Buscar

Direito Penal - Parte Especial (1)

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Direito Penal	
Parte Especial I
Francisco Sannini Neto – Mestrando em Direito – Especialista em Direito Público – Delegado de Polícia
2015
Sumário
 Dos Crimes Contra Vida
I – Homicídio 
II – Induzimento ao Suicídio
III – Infanticídio 
IV – Aborto
Das Lesões Corporais 
Da Periclitação da vida e da saúde
Dos Crimes Contra a Liberdade Individual 
Rixa
Bibliografia Sugerida
CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Direito Penal Parte Especial. Coleção Saberes do Direito Volume 6. São Paulo, Saraiva. 
 
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Vol. 2 e 3, São Paulo, Atlas.
 
JESUS, Damásio Evangelista. Direito Penal. 2º e 3º volumes, São Paulo, Saraiva.
 
BITTENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penal - Parte Especial. Volumes 2 a 4, São Paulo, Saraiva.
Bibliografia Complementar
FRANCO, Alberto Silva, "et al." Código Penal e sua interpretação jurisprudencial. São Paulo, RT.
 
MONTEIRO DE BARROS, Flávio Augusto. Crimes contra a pessoa. São Paulo, Saraiva. 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal - Parte Especial. Volumes 2 e 3. São Paulo: Saraiva.
 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte Especial. Volumes II e III. Impetus.
Homicídio
	Conceito:
Homicídio é o tipo central de crimes contra a vida e é o ponto culminante na orografia dos crimes. É o crime por excelência.” Nelson Hungria. É a injusta morte de uma pessoa praticada por outrem.
Tipos: O art. 121 caput traz o homicídio doloso simples; o §1° traz o homicídio também doloso privilegiado; o §2° traz o homicídio também doloso qualificado; o §3° traz o homicídio culposo; o §4° traz majorantes e o §5° do art. 121 traz o perdão judicial. 
Onde está o homicídio preterdoloso?
HOMICÍDO DOLOSO SIMPLES
Bem Jurídico: vida humana extra-uterina.
OBS: Homicídio X crime impossível:
a-) Ineficácia absoluta do meio: ministrar substância para uma pessoa pensando tratar-se de veneno;
b-) Impropriedade absoluta do objeto: praticar atos de execução contra uma pessoa que já está morta.
Sujeito Ativo
Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. 
Irmão Xifópago como autor do homicídio:
A doutrina resolveu pesquisar como que se dá a punição do homicida se ele for Xifópago (gêmeos siameses). Como punir um se, necessariamente teria que punir o outro?
A doutrina diz que se a separação cirúrgica for viável, faz a cirurgia punindo o culpado e preservando o inocente. 
E se a separação for inviável?
1ª corrente (Euclides da Silveira) diz que João deve ser absolvido. Temos dois bens jurídicos em conflito, dois interesses em conflito (direito de punir do Estado e status libertatis de Paulo) e, nessa hipótese deve prevalecer o status libertatis de Paulo, o inocente. Logo João deve ser absolvido. 
2ª corrente diz que João deve ser condenado (Flávio Monteiro de Barros), porém sua pena fica suspensa até Paulo cometer um crime ou ocorrer a prescrição. Deve ser condenado, mas não cumpre pena enquanto o outro irmão não praticar crime.
Autoria Colateral, Autoria Incerta e Autoria Mediata
Autoria Colateral: ocorre quando duas ou mais pessoas querem matar a mesma vítima e realizam atos de execução sem que um autor saiba da existência do outro, sendo que o resultado morte decorre da ação de apenas um deles.
Autoria Incerta: ocorre quando, na autoria colateral, não é possível determinar o responsável pela morte da vítima. Nesse caso, ambos respondem pelo homicídio tentado. 
Autoria Mediata: o agente se vale de pessoa sem discernimento para matar a vítima.
Vítima do Homicídio (Sujeito Passivo):
Pessoa humana, o ser vivo nascido de mulher.
Magalhães Noronha coloca no mesmo patamar que a pessoa humana vítima o Estado, porque a pessoa humana é condição de existência do Estado. Cada pessoa morta o Estado tem abalada sua condição de existência.
Irmão Xifópago como vítima de homicídio:
Se matar João acaba matando Paulo. Quantos crimes responde?
Com relação a João responde por homicídio com dolo direto e de 1° grau. Com relação a Paulo responde por homicídio a título de dolo de 2° grau. No dolo eventual o resultado não diretamente querido é aceito como possível, no dolo de 2° grau o resultado não diretamente querido é necessário para alcançar a finalidade buscada. 
A morte de Paulo é resultado necessário. Posição de Bittencourt e Grecco, não havendo maiores discussões. Haverá concurso formal impróprio com desígnios autônomos.
Presidente da República como vítima do homicídio:
	Pode ser o art.121 do CP, como pode ser o art. 29 da Lei 7.170/83. Um ou outro.
	- art. 29 da LSN, aqui o agente mata com motivação política, eis a chamada especializante;
Conduta Punida (Tipo Objetivo):
Tirar a vida (extra-uterina) de outrem. Se for intra-uterina é crime de aborto. Extra-uterina engloba homicídio e infanticídio. A vida deixa de ser intra e passa a ser extra-uterina com o início do parto. O parto se inicia (4 teorias):
O início do parto se dá com o completo e total desprendimento do feto das entranhas maternas;
Inicia-se o parto com as dores indicativas de parto;
Dá-se com a dilatação do colo do útero (prevalece na medicina legal);
Dá-se com o rompimento do saco amniótico. 
As correntes mais seguras são a 1ª e a 4ª, a mulher pode não ter dores de parto ou dilatação do colo do útero. 
Vida extra-uterina viável? Antecipar a morte natural é homicídio, não precisa se tratar de vida viável. Não pode antecipar morte natural.
OBS: Recaindo a conduta sobre pessoa morta (cadáver), trata-se de crime impossível por absoluta impropriedade do objeto (art.17, CP). 
Crime de execução livre: pode ser praticado por ação, omissão, meios diretos ou indiretos.
Punibilidade (Tipo Subjetivo): Só pode ser punido a título de dolo direto ou eventual. Os motivos determinantes não retiram o caráter de homicídio, mas podem configurar privilégio ou qualificadora. 
Destaques
Pluralidade de tentativas em relação à mesma vítima: é possível desde que os atos agressivos que visam o resultado morte tenham sido praticados em contextos fáticos distintos.
Homicídio consumado e tentado contra a mesma vítima: se o agente tenta matar a vítima em uma oportunidade e, cessada a execução deste crime, em outro contexto fático, realiza novo ato agressivo, conseguindo matá-la, responderá por um homicídio tentado e outro consumado.
Observações
1-) De acordo com o STF, homicídio cometido na direção de veículo automotor em virtude de “pega” ou “racha” seria doloso (HC-101698).
2-) Embriaguez ao volante + morte = dolo eventual?
3-) O agente que, sabendo ser portador do vírus HIV, e oculta a doença, mantendo relações sexuais com sua parceira, pratica qual crime?
Consumação: Se consuma com a morte. Se considera morta a pessoa que tem a cessação das atividades encefálicas (art. 3° da lei 9.434/97). Há doutrina utilizando esse dispositivo para justificar o abortamento de feto anencefálico
Tentativa: é possível, mesmo no dolo eventual (Rogério Greco não admite tentativa no dolo eventual).
Prova do Homicídio
A materialidade do crime previsto no artigo 121, do CP, é demonstrada por meio do exame de corpo de delito (necropsia).
Exame de corpo de delito:
A-) Direto: é feito nos vestígios do crime;
B-) Indireto: não havendo vestígios do crime, o exame de corpo de delito pode ser suprido pela prova testemunhal.
Questão: Suponha-se que uma pessoa foi condenada pelo homicídio da ex-namorada cujo corpo nunca foi encontrado, e já cumpriu pena. Se a suposta vítima reaparecer o sujeito, alegando que já cumpriu pena por este crime, pode efetivamente matá-la?
O homicídio doloso simples é Hediondo? 
Se praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um único agente. A doutrina chama de homicídio condicionado.
O agente deve pertencer a um grupo. 
Quantas pessoas são necessárias para que se tenha um grupo?
 
