maurício) o responsável indireto, por quê? Porque ele causou o acidente no exercício da atividade, ele não entrega pizza? Ele não bateu a moto indo ou voltando da entrega da pizza? Mais eu não o mandei cruzar o sinal vermelho, mas foi você que escolheu o Tiago, então se ele indo levar a pizza ou voltando causa-se um acidente, estaria ligado ao exercício da atividade, ele bateu porque dirigindo de moto indo entregar a pizza, ou voltando da entrega da pizza.
Situação B: O Tiago tem que entregar a pizza aqui na sala do terceiro B, enquanto ele entregava a pizza ele viu o Felipe, seu desafeto, e aproveitou e deu um tiro no Felipe, quem responde? Só o Tiago. Por quê? Porque não tem nada a ver com a atividade, não foi nem entregando pizza, e nem na execução do serviço, ele simplesmente praticou o ato.
 EM RAZÃO DELE (atividade): o Código também diz que eu sou responsável em razão do meu funcionário, se ele pratica o ato em razão da atividade. Em razão da atividade a gente poderia colocar mais ou menos a idéia do que? De imaginar que ele foi facilitado. Se não fosse a função não teria praticado, então não foi pelo exercício, não é isso o que ocorre aqui, mas ele é facilitado, só é permitido que aquilo ocorra porque exerce a condição típica de empregado. 
Situação: Se o Felipe for à secretaria vão deixar ele mexer nas notas da Juliana? Não. Se eu for à secretaria vão me deixar eu mexer no computador e nas notas da Juliana? Vão. Eu posso alterar as notas da Juliana? Se for a meu critério eu poderia. A situação é a seguinte: eu passei uma cantada na Juliana e ela me deu um corte, me deu um não, por causa disso eu vou ferrar ela. Aí eu vou lá e vou dar três em tudo, três em penal, três em processo, tudo quanto é nota que ela tiver eu vou abaixar tudo pra três. Se eu for à secretaria vão me deixar usar o computador? Vão me deixar ter acesso as notas e eu vou poder mexer nas notas? Vão. O que não tem nada a ver com a minha atividade, porque eu estou indo lá por um motivo diferente, só vão permitir que eu tenha acesso e possa a fazer isso por quê? Porque eu sou professor. Então não foi no exercício, isso não faz parte das minhas atividades,a faculdade não me mandou fazer isso, mas eu sou facilitado pela função que eu exerço, eu sou professor e eu posso mexer nas notas.
Houve situação que eu achei interessante alguns anos atrás, que foi o seguinte: o sujeito era segurança do shopping, e após seu horário de expediente ele estava saindo do shopping armado, e os seguranças do shopping sabiam que ele estava saindo armado. Durante uma discussão no estacionamento por causa de uma vaga, ele deu um tiro e matou um cliente do shopping. Posso responsabilizar o shopping? Digo quanto ao exercício da função que seja diferente de, por ex., um policial, durante uma batida, uma blits disparasse um tiro e matasse alguém. Teve aquele caso bem antigo em que um policial durante uma blits discutiu com um cara, o cara indo embora o policial pegou a arma, deu um tiro e matou o cara, foi no exercício, ele estava a serviço e tal, ele estava fazendo uma blits, mas no exercício ele acabou excedendo e acabou matando alguém. Mas a gente imagina o seguinte, se ele pratica o ato, tipo assim: chega um bombeiro e diz que estão tendo um problema, houve um tremor de terra e as estruturas de algumas casas estão abaladas, e eles estão fazendo uma fiscalização na área pra ver se há algum risco de desabamento de alguma casa. Se você forem lá ele não vai deixar entrar. Mas por que deixa o bombeiro? Porque ele é bombeiro. Nem que ele não esteja lá em horário de serviço, nem fardado, mas ele só vai poder entrar porque ele é bombeiro. 
Situação dois: vai lá um funcionário da telefônica e diz: nós estamos com alguns problemas em algumas casas que em algumas ligações elas estão cruzadas, então as ligações da senhora podem ter sido ouvidas por outras pessoas ou estarem grampeadas, e a gente está fazendo fiscalização nos pontos pra poder verificar o porquê desse problema, ela deixaria o funcionário da telefônica entrar? Deixaria. 
Voltando ao exemplo do segurança: Por quê que esse cara estava andando armado no shopping? Porque ele era segurança e todo mundo sabia que ele estava saindo do serviço e porque é segurança pode andar armado. Então permitiam e ponderavam porque ele segurança, se fosse qualquer outra pessoa que sabe que está armado teria sido preso. Só pode praticar o ato porque estava facilitado pela sua função, e é o que o Código diz, ou no exercício, fazendo aquilo para o qual foi contratado, ou facilitado por isso. 
