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HOMILÉTICA E RETÓRICA 
 
 
 
 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jakson Hansen Marques 
 
 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
 
 
 
 
 
 
 
Homilética e Retórica 
 
 
 
 
Prof. Dr. Jakson Hansen Marques 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
] 
 
 
BOA VISTA 
2021 
 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
 
 
Homilética e Retórica 
FACETEN 
1.ª Edição, 2021 
 
Autoria: Prof. Dr. Jakson Hansen Marques 
 
Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil 
Av: Bandeirantes, 900, Pricumã 
69309-100 Boa Vista/RR 
Tel: (95) 3625-5477 
www.faceten.edu.br 
E-mail: isef.faceten@gmail.com 
 
©Todos os direitos reservados. 
É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem 
autorização por escrito da Faceten 
FICHA CATALOGRÁFICA 
CIP-Brasil. Catalogação na fonte 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Marques, Jakson Hansen 
 
 
Homilética e Retórica - Boa Vista: Editora FACETEN, 2020. P. 75. 
 
1. Homilética 2. Homilética e Retórica 3. Prática Pastoral 4. Teologia 
I. Marques, Jakson Hansen. II. Faculdade de Ciências, Educação 
e Teologia do Norte do Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 CDD - 251.01 
http://www.faceten.edu.br/
mailto:isef.faceten@gmail.com
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
 
 
Sumário 
 
APRESENTAÇÃO.......................................................... 5 
A HOMILÉTICA E A SUA IMPORTANCIA ..................... 6 
O QUE É HOMILÉTICA? ............................................... 8 
HOMILÉTICA: PREGAÇÃO E COMUNICAÇÃO ......... 12 
A ARTE DE FALAR EM PÚBLICO .............................. 44 
O PREGADOR: ............................................................ 46 
O CONTEÚDO DA RETÓRICA E SUA POSIÇÃO 
ATUALMENTE ............................................................. 47 
SOLA SCRIPTURA: A TRADIÇÃO PURITANA FRENTE 
A RETÓRICA REFORMADA ....................................... 48 
ESTRUTURA DO SERMÃO......................................... 70 
REFERÊNCIAS ............................................................ 73 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
5 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Prezado acadêmico iniciamos aqui 
nossa jornada de estudos tendo como 
foco a disciplina Homilética e 
Retórica. Neste período de aulas e de 
leitura do material didático, esperamos que você, que esta 
singrando estes mares do ensino superior, se sinta motivado a 
entender e praticar essa ciência tão importante em um mundo 
cada vez mais plural, com diferentes grupos e diferentes vozes. 
Estudar a homilética e a retórica, é estudar sobre e praticar a 
comunicação. Nesse interim portanto, Homilética é a disciplina 
teológica que estuda a ciência, a arte e a técnica de analisar, 
estruturar e entregar a mensagem do evangelho, tendo sua raiz 
etimológica em três conceitos gregos: Homilos, Homilia e 
Homileo. 
A homilética esta estritamente conectada a retórica, a oratória e 
a eloquência, conjunto de categorias que o bom orador deve ser 
apropriar para comunicar o seu discurso. 
Prezado aluno feitas as apresentações esperamos que você 
aproveite o material e tenha um bom período de estudos. Dr. 
Jakson Hansen Marques 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
6 
 
 
A HOMILÉTICA E A SUA IMPORTANCIA 
 
INTRODUÇÃO 
No sentido divino e humano, as palavras fazem milagres. 
Deus colocou na comunicação um poder quase infinito. As 
palavras têm o poder de produzir sentimentos, pensamentos e 
ações. Uma única palavra pode produzir amor ou ódio, alegria 
ou tristeza, motivação ou depressão, pensamentos positivos ou 
negativos. 
As palavras, portanto, são polivalentes, podendo ajudar 
ou atrapalhar. Podem encorajar, inspirar e tranquilizar, mas 
também podem decepcionar, desunir e oprimir. Foram as 
palavras que preservaram a verdade bíblica até os nossos dias, 
bem como preservaram a história da humanidade e as 
descobertas da ciência. Mas da mesma forma elas contribuíram 
para desencadear guerras, homicídios e torturas. Jesus por outro 
lado, estabeleceu o cristianismo e o evangelho com o uso do 
mesmo recurso: a palavra. 
1. De onde vem a palavra Homilética? 2) O que significa? 
3) Qual posição a pregação tem ocupado no ministério 
pastoral? 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
7 
 
Para tudo que compõe o universo existe uma ciência para 
estudá-la. A pregação cristã também tem uma ciência específica: 
A Homilética. 
Homilética é uma Ciência. 
Homilética é uma Arte. 
Homilética é uma Técnica. 
Homilética é Religiosa 
É Ciência quando considera o ponto de vista de seus 
fundamentos teóricos, históricos, psicológicos e sociais; É Arte 
quando considera os aspectos estéticos; o belo do conteúdo e da 
forma; É Técnica quando considera o modo especifico de sua 
execução ou ensino; É Religiosa quando considera a sua função 
espiritual, ou seja, adoração, poder, transformações, 
manifestações espirituais, etc. 
 
 
 
 
 
 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
8 
 
O QUE É HOMILÉTICA? 
Em teologia, Homilética (Grego Homiletikos, de 
homilos - montar em conjunto), é a aplicação dos 
princípios gerais da retórica para o fim específico da 
pregação pública.• Retórica – Significado a arte de 
bem falar, de valer-se da eloquência ou da 
argumentação clara para se comunicar. 
 Conforme Mello (2009) pode-se encontrar várias 
definições do vocábulo homilética, entre estas definições pode-
se destacar aquela que diz tratar-se de uma ciência que 
estabelece regras para a preparação do discurso. Utiliza para 
tanto dos princípios da oratória, arte de falar em público, da 
eloquência, aptidão para persuadir, e da retórica, estudo que 
permite desenvolver o talento natural da palavra. Estes são três 
elementos chave, que auxiliam na elaboração, exposição do 
sermão, clareza e concatenação de ideias. Na prática isso 
colabora para uma economia de tempo, evitando prolongar de 
forma desnecessária a mensagem. 
 Quanto a origem da homilética, ela pode ser encontrada 
na Mesopotâmia há mais de 3.000 anos a.C., com a finalidade 
de auxiliar os sacerdotes no ato da prestação de contas dos 
recebimentos e gastos junto as corporações que pertenciam, bem 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
9 
 
como em suas prédicas em defesa da existência dos deuses de 
suas culturas. Também interessante perceber que entre os 
gregos, este termo homilética, ganhou o nome de retórica, 
carregando todas as características que consubstanciam o termo 
homilética. Posteriormente no Império Romano, foi dado o 
nome de oratória, e por fim no mundo religioso o nome de 
homilética. Assim a homilética cristã nasce de uma estruturação 
discursiva utilizando-se da retórica grega e da oratória romana. 
 No seu início os cultos cristãos, tinham uma dinâmica 
bastante parecida as reuniões acontecidas na sinagoga judaica, 
limitando-se a leitura e interpretação do texto sagrado. Nesse 
ínterim o sermão tem como caractere básico ser narrativo. É a 
partir da reforma protestante de 1517, que os pregadores passam 
a dar mais atenção a arte e a técnica, para expor os textos 
bíblicos. 
 O homilética traz vários benefícios, entre eles: ajuda a 
desenvolver o raciocínio lógico. Para realizar uma boa prédica, 
o pregador deve ter um bom conhecimento geral sobre variados 
assuntos. A homilética ajuda na expressão corporal, uma boa 
expressão corporal auxilia na comunicação da mensagem. 
Auxilia também na comunicação verbal e oral. 
 Outro ponto positivo no uso e apropriação das 
ferramentas de uma boa homilética, que esta ajuda o pregador a 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
10 
 
desenvolver seu próprio estilo. É muito comum ver na televisão 
ou na internet pregadores que são meramente imitadores de 
pregadores famosos. Ao invés de buscar um estilo próprio, 
buscam imitar o pregador famoso, achando que assim 
conseguirão atingir mais pessoas, mimetizando alguém que ele 
admira. Isso o tornará meramente um imitador, sem 
personalidade. 
 E por fim, uma boa homilética colabora e deve serconstituía a virtude peculiar de 
um bom intérprete. Visto que a tarefa quase única do intérprete 
é penetrar a fundo a mente do escritor a quem pretende 
interpretar, o mesmo erra seu alvo ou, no mínimo, ultrapassa 
seus limites, se leva seus leitores para além do significado 
original do autor. 
Nosso desejo, pois, é achar alguém, que não só se esforce 
por ser compreensível, mas que também não tente deter seus 
leitores com comentários demasiadamente prolixos. Calvino 
demonstra também sua preocupação em ser entendido. Para ele, 
a clareza, a brevidade e o sentido simples do texto são as 
condições básicas para a exegese. Calvino dava mais 
importância às interpretações claramente entendidas do que 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
60 
 
aquelas cuja engenhosidade prejudicasse a compreensão. Ao 
comentar textos bíblicos, ele analisa palavra por palavra, com 
excessivas digressões. 
Ele costumava seguir um padrão sequencial sistemático 
e mantinha uma mensagem direta, de modo que “não havia 
frases desperdiçadas” (LAWSON, 2002, p.98). Além disso, 
Calvino era extemporâneo em sua apresentação, sem esboços 
quando subia ao púlpito, reagindo às pregações sem 
espontaneidade, frias e sem energia. Sua pregação também era 
exegética em sua abordagem, isto é, era interpretada conforme o 
ambiente histórico específico, as línguas originais, as estruturas 
gramaticais e o contexto bíblico (LAWSON, 2002). 
Em nenhum momento Calvino se manifesta contra a 
eloquência. Para ele, não devemos desprezar nem as expressões 
simples da verdade, nem a oratória sofisticada, contanto que 
sejam inteligíveis e estejam a serviço do texto. Kennedy (1999) 
explica que o que Calvino condena é a retórica com um fim em 
si mesma, de modo que obscureça a simplicidade da mensagem 
bíblica, com um apego tolo ao estilo impactante. Para João 
Calvino, o ouvinte deve ser cativado pela mensagem em si e não 
por histórias longas, linguagem florida e gestos impressionantes. 
Calvino entendia que embora fosse tarefa de Deus converter os 
corações, o interlocutor deveria mediar uma facilitação em 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
61 
 
matéria de reflexão para que o discurso fosse apresentado de 
forma precisa, clara e direta, de modo a impactar a vida dos 
ouvintes. 
Nesse sentido, a pregação teria dois primeiros objetivos 
básicos, a saber, a Palavra e o ouvinte humano. Para que fossem 
alcançados, o pregador deveria dispor de uma eloquência 
espiritual que emanasse do amor pelo evangelho e pelas pessoas. 
Já no fim do século XVI, a influência calvinista havia 
ultrapassado as fronteiras de Genebra, percorrendo a França, 
Escócia, Inglaterra, Holanda, partes da Alemanha, Hungria e 
Polônia, assim como ecoou entre os peregrinos que fugiram para 
a Nova Inglaterra no século XVII (FERREIRA, 2014), o que faz 
de Calvino um precursor do movimento puritano. 
 
