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Teoria de Melanie Klein

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Teoria de Melanie Klein
Clínica com crianças – 2013 – prof.ª Eliane de Augustinis
E-mail – augustinispsi@hotmail.com
O significado do brincar
Melanie intuiu que o brincar poderia ser uma expressão final de processos inconscientes, cujo mecanismo seria semelhante ao dos sonhos. Freud já tinha desvendado que os sintomas obedecem a processos inconscientes semelhantes aos da formação dos sonhos. Assim, a brincadeira revelaria processos psíquicos da criança pequena.
Como Melanie captava o significado do brincar?
Peter, 3 anos e 9 meses, muito apegado à mãe, tímido, que se mostrava às vezes agressivo e autoritário com outras crianças, principalmente com o irmãozinho. 
“Desde o começo da primeira sessão, Peter pegou carruagens e autos, colocando uns atrás dos outros, depois lado a lado, alternando várias vezes essas duas formas de arranjá-las. Em seguida, pegou uma carruagem com um cavalo, que fez entrar em colisão com uma outra, de modo que os cavalos feriram as patas, e ele disse: ‘Eu tenho um irmãozinho que se chama Fritz’. Eu perguntei o que faziam as carruagens. ‘Não é bonito’, respondeu ele, e cessou essa manobra, mas retomou-a em seguida. Ele bateu então dois cavalos, um contra o outro, da mesma forma anterior. Eu lhe disse: ‘Os cavalos são duas pessoas batendo uma na outra’. (Klein, 1932, p. 29)
‘Quando a criança coloca as carruagens e cavalos lado a lado, e depois um atrás do outro e volta a repetir o arranjo, ela está como que a construir um cenário, como na cena do sonho. É equivalente ao estabelecido para seguir a regra da ‘associação livre’ da análise do adulto. O analista acompanha o brincar com a mesma ‘atenção flutuante’, isto é, não faz críticas, não deixa os desejos nem as teorias influenciarem na observação dos acontecimentos. Mantém seu inconsciente livre para captar as mensagens do inconsciente da criança, até que estas interações comecem a brotar na consciência do analista sob a forma de conjecturas. Se o analista sabe esperar, surgem os acontecimentos expressivos de conflitos inconscientes’. (Rappaport, Temas básicos da psicologia v.17, p.9)
No caso, Peter bate um cavalo da carruagem contra outro. Menciona que os cavalos se feriram. O analista capta uma manifestação de agressividade de um ser contra outro, seguida de ferimento. Poderia conjecturar uma briga, por algum motivo. Mas então Peter diz: “Eu tenho um irmãozinho que se chama Fritz”. Para um observador comum poderia ser um comentário casual, mas considerando o determinismo psíquico, cada ação tem conexão com a precedente mesmo que o analista não entenda o nexo, mas ele existe. Então Melanie entende que os cavalos batem e aparece o irmão, talvez então o bater dos cavalos seja a forma que, na fantasia da criança, representa o ato que sexual, o nascimento do irmãozinho e assim por diante. Quando o analista já tem uma hipótese interpretativa, pode fazer uma intervenção preliminar para reforçar a hipótese. Diante desse complexo angustiante Peter para de brincar. A brincadeira se repete e Peter bate os dois cavalos um contra o outro. Melanie interpreta: ‘os cavalos são duas pessoas batendo uma contra a outra”. A interpretação tem no momento a intenção de traduzir um simbolismo do inconsciente: animais representam pessoas. E também prepara a mente para novas interpretações desse inconsciente dinâmico e conflitivo.
“ Peter começa dizendo que não é bonito, depois concorda: ‘Sim, são duas pessoas se chocando’ e acrescenta: ‘Os cavalos também se chocam e agora vão dormir’. Depois de cobri-los com cubos, conclui: “Agora eles estão bem mortos; eu os enterrei”. (Klein, 1932, p. 29).