Aquela história lá do motoboy em São Paulo que pegava as menininhas estuprava e matava. Por que nunca quiseram processar o patrão? Porque nunca foi no exercício, ele era motoboy e fazia entregas de pacotes, não era moto-táxi. Então seria diferente, você vai montar na moto de qualquer cara que vocês desconhece? Se fosse um moto-táxi que você tivesse ligado, você liga e chama o moto-táxi, você sairia com ele? Você nunca viu a cara, mas mesmo assim você montaria. Por que? Porque está na função. E se ele para no meio do mato estupra e mata? Só foi permitido e facilitado porque ele está na função de moto-táxi. Agora o motoboy, fazia entrega de pacotes, ele nunca cometeu o crime no exercício, e nem facilitado por ele. E ele dizia pra moças o que? Que ele era fotógrafo, você é linda vamos fazer umas fotos e não sei o que, vamos lá. Seria diferente se ele fosse mesmo fotógrafo, se ele fosse fotógrafo da Editora Abril. Você é uma moça bonita, vamos lá comigo tirar umas fotos de repente você aparece na Playboy. Aí você até poderia ir. Se ele fosse lá te estuprasse e matasse, haveria responsabilidade da Editora? Até haveria, porque eu só consegui aquilo porque eu fui facilitado pela minha função, eu era mesmo fotógrafo da Abril. 
AULA Nº. 03 09/08/07
DIREITO CIVIL III
PROF. MAURÍCIO
- SÍNTESE DA AULA PASSADA
	Na aula passada nós estávamos analisando os elementos da responsabilidade civil objetiva e subjetiva. Na objetiva, a responsabilidade civil é derivada de uma conduta assumida que leva à uma idéia de risco. Na subjetiva (regra geral) não basta a conduta, tem que se comprovar que o agente agiu com culpa, ou seja, que o agente agiu intencionalmente, com negligência, imprudência ou imperícia (tem que haver necessariamente resquícios de culpa na conduta). Vimos, então, que quando se trata de responsabilidade civil objetiva, devem estar presentes três elementos (conduta, nexo causal e dano). Já na responsabilidade subjetiva há um quarto elemento, qual seja, a culpa.
	Começamos a falar sobre o primeiro elemento – conduta. A primeira responsabilidade e a lógica natural é a “responsabilidade direta”, através do qual você paga pelo que você fez. Portanto, o sujeito causador do dano vai pagar pelo que provocou, quer seja por sua ação, quer seja por sua omissão. Falamos também da “responsabilidade indireta” – não fui eu quem causou o dano, mas eu também vou responder por ele (não causei o dano ‘diretamente’). Normalmente essa responsabilidade deriva de um fato onde a gente vislumbra que o sujeito falhou em algum ponto e por isso terá que pagar, mas o ato em si não foi ele quem provocou. 
	Ao falar sobre a responsabilidade civil indireta, nós passamos a comentar sobre: 1) Responsabilidade pelo fato de terceiro; 2) Responsabilidade pelo fato da coisa e 3) Responsabilidade pelo fato do animal.
Nós começamos a falar sobre a RESPONSABILIDADE PELO FATO DE TERCEIRO. Estávamos comentando sobre as hipóteses do art. 932 do CC e dissemos, primeiramente, que este dispositivo não é taxativo. Vimos que a vantagem deste dispositivo reside no fato de que em suas situações não cabe discussão. Ex.: O pai responde em relação aos atos do filho. Por quê? Porque é pai e pronto. Não cabe discussão, trata-se de uma imposição legal. A responsabilidade nestes casos é objetiva. Outras pessoas também poderiam eventualmente ser responsabilizadas, mas haveria a necessidade de demonstrar a culpa. Começamos a analisar os incisos do infra citado dispositivo:
	Inciso I – os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
Responsabilidade do pai em relação ao filho. O pai em relação ao filho enquanto menor possui o chamado “poder familiar”. O pai tem dever de alimentação, educação e dever de vigilância em relação ao filho - se algo acontecer, a responsabilidade lhe pertence. Como vimos, a responsabilidade neste caso é objetiva, independendo de culpa.
	Inciso II – o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
Responsabilidade dos tutores e curadores em relação aos seus tutelados e curatelados. Vimos que é a mesma situação dos pais, ou seja, possuem os mesmos deveres – educação, alimentação, vigilância, enfim, todos os deveres que um pai tem em relação ao filho.
	Inciso III – o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
Responsabilidade dos patrões ou comitentes em relação ao empregado ou preposto. Quando eu voluntariamente indico alguém para aja em meu nome, eu assumo a responsabilidade por ele. É aquilo que na origem do CC velho se falava sobre culpa in eligendo (“culpa na escolha”). Neste caso, assim como nos outros deste artigo, não interessa se o sujeito agiu com culpa ou não, a responsabilidade é objetiva (o indivíduo responderá por sua escolha). Portanto, se escolho alguém para agir em meu nome e este alguém comete um ato ilícito, eu sou obrigado a reparar, desde que o ato tenha sido praticado no “exercício daquilo pelo qual foi nomeado ou em razão dele”. 
Hipóteses: 
- “exercício do ato pelo qual foi nomeado”. Ex.: “Eu contrato um segurança para a minha loja e este espanca um indivíduo. Eu não mandei bater em ninguém, vou ter que responder? Sim. Fui eu quem o escolhi e como ele agrediu uma pessoa enquanto estava fazendo a segurança, a responsabilidade minha (empregador).