O MOVIMENTO PURITANO 
O Puritanismo é um tipo de mentalidade, de atitude. 
Trata-se essencialmente de um movimento em defesa da reforma 
eclesiástica, da renovação pastoral, do evangelismo, e do 
avivamento espiritual; como uma expressão direta de seu zelo 
pela honra de Deus (JONES,1993; PACKER,1996; RYKEN, 
2013). Seu interesse principal era estabelecer uma Igreja pura, 
que abandonasse os vestígios restantes de cerimônia, ritual e 
hierarquia católicos, tornando-se uma Igreja verdadeiramente 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
62 
 
reformada, em que a doutrina das Sagradas Escrituras fosse 
central, enfatizando a doutrina da graça, que pode ser sintetizada 
da seguinte maneira: “Deus é a fonte de todo benefício humano 
e não se pode adquiri-la por mérito humano” (RYKEN, 2013, p. 
79). 
É difícil estabelecer uma data para o início do 
movimento puritano, pois, por exemplo, como aponta Jones 
(1993, p.249), em 1524, Willian Tyndale já possuía essa 
mentalidade, tendo um ardente desejo de que o povo comum 
pudesse ler as Escrituras, e, contra o endosso e a sanção dos 
bispos, ele mesmo lançou uma tradução da Bíblia. Segundo 
Packer (1996), foi no século XVI que os protestantes 
evangélicos da Igreja da Inglaterra foram chamados de 
“Puritanos”, visto que queriam eliminar os resquícios das 
práticas católicas romanas que sobreviviam na Igreja da 
Inglaterra, isto é, a Igreja Anglicana que havia sido fundada por 
Henrique VIII e foi moldada por sua sucessora Elizabeth I, Jaime 
I e seus conselheiros. 
Naquela época, o termo “puritano” tinha uma conotação 
satírica e ofensiva, proveniente do descontentamento motivado 
pela religião elisabetana. Independente do que viessem a pensar 
deles, o fato é que eram pessoas que queriam completar a 
Reforma, e consideravam que a melhor forma de se obter isso 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
63 
 
era através da pregação expositiva, em que todas as partes da 
Bíblia fossem entendidas e expostas numa pregação que falasse 
de forma direta ao coração. A esse respeito, Packer (1996, p.25) 
afirma: O alvo dos Puritanos era completar aquilo que fora 
iniciado pela Reforma inglesa: terminar de reformar a adoração 
anglicana, introduzir uma disciplina eclesiástica eficaz nas 
paróquias anglicanas, estabelecer a retidão nos campos político, 
doméstico e sócio-econômico, e converter todos os cidadãos 
ingleses a uma vigorosa fé evangélica. 
Por meio da pregação e do ensino do evangelho, bem 
como da santificação de todas as artes, ciências e habilidades, a 
Inglaterra teria de tornar-se uma terra de santos, um modelo e 
protótipo de piedade coletiva, e, como tal, um meio para toda a 
humanidade ser abençoada. Os Puritanos colocavam grande 
ênfase na aplicação da Palavra de Deus e acreditavam que a 
pregação era a principal função do pastor, de modo que esta 
ocupou lugar central nos cultos. (JONES,1993; PACKER,1996; 
RYKEN,2013). 
Seguindo a tradição dos apóstolos e de Calvino, eles 
acreditavam que quando um homem pregava, Cristo estava 
falando através dele. Pela pregação, a Palavra escrita se tornava 
a Palavra 380 viva de Deus. Deste modo, eles tinham desejo de 
falar a pessoas de todos os níveis, de forma objetiva e não 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
64 
 
rebuscada, para que esta fosse compreendida. Esse conceito era 
muito diferente daquele predominante na Igreja Anglicana, 
como aponta Jones (1993). Esta mantinha um estilo de pregação 
muito florida, sendo até mesmo ministrada em latim, ainda que 
para ouvintes sem nenhum grau de instrumentalidade na língua. 
Os puritanos usavam o método reformado de pregar, 
lançando mão de um tipo especial de estrutura, de esboço de 
sermão, que era estruturalmente diferente do que vemos nas 
homílias. Os sermões puritanos eram devotos em sua 
metodologia. Segundo Ryken (2013, p. 178), eles seguiam uma 
forma composta basicamente por três partes: 1- Interação com o 
sentido superficial do texto bíblico, 2- Dedução de princípios 
doutrinários e morais do texto, 3- Demonstração de como 
aqueles princípios podem ser aplicados na vida cristã diária. 
Nichols (2011, p.12) elucida: Começavam com um texto bíblico, 
normalmente apenas com um versículo ou uma pequena porção 
das Escrituras. 
Na maior parte das vezes, mas nem sempre, fazia-se uma 
breve exposição logo após a leitura do texto. Em seguida, vinha 
a doutrina, que era apresentada por meio de uma única sentença 
e depois desenvolvida em muitos parágrafos com esboços 
detalhados. Como explica Ferreira (2009), no contexto 
primitivo, destacavam-se dois tipos de sermão. Um relacionado 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
65 
 
à forma antiga, que recebe este nome por ter surgido com os 
primeiros pregadores da Antiguidade, como João Crisóstomo e 
Agostinho. Este método, não seguia nenhuma estrutura 
organizada, seguindo a ordem do texto, com exegese e 
aplicação. 
A outra forma era um estilo de pregação desenvolvido 
com base na oratória ciceroniana, repleta de adendos 
ornamentais, que demandava uma vasta cultura filosófica, 
oratória, poética ehistórica, além do exercício e a imitação dos 
melhores autores, das suas sentenças e de seu conteúdo moral, 
como presente nas homilias anglicanas. Lopes (2004) comenta 
que uma das queixas dos puritanos era que, embora a Igreja 
Anglicana dispusesse de muitos oradores eloquentes, nenhum 
deles poderia ser considerado um pregador, pois a despeito de 
suas habilidades discursivas, negligenciavam o conteúdo da 
Escrituras. 
Deste modo, por valorizarem mais a disseminação do 
próprio texto do que os floreados do discurso, os puritanos 
tomaram forma de pregação, eliminaram toda sua 
ornamentação, passando a lançar mão do tipo de sermão 
clássico, muito próximo ao sermão que encontramos nos livros 
de homilética, com introdução, divisão do texto, pregação de 
pontos em sucessão e a conclusão (RYKEN,2013). Para os 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
66 
 
reformadores a homilética, a arte de pregar, deveria estar 
atrelada a retórica e dialética, mas não baseada nestas. Em 1592 
foi publicado o primeiro manual de homilética para pregadores 
da Inglaterra, escrito por William Perkins (1558-1602), 
intitulado A Arte de Profetizar, em que a palavra “profetizar” 
tem o sentido de pregar. Perkins defendeu que existem quatro 
princípios que devem reger o pregador:1- Ler o texto claramente 
nas Escrituras canônicas; 2- Explicar o seu sentido, depois de 
lido, de acordo com as Escrituras; 3- Reunir alguns pontos de 
doutrina proveitosos, extraídos do sentido natural da passagem; 
4- Aplicar as doutrinas explicadas à vida e prática da 
congregação em palavras simples e diretas. 
Na qualidade de retórico, expositor, teólogo e pastor, 
Perkins tornou-se uma figura proeminente do movimento 
puritano. Por ocasião de sua morte, os seus escritos vendiam 
mais que os de João Calvino e Teodoro de Beza juntos, além de 
também ter sido um influenciador entre as igrejas nas colônias 
americanas, incluindo o pensamento de Jonathan Edwards. 
Segundo Porter (1958, p.260), ele “moldou a piedade de toda 
uma nação”. Gomes (2009, p.23) comenta que o sermão atingiu 
o ápice de sua popularidade durante o movimento chamado de 
Great Awakening (Grande Despertar): Fenômeno 
sociorreligioso em reação por parte de pastores e homens 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
67 
 
religiosos ao formalismo a que o puritanismo estava sendo 
submetido, com seus principais ideais sendo esquecidos ou 
adquirindo pouca importância. 
Nessa mesma época, o racionalismo iluminista e sua 
versão religiosa, o deísmo, ameaçavam diretamente não somente 
as convicções evangélicas e reformadas dos puritanos, mas 
também os próprios fundamentos do cristianismo histórico. 
Ruland e Bradbury (1991, p.37234) esclarecem O século XVIII 
foi um período de grande mudança nos ideais norte-americanos, 
e essa mudança não alterou de modo significativo os impulsos 
milenares tão profundamente associados ao Continente 
americano e à colonização dos Estados Unidos, mas foram 
remodelados em resposta às questões intelectuais e científicas da 
Era da Razão. 
Nos Estados Unidos, como também em outros lugares, o 
mundo da Reforma de Aristóteles e Ramus deu lugar ao mundo 
do Iluminismo construído por Newton e Locke; a Filosofia, em 
vez de teologia rígida, transformou-se em ciência natural; os 
valores do Deísmo e do naturalismo moral, bem como o 
liberalismo e o progresso, pouco a pouco se tornaram caminhos 
adequados para a interpretação da experiência Norte-americana. 
Em meio a esse cenário, surgiu Jonathan Edwards (1703-
1758) na Nova Inglaterra, figura cujo discurso pretendemos 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
68 
 
analisar em trabalhos posteriores, haja vista a posição de 
destaque que Edwards recebe enquanto orador no cenário 
americano. Pregador, pastor, teólogo, escritor, acadêmico, 
metafísico e líder avivalista, ele era portador de uma mente 
privilegiada que se desenvolveu para ser uma das figuras mais 
influentes na cultura de língua inglesa colonial dos anos de 
1.700. Um dos mais exímios oradores da América, o objetivo da 
retórica, se ele tivesse se utilizado deste termo, seria o de 
discorrer e explicar a respeito da possibilidade de comunicação 
entre Deus e o homem. Assim, de um modo puramente retórico 
é que se fundamentava a sua compreensão acerca do mundo, a 
partir do principal meio de comunicação entre o Criador e a 
humanidade, a saber, as Escrituras, interpretadas à luz do 
princípio hermenêutico fundamental da Reforma Protestante: o 
Sola Scriptura. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Com este trabalho foi possível estabelecer algumas 
conexões entre a Reforma Protestante e sua reverberação 
retórica em alguns pontos da história. Isso se deu a partir de um 
estudo sobre as contribuições de Martinho Lutero e, 
posteriormente João Calvino, nomes de maior influência para o 
movimento reformista desde o século XVI até hoje. Estes, 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
69 
 
legaram a história os princípios de interpretação e exegese do 
texto bíblico que passaram a nortear os sermões protestantes. No 
campo hermenêutico, ambos demonstraram a importância da 
busca do sentido pleno do texto bíblico, sem a necessidade de 
interpretações alegóricas, e, ao mesmo tempo, sem implicar em 
interpretações literalistas. 
Tal interpretação compreendia o escopo, o contexto e a 
abrangência do texto, a intencionalidade do autor e a mensagem 
completa da Escritura. No que se refere especificamente a 
Calvino, a sua forma de exposição, que rejeitava uma retórica 
meramente ornamental em favor de uma retórica com 
consistência intelectual, foi um dos seus principais legados. Esta 
forma influenciou o movimento puritano e seus mestres a 
manterem uma exposição regular de textos bíblicos inteiros, 
com uma exploração bem articulada dos mesmos. A partir disso, 
anos depois, William Perkins, depreendendo sentido da 
influência reformada no âmbito retórico e hermenêutico, lançou 
o primeiro manual de homilética sistematizado da época. 
Todo esse arcabouço atravessou os séculos até chegar em 
Jonathan Edwards, na Nova Inglaterra, na era da razão. Para 
Edwards, o que determina a finalidade do discurso são as suas 
origens e os seus fundamentos. Em seu ponto de vista, embora a 
ciência fosse importante, era apenas um aspecto único que não 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
70 
 
poderia suplantar a finalidade divina. Ainda que por um lado a 
ciência confirma a existência de estruturas e leis que todos os 
homens podem compreender, nem tudo está no alcance do seu 
campo interpretativo. Daí a importância da pregação como uma 
exposição clara e direta, bem estruturada e com aplicação 
pessoal, capaz de transmitir sentido e convencer as mentes dos 
ouvintes acerca de uma realidade espiritual, não material, 
cientificamente inexplicável. 
Essa era a ideia de Jonathan Edwards, que construiu 
sermões seguindo a linha puritana, descrevendo analogias 
referentes a domínios humanamente inacessíveis, no intuito de 
converter, exortar e instruir os seus ouvintes, lançando mão de 
uma retórica que ecoa até o presente século. 
ESTRUTURA DO SERMÃO. 
TÍTULO - Muitos pregadores confundem a tema com o 
título, mas o título não é nada mais do que o rótulo do sermão. 
O título é como o prelúdio para o tema. Isto é o que cativa os 
corações dos ouvintes. 
TEXTO BÍBLICO – O assunto do sermão deverá ser 
baseado em um texto bíblico. 
INTRODUÇÃO – Começar bem é provocar interesse e 
despertar atenção. Aproximar o ouvinte do sermão e dar a ele 
uma noção ou explicação do que vai ser falado. 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
71 
 
CORPO - Essa é a principal parte. Onde deverá está o 
conteúdo de toda mensagem, ordenado de forma lógica e 
precisa. Neste ponto também deverão ser abordadas algumas 
aplicações utilizadas durante o sermão como, ILUSTRAÇÕES, 
FIGURAS DE LINGUAGEM, MATERIAL DE 
PREPARAÇÃO. 
CONCLUSÃO – Baseados no objetivo específico do 
sermão a conclusão é uma síntese do mesmo e deve seruma 
aplicação final à vida do ouvinte. 
APELO – Um esforço feito para alcançar a consciência, 
o coração e a vontade do ouvinte. São os frutos do sermão 
CLASSIFICAÇÃO PELO ASSUNTO- Doutrinário. É 
aquele que expõe uma doutrina. (Ensinamento) - Histórico. É 
aquele que narra uma história. - Ocasional. É aquele destinados 
a ocasiões especiais. - Apologético. Tem a finalidade de fazer 
apologia. (defender) - Ético. É quando exalta a conduta e a vida 
moral e ética. - Narrativo Quando narra um fato, um milagre. - 
Controvérsia tem por finalidade atacar erros e heresias. 
CLASSIFICAÇÃO PELO TIPO DE SERMÃO 
Tradicionalmente encontramos, praticamente em todos as obras 
homiléticas, quatro tipos básicos de sermões:• 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
72 
 
 SERMÃO TEMÁTICO: Os argumentos 
(divisões) resultam do tema independente do 
texto; 
 SERMÃO TEXTUAL: Os argumentos (divisões) 
são tiradas diretamente do texto bíblico; 
 SERMÃO EXPOSITIVO: Os argumentos giram 
em torno da exposição exegética completa do 
texto. 
 SERMÃO BIOGRÁFICO: Os argumentos são 
baseados na vida de um personagem bíblico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
73 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BROADUS, John. O sermão e seu preparo. Rio de Janeiro: Casa 
Publicadora Batista, 1960. 
CARVALHO, Dirce de. Homilia: a questão da linguagem na 
comunicação oral. São Paulo: Paulinas, 1993. 
CHAPELL, Bryan. Pregação cristocêntrica: restaurando o 
sermão expositivo. São Paulo: Cultura Bíblica, 2007. 
 
CORREIA, Raynara Karenina Veríssimo. SOLA 
SCRIPTURA: A Tradição puritana frente a retórica 
reformada. Revista do SETA, Volume 8, 2018. 
MELLO, Carlos Alberto. A Homilética, a ética e os pregadores 
da pós-modernidade. Rio de Janeiro: CPAD, 2009. 
MORAES, Jilton. Homilética: pregação e comunicação. Revista 
Via Teológica – Vol. 17 – Nº 34 – Dez/2016 – Faculdades Batista 
do Paraná – ISSN 1676-0131 e 2526-4303 (on line) 
 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
74praticada a luz de uma vida de intimidade com Deus, sendo 
assim o pregador deve buscar uma vida espiritual correta na 
presença de Deus. Observando estes benefícios, o pregador 
produzirá um bom sermão e a palavra de Deus será levada e 
ouvida por muitas pessoas. 
O Novo Testamento emprega o substantivo homilia em 1 
Coríntios 15.33 “as más conversações corrompem os bons 
costumes”. 
Homilética é a disciplina teológica que estuda a ciência, 
a arte e a técnica de analisar, estruturar e entregar a mensagem 
do evangelho. O termo homilética tem suas raízes etimológicas 
em três palavras da cultura grega: 
Homilos: “multidão, turma, assembleia do povo” Então 
todos os gregos agarraram Sóstenes, principal da sinagoga, e o 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
11 
 
feriram diante do tribunal; e a Gálio nada destas coisas o 
incomodava. (At. 18:17). 
Homilia: “associação, companhia” Não vos enganeis: as 
más conversações corrompem os bons costumes. (ICo.15:33). 
Homileo: “falar, conversar” E iam conversando a 
respeito de todas as coisas sucedidas. (Lc.24:14). 
Para ajudar ainda mais na compreensão da homilética, 
apresenta-se aqui um artigo do Dr. Jilton Moraes, sobre a 
Homilética: pregação e comunicação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
12 
 
HOMILÉTICA: PREGAÇÃO E 
COMUNICAÇÃO 
 
Homiletics: preaching and communication 
Dr. Jilton Moraes 
RESUMO Exposição da homilética como ciência que 
nos ajuda a amar a Palavra de Deus, do seu papel para a eficácia 
da pregação, destacando as três fases de sua atuação no labor 
sermônico: da pesquisa ao púlpito, do púlpito ao ouvinte e do 
ouvinte à pratica; visão do lugar da prédica através dos tempos; 
apresentação dos recursos que possibilitam ao pregador 
trabalhar uma perícope, com abordagem fiel, atual, atraente e 
prática; ênfase em uma teologia bíblica capaz de sair dos 
compêndios para a vida; noção da possibilidade de utilização de 
diferentes formas sermônicas, com destaque para a forma 
expositiva; desafio ao emprego dos melhores recursos na 
pesquisa e elaboração do esboço, empregando a máxima 
seriedade que resulta em melhor comportamento no púlpito, 
com sermões bíblicos, profundos e objetivos, capazes de atrair e 
transformar os ouvintes. Palavras-chave: Homilética. Pregação. 
Pregador. Biblicidade. Comunicação. Sermão 
 
 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
13 
 
INTRODUÇÃO 
Expor a homilética como ferramenta indispensável à 
elaboração e à comunicação de sermões é tarefa prazerosa a 
tantos quantos nos dedicamos à missão de proclamar as boas 
novas. Mas, precisamos ter em mente que explanar fielmente o 
texto básico, possibilitando seu transporte e atualização, é o 
desafio! Urge darmos especial ênfase no foco do texto em 
consonância com o seu contexto, considerando os anseios e as 
necessidades dos ouvintes para, de acordo com o propósito 
estabelecido, pregar a Palavra de modo atual e penetrante. 
Esse artigo é um ensaio sintetizando o programa de um 
módulo na pós-graduação da FATEBE, razão pela qual leva não 
apenas o nome da disciplina, mas boa parte do seu conteúdo. 
Suplico ao Senhor da Pregação que esta abordagem ofereça uma 
visão dos recursos da homilética para a elaboração de sermões 
biblicamente fundamentados, com adequada interpretação e 
atualização, objetivando biblicidade, atualidade, clareza e 
objetividade, capazes de alcançar os ouvintes com desafios 
coerentes com a mensagem do texto bíblico. 
 
O QUE VEM A SER HOMILÉTICA? 
Homilética: pregação e comunicação tem sido, do ponto 
de vista profissional, minha principal paixão. Mas afinal o que 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
14 
 
vem a ser homilética? O livro Aventuras de um pregador 
iniciante tenta responder a esta indagação de um modo cômico. 
Fala de um professor de homilética e um homem que, curioso 
por descobrir o que o outro ensinava, perguntou-lhe: “O que o 
senhor ensina?” O novo amigo responde: “Homilética”; mas a 
resposta não foi compreendida. Outras vezes o homem voltou a 
perguntar, mas ficava sempre sem acreditar na resposta. Até que 
um dia se armou de coragem e, sabendo que o amigo era um 
teólogo, indagou da relação entre a teologia e omeletes. Diante 
do equívoco entre os vocábulos, o pastor explica que homilética 
é diferente de omeletes. Mostrando-lhe vários livros explica: 
“Esses livros são de homilética, não são de receitas culinárias! 
São livros sobre a ciência e a arte da pregação”. 
Homilética é a ciência da pregação. O sentido original 
dessa palavra é conversação; vem do grego, homilia. John 
Broadus afirmou: “a ciência da Homilética nada mais é do que a 
adaptação da retórica às finalidades especiais e aos reclamos da 
prédica cristã”. 
Minha definição é bem detalhada: Homilética é a ciência 
que nos ajuda a amar a Palavra de Deus, nela meditando e 
estudando, para assimilar os seus princípios, sendo edificados e 
capacitados a, em aprendizagem constante, construir uma 
pregação com base bíblica, capaz de falar ao presente, com 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
15 
 
desafios para o futuro, objetivando apresentar Jesus, poder e 
sabedoria de Deus. 
Divido a jornada do pregador em três importantes etapas 
e em cada uma delas a homilética está presente, possibilitando-
nos melhor cumprimento dessa tríplice missão: (1) da pesquisa 
ao púlpito, (2) do púlpito ao ouvinte e (3) do ouvinte à prática. 
1.1 Da pesquisa ao púlpito A razão de ser dos princípios 
homiléticos é equipar o pregador a elaborar e a comunicar 
sermões bíblicos e atuais, profundos e objetivos, capazes de 
confortar os ouvintes perturbados e de perturbar os ouvintes 
confortados. A homilética não é uma camisa de força para 
engessar o pregador, mas um conjunto de princípios para 
melhorar o seu desempenho tanto no gabinete de estudos, 
quando no púlpito. Um bom programa de homilética principia 
ensinando àqueles que comunicam a Palavra e pregarem 
primeiramente para si mesmos. Antes de pedir a Deus que nos 
capacite a falar aos nossos ouvintes, precisamos pedir-lhe que 
fale a nós mesmos. Quanto mais a Bíblia fala ao nosso coração, 
mais condições temos de partilhá-la às demais pessoas. 
Se o pregador não foi alcançado pelo texto bíblico, como 
pode pretender alcançar outras pessoas? Nessa trajetória 
aprendemos a: (1) Compreender a tarefa – não estamos 
trabalhando um discurso qualquer; (2) Saber que, antes de tudo, 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
16 
 
devemos viver diante de Deus; (3) Pedir a Deus que nos dê a 
ideia a ser comunicada; (4) Orar por um texto básico: ele será a 
base sólida da sua pregação; (5) Interpretar o texto para sermos 
fiéis ao que ele diz; (6) Contextualizar a ideia central do texto – 
assim teremos a tese do sermão; (7) Conhecer o que realmente 
será o conteúdo da nossa fala; (8) Fixar com clareza o propósito 
da mensagem; (9) Estabelecer um título que servirá de alicerce 
às divisões; (10) Dividir bem, para pregar melhor; (11) Utilizar 
ilustrações para facilitar a compreensão; (12) Aplicar a 
mensagem aos ouvintes; (13) Trabalhar bem a introdução e a 
conclusão; (14) Estudar e aperfeiçoar o esboço; (15) Pregar com 
entusiasmo e vida para agradar ao Senhor. 
Do púlpito ao ouvinte 
Quando principiei os meus estudos de homilética, sentia 
realização ao finalizar o manuscrito; escrever o amém final era 
algo que me trazia muita alegria. Hoje, meio século depois, 
continuo a me alegrar ao completar essa etapa, mas sei que ainda 
não é tempo de completa realização; em certo sentido o trabalho 
está simplesmente começando. Não basta ter um lindo esboço, 
se esse trabalho não for transformado em um discurso oral capaz 
de alcançar, com os princípios bíblicos, os ouvintes e suas 
necessidades. Os passos do púlpito ao ouvinte constituem-se em 
jornada árdua que precisa ser desempenhada com intrepidez. 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
17 
 
Nessa tarefa precisamos compreender os compromissos 
do pregador. “Só quemé capaz de assumir e cumprir os sérios 
compromissos do pregador tem condições de pregar como porta-
voz do Senhor”. 8 E quais são esses compromissos? (1) 
compromisso com o Senhor da Palavra; (2) com a Palavra do 
Senhor; (3) com os limites do sermão; e (3) compromisso com 
os ouvintes. 
Outro passo importante no labor sermônico é a convicção 
de que no púlpito nos colocamos diante de Deus e dos ouvintes. 
Isso envolve um compromisso diário; como pregadores, 
precisamos considerar as motivações das pessoas ao irem ao 
templo; saber que somos simples instrumentos para comunicar 
a mensagem em nome do Senhor; que o nosso ideal maior deve 
ser glorificar a Cristo; que precisamos viver o verdadeiro amor, 
aprendendo com Jesus, o Senhor da pregação; que a autoridade 
para pregar nos é concedida pelo Senhor e que ministramos para 
alcançar as pessoas. Prosseguindo nessa trajetória, aprendemos 
que a pregação acontece no contexto do culto. “Antes de estar 
no púlpito, o pregador está no culto. O ato de cultuar precede o 
ato de adorar. Quem não tiver condições de prestar culto ao 
Senhor jamais será um pregador”. 
Também aprendemos que no momento da Palavra 
“devemos pregar na convicção de que somos simples 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
18 
 
instrumentos a serviço do Senhor para comunicar a Palavra que 
alcança, transforma e marca. “O momento da Palavra é a ocasião 
adequada ao estabelecimento do assim diz o Senhor. E, essa é 
uma árdua responsabilidade, em tempos de corrupção, 
incredulidade e apostasia”. 
O profeta Oseias, em nome Senhor, descreveu esta 
realidade: “O meu povo está sendo destruído porque lhe falta o 
conhecimento. Porquanto rejeitaste o meu conhecimento, 
também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de 
mim” (Os 4.6). A homilética preocupa-se com o bom 
desempenho no púlpito; tendo em mente que, “o sermão é 
eloquente quando as palavras que apresentam vida são 
proferidas com entusiasmo e ilustradas com sua própria vida”. 
Neste sentido as principais recomendações são: (1) vá 
além do esboço: (2) considere a ocasião: (3) conquiste os 
ouvintes: (4) comece e continue bem; (5) comunique com 
simplicidade; (6) aplique ao longo da mensagem; (7) evite o 
supérfluo; (8) aproveite o momento certo; e (9) saiba parar. 
Outra preocupação nessa jornada é que a prédica seja 
mais próxima do ouvinte. E ela se torna mais próxima “quando 
as pessoas no auditório deixam de ser simples ouvintes e se 
tornam participantes”. Detalhe nem sempre lembrado, mas de 
grande importância, é a questão do equilíbrio. “Na pregação 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
19 
 
relevante há não apenas o equilíbrio aparente, visto na 
mensagem, mas o equilíbrio real, nem sempre tão visível, porém 
presente na vida do pregador”. 
 Trabalhando do púlpito ao ouvinte há obviamente a 
preocupação com a forma a ser utilizada. Sabendo que a 
pregação é como um relacionamento: pregamos na alegria e na 
tristeza; devemos estar atentos ao tempo de duração da nossa 
fala; viver princípios éticos que condizem com um pregador do 
evangelho; e cuidar do apelo e do feedback da pregação. 
Do ouvinte à prática 
A homilética cumpre o seu papel habilitando o 
comunicador sacro a pregar buscando ações práticas. O melhor 
sermão não é o que foi apresentado com gestos medidos, 
palavras rebuscadas e persuasão projetada; mas o que, na 
simplicidade de sua apresentação, produz resultados 
permanentes. Tudo quanto o pregador pretende é ser agente 
transformador. Sermões que abalam, mas não confortam; falam 
do perigo, mas não indicam o meio de escape, enfatizam o 
sofrimento, mas ignoram o bálsamo; pintam o inferno, mas não 
descortinam o céu, só estão fazendo barulho, sem conduzir o 
ouvinte à prática da verdade. 
E como isso acontece? Depois de pregar sobre o valor do 
diálogo, alguém segreda: “Vou à procura de um antigo amigo 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
20 
 
com quem me desentendi, vou buscar conversar com ele”. Ou, 
após explanar o texto de Ef 6.4 — “Pais, não irritem seus filhos; 
antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor” —
, um pai ou mãe afirma: “Vou mudar o modo de me relacionar 
com os meus filhos; não quero que se irritem com meu modo de 
falar ou agir”. 
O pregador há de trabalhar todas as etapas de sua 
mensagem em oração, suplicando ao Pai que as suas palavras, 
quais Palavra dele, sirvam de proveito aos ouvintes. Não 
estamos no púlpito para entreter uma plateia, mas, para desafiar 
os ouvintes, conduzindo-os à salvação, à edificação, à 
santificação e ao despertamento para andar em novidade de vida. 
Phillips Brooks declarou: “um sermão é um bocado de pão para 
ser comido, não uma obra de arte para ser apreciado. 
Não é a aparente sabedoria do pregador que torna o 
sermão proveitoso. “O sermão que transforma e desafia à prática 
não é marcado pela sofisticação do pregador, mas pela 
simplicidade da Palavra”. Algumas pessoas, desconhecendo a 
bênção que é a homilética na vida do pregador, têm acusado esta 
ciência da pregação de dificultar o labor sermônico. A 
homilética auxilia o pregador a cumprir eficazmente a árdua 
tarefa de trabalhar da pesquisa ao púlpito, do púlpito ao 
ouvinte, e do ouvinte à prática. Assim como é impossível a um 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
21 
 
professor ensinar bem e marcar com o seu ensino sem didática, 
é de igual modo estranho querer que um pregador comunique 
sermões capazes de alcançar e mudar os ouvintes sem os 
recursos da homilética. 
A didática capacita o professor a utilizar métodos e 
técnicas que facilitem a aprendizagem, tornando possível ao 
educando experimentar a relação teoria e prática. A homilética 
capacita o pregador a, partindo de uma interpretação correta do 
texto bíblico e sua atualização, sistematizar seu discurso, 
objetivando alcançar os ouvintes com uma explanação capaz de 
desafiá-los a transformar a teoria em prática. Tão importante 
tarefa quanto a pregação bíblica, há de ser um exigente exercício 
para todos os que temos recebido tão grande privilégio. 
 
A SUPREMACIA DA PREGAÇÃO 
O apóstolo Paulo afirmou: “a fé vem por se ouvir a 
mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de 
Cristo” (Rm 10.17). É pela pregação que as pessoas conhecem 
Jesus e são desafiadas a assumir um compromisso com ele. De 
igual modo, é pela pregação que crescemos na graça e no 
conhecimento de Cristo e a viver de modo digno do evangelho. 
A responsabilidade que temos de pregar a Palavra é tão grande 
que Joseph Stowell declarou: “Sou o intermediário de um 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
22 
 
encontro divino entre o Deus Todo-Poderoso e a humanidade 
pecadora”. E acrescentou: “Quando penso na pregação como a 
arte e o ofício que transforma as minhas palavras de modo a 
expressarem aquilo que Deus quer que eu diga, percebo como é 
um trabalho importante e aterrador”. 
Deus tem falado através da pregação 
A pregação é o recurso de Deus para a proclamação do 
seu amor. Ela é tão importante que o apóstolo Paulo afirmou: 
“Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por 
meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que 
creem por meio da loucura da pregação” (1Co 1.21). Isso faz da 
missão do pregador uma das mais árduas e gloriosas. John Stott, 
baseado nas palavras de Paulo (1Co 4.1,2), afirmou: “o pregador 
é um despenseiro dos mistérios de Deus, ou seja, da auto 
revelação que Deus confiou aos homens e é preservada nas 
Escrituras”. Significa que temos a responsabilidade de nos 
colocar diante das pessoas para falar em nome dele. 
Walter Bowie declarou que “o pregador é um canal de 
comunicação do Deus vivo para a alma viva que ali está diante 
dele”. Somente buscando o melhor preparo, dentro de suas 
possibilidades e a orientação divina, desempenhamos a missão 
de falar em nome do Senhor. 
A pregação no Antigo Testamento 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
23 
 
Quando os israelitas sofriam escravizadosno Egito, 
Deus, vendo a aflição que enfrentavam, convocou Moisés, o 
líder pregador. Ele compartilhava a mensagem que o Eterno 
tinha para ser comunicada; sua fala era a transmissão do recado 
divino, de modo claro e objetivo: “Assim diz o Senhor, o Deus 
de Israel: ‘Deixe o meu povo ir para celebrar-me uma festa no 
deserto” (Êx 5.1). Apesar de inicialmente haver recusado a ideia 
de liderar e ser pregador, Moisés tanto anunciou o Assim diz o 
Senhor ao povo e ao Faraó, que mais tarde entrou para a história 
como alguém que “veio a ser poderoso em palavras e obras” (At 
7.22). O milagre da pregação começa na vida do pregador! A 
pregação de Elias foi um apelo, em nome de Deus, à integridade, 
desafiando o povo a um relacionamento autêntico com o 
Criador: “Até quando vocês vão oscilar para um lado e para o 
outro? Se o Senhor é Deus, sigam-no; mas, se Baal é Deus, 
sigam-no” (1Rs 18.20). 
O profeta Isaías falou de sua experiência pessoal, algo 
tão real que ele podia até precisar o tempo em que se deu: “No 
ano em que o rei Uzias morreu, eu vi o Senhor assentado num 
trono alto e exaltado” (Is 6.1). Sua pregação foi uma chamada 
ao arrependimento; Deus estava cansado de uma adoração 
fingida (Cf: Is 1.13-20). Foi o mesmo Profeta quem falou de 
modo fascinante sobre a vinda do Messias: “O povo que 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
24 
 
caminhava em trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam 
na terra da sombra da morte raiou uma luz” (Is 9.2). 
Ele mencionou o modo maravilhoso como a história 
seguiria novo rumo: “o jugo que oprimia o povo, a canga que 
estava sobre os seus ombros, e a vara de castigo do seu opressor, 
como no dia da derrota de Midiã”. E mais: “Toda bota de 
guerreiro usada em combate e toda veste revolvida em sangue 
serão queimadas, como lenha no fogo” (Is 9.4-5). A seguir, falou 
da razão da mudança: (Is 9.6): “Porque um menino nos nasceu, 
um filho nos foi dado e o governo está sobre os seus ombros. E 
ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai 
Eterno, Príncipe da Paz”. 
A pregação No Novo Testamento 
A era da graça realçou ainda mais a pregação da Palavra. 
O primeiro pregador destacado desse período foi João Batista; 
as páginas do Novo Testamento abrem com a pregação dele. 
Como cumprimento das profecias, ele era o mensageiro que 
anunciava a vinda do pregador maior: Princípio do evangelho de 
Jesus Cristo, o Filho de Deus. Conforme está escrito no profeta 
Isaías: “Enviarei à tua frente o meu mensageiro; ele preparará o 
teu caminho” “voz do que clama no deserto: ‘Preparem o 
caminho para o Senhor, façam veredas retas para ele’. Assim 
surgiu João, batizando no deserto e pregando um batismo de 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
25 
 
arrependimento para o perdão dos pecados” (Mc 1.1-4). A 
pregação dele alcançava os ouvintes: “a ele vinha toda a região 
da Judéia e todo o povo de Jerusalém” (Mc 1.5a) e produzia 
resultados práticos: “Confessando os seus pecados, eram 
batizados por ele no rio Jordão”. (Mc 1.5b). 
A seguir, encontramos Jesus de Nazaré. Nele, a pregação 
evangélica encontra sua expressão máxima. Ele foi o maior 
pregador que o mundo já conheceu: o maior comunicador de 
todos os tempos, o Senhor da Pregação, Aquele que falou como 
jamais homem algum falou (Jo 7.46). 
Uma análise da pregação do Senhor Jesus apresenta não 
só o pregador que ele foi, mas serve como desafio aos 
pregadores de todos os tempos, mostrando-nos o modelo da 
mensagem a ser pregada e do modo como devemos viver para 
sermos fiéis cumpridores da Palavra e não apenas simples 
oradores. A homilética de Jesus tem as mais preciosas lições a 
ensinar a todos os pregadores, de todos os tempos. Precisamos 
considerar também que, sendo o Senhor e salvador de todos 
quantos o aceitamos pela fé, ele é o centro da pregação cristã. A 
pregação cristã relevante é um anúncio que aponta para Jesus. 
Foi Paulo quem melhor falou a esse respeito: “Pois em 
Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade e, por 
estarem nele, que é o Cabeça de todo poder e autoridade, vocês 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
26 
 
receberam a plenitude (Cl 2.9-10). E mais: “Os judeus pedem 
sinais miraculosos e os gregos procuram sabedoria; nós, porém, 
pregamos a Cristo crucificado, o qual, de fato, é escândalo para 
os judeus e loucura para os gentios” (1Co 2.22-23). Outro 
pregador neotestamentário que se destaca é o apóstolo Pedro. 
Ele foi o primeiro homem chamado por Jesus para ser pregador, 
juntamente com o seu irmão André: 
Caminhando pela praia do mar da Galileia, Jesus avistou 
Simão e seu irmão André pescando com redes. Era nisso que 
trabalhavam. Jesus convidou-os: "Venham comigo! Vou fazer de 
vocês um novo tipo de pescadores. Vou mostrar como pescar 
pessoas, em vez de peixes". Sem fazer uma pergunta, eles 
simplesmente largaram as redes e foram com ele. (Marcos 1.16-
18 A Mensagem). A proposta certamente podia parecer um tanto 
emblemática: deixar de ser pescador de peixes para ser pescador 
de homens. Como seria possível? Pescar peixes ele sabia – era 
só lançar as redes e esperar; no entanto, como seria possível 
pescar homens? Você aceitaria participar de uma empreitada 
assim? Simão, que tanto gostava de falar, nada perguntou, nem 
discutiu. Simplesmente largou tudo e passou a seguir a Jesus de 
Nazaré. E seu irmão André, que o acompanhava, seguiu o 
mesmo exemplo. 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
27 
 
Pedro despontou como porta-voz do grupo dos doze, por 
ousadia e facilidade de expressão. No entanto, somente depois 
da ressurreição do Senhor Jesus é que a pregação desse apóstolo 
se torna realmente notável. As fontes para o acervo petrino estão 
no livro dos Atos dos Apóstolos e nas duas cartas que trazem o 
seu nome como autor. Pedro foi o pregador do primeiro evento 
evangelístico da igreja, no dia de Pentecoste, ocasião em que sua 
pregação despontou. 
Logo depois o encontramos pregando no próximo evento 
evangelizante, à porta do templo; duas vezes diante do sinédrio; 
na casa de Cornélio, em sua defesa e em suas cartas. 
Outro pregador notável no Novo Testamento foi Estevão. 
Apesar de termos anotações de apenas um sermão de sua autoria, 
o conteúdo de sua prédica e seu comportamento como pregador 
o fazem entrar para a história. O trabalho homilético que ele 
apresentou encontrou base em sua Bíblia, o Antigo Testamento. 
É uma pregação narrativa. “Toda sua mensagem foi embasada 
na história de Israel, mostrando a ação de Deus, até chegar ao 
seu clímax: Jesus de Nazaré. Sua narrativa é rica em conteúdo 
histórico, montada em 49 citações do Antigo Testamento”. 
Saulo de Tarso, o perseguidor transformado por Jesus em 
pregador, é outro nome que desponta nas páginas do Novo 
Testamento. Identificou-se tanto com o ministério da pregação 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
28 
 
que declarou: “Ai de mim se não pregar o evangelho!” (1Co 
9.16b). Ele também deixou claro que a pregação era a principal 
atividade do seu trabalho no Reino de Deus: “Pois Cristo não me 
enviou para batizar, mas para pregar o evangelho, não porém 
com palavras de sabedoria humana, para que a cruz de Cristo 
não seja esvaziada” (1Co 1.17). 
Ele não só compreendia que precisava pregar, mas a 
validade de sua missão estava na apresentação de um trabalho 
cristocêntrico – a ênfase era à cruz do Senhor e não às palavras 
do pregador! A esse respeito, o Pastor Éber Vasconcelos 
poeticamente afirmou: “A sua pregação era um grande cartaz, 
um cartaz luminoso, mostrando a paixão do Salvador, mostrando 
a morte de Cristo, mostrando o sofrimento do Senhor Jesus”. A 
vida de Paulo, no cumprimento de sua missão de pregador da 
Palavra, pode ser comparada a uma vela que se doa totalmente 
para dissipar as trevas. Ele colocou a vida no altar para 
comunicar a verdadeira luz que ilumina. “O brilho que 
resplandeceu na estrada de Damasco foi compartilhado sem 
reservas com judeus e gentios. Graçasa Deus que escolheu 
aquele que fora perseguidor e o fez pregador da sua Palavra”. 
A pregação na história 
Através da história a pregação tem vivido períodos de 
ascensão e tempos de declínio. A pregação desenvolvida no 1º 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
29 
 
século depois de Cristo foi marcada por grande poder. Como 
temos visto, ela encontra seu clímax em Jesus de Nazaré. Os 
apóstolos e demais pregadores desse período, havendo estado 
com Jesus, ou ouvido o testemunho daqueles que com ele 
estiveram, priorizaram a pregação e pregaram com grande 
ousadia e poder. Suas mensagens eram nitidamente 
cristocêntricas. Isso motivava os crentes a compartilhar, 
testemunhar e pregar diariamente. Graças ao poder da pregação 
primitiva, deu-se a rápida expansão do cristianismo. Os 
pregadores não apenas pregavam com poder, mas com o amor 
que os fazia ousados, a ponto de colocar a vida no altar, como 
aconteceu com Estevão. 
No período compreendido entre os anos 70 e 170, com a 
morte de Pedro, Paulo, João e os demais apóstolos, a pregação 
perdeu a sua pujança. A falta de informações sobre o período 
denota a crise do púlpito. A existência de grandes pregadores 
certamente teria registro de suas pregações. No final do segundo 
século, no entanto, a pregação deu sinais de força, com 
pregadores como Orígenes, Clemente de Alexandria, Irineu e 
Hipólito. Essa ascensão preparou o caminho para o triunfo da 
oratória no século IV. Tudo faz crer que nos primeiros séculos 
os sermões foram despretensiosos: apresentados em forma de 
homilias, sem muita ordem lógica e sem evidenciar um prévio 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
30 
 
preparo. De acordo com o auditório, a pregação podia ser 
didática ou evangelística. 
A partir de Orígenes, até o final do século III verificou-
se um desenvolvimento estrutural, que tornou a mensagem mais 
expositiva. Alguns dos pregadores mais destacados desse 
período foram: Policarpo, Inácio e Clemente de Roma.29 
Registro digno de destaque é que “através de Orígenes o sermão 
recebia a forma fixa de uma explicação e aplicação de um 
texto”.30 A primeira etapa do período patrístico (70-300) 
caracterizou-se por uma profunda convicção das verdades do 
evangelho e seu poder para redimir o homem do pecado, uma 
moralidade recomendável, bem como pela autoridade das 
Escrituras, embora já se comece a delinear um desvirtuamento 
da pureza inicial do primeiro século do cristianismo. 
Os anos que se sucedem refletem a posição de 
Constantino, unindo a igreja e o estado, por motivos políticos e 
não por sua religiosidade. A ideia era a de que a unidade religiosa 
fortaleceria o Império. As vantagens governamentais foram 
grandes, o próprio imperador recomendava ao povo que se 
tornasse cristão. As vantagens comprometeram a pureza na 
igreja; nesse tempo surgiu a Igreja Católica Romana. A pregação 
continuou presente, como parte do culto, ocorrendo geralmente 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
31 
 
após a leitura bíblica. Dois pregadores se destacam nesse 
período: Crisóstomo e Agostinho. 
O período medieval, também conhecido como idade das 
trevas (430 a 1095), caracterizou-se como uma época sombria e 
tenebrosa, onde tudo tendeu ao declínio, inclusive a pregação. A 
corrupção estava presente na vida dos clérigos e a liturgia 
sufocou o púlpito. Nesse contexto, a pregação, deixando de ser 
cristocêntrica, passou a colocar Maria no centro; deixando de ser 
bíblica, foi rebaixada a um meio de apresentação do pensamento 
da Igreja Romana. O propósito deixou de ser ensinar a verdade 
bíblica e se tornou a motivação para se aceitar 
incondicionalmente os princípios católicos e suas práticas. 
Os primeiros esforços envidados no sentido de uma 
tentativa de restauração do poder da pregação evangélica são 
verificados através de Wicliffe, na segunda metade do século 
XIV. Daí para frente o clamor por uma reforma tornou-se cada 
vez mais veemente, culminando com a atuação de Martinho 
Lutero, no século XVI. Sempre que a pregação se distancia da 
base bíblica, perde a sua autoridade. A Reforma chama-nos a 
atenção a este fato. Surgiu como um protesto contra os abusos 
da igreja católica romana. Lutero não aceitava a pregação de 
Tetzel e o comércio das indulgências. Estava convicto de que a 
salvação era resultado de uma experiência pessoal com Deus. 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
32 
 
Assim, ele levantou-se contrário às indulgências e pregou contra 
elas. 
São cinco os principais pilares da Reforma: Sola 
Scriptura, – Só a Escritura. É a afirmação da supremacia da 
Palavra de Deus sobre a tradição. Tudo o que for alheio à Bíblia 
deve ser rejeitado. É lamentável que o momento atual começa a 
se parecer com os dias da pré-Reforma. Alguns pregadores 
erguem suas vozes como se fosse a verdade máxima. 
Outra coluna da Reforma que devemos lembrar é Sola 
Gratia. Significa que somente pela Graça de Deus vem a nossa 
salvação. 
O terceiro pilar da Reforma, Sola Fide, deixa claro que 
somente a fé é o meio de nos apropriamos da salvação, efetivada 
pelo Senhor Jesus. A iniciativa da salvação é a graça, a fé é a 
resposta a essa iniciativa. Pregadores e pregadoras que no 
momento presente enfatizam mais a entrega de contribuições do 
que a entrega de vidas; que valorizam mais a exibição impecável 
à sociedade do que a apresentação digna ao Senhor da pregação, 
precisam se conscientizar da mensagem bíblica (Hc 2.4; Rm 
1.17; Gl 3.11) “o justo viverá pela fé”. 
Outro pilar da Reforma, Solus Christus, significa que 
tão-somente Cristo é a base da salvação. Somos salvos 
unicamente pelos méritos e pelo sacrifício de Cristo. A teologia 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
33 
 
da nossa pregação precisa ter como base a nossa experiência 
com Jesus. É o fato de havermos nos encontrado com o Salvador 
que autentica a nossa pregação. Não dá para separar conceitos e 
práxis: teologia e vida caminham juntas. Quando isso acontece, 
vivemos o Solo Cristus. 
O último pilar da Reforma é Soli Deo Gloria – Glória a 
Deus somente, significando o nosso propósito único deve ser o 
louvor da glória de Deus. A glória dos resultados jamais será do 
pregador, mas será sempre do Senhor da Pregação! Pregamos 
para que diante dele todo joelho se dobre e toda língua confesse 
que ele é Senhor, para a glória de Deus Pai (Fl 2.8-11). A beleza 
da pregação vem do brilho da glória do Senhor. Paulo fala de seu 
pensamento: “Quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser 
na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo 
foi crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gl 6.14). John 
Piper declara: “O alvo da pregação é a glória de Deus refletida 
na submissão prazerosa de sua criação”. 
Precisamos reconhecer que tudo vem de Deus, somos 
simples instrumentos nas mãos dele; sabendo que “a eficácia da 
mensagem, mais que qualquer virtude do mensageiro, 
transforma corações”. 
Precisamos reconhecer que a excelência não está em nós, 
mas no conteúdo da mensagem que pregamos. Quem reconhece 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
34 
 
a soberania de Deus e a sua finitude, sabe que a apresentação e 
os resultados da pregação não podem ter outro propósito senão 
glorificar o Senhor. Soli Deo Gloria motiva-nos a pensar: em um 
tempo quando o marketing de alguns movimentos evangelísticos 
evidencia o nome do pregador, precisamos lembrar que, se a 
pregação não for para a glória de Deus, não valerá a pena ser 
pregada. 
Urge uma nova Reforma capaz de despertar em nós, 
pregadores, o prazer de pregar tão somente a Bíblia; de 
proclamar com palavras e com a vida que só pela graça temos 
vida; de não apenas pregarmos, mas experimentar que o justo 
vive pela fé e que é somente por ela que somos salvos; de 
vivermos identificados com Cristo, a ponto de ele viver em nós; 
e de fazermos tudo para a glória de Deus. Só assim veremos 
acesa a chama da pregação, com o conteúdo acima da forma, a 
compreensão além da retórica, a vida maisque o discurso e 
Cristo antes de tudo. 
 
TEOLOGIA E PRÁTICA DA PREGAÇÃO 
 
Sabemos que um dos grandes benefícios da homilética é 
habilitar quem prega a utilizar corretamente a Bíblia como base 
única de seu trabalho no púlpito. Vivemos dias quando, 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
35 
 
infelizmente, muitos pregadores têm abandonado o costume de 
preparar e pregar sermões expositivos. 
O valor da pregação depende da sua biblicidade Sem 
Bíblia não há pregação relevante. Vários eruditos têm realçado 
esta verdade. Vernon Stanfield declarou: "A essência da 
homilética é a Palavra de Deus, e idealmente, pregar é deixar a 
Bíblia falar". John Knox foi enfático ao afirmar: "A Bíblia é não 
apenas útil na pregação; é absolutamente indispensável. É mais 
do que um recurso supremamente útil; pertence essencialmente 
à própria fonte da pregação". Sobre a importância da base 
bíblica, Lloyd Jones assegurou: "Se o que se expõe no púlpito 
não está embasado na Palavra de Deus, é de muito pouco ou 
nenhum valor para os que têm ido ouvir a Palavra de Deus" 
Pregar é explanar as Escrituras, mas não só explanar. A 
exposição da Palavra de Deus no púlpito não pode ficar limitada 
apenas à interpretação. Se não houver contextualização, não há 
pregação. A. W. Blackwood, falando sobre o atual clamor por 
mais sermões expositivos, advertiu: “Só acrescentarei que deve 
ser pregação. A aula tem seu lugar, o púlpito outro”. 
As pessoas vão ao templo para ouvir a Palavra de Deus e 
se sentem iludidas cada vez que o pregador usa o texto bíblico 
como um pretexto: leitura, sem base bíblica; Bíblia lida, mas 
sem explanação, sem contextualização e sem aplicação. O 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
36 
 
pregador começa lendo o texto, mas dele se afasta para não mais 
voltar. Propaganda enganosa: Se houvesse um PROCON 
eclesiástico, caberia uma queixa. 
Os ouvintes se queixam quando falta a base bíblica. 
Escrevi um livro que é uma abordagem homilética bem 
diferente: desconstruir para construir. O clamor da igreja, em 
busca de excelência no púlpito, traz as críticas dos fiéis aos 
sermões que estão ouvindo. A terrível constatação é que o 
púlpito hoje já não alimenta as pessoas. E o motivo do sermão 
haver sido rebaixado da condição de banquete espiritual à 
categoria de fast food é o abandono da Bíblia como fonte única 
para a elaboração e a comunicação no púlpito. Um pregador que 
não anuncia a Palavra não é digno da atenção dos seus ouvintes. 
Vale a pena conhecer as críticas de ouvintes: O pregador 
passou todo o tempo falando do crescimento de sua igreja, de 
suas viagens e de sua família. Ele leu um texto bíblico, mas não 
o explanou, nem sequer fez qualquer referência a ele ao longo 
do sermão. Outro ouvinte denuncia: “Por que esse texto bíblico 
foi lido, se foi completamente esquecido ao longo de todo o 
sermão? Seria mais honesto não ter lido um texto. Quando isso 
acontece, o pregador perdeu a noção da validade do púlpito e de 
sua incumbência como pregador da Palavra. Como bem 
esclarece David W. Fetzer: O púlpito não é um palco no qual o 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
37 
 
pregador se apresenta; é o lugar de nossas igrejas de onde um 
indivíduo pode falar a outros sobre adoração e conhecimento de 
Deus, por meio de sua Palavra. 
É nesse ponto que a escolha de palavras, imagens, 
metáforas, símbolos não verbais e ilustrações demonstra o 
quanto você se identifica com os seus ouvintes e o quanto se 
ligarão a você e o considerarão autêntico. Com toda razão os 
ouvintes reclamam contra sermões sem base bíblica. É para 
ouvir e aprender da Bíblia que eles vão ao templo. Como 
pregadores devemos seguir o exemplo de Jesus Entre as 
principais características da pregação de Jesus está a biblicidade. 
Ele usou a Bíblia como base de toda sua mensagem. No episódio 
da tentação (Mt 4.1-11), refutou a todos os argumentos do 
maligno citando as Escrituras. Na primeira investida – a 
proposta de transformar pedras em pães – respondeu usando 
Deuteronômio 8.3: “Assim, ele os humilhou e os deixou passar 
fome. Mas depois os sustentou com maná, que nem vocês nem 
os seus antepassados conheciam, para mostrar-lhes que nem só 
de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da 
boca do Senhor”. 
Quando o tentador sugeriu que Jesus se atirasse da parte 
mais alta do templo, como demonstração da sua divindade, o 
Senhor da Pregação, outra vez usou a Bíblia (Dt 6.16): “Não 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
38 
 
ponham à prova o Senhor, o seu Deus”. E na última investida 
satânica – adorar ao tentador – mais uma vez o Senhor respondeu 
com as Escrituras (Dt 6.13): “Temam o Senhor, o seu Deus, e só 
a ele prestem culto”. 
Pregação relevante tem uma teologia firmada na Palavra 
Do conceito que temos de Deus, depende a mensagem 
que pregamos. Não devemos ir ao extremo de falar de Deus 
como um ser ausente e distante, com quem temos a chance de 
com ele nos encontrarmos apenas na perspectiva escatológica. 
Por outro lado, não é correto falarmos de um Deus que, perdendo 
a sua soberania, recebe ordens daqueles que se dizem seus 
servos. Quem serve não ordena, mas, ao contrário, está a serviço 
do seu Senhor. 
Partindo da base bíblica que só o Senhor é Deus, aqueles 
que para exibição de uma tão grande fé dão ordens ao seu Deus, 
nada mais estão fazendo que construir um deus feito com suas 
próprias mãos. O nosso Deus é soberano e tudo faz de acordo 
com a vontade dele, que é boa, agradável e perfeita. Albert 
Mohler afirmou: “Uma teologia de pregação começa com um 
reconhecimento humilde de que a pregação não é invenção 
humana, e sim uma criação graciosa de Deus e uma parte central 
de sua vontade revelada para a igreja”. 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
39 
 
Diante dessa realidade, a terrível indagação é: Qual a 
imagem de Deus que está sendo apresentada no púlpito 
evangélico na atualidade? Os ouvintes esperam uma teologia 
que lhes traga esperança ao viver. “A autêntica pregação é uma 
celebração da vitória dada por Deus sobre as crises da vida”. 
O abismo colocado por comunicadores que mais 
parecem deístas que pregadores do Evangelho, tem tornado os 
sermões áridos, monótonos e desinteressantes. Eles têm feito a 
façanha de tirar a graça da mensagem que é pura Graça. Outro 
depoimento, registrado por Dirce de Carvalho, diz bem dessa 
realidade: “O mais importante na homilia não é a explicação 
exegética, mas a vivência. Ou seja, relacionar a Palavra com o 
dia-a-dia das pessoas, suas dificuldades, trabalhos, 
relacionamentos, dores, tristezas”. 
A teologia da nossa pregação há de sair dos compêndios 
para a vida. Há muito equívoco sendo propagado como verdade: 
heresias se transformam em teorias, contrassensos se tornam 
máximas; o púlpito perdeu o seu lugar! O que se encontra hoje 
é uma pregação desprovida de base bíblica e incapaz de motivar 
os ouvintes a ações práticas, de acordo com o propósito divino. 
Sobre o papel da teologia na pregação, John Stott afirma que “A 
técnica pode somente nos tornar oradores; se quisermos ser 
pregadores, é da teologia que precisamos”. 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
40 
 
Moisés tinha razão ao querer saber quem era o Deus que 
o enviava. Precisamos ter um conceito adequado do Deus, em 
nome de quem falamos. A esse respeito Mohler é categórico: A 
pregação é um ato inescapavelmente teológico, visto que o 
pregador ousa falar de Deus e, num sentido bem real, em lugar 
de Deus. Por essa razão uma teologia da pregação deveria conter 
uma forma trinitária, refletindo a própria natureza do Deus que 
se autorrevela. Ao fazer isso, a pregação dá testemunho do Deus 
que fala do filho que salva e do Espírito que ilumina. 
Um sermão fúnebre, por mais rico em profundos 
conceitos bíblicos e teológicos, se não tiver o elemento pastoral, 
capaz de penetrar no mundo das pessoas enlutadas, ministrando-
lhes o bálsamo do conforto, será – no dizer de Paulo – como o 
sino que ressoaou como o prato que retine. Por mais bem 
elaborado e apresentado que seja tal sermão, se não for capaz de 
conduzir os que choram à presença do Deus que lhes enxuga as 
lágrimas, de nada valerá. E sabemos que, só usados pelo Espírito 
Santo, somos capazes de confortar. 
O lugar da prédica expositiva 
Em voga em alguns púlpitos está a prática de um discurso 
oriundo das últimas leituras do pregador, com lições de 
autoajuda e conselhos práticos, desprovidos de base 
escriturística. “Precisamos conhecer os ensinamentos bíblicos e 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
41 
 
nos manter fiéis a eles, bem como conhecer e viver o texto 
bíblico que serve como base para o sermão”. Nenhuma igreja se 
desenvolve com as palavras do pregador: o povo precisa ouvir, 
compreender e viver a Palavra do Senhor. O trabalho expositivo 
é a forma sermônica por excelência. Não é o tamanho do texto 
que torna o sermão expositivo, mas o fato de suas divisões 
principais não apenas procederem desse texto, mas todo o foco 
sermônico dele proceder e fluir harmoniosamente para a sua 
melhor explanação e compreensão. 
Para tanto, o pregador há de se aprofundar em sua 
pesquisa, trabalhando além da perspectiva homilética, a 
pesquisa exegética e hermenêutica da passagem tomada como 
base. 
Exposição bíblica em diferentes formas sermônicas 
Não é apenas no modelo expositivo que encontramos a 
exposição da Palavra. Um bom sermão biográfico é também 
uma excelente forma de exposição bíblica. O pregador, de igual 
modo, pode pregar utilizando um modelo narrativo, onde em 
estrutura mais informal, até mesmo sem tópicos, seguir a 
estrutura do texto. Há também a possibilidade do monólogo 
narrativo: esse é um trabalho onde a pregação e o drama se 
misturam para a apresentação da Palavra;48 podemos dizer, é 
uma mensagem narrativa apresentada na primeira pessoa. Tenho 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
42 
 
visto alguns monólogos alcançando resultados maravilhosos no 
púlpito. E falando sobre diferentes formas sermônicas, não 
podemos nos esquecer do sermão segmentado, onde palavra e 
música se unem para a proclamação da Palavra. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O que mais dizer a respeito da homilética: pregação e 
comunicação? Os dias são difíceis e todos nós sabemos. O 
relativismo religioso enfraquece o púlpito. O crescimento 
numérico tem se tornado mais importante que o 
desenvolvimento espiritual; a quantidade está sufocando a 
qualidade. Raramente se prega sobre o discipulado; sermões 
éticos não são mais pregados. “Pouco se fala na responsabilidade 
de carregarmos a cruz, a ênfase é no trono; as aflições não 
existem; só as bênçãos; e em termos comportamentais tudo 
parece liberado. Precisamos com urgência de uma nova 
Reforma”. A Palavra que transforma e liberta, precisa voltar a 
ser proclamada com entusiasmo e vida. 
Como disciplina teológica, a homilética pertence à 
teologia prática. As disciplinas que mais se aproximam da 
homilética são a hermenêutica e a exegese. 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
43 
 
Enquanto a hermenêutica é a ciência, arte e técnica de 
interpretar corretamente a Palavra de Deus; A exegese é a 
ciência, arte e técnica de expor as ideias bíblicas; A homilética é 
a ciência, arte e técnica de comunicar o evangelho. 
A hermenêutica interpreta um texto bíblico à luz de seu 
contexto; A exegese expõe um texto bíblico à luz da teologia 
bíblica; A homilética comunica um texto bíblico à luz da 
pregação bíblica. Homilética é a ciência cuja arte é a pregação e 
cujo resultado é o sermão. 
A homilética depende amplamente da hermenêutica e da 
exegese. Homilética sem hermenêutica bíblica é trombeta de 
som incerto (1Co 14.8). Homilética sem exegese bíblica é a mera 
comunicação de uma mensagem humanista e morta. 
Em suma, a Homilética é o estudo que ensina o pregador 
da Palavra de Deus a: Ordenar, organizar e expor. De forma: 
Clara e coerente, a mensagem que recebe do Espírito Santo. 
Homilética é: O ato de pregar. Homílias. Falar 
elegantemente na oratória. Arte de falar bem. Para os gregos a 
conversação era chamada de: homilia. Para os romanos era 
chamada de: sermão. 
 
 
 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
44 
 
 
A ARTE DE FALAR EM PÚBLICO 
Como se deu o estudo da arte de falar em 
público na história da humanidade e pelos 
primeiros cristãos? 
Os gregos, inventores da democracia, foram os primeiros 
a se preocuparem com o estudo do falar em público. Um sistema 
de governo democrático exigia um sistema discursivo para 
deliberar sobre os problemas da população. Assim, falar em 
público e convencer os ouvintes passou a ser uma necessidade 
de ascensão social. Para isso foi necessário a preocupação de 
estudar a arte e a técnicas do discurso. 
Homilética como termo designativo com suas técnicas, 
sistematização e adaptação às habilidades humanas, nasceu entre 
os gregos com o nome de retórica. Depois foi adaptada no 
mundo romano com o nome de oratória (sermão), e, finalmente, 
para o mundo religioso com o nome de homilética. 
Foi assim que surgiram os mais famosos homens da 
Grécia antiga, no estudo do discurso: Córax, Sócrates, Platão, 
Demóstenes. Surge então a retórica grega, dividida em: Política, 
forense e demonstrativa. 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
45 
 
Os romanos foram influenciados culturalmente pelos 
gregos e ao se empolgar com a Retórica, logo deram o nome de 
Oratória. Cícero e Quintiliano foram os maiores oradores 
romanos. Mas nunca a usaram para fins religioso, assim como 
os gregos também não. Os romanos estudavam a Eloquência 
através da oratória. 
Ligada a HOMILÉTICA aparecem três termos muitos 
relacionados entre si, mas distintos quanto o significado: 1) 
RETÓRICA, 2) ORATÓRIA, 3) ELOQUÊNCIA Definiremos a 
seguir cada um delas: 
• A Retórica é o estudo teórico das regras que 
desenvolvem e aperfeiçoam o talento natural da Palavra, 
baseando-se na observação e no raciocínio. 
• Oratória é a arte de falar em público de forma: Elegante; 
Precisa; Fluente; Atrativa. Muitos pregadores são até 
estudiosos, pesquisadores, inteligentes e de oração; mas 
falham quanto à elegância e fluência na transmissão da 
mensagem. 
• A Eloquência é a parte que trata da: Propriedade. 
Disposição. Elegância, das palavras. Falar bem atrai a 
atenção dos ouvintes convencendo-os pelo uso da 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
46 
 
linguagem. Portanto, Eloquência significa o ato de se 
falar bem. 
As religiões pagãs e o Judaísmo, por serem exclusivistas, 
quase não se interessaram em aprimorar a arte do discurso. O 
Cristianismo devido ao seu teor evangelístico universal foi a 
religião que mais adotou o discurso em sua liturgia. Na idade 
Média devido a expansão do Catolicismo Romano pelo mundo 
começou-se a desenvolver a homilética que em seguida foi 
aprimorada pelos reformadores. 
A segunda geração de pregadores da igreja preocupou-se 
com a pregação convincente e atraente. Assim, dedicaram-se ao 
estudo de como falar com mais persuasão. 
O PREGADOR: 
Baseando-se em três passagens da vida de Pedro o 
pregador deve ser: 1 – Aquele que esteve com Jesus - Atos 4:13 
2 – Aquele que fala como Jesus – Mateus 26:73 3 – Aquele que 
fala de Jesus – Atos 40:10 
O pregador é um interprete da bíblia, por isto tem que ter 
com ela um compromisso de não violar a sua mensagem. Assim, 
o pregador deve observar não somente o texto mas também o 
contexto. 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
47 
 
O Pregador pode usar alguns métodos como o esboço - 
É o método mais usado entre os pregadores, onde estes anotam 
o sermão o subdividindo em tópicos. Memorização - É talvez o 
método mais antigo, usado por pessoas que são dotadas de uma 
boa memória. Onde o pregador não utiliza o esboço e traz a 
mensagem apenas utilizando sua memória. Improviso - É o 
método onde o pregador fala totalmente de improviso apenas 
levando em conta o sentimento do momento 
O CONTEÚDO DA RETÓRICA E SUA 
POSIÇÃO ATUALMENTE 
O que seestudava na retórica clássica e como essa 
ciência é vista hoje? 
 
A premissa básica da retórica é que todo discurso é feito 
com a intenção de alterar uma situação determinada. Com o 
advento da Estilística, que se tornou um dos principais 
elementos de estudo da estética literária moderna, a Retórica 
tornou- se uma disciplina decadente. 
Alguns estudiosos de hoje começam a propor uma nova 
retórica. Há uma nova geração de crentes desejando mensagem 
genuinamente ungida, conteúdo bíblico e fervor frutífero. O 
estudante de Homilética deve estudar formas para melhorar sua 
pregação, de modo que sua mensagem seja mais frutífera. 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
48 
 
Nesse interim convém trazer a discussão proposta por 
Correia em seu artigo SOLA SCRIPTURA: A TRADIÇÃO 
PURITANA FRENTE A RETÓRICA REFORMADA, para 
visualizarmos como a retórica foi utilizada entre os 
reformadores. 
 
SOLA SCRIPTURA: A TRADIÇÃO PURITANA 
FRENTE A RETÓRICA REFORMADA 
 
Raynara Karenina Veríssimo Correia 
Resumo: Este artigo apresenta um levantamento de 
dados a respeito da retórica no âmbito da Reforma Protestante 
com o intuito de saber como esta veio a ecoar no Puritanismo. 
Para isso, é nossa pretensão investigar como a tradição da 
retórica reformada foi incorporada por meio de personagens 
fundamentais do movimento, como Martinho Lutero (1483-
1546), que oficializou o início do mesmo, e João Calvino (1509-
1564), considerado o maior exegeta da reforma; afetando 
posteriormente o movimento puritano. Do puritanismo, 
destacamos William Perkins (1558-1602), que legou a história 
um dos manuais de homilética mais vendidos na sua época. Este 
estudo servirá de base para entendermos mais claramente como 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
49 
 
essa tradição atravessou séculos e continentes, chegando a 
influenciar Jonathan Edwards (1703-1758), ícone na história 
eclesiástica da América. Com um trabalho desta natureza, será 
possível também abordar a história da hermenêutica e sua 
vinculação com a retórica, abrindo caminhos para futuras 
análises concernentes a sermonística puritana. Palavras-chave: 
Retórica. Reforma Protestante. Puritanismo. Sermões. 
 
RENASCIMENTO E REFORMA: AS CONTRIBUIÇÕES DE 
MARTINHO LUTERO E JOÃO CALVINO 
O movimento reformado teve em seu centro indivíduos 
como Martinho Lutero (1483-1546), Ulrico Zuínglio221 (1484-
1531) e João Calvino (1509-1564), e por objetivo as reformas 
moral, teológica e institucional da igreja cristã. 
Segundo McGrath (2010) e González (2011), esse 
movimento era complexo e heterogêneo e seu projeto não dizia 
respeito apenas a uma reforma doutrinária da igreja, mas 
balizava também fundamentos de ordem social, política e 
econômica. A força que essas características impunham ao 
movimento fez com que os impactos da Reforma ultrapassassem 
o cenário da Alemanha, se estendendo a diversos países do 
mundo. Formalmente, a Reforma Protestante ocorreu entre os 
anos de 1517 e 1555, porém, como avalia Randell (1955), não 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
50 
 
seria adequado afirmar que um evento de tamanha vastidão 
tenha tido início e fim em datas específicas. 
Embora a Reforma e o Renascimento tenham coincidido 
historicamente e sejam fundamentados em questões básicas de 
ordem similar, as respostas a tais questionamentos divergiram 
em tudo. Como explica Breen (1931), isto se deu porque por um 
lado, os humanistas partiam de pressupostos seculares para as 
suas questões, enquanto o protestantismo abordava uma 
perspectiva religiosa. 
Uma vez que a razão havia tomado o lugar da Revelação 
de Deus nas Escrituras, os reformadores se ocuparam em 
enfatizar o estudo da Palavra. Assim, na Reforma, a importância 
do homem deixou de ser em torno de si mesmo, voltando-se para 
o fato deste ter sido criado à imagem e semelhança de Deus, o 
que propiciou o surgimento de um novo referencial 
hermenêutico que afetara toda a estrutura do movimento cristão, 
a Reforma Protestante foi, em muitos sentidos, um movimento 
hermenêutico. Representa um momento crucial na história da 
interpretação cristã das Escrituras. O domínio de séculos de 
interpretação alegórica é finalmente quebrado. 
O retorno aos princípios de interpretação defendidos pela 
escola de Antioquia marca a pregação, o ensino e os princípios 
dos reformadores. A questão da hermenêutica deslocou-se então 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
51 
 
da autoridade da igreja para a compreensão pessoal das 
Escrituras. Popkin (2000, p.26), no entanto, explica que, a 
princípio, o embate de Lutero se deu dentro da própria tradição 
da igreja. Somente posteriormente ele deu um passo crítico que 
foi negar a regra de fé da Igreja, apresentando um critério de 
conhecimento religioso totalmente diferente. Foi neste período 
que ele deixou de ser apenas mais um reformador atacando os 
abusos e a corrupção de uma burocracia decadente, para tornar-
se o líder de uma visão pelagiana de Erasmo, o que fez com que 
abandonasse suas concepções. Foi a partir daí que começou a 
defender a crença acerca da total depravação do homem e que 
este só teria salvação se fosse transformado por Cristo. 
(OLSON,2001, p.409). 
A princípio, Lutero basicamente seguia a tradição 
medieval e agostiniana de estudo da Sagrada Escritura. Segundo 
Virkler (1998, p. 46), Agostinho influenciou o período medieval 
com sua crença de que a Escritura possuía um caráter quádruplo 
- histórico, etiológico, analógico e alegórico: A letra mostra-nos 
o que Deus e nossos pais fizeram; A alegoria mostra-nos onde 
está oculta a nossa fé; O significado moral dá-nos as regras 
ocultas da vida diária A anagogia mostra-nos aonde termina a 
nossa luta. 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
52 
 
Esse método possibilita uma série de interpretações, das 
mais variadas e fantasiosas possíveis, desviando a atenção do 
leitor ao que o texto está de fato querendo comunicar. Só 
posteriormente Lutero passou a rejeitar esse tipo de 
interpretação, a gramática e o contexto dominante na tradição 
católica, bem como os comentários escolásticos. Ele começou a 
considerar que, para ser um bom intérprete, deve-se levar em 
conta durante a exegese as condições históricas, e por isso, 
passou a priorizar o método histórico-gramatical e enfatizou um 
retorno aos pais da igreja (FERREIRA, 2014). 
Lutero deixou de lado os comentários alegóricos de 
Agostinho e passou a se debruçar exclusivamente à sua teologia 
e aos vários princípios que ele sistematizou a respeito de uma 
exegese livre de especulações e extravagâncias interpretativas. 
“Para reformar a igreja, era necessário obter uma forma mais 
pura de doutrina, e esta podia ser encontrada nos pais da igreja” 
(MCGRATH, 2014, p. 77). Tal retorno revela uma das afinidades 
entre Lutero e o humanismo. McGrath (2014) elenca outras três 
dessas afinidades, a saber: 1- Rejeição ao escolasticismo. Os 
humanistas exigiam uma teologia mais simples, ao passo que 
Lutero exigia uma reforma da doutrina. 
O desejo de voltar às Escrituras. 
HOMILÉTICA E RETÓRICA 
53 
 
Para os humanistas a Bíblia merecia respeito por sua 
simplicidade e antiguidade. Para Lutero, o respeito consistia no 
fato de ele crer que através dela o teólogo tinha contato com a 
Palavra de Deus. 
O interesse retórico. 
Enquanto os humanistas tendiam a ver na eloquência um 
fim em si mesmo, os reformadores reconheceram a força desta 
ferramenta para um fim maior, a disseminação da Palavra de 
Deus. Isto posto, foi categorizado um dos pilares da reforma 
protestante: o Sola Scriptura, princípio segundo o qual a Bíblia 
tem absoluta primazia sobre toda e qualquer questão relacionada 
à fé e prática de vida cristã. Como explicam Lopes (2004) e 
McGrath (2014), embora os humanistas tivessem a ideia de 
retornar às Escrituras em seus estudos, não se tratava de um 
sentido inclusivo, ou seja, outras fontes antigas poderiam ser 
consideradas autoritárias em algum sentidopositivo do termo. 
Sola Scriptura para os humanistas significava “não sem 
as escrituras”. Para os reformadores, a expressão significava 
“através das Escrituras e apenas através das Escrituras”, de 
modo exclusivo. O cenário instaurado inaugurava, portanto, um 
novo método hermenêutico e consequentemente retórico que 
estava a descortinar os nuances da teologia recém apresentada 
em Wittenberg, opondo-se ao método dialético que representou 
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a teologia da baixa idade média. Com a pregação, os 
reformadores tinham o intuito de capacitar a mente, tocar as 
emoções e motivar os desejos, de modo que seu objetivo 
principal era alcançar e converter o coração, considerado o 
próprio núcleo do ser humano. 
Em uma de suas obras, Lutero enfatiza que na pregação 
deve-se “estimular os pecadores a sentirem seus pecados e 
despertar neles o desejo pelo tesouro do evangelho”. Em outro 
escrito, ele lastima veementemente o fato de que não poucos 
pregam a Cristo meramente com a intenção de comover os 
sentimentos humanos ao invés de comunicar a fé cristã. Lutero 
entendia a pregação como um trabalho nobilíssimo, que sendo 
um meio de salvação, não se tratava apenas de uma atividade 
humana, mas da palavra de Deus proclamada. Isso, porém, não 
significava que Lutero rejeitava o uso de recursos retóricos no 
discurso. Pelo contrário, tal como Cícero, ele tinha consciência 
dos usos abusivos da retórica, mas isso não o impedia de 
enxergar o lado positivo da mesma. A questão era que, no que 
dizia respeito à pregação das Escrituras, nenhum artifício 
retórico deveria encobrir ou ultrapassar o sentido original do 
texto. Segundo Lopes (2004, p.48), “Lutero cria que a Palavra 
de Deus se manifesta de três maneiras: Deus Filho (a Palavra 
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55 
 
encarnada), a Bíblia (a Palavra escrita) e a pregação (a palavra 
proclamada). 
Em vista da relação íntima entre o Filho e a Bíblia, 
Lutero acreditava que todo o propósito da Escritura era revelar 
a Cristo.” Nesse sentido, enquanto expositor, ele partia do 
princípio que o texto devia controlar o sermão, e não o contrário. 
Ou seja, não é a igreja que deve determinar o que as Escrituras 
têm a dizer, mas as Escrituras que devem guiar a igreja. Para 
isso, Lutero recorreu a dois princípios fundamentais, sendo o 
primeiro scriptura scripturae interpres (A Escritura é intérprete 
da Escritura) e o segundo, Omnis intellectus ac expositio 
Scripturae sit analogia fidei (toda compreensão e exposição da 
Escritura seja de acordo com a analogia da fé) 
(MCGRATH,2014). 
Em concordância com o pensamento luterano quanto ao 
propósito da pregação, João Calvino, a principal figura do 
segundo período da Reforma, afirmou (1847, vol.2, p.22226): “a 
palavra de Deus é pregada com o propósito de nos iluminar com 
o verdadeiro conhecimento de Deus, nos converter e nos 
reconciliar com Ele, para que possamos ser felizes e 
abençoados.” Em função disso, Calvino dedicou a sua 
preparação acadêmica, incluindo o conhecimento dos escritos 
dos pais latinos e da filosofia grega, além do domínio das línguas 
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56 
 
originais bíblicas (FERREIRA, 2014; GONZÁLEZ, 2011, 
LOPES, 2004) à Igreja, legando a esta um conjunto de obras que 
passaram a nortear os princípios da fé reformada. 
Segundo González (2011, p.64) ele é “sem dúvida, o 
mais importante sistematizador da teologia protestante do século 
XVI.” Para Calvino, as Escrituras nos oferecem um escopo para 
nossos pensamentos e ações. Por meio dela, somos capacitados 
a ter uma visão mais adequada acerca de Deus, do mundo e de 
nós mesmos, o que de outro modo seria impossível. Ele enuncia 
figurativamente. 
Exatamente como se dá com pessoas idosas, ou enfermas 
de olhos, e quantos quer que sofram de visão embaçada, se 
puseres diante deles até mui vistoso volume, ainda que 
reconheçam ser algo escrito, mal poderão, contudo, ajuntar duas 
palavras; ajudadas, porém, pela interposição de lentes, 
começarão a ler de forma mais distinta. 
Assim a Escritura, coletando-nos na mente 
conhecimento de Deus de outra sorte confuso, dissipada a 
escuridão, mostra-nos em diáfana clareza o Deus verdadeiro. 
Calvino cria uma relação metafórica com as Escrituras: A 
Palavra é lente. Ela auxilia o homem a adquirir uma 
compreensão clara das coisas divinas. O discurso afeta todos os 
sentidos do ser humano, a princípio “enfermo” e por isso incapaz 
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de distinguir sozinho a natureza do verdadeiro evangelho, 
levando-o a ver quem Deus é. Embora possa ter uma noção de 
Deus apreendida a partir da observação da natureza, por 
exemplo, somente com o estudo bíblico o homem pode vir a 
conhece-lo em sua essência, a enxergálo com clareza, com olhos 
e intelecto “curados”. 
Numa perspectiva calvinista, Deus só se revela através 
da sua Palavra e é somente quando se conhece o seu Criador que 
se pode conhecer a si mesmo. Podemos perceber assim que o 
tipo de humanismo que Calvino contemplava em seus escritos 
consistia no fato, considerado sublime, do homem ser criatura 
de um Deus supremo, digno de ser adorado e glorificado. Esta 
ideia é expressa na sua principal obra, As Institutas da Religião 
Cristã: O primeiro livro, tratava do Deus criador e de sua 
soberania em relação àquilo que havia criado. 
O segundo livro, trata da necessidade de salvação do ser 
humano e de como alcançar essa redenção por meio de Cristo, o 
mediador. O terceiro livro, trata da maneira pela qual o ser 
humano se apropria dessa redenção, enquanto o último livro 
trata da igreja e de seu relacionamento com a sociedade 
(MCGRATH, 2010, p.103). Considerado o maior exegeta da 
Reforma, influenciando a igreja cristã até os dias atuais como 
um guia à fé evangélica, o pressuposto interpretativo de Calvino 
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parte da ideia de que a Escritura é a Palavra de Deus inspirada e 
inerrante, revelada à humanidade e se confirma ao crente através 
do Espírito Santo. Em suas próprias palavras (1998, p. 262): Eis 
aqui o princípio que distingue nossa religião de todas as demais, 
ou seja: sabemos que Deus nos falou e estamos plenamente 
convencidos de que os profetas não falaram de si próprios, mas 
que, como órgãos do Espírito Santo, pronunciaram somente 
aquilo para o qual foram do céu comissionados a declarar. 
Todos quantos desejam beneficiar-se das Escrituras 
devem antes aceitar isto como um princípio estabelecido, a 
saber: que a lei e os profetas não são ensinos passados adiante 
ao bel-prazer dos homens ou produzidos pelas mentes humanas 
como uma fonte, senão que foram ditados pelo Espírito Santo. 
[...] Devemos à Escritura a mesma reverência devida a Deus, já 
que ela tem nEle sua única fonte, e não existe nenhuma origem 
humana misturada nela. 
Levando em consideração a figura de Deus como ser 
perfeito e, como consequência, sua confiabilidade enquanto 
orador, a inerrância e a inspiração de sua Palavra podem ser 
consideradas elementos seguros e fundamentais para elevar os 
textos bíblicos a um patamar superior à autoridade da Igreja e à 
tradição. “Enquanto Lutero foi o espírito fogoso e propulsor do 
novo movimento, Calvino foi o pensador cuidadoso que forjou, 
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das diversas doutrinas protestantes, um todo coerente.” 
(GONZÁLEZ, 2011, p. 64). Podemos afirmar que o método 
hermenêutico de Calvino era, antes de qualquer coisa, 
essencialmente bíblico. Ele se dedicou à exegese gramatical 
quando o método alegórico ainda era a abordagem predominante 
no período. Em sua dedicatória a Grynaeus no Comentário de 
Romanos, o primeiro que escreveu, nota-se a sua preocupação 
em fugir da prática comum, que tendia a transpor o significado 
original do texto. Preocupação que anos depois se consagraria 
em seu próprio método exegético: Ambos [Calvino e Grynaeus] 
sentíamos que a lúcida brevidade

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