Interessa aqui, apenas, dar uma noção de como, através do brincar, da verbalização da criança e de interpretações cautelosas, respeitando as resistências da criança, é possível ir progressivamente tornando consciente o que estava inconsciente. Considera-se o brincar equivalente ao conteúdo manifesto do sonho que, após interpretado, revela o significado oculto, o conteúdo latente do sonho. A interpretação é instrumento da análise mas existe muita controvérsia a respeito de como e quando interpretar, apresentamos aqui, o modo visto por Melanie Klein.
A técnica do brincar e os estágios iniciais da infância
Como Melanie explica no artigo “Nosso mundo adulto e suas raízes na infância” (1959), a técnica do brincar lhe permitiu elaborar teoricamente, a partir das descobertas de Freud sobre o infantil, situações arcaicas do psiquismo humano. 
Os sinais de dificuldades do bebê como raiva, falta de interesse pelo ambiente, incapacidade de suportar frustrações e expressões de tristeza, não encontravam antes de Freud, segundo Melanie, qualquer explicação psíquica, a não ser explicações físicas. Isso porque se considerava a infância um período de felicidade de modo a não se levar a sério as perturbações apresentadas pelas crianças. Assim, cria conceitos para explicar suas hipóteses. Vamos considerar algumas delas:
Ansiedade persecutória
O bebê vivencia o que Melanie chamou de ansiedade persecutória pelo fato dele não ser capaz de entender o desconforto de modo intelectual, então sente inconscientemente como se forças hostis tivessem fazendo mal a ele. 
Caso o conforto seja oferecido prontamente, em especial de modo amoroso de segurá-lo e gratificá-lo amamentando, isso dará origem a emoções mais felizes. O conforto é sentido como vindo de forças boas, tornando possível a primeira relação de amor do bebê com uma pessoa, como uma psicanalista diria, um objeto. 
O bebê teria um conhecimento inconsciente inato da existência da mãe como os animais que imediatamente se voltam para a mãe para obter o alimento. Mas o bebê não espera da mãe apenas o alimento, mas deseja amor e compreensão. Assim, cria-se um sentimento de união mãe-bebê de modo que o bebê sente-se compreendido.
Ao mesmo tempo a frustração, o desconforto e a dor, também entram nos seus sentimentos para com sua mãe, porque nos primeiros meses de vida ela representa para o bebê todo o mundo externo.
Assim, tanto o que é bom quanto o que é mau vêm à sua mente como vindo da mãe, o que leva a uma dupla atitude em relação à mãe mesmo sob as melhores condições.
A luta entre amor e ódio
Tanto a capacidade de amar quanto o sentimento de perseguição têm raízes profundas nos processos mentais mais arcaicos do bebê. Eles são focalizados primeiramente na mãe.
O quê desperta a ansiedade persecutória do bebê?
	Os impulsos destrutivos (ressentimento devido à frustração, incapacidade de reconciliar-se com a mãe que é o objeto todo-poderoso do bebê e o ódio provocado por ela). Isso porque essa agressão dirigida à mãe dá origem ao sentimento de que essa pessoa também se tornará hostil e retaliadora.
	Mais tais impulsos destrutivos variam de bebê para bebê?
	Variam. São parte integrante da vida mental mesmo em situações favoráveis mas são resultantes da interação entre influências internas e externas. A luta entre amor e ódio é percebido pela observação. Alguns bebês vivenciam um intenso ressentimento frente a qualquer frustração e o demonstram sendo incapazes de aceitar gratificação quando esta se segue à privação. Em outros bebês essa agressividade e raiva cessam logo.
Introjeção e projeção
Freud e Abraham descobriram a introjeção e a projeção a partir dos enfermos maníaco-depressivos. A introjeção fundamenta o superego. 
