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TRABALHO INFANTIL TELEVISIVO: LEGALIDADE, DESLUMBRAMENTO E RISCOS. ANDREMARA BATISTA DOS SANTOS ERLON PRIMO ELBERT PRIMO JOSÉ JORGE DA SILVA TAMILES DE LIMA1 RESUMO O trabalho infantil sempre permeou no seio da sociedade, se materializando de inúmeras formas, quase sempre impactantes, no entanto a modernização trouxe inúmeros avanços socioculturais, e novas formas de exploração do trabalho infantil. Ao longo desse trabalho discorremos sobre a polêmica do trabalho infantil televisivo, que se desenvolve, em torno dos canais de telecomunicações, logo, uma forma de exploração camuflada pela fama, e reconhecimento artístico. É cada vez mais comum vermos na televisão pequenas celebridades, detentoras de um talento promissor, paparicadas como pequenos artistas mirins. Norteamos esse trabalho, sobre o prisma jurídico e os aspectos legais, bem como os riscos provenientes da exploração irrestrita do labor infantil pelos veículos de comunicação. Salientando o dever de proteção a infância de toda a sociedade conjuntamente. Palavras-chaves: trabalho infantil, criança, artístico, riscos. ABSTRACT Child labor has always permeated in society, materializing in many ways, often striking, however modernization brought numerous socio-cultural progress, and new forms of exploitation of child labor. Throughout this work we carry on about the controversy of the television child labor, which develops, around the telecommunication channels , so a form of exploitation camouflaged by fame and artistic recognition . It is increasingly common to see on the small television celebrities , holders of a promising talent, pampered as small junior artists. We are guided this work , on the legal perspective and legal aspects as well as risks arising from unrestricted exploitation of child labor by communication vehicles. Stressing the child protection duty of the whole society together. Keywords: work, children, artistic risks. 1 – INTRODUÇÃO As constantes campanhas para a erradicação do trabalho infantil manifestam um crescente interesse do Estado e da sociedade civil em minimizar os efeitos de séculos de exploração do trabalho de crianças que perderam e perdem sua infância 1 Bacharelandos do curso de Direito (4º semestre), pela Faculdade Regional de Alagoinhas- FARAL/UNIRB. nas minas, nos campos e nas casas de famílias, sem sombra de duvidas uma das mais horrendas formas de desrespeito aos direitos fundamentais humanos, visto que foram praticadas contra seres indefesos, inofensivos. Contudo, a globalização e a indústria midiática fizeram surgir novas formas de exploração do trabalho infantil, formas de exploração igualmente perversas as de outrora. Ao longo deste trabalho, discorreremos sobre a polêmica do trabalho infantil televisivo, que compreende a atuação de crianças em novelas, filmes, séries, comerciais, e atividades afins. No primeiro momentos, discorreremos sobre os aspectos gerais do trabalho infantil e o trabalho infantil televisivo, estabelecendo paralelos e pontos identificadores de ambas as formas de exploração. Posteriormente observaremos os aspectos legais, pertinentes a nossa legislação que ilegítima o trabalho infantil televisivo com ênfase nos dispositivos constitucionais e infraconstitucionais, bem com os dispositivos que burlam esses dispositivos informadores. Em capitulo subsequente abordaremos sobre a visão da sociedade relacionada a essa questão, assim como os aspectos relacionados a fama e o reconhecimento artístico que mascaram os abusos concernentes a esse tipo de trabalho, desempenhado por crianças. E por fim abordaremos os riscos provenientes do trabalho infantil. O ponto crucial desse trabalho é, pois, discutir esses aspectos de forma a salientar os perigos aos quais as crianças podem estar expostas, quando deixam suas atividades típicas de crianças em prol da fama, ao assumirem responsabilidades incompatíveis para o seu entendimento. 