1ª corrente – grupo não se confunde com par (2); grupo não se confunde com bando (4); logo grupo é formado por 3 (Luis Vicente Cerniquiário);
2ª
corrente – grupo não se confunde com par (2); mas é preciso interpretar de acordo com a lei, essa corrente equipara grupo a bando, e diz ser necessário pelo menos 4 pessoas (Alberto Silva Franco);
NOVA LEI 12.580/2013 (Organizações Criminosas):
Art.1º, §1°- Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional 
Extermínio nada mais é que chacina, matança generalizada.
Crítica: É possível imaginar uma chacina como sendo homicídio simples? Não. Paulo Rangel, Nucci, dizem que jamais será homicídio simples, já que a chacina será ligada a motivo torpe ou fútil. 
Art. 121, §1° do CP (homicídio privilegiado):
Caso de diminuição de pena:
§ 1° - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
O §1° traz privilégio, causa especial de diminuição de pena. Privilegiadoras:
A) Impelido de relevante valor social: Sendo motivo, trata-se de privilegiadora subjetiva. Matar para atender a interesses da coletividade, o agente não visa atender interesses próprios, mas da coletividade. Ex: matar o traidor da pátria, matar perigoso bandido que rouba a vizinhança.
B) Impelido de relevante valor moral: Privilegiadora subjetiva. É matar para atender interesse particular, porém ligado ao sentimento de compaixão, misericórdia ou piedade. Ex: eutanásia (é crime de homicídio privilegiado está na própria exposição de motivos como exemplo).
C) Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. É o homicídio emocional. É privilegiadora subjetiva. Requisitos: 
a. domínio de violenta emoção (não se confunde com mera influência, domínio é muito mais absorvente; a influência é mera atenuante);
b. reação imediata, imediatidade da reação (até quando é imediata? A doutrina considera imediata a reação sem o hiato temporal, a jurisprudência diz que será imediata enquanto perdurar o domínio da violenta emoção);
c. injusta provocação da vítima: deve ser injusta o que não significa criminosa, pode ser apenas imoral (ex.: matar o estuprador da filha, o estuprador provocou com o crime de estupro; matar a mulher que traiu, a mulher que trai não pratica crime mas é injusta provocação, a jurisprudência vem incluindo aqui o homicídio passional).
 O privilégio é só para o autor ou se comunica ao concorrente (co-autor, partícipe)? Todas as privilegiadoras são de natureza subjetiva. Devemos ver se é circunstância ou elementar (art. 30 do CP). Circunstância subjetiva é incomunicável, já elementar subjetiva é comunicável. O privilégio é circunstância pois acrescentado ou não, não muda o crime, interfere apenas na pena (elementar altera o crime). Logo, sendo circunstância subjetiva é incomunicável.
Preenchidos os requisitos, é direito subjetivo do réu ter a pena diminuída. O juiz, discricionariamente, decide o quanto reduz (de 1/6 a 1/3), mas deve reduzir.
Art. 121, §2° do CP: Homicídio qualificado
§ 2° - Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; (subjetiva)
II - por motivo fútil; (subjetiva)
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; (objetiva)
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; (objetiva)
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: (subjetiva);
VI- Feminicídio;
VII- Homicídio praticado contra agentes de segurança e seus familiares.
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
O homicídio qualificado é sempre hediondo!
As qualificadoras dos incisos I, II e V são subjetivas; as qualificadoras dos incisos II e III são objetivas.
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
Motivo torpe é o motivo vil, ignóbil, repugnante e abjeto. Ex.: matar mediante paga ou promessa de recompensa, é o chamado homicídio mercenário ou por mandato remunerado. O inciso é um caso típico de interpretação analógica (ou por outro...).
Homicídio mercenário, é o homicídio do matador profissional, matador de aluguel, do chamado sicário. O homicídio mercenário é plurissubjetivo, pois necessariamente há o mandante e o executor. 
A qualificadora é só para o matador de aluguel ou para mandante?
1ª corrente) estamos diante de uma elementar subjetiva, logo comunicável (jurisprudência);
2ª corrente) é circunstância subjetiva e como tal incomunicável (prevalece na doutrina). Está mais correta, a qualificadora não muda o crime, continua sendo homicídio, e mais, o mandante nem sempre age com torpeza como no caso do pai que paga para matar o estuprador da filha.
Qual a natureza da paga, recompensa? Prevalece que deve ser de natureza econômica para que seja homicídio mercenário, não abrangendo outra espécie (sexual). A sexual cai dentro da fórmula genérica outro motivo torpe.
Ciúme e vingança são motivos torpes? Deve-se analisar o porquê da vingança e do ciúme, por si só não são torpes, dependem do que motivou.
II - por motivo fútil;
Motivo fútil é pequeno, insignificante. Quando o motivo do crime apresenta real desproporção entre o resultado e a sua causa moral. É a pequeneza do motivo. Exemplo clássico é briga de trânsito.
Não confundir com injusto. Injusto todo crime é. Aqui além de injusto o crime é fútil. Se confundir todos os homicídios seriam qualificados.
Ausência de motivo qualifica homicídio?
Majoritária: Se o motivo pequeno qualifica o que dirá matar sem nenhum motivo. Mas a lei não falou em ausência de motivo, é analogia in malam partem.
Minoritária: Não configura.
PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO. DECISÃO DE PRONÚNCIA. ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE LINGUAGEM. INOCORRÊNCIA. MOTIVO TORPE. NÃO-CONFIGURAÇÃO. A AUSÊNCIA DE MOTIVO OU SUA INJUSTIÇA, POR SI SÓS, NÃO QUALIFICAM O DELITO.
...
III - A qualificadora do motivo torpe para restar configurada, até pela própria redação do Código Penal, deve assemelhar-se ao crime de homicídio cometido "mediante paga ou promessa de recompensa", porquanto tem-se aí típica hipótese de interpretação analógica. Isso significa que o "outro motivo torpe" a que faz alusão a lei no final do dispositivo deve ter intensidade equiparada às hipóteses constantes no tipo.
IV - Segundo consta dos autos o réu, em tese, teria cometido o delito contra sua esposa, com que era casado há 13 (treze) anos e tinha uma filha, por não ter aceitado o anúncio da separação. No caso, o motivo pode ser tido como injusto, porém, isso não significa que seja, outrossim, torpe, ou ao menos fútil (cf. Heleno Cláudio Fragoso). Deve-se ter em conta que a existência de motivação para a prática do crime de homicídio não pode, inexoravelmente, conduzir à existência de um lado de um delito qualificado ou, de outro, obrigatoriamente, privilegiado. Há hipóteses em que configura-se-á a prática de um homicídio simples. Basta, para tanto, que a motivação não seja capaz de atrair a causa de diminuição da pena (assim, não tenha sido cometido impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da vítima) ou que as razões da ação criminosa não se qualifiquem como insignificantes - fútil, portanto - ou abjetas - torpe. Ordem parcialmente concedida.
(HC 77.309/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 06/05/2008, DJe 26/05/2008)
“A ausência de motivo equipara-se, para os devidos fins legais, ao motivo fútil, porquanto seria um contra-senso conceber
que o legislador punisse com pena maior aquele que mata por futilidade, permitindo que o que age sem qualquer motivo receba sanção mais branda” (TJMG – Rec. – Rel. Costa e Silva – RTJE 45/276).
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
O legislador se utilizou da interpretação analógica encerrando o dispositivo de forma genérica.
-Emprego de veneno é o chamado venefício. O meio de que o agente se vale é o veneno. Veneno é qualquer substância, biológica ou química, animal ou vegetal, capaz de perturbar ou destruir as funções vitais do organismo humano. Magalhães Noronha lembra que o próprio açúcar pode ser considerado veneno se empregado em face de diabético.
 
Obs.: Para incidir a qualificadora é imprescindível que o emprego do veneno se dê de forma insidiosa, que a vítima não saiba que nela está sendo introduzida a substância. Se a vítima sabe desaparece essa qualificadora. 
MPMG: Agente coloca a arma na cabeça da pessoa e manda tomar o veneno. Tal crime é homicídio simples ou qualificado? Continua qualificado, mas pelo recurso que impossibilitou a defesa do ofendido.
Homicídio qualificado pelo emprego de fogo:
trata-se de um meio absolutamente cruel e que impõe demasiado sofrimento para a vítima.
Ex: índio pataxó, “micro-ondas” etc.
QUESTÃO: E se o agente coloca fogo no barraco da vítima, que morre em virtude da fumaça aspirada, sem que as chamas atinjam o seu corpo?
OBS: Não é possível o concurso do homicídio qualificado pelo fogo com o crime de dano!
Homicídio qualificado pelo uso de explosivo:
 Essa qualificadora se configura qualquer que seja o tipo de explosivo utilizado.
OBS: O emprego de explosivo deve qualificar o crime ainda que o resultado morte, no caso concreto, tenha ocorrido de forma indireta em virtude do meio utilizado. Nesses casos deve-se analisar o dolo do agente!
Ex: O uso de dinamite exige o emprego de fogo para acender o pavio.
 Não é possível o concurso dessa qualificadora com o crime de dano!
Homicídio qualificado por meio de asfixia:
Consiste em provocar a morte da vítima pelo impedimento da função respiratória, de forma mecânica ou tóxica.
 A asfixia mecânica pode ocorrer por:
a) esganadura; b) estrangulamento; c) enforcamento; d)sufocação; e) afogamento; f) soterramento.
Sufocação indireta: consiste em impedir o funcionamento da musculatura abdominal responsável pela respiração (ex:colocar um peso sobre o diafragma da vítima).
 Asfixia tóxica: a) confinamento; b-) uso de gás asfixiante (ex: monóxido de carbono). 
Homicídio qualificado pelo emprego de tortura:
Não confundir o homicídio qualificado pela tortura com o art. 1°, §3°, da Lei 9.455/97 que traz a tortura qualificada pela morte. No art. 121, a tortura é meio de execução e a morte fim (desejo), doloso portanto. 
O crime de tortura qualificado pela morte há a tortura como fim (desejo), portanto doloso, e a morte como resultado inesperado, ou seja, evento culposo. É delito preterdoloso ou preterintencional.
Homicídio qualificado por meio cruel:
Meio cruel é todo aquele que provoca um sofrimento exagerado para a vítima enquanto ela esteja viva.
Ex: espancamento até a morte; apedrejamento; atropelamento intencional; jogar a vítima do alto de um prédio; choque elétrico; cortar o pulso da vítima etc.
QUESTÃO-1: O número de golpes contra a vítima, por si só, serve para constituir o meio cruel?
QUESTÃO-2: É possível o reconhecimento concomitante de duas qualificadores desse mesmo inciso?
R: A jurisprudência tem admitido o meio insidioso e o meio cruel já que ambas são genéricas. 
Homicídio qualificado pelo meio insidioso ou de que possa resultar perigo comum:
Meio Insidioso: é velado, uma armadilha, um meio fraudulento para atingir a vítima sem que ela perceba.
Ex: sabotar o freio de um veículo ou o motor de um avião, trocar o medicamento da vítima por um placebo etc.
Perigo Comum: é aquele em que o meio escolhido possa resultar perigo a um número elevado ou indeterminado de pessoas.
Ex: provocação de desabamento, avalanche, ou disparos de arma de fogo em meio a uma multidão. 
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
O legislador se utilizou da interpretação analógica.
 
