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Intensivo - Delegado de Polícia Civil CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Direito Constitucional Professor: Flavio Martins Aulas: 13 a 16 | Data: 16/11/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO 1. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. 1. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS: “Direitos” x “Garantias”: Direito é uma norma de conteúdo declaratório (vida, liberdade, propriedade, honra etc). Garantia é uma norma de conteúdo assecuratório (visa assegurar direitos tutelados). Por exemplo, o direito à liberdade é garantido pelo habeas corpus. Classificação dos direitos fundamentais (dimensões / gerações): A classificação dos direitos fundamentais em dimensões / gerações foi cunhada por Norberto Bobbio (“A Era do Direito”). *Preferir o termo “dimensões” dos direitos fundamentais. O termo “geração” traz a ideia de substituição entre os direitos fundamentais, o que não está correto, pois há uma coexistência. a) Direitos de 1ª dimensão / geração: São os direitos que primeiro surgiram nas legislações. São os direitos individuais (liberdades públicas), tais como o direito à vida, à liberdade, à propriedade etc. Nesses direitos, o Estado tem o dever principal de NÃO FAZER / NÃO AGIR (Por exemplo, o Estado tem o dever de não privar o cidadão de sua liberdade / propriedade, salvo exceções legais). *No Brasil, surgem na CF de 1824 (primeira constituição brasileira). b) Direitos de 2ª dimensão / geração: São os direitos sociais, como por exemplo, saúde, educação, moradia, alimentação etc. Página 2 O Estado tem o dever principal de FAZER / AGIR. *No Brasil, surgem a partir da CF de 1934 (terceira constituição brasileira). Instituição pela Constituição do México de 1917 e pela Constituição de Weimar de 1919. c) Direitos de 3ª dimensão / geração: São os direitos metaindividuais / transindividuais, ou seja, são os direitos diifusos e coletivos (Por exemplo, o meio ambiente sadio [art. 225 da CRFB/88], a busca da paz [art. 4º da CRFB/88]). d) Direitos de 4ª dimensão / geração: Há duas posições sobre o que seriam tais direitos: 1ª – Entende que são direitos decorrentes da evolução da ciência – clonagem, manipulação genética etc (Pedro Lenza). 2ª – Entende que são direitos relacionados à democracia (Ex: plebiscito, iniciativa popular) – Paulo Bonavides, Ingo Sarlet. Características dos Direitos Fundamentais: a) Historicidade: Os direitos decorrem de uma evolução histórica. Na medida em que a sociedade evolui, nascem novas pretensões e, por consequência, novos direitos. Ex: Já foi reconhecido pelo STJ o direito ao esquecimento. Ex: Direito de morrer com dignidade. b) Universalidade: Os direitos fundamentais pertencem a todos (homens, mulheres, ricos, pobres, estrangeiros, nacionais [há raras exceções, tais como direitos políticos, que são exclusivos dos nacionais]). Nem sempre foi assim. Na Grécia antiga apenas os homens gregos eram cidadãos. c) Concorrência: Os direitos fundamentais podem ser usufruídos simultaneamente (o exercício de um direito fundamental não exclui o exercício de outro direito fundamental). Ex: O jornalista exerce o seu direito à liberdade de manifestação do pensamento e o espectador o seu direito à informação. Página 3 d) Irrenunciabilidade: Não se pode renunciar aos direitos fundamentais (É possível, porém, não exercê-los temporariamente – Por exemplo, big brother). e) Relatividade: Os direitos fundamentais não são absolutos, mas relativos. Se houvesse um direito absoluto, todos os demais direitos que contra ele estivessem, não receberiam proteção constitucional. Ex: Vida – A CRFB/88 admite a pena de morte em caso de guerra declarada (art. 5º, XLVII, ‘a’ da CRFB/88). Obs: Parte da doutrina aponta o art. 5º, inciso III da CRFB/88 como um direito absoluto – trata, dentre outras questões, da vedação à tortura. Há teoria norte-americana que trata do cenário da bomba relógio, em que se relativiza a vedação à tortura em prol de salvaguardar a vida de muitos cidadãos – aponta que nenhum direito é absoluto. Titulares dos Direitos Fundamentais: Art. 5º, caput da CRFB/88 – “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”. Apesar de o texto constitucional falar em “brasileiros” e “estrangeiros residentes no País”, segundo o STF todos que estão no território brasileiro são titulares de direitos fundamentais (brasileiros e estrangeiros, residentes ou não, com ou sem estadia regular, incluindo apátridas). Pessoa Jurídica: A pessoa jurídica é titular de alguns direitos fundamentais (alguns direitos são incompatíveis com sua natureza, por exemplo, não cabe habeas corpus em favor de pessoa jurídica [pacífico no STF e STJ]). Alguns direitos são exclusivos da pessoa jurídica, por exemplo, o nome empresarial. Segundo o STF, a pessoa jurídica de direito público também é titular dos direitos fundamentais. Embrião Humano: É titular de direitos fundamentais? Segundo o STF, depende: a) O embrião no ventre materno é titular de alguns direitos fundamentais, sobretudo o direito à vida. b) O embrião fora do ventre materno não é titular de direitos fundamentais, razão pela qual a manipulação genética de embriões humanos é constitucional – a L 11.105/05 é constitucional. Página 4 Animais: Segundo o STF, embora protegidos pelo direito constitucional (art. 225 CRFB/88 – veda crueldade), os animais não são titulares de direitos fundamentais. Por tal razão não cabe HC em favor de animais. Eficácia dos Direitos Fundamentais: Art. 5º, §1º da CRFB/88 - “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”. Ou seja, os direitos fundamentais não precisam de regulamentação, pois sua aplicação é imediata / automática (apesar de não haver regulamentação quanto ao Mandado de Injunção, o STF aplica a lei do MS por analogia). O direito de resposta, que não era regulamentado (mas mesmo assim havia aplicação), foi agora regulado pela L 12.188/2015. Há duas espécies de eficácia quanto aos direitos fundamentais: a) Eficácia Vertical: É a relação entre o Estado e as pessoas (vida, propriedade, saúde). b) Eficácia Horizontal: É a aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas (pessoa – pessoa / empregado – empregador / marido – mulher etc). Obs: Tal eficácia deve ser aplicada com cautela para não ferir o princípio da autonomia da vontade, que rege as relações privadas. Há duas subespécies de eficácia horizontal: b.1) Eficácia horizontal mediata / indireta: Os direitos fundamentais são aplicados às relações privadas através de uma lei infraconstitucional. b.2 ) Eficácia horizontal imediata / direta: Os direitos fundamentais são aplicados às relações privadas sem a necessidade de lei infraconstitucional. Exemplos (STF): 1 – Para se excluir um associado de uma associação deve se respeitar o contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV da CRFB/88). 2 – Na relação empregado/empregador deve-se respeitar o direito à intimidade (art. 5º, X da CRFB/88). Página 5 DIREITOS FUNDAMENTAIS EM ESPÉCIE: VIDA (art. 5º, caput da CRFB/88): Possui duas acepções / significados: 1 – Acepção Negativa: É o direito de continuar vivo / não ser morto (exceção constitucional em caso de guerra declarada). 2 – Acepção Positiva: Direito de ter uma vida digna.A CRFB/88 não determina o início da proteção à vida. No entanto, a Convenção Americana dos Direitos Humanos / Pacto de São José da Costa Rica determina que a vida deve ser protegida desde a concepção (fecundação do óvulo pelo espermatozoide). O direito brasileiro protege a vida intrauterina (o aborto em regra é crime [art. 124 e seguintes do CP], a lei de alimentos gravídicos estabelece que o provável pai é devedor de alimentos desde a gravidez). Exemplos de relatividade do direito à vida: a) A CRFB/88 admite a pena de morte em caso de guerra declarada (art. 5º, XLVII, ‘a’ + COM [art. 355]). b) Aborto quando a gravidez decorre de estupro (art. 128, II CP). c) Art. 303 do Código Brasileiro da Aeronáutica (L 7.565/86). Feto anencéfalo: Segundo o STF, é possível a interrupção da gravidez do feto anencéfalo (não se fala em aborto, mas sim em interrupção da gravidez – isso porque o “aborto” significa por fim à vida intrauterina, e o STF entendeu que não há vida no feto anencéfalo – ademais, o STF consignou a dignidade da pessoa da gestante na decisão). IGUALDADE (art. 5º, caput da CRFB/88): Qual igualdade é buscada pela Constituição? É a material. Existem dois tipos de igualdade: igualdade formal e igualdade material (real). -Igualdade Formal consiste em dar a todos o mesmo tratamento. -Igualdade Material consiste em dar um tratamento desigual aos desiguais, na medida da sua desigualdade (Cunhada por Aristóteles / Ruy Barbosa no Brasil). Proporciona justiça no caso concreto. Exemplos de igualdade material na CRFB/88: -Vagas reservadas para pessoas com deficiência em concursos públicos (art. 37, VIII). Segundo o STF, não pode o edital suprimir as vagas das pessoas com deficiência. Durante o certame, verificar-se-á se a deficiência é compatível com a função. -Competência por prerrogativa de função. Página 6 Há igualdade material na legislação infraconstitucional. O processo penal adota o princípio do “favor rei”, ou seja, há um tratamento diferenciado dado ao réu (Ex: recurso exclusivo da defesa – embargos infringentes / ação exclusiva da defesa – revisão criminal / princípio do in dúbio pro reo). Ações Afirmativas: São políticas públicas destinadas a dar a certos grupos historicamente desprestigiados um tratamento diferenciado (Ex: sistema de cotas [raciais e outros]). O STF, apreciando o vestibular da UnB, decidiu que o sistema de cotas é constitucional, sendo uma consequência da igualdade material. Lei 12.990/2014 – Assegura 20% das vagas para negros em concursos da administração federal. Res 203/2015 CNJ – Assegura 20% das vagas para negros em todos os concursos do Judiciário. Igualdade de gênero (art. 5º, I da CRFB/88): Trata-se também de igualdade material. Na Constituição há a diferença no tempo para aposentadoria (art. 40 CRFB/88), e o serviço militar obrigatório (art. 143 CRFB/88). Vide ainda a L 11.340/06 (Lei Maria da Penha). STF declarou a constitucionalidade da L 11.340/06, por unanimidade, com fundamento na igualdade material. LEGALIDADE (art. 5º, II da CRFB/88 – Princípio da legalidade): Art. 5º, II da CRFB/88 – “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. O princípio da legalidade é a base do Estado de Direito. A aplicação do princípio da legalidade é diferente para o Estado e para o particular. -O Estado deve fazer apenas o que a lei determina. -O particular pode fazer tudo aquilo que a lei não proíbe. O termo “lei” empregado no texto constitucional é qualquer ato normativo do Poder Público (Ex: medida provisória). VEDAÇÃO À TORTURA E AO TRATAMENTO DESUMANO OU DEGRAGANTE (art. 5º, III da CRFB/88): Crime de tortura – L 9.455/97. Página 7 Segundo a Constituição, tortura é crime equiparado a hediondo, sendo então vedada a anistia (perdão concedido por lei), graça e indulto (perdão concedido pelo presidente), e a fiança. Tortura é crime prescritível. Segundo o STF, apenas dois crimes são imprescritíveis: racismo e ação de grupos armados contra o Estado. Segundo o STF, a “lei da anistia” foi recepcionada pela CRFB/88. Em decorrência do art. 5º, III da CRFB/88 foi editada pelo STF a Súmula Vinculante nº 11, que preceitua – “Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado”. De acordo com a SV nº 11, o uso de algemas é excepcional, sendo usada em caso de resistência, risco de fuga e risco à incolumidade física do preso ou de terceiros. Consequências do descumprimento da SV nº 11: -Responsabilidade penal, civil e disciplinar do agente; -Responsabilidade civil do Estado; -Nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere. LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO / VEDAÇÃO DO ANONIMATO (art. 5º, IV da CRFB/88): Liberdade de manifestação do pensamento: Não é um direito absoluto. Abusos podem ser responsabilizados penal e civilmente. O art. 5º, V da CRFB/88 prevê consequências civis para o abuso na liberdade da manifestação do pensamento. Vedação do anonimato: A vedação do anonimato visa exatamente conter abusos. Porém há exceção aceita pelo STF e STJ – “denúncia anônima”. O STF entende que a ação penal não pode começar com base apenas em denúncia anônima. O STJ entende que não pode ser decretada interceptação telefônica com base em denúncia anônima. CONSEQUÊNCIAS CIVIS DO ABUSO DA LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO (art. 5º, V da CRFB/88): São as consequências civis do abuso da liberdade de manifestação do pensamento: -Indenização por dano material (prova do prejuízo financeiro); -Indenização por dano moral (sofrimento); -Direito de resposta proporcional ao agravo (no mesmo veículo em que se deu a ofensa, no mesmo espaço e com o mesmo tempo, a vítima terá o direito de responder – vide L 13.188/15). Página 8 LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E CRENÇA (art. 5º, VI da CRFB/88): A liberdade de consciência e crença tem dois aspectos: 1 – Aspecto Positivo: É o direito de professar qualquer religião. 2 – Aspecto Negativo: É o direito de não ter religião (a Constituição também assegura). Direito que não é absoluto. Não se pode adotar sacrifícios humanos, uso de drogas. O Brasil é um estado laico (leigo). Atentar que existem três tipos de Estado quanto à igreja: I – Estado Laico: Aquele que não tem religião oficial. II – Estado Confessional: Aquele que tem uma religião oficial (Ex: Argentina – País Católico, Apostólico, Romano / O mesmo ocorreu com a CF 1824). III – Sistema da confusão: Aquele em que Estado e igreja se confundem – Chefe de Estado e religioso é o mesmo (Ex: Vaticano). *A palavra “Deus” no preâmbulo da CRFB/88 não fere a laicidade do Estado brasileiro (STF) – lembrar que o preâmbulo não é norma constitucional (STF). *Crucifixos em repartições e feriados religiosos? Prevalece o entendimento de que não ferem a laicidade do Estado brasileiro, pois representam manifestações da cultura histórica do país (a cultura também é assegurada pela Constituição). A Constituição protege os locais de culto e suas liturgias. Lei infraconstitucional (CPC) veda a citação durante culto religioso. DIREITO À ASSISTÊNCIA RELIGIOSA EM LOCAIS DE INTERNAÇÃO COLETIVA (art. 5º, VII da CRFB): São os locais: -Presídios (L 7.210/84); -Hospitais; -Quartéis; -Locais de internação de adolescentes (L 9.069/90). ESCUSA DE CONSCIÊNCIA (art. 5º, VIIIda CRFB/88): Diante de uma obrigação a todos imposta, por exemplo o serviço militar obrigatório aos homens, é possível alegar a escusa de consciência, que é uma razão religiosa, política ou filosófica para não cumprir tal obrigação, sendo que, nesse caso, será necessário o cumprimento de obrigação social alternativa prevista em lei. Outro exemplo de obrigação a todos imposta é a convocação para ser jurado, sendo também possível alegar a escusa de consciência, desde que haja o cumprimento de obrigação social alternativa prevista em lei (previsão no CPP). Página 9 *Não sendo cumprida a obrigação social alternativa, haverá a suspensão dos direitos políticos (não poderá votar e nem ser votado) até o cumprimento da obrigação. DIREITO À LIBERDADE ARTÍSTICA E DE COMUNICAÇÃO (art. 5º, IX da CRFB/88): Não é um direito absoluto. Ex: STF - um livro já foi considerado crime de racismo (caso Ell wonger). A CRFB/88 veda a censura e a licença: Censura é uma ordem proibitiva. Licença é uma autorização prévia. Com base no inciso IX do art. 5º da CRFB/88, o STF decidiu que a lei de imprensa não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988. O STF entendeu que o judiciário verificará posteriormente se houve lesão a outros direitos e, nesse caso, pode proibir a circulação da obra. Não se trata, portanto, de uma análise prévia, proibindo-se previamente a liberdade artística e de comunicação. Ex: Livro “Roberto Carlos em detalhes” – biografia não autorizada foi retirada de circulação. Biografias não autorizadas: Segundo o STF (2015), não é necessária autorização do biografado. Lesões a direitos serão verificadas posteriormente.
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