2- ASPECTOS GERAIS SOBRE O TRABALHO INFANTIL E O TRABALHO ARTÍSTICO INFANTIL Em pleno século XXI, o trabalho infantil ainda é um grave problema social, comum em países pobres e subdesenvolvidos. Milhões de crianças abandonam as salas de aula para ocuparem as ruas, fábricas, e os mais recônditos e ermos ambientes, onde são submetidas a trabalhos degradantes e jornadas exaustivas; comprometendo não só seu físico frágil, quase sempre franzino, mas, sobretudo, seu desenvolvimento social, psicológico e moral. Essas crianças deixam a segurança de seus lares e a proteção da escola para se subordinarem a trabalhos no campo, nas usinas, casas de famílias, nos sinais, desempenhando as mais diversas funções, todas contrastantes com sua condição de criança, carecedora de cuidados e proteção não só da família, do Estado, mas, de toda a sociedade. Em muitos casos os pequenos, adentram no submundo da exploração do trabalho infantil por incentivos dos pais e responsáveis, para ajudarem a prover o sustento da família, muito comum nas regiões mais pobres. Contudo, novas formas de trabalho e exploração da mão de obra infantil vêm surgindo, mascaradas pelos holofotes da fama. A indústria midiática transforma crianças em artistas mirins cada vez mais cedo; pequenos atores, cantores, modelos, apresentadores, bailarinos entre outras formas de expressão artística, ligando-se as grandes empresas televisivas e escritórios, sendo objetos de contratos demasiadamente onerosos para exploração de seus talentos. Embora ultimamente essa seja uma questão polêmica, vê uma criança de cinco anos de idade atuando em uma novela ou desfilando numa passarela não é tão impactante quanto vê outra trabalhando numa mina de carvão ou na rua trabalhando como ambulante. Ambas as situações são antagônicas, todavia, igualmente nocivas ao desenvolvimento psicossocial da criança. A primeira situação, normalmente, não incomoda, porque presumimos que o desenvolvimento artístico precoce é um sinal de talento e deve ser estimulado, entretanto, as jornadas exaustivas de gravação, a pressão psicológica que sofrem as colocam em um nível de tensão altamente nefasta. Diante disso, quem se beneficia são as grandes corporações midiáticas, cujos objetivos são o aumento nos lucros, que através da ilusória ideia de sucesso e fama legitima a exploração do trabalho infantil. 3. LEGISLAÇÃO 3.1 Normas brasileiras A legislação brasileira é muito clara na definição do trabalho infantil, segundo a Comissão para Erradicação do Trabalho Infantil, vinculada ao Ministério do Trabalho “é considerado trabalho infantil no Brasil, aquele realizado por crianças e a adolescentes com idade inferior a 16 (dezesseis) anos a não ser na condição de aprendiz, quando a idade mínima passa a ser 14 (quatorze) anos” (CETI, 2013), Em alguns pontos nosso ordenamento jurídico é especifico e em outros nem tanto, deixando margem para interpretações extensivas como veremos a seguir. 3.1.1 Constituição Federal de 1988. Art. 227 e Art.7, XXXIII A Constituição Federal de 1998 ganhou status de Constituição Cidadã, não só por prever os direitos fundamentais da pessoa humana, mas por trazer dispositivos que garantem a efetivação dessa previsão constitucional, dando contornos de Estado Democrático de Direito, no artigo 227, da respectiva Carta Magna, o legislador diz que: Art. 227. É dever família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, á profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além decolocá-los a salvo de toda forma de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988, grifo nosso) §3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: I – A idade mínima de quatorze anos para a admissão ao trabalho, observando o disposto no art. 7º, XXXIII; (BRASIL, 1988) Nota-se que a proteção e o desenvolvimento social, moral, psicológico e biofísico da criança e do adolescente deve ser uma responsabilidade integrada, da família, da sociedade e do Estado, além disso, devem protegê-los de toda e qualquer forma de exploração. A Constituição da República é o sol que irradia todo o nosso ordenamento jurídico, é o pilar sobre o qual se estruturam os princípios norteadores do direito brasileiro, observado isso, artigo 7º, XXXIII, diz, “proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoitos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de jovem aprendiz, a partir de quatorze” (BRSIL, 1988, grifo nosso), a redação desse artigo é bastante clara e veda expressamente qualquer trabalho desempenhado por menor, excepcionando apenas a condição de aprendiz, e só deve ocorrer a partir dos quatorze anos. Embora o dispositivo constitucional seja bastante claro é visivelmente burlado por interesses econômicos da indústria midiática. Da análise dos dispositivos supracitados, podemos concluir a flagrante violação dos princípios constitucionais basilares do Estado Democrático. Exigir ou impor determinados comportamentos em prol de reconhecimento artístico é tão nocivo quanto qualquer outro tipo de trabalho infantil, como já dito antes é expressamente proibido por nossa Constituição federal. 3.1.2 – Consolidação das Leis de Trabalho- CLT A Consolidação das Leis do Trabalho trata das regras das relações de trabalho e segue os preceitos da Constituição Federal, quanto à proibição do trabalho infantil os artigos 403, 404 e 405 versam respectivamente: Art. 403. É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos Parágrafo único. O trabalho do menor não poderá ser realizado em locais prejudiciais à sua formação, ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social e em horários e locais que não permitam a frequência à escola. Art. 404 - Ao menor de 18 (dezoito) anos é vedado o trabalho noturno, considerado este o que for executado no período compreendido entre as 22 (vinte e duas) e as 5 (cinco) horas. Art. 405 - Ao menor não será permitido o trabalho II - em locais ou serviços prejudiciais à sua moralidade. (BRASIL, Consolidação das Leis de Trabalho, de 1º de maio de 1943) O referido diploma esta em consonância com a Carta Magna, ambos resguardando a moralidade e a integridade da criança, não permitindo que estas sejam submetidas a atividades que as coloquem ou as exponham a riscos que qualquer natureza. 3.1.3 – Estatuto da Criança e do Adolescente e a Organização Internacional do trabalho. O Estatuto da Criança e do Adolescente entende que criança é o menor de12 anos incompleto e adolescente aquele com idade entre 12 e 18 anos incompletos. O ECA, a princípio, segue a linha constitucional e preceitua no artigo 60, que “É proibido qualquer trabalho a menores de 14 (quatorze) anos de idade, salvo na condição de aprendiz”. O ECA é uma norma infraconstitucional, que compila e narra traços gerais sobre os direito e garantias estendidos às crianças e aos adolescentes, considerado o marco de proteção dos direitos fundamentais da infância, e reforça a ideia de prioridade absoluta de proteção do Estado, da sociedade e da família. Contudo, todos os dias nos deparamos com cenas na mídia televisiva, de crianças atuando e protagonizando novelas, filmes, minisséries e comerciais ligados a uma rotina de gravação bem definida, e a contratos onerosos, nitidamente um vinculo trabalhista. É perfeitamente visível um desrespeito a nossa Carta Magna, que proíbe expressamente, que crianças se vinculem ao mercado de trabalho em qualquer hipótese, salvo a exceção que já citamos. Ora, mais se a Constituição veda, porque as crianças estão submetidas a esse vinculo trabalhista com as grandes mídias televisivas? A resposta para essa indagação está na convenção nº 138, artigo 8º da Organização Internacional do Trabalho, do qual o Brasil é signatário, o referido dispositivo, preleciona o seguinte; Artigo 8º: 1. A autoridade competente, após consulta com as organizações de empregadores e de trabalhadores interessadas, se as houver, podem, mediante licenças concedidas em casos individuais, permitir exceções à proibição de emprego ou trabalho disposto no artigo 2º desta Convenção, para fins tais como participação em representações artísticas. 2. Permissões dessa natureza limitarão o número de horas de duração do emprego ou trabalho e estabelecerão as condições em que é permitido. (OIT, 1973, grifo nosso) Seguindo esse preceito, o ECA abre exceções pra que crianças possam desempenhar atividades artísticas e o aduz no artigo 149, II; Art. 149. Compete a autoridade competente judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar mediante alvará: II – A participação de criança e adolescente em; a) Espetáculos públicos e seus ensaios; b) Certames de beleza (...) (BRASIL, 1990) Ambos os dispositivos, criam mecanismos, que burlam as normas positivadas na Constituição, estando, pois, em descordo com esta, quando atribui à autoridade judiciária competente a possibilidade de conceder autorização, para criança ou adolescentes participarem de espetáculos artísticos. Note-se que o trabalho infantil televisivo é tão nefasto ou prejudicial quanto qualquer outra atividade desempenhada por uma criança, e deve ser visto com as mesmas ressalvas. O desrespeito às normas previstas constitucionalmente por outros dispositivos supervenientes, traduz os interesses socioeconômicos da indústria de telecomunicações, desse modo nenhum outro dispositivo deveria se sobrepor a disposições da Carta Maior, tendo em vista ainda que a mesma esta hierarquicamente acima de qualquer espécie normativa vigente no Brasil, ocorre que os dispositivos supracitados chocam-se com as garantias e direitos fundamentais e as garantias de proteção a infância e a juventude, bem como com a efetivação destes, compilados em nossa Lei Maior. 