Cuidado: a premeditação por si só não qualifica o homicídio.
A idade da vítima (tenra ou de idade avançada) gera esta qualificadora?
Não, é imprescindível que o agente se valha de recurso para tornar a vítima indefesa. A idade da vítima não é recurso utilizado pelo agente, mas apenas condição dela de que ele se valeu para a prática do crime.
Homicídio praticado à traição:
É aquele cometido mediante ataque súbito, repentino e sorrateiro, capaz de atingir a vítima de uma forma que ela nem perceba o gesto criminoso.
OBS: Para Mirabete, a traição se caracteriza pela quebra de confiança depositada pela vítima no agente, que dela se aproveita para matá-la.
Quebra de confiança + dificuldade ou impossibilidade de defesa = TRAIÇÃO
Homicídio qualificado pela emboscada:
Nesse caso o agente aguarda escondido a chegada ou passagem da vítima por determinado local para atingi-la de surpresa.
Ex-1: homicídio do presidente americano Jonh Kennedy.
Ex-2: homicídio do “MC DALESTE”.
Homicídio qualificado pela dissimulação:
O agente, ocultando sua prévia intenção homicida, emprega expediente fraudulento para ludibriar a vítima, possibilitando, assim, a execução do crime. 
Ex-1: convidar a vítima, usuária de “maconha”, para consumirem a droga e, após, executá-la em local ermo. 
Ex-2: maníaco do parque passava-se por fotógrafo para atrair suas vítimas.
Homicídio qualificado por recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima:
vítima preso ou imobilizada;
vítima em coma ou com enfermidade;
lançar um grande peso do alto de um prédio na cabeça do morador que se encontra no pátio;
empurrar alguém que encontra-se na beira de um precipício. 
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.
Há um vínculo entre o homicídio e outro crime. É chamado de homicídio por conexão. Traz:
conexão teleológica: quando matar para assegurar a execução de crime futuro.
conexão consequencial: quando matar para assegurar a impunidade ou vantagem ou ocultação de crime passado.
Questão: Seja na conexão teleológica ou na conseqüencial existe vínculo entre homicídio e outro crime. Tal crime deve ter sido ou ser praticado pelo próprio agente que cometeu o homicídio? Este outro crime não precisa necessariamente ser praticado pelo homicida.
Na conexão teleológica o crime futuro tem que acontecer? Não, basta matar pensando nele. Se ocorrer haverá concurso material de delitos. O crime futuro sequer precisa ocorrer para que qualifique o homicídio.
 
Contravenção Penal: Pelo inciso V não qualifica o homicídio pois seria analogia in malam partem, todavia assegurar a execução,ocultação etc. de contravenção pode estar inserida no motivo fútil, pela pequeneza do homicídio.
VI- Feminicídio
O homicídio praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, é chamado de feminicídio.
Art.121, §2°-A – Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
a-) violência doméstica e familiar;
b-) menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
VII- Homicídio contra autoridades e seus familiares
O homicídio praticado contra autoridades ou agentes descritos nos artigos 142 e 144, da CF, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou, ainda, contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até o terceiro grau, também é qualificado.
Ex: delegado de polícia, policial militar, policial rodoviário, carcereiro
  Homicídio Duplamente Qualificado e Triplamente Qualificado: Isso não existe, ou o homicídio existe ou é qualificado, ainda que
por mais de uma circunstância. Ela é qualificada uma vez só. 
O homicídio pode ter mais de uma circunstância qualificadora? Sim, é perfeitamente possível o homicídio qualificado pelo motivo torpe e por meio cruel. Utiliza-se a primeira circunstância para qualificar, uma só já é suficiente para qualificar. O juiz usa a outra na dosimetria da pena, ou seja:
Uma primeira corrente entende que deve ser usada a circunstância que sobrou na fixação da pena-base; 
Uma segunda corrente entende que a circunstância que sobrou servirá como agravante (art. 61 do CP). É a que prevalece!
Homicídio Qualificado Privilegiado:
§1° - privilégio;
§2° - qualificadora.
Todas as privilegiadoras são de natureza subjetiva. A qualificadora pode envolver o motivo, o meio, o modo de execução e a finalidade do crime. Os motivos e finalidade do crime são subjetivas. Por outro lado, o meio e o modo de execução são objetivas.
É possível homicídio qualificado privilegiado de acordo com a lei da física. Os iguais se repelem, logo, jamais privilégio e qualificadora subjetivas. Porém é possível se a qualificadora do homicídio for objetiva. A qualificadora subjetiva é incompatível com o privilégio.
Se houver qualificadora e privilegiadora subjetivas? A qualificadora fica prejudicada. Os jurados primeiro votam a tese defensiva. Reconhecido o privilégio a qualificadora resta prejudicada. O certo seria falar em homicídio privilegiado qualificado. Art. 483 do CPP.
Homicídio Qualificado Privilegiado continua hediondo? 
- 1ª corrente diz que perde a hediondez, uma vez que em analogia em bonam partem do art. 67 do CP, prepondera a de natureza subjetiva e é a atenuante que prepondera, logo o privilégio que retira o caráter hediondo do delito (STF e STJ).
 Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes
Art. 67 - No concurso de agravantes (qualificadora) e atenuantes (privilégio), a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.
- 2ª corrente diz que continua hediondo. A lei diz que o homicídio qualificado é hediondo sem trazer exceções. Não excepciona a figura do qualificado privilegiado. A analogia da primeira corrente é inviável, pois não são situações semelhantes, o art. 67 tem outra finalidade (minoritária).
Homicídio culposo:
§ 3° - Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Rito Sumário e admite inclusive suspensão condicional do processo.
Homicídio culposo ocorre quando o agente, com manifesta imprudência, negligência ou imperícia, deixa de empregar atenção ou diligência de que era capaz, provocando com sua conduta, o resultado morte, previsto ou previsível.
Obs.: A modalidade da culpa faz parte da imputação (negligência, imprudência ou imperícia).
Homicídio culposo na direção de veículo automotor: A partir de 1997 se enquadra no art. 302 do CTB. A pena é de detenção de 2 a 4 anos. Aqui a pena mínima é de 2 não admitindo suspensão condicional do processo, e o rito ordinário se dá em razão da pena máxima de 4 anos. Como pode se os resultados são os mesmos?
Homicídio Culposo CP
Homicídio Culposo CTB
Detenção de 1 a 3 anos
Detenção de 2 a 4 anos
Cabe suspensão condicional do processo
Não cabe suspensão condicional do processo
Rito Sumário
Rito Ordinário
A primeira corrente diz que odesvalordo resultado é o mesmo, não havendo razão para diferenciar o tratamento, sendo portanto, inconstitucional (mas só analisou odesvalordo resultado).
A segunda corrente diz que apesar dodesvalordo resultado ser o mesmo, não é o mesmodesvalorda conduta, que é diferente, e justifica a diferença de tratamento. A direção do veículo automotor é mais perigosa. Prevalece a segunda.
Aumento de pena
§ 4° No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
Majorantes do homicídio culposo:
1 - Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício. Lembra imperícia, mas não se confunde. Aqui ele domina a técnica, mas não observa. Na imperícia ele não domina as regras, não possui aptidão. Aqui, deixa de observar o conhecimento e a técnica que possui ocorre o erro profissional.
2 - Deixar de prestar imediato socorro à vítima (omissão de socorro). Se está servindo de majorante aqui, jamais pode ser o crime do art. 135 do CP, pois seria bis in idem. 
- Não incide o aumento quando a vítima é imediatamente socorrida por terceiros.
- Não incide quando se está diante de morte instantânea.
- Não incide aumento se impossível o socorro (ex. agente mais ferido que a própria vítima, ou colocar a vítima em sério perigo).
Obs.: STF decidiu que não exclui o aumento a conclusão do agente pela inutilidade da ajuda em face da gravidade da lesão provocada (interpretação contrária é perigosa e capaz de esvaziar o sentido da majorante).
3 - Não procurar diminuir as consequências do ato. Fragoso afirma ser redundância, é nada mais que omissão de socorro. 
4 - Foge para evitar o flagrante. A maioria da doutrina entende constitucional, pois o agente que foge demonstra diminuída responsabilidade moral (ausência de escrúpulos), e mais, prejudica a investigação. Para outra parte da doutrina, não foi recepcionada pela CF uma vez que obriga a pessoa a produzir provas contra si mesma violando o princípio do Nemo tenetur se detegere. 
Majorante do homicídio doloso:
1 - Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. Sendo doloso o homicídio a idade da vítima tem que ingressar no dolo do agente, o agente tem que saber. 
Questão: quando é dado o tiro é menor de 14 anos, quando ela morre é maior de 14 anos. Incide aumento? O art. 121,§4°, fala se o crime é praticado. O crime se considera praticado no momento da conduta (art. 4º do CP, teoria da atividade), logo é no momento da conduta que se analisa. Aqui incide, ela era menor.
Outras Causas Majorantes
Homicídio praticado por milícia ou grupo de extermínio - Art.121, §6°, CP: A pena é aumentada de 1/3 até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. 
Conceito de milícias:
a-) Milícia Pública – pertencem ao poder público;
b-) Milícia Privada – são criadas às margens do Estado;
OBS: Todos os integrantes da milícia devem responder pelo homicídio, independentemente que quem efetivamente o praticou.
Causas de aumento de pena no feminicídio:
I-) se praticado durante a gestação ou nos 03 meses posteriores ao parto;
II-) contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência;
III-) se praticado na presença de descendente ou ascendente da vítima.
Perdão Judicial do §5° do art. 121:
§ 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
Perdão Judicial é o instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática de um fato típico e antijurídico por um agente comprovadamente culpado, deixa de lhe aplicar a sanção penal nas hipóteses taxativamente previstas em lei, considerando determinadas circunstâncias que concorrem para o evento.
É CASO DE FALTA DE INTERESSE ESTATAL DE PUNIR
O perdão judicial é causa extintiva da punibilidade, mas não se confunde com o perdão do ofendido uma vez que é causa unilateral dispensando concordância, aceitação, do perdoado.
De quem é o ônus da prova do pressuposto do perdão judicial?
O ônus da prova é da
defesa, não se aplica o princípio do in dúbio pro reo. Se está na dúvida, o juiz condena pois a defesa que não conseguiu provar.
  Perdão judicial – Homicídio culposo – Demonstração, pela defesa, que a morte da vítima atingiu o agente com gravidade suficiente para tornar a sanção desnecessária – Imprescindibilidade – “Para que seja concedido o perdão judicial na hipótese de homicídio culposo, é indispensável que o acusado forneça as provas que conduzam à certeza de que a morte da vítima o atingiu com gravidade suficiente para tornar a sanção desnecessária” (TACRIM-SP – RSE – Rel. Silvério Ribeiro – Rolo-flash 1329/014 – j. 08.06.2000).
Obs.: Não é preciso que o agente conheça a vítima. Não fique viciado nos exemplos de pai e filho.
Cuidado: presentes os pressupostos o “poderá” é poder-dever do juiz, ele deve perdoar, vale dizer, deve diminuir a pena. Trata-se de direito subjetivo do réu. 
Natureza Jurídica da sentença concessiva do perdão judicial? 
1ª corrente) Natureza condenatória. Se é condenatória interrompe a prescrição (MP recorre com prazo zerado). Pode ser utilizada como título executivo. O CP entende claramente que é condenatória de acordo com art. 120. Se fosse meramente declaratória não faria sentido a disposição do art. 120. É condenatória mas não gera reincidência. Se fosse declaratória é obvio que não geraria reincidência.
Perdão judicial
Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência.
2ª corrente) Natureza declaratória extintiva da punibilidade. Não interrompe o prazo prescricional. Não serve como título executivo. Prevalece essa de acordo com a súmula 18 do STJ.
Súmula: 18 A sentença concessiva do perdão judicial e declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório. 
Pode o juiz conceder o perdão judicial na fase da absolvição sumária? Art. 397, IV, do CPP? 
Capez ensina que sim uma vez que o inciso fala em extinta a punibilidade do agente, Capez entende que pode até arquivar inquérito com base nisso. Rogério discorda, uma vez que no perdão judicial se reconhece culpa e deve aguardar o devido processo legal, não há como reconhecer culpa sem o devido processo legal.
Perdão Judicial no homicídio culposo na direção de veículo automotor? 
O perdão judicial do CTB no art. 300 foi vetado. Porém, as razões do veto remetem ao perdão judicial do CP. Entenderam inútil tal previsão.
EUTANÁSIA
ORTOTANÁSIA
DISTANÁSIA
É a morte provocada por outrem por piedade, compaixão
É a morte normal, correta.
É a morte lenta, ansiosa e com muito sofrimento.
Há uma abreviação do sofrimento do enfermo, retirando-lhe a vida.
O médico acompanha o processo natural de morte, sem prolongamento artificial.
É o emprego de todos os meios terapêuticos possíveis, inclusive extraordinários, no doente agonizante, já incapaz de resistir e no curso natural do fim de sua vida
Ex.: aplicar medicamento no enfermo acarretando sua morte.
A omissão voluntária ocorre quando os meios extraordinários para prolongar a vida de alguém, embora eficazes, atingem apenas transitoriamente o objetivo buscado, de maneira que o paciente logo retorna à condição anterior.
Os meios são empregados na expectativa duvidosa de prolongar-lhe a existência, sem a mínima certeza de sua eficácia nem reversibilidade do quadro.
É crime de homicídio, podendo ser privilegiado
O CFM aprovou pela Res. 1805/06 a prática da ortotanásia. Assim, na fase terminal é possível que o médico limite ou suspenda os procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente.
Naortotanásianão se prolonga a morte certa, nadistanásiahá o prolongamento da vida incerta.
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO
2 - INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO (participação em suicídio)
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único. A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
Conceito: Suicídio é a eliminação voluntária e direta da própria vida. Suicídio não é crime, se pune quem participou do suicídio.
A punibilidade do partícipe está atrelada a Teoria da Acessoriedade Média ou Limitada. O fato principal deve ser típico e ilícito. Como punir o partícipe se o suicídio não é crime?
Quem falou que ele é partícipe? Ele é autor do verbo nuclear que pratica os verbos induzir, instigar ou auxiliar, a participação é na condição de autor e não de partícipe. 
Não se aplica a Teoria da Acessoriedade.
Sujeito Ativo: É crime comum podendo ser praticado por qualquer pessoa. 
Concurso de Agentes: “A” induz “B” a auxiliar “C” a se matar. “C” se mata. Que crime praticou B? “B” praticou o crime do art. 122. “A” praticou o crime do art. 122 na condição de partícipe, pois de qualquer modo concorreu para a conduta de “C”.
Sujeito Passivo: A vítima deve ser pessoa capaz (deve ter voluntariedade, pois deve tirar a própria vida de maneira voluntária). Se é incapaz é crime do art. 121 do CP. A incapacidade é a arma utilizada para prática do suicídio.
Além de capaz deve ser pessoa certa e determinada, ou pessoas certas e determinadas.
Se a pessoa é incerta e indeterminada (ex. música que induz)? O fato é atípico.
Núcleos do tipo:
Estamos diante de um tipo plurinuclear. Praticado mais de um núcleo num mesmo contexto fático, o crime continua único.
Participação moral pelos núcleos induzir e instigar:
 
Induzir: o agente faz nascer a ideia mórbida na cabeça da vítima. Ela nem cogitava se matar, o agente que plantou a semente.
 
Instigar: o agente reforça ideia já existente.
 
Participação material espelhada pelo núcleo prestar auxílio:
Prestar auxílio: é a assistência material pelo agente (emprestar corda).
É possível auxílio por omissão? 
1ª corrente: Não existe auxílio por omissão, a expressão “prestar-lhe” é indicativa de ação. Frederico Marques.
2ª corrente: É possível auxílio por omissão desde que o omitente tenha o dever jurídico de evitar o resultado, quer dizer, omissão imprópria. Nelson Hungria (correta).
O auxílio deve ser sempre acessório (cooperação secundária), jamais intervindo nos atos executórios. Se o auxílio interveio nos atos executórios não há mais 122, mas sim crime de homicídio.
Ex.: pessoa quer se matar enforcada, é possível dar a corda pra ela, mas se ela não conseguir derrubar o banquinho não dê uma bicuda nele sob pena de ser homicídio. Se chutar o banquinho ta fudido!
O suicida auxiliado se arrepende, e o agente que auxiliou não o salva. Qual o crime? 
Quem cria o risco do resultado morte a partir do momento em que ele se arrepende tem o dever de evitar sob pena de responder por homicídio por não socorrer. Quem auxilia e não socorre está na posição de garante.
4 situações importantes:
1 - Duelo Americano: Existem duas armas. Somente uma delas está carregada. No “já” cada um atira contra sua própria cabeça, se atirar no outro igual faroeste é homicídio. O vencedor é o que sobrevive. O vencedor responde pelo art. 122 do CP.
2 - Roleta Russa: Só uma arma. Na arma só há um projétil no tambor que é rolado e mirado contra própria cabeça. O vencedor responde pelo art. 122 do CP.
3 - Ambicídio ou pacto de morte.
Namorado e namorada fazem pacto de morte. Escolhem ficar num ambiente fechado com gás para morrerem por asfixia (confinamento?). O namorado abre o gás.
A. Ele sobrevive e ela morre: Ele praticou o crime de homicídio pois praticou atos executórios, e mais, qualificado pela asfixia.
B. Ele morre e ela sobrevive: Ela praticou o crime de participação em suicídio, não praticou nenhum ato executório.
C. Ambos sobrevivem: Ele praticou tentativa de homicídio. Obs.: se houve lesão grave no namorado
ela responde pelo art. 122, se não houve lesão grave ela não responde por nada.
O crime de participação em suicídio é punido a título de dolo. É possível modalidade culposa? 
Existe participação culposa em suicídio? Não, o tipo não prevê modalidade culposa. Negligentemente deixou veneno de rato perto de pessoa suicida.
1ª corrente) homicídio culposo (minoritária);
2ª corrente) conforme o caso pode configurar omissão de socorro (majoritária).
A - Quando que o crime de participação em suicídio se consuma? 3 correntes: Doutrina Clássica: O crime se consuma com a prática do núcleo, se o agente induz, instiga ou auxilia o crime está consumado. Essa consumação só será punível se ocorrer a morte ou a lesão grave. Estamos diante de condição objetiva de punibilidade (morte ou lesão grave). 
Se a pessoa induz outra a se suicidar e ela morre, responde pelo art. 122 consumado e punível com 2 a 6 anos.
Se induz a pessoa a se matar e ela sofre lesão grave. Art. 122 consumado e punível com 1 a 3 anos.
Induz a pessoa a se matar, ela não morre e não sofre lesão grave. Art. 122 consumado porém impunível.
Conclusão: A doutrina clássica não admite tentativa!
Erro da doutrina clássica: a condição objetiva de punibilidade jamais ingressa no dolo do agente, mas a morte e a lesão grave ingressam, fazem parte do dolo do agente.
B - Doutrina Moderna (prevalece): Se a pessoa induz, instiga ou auxilia, está praticando atos executórios. A consumação depende da morte ou da lesão grave.
Induz a vítima a se matar e ela morre. Art. 122 consumado, pena de 2 a 6 anos.
Induz e ela sofre lesão grave. Art. 122 consumado, pena de 1 a 3 anos.
Induz e ela não morre nem sofre lesão. Fato atípico.
Conclusão: também a doutrina moderna não admite tentativa.
C - Cesar Roberto Bittencourt: Quem induz, instiga ou auxilia está em atos executórios. A consumação depende da morte onde a pena é de 2 a 6 anos. Se houver lesão grave se está diante da tentativa que é punida de 1 a 3 anos.
Induz e a pessoa se mata. Art. 122 consumado.
Induz e sofre lesão grave. Art. 122 tentado. Punição sui generis da tentativa pois não precisa do art. 14, o legislador desde logo já diminuiu.
Induz e ela não sofre nem lesão grave. Fato atípico.
Parágrafo único. A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
Motivo Egoístico: o agente participa buscando vantagem pessoal, visando interesses próprios (ex. participa do suicídio de alguém para ficar com a herança dele).
Vítima menor: a lei não diz quem é menor, logo compete a doutrina conceituar menor. O menor é aquele com idade inferior a 18 anos. Mas quando ela deixa de ser considerada menor e passa a ser incapaz (veja incapaz será crime de homicídio). 
1ª corrente) até 14 anos o menor é incapaz, acima de 14 e abaixo de 18 é menor capaz. Faz analogia com o art. 224, a do CP, que trata da presunção de violência nos crimes sexuais. Se o menor de 14 anos não tem capacidade para consentir no simples ato sexual, que fará no ato que vai ceifar-lhe a própria vida. (Nucci e Luis Regis Prado) 
Crítica: chegou a 14 anos por analogia in malam partem, presume incapacidade sem que a lei a fizesse.
2ª corrente) menor é aquele com idade inferior a 18 anos. O limite entre menor não incapaz e menor incapaz depende do caso concreto, cabe ao juiz analisar. (Nelson Hungria e Mirabete). 
Obs.: Há quem se valha dos 12 anos do ECA.
Questões:
Vítima com 20 anos capaz – art. 122, caput, CP;
Suicida com 19 anos incapaz – art. 121 do CP;
Suicida com 17 anos – Art. 122, p.ú, II do CP se capaz, se incapaz Art. 121 CP;
Suicida com 13 anos – divergência doutrinária. Primeira corrente diz que menor de 13 anos é sempre incapaz (art. 121), segunda corrente diz que depende do caso concreto (se não incapaz será art. 122, p.ú, II).
Vítima com diminuída, por qualquer causa, capacidade de resistência: cuidado, é diminuída, se for abolida é art. 121 do CP.
Testemunha de Jeová: 
Imagine uma vítima de acidente de trânsito que precisa de transfusão de sangue para sobreviver. No hospital ela diz que prefere morrer. O médico respeita. A partir do momento em que ela diz isso está se suicidando. O médico respeitando responde pelo crime do art. 122 pois estava na condição de garante ou garantidor, omissão imprópria.
Se os pais conduzem a vítima para lugar ignorado, escondendo-a do socorro médico. Os pais mataram o filho. São garantidores naturais e mataram o filho (art. 121 do CP).
INFANTICÍDIO
3 - INFANTICÍDIO:
Art. 123. Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena – detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
O art. 123 é uma forma especial de homicídio. Temos o que a doutrina chama de especializantes. O art. 123 também pune matar alguém, mas é especial em relação ao art. 121 do CP. É conflito aparente de normas resolvido pelo princípio da especialidade.
É chamado pela doutrina de HOMICÍDIO PRIVILEGIADO, a punição é bem mais branda.
Especializantes do art. 123 do CP:
A) Sujeito ativo: Estamos diante de crime próprio, deve ser a parturiente. O tipo exige qualidade especial ou condição do agente (ser parturiente). Crime próprio admite co-autoria e participação.
 
Nelson Hungria dizia que o estado puerperal era condição personalíssima da parturiente e que não se comunicava não admitindo co-autoria nem participação. Mas após ele se retratou e disse que havia inventado. Há doutrinadores que não se corrigiram e continuam dizendo isso até hoje. Mas atualmente é pacífico que admite co-autoria e participação.
3 Situações:
1- parturiente, sob influência do estado puerperal, mais médico matam o neonato: ambos respondem pelo art. 123 do CP são co-autores, estado puerperal é elementar subjetiva comunicável.
2- parturiente induzida pelo médico mata o neonato: parturiente pelo art. 123 do CP, o médico responde pelo 123 na condição de partícipe. O estado puerperal da parturiente comunica-se ao médico.
3- Médico induzido pela parturiente mata o neonato: o médico praticou o art. 121 e a gestante é partícipe do art. 121. O médico não tem estado puerperal e ela concorreu. É técnico mas não é justo, pois quando ela mata responde por menos, mas quando ela induz responde por homicídio. A doutrina corrige a situação.
1ª corrente Prevalece!: médico e gestante respondem pelo art. 123 do CP, mas a injustiça era só com relação a parturiente e não ao médico. 
2ª corrente: o médico responde pelo art. 121 CP, já a parturiente responde pelo art. 123 do CP, só com relação a ela a injustiça operava.
B) Sujeito Passivo: o próprio filho, nascente ou neonato, quem está nascendo ou acabou de nascer. A mãe não pode matar qualquer filho.
CRIME BIPRÓPRIO (sujeitos ativo e passivo são próprios)
 
Matar pode ser por meios diretos ou indiretos; por ação ou por omissão. Ver homicídio é igual.
C) Circunstância Temporal: durante ou logo após o parto. Se for antes do parto é aborto, se extrapolar a expressão logo após o parto é crime de homicídio. Deve respeitar essa baliza. Até onde vai o logo após o parto? Logo após perdura enquanto perdurar o estado puerperal segundo a jurisprudência, depende da análise do caso concreto.
Cordão umbilical sujo de sangue é um indicativo de logo após o parto e é recém nascido; se tiver qualquer tratamento não é mais logo após o parto ou recém nascido para medicina legal. Para o direito penal é diferente, enquanto houver puerpério será logo após o parto e enquanto for logo após o parto poderá ocorrer infanticídio.
D) Estado: influência do estado puerperal. Estado puerperal é um desequilíbrio fisio-psíquico normal nos partos. A vontade mórbida, ainda, deve ser decorrência do estado puerperal. Deve haver nexo entre a vontade mórbida e o estado puerperal. Está no item 40 da exposição de motivos do CP.
 
MPRJ – 2ª fase: Qual diferença entre estado puerperal e puerpério? Puerpério é o período que se
estende do início do parto até a volta da mulher às condições pré-gravidez.
 Crime de infanticídio só é punido a título de dolo direto ou eventual: Não tem a modalidade culposa. Se culposamente mata o neonato?
A primeira corrente diz ser fato atípico, não há como extrair a negligência da mãe, pois a negligência se extrai da comparação com homem médio. O homem médio não tem estado puerperal.
A segunda corrente diz que responde por homicídio culposo. O estado puerperal não retira o dever de diligência da mãe (Bittencourt, Noronha, Capez).
Diferença do art. 123 para o art. 134, §2° do CP. No art. 123 a mãe age com dolo de dano, a morte é querida ou aceita. Já no art. 134, §2°, a mãe age com dolo de perigo, a morte é resultado involuntário, portanto, delito preterdoloso ou preterintencional. Sem contar que no 123 exige estado puerperal, e no 134,§2° exige ocultar desonra própria.
Consumação: se consuma com a cessação da atividade encefálica do nascente ou neonato, se consuma do mesmo modo que o homicídio, é crime material.
QUESTÃO INTERESSANTE: Infanticídio X erro sobre a pessoa  art.20, §3°, CP.
 
ABORTO
4 . ABORTO (ABORTAMENTO):
Para uma primeira corrente aborto ou abortamento são sinônimos. Pra segunda corrente abortamento é a conduta criminosa e o aborto é o resultado. O CP deveria ter trazido o crime de abortamento. Chamar abortamento de aborto é o mesmo que chamar homicídio de cadáver.
Conceito: Aborto é a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção.
A CADH, art. 4°, I, também protege a vida intra-uterina, em geral (respeita os Estado que permitem abortamentos legais). 
Gravidez:
Fecundação: encontro do espermetazóide com o óvulo (ovócito secundário).
Nidação: alojamento do embrião na parede (endométrio) do útero.
Na biologia prevalece fecundação para o início da gravidez. Na religião também. Mas se você defender que se dá com a fecundação, a pílula do dia seguinte seria caso de aborto. O governo estaria fornecendo instrumentos abortivos de forma gratuita. Logo prevalece que a gravidez se inicia com a nidação.
Espécies de Abortamento:
A - Abortamento natural: Interrupção espontânea da gravidez decorrente de problema de saúde da gestante ou do feto. Não é crime, se quer típico. Atípico.  
B - Abortamento acidental: Decorrente de quedas e traumatismos em geral. Atípico. 
C - Abortamento criminoso: É típico. Art. 124/127 do CP. 
D - Aborto legal ou permitido: Art. 128 do CP.
E- Aborto miserável ou econômico-social: é o aborto praticado por razões de miséria. Falta de condição financeira para criar a vida futura. É crime no Brasil. Não é permitido. Experiência Russa.
F - Aborto eugênico ou eugenésico: praticado para interromper vida extra-uterina inviável. Abortamento do feto anencefálico é espécie de aborto eugênico. 
G - Abortamento honoris causam: praticado para interromper gravidez extra-matrimonial, gravidez adulterina. É crime.
 H - Anúncio de meio abortivo: Decreto-lei n° 3.688, de 3 de novembro de 1941, Art. 20 - Anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar aborto: Pena - multa.
Análise dos artigos:
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma (auto-aborto) ou consentir que outrem lho provoque (consentimento criminoso):
Pena - detenção, de um a três anos.
Pune o auto-aborto ou o consentimento para que outrem lho provoque;
Sujeito Ativo: a gestante, ninguém mais. É crime que exige qualidade ou condição especial do agente. 
Para primeira corrente é crime de mão própria, não admite co-autoria, uma vez que o co-autor é terceiro que responde pelo art. 126 do CP. O potencial co-autor é autor do art. 126. Admite-se apenas participação. Posição de Cesar Roberto Bittencourt e a tendência da doutrina.
Para segunda corrente é crime próprio, admite-se co-autoria. Apenas é uma co-autoria excepcionando o monismo, é exceção pluralista à Teoria Monista. Pluralismo é Teoria de concurso de agentes. Adotada por Luiz Regis Prado.
Sujeito Passivo: primeira corrente diz que o feto só é titular dos direitos expressamente previstos na lei civil. A vítima é o Estado.
Segunda corrente diz que a vítima é o feto. 
Repercussão prática: Para primeira corrente, na gravidez de gêmeos, o crime continua um só. Já para segunda corrente haverá concurso formal de delitos. Prevalece a segunda corrente.
 
Na primeira parte temos o auto-aborto, na segunda parte temos o consentimento criminoso, lembrando que nesta o terceiro responde por aborto provocado por terceiro. 
OBJETO MATERIAL DO CRIME:
A) aborto ovular  o objeto material é o óvulo fecundado (deve ser praticado até os 2 primeiros meses de gravidez);
B) aborto embrionário  objeto material é o embrião (praticado no terceiro ou quarto mês de gravidez);
C) aborto fetal  objeto material é o feto (quando o produto da concepção já atingiu os cinco meses de vida intrauterina e daí em diante).
Animus do Agente: O delito é punido somente a título de dolo direto ou eventual. Nelson Hungria diz que a gestante suicida que não consegue se matar e assume o risco de interromper a gravidez comete auto-aborto a título de dolo eventual.
Questão: Gestante quer acelerar o parto (ex. para receber doação), mas nasce sem vida. O fato é atípico. Estamos diante de abortamento culposo e o fato é atípico.
Consumação: Cuidando-se de crime material consuma-se com a morte do feto, pouco importando se esta ocorreu dentro ou fora do ventre materno, desde que decorrente das manobras abortivas. É perfeitamente possível a tentativa.
Prova:
1 - Gestante praticou as manobras abortivas e expeliu o feto sem vida. Praticou aborto consumado (art. 124 CP);
2 - Gestante pratica as manobras, o feto nasce com vida, mas morre logo após em razão das manobras abortivas. Praticou aborto consumado (art. 124 do CP);
3 - Gestante pratica as manobras abortivas, o feto nasce com vida e ela renova a execução e ele morre. Praticou o crime de homicídio consumado (art. 121 CP), a maioria entende que a tentativa de abortamento fica absorvida (mesma vida, mesmo bem jurídico).
Aborto provocado por terceiro
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento (válido) da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Pune a provocação sem o consentimento válido da gestante;
Sujeito Ativo: qualquer pessoa pode ser o terceiro provocador, é crime comum.
Sujeito passivo: é crime de dupla subjetividade passiva, são vítimas a gestante e o feto necessariamente. O tipo traz necessariamente duas vítimas.
Pune o quê? Pune a provocação sem o consentimento válido da gestante. O não consentimento da gestante pode dar margem ao dissenso real (ela efetivamente não concorda, art. 125), e dissenso presumido em que a lei presume o dissenso da vítima (art. 126 p.ú) a vítima de fato concordou, mas o legislador presume o não consentimento.
Outro exemplo é o crime de violação de correspondência, temos como vítima o remetente e o destinatário.
Questão: Matar mulher grávida, sabendo desta condição, configura quantos crimes? Crime de homicídio mais abortamento ainda que a título de dolo eventual, em concurso formal.
Animus do agente: é punido a título de dolo e no caso do dissenso presumido deve saber que a vítima está incluída em uma das hipóteses do art. 126, p.ú. Se desconhece, responde pelo art. 126, caput do CP. É caso de erro de tipo.
Consumação: se consuma com a interrupção da gravidez e a morte do feto.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento (válido) da gestante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. (dissenso presumido)
Pune a provocação com o consentimento válido da gestante;
Sujeito Ativo: Crime comum, praticado por qualquer pessoa.
 
Vítima: A gestante é AUTORA do art. 124 do CP. A única vítima é o feto.
 
Pune o que? Pune a provocação do
aborto com a destruição do produto da concepção com o consentimento válido da gestante. Se a gestante desiste do aborto e o terceiro prossegue realizando-o responde pelo art. 125 do CP. 
Animus: É punido a título de dolo direto ou eventual.
Consumação: com a interrupção da gravidez gerando a destruição do produto da concepção.
 
Questões :
Namorado induz a namorada a praticar abortamento. Qual crime? Partícipe do art. 124 do CP.
Namorado convence a namorada a praticar o abortamento e paga terceiro provocador para realizar o abortamento. Qual crime? A jurisprudência coloca ele como partícipe do art. 126 do CP.
Uma mulher vai até uma clínica para praticar o abortamento e durante a curetagem o médico percebe que ela está grávida de gêmeos, mas não fala pra ela. Qual o crime?
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores (126, 125) são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Não se aplica ao art. 124, pois é a própria gestante que faz auto-aborto, seria punir a autolesão. O direito penal não pune a autolesão. Mas e o partícipe do art. 124 do CP? Não se aplica, o artigo é claro ao dizer que só para os art. 126 e 125.
	A lesão leve fica absorvida. 
	Esses resultados devem ser a título de culpa. É qualificadora preterdolosa ou preterintencional.
Questão: O agente, sem conseguir interromper a gravidez, mata culposamente a gestante. Qual o crime?
 1ª corrente – responde pelo aborto qualificado consumado (Capez). Não existe tentativa de crime preterdoloso, Capez empresta o espírito da súmula 610 do STF aplicada ao latrocínio. É analogia júris.
2ª corrente – responde por aborto qualificado tentado (Majoritária). Admite tentativa em crime preterdoloso. Crime preterdoloso não admite tentativa quanto ao resultado culposo, mas é possível quanto ao antecedente doloso.
Abortamento legal ou permitido:
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Natureza Jurídica: 
Prevalece que a natureza do art. 128 é causa especial de exclusão da ilicitude. Se não fosse o art. 128 estes comportamentos estariam abrangidos pelo art. 23, o médico estaria dentro de estrito cumprimento de um dever legal ou exercício regular de direito.
Se adotarmos a Teoria da tipicidade conglobante, seria hipótese de atipicidade.
Aborto necessário ou terapêutico (art. 128, I):
Requisitos cumulativos:
A - Praticado por médico. Se for praticado por enfermeiro será hipótese de estado de necessidade de terceiro (art. 23);
B - Risco para a vida da gestante. Só saúde não basta.
C- Inevitabilidade do aborto. O aborto deve ser o único e seguro meio, não pode ser o mais cômodo.
Obs.: Dispensa autorização judicial, dispensa consentimento da vítima.
Abortamento sentimental, humanitário ou ético (art. 128, II):
Requisitos cumulativos:
Praticado por médico. Se foi praticado por enfermeiro é crime.
Gravidez resultante de estupro. Deve ser com violência real ou abrange também a violência presumida. Primeira corrente diz ser somente no caso de violência real. Norma de caráter excepcional se interpreta restritivamente. O abortamento em caso de violência presumida fere a dignidade da pessoa humana. 
Para segunda corrente abrange o estupro com violência presumida. A lei não diferenciou, não cabendo ao interprete fazê-lo. O próprio art. 128, II, lembra da gestante incapaz, maior incidência de violência presumida (prevalece).
Consentimento da vítima ou de seu representante legal.
QUESTÃO: Se o representante legal da menor deseja realizar o aborto e a própria menor se manifesta em sentido contrário, qual a solução?
Obs.: Dispensa autorização judicial. O STF vem exigindo a confecção do BO. A doutrina discorda totalmente disso.
ABORTAMENTO DO FETO ANENCEFÁLICO (espécie de eugênico)
	É uma espécie do abortamento eugênico ou eugenésico. 	Anencéfalo, de acordo com Maria Helena Diniz, é o embrião, feto, ou recém nascido que, por malformação congênita, não possui uma parte do sistema nervoso central, ou melhor, faltam-lhe os hemisférios cerebrais e tem uma perda do tronco encefálico. 
A interrupção da gravidez de feto anencefálico é crime?
LEI
DOUTRINA
JURISPRUDÊNCIA
Não é permitido, quem pratica comete crime. A exposição de motivos do CP diz que abortamento de feto anencefálico é crime.
A doutrina lamenta a lei não ter incluído entre as espécies de aborto permitido.
Admite o abortamento de feto anencefálico desde que a anomalia inviabilize vida extra-uterina.
Existe projeto de lei autorizando esta espécie de abortamento.
Trata-se de hipótese de inexigibilidade de conduta diversa supralegal para a gestante (Bittencourt). Não estende ao terceiro provocador.
Não basta a anomalia inviabilizar a vida extra-uterina. Anomalia deve ser devidamente comprovada em perícia médica.
Por enquanto é crime.
Fato típico, ilícito, não culpável.
Imprescindível laudo atestando dano psicológico à gestante.
 
Outra doutrina diz que feto anencéfalo não tem vida, logo não há como matá-lo. Está interrompendo gravidez sem vida. É hipótese de atipicidade. Se não tem atividade encefálica não tem vida. (lei 9.434/97)
Tem jurisprudência que admite com base na dignidade da pessoa humana da gestante. Não é humano deixar a gestante carregar a gravidez por 9 meses sabendo que não há sobrevida.
 
O abortamento de feto anencéfalo é questão de saúde e dignidade da mulher. Não interessa o Estado nem a coletividade. É a mulher que vai sofrer. Não deveria haver direito penal.
Marco Aurélio (Rel) adota a posição de que não há vida extra-uterina viável. Vide ADPF 54
LESÃO CORPORAL
5 - LESÃO CORPORAL:
No crime de lesão corporal qual é o bem jurídico tutelado? É tripartido, protegendo a incolumidade pessoal, à saúde FÍSICA, FISIOLÓGICA (correto andamento do organismo) e MENTAL.
Está no item 42 da exposição de motivos do Código Penal.
Princípio da insignificância – tipicidade conglobante.
Art. 129, caput, lesão dolosa de natureza leve.
Art. 129, §1°, lesão dolosa ou preterdolosa grave.
Art. 129, §2°, lesão dolosa ou preterdolosa gravíssima.
Art. 129, §3°, lesão seguida de morte, genuinamente preterdoloso.
Art. 129, §6°, lesão culposa. 
Art. 129, §§ 9°, 10 e 11, lesão no âmbito doméstico e familiar.
CUIDADO: Preterdolo não está só no §3°. Tenha atenção!
Sujeito Ativo: Crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa.
 
Questão: Se foi praticado por Policial Militar, abusando da autoridade e fere alguém. Qual ou quais crimes? Se não protege os mesmos bens jurídicos não há como lesão absorver abuso ou abuso absorver lesão. Prevalece que há concurso material entre crime de lesão corporal e abuso de autoridade na Jurisprudência. 
De quem é a competência para processar e julgar esse policial? Lesão corporal vai para a Justiça Militar e o abuso vai para Justiça Estadual. Súmula 172 do STJ. O abuso não é crime militar, JM só julga crime militar. Talvez por isso seja concurso material e não formal de delitos.
Súmula 172: Compete a justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.
 
Sujeito Passivo: Qualquer pessoa, deve ser vida extra-uterina. Em regra é comum. Mas há hipóteses em que a vítima tem qualidade especial como no art. 129, §1°, IV, é necessariamente pessoa gestante (vítima própria).
O direito penal pune a autolesão? Não! Pode punir crime em que autolesão é meio, exemplo de fraude para receber seguro. A autolesão é meio para atingir um fim.
Sabendo que o direito penal não pune a autolesão, que crime pratica a pessoa que induz o inimputável a se auto lesionar? Pratica
o crime de lesão corporal na condição de autor-mediato. O inimputável é instrumento para prática do crime. A incapacidade do inimputável é o seu instrumento.
Dou um soco em uma pessoa que esquiva do golpe se desequilibra, cai e quebra o braço. Qual crime? 
É concausa superveniente relativamente independente, mas que não produziu o resultado por si só. A fratura do braço pode ser imputada a quem deu o soco. 
Lesão corporal leve
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Pune ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. Veja ofender pode ser CAUSAR ou AGRAVAR enfermidade já existente.
 
Crime de Execução Livre: Pode ser praticado por ação ou omissão, por meios diretos ou indiretos.
DOR: a dor é dispensável ou indispensável? A jurisprudência já considerou como lesão corporal até como o desmaio. A dor é dispensável. Havendo dor o juiz pode levar em consideração na fixação da pena.
Corte de cabelo? 1ª corrente: configura lesão corporal, sendo indispensável que a ação provoque uma alteração desfavorável no aspecto exterior do indivíduo.
2ª corrente: configura delito de injúria real, crime contra honra, é ofensa mediante lesão.
Ambas as correntes estão corretas, vai depender do dolo do agente, seja enfear ou humilhar.
Pluralidade de Ferimentos: Se for no mesmo contexto fático é um crime só. O juiz considera a pluralidade de ferimentos na fixação da pena.
Incolumidade Pessoal é bem disponível ou indisponível? Embora a doutrina clássica dissesse que era indisponível, a incolumidade pessoal deve ser considerada como bem relativamente disponível, desde que (Bittencourt):
A. Estejamos diante de lesão leve;
B. Não contrarie a moral e os bons costumes;
C. A vítima deve ter capacidade para consentir.
Obs.: Veja, a própria lei 9.099/95 trata a lesão corporal leve como de ação penal pública condicionada à representação, é relativamente disponível.
Vias de Fato: Na contravenção de vias de fato não existe lesão. O agente não tem a intenção de causar qualquer dano à incolumidade física da vítima. Ex.: empurrão, tapa que não marca, puxão de orelha etc.
Como tratar a intervenção médica, seja de emergência, cirúrgica ou reparadora?
-Bento de Faria diz ser caso de atipicidade.
-Francisco de Assis Toledo diz não há dolo, o médico quando intervêm o faz para salvar, reparar, minorar o dano.
-Bittencourt fala que se está diante de bem relativamente disponível, se a vítima concordou com a intervenção não há que se cogitar em crime.
-Luiz Flávio Gomes diz que o médico não cria, não incrementa risco proibido.
-Zaffaroni traz a tipicidade conglobante.
-Pode ainda ser encarada como exercício regular de um direito ou mesmo estado de necessidade de terceiro.
Consumação: se consuma com a efetiva ofensa dispensando dor. Admite tentativa, principalmente nas modalidades dolosas.
Lesão corporal de natureza grave
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
Ocupação Habitual: é a atividade corporal rotineira, não necessariamente ligada a trabalho ou ocupação lucrativa, devendo ser lícita, ainda que imoral.
A prostituta exerce atividade corporal rotineira, licitamente, lucra, porém é imoral. Ela pode ser vítima.
MPSP: um bebê de 6 meses pode ser vítima? O bebê que fica, por exemplo, sem poder ser amamentado pela mãe por mais de 30 dias por lesão no maxilar, tendo que ser amamentado por meio de sonda (é exemplo da jurisprudência). O bebê pode ser vítima.
A vítima não sai de casa por mais de 30 dias com vergonha da lesão. É lesão grave? Não gera qualificadora, a simples vergonha da lesão não gera. O que deve incapacitar não é a vergonha da lesão, mas a própria lesão.
Obs.: A incapacidade deve se dar por mais de 30 dias. No dia da lesão faz-se uma perícia e, logo após o 30° dia vai haver outra perícia que vai dizer se ficou ou não incapacitado por mais de 30 dias.
Exemplo: O primeiro laudo é realizado no dia 10 de janeiro e o segundo laudo foi realizado no dia 10 de fevereiro. O segundo laudo é válido? Este prazo inclui o dia do início e exclui o do fim? É prazo penal ou processual?
Se for penal, computa o dia do início (10 de janeiro) e exclui o do fim (10 de fevereiro), assim o 30° dia seria o dia 09 de fevereiro. Se o prazo for processual, exclui-se o primeiro dia e inclui o último dia, o 30° dia é 10 de fevereiro, logo mais de 30 dias o laudo deveria ser realizado no mínimo no dia 11 de fevereiro.
Tal prazo é penal, pois é questão de tipicidade e direito de punir. Pode ser realizada a perícia no dia 10 sendo válida.
II - perigo de vida;
Perigo de vida é probabilidade séria, concreta e imediata do êxito letal, devidamente comprovada por perícia. A mera região da lesão não permite presunções. A lesão pode até ser no pescoço, mas deve haver o laudo.
Obs.: o inciso II só pode ser preterdoloso, se o agente assume o risco de matar a vítima é hipótese de tentativa de homicídio.
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
Debilidade é enfraquecimento, diminuição da capacidade funcional. Permanente significa recuperação incerta e por tempo indeterminado.
Questão: Vítima perdeu 1 dente, teve enfraquecida sua capacidade funcional? Qual dente caiu? Vai depender de perícia. A perícia que vai dizer se aquele dente que a vítima perdeu vai enfraquecer ou não o órgão de mastigação. Mesmo raciocínio se aplica para a perda de um dedo.
Uso de aparelhos ou instrumentos de prótese. Se a debilidade puder ser atenuada com o uso de tais aparelhos, exclui-se a qualificadora? Não. Continua qualificado segundo a jurisprudência.
IV - aceleração de parto:
A lesão resulta na vítima parto prematuro com vida. Se a lesão der origem a parto antecipado, tem-se o art. 129,§1°, IV do CP desde que a intenção do agente não seja o aborto, que seria caso de art. 125 tentado. Se a lesão causar aborto é art. 129, §2°, V, desde que a intenção do agente não seja o aborto, o que seria caso de art. 125 consumado.
É imprescindível que o agente saiba ou pudesse saber que a vítima é gestante, pra evitar a responsabilidade penal objetiva.
§ 2° - Se resulta: (5)
I - incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
A expressão gravíssima é criação da doutrina. De acordo com a lei a lesão grave abrange as hipóteses do §1° e do §2°. Mas para a doutrina a lesão grave está no §1°, e gravíssima no §2° do art. 129. É que segundo a doutrina as hipóteses do §2° são ainda mais graves que as do §1°.
 
Delegado: Qual lei adotou a expressão gravíssima adotada pela doutrina? A lei 9455/97, lei de tortura, no seu art. 1°, §3°. É o legislador adotando expressão criada pela doutrina.
I - incapacidade permanente para o trabalho;
Esta incapacidade é para qual trabalho? O que a vítima exercia ou qualquer espécie de trabalho? A expressão é específica ou genérica?
Prevalece que para incidir a qualificadora é para todo e qualquer tipo de trabalho. Tem que ficar inútil do ponto de vista laborativo. Mas tal exigência não é razoável. Seria só incidir a qualificadora no caso de estado vegetativo. Uma pessoa tetraplégica pode prestar concurso, pode ser político, ser comentarista de TV etc.
II - enfermidade incurável;
Enfermidade incurável é a transmissão intencional de uma doença para a qual não existe cura no estágio atual da medicina. Cuidado, essa enfermidade não pode ter natureza letal. A AIDS tem natureza fatal e não é abrangida. Deve ser enfermidade que não coloca a vida em risco. A transmissão intencional do vírus da AIDS é tentativa de homicídio segundo o STJ.
III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
A pessoa em razão da função perde 1 testículo, que lesão é essa? A função não foi perdida ou inutilizada, mas sim diminuída. Tratando-se de órgãos duplos, pra que seja gravíssima a lesão deve atingir ambos, ou será apenas lesão grave.
	
Se a lesão causar na vítima impotência generandi (atinge homem e mulher) ou coeundi (atinge apenas o homem), qual é o crime? Lesão gravíssima, a impotência de gerar vida ou a impotência instrumental geram lesão gravíssima.
IV - deformidade permanente;
Deformidade permanente consiste no dano estético aparente, considerável, irreparável pela própria força da natureza e capaz de provocar impressão vexatória. Impressão vexatória é desconforto pra quem olha e humilhação pra vítima. 
A idade, o sexo e a condição social da vítima interferem nessa qualificadora. Uma cicatriz no pescoço pode ser deformidade pra mulher e não para o homem.
O que é vitriolagem? É a deformidade permanente oriunda do emprego de ácido (sulfúrico).
Diferentemente da Itália e da Argentina, no Brasil não se exige que atinja o rosto. Pode atingir qualquer parte do corpo desde que haja uma deformidade permanente.
V - aborto:
	É qualificadora necessariamente preterdolosa, uma vez que o aborto surge por culpa, é dolo na lesão e culpa no aborto. No art. 127 temos o aborto qualificado pela lesão, aqui a lesão é qualificada pelo aborto. No art. 127 o agente age com dolo no aborto e culpa na lesão. Já no art. 129 o dolo está na lesão e a culpa está no aborto. Ambos são preterdolosos mas opostos.
 É possível coexistência de qualificadoras? Em razão da lesão a vítima ficou incapacitada por mais de 30 dias e com deformidade permanente. O art. 129, §2°, IV serve como qualificadora, já o §1° é utilizado como circunstância judicial desfavorável.
Lesão corporal seguida de morte
§ 3° - Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
A morte não pode fazer parte do dolo direto (quis), nem do dolo eventual (assumiu o risco) do agente. A morte é culposa. Estamos diante de um crime preterdoloso ou preterintencional. É chamado de homicídio preterdoloso.
Elementos: 
A - Conduta dolosa visando ofender a incolumidade (corporal, psíquica ou fisiológica) pessoal da vítima;
B - Resultado culposo (previsto ou previsível) mais grave involuntário, qual seja, a morte;
C - Nexo causal entre conduta e resultado.
Se o resultado mais grave é proveniente de caso fortuito ou força maior, o agente responde apenas pela lesão. Se não era previsível não há como lhe imputar o resultado. Ex.: estou numa boate e brigo com uma pessoa que cai bate com a cabeça na cadeira e morre, é caso de lesão corporal seguida de morte. Agora supomos um tatame próprio para briga, o agente dá um chute no árbitro que cai, bate a cabeça num prego e morre. O resultado morte é imprevisível. Greco exemplifica como agente que dá uma rasteira na vítima na praia que bate a cabeça em uma enorme pedra escondida, não sendo previsível a morte, será responsabilizado pela lesão leve, grave ou gravíssima ocorrida anterior ao resultado morte.
Empurro uma pessoa que cai, bate a cabeça na sarjeta e morre, qual o crime? Empurrão é vias de fato. Vias de Fato seguida de morte não está no art. 129, §3°, sob pena de ser analogia in malam partem. É caso de homicídio culposo, ficando a vias de fato absorvida.
Diminuição de pena (lesão privilegiada – ver parte de homicídio com exceção do resultado)
§ 4° - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Substituição da pena
§ 5° - O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
É benefício exclusivo da lesão leve. 
 
§ 6° - Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano.
Independe da natureza da lesão, se a lesão é culposa não importa se é leve, grave ou gravíssima, cai no §6°. O juiz irá considerar a gravidade da lesão na fixação da pena.
Lesão culposa na direção de veículo automotor está no art. 303 do CTB.
Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do parágrafo único do artigo anterior.
As penas são claramente diferentes, o CTB traz pena bem mais grave. Se analisar sob a ótica do desvalor do resultado (é o mesmo), não há razões para diferenças. A razão para diferença está no desvalor da conduta, a conduta no trânsito é mais perigosa merecendo uma pena maior e, com isso, é possível proteger a constitucionalidade.
Porém se a lesão é dolosa a pena é de 3 meses a 1 ano do CP, agora, se a lesão é culposa responde-se pelo art. 303 do CTB, 6 meses a 2 anos. Se eu quero passar com a roda por cima do pé da vítima, vai para o CP em 3 meses a 1 ano; porém se eu passo culposamente a lesão é do CTB e a pena será maior. Há uma desproporção muito grande, pelo dolo respondo por pena menor que na culpa.
Aumento de pena
§ 7° - Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses do art. 121, § 4°.
§ 8° - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5° do art. 121.
 
Violência Doméstica
§ 9° Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1° a 3° deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9° deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). 
§ 11. Na hipótese do § 9° deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. 
Até 1990 tudo que era lesão inseria-se numa vala comum. A partir de 1990 o Brasil entra num clima de especialização da violência (ex.: lesão contra criança e adolescente, crimes hediondos ou equiparados, em 95 infrações de menor potencial ofensivo, em 97 a tortura recebeu tratamento especial, em 97 criou-se o CTB, em 2003 criou-se o estatuto do idoso, e após a violência doméstica e familiar contra mulher foi retirada do caldo comum com a lei Maria da Penha).
Quais as finalidades da Lei Maria da Penha?
Jamais diga que a Lei Maria da Penha é lei penal, ela é multidisciplinar, não tem finalidade punitiva.
Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006 
Art. 1° Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8° do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
a. coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher;
b. assistir a mulher vítima;
c. proteger a mulher vítima.
Obs.: A lei reconhece que o homem pode ser vítima. O art. 129 do CP, alterado pela Lei Maria da Penha, inclui o homem. A vítima pode ser tanto o homem quanto a mulher.
Se o homem é vítima, ele tem o CP, principalmente §§9° até 11. Se a vítima é mulher, ela tem o CP mais a Lei Maria da Penha. A mulher está sendo superprotegida.
Será que essa super-proteção é constitucional?
1ª

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais