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Teoria Geral da Pena

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Direito Penal II
Professor Rafael De Luca
Unidade IV - Pena de Multa
1. Conceito:
É uma modalidade de sanção de caráter patrimonial consistente na entrega de dinheiro ao fundo penitenciário. 
Ao contrário do que ocorre com a pena restritiva consistente na perda de bens, cujos valores, conforme o Código Penal, em seu art. 45, § 3º, são revertidos ao Fundo Penitenciário Nacional, em relação à pena de multa o art. 49 do mesmo Código refere-se genericamente a fundo penitenciário, possibilitando que os Estados legislem sobre o tema, criando seus próprios fundos, a fim de obterem recursos para construção e reforma de estabelecimentos prisionais, aquisição de equipamentos destinados a referidas unidades etc. 
2. Espécies de multa:
■ Originária:
É aquela descrita em abstrato no próprio tipo penal incriminador, em seu preceito secundário. Pode ser prevista de forma isolada (apenas nas contravenções penais), cumulativa ou alternativa com pena privativa de liberdade. 
■ Substitutiva:
É aquela aplicada em substituição a uma pena privativa de liberdade fixada na sentença em montante não superior a 1 ano, e desde que o réu não seja reincidente em crime doloso e as circunstâncias do art. 59 do CP indiquem que a substituição é suficiente (art. 44, § 2º, do CP). É chamada de multa substitutiva ou vicariante. O art. 44 do CP, com redação dada pela Lei 9.714/1998, exige, ainda, que se trate de crime cometido sem o emprego de violência contra pessoa ou grave ameaça.
■ Vigência ou revogação tácita do art. 60, § 2º, do Código Penal:
O art. 60, § 2º, do CP permite a substituição da pena privativa de liberdade por multa quando a pena fixada na sentença não for superior a 6 meses, desde que o réu não seja reincidente em crime doloso e que as circunstâncias do art. 59 do CP lhe sejam favoráveis. Tal dispositivo existe desde a aprovação da nova Parte Geral do Código Penal, em 1984. Ocorre que a Lei 9.714/1998 passou a permitir a substituição por multa quando a pena fixada não exceder 1 ano, e, com isso, a maioria dos doutrinadores entendeu que houve revogação tácita do referido art. 60, § 2º.
Existe, porém, entendimento em sentido contrário com forte sustentação jurídica, na medida em que o art. 60, § 2º, do CP, não exige que o crime tenha sido cometido sem violência ou grave ameaça, de modo que, sendo diversos os requisitos e o montante exigido para a conversão em multa, não se pode falar que um dispositivo tenha revogado o outro, por não serem incompatíveis.
Suponha-se, como exemplo, um crime de lesão corporal leve contra o próprio pai (art. 129, § 9º, do CP), cuja pena em abstrato é de detenção de 3 meses a 3 anos (não se trata de infração de menor potencial ofensivo). Se o juiz fixar pena de 3 meses na sentença poderá convertê-la em multa nos termos do art. 60, § 2º, possibilidade que não existe no art. 44, § 2º, uma vez que o crime envolve emprego de violência contra pessoa. Por sua vez, se a pena arbitrada na sentença fosse, por exemplo, de 9 meses, o juiz não poderia convertê-la em multa. Em tal hipótese, o art. 60, § 2º, não poderia ser utilizado; porque a pena é superior a 6 meses; tampouco o art. 44, § 2º, em razão do emprego de violência.
■ Violência doméstica ou familiar contra a mulher e proibição de conversão em pena exclusiva de multa:
O art. 17 da Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, proíbe a substituição da pena privativa de liberdade por pena exclusiva de multa quando o delito for praticado com violência doméstica ou familiar contra mulher. 
3. Cálculo do valor da multa:
■ Regras para a fixação no número de dias-multa:
De acordo com o art. 49 do CP, a pena deverá ser de, no mínimo, 10 e, no máximo, 360 dias-multa. Para se estabelecer o número de dias-multa, as regras a serem observadas pelo juiz são as mesmas estabelecidas na lei penal para a pena privativa de liberdade, ou seja, o critério trifásico do art. 68 do CP. Assim, o juiz deve inicialmente fixar a pena-base de dias-multa com observância das circunstâncias do art. 59 do CP e, nas fases seguintes, aplicar as agravantes e atenuantes genéricas, bem como causas de aumento e de diminuição de pena. 
■ Fixação do valor de cada dia-multa:
O valor de cada dia-multa atenderá ao critério da situação econômica do réu (art. 60 do CP), não podendo ser inferior a 1/30 do maior salário mínimo mensal e nem superior a 5 salários mínimos (art. 49, § 1º, do CP). Assim, para acusados menos favorecidos, o juiz aplicará valor menor e para os mais abastados, um valor maior. É de se lembrar, outrossim, que, mesmo sendo o valor do dia-multa fixado no patamar máximo, pode ele se mostrar ineficaz e insuficiente diante da imensa fortuna do réu e, em tais casos, permite o art. 60, § 1º, do Código Penal, que o juiz triplique o valor da multa. 
Em suma, o valor final da multa resulta de um simples cálculo aritmético, ou seja, da multiplicação do número de dias-multa pelo índice do salário mínimo fixado. 
Saliente-se que o objetivo buscado pelo legislador com o critério do dia-multa é punir o condenado com o pagamento de uma multa que guarde equivalência com o valor do dia de trabalho do réu (por isso a regra de 1/30 do salário).
Quando o acusado recebe mensalmente um salário mínimo, o juiz deve fixar o valor do dia-multa em 1/30 daquele para que haja correspondência a um dia de trabalho do acusado. Assim, 10 dias-multa são proporcionais a 10 dias de trabalho. 
4. Cumulação de multas:
Há dezenas de infrações penais em que a pena privativa de liberdade é prevista em abstrato cumulativamente com a pena de multa. 
Suponha-se, assim, um furto simples, em que o réu seja primário e o juiz aplique pena de 1 ano de reclusão e 10 dias-multa. Discute-se, em tal caso, se o magistrado poderia substituir a pena de reclusão por outros 10 dias-multa, e, em seguida, somá-los à outra multa originariamente imposta, alcançando o montante de 20 dias-multa. 
A maioria dos doutrinadores entende que é plenamente cabível tal procedimento por não haver qualquer vedação à referida providência no Código Penal. Na prática, pode-se dizer que quase todos os juízes criminais lançam mão de tal conversão. 
5. Atualização do valor da multa:
O art. 49, § 2º, do CP dispõe que, por ocasião da execução, o valor da multa deve ser atualizado de acordo com os índices de correção monetária. Surgiram, então, várias correntes em torno do termo a quo a ser observado para a atualização, contudo a controvérsia perdeu o sentido porque o Superior Tribunal de Justiça publicou a Súmula n. 43, decidindo que “a correção monetária decorrente de dívida de ato ilícito deve incidir da data do efetivo prejuízo”, ou seja, a correção monetária deve correr a partir do dia em que foi cometido o delito. 
6. Pagamento da multa:
Transitada em julgado a sentença que impôs pena de multa, os autos irão ao contador judicial para a atualização de seu valor. Em seguida, após ouvir o MP, o juiz homologará o valor e determinará a notificação do condenado para que, no prazo de 10 dias, efetue o pagamento. Estabelece, por sua vez, o art. 50, caput, do CP que, a pedido do condenado e conforme as circunstâncias do caso, poderá o juiz permitir que o pagamento se faça em parcelas mensais. Permite, ainda, o art. 50, § 1º, do CP que a cobrança seja efetuada mediante desconto no salário do condenado, se não prejudicar o seu sustento e o de sua família, se a multa tiver sido aplicada isoladamente, cumulada com restritiva de direitos, ou caso tenha havido aplicação de sursis em relação à pena privativa de liberdade cumulativamente imposta. Efetuado o pagamento, o juízo decretará a extinção da pena. 
7. Execução da pena de multa:
A Lei n. 9.268/96 promoveu imensas modificações no que pertine à execução da pena de multa, acabando com a possibilidade de sua conversão em detenção. Referida lei alterou a redação do art. 51 do CP, estabelecendo que “transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhe as normas da legislação relativa à dívidaativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição”.
A multa, portanto, tem caráter de dívida tributária. Desse modo, se o acusado, notificado pelo juízo da condenação, não pagar espontaneamente a multa, este deverá encaminhar cópias ao órgão competente para que seja extraída certidão da dívida ativa. Assim, com base na inscrição da dívida ativa, a Procuradoria da Fazenda deverá proceder à execução do valor da multa no juízo das execuções fiscais (estadual ou federal dependendo da origem da condenação). O procedimento seguirá os ditames da Lei de Execuções Fiscais (arts. 8º e seguintes da Lei n. 6.830/80). O condenado será citado para em 5 dias pagar a multa com juros, multa de mora e encargos constantes da Certidão da Dívida Ativa ou garantir a execução (nomear bens à penhora, apresentar carta de fiança etc.). Caso não pague e não garanta a execução, serão penhorados bens do acusado para venda em leilão, cujos valores serão usados no pagamento da multa.
■ Competência para a execução:
Com a alteração legislativa promovida pela Lei n. 9.268/98, que passou a considerar a multa uma dívida de valor, para a qual se aplicam as regras tributárias, as execuções transferiram-se para o juízo das execuções fiscais, sendo promovida pela Procuradoria da Fazenda. 
Este entendimento encontra-se pacificado na jurisprudência, embora haja quem sustente que, por ter natureza penal, a multa ainda deva ser executada pelo Ministério Público no juízo das execuções criminais.
8. Prazo Prescricional, Interrupção e Suspensão da Prescrição:
Nos termos do art. 174 do Código Tributário Nacional (Lei n. 5.172/66), a prescrição da ação para a cobrança do crédito tributário e, por conseguinte, da pena de multa dá-se em 5 anos. 
Por sua vez, o art. 51 do CP diz que serão observadas as normas da legislação fazendária quanto à suspensão e à interrupção do prazo prescricional da execução da pena de multa. 
De acordo com o art. 174, parágrafo único, do CTN, a prescrição se interrompe pelo despacho do juiz que ordena a citação em execução fiscal. Existem outras causas interruptivas, que, contudo, não guardam relação com a pena de multa, como, por exemplo, o protesto. 
Por sua vez, o juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor ou encontrados bens penhoráveis e, nesses casos, não correrá o prazo de prescrição (art. 40 da Lei n. 6.830/80). De acordo com a Súmula n. 314 do Superior Tribunal de Justiça, “em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qual se inicia o prazo da prescrição quinquenal intercorrente”. 
Em resumo, existe um prazo de 5 anos para que seja iniciado o processo de execução da multa no juízo das execuções fiscais. Quando o juiz determina a citação do condenado, interrompe-se referido prazo, de modo que novo período de 5 anos passa a correr. Caso o réu não seja encontrado ou não sejam localizados bens penhoráveis, o juiz determina a suspensão da execução por 1 ano. Findo este período, retoma-se o prazo prescricional. Se o condenado não for mais encontrado dentro do prazo restante, decreta-se a prescrição da dívida. Se for localizado o acusado ou bens de sua propriedade dentro do prazo de 5 anos, prossegue-se na execução. 
■ Suspensão da execução da multa:
Estabelece o art. 52 do CP que é suspensa a execução da multa se sobrevém doença mental ao acusado. O curso do prazo prescricional, entretanto, não se suspende em tal hipótese por falta de previsão legal. 
■ Morte do condenado à pena de multa e execução contra os herdeiros:
A origem da condenação à multa é penal e, por isso, não pode passar da pessoa do condenado por força do art. 5º, XLV, da CF. Neste particular, não se aplica a legislação tributária que permite que a execução prossiga em relação aos herdeiros (art. 4º, VI, da Lei n. 6.830/80). Em suma, falecendo o condenado durante o procedimento executório, deve ser declarada extinta a pena, nos termos do art. 107, I, do CP. 
■ Suspensão condicional da pena e multa:
De acordo com o art. 80 do CP, a suspensão condicional da pena (sursis) não se estende à pena de multa. Assim, se o réu for condenado a uma pena privativa de liberdade e também a pena de multa, caso o juiz aplique o sursis em relação à primeira, continua o sentenciado obrigado a pagar a multa. 
■ Habeas corpus e pena de multa:
De acordo com a Súmula n. 693 do STF, “não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada”. É que, nos termos do art. 5º, LXVIII, da CF, o habeas corpus tutela apenas a liberdade, o direito de ir e vir das pessoas, e a pena de multa, desde o advento da Lei n. 9.268/96 (que alterou o art. 51 do CP), não pode mais ser convertida em prisão.
9. Pena de Multa e Concurso de Crimes:
Nas hipóteses de concurso formal perfeito e crime continuado, o juiz aplica somente uma pena privativa de liberdade aumentada, de um sexto até metade em caso de concurso formal (art. 70 do CP), ou de um sexto a dois terços, em hipótese de continuação delitiva (art. 71 do CP). O art. 72 do CP, entretanto, ressalva que as penas de multa previstas cumulativamente em abstrato com a pena privativa de liberdade não se submetem a tal sistema, devendo haver soma das penas pecuniárias. Por isso, se o acusado, por exemplo, tiver praticado cinco crimes em continuação, o juiz deve aplicar, no mínimo, pena de 50 dias-multa (10 para cada delito), ainda que, em relação à pena privativa de liberdade, tenha aplicado uma só aumentada de um sexto a dois terços.
10. Detração e Pena de Multa:
O art. 42 do CP é taxativo e só faz menção à detração em relação à pena privativa de liberdade e à medida de segurança. Dessa forma, ainda que se trate de pena de multa substitutiva (de pena inferior a 1 ano aplicada na sentença, conforme permite o art. 44, § 2º, do CP), o tempo anterior de prisão é irrelevante.

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