4- A VISÃO DA SOCIEDADE SOBRE O TRABALHO TELEVISIVO INFANTIL: FAMA E PRIVILÉGIOS A sociedade brasileira demonstra cada vez mais interesse na erradicação do trabalho infantil por meio de campanhas com apoio do Governo Federal, MPU (Ministério Público do Trabalho), a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), a OIT (Organização Internacional do trabalho), FNPI (Forúm Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil), CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), com base e diretrizes da Constituição Federal. Enquanto se curva para o sucesso, glamour e o deslumbramento com a atuação, que expõe a carreira artística da criança e do adolescente, algo tratado como normal, assistimos todos os dia trabalho infantil sem que isso cause o menor repúdio por considerarmos trabalho infantil somente aqueles nos quais as crianças são submetidas às atividades de risco, que trabalham na lavora ou que vendem balas no sinal. Mas existe mais do que uma simples atuação por trás dos bastidores e das câmeras. Até que circunstância é considerada normal tais situações? Atrás do glamour estão os danos causados às crianças, que não são percebidos pelasociedade. Por estar revestida pelo sucesso, a sociedade não enxerga o lado ruim da fama precoce. Ao darem uma entrevista na maioria das vezes, quando não estão atuando as crianças se comportam como um adulto, a exemplo, Claro Castanho: “Gosto de ser chamada para interpretar crianças boas [...]. Mas, tenho que confessar, ser sempre boazinha é muito chato! (risos)” (Castanho, 2012). A fama dar esse poder as crianças de se sentirem um adulto, por fazer trabalho de adulto ganhando seu próprio dinheiro, tendo um contrato de trabalho, se submetendo às regras, cumprindo horários, férias. Os meios circulantes de comunicação se apresentam como uma das mais importantes instâncias para a manipulação da verdadeira realidade das crianças na televisão, mostrando somente o lado bom e o resultado desse tipo de ofício, é difícil imaginar, no entanto o que há por trás da belíssima interpretação, pois não é somente o glamour que faz uma criança ser artista, ela está passando por um processo de adequação sendo outra pessoa, vivendo outro personagem, explorada pelos seus diretores. A glamorização é um dos principais resultados da exposição infantil na mídia, o reconhecimento do trabalho do artista mirim. A criança artista não passa mais despercebida, suas ações são alvo dos holofotes e paparazzi. A fama, o dinheiro e o sucesso infantil decorrem da pretensão dos pais, que sempre apóiam, incentivam e são a favor do filho celebridade, os mesmo são responsáveis pelas assinaturas dos contratos, conhecem os riscos, convivem com eles, no entanto o mais importante para ele é o êxito do filho. A escola também tem uma fundamental importância, pois concede privilégios aos alunos celebridades, estipulando um prazo maior para a entrega das atividades, oferecendo uma prioridade a estes, talvez pelo fato de serem famosos e ricos ou por entenderem a rotina deles que é diferente de uma criança que não é envolvida no meio artístico. Averigua-se que existe uma grande complexidade no tema, já que a alguns entendem como uma atividade de lazer e recreação, porém com o intuito final a pretensão salarial, glamour e fama. A atuação infantil é um produto, é algo que é comercializado, tem uma importância econômica, então não pode ser apenas considerada como uma atividade de lazer. 5- RISCOS DO TRABALHO INFANTIL TELEVISIVO O argumento que “trabalho enobrece” é usado com frequência para legitimar o trabalho infanto-juvenil, sem levar em conta as consequências físicas e psicológicas ensejadas pelo trabalho precoce. Os impactos diversificam-se de acordo com a faixa etária, ao trabalho exercido, com a aceitação sociocultural, com o ambiente onde se desenvolve essas atividades. Em vários casos as crianças e adolescentes perdem a capacidade de elaborar um futuro, haja vista desenvolverem doenças laborais que os incapacitam para vida produtiva, quando se tornarem adultos. O labor infantil é uma das mais perversas formas de violação dos direitos humanos e produz supervenientes problemas como; evasão escolar, restrições ao lazer, a falta de perspectiva de uma vida digna; tais problemas cerceiam a fase precípua que alicerça a vida humana. Podemos definir dois aspectos de riscos do trabalho infantil: Aspectos físicos, segundo a Fundação PROMENINO; Além da perda de direitos básicos, como educação, lazer e esporte, as crianças e adolescentes que trabalham costumam apresentar sérios problemas de saúde como fadiga excessiva, distúrbio do sono, irritabilidade e problemas respiratórios. No caso de trabalho que exige esforço físico extremo, como carregar objetos pesados ou adotar posições antiergonômicas, podem prejudicar o seu crescimento, ocasionar lesões na coluna e produzir deformidades. (FUNDAÇÃO PROMENINO, 2012) Conquanto o trabalho infantil televisivo não explicite seus riscos, jornadas intensas de gravações, exigência em decorar textos extensos, podem desencadear prejuízos à saúde física, como os acima citados, além de causar danos psicológicos; Dependendo do tipo do contexto do trabalho, os impactos psicológicos na criança e no adolescente são muito variáveis, especialmente na capacidade de aprendizagem e em sua forma de se relacionar. Nesse sentido, os abusos físicos, sexual e emocional, são grandes fatores para o desenvolvimento não só de doenças físicas, sobretudo, de transtornos psicológicos. (FUNDAÇÃO PROMENINO, 2012) Atores e atrizes mirins quando expostos a cenas de carga emocional intensa e inadequada à sua idade, tramas de episódios violentos que envolvem dramas familiares, uso de drogas e crimes, podem desenvolver desvios psicológicos, traumas e distúrbios comportamentais. Outra questão é quando a criança se torna o arrimo familiar, responsável pelo ingresso da maior parte da renda da família. Tolhidos de brincadeiras que reputam seu desenvolvimento, assume de certa forma, o papel de “chefe de família”, representando uma inversão de papeis. Tal reversão, outrossim, pode desdobrar-se em dificuldade de inserção em grupos sociais de sua faixa etária, pois comungam de ideias, assuntos e responsabilidades não concernentes a sua etapa de vida, pressupondo um pseudo amadurecimento. Seus referenciais passam a ser semelhantes aos dos adultos, ensejando uma adultização precoce. O trabalho, que é uma atividade com escopo de lucro para sustento próprio ou da família, quando desenvolvido por crianças, seja na lavoura, no corte de cana, nas feiras livres, nos trabalhos domésticos, na exploração sexual ou mesmo no meio televisivo, viola nosso ordenamento jurídico, precisamente no Art. 7º, XXXIII CF, “Proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18(dezoito) anos e de qualquer trabalho a menor de 16(dezesseis) anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 (quatorze) anos.” Porquanto, infere-se que todo e qualquer trabalho infantil, indistintamente, é proibido no Brasil, objetivando salvaguardar os direitos da criança e do adolescente previstos no Art. 227 da CF, conforme já citado. 6- CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante de todo o exposto, vale-se ressaltar, contudo, que o nosso ordenamento pátrio prevê a livre manifestação do pensamento, e, sobretudo a nossa Lei Maior assegura a liberdade de expressão artística e intelectual, que independe de censura ou licença previa (Art. 5º, IX Constituição Federal, 1998). O desenvolvimento artístico para crianças deve ser incentivado, bem como a participação da criança em movimentos culturais é imprescindível para inseri-la na vida comunitária, todavia, o que questionamos é o exercício de atividades artísticas com fins laborais, que além de irregular e ilegal, muitas vezes se manifestam de forma perversa, ferindo os preceitos constitucionais basilares de todo o ordenamento jurídico. O trabalho infantil televisivo, só atende aos interesses das grandes redes de telecomunicações, que visam principalmente seus interesses socioeconômicos. Devemos atentar que a proteção à infância é um dever integrado de toda a sociedade, juntamente com o Estado, e a família, para tanto, devemos zelar pelo bom desenvolvimento moral, social e psicológico de nossas crianças. REFERÊNCIAS BRASIL. CLT (1943). Consolidação das Leis Trabalhistas, 1943. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos jurídicos. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm> Acesso em 16 de novembro de 2015. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos jurídicos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm> Acesso em: 20 de novembro de 2015.BRASIL. ECA (1990). Estatuto da Criança de do Adolescente. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos jurídicos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm> Acesso em: 15 de novembro de 2015. CAVALCANTE SR. Trabalho Infantil Artístico: do deslumbramento à ilegalidade. São Paulo: LTr 2011. DROSGHIC, Marina S. Torquetti. O trabalho da criança na mídia televisiva. Disponível em: < http://npa.newtonpaiva.br> Acesso em 02 de novembro de 2015. OIT (1973)- Organização Internacional Do Trabalho. Convenção 138. Disponível em: <http://www.oit.org.br/sites/all/ipec/normas/conv138.php> Acesso em: 21 de novembro de 2015. PROMENINO. ECA e Legislação. Disponível em: <http://www.promenino.org.br>. Acesso em 16 de novembro 2015. CETI. Trabalho infantil; 50 perguntas e respostas, 2013.
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