- “em razão do ato pelo qual foi nomeado”. Dentro do que havíamos falado na aula passada, este “em razão dele” significa o fato de o a genteter se favorecido. O ato somente acontece, isto é, somente é possível porque ele é funcionário. Se não fosse isso, o sujeito não praticaria o ilícito. Ex.: “Indivíduo usando o uniforme da Telefônica pede permissão para checar a linha do telefone, mas na verdade ele deseja grampeá-lo. Você somente vai deixá-lo entrar exatamente porque ele é funcionário da Telefônica, ou seja, ele é favorecido pelo fato de ser funcionário da referida empresa”. Outro ex.: “Um funcionário saiu da empresa no fim do expediente e foi para um boteco da esquina com o uniforme. Lá ele encontra um desafeto e o agride. Neste caso, o agredido poderá processar o empregador? Não, haja vista que o sujeito não estava em serviço e nem fez isso por estar favorecido por ser empregado. O fato de estar lá com o uniforme da empresa não significa nada. É diferente se o sujeito fosse policial, ex, o indivíduo entra fardado no boteco e solicita ao proprietário um cômodo para levar o seu desafeto e lá espancá-lo. O proprietário somente consentiria pelo fato dele ser policial, ou seja, o sujeito estaria sendo favorecido pela sua condição.
* Observação: lembrem-se que o que fora dito se aplica à uma responsabilidade objetiva, contudo, não exclui eventual responsabilidade subjetiva. Responsabilidade subjetiva em que contexto? Se puder provar culpa do empregador (ainda que fora do exercício da atividade), ele eventualmente também poderia vir a ser responsável. Repetindo: essa responsabilidade que nós estamos tratando é a responsabilidade objetiva, no exercício da atividade ou facilitado em razão da atividade, não exclui eventualmente uma responsabilidade subjetiva em razão da culpa, ou seja, não sendo no exercício da função ou fora da atividade em que de repente decorresse uma situação onde você teria essa facilitação.
	Inciso IV – os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
Hotéis, Pensões, Motéis, Hospedagens, enfim, onde se receba por dinheiro em razão de seus hóspedes. Vale a mesma regra em relação às escolas (estabelecimentos de ensino) em relação aos seus educandos. Então, se algum ato ilícito é praticado pelo hóspede, na condição de hóspede, quem responde para a vítima é também o hotel (motel, etc.). Se algum ato é praticado por aluno durante o período de aulas, dentro do estabelecimento, em relação à vítima quem responde é também a escola. Nestes casos a gente poderia processar tanto o responsável direto, no caso do primeiro exemplo o hóspede, como também o responsável indireto – hotel.
*Observações:
1) A gente tem que observar pressupostos para o enquadramento do ato neste inciso. Tal pressuposto é que se “receba por dinheiro” (obs.: a expressão usada pelo CC é “albergue por dinheiro”). Portanto, tanto faz tratar-se de um hotel, quanto de um motel, ou mesmo estabelecimentos de ensino, mas necessariamente têm que ser pagos, pois se fossem gratuitos não se enquadrariam nesta situação. Ex.: “Recebo alguém gratuitamente em minha casa. Se esta pessoa vier a causar algum ato ilícito, a minha responsabilidade será nula. Mas se eu, p. ex, moro na praia e alugo um quarto à um conhecido meu e este pratica um ato ilícito, eu também serei responsável pelos prejuízos. O mesmo ocorre em relação aos estabelecimentos de ensino – se tiver recebido gratuitamente, não há falar-se em responsabilidade. Vamos supor que alguém resolva fazer um ato de solidariedade e resolva alfabetizar o pessoal de um bairro pobre da cidade (ato voluntário) – não há responsabilidade pelos atos dos educandos. Agora, se esta pessoa cobrar, ela será responsável pelos alunos”.
2) “Escolas Públicas”. A não ser que estivermos diante de uma situação do tipo “amigos da escola” (ato voluntário), as escolas públicas respondem pelos atos de seus alunos. Justificativa: escolas públicas são pagas (professores recebem, diretores, enfim, todos os funcionários recebem. Ademais, nós pagamos através dos impostos).
3) “Instituições de Ensino Superior”. Faculdades, Universidades, etc. Entende a doutrina e a jurisprudência se posiciona neste sentido que os estabelecimentos de ensino superior não se enquadram na hipótese do inciso IV. A justificativa é que os alunos que cursam ensino superior já possuem idade e inteligência o suficiente para saber o que é certo e o que é errado e não compete à faculdade tomar conta destes. Portanto, não haveria necessidade de vigilância constante, assim como é necessário se ter nas outras instituições de ensino, até pela própria função social destas últimas, qual seja, educação, formar capacidade intelectual e moral dos alunos, e nas instituições de ensino superior não, nestas a única finalidade é ensinar uma profissão.
* Mas porque este entendimento se estende apenas às instituições de ensino superior? Qual a justificativa de, p. ex, em um motel haver a responsabilidade por este inciso já que a entrada é permitida apenas a maiores de idade?
Como dito, não se aplica aos estabelecimentos de ensino superior porque os alunos já possuem idade e INTELIGÊNCIA o suficiente para entender o que é certo e o que é errado. A maioridade não significa nada para muitas pessoas que embora completaram 18 anos, não possuem capacidade para compreender certas coisas, já que muitos não têm a oportunidade de estudar, ler jornais, revistas, internet, ou seja, não possuem a mesma capacidade intelectual de uma pessoa que esta cursando ensino superior. Estes obrigatoriamente passaram pelos 1º e 2º graus, vestibular e agora cursam faculdade. Concluindo: as pessoas que cursam uma faculdade possuem capacidade intelectual muito melhor que a maioria da população, que possuem livre acesso a hotéis, motéis, etc.