Mas Melanie propõe que a introjeção e projeção iniciam desde o nascimento como atividades do ego (parte organizada do self e mantém a relação com o mundo externo). Assim, o impacto que o bebê recebe do mundo externo não são vivenciados apenas como externos, mas levados para dentro do self (conceito utilizado para abranger a personalidade, o que inclui o ego e a vida pulsional, o id).
Introjeção – significa que o mundo externo passam a fazer parte da vida interior, do self do bebê.
Projeção – capacidade da criança de atribuir a outras pessoas sentimentos como o amor e o ódio.
Projeção
O caráter da projeção é, de grande importância pois somos inclinados a atribuir a outras pessoas – em certo sentidocolocar dentro delas – algumas de nossas próprias emoções e pensamentos, e é óbvio que a natureza amistosa ou hostil dessa projeção dependerá de quão equilibrados ou perseguidos estejamos. Se o interjogo entre introjeção e projeção não for dominado por hostilidade ou dependência excessiva e for em equilibrado, o mundo interno se torna enriquecido e melhoram as relações com o mundo externo.
Mãe – objeto bom e mau
O amor e o ódio dirigidos para a mãe estão ligados à capacidade do bebê projetar as suas emoções sobre ela, convertendo-a em objeto bom, assim como em objeto perigoso. 
Esses processos de projeção e introjeção são considerados como fantasias inconscientes, pois a fantasia é o representante psíquico da pulsão.Uma fantasia representa o conteúdo particular das necessidades ou sentimentos que dominam a mente no momento.
Assim, o bebê faminto pode lidar com sua fome alucinando a satisfação de lhe ser dado o seio, com todos os prazeres que teria, tais como o gosto do leite, o calor do seio e ser segurado e amado pela mãe. Mas a fantasia inconsciente também toma a forma oposta de sentir-se privado e perseguido pelo seio que se recusa a dar essa satisfação.
A mãe como objeto bom
Se a mãe é assimilada ao mundo interno da criança como um objeto bom do qual ela pode depender, um elemento de força é agregado ao ego pois o ego irá se desenvolver em torno desse objeto bom com o qual o bebê vai se identificar.
No entanto, por melhor que seja boa a relação da criança com os pais, a agressividade e o ódio também se mantêm em atividade. Uma expressão disso é a rivalidade com o pai resultante dos desejos edipianos que são claros em crianças de 3 anos, mas que segundo Melanie Klein suspeita o complexo de Édipo já está enraizado nas primeiras suspeitas do bebê de que o pai tira dele o amor e a atenção da mãe.
O caso Ruth
Para ilustrar a cisão entre a mãe boa e a mãe hostil vejamos o caso de Melanie Klein de Ruth, uma menina de 4 anos e 3 meses. Como esta se recusara terminantemente a ficar só com Klein na primeira sessão, resolveu começar com a presença da irmã, vinte anos mais velha, já analisada. (Klein não recomenda essa prática a não ser como último recurso). A esperança de Klein era obter uma transferência positiva para ficar a sós com a paciente. Seus esforços foram infrutíferos. A menina ignorava solenemente a presença e a fala da analista e só prestava atenção à sua irmã. Um dia a menina desenhou um copo de vidro contendo bolinhas e fechado por uma tampa. Após Klein ter perguntado em vão para que servia a tampa, a irmã recolocou a pergunta e a menina respondeu: “Para impedir as bolinhas de saírem para fora”. (antes a menina havia aberto a bolsa da irmã, tirado o porta-moedas, e fechado tudo de novo “para que saísse”). As sessões precedentes já permitiam inferir o significado desse material, então Klein arriscou explicar-lhe que: “As bolinhas do copo, as moedas do porta-moedas, o conteúdo da bolsa, tudo isso representava bebês no ventre de sua mãe e que ela queria mantê-los ali fechados a fim de não ter mais irmãos e irmãs”. 
O efeito da interpretação fez Ruth dar atenção pela primeira vez à analista e começou a jogar sem constrangimento. Melanie sabia que Ruth apresentara “pavor noturno” aos dois anos de idade, quando sua mãe engravidara. Segundo sua teoria, o desejo de Ruth era o de roubar da mãe o bebê e matar a mãe. Por culpa, ficou muito fixada à mãe, que se tornou a mãe “boa”. A irmã mais velha ficou sendo a substituta dessa “boa” mãe, enquanto Klein ficou sendo, na transferência (negativa), a representante da mãe “malvada”, que queria se vingar da filha ladra e assassina. Daí, o pavor da menina de ficar a sós com a analista. 
A ansiedade persecutória recorça a necessidade de cindir o amor e o ódio. Pois a autopreservação do bebezinho depende da sua confiança em uma mãe boa. Através da cisão de dois aspectos e de agarrar-se ao bom, ele preserva sua crença em um objeto bom e em sua capacidade de amá-lo, sendo esta uma condição essencial para manter-se vivo.
Posição esquizo-paranóide
	“A meu ver, os impulsos destrutivos onipotentes, a ansiedade persecutória e a cisão predominam nos primeiros três ou quatro meses de vida. Descrevi essa combinação de mecanismos e ansiedades como sendo a posição esquizo-paranóide, que em casos extremos torna-se a base da paranóia e da doença esquizofrênica”.
A voracidade do bebê
Os sentimentos destrutivos são de grande importância nesse estágio inicial. A voracidade varia de um bebê para outro. Há bebês que nunca podem estar satisfeitos porque sua voracidade excede tudo o que possam receber. Junto com a voracidade vem a necessidade premente de esvaziar o seio da mãe e explorar todas as fontes de satisfação sem consideração por ninguém. Não há dúvida de que a voracidade é incrementada pela ansiedade – a ansiedade de ser privado, roubado e de não ser suficientemente bom para ser amado. O bebê que é tão voraz por amor e atenção é também inseguro sobre sua própria capacidade de amar, e todas essas ansiedades reforçam sua voracidade.
No desenvolvimento normal
Com a integração crescente do ego, os processos de cisão diminuem e a maior capacidade para entender a realidade externa e para, em alguma medida, conciliar os impulsos contraditórios do bebê leva também a uma síntese maior dos aspectos bons e maus do objeto. Isso significa que pessoas podem ser amadas apesar de suas falhas e que o mundo não é visto apenas em termos de preto e branco.
Posição depressiva
O superego – a parte do ego que critica e controla os impulsos perigosos e que Freud primeiro situou aproximadamente no quinto ano de vida – opera, segundo Melanie Klein, muito mais cedo. Sua hipótese é de que entre o quinto e sexto mês de vida, o bebê começa
a temer pelo estrago que seus impulsos destrutivos e sua voracidade podem causar, ou podem ter causado aos objetos amados. Ele vivencia sentimentos de culpa e necessidade de reparar os danos causados. A ansiedade é agora vivenciada de natureza depressiva. A criança pode querer agradar e ser prestativo, e tudo não apenas por amor mas também por necessidade de reparar.
A criança esquizofrênica
Dick, diagnosticado como psicótico do tipo esquizofrênico de 4 anos possuía desenvolvimento intelectual comparado ao de uma criança de 15 ou 18 meses. Tinha poucas reações emocionais e adaptação à realidade quase ausente. Não apresentava reações de angústia a não ser raramente. Geralmente emitia sons sem sentido e repetia ruídos constantes (estereotipia). Quando falava usava vocabulário pobre e incorreto. Klein supunha que ele não queria se fazer entender. Com a mãe fazia às vezes o oposto do que era esperado. Repetia uma palavra mecanicamente, inúmeras vezes, até enjoar o interlocutor. Diferente da criança neurótica, a oposição de Dick era feita sem afeto e entendimento. Quando se machucava, apresentava insensibilidade à dor e não demonstrava desejo de ser confortado e acariciado. 
A criança esquizofrênica
Dick, diagnosticado como psicótico do tipo esquizofrênico de 4 anos possuía desenvolvimento intelectual comparado ao de uma criança de 15 ou 18 meses. Tinha poucas reações emocionais e adaptação à realidade quase ausente. Não apresentava reações de angústia a não ser raramente. Geralmente emitia sons sem sentido e repetia ruídos constantes (estereotipia). Quando falava usava vocabulário pobre e incorreto. Klein supunha que ele não queria se fazer entender. Com a mãe fazia às vezes o oposto do que era esperado. Repetia uma palavra mecanicamente, inúmeras vezes, até enjoar o interlocutor. Diferente da criança neurótica, a oposição de Dick era feita sem afeto e entendimento. Quando se machucava, apresentava insensibilidade à dor e não demonstrava desejo de ser confortado e acariciado. 
As sessões
Na primeira sessão separou-se da pajem sem manifestar emoção. Seguiu Klein com indiferença. Na sala de consulta corria em qualquer direção sem sentido. Às vezes corria em torno de Melanie, mas sem interesse, como se ela fosse parte do mobiliário.Dick olho os brinquedos seminteresse. Como o menino tinha escassa capacidade de representação simbólica ela pegou um trem grande e colocou ao lado de um trem menor e chamou o trem grande de trem papai e o trem pequeno de trem Dick. Em seguida ele pegou o trem menor e disse ‘Dick’ e fez andar em direção à janela e disse “estação”. A analista explicou que a estação era a mamãe e ele estava entrando na mamãe. Ele deixou o trem, correu no espaço entre as portas de fora e fechou-se no espaço entre essas duas portas, dizendo ‘escuro’ e correu para fora outra vez. Ele fez isso várias vezes. Klein perguntou se era escuro dentro da mamãe. Dick disse estar dentro da mamãe escura. Ele disse duas vezes: “babá?” a analista respondeu que a babá já vinha e ele repetiu essa frase corretamente várias vezes “a babá já vem”. 
Terceira sessão
Dick viu um vagão contendo blocos pretos e disse “corta”, a analista cortou. Dick pegou o vagão e os blocos jogando-os na caixa e disse: “foi”. Ele correu para o espaço entre as portas arranhando-as com as unhas. Ele estava identificando aquele espaço com o vagão e o corpo da mãe que ele estava atacando. Na sessão seguinte chorou ao se separa da babá. Entrou na sala e se deparou com o vagão atacado. A analista disse que representava a mamãe. Ele arremessava o vagão fora da sala defendendo-se da angústia pelo ataque aos pertences da mãe. Acalmou-se ao não ser atacado pela analista. Ao avançar a análise na fantasia de Dick o interior da mãe possuía perigo. 
24
AS SESSÕES SEGUINTES
O QUE ERA IMPORTANTE PARA DICK? A ANALISTA ESTAVA SEMPRE LÁ, MARCANDO SUA PRESENÇA. ELE PODIA BRINCAR DE COMER E DE DESTRUIR OS OBJETOS SEM QUE ISSO FOSSE MUITO PERIGOSO.
PÔDE BRINCAR COM UM BONECO QUE REPRESENTAVA SEU PAI. PÔ-LO NA BOCA, MALTRATAR O BONECO, COLOCÁ-LO NOS BRAÇOS DA ANALISTA, COMO SE COM ISSO ELE PUDESSE RESTAURAR SUA RELAÇÃO DE AGRESSIVIDADE COM O PAI.
A PARTIR DESSAS BRINCADEIRAS ELE PÔDE COMEÇAR A SENTIR PENA DA ANALISTA, SE INTERESSAR POR ELA. EM CERTA OCASIÃO FALOU: “COITADA DA SRA. KLEIN!”
OS BRINQUEDOS SERVIAM PARA QUE ELE PESQUISASSE COMO FUNCIONAVAM, PARA DESTRUÍ-LOS, INQUITAR-SE, PO-LOS DE LADO, FICAR COM MEDO E IR BUSCAR NOVAMENTE...
PASSOU A QUERER SABER O NOME DAS PARTES QUE COMPUNHAM OS OBJETOS, BEM COMO UM INTERESSE MAIOR PELAS PESSOAS.
EVOLUÇÃO DO CASO DICK
APÓS 6 MESES DE ANÁLISE DIÁRIA O MENINO JÁ FALAVA E PASSOU A TER UMA RELAÇÃO AFETIVA COM OS PAIS. 
FICOU EM ANÁLISE DURANTE DOIS ANOS E DEPOIS FOI PARA OUTRO ANALISTA. TORNOU-SE UM HOMEM SIMPÁTICO E MEIO INFANTIL. ARRANJOU UM EMPREGO.
O SADISMO MÁXIMO
COMO ELA ESTAVA TRABALHANDO A QUESTÃO DO SADISMO NA PRIMEIRA INFÂNCIA, PERCEBEU QUE AS PULSÕES DESTRUTIVAS ESTÃO PRESENTES NO JOGO DO BEBÊ, QUE SERIA UM “GRANDE SÁDICO” OU UM “GRANDE ASSASSINO” EM SUAS FANTASIAS. ISSO FREUD JÁ HAVIA TEORIZADO SOBRE O GRAU DE DESTRUTIVIDADE NA FANTASIA DA CRIANÇA. PARA ELA NO DESMAME JÁ HÁ UM ALTO GRAU DE SADISMO COM DESEJOS DE DEVORAR O SEIO MATERNO COMO CONSEQUÊNCIA DA FRUSTRAÇÃO QUE A CRIANÇA COMEÇA A TER QUE LIDAR QUANDO A MÃE NÃO O ATENDE.
PULSÕES ORAIS AGRESSIVAS – FANTASIAS DE MORDER, DEVORAR O SEIO.
PULSÕES SÁDICAS ANAIS – TOMAR, ATACAR, DESTRUIR O SEIO MATERNO.
PULSÕES SÁDICO URETRAIS – É O APOGEU DO SADISMO ONDE TODAS AS PULSÕES SE CONCENTRAM EM TORNO DO SADISMO. OS ATAQUES DIRIGIDOS AO SEIO DA MÃE PASSA A SER DIRIGIDO CONTRA O VENTRE MATERNO E SEUS CONTEÚDOS, QUE PASSAM A CONSTITUIR O OBJETO DO SADISMO MÁXIMO. ESSE CONTEÚDO DO VENTRE CONJUA O PAI INTEIRO, SEGUNDO A FANTASIA DO COITO PARENTAL NA QULA O PAI É INCORPORADO PELA MÃE. 
CRÍTICA DE LACAN À TEORIA DE MELANIE KLEIN 
Desde projeto para uma psicologia científica (1895), Freud postulou, a partir da primeira experiência de satisfação, a noção do objeto enquanto perdido. Afirmou que o objeto na psicanálise só poderia ser pensado a partir de sua representação na fantasia. Assim, é na busca de encontro com esse primeiro Outro, encontro sempre perdido, que se instala esse traço mnêmico que nunca alcança a presença desejada. Portanto, o encontro com o objeto é, na realidade, um encontro, é a busca por um objeto perdido.
O ser humano buscará, no decorrer de sua vida, um substituto para esse objeto perdido. Ao confundir o objeto materno com o objeto perdido, os analistas Kleinianos acabaram desembocando numa concepção desenvolvimentista e normativizante da subjetividade. Assim, os analistas kleinianos confundiram o objeto radicalmente perdido, origem da falta estruturante do sujeito, com a mãe, objeto ao qual o sujeito deverá renunciar em sua história edípica particular. Mas Lacan aproveitou a ideia de Klein sobre as fantasias precoces e é a partir daí que Lacan, rompendo com a concepção evolucionista dos estádios libidinais, promove uma análise estrutural desses estádios, incluindo na fase pré-genital os efeitos da significação fálica, e propõe uma nova versão do complexo de Édipo, levando em conta os desenvolvimentos teóricos do Édipo precoce da teoria kleiniana.
QUAL O DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL NO CASO DE DICK?
DICK PODERIA SER ENQUADRADO EM UMA PSICOSE BASTANTE PRIMÁRIA. O AUTISMO SERIA UMA POSSIBILIDADE. PORTANTO, KLEIN EM UMA DIREÇÃO DE CURA, PRODUZ MUITAS INTERPRETAÇÕES AO MENINO. 
DIANTE DESSA PROPOSTA DE DIREÇÃO DA CURA COM AUTISTAS, UMA QUESTÃO SE IMPÕE. SABEMOS QUE NO AUTISMO O OUTRO NÃO É SIMBOLIZADO. OU SEJA, COM O AUTISMO, NÓS LIDAMOS COM UM OUTRO SEM LEI, UM OUTRO INTRUSIVO QUE SE APODERA DO "SUJEITO", FAZENDO DELE OBJETO DE GOZO. ASSIM, OS SIGNOS DA PRESENÇA DO OUTRO, INCLUINDO A FALA, SÃO TOMADOS COMO INTRUSIVOS, O QUE FAZ ESSAS CRIANÇAS EVITAREM ESSES SIGNOS DE FORMA RADICAL.
É ASSIM QUE, À REVELIA DE SUA TEORIA, IMPREGNADA DE IMAGINÁRIO, ELA PERMITE DICK SIMBOLIZAR A FALTA: "DICK ENTÃO ATIROU A CARROÇA DANIFICADA E SEU CONTEÚDO NA GAVETA E DISSE: ‘FOI EMBORA’ " (KLEIN M., 1930: 258). DESSA FORMA, EM VÁRIAS SESSÕES, COMPARECE O JOGO DO FORT DA (FREUD 1920) PORQUE DICK ESCONDE OS OBJETOS, ELE MESMO SE ESCONDE E ASSIM POR DIANTE, E MELANIE KLEIN (1930) O ACOLHE. RETOMAMOS A INTERVENÇÃO DE MELANIE KLEIN (1930) PARA RESSALTAR A QUESTÃO DA DOUTA IGNORÂNCIA – ELEMENTO FUNDAMENTAL QUE SE ARTICULA COM O DESEJO DO ANALISTA.
A PARTIR DA INTERVENÇÃO DE MELANIE KLEIN (1930), A CRIANÇA PROGRIDE: DICK COMEÇA A CHORAR QUANDO A BABÁ VAI EMBORA, BRINCA E, PAULATINAMENTE, AUMENTA SEU VOCABULÁRIO.
LACAN (1953-54) RETOMA ESTA INTERVENÇÃO APONTANDO QUE, NESTE PONTO, MELANIE KLEIN (1930) INTRODUZ A SIMBOLIZAÇÃO:
"NO CASO DRAMÁTICO, NESSE SUJEITO QUE NÃO ACEDEU A REALIDADE HUMANA PORQUE NÃO FAZ OUVIR NENHUM APELO, QUAIS SÃO OS EFEITOS DAS SIMBOLIZAÇÕES INTRODUZIDAS PELA TERAPEUTA? 
ELAS DETERMINAM UMA POSIÇÃO INICIAL A PARTIR DA QUAL O SUJEITO PODE FAZER AGIR O IMAGINÁRIO E O REAL E CONQUISTAR O SEU DESENVOLVIMENTO. ELE SE PRECIPITA NUMA SÉRIE DE EQUIVALÊNCIAS, NUM SISTEMA EM QUE OS OBJETOS SE SUBSTITUEM UNS AOS OUTROS" (LACAN, !953-54: 103).

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