( Isso não quer dizer que os estabelecimentos de ensino superior não tenham responsabilidade! Eles possuem, mas não a do inciso IV, ou seja, não têm responsabilidade objetiva, contudo, possuem responsabilidade subjetiva (tem que comprovar a culpa). Ex.: “Trote”. Se a faculdade verifica que podem ocorrer trotes violentos contra calouros nos limites de sua propriedade, o que esta tem que fazer? Impedir, colocando seguranças, etc., isto é, não pode ser omissa, dado ao fato de que poderia ser responsabilizada. Para tanto, há que se provar a culpa da instituição (no caso do exemplo, tem que se provar a omissão).
Inciso V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a correspondente quantia.
	Diz respeito a responsabilidade daqueles que gratuitamente concorreram para o produto do crime. Estas pessoas são responsáveis até o limite daquilo que se beneficiaram. Ex.: “Três indivíduos (A e B) resolvem assaltar uma joalheria. ‘A’ doa um relógio do crime para seu amigo, que sabe do crime realizado. ‘B’ faz o mesmo e doa uma corrente a uma amiga, contudo a pessoa para quem ele doou não sabe do crime. O que o CC diz? Neste caso, pouco importa se o indivíduo sabe ou não que o bem é de origem criminosa, pois os dois (A e B) em relação à vítima (joalheria) vão responder de forma indireta (por óbvio, de forma direta vão responder aqueles que praticaram o crime) até o limite em que foram beneficiados (vai poder ser cobrado de A o relógio e de B a corrente)”.
	Justificativa: Na lógica do legislador, se a gente parar para imaginar, quem tenha participado gratuitamente, na pior das hipóteses, respondendo pelo produto do crime, não perderá nada. Por isso que o CC diz que eles respondem, pois não perderam nada, pouco importando se sabiam ou não do crime. 
	E quem concorre de forma onerosa?
Quem concorre de forma gratuita não perde nada, agora quem concorre de forma onerosa não, por isso que o legislador tenta proteger o terceiro de boa fé. Se alguém compra uma jóia sem saber (e não tinha como saber) que era de origem criminosa, tem que se proteger este terceiro.
	Ex.: “A comprou uma corrente de ouro por 50 reais e B comprou por 800 uma jóia que vale mil reais de um indivíduo. ‘B’ está de boa fé, pois não sabe e nem tinha como saber que a jóia era produtode crime, pois pagou um valor muito próximo do real, por isso ele será tutelado (terceiro de boa fé).‘A’ certamente sabe que é produto de crime ou deveria ao menos saber, haja vista que pagou por uma peça um valor muito aquém do real. Portanto, ele está de má fé – culpa! Desta feita, ela responderá até o limite daquilo que ela se beneficiou (responsabilidade subjetiva – agiu com culpa!)”. 
	Assim, quem participa gratuitamente responde objetivamente pelo que se beneficiou e quem participa onerosamente somente responde se provada a culpa (responsabilidade subjetiva). 
REGRESSO
	Em relação à vítima, os responsáveis diretos e indiret os são solidariamente responsáveis. Portanto, a vítima pode acionar tanto o responsável direto, quanto o indireto, ou ainda, se preferir, poderá acionar ambos.
	( Resolvida a questão externa, ou seja, resolvida a questão entre os responsáveis diretos e indiretos em relação à vítima, como fica a relação interna (relação entre os próprios responsáveis)?
	Art. 934 CC – “Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz”.
	Quando o responsável indireto repara o dano, este poderá regressar contra o responsável direto (causador do dano).
	( Quanto?	Poderá ser cobrado no regresso, via de regra, tudo o que foi desembolsado para ressarcir o dano (100%).
	( Pode ocorrer o inverso? Ou seja, pode o responsável indireto regressar contra o direto? 
Por óbvio não. Deverá arcar com a reparação do dano aquele que o causou o dano diretamente. Mas porque então o responsável direto também responde? Como fora dito, ambos são solidariamente responsáveis em relação à vítima! A idéia do legislador foi fazer com que a vítima tenha mais garantias para ter o seu dano reparado e, no final das contas, quem vai ter que arcar com o prejuízo é o causador do dano (responsável direto), nem que seja via regresso.
*Art. 934 CC – “...SALVO se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz” – EXCEÇÃO.
	Não poderá haver regresso se o responsável direto for descendente do responsável indireto, absoluta ou relativamente incapaz (obs.: Inovação em relação ao CC velho. Este proibia o regresso contra descendente. Com o CC novo, não basta o agente ser descendente, tem que ser também incapaz).
	Ex.: “Meu filho causa um dano a outrem e eu reparo tal dano. Eu não poderei regressar contra o meu filho”. “O avô tutor ou curador de uma pessoa repara um dano causado por este. Ele também não poderá regressar contra o neto. E se o tio for tutor? No caso do tio, assim como os demais colaterais, poderá regressar, haja vista que não é ascendente do causador do dano”.
	Questão:
	( Este regra poderia gerar uma situação de injustiça. Ex.: “’A’ possui 17 e ter um irmão (‘B’) de 20 anos. Este último é responsável, cursa faculdade, faz estágio, não bebe, não fuma, etc. ‘A’ vai à um baile e bebe bebida alcoólica. No final do baile esta pessoa pega o carro de alguém para dirigir e acaba colidindo com diversos carros. Como vimos, o pai terá que reparar o dano causado por ‘A’. O pai que possuía um patrimônio de aproximadamente 1 milhão de reais teve que desembolsar 500 mil reais pelos danos. Esta formulação acabará prejudicando o irmão, que sempre se comportou bem, pois o patrimônio que iria receber via sucessão reduziu em metade”.
	Solução apresentada pelo CC ( COLAÇÃO. Esses valores que o pai teve que gastar em indenizações de atos ilícitos, o herdeiro inocente poderia chamar de volta à colação. Então, no caso do exemplo acima, já que quando o pai morreu somente possuía 500 mil de patrimônio, 250 mil seria de ‘A’ e 250 mil seria de ‘B’. Mas, ‘B’ pode fazer com que os 500 mil que foram gastos com indenização volte à colação, ou seja, 500 mil para cada um (‘A’ não receberá, pois já os recebeu quando o pai teve que indenizar).	Portanto, uma forma de se fazer um acerto é através do instituto da colação! 
RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DA COISA
	Neste caso, o agente responde pelas coisas que lhe pertence. Para melhor compreensão, vamos imaginar as seguintes hipóteses: “Se você tivesse uma criança em casa, você deixaria uma faca sobre o sofá? Você deixaria uma faca na gaveta da cozinha? Você deixaria uma folha de papel na sala? Você deixaria um revólver na gaveta da cozinha? Facas eventualmente podem ferir. Agora, a arma só existe uma função – matar. Você até poderia deixar a faca na gaveta da cozinha, mas o revólver não”. Eu estou falando isso para que vocês entendam que todo e qualquer objeto possui um “risco inerente”. “Papel pode ferir? Eventualmente pode, mas é muito mais difícil de ferir do que com uma faca e muito mais ainda do que um revólver, que é muito mais perigoso”. 
A idéia do CC é que para alguém ter algo, tudo é questão de opção e agente tem que pagar por nossas escolhas. Segundo ponto: já que você possui um bem, o que se espera que você faça? Cuide deste bem. Já que você escolheu ter, então você que cuide da coisa e se responsabilize por ela. Cada objeto tem um potencial de perigo diferente. Por isso que agente aceita que você deixe um papel sobre o sofá, mas jamais uma faca. A faca exige um cuidado muito maior do que com um pedaço de papel. Quanto mais perigoso o objeto, maior a proteção que deve ser dispensada. Guardei minha arma sobre o armário. Está bem guardado? Parece que não. Guardei na minha gaveta de roupas, está bem guardada? Também não. Por sua periculosidade, a arma necessita de um cuidado especial. É isso que a gente tem que ponderar.
Alguns autores dizem que a responsabilidade é objetiva se a coisa for usada para um ato ilícito. Parece mais lógico dizer que a responsabilidade é subjetiva com presunção de culpa. Você, a princípio, responderá, a não ser que você prove que guardou com o cuidado preciso em razão do objeto. 
Tem um julgado que é extremamente interessante – caso concreto: Furtaram um carro de alguém. Ao fugir ele atropelou uma senhora. Tal senhora processou o dono do carro. Ele deverá responder? Depende. Como é que furtaram o carro? Fora guardado com o cuidado preciso? Ex: Eu estacionei o meu carro no estacionamento da Toledo e o deixei trancando e com o alarme acionado. Mesmo assim o ladrão o furtou. Eu respondo? Não, pois agi com o cuidado preciso. Agora, se o agente deixa o seu carro aberto, com as chaves no contado (como ocorreu o caso em concreto), ele não agiu com o cuidado devido. O julgado entendeu que ele deverá responder, haja vista que não dispensou ao carro o cuidado devido (o carro é um objeto perigoso).
Se for procurado no CC uma regra específica, não encontraremos nada sobre esta responsabilidade. Trata-se de uma construção doutrinária. Nós temos no CC sobre a responsabilidade da coisa apenas duas regras voltadas à questão de edificação. 
 - Art. 937 do CC ( “O dono do edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta”.
Obs.: - Edifício = edificação pronta;
 - Construção = edificação em obra.
 - Ruína = parte ou o todo do edifício ou construção que cai. Ex.: reboque que solta da parede.	
	O dono do edifício ou construção responde pela ruína se esta decorre da falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. Devemos entender o seguinte: Se ruiu é porque precisava de reparos! Tanto precisava de reparos que ruiu. O que somente seria possível ao dono alegar é que a ruína se deu, não pela falta de reparos, mas de uma situação fortuita (situação externa). Ex.: “A parede da sala desaba sobre o Tiago. A princípio quem é o responsável? A Toledo. Suponhamos que uma pessoa tenha trombado com o carro na parede e a derrubado sobre ele. Neste caso a Toledo poderia ter excluída a sua responsabilidade – não foi por falta de reparos”.
	Portanto, a culpa exclusiva de terceiros, o caso fortuito ou a força maior poderia excluir a responsabilidade.
	Questão: Vamos supor que eu tenha colocado a minha filhana escola da Juliana. A minha filha atirou um brinquedo para fora e acertou o Tiago que estava passando de moto pela rua. Ele caiu da moto, machucou-se e teve sua moto deteriorada. Quem é o responsável direto? A minha filha. E o responsável indireto? Eu (pai) e a escola da Juliana.
	 Se houver o pagamento ao Tiago, quem pode regressar contra quem, porque e por quanto?
AULA Nº. 04											14/08/2007
DIREITO CIVIL III
PROF. MAURÍCIO
- SÍNTESE DA AULA PASSADA
Na última aula a gente estava falando sobre responsabilidade civil de fato de terceiro, então a gente falava que a responsabilidade por fato de terceiro decorre daquela antiga noção de culpa in eligendo, e eu responderia por que eu indico alguém pra agir em meu nome. A diferença é que no Código isso ficou com uma análise de responsabilidade objetiva, a partir do instante em que alguém age em meu nome eu falo de responsabilidade objetiva desde que caracterizado dentro daquelas situações do artigo 932 ( menor sobre a responsabilidade da família; tutor ou curador em relação ao curatelado; o patrão pelo seu empregado; o preposto, no exercício da profissão, no exercício da atividade se for facilitado por esta, escolas ou hotéis em relação aos estudantes e aos hóspedes, e quem concorre gratuitamente ao benefício também. 
Vimos também as possibilidades de regresso, onde o justo e o correto seria que aquele que agiu de forma ilícita, ou seja, o agente causador direto, seja quem pague pelo dano que ele causou, afinal de contas foi ele quem provocou tudo aquilo. O Código apresentou pra gente a idéia da possibilidade de que, se o responsável indireto for quem pagar a indenização, ele poderá regressar contra o responsável direto a fim de se ressarcir daquilo que houver desembolsado, daquilo que houver gasto. Como dissemos, via de regra, 100%. Então, se eu for fazer regresso eu vou regressar contra o agente que cometeu o ilícito em 100%, salvo exceção que nós trabalhamos naquela história do próprio Código que ele mesmo menciona no art. 934, quando ele diz esta regra não tem aplicação quando o responsável direto for descendente seu e incapaz, (absoluta ou relativamente incapaz, não importa). Nesse caso a gente poderia regressar, e, como dito, quando muito nós só admitiríamos que por via do instituto da colação você pudesse vir fazer um acerto. Na realidade poderia acertar com os demais herdeiros, uma vez que, sentindo-se prejudicados pela conduta ilícita causada pelo irmão, filho, etc, ele pudesse vir a recobrar aquilo, acertar aquilo via o instituto da colação.
Observação: essa lógica que foi passada, a princípio se regressa em 100%, e se quem pagou foi o responsável direto não há regresso contra o responsável indireto. Então eu sou o patrão da Juliana. Se eu tiver que pagar alguma indenização por algum ato ilícito que ela tenha praticado, eu poderei regressar contra ela em 100%. Agora, se ela que paga, resolve-se o problema e não tem mais o que acertar.
 Entretanto, é lógico que pode sofrer variáveis, existem situações que podem afetar essa lógica desse regresso, e poderiam interferir no montante que vocês poderiam calcular.
 Ex.: Vamos imaginar uma situação, aquela história de que eu tenha dado uma orientação pra Juliana, ela está consertando uma TV e eu digo, vai lá e corta o fio vermelho, ela corta o fio vermelho e explode. Lógico, ela é responsável direta, mais houve interferência indireta da minha culpa, eu agi de forma errada e isso aí também vai ser utilizado, vai ser avaliado pra efeito de reparação, no que diz respeito a esse direito de regresso. Então se eu paguei tudo e for ressarcir contra a Juliana, teria que ser computado a minha interferência de culpa também, porque ela só agiu, só cortou o fio vermelho porque essa foi a orientação que eu passei pra ela. Da mesma maneira se é ela que paga, também não é justo que ela fique com 100% do prejuízo, uma vez que a conduta dela teve origem direta na minha orientação, então isso seria dividido futuramente, vamos ressarci-la. Mas numa situação como diz o Código, objetiva, teoricamente onde não houvesse culpa da minha parte, mas simplesmente ilicitude da conduta do responsável direto, a Juliana, seu eu pagar, eu regresso 100%.
 Eu deixei uma pergunta pra vocês na aula passada, onde nós imaginamos o seguinte: eu contratei uma babá pra tomar conta da minha filha, ou coloquei minha filhinha na escolinha. Enquanto sobre a vigilância da babá, ou da escolinha, a minha filha pegou uma pedra ou um brinquedo, jogou por cima do muro, acertou na cabeça de alguém, poderia ser um ciclista que passando caiu e se machucou, responsável direto, quem é o responsável direto? A criança, quem é que cometeu o ilícito? Foi a minha filha que jogou alguma coisa e derrubou o ciclista, ele é o responsável direto, aquele que com sua ação ou omissão. Quem é que agiu e com isso causou uma lesão no ciclista? A criança, ela é a responsável direta. Responsável indireto? A escola e os pais, ela tem dois responsáveis indiretos, a escola, porque estava dentro da escola, e o pai porque é pai, responsabilidade objetiva, 932 inciso I. admitamos que, para efeito da vítima, nós dissemos, somos solidariamente responsáveis, então em tese, o ciclista teria a possibilidade de acionar a escola ou o pai porque é pai, e teoricamente também a criança porque ela foi a agente causadora direta. Então pra efeito dele há uma solidariedade, pode acionar todo mundo, pode acionar a parte dele, pode acionar um deles, do jeito que ele bem entender
. E a pergunta que eu fiz foi: admitindo que um deles pague, quem regressa contra quem? Por que? E por quanto? 100%? 50%? 80%, etc? Quem pode regressar contra quem? Os pais podem regressar contra escola? Nesse caso, aquilo que acabei de falar pra vocês, que no regresso pode haver elementos que geram interferência, então você poderia no regresso ter essa interferência. 
Situações que poderiam vir a ter interferência: somos casados em separação de bens. Então, cada um tem o seu, nosso filho apronta, um é processado ou os dois são processados, mas só um que paga, penhoraram dinheiro da minha conta e etc, mas só um que paga. Eu posso regressar contra a esposa? Posso 50%. Por que? Já que nós somos casados em separação de bens, cada um tem o seu patrimônio, cada um tem o seu, metade do problema é seu, metade dos direitos são seus, metade é meu e metade é seu, então metade de cada um. Nesse caso, nesse problema anterior que eu passei pra vocês, o que a gente apuraria seria mais ou menos o seguinte, quem arcaria com o prejuízo integral no final das contas seria a escola, então se a escola pagar morreu o problema, se os pais pagarem eles podem regressar em 100% contra a escola. Justificativa, o que não tem nada a ver com responsabilidade civil, mas tem haver com que o Tiago falou de pagamento, contrato, porque eu contratei a escola e pago pra ela cuidar e vigiar o meu filho, mesma coisa que aconteceria com babá. Lógico, para a vítima, eu pai sou sempre responsável, mas isso pra vítima, agora o nosso acerto na relação interna, a gente vai ponderar nas questões que nos envolvem, e o que nos envolve aqui é que eu pago pra escola tomar conta do meu filho, no horário de aula pra tomar conta do meu filho enquanto eu vou trabalhar e isso aí, se por ventura eu for obrigado a pagar, porque meu filho aprontou alguma coisa, é sinal que a escola não está cumprindo a parte dela no contrato, há um descumprimento contratual, ela responderia pelo vício que ela está causando.
- RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DA COISA (continuação)
Na aula passada a gente começou a falar sobre a idéia de responsabilidade pelo fato da coisa, e nós adiantamos que todo e qualquer objeto tem um risco que a gente pode chamar de risco natural, risco inerente, alguns maiores, alguns são menores, mas todo objeto vai transferir esse risco. O que eu disse pra vocês? Primeiro, ter ou não ter objeto são opções. Opções individuais e cada um tem a sua, você pode ter ou não ter um carro, ter a moto ou não ter a moto, cada um tem as opções que acha maisadequada. Agora, o que nós também apuramos na aula passada? Nós apuramos mais ou menos o seguinte: nós consideramos que, não é justo, não é correto que você trate todas as coisas de forma igual, porque todos os objetos não são iguais, em potencial no que diz respeito a sua potencialidade e o seu perigo. Dentro disso nos falamos sobre a situação em que você até deixaria eventualmente uma folha de papel, uma folha de mercado, um folder, prospecto da loja jogado no sofá da sala, mas a gente já não aceita que você deixe jogada uma faca. A gente aceita que você guarde a faca na gaveta da cozinha, mas não aceite que você guarde o revólver na gaveta da cozinha. E cada um deles tem um grau em potencial de risco, perigo, e cada um deles merece a cautela proporcional a esse risco que ele causa, desse modo o que nós mais ou menos pensamos? Nós dissemos que se por ventura o seu objeto foi utilizado por um objeto que leva a um dano, via de regra, a responsabilidade é sua, salvo se você provar que guardava com o cuidado preciso, ou seja, guardava com a cautela que merecia o objeto em razão do perigo que ele representava. 
Tanto que eu disse pra vocês, há algumas decisões que são interessantes, tipo: furtaram um carro e o ladrão em fuga acabou atropelando uma pessoa, o dono do carro teve que pagar. Justificativa: o carro não estava guardado com o cuidado preciso, e a situação dele ser furtado foi facilitada porque você largou em uma condição oportuna pra que isso acontecesse (ex.: deixar a chave no contato, deixar a porta destravada, etc.).
Vamos trabalhar com essa sistemática, isto é, a princípio vários autores falam em responsabilidade objetiva, que esta seria uma responsabilidade objetiva quanto a coisa. Segundo o professor, tal responsabilidade seria muito mais subjetiva com presunção de culpa. A gente admite que você possa provar que guardava sua coisa com o cuidado preciso, ou seja, que eu tomei as cautelas pra guardar aquilo que me pertencia, que eu não errei, eu não agi com culpa, então seria mais uma noção subjetiva. Entretanto, responsabilidade civil pelo fato da coisa, ele não tem uma regra nesse contexto dentro do Código, na verdade nós só temos duas regras lógicas que falam sobre responsabilidade pelo fato da coisa, que estão mais ligadas a questão de edificações.
 Art. 937 – “O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta”.
1ª Regra. O art. 937 apresenta a responsabilidade do dono do edifício ou construção - leia-se o dono do imóvel. Edifício são paredes, telhado, etc, já realizadas. Construção é a obra em realização, está em construção, ainda não foi acabada, mas o edifício a que ele se refere é essa edificação já acabada. Se fosse um galpão, as pilastras e a cobertura já são suficientes pra caracterizar o edifício. Então ou ele já está pronto, ou ele está sendo montado. O dono do edifício ou construção responde pelos danos causados pela sua RUÍNA. 
De que se trata essa ruína?
 A ruína diz respeito a parte ou todo do edifício que cai. Então ou o edifício desaba, ou parte do edifício desprende e cai. Ex.: telhas que se desprendem e cai, parte do reboco que cai, etc. Em Maringá tinha um prédio que era todo pastilhado, e ele estava soltando. Tinha um toldo de uma loja embaixo que estava todo perfurado, então do jeito que caía ele já perfurava, caía sobre os carros que estavam estacionados, nunca caiu sobre ninguém, mas isso é a idéia de ruína. Poderia ser ruína então, uma luminária que cai, poderia ser ruína um ar condicionado que desprende, porque faz parte do edifício, faz parte da construção porque foi agregado. 
Diz o Código: o dono do edifício ou construção é responsável pelos danos provocados pela ruína, desde que essa ruína seja decorrente da falta de reparos cuja necessidade fosse manifesta. E é assim uma situação interessante, então não é o fato de simplesmente ruir, é ruir pela falta de reparos, falta de consertos, cuja necessidade fosse manifesta. 
Quando a gente vai avaliar necessidade manifesta?
Vamos imaginar que esse ar condicionado aqui se desprenda e caia, ou essa luminária se desprende e cai, ou está caixa de som se desprende e cai. Nas três hipóteses, quando é que nós vamos mandar poder processar a Toledo? Você percebeu que tem uma rachadura na parede em baixo do ar condicionado? Normalmente essas rachaduras de ordem diagonal são problemas de estrutura. Quando é na horizontal, normalmente é problema de acabamento, você não espera o cimento assentar, aí você vem e já faz o reboco, mas quando é na diagonal é problema de estrutura, e a rachadura começa exatamente no buraco aonde quiseram colocar o ar. Em quais hipóteses a Toledo é responsável? Na realidade, o grande problema que (esse dispositivo é basicamente a mesma coisa que havia no Código velho) trás é que se a gente imaginasse: depois que ruiu é lógico que a aparência nunca vai ser boa, houve alguma coisa que rompeu, caiu, quebrou. Então vai haver uma aparência de desastre, e muitas vezes a prova é complicada, porque a prova pericial logo de cara, se feita logo após o fato ocorrer é impossível verificar se efetivamente houve ou havia necessidade anterior.
 ( Em razão disso, o que se tem adotado é um critério que já vem sendo utilizado há uns quarenta. Ele dizia assim: se ruiu é porque precisava de reparos. Como a gente falou, alguma coisa está errada, se ruiu precisava de reparos, tanto precisava de reparos que ruiu, se não precisasse de reparos e estivesse tudo certo não tinha ruído, se caiu, se ruiu é porque algum problema existia. Então haveria uma “presunção da responsabilidade do dono”. Toda vez que houvesse a ruína, nós presumiríamos que alguma coisa estava errada. Competiria ao dono a prova que o fato foi decorrência de um fator externo que não a falta de reparos. 
Ex. Eu tinha feito um pacote, estava mandando via área até que o airbus bateu num prédio e caiu em cima do meu pacote. Eu vou processar a Tam porque a laje caiu em cima do meu pacote e estragou aquilo que eu estava mandando. Evidentemente vai ser demonstrado que a queda da laje não foi problema estrutural, não foi problema do edifício, a queda da laje foi por conta do acidente do airbus. Deste modo, se for demonstrado o dono isenta-se de responsabilidade, se não for demonstrado seria o responsável.
 Outro ex.: Uma senhora foi se esconder da chuva e entrou em um prédio alugado para a agência dos correios. Ela entrou no prédio e em razão da chuva o prédio desabou, matando-a juntamente com dois funcionários. Discussão: até que ponto haveria responsabilidade do dono do prédio? Porque a alegação que se fez foi a seguinte: De fato, naquele ano choveu demais, choveu um absurdo em toda região sul, passou praticamente 40, 45 dias chovendo. Todas as estradas estavam tudo esburacadas por causa do excesso de chuva. Esse prédio ficava em Santa Catarina. Lá o terreno é muito acidentado, tudo fica no meio de morro, então são morros e a cidade está lá no meio, e essa agência do correio ficava bem no pé do morro. O excesso de chuva caia água abaixo, e por uma convergência de terreno todo esse excesso de chuva, que não era absorvido pela terra, acabava convergindo no mesmo ponto, e formava praticamente um rio, e desaguava bem no meio da parede do prédio, e em decorrência desse excesso de água a parede não suportou mais a pressão e desabou. Haveria responsabilidade do dono do prédio? Nessa situação específica com essas características não, ele pode provar que com esse excesso de chuva e a canalização em cima da parede que acabou gerando isso como conseqüência, e não foi nem uma chuva, foram 40 dias de chuva castigando, jorrando direto aquela água ali, e não tinha o que fazer, não tem como contornar essa situação, não tinha como fazer essa paralisação. Todavia, competiria a ele fazer essa demonstração, e isso tudo foi apurado.
Art. 938 – “Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que de que caírem ou forem lançadas em lugar

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes