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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE Centro de Filosofia e Ciências Humanas – CFCH Departamento de Ciências Geográficas – DCG Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPGEO DRIELLY NAAMMA FONSÊCA DA SILVA RECIFE, 2012 Reconstrução da Paisagem Geomorfológica através da Assinatura Geoquímica dos eventos deposicionais da bacia do rio Capibaribe-Mirim, Pernambuco 1 DRIELLY NAAMMA FONSÊCA DA SILVA Reconstrução da Paisagem Geomorfológica através da Assinatura Geoquímica dos eventos deposicionais da bacia do rio Capibaribe-Mirim, Pernambuco RECIFE, 2012 Dissertação apesentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco, como Requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Geografia Orientador: Antonio Carlos de Barros Corrêa 2 Catalogação na fonte Bibliotecária Divonete Tenório Ferraz Gominho, CRB4-985 S586r Silva, Drielly Naamma Fonsêca da Reconstrução da paisagem geomorfológica através da assinatura geoquímica dos eventos deposicionais da bacia do rio Capibaribe-Mirim, Pernambuco / Drielly Naamma Fonsêca da Silva. – Recife: O autor, 2012. 167 f. : il. ; 30 cm. Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos de Barros Corrêa Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco. CFCH. Programa de Pós–Graduação em Geografia, 2012. Inclui bibliografia. 1. Geografia. 2. Bacias hidrográficas - Rio Capibaribe-Mirim(PE). 3. Geoquímica – Assinatura. 4. Morfotectônica. I. Corrêa, Antonio Carlos de Barros. (Orientador). II. Título. 910 CDD (22. ed.) UFPE (CFCH2012-128) 3 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE Centro de Filosofia e Ciências Humanas – CFCH Departamento de Ciências Geográficas – DCG Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPGEO DRIELLY NAAMMA FONSÊCA DA SILVA Título: “Reconstrução da Paisagem Geomorfológica através da Assinatura Geoquímica dos eventos deposicionais da bacia do rio Capibaribe-Mirim, Pernambuco” BANCA EXAMINADORA TITULARES: Orientador: ___________________________________________________ Prof. Dr. Antonio Carlos de Barros Corrêa (UFPE) 1° Examinador: ________________________________________________ Prof. Dr. Julio César Paisani (UNIOESTE/PR) 2° Examinador: ________________________________________________ Prof. Dr. Demétrio da Silva Mutzemberg (UFPE) APROVADA em 30de agosto de 2012. 4 AGRADECIMENTOS A minha mãe Maria do Socorro, por toda ajuda e apoio em todas as etapas da minha vida. A minhas tias, Lindalva Fonsêca e Luzia Fonsêca que sempre me deram força para que eu continuasse meus estudos. A minha irmã Dreyssi Fonsêca pelo apoio incondicional. Ao meu orientador o Prof. Dr. Antonio Carlos de Barros Corrêa, pela paciência e competência em me guiar durante toda a pesquisa e por toda ajuda e ensinamentos que tem me dado desde a época da graduação, muito obrigada! As coordenadoras do Programa de Pós-Graduação em Geografia Profa. Dra. Ana Cristina de Almeida Fernandes e Profa. Dra. Eugênia Cristina Gonçalves Pereira. Ao Prof. Dr. Alcindo José de Sá pela amizade e ensinamentos. Aos amigos Bruno Tavares, Daniel Lira, Lucas Cavalcanti pela ajuda acadêmica, no campo e pela amizade em todas as horas. Aos amigos do GEQUA Ana Clara Magalhães, Antonio Carlos Rocha, Cristiana Duarte, Danielle Gomes, Débora Meira, Diogo Galvão, Évio Lima, Flavia Lima, Joazadaque Souza, Jonas Souza, Kleython Monteiro, Leandro Diomério, Rhaissa Tavares, Renata Azambuja, Ronaldo Missura, Wemerson Flávio, obrigada pelos momentos juntos. Aos amigos da graduação e de sempre Hewerton Alves, Keyla Alencar. Ao CNPq e a CAPES pela concessão de bolsas de Mestrado. 5 “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original” (Albert Einstein) 6 RESUMO SILVA, D. N. F. Reconstrução da Paisagem Geomorfológica através da Assinatura Geoquímica dos eventos deposicionais da bacia do rio Capibaribe-Mirim, Pernambuco. Eventos denudacionais foram responsáveis, na bacia do rio Capibaribe-Mirim, pela deposição de unidades deposicionais que recobrem as vertentes da região. O objetivo deste trabalho é caracterizar essas unidades deposicionais através de análises físicas e químicas, visando contribuir com as interpretações acerca da gênese e evolução destes materiais. Amostras de sedimento foram coletadas em nove perfis. As amostras foram coletadas em todos os horizontes e em cascalheiras neles presentes e, foram submetidas às análises granulométricas e quantitativas dos elementos Si, Ti, Al, Fe Total , Mn, Mg, Ca, Na, K, P e Zr, utilizando-se espectrometria de fluorescência de raios-X. Os resultados forneceram evidências morfológicas, granulométricas e químicas que confirmam que os materiais que compõem a cobertura deposicional sobreposta às linhas de pedra são alóctones. As principais evidências foram: identificação de fragmentos reliquiais em estágio incipiente de alteração num solum altamente intemperizado e a presença destes fragmentos em maior quantidade nas linhas de pedra do que no saprólito abaixo; discordâncias entre os materiais do horizonte C e do solum apontadas pela relação Zr/Ti; distribuição de elementos “imóveis” – Fe, Ti, Zr e Al – com padrões diferentes em relação a um padrão de desenvolvimento in situ, refletindo, em parte, acumulação de material mais argiloso na base do solum e mais arenoso no topo, interpretada como diferença textural proporcionada por processos de transporte e deposição. A relação Zr/Ti foi considerado melhor marcador de descontinuidades, sobretudo em depósitos com materiais de diferentes origens e/ou composição mineralógica. Essa relação sugere que os pacotes se desenvolveram sobre materiais depositados em paleosuperfícies compostas de elementos côncavos e convexos. Apesar dos processos morfogenéticos sugerirem uma maior participação da erosão nas formas de relevo da área investigada, possivelmente as formas atuais seriam produto tanto de processos geoquímicos quanto de processos erosivos, bem como de possíveis reativações tectônicas. Palavra-Chave: Assinatura Geoquímica; Morfotectônica; Rio Capibaribe-Mirim. 7 ABSTRACT Denudational events were responsible, in the Cabiparibe-Mirim watershed, for the deposition of coluvial units that cover the hill slopes of the area. This work aimed at characterizing those coluvial units by means of physical and chemical analysis, in order to contribute with the interpretations regarding the origin and evolution of these materials. Sediment samples were collected in nine profiles. All discernible stratigraphic levels, including gravel layers, were collected and subjected to particle size and qualitative analysis of Si, Ti, Al, Fe Total , Mn, Mg, Ca, Na, K, P e Zr using x-ray fluorescence spectrometry. The results yelded morphological, particlesize and chemical evidences that corroborated the idea that the materials that make up the pedological cover above the stone lines are alloctonous. The most significant evidences were: the identification of poorly weathered corestones amidst a highly weathered matrix, the presence of a larger concentration of clasts in stone lines than on the underlying saprolite, discordances between C horizon and the solum as pointed out by the Zr/Ti ratio; distribution of stable elements – Fe, Ti, Zr e Al – showing a distribution pattern quite distinct from the in situ one, which reflects the accumulation of clayey material at the solum basis and Sandy material at the top of the profile. That textural difference was interpreted as resulting from transport and deposition processes. The Zr/Ti ratio was considered the best discontinuity marker, moreover in soils composed of materials deriving from several origins and mineralogical composition. This ratio sugests that the soils were developed on materials that were deposited above paleosurfaces displaying concave and convex geometries. In spite of morphogenetic processes suggesting a more significant role of erosion on the shaping of the local landforms, probably the contemporary morphologies result from both geochemical and erosive processes, as well as likely tectonic reactivations Keywords: Geochemical signature; Morphotectonics; Capibaribe-Mirim watershed. 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 15 1.1 OBJETIVO 18 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 20 2.1 SUPERFÍCIES DE EROSÃO 20 2.1.1 O Ciclo Geográfico de Willian Moris Davis 20 2.1.2 Teoria da Etchplanação 22 2.1.3 Primarrumpf e Piedmonttreppen de Penck 23 2.1.4 Pedimentação e Pediplanação 24 2.1.5 Equilíbrio Dinâmico de Hack 26 2.1.6 As Superfícies erosivas no Brasil 28 2.1.7 Superfícies de erosão no Nordeste do Brasil 31 2.2 NEOTECTÔNICA – HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO TERMO 33 2.2.1 Tectônica Recente no Brasil 36 2.2.2 Evolução Morfotectônica da porção Oriental do Nordeste 37 2.3 AIMPORTÂNCIA DO QUATERNÁRIO NOS ESTUDOS GEMORFOLÓGICOS 42 2.3.1 O Quaternário no Nordeste 43 2.3.2 Processos Deposicionais no Quaternário 44 2.4 MORFOESTRATIGRAFIA 47 2.4.1 Estratigrafia de Sequência 48 2.4.1 Aloestratigrafia 49 2.5 O PAPEL DOS MARCADORES GEOQUÍMICOS NA DIFERENCIAÇÃO ESTRATIGRÁFICA: TÉCNICAS E APLICAÇÕES 51 2.5.1 Geoquímica das Formações Superficiais 52 2.5.2 Assinatura Geoquímica na caracterização dos materiais transportados 54 3 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA ANÁLISE DOS COMPONENTES MORFOESTRUTURAIS, SEDIMENTOLÓGICOS E GEOQUÍMICOS 57 3.1 MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO E MORFOESTRUTURAL 57 3.2 LINEAMENTOS DE DRENAGEM E RELEVO E DENSIDADE DE DRENAGEM 58 9 3.3 A ANÁLISE MORFOESTRATIGRÁFICA 60 3.4 TRABALHO DE CAMPO E COLETA DE MATERIAIS 61 3.5 TRABALHO DE LABORATÓRIO 62 3.5.1 Química Total 62 3.5.2 Análise Sedimentológica 62 3.5.3 Morfoscopia 65 3.5.4 Assinatura Geoquímica dos sedimentos pelo método de XRF (Fluorescência de Raios-X) 66 4 CARACTERIZAÇÃO FISIOGRÁFICA DA ÁREA 70 4.1 ARCABOUÇO GEOLÓGICO 70 4.1.1 Evolução da Província Borborema 70 4.2 ASPECTOS CLIMÁTICOS 78 4.3 ASPECTOS VEGETACIONAIS 79 4.4 ASPECTOS PEDOLÓGICOS 80 4.5 REDE DE DRENAGEM 81 5 ANÁLISE DOS COMPONENTES MORFOESTRUTURAIS E SEDIMENTOLÓGICOS 82 5.1 ANÁLISE DE LINEAMENTOS DE RELEVO E DE DRENAGEM 82 5.2 ESTRUTURAÇÃO DA REDE DE DRENAGEM 87 5.2.1 Hierarquia Fluvial 87 5.2.2 Análise de Densidade de Drenagem 88 5.3 COMPARTIMENTAÇÃO MORFOESTRUTURAL DA BACIA DO RIO CAPIBARIBE-MIRIM 90 5.3.1 Domínio do Planalto da Borborema 90 5.3.2 Domínio do Baixo Planalto Dissecado 95 5.3.3 Domínio dos Tabuleiros Sedimentares 97 5.3.4 Domínio das Planícies Aluviais 99 5.4 COMPARTIMENTAÇÃO GEOMORFOLÓGICA 100 5.5 DESCRIÇÃO DOS PONTOS DE COLETA 107 5.6 ANÁLISE DOS DADOS SEDIMENTOLÓGICOS 126 5.7 QUÍMICA TOTAL DOS SEDIMENTOS 131 5.7.1 Índices Ki e Kr 135 5.7.2 Comportamento das curvas de concentração de elementos “imóveis” 136 10 5.7.3 Razão Zr/Ti 139 6 GEOMORFOLOGIA, ASSINATURA GEOQUÍMICA E GÊNESE DA COBERTURA SEDIMENTAR 142 6.1 EVIDÊNCIAS DO TRANSPORTE DOS MATERIAS NA BACIA DOO RIO CAPIBARIBE-MIRIM 142 6.2 REJEIÇÃO A OUTRAS HIPÓTESES SOBRE A GÊNESE DA COBERTURA SEDIMENTAR 143 6.3 IMPLICAÇÕES NA EVOLUÇÃO GEOMORFOLÓGICA 145 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 147 REFERÊNCIAS 148 11 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Localização da área de estudo com destaque para imagem TOPODATA da bacia do rio Capibaribe-Mirim 17 Figura 2 – Exemplo de modelos evolutivos do relevo. Evolução do Relevo segundo Davis, Penck e Hack 24 Figura 3 – Median Shear Corridor ou Zona Transversal. Região entre o Lineamento Patos e Pernambuco 38 Figura 4 – Evolução tectônica da bacia Pernambuco e Paraíba 40 Figura 5 – Exemplo de classificação aloestratigráfica de depósitos aluvionares e lacustres em um gráben 50 Figura 6 – Relações das formações superficiais com o substrato 52 Figura 7 – Diagrama representa os diferentes graus de arredondamento e esfericidade (TUCKER, 1995) 66 Figura 8 – Localização regional da BHCM 70 Figura 9 – Mapa com as divisões da Província Borborema 72 Figura 10 – Arcabouço Geológico da Bacia do rio Capibaribe-Mirim 75 Figura 11 – Mapa de distribuição da cobertura pedológica da Bacia do rio Capibaribe-Mirim 80 Figura 12 – Mapa da rede hidrográfica da bacia do rio Capibaribe-Mirim 81 Figura 13 – Lineamento de Drenagem da BHCM 83 Figura 14 – Rosáceas com dados de Comprimento e Frequência Absoluta dos lineamentos de drenagem 83 Figura 15 – Fotolineamentos distribuídos de acordo com os azimutes de iluminação 45°, 90°, 315° e 360°. 85 Figura 16 – Rosáceas com frequências dos fotolineamentos 86 Figura 17 – Rosáceas com comprimentos absolutos dos fotolineamentos 86 Figura 18 – Hierarquização fluvial da BHCM de acordo com a metodologia de Strahler (1950) 88 Figura 19 – Mapa da densidade de drenagem da BHCM 89 Figura 20 – Compartimentação Morfoestrutural do rio Capibaribe-Mirim 91 Figura 21 - Distribuição dos perfis longitudinais das morfoestruturais da BHCM 92 Figura 22 – Transecto A-B representando o compartimento de cimeira da Borborema 92 Figura 23 – Transectos representando superfície dissecada com basculamento W-E 93 12 Figura 24 - Transecto G-H representando o Horst Manuel Mattos 94 Figura 25 – Transecto I-J identificando a superfície do Gráben do rio Água Torta 95 Figura 26 - Transecto do Hemi-gráben do rio Siriji 96 Figura 27 – Perfil em transecto da Superfície Dissecada em cristas e vales 97 Figura 28 – Transecto representando os dois compartimentos tabulares na BHCM 98 Figura 29 – Perfil em transecto dos compartimentos das Planícies aluviais 99 Figura 30 – Compartimentação Geomofológica da BHCM. 101 Figura 31 – Superfície de Cimeira próxima as nascentes do rio Capibaribe-Mirim 102 Figura 32 – Escarpas dissecadas com superfícies de cimeiras ao fundo 103 Figura 33 – Maciço estrutural no setor sul da BHCM 104 Figura 34 – Tabuleiros dissecados no limite sul da BHCM 105 Figura 35 – Tabuleiros estruturados em sedimentos da Formação Barreiras, setor nordeste da BHCM 106 Figura 36 – Terraços no vale do rio Capibaribe-Mirim 106 Figura 37 – Fluxo de detritos na área do baixo Capibaribe-Mirim 107 Figura 38 – Transecto mostrandoo ponto de coleta em relação a paisagem 108 Figura 39 - Perfil do ponto 1 mostrando fluxos de detritos 109 Figura 40 - Perfil longitudinal apontando localização do ponto de coleta em relação a paisagem 110 Figura 41 – Perfil 2 mostrando fluxo de detritos no baixo Capibaribe-Mirim 111 Figura 42 – Transecto do perfil 3 mostrando sua posição em relação a topografia da área amostrada 112 Figura 43 - Perfil 3 mostrando coberturas coluviais separadas por stone line 113 Figura 44 – Transecto mostrando a posição topográfica do ponto amostrado 114 Figura 45 - Perfil mostrando cascalheira com presença de mosqueamento 115 Figura 46 – Transecto mostrando posição topográfica do perfil de alteração 116 Figura 47 - Perfil de alteração do embasamento cristalino 117 Figura 48 – Transecto mostrando a posição topográfica do ponto de amostragem 118 Figura 49 – Possível paleocanal do rio Siriji 119 Figura 50 – Transecto mostrando posição do ponto de amostragem em relação à paisagem 120 Figura 51 – Colúvio na alta bacia do rio Capibaribe-Mirim 121 Figura 52 – Transecto da topografia do ponto de coleta 122 13 Figura 53 - Ponto de coleta 7 mostrando base com mosqueamento que indica mundança do nível freático 123 Figura 54 – Transecto mostrando posição topográfica da área amostrada 124 Figura 55 – Colúvios separados por stone line 125 Figura 56 – Curvas de concentração dos elementos estáveis 137 Figura 57 – Curvas de concentração da razão Zr/Ti por perfil amostrado 140 14 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Mobilidade dos minerais sob condições dominantemente úmidas 53 Tabela 2 – Escala quantitativa de Folk & Ward (1957) para descrição do grau de seleção 63 Tabela 3 – Escala quantitativa de Folk & Ward (1957) para descrição do grau de assimetria 63 Tabela 4 – Escala quantitativa de Folk & Ward (1957) para classificação dos valores de curtose 64 Tabela 5 – Principais técnicas analíticas da assinatura geoquímica de sedimentos. 69 Tabela 6 - Morfoscopia dos pontos coletados 127 Tabela 7 – Grau de seleção, assimetria e curtose dos pontos coletados na BHCM 131 Tabela 8 – Análise Química total e perda de fogo (PF) por perfil. 133 Tabela 9 - Quantidade de silício, alumínio e ferro; índices Ki e Kr. 136 Tabela 10 – Relação dos elementos “imóveis” 137 Tabela 11 – Concentração dos elementos Ti e Zr e a razão entre eles. 140 15 1 INTRODUÇÃO As relações entre a idade das superfícies geomorfológicas e seus materiais estruturadores sempre foi um capitulo fundamental para os estudos geomorfológicos, sobretudo no contexto das margens passivas, como pode ser visto na vasta literatura produzida sobre o tema na região (Corrêa et al, 2005; King, 1956; Mabesoone & Castro, 1975). Diversos autores elaboraram inúmeras pesquisas no intuito de identificar e classificar as superfícies erosivas e deposicionais no território brasileiro, identificando grandes compartimentos regionais calcados em sucessivos eventos erosivos em escala temporal longa (Bigarella & Ab’Saber, 1964; Bigarella & Andrade, 1965; Ruelan, 1956; Demangeot, 1961; DeMartonne, 1943). O modo de se classificar topos de mesma altitude como sendo elementos de uma mesma superfície foi amplamente utilizado na classificação das superfícies aplainadas, entretanto este método foi bastante criticado com os desenvolvimentos que se seguiram à ampliação dos estudos sobre Neotectônica (Obruchev apud Suguio, 1998). Blocos que inicialmente estavam em uma superfície desenvolvida no período Mesozóico poderiam ter sido soerguidos a altitudes equivalentes a superfícies Paleozóicas, mais velhas e teoricamente mais altas. Ou mesmo blocos de superfícies mais antigas como as superfícies Pré-Cambrianas sofrerem subsidência e estarem a altitudes correspondentes a superfícies Paleozóicas, por exemplo. Esses eventos de movimentos de blocos falhados constitui-se uma das maiores dificuldades para uma melhor identificação das superfícies aplainadas. O grande problema da classificação das superfícies erosivas no rebordo do saliente oriental do Nordeste do Brasil deve-se aos movimentos verticais de blocos falhados que se seguiram após a reativação Wealdiana, também chamada Pós-Paleozóica. Esse evento que culminou na formação do Oceano Atlântico provocou na margem passiva Sulamericana, submetida à flexura, uma configuração estrutural em teclas de piano, com alternância de grábens e horsts, logo de novas áreas fonte e bacias sedimentares de expressão local (Fortes 1986). No entanto, a evolução geodinâmica desta região ao longo do Cenozóico se deu de forma a desgastar os horsts, sendo o material proveniente do desgaste depositado nos grábens mais próximos à moda de sedimentos correlativos da elaboração do relevo das áreas fontes. Embora o ritmo processual entre soerguimento, denudação e deposição, possivelmente tenha se repetido de forma cíclica desde o final do Cretáceo, resta na paisagem hodierna os saldos erosivos/deposicionais dos últimos episódios geradores de formas, sendo justamente sobre a análise da conectividade entre estas que esta proposta de trabalho se alicerça. Essa evolução a partir do desgaste de um bloco soerguido e deposição num bloco rebaixado mais próximo 16 podem ser verificadas através da ocorrência de fácies deposicionais proximais, como fluxos de detritos e lamitos (BEZERRA et al 2008) temporalmente confinados ao Pleistoceno superior, o que sugere uma reativação recente e provavelmente recorrente dos controles tectônicos responsáveis pela manutenção dos altos e baixos topográficos ao longo da margem continental do NE oriental. Neste sentido, este trabalho está atrelado a uma linha de investigação ainda pouco explorada dentro da ciência geomorfológica da região, que tem por objetivo elucidar a evolução da paisagem através da interação entre os fatores geológicos e geomorfológicos a fim de correlacionar os fatores que contribuíram na gênese do relevo. Assim foi escolhido como objeto de estudo a Bacia do rio Capibaribe-Mirim, situada a cerca de 60Km do Recife, abrangendo vários municípios do Estado de Pernambuco, com sua nascente no município de São Vicente Férrer e sua foz no município de Goiana, onde este se encontra com o rio Tracunhaém para formar o rio Goiana, entre as coordenadas 35°31’00” W e 7°40’30’’ S e 35°0’00’’ e 7°20’30’’ (Figura 1). O problema de algumas propostas metodológicas reside na generalização de processos e formas sob determinada escalas espaço-temporais de análise. Afinal algumas das premissas válidas para os modelos de aplainamento só podem ser testadas em escala regional, o que pressupõe muitas vezes uma atitude reducionista face a litologias, climas, regime tectônico, ritmos climáticos, coberturas pedológicas e dinâmicas fluviais bastante distintas quando se propõe um detalhamento das áreas de estudo. Neste sentido pode-se tomar por exemplo um excerto do trabalho clássico “Geomorfologia do Brasil Oriental” de Lester King (1956) onde ‘o autor assevera que “... o relevo do Brasil Oriental resume-se à pediplanação com formação de pedimentos na base das encostas e regressão paralela das vertentes.” Vale ressaltar que neste trabalho toma-se como Brasil Oriental toda a área compreendida desde o sul da foz do rio São Francisco ao norte de Santa Catarina, englobando ainda o leste de Minas Gerais. Resta evidente, portanto, que tal assertiva só tem aplicabilidadeem um nível bastante agregado de análise da informação geomorfológica. 17 Figura 1 – Localização da área de estudo com destaque para imagem TOPODATA da bacia do rio Capibaribe- Mirim. Fonte: a autora. Assim, na perspectiva clássica de elaboração das superfícies de aplainamento, além da generalização e agrupamento das formas por ordem cronológica presumida, registra-se também um abandono dos estudos processuais, climáticos e neotectônicos, pela maior parte dos enfoques tidos como cíclicos acerca da evolução do relevo. Em resumo, o método das superfícies de erosão é tomado como modelo apriorístico, não sendo necessária sua confrontação com evidências de campo como a análise morfoestratigráfica e a cronologia absoluta dos modelados de agradação. 18 Corrêa (2001) afirma que a paisagem atual é resultado do somatório dos processos históricos que influenciaram diretamente na elaboração e modificação das suas formas. Observações preliminares apontam para que as definições regionais, embasadas nas correntes cíclicas de evolução do relevo, não propiciam uma compreensão das relações de campo entre as formações superficiais e as formas do relevo. Portanto, faz-se necessário estabelecer uma relação clara entre os materiais estruturadores da superfície da paisagem e seus vínculos com as formas de relevo resultantes. Os limites das formações superficiais podem ser adequadamente elucidados através de técnicas de mapeamento de detalhe que associem procedimentos de mapeamento morfológico tradicional (DEMEK, 1972), com analises de feições morfoestruturais, associadas a análises geoquímicas dos materiais envolvidos. 1.1 OBJETIVO A necessidade de aprofundar os conhecimentos acerca da gênese e evolução do relevo do planalto da Borborema requer agregar novas abordagens teórico-metodológicas aos estudos já realizados na região. Neste sentido esta pesquisa tem como objetivo a reconstrução da dinâmica neo-cenozóica da paisagem geomorfológica, através da correlação dos compartimentos do relevo com suas unidades morfoestratigráficas, bem como por meio da análise da assinatura geoquímica dos modelados de acumulação, visando assim inferir a ocorrência de eventos de ordem climática e/ou tectônica, que ocorrendo provavelmente ao longo do Neógeno, tenham comandado a evolução do modelado da região. Desta forma os objetivos estabelecidos nessa pesquisa foram: • Obter dados sedimentológicos e estratigráficos que levem ao estabelecimento da sequência evolutiva de eventos tectônicos e paleoclimáticos envolvidos diretamente na gênese das formas de relevo; • Utilização de marcadores geoquímicos como forma de identificação de eventos deposicionais distintos em materiais onde não se pode confirmar descontinuidades devido à falta de características sedimentares, visto que estas feições – se existiram – foram destruídas devido ao alto grau de intemperismo e pedogênese da faixa costeira de Pernambuco; • Utilizar marcadores geoquímicos no intuito de caracterizar as estruturas em áreas onde há controvérsias sobre a gênese da linha de pedras, não permitindo uma 19 • Associação consensual entre elas e o material que as recobrem, ensejando uma investigação mais detalhada das unidades coluviais com vistas a contribuir nas interpretações já realizadas em pesquisas anteriores, utilizando para tanto as técnicas de Fluorescência de Raios-X (XRF); • Realizar mapeamentos geomorfológicos, morfoestrutural, estratigráfico, morfodinâmico da estrutura superficial e processos em escala de detalhe; • Obtenção de dados quimo-estratigráficos e de sedimentação para estabelecer uma sequência evolutiva dos eventos tectônicos e paleoclimáticos na gênese do relevo; • Definir o quadro evolutivo para a paisagem com base nos dados morfoestruturais e sedimentológicos. 20 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Dentre os objetivos desta pesquisa, um deles está em fazer um levantamento da literatura sobre os temas abordados neste trabalho. Portanto, buscou-se fazer uma revisão dos temas sob os aspectos gerais e aplicados. Na perspectiva geral mostrou-se a evolução histórica do pensamento geográfico sobre o tema estudado, enquanto que sob a perspectiva aplicada buscou- se fazer uma abordagem focada no estado-da-arte do conhecimento geomorfológico sobre o tema e o contexto geográfico tratados na dissertação. 2.1 SUPERFICIES DE EROSÃO Gerrard (1995) afirma que superfícies de erosão ou aplainamento são criadas pelo desgaste em superfície ou sub-superfície do embasamento rochoso, apresentando uma topografia razoavelmente suave, com horizontes que unem as litologias e estruturas. Tais unidades geomórficas podem ocorrer em várias escalas de grandeza espacial, porém o termo é usualmente restrito ás grandes superfícies de relevo, que se acredita ser o produto final de um ciclo erosivo. O fato de elas serem supostamente produzidas por uma enorme variedade de processos geomorfológicos (como por exemplo, erosões subaérea, marinha ou intemperismo químico, dentre outros) fez surgir inúmeras controvérsias, sendo extensas as discussões sobre o assunto na literatura geomorfológica. Desse modo, faz-se necessário uma abordagem mais aprofundada do tema para a melhor compreensão do estado-da-arte dos seus desenvolvimentos e implicações. 2.1.1 O Ciclo Geográfico de Willian Moris Davis Um dos primeiros autores a abordar o tema da elaboração das superfícies aplainadas, Willian Moris Davis (1899) propõe o modelo do “Ciclo Geográfico” que serviu como base para inúmeros estudos, inclusive no Brasil na década de 1940 e 1950, e que classificava a evolução do relevo a partir de fatores estruturais, processuais e temporais. Este ciclo geográfico estaria divido em três fases distintas: a juventude, a maturidade e senilidade. A primeira fase teria início com uma superfície aplainada que sofreria um soerguimento rápido, eustático ou tectônico, o que acarretaria uma descida do nível de base geral, tomado em relação ao nível do mar. Com o soerguimento da superfície, aumenta-se a declividade assim como a diferença altimétrica se amplia. Deste modo dá-se o encaixamento da drenagem nos 21 vales, aumentando o processo erosivo através do entalhamento das vertentes ocasionando voçorocamentos. Como a erosão é contínua, uma grande quantidade de sedimentos é depositada no sopé das encostas, formando enormes taludes com materiais provenientes da encosta e do leito dos rios. Portanto, a forma será definida de acordo com o grau de amplitude entre o nível de base e as porções mais elevadas das superfícies de cimeira. De acordo com Davis (1899) assim seriam formados os relevos montanhosos com vales abruptos. Na fase de maturidade, o autor caracteriza os processos erosivos causados pela drenagem, que por sua vez encontra-se bastante organizada e equilibrada. Nesse estágio, as rupturas de declive começam a desaparecer e o entalhamento do vale ocorre de forma mais lenta. Desse modo as vertentes começam a se alargar e a declividade a se suavizar. O relevo continua elevado, apresentando cristas nos interflúvios; no entanto os vales principais são alargados e os perfis dos rios são suavizados. Já a fase de senilidade, caracteriza-se pelo rebaixamento das vertentes, que começa a ocorrer de forma mais lenta. Assim a área apresenta várias colinas rebaixadas, cobertas pelo manto de intemperismo. Está superfície rebaixada é o que Davis chama de peneplanície, que se caracteriza como uma superfície ondulada de relevo suave, com elevações residuais, denominadas de monadnocks. Sua formação se dá através da coalescência das planícies de inundação ou pelo rebaixamentodos interflúvios com redução da declividade das vertentes (PASSOS & BIGARELLA, 2006). Davis (1902) acredita que para a evolução do modelado terrestre precisa haver um rápido soerguimento e um longo período de atividade erosiva que serão responsáveis pela evolução da superfície geomorfológica. Desta maneira, uma região poderia sofrer vários ciclos erosivos e os vestígios seriam encontrados nas rupturas de declive. Portanto, seriam períodos alternados de soerguimento e estabilidade de nível de base que resultariam em ciclos interrompidos e incompletos, nos quais os peneplanos (peneplanície) soerguidos seriam dissecados e outros novos se formariam ao longo do rio (HACK, 1972). Esse modelo foi descrito por Davis levando em consideração áreas colinosas, cujos topos atingem a mesma altitude acima dos cursos d’água, nas regiões de piemonte, com base em observações nos estados atlânticos centrais dos Estados Unidos. Estas áreas foram interpretadas por Davis (1909) como peneplanos soerguidos que foram dissecados por erosão fluvial até que o estágio de maturidade fosse alcançado. A ciclicidade utilizada por Davis como modelo evolutivo constitui no conceito científico geral, estágio embrionário de qualquer natureza de conhecimento. Esta teoria acabou sendo alvo de inúmeras críticas, principalmente porque o modelo de Davis baseia-se na premissa de longo 22 períodos de estabilidade tectônica e eustática separados por soerguimentos tão rápidos que chegariam a ser instantâneos (CHRISTOFOLETTI, 1980). Sua visão teórica, e por vezes bastante idealista, foi alvo também de críticas, uma vez que o mesmo não possuía uma visão processual mais ampla, ou seja o estudo das características e mecanismos dos processos e das formas. Este conhecimento fatual permite o estudo das formas em todas suas etapas de evolução. 2.1.2 Teoria da Etchplanação Wayland (1933) afirma que o “plano de erosão” ou etchplano evoluiria para a forma plana, mas verticalmente e através do espessamento do manto de intemperismo por decomposição química e pela consequente retirada de material pelos agentes exumadores do relevo durante a elevação epirogênica da plataforma, podendo esse soerguimento ser lento ou contínuo. Essas superfícies seriam indícios de instabilidade tectônica e com a ação da erosão laminar ou correntes episódicas esse manto de intemperismo (manto de corrosão) seria gradativamente removido. Deste modo, as diferenças de altimetria entre os vários aplainamentos de uma região seriam atribuídas ao soerguimento rápido das áreas enquanto que, em contra partida, os movimentos lentos seriam responsáveis apenas pelo reafeiçoamento da superfície erosiva (PASSOS E BIGARELLA, 2006). Büdel (1957) ratificou a importância do intemperismo químico e da remoção superficial dos seus produtos, introduzindo assim o termo “superfície de duplo aplainamento” (doppelten einebungsflächen). Esta superfície seria desenvolvida nas frentes de intemperismo descendente no acamamento rochoso, enquanto o fluxo removeria o material superficial. Para o autor os mantos de corrosão seriam mais facilmente encontrados em áreas com climas tropicais sazonais e que possuíssem tectonismo estável e inativo. Nas regiões úmidas os aplainamentos seriam fruto de condições paleoclimáticas, sob as quais a erosão aconteceria predominantemente na estação úmida, ao passo que o intemperismo químico aconteceria durante todas as estações do ano, pois mesmo na estação seca a superfície permaneceria úmida. 23 2.1.3 Primarrumpf e Piedmonttreppen de Penck Penck defendia que o soerguimento da superfície dava-se de forma lenta, ao contrário do que afirmava Davis em seu ciclo geomorfológico. Além do mais Penck (1924) afirmava que esse soerguimento da crosta seria tão lento que caso fosse correlacionado à intensidade da denudação, não haveria nenhuma elevação significativa do relevo, o que resultaria numa superfície baixa que o autor denominou de primarrumpft (superfície primária). Este soerguimento não levaria em consideração o arcabouço geológico, fazendo com que o processo erosivo avançasse de modo paralelo ao soerguimento resultando numa superfície primária (CHRISTOFOLETTI, 1980). Portanto, esta seria a unidade geomórfica básica para todas as sequências topográficas que deviam seguir ao desenvolvimento desta superfície (PENCK, 1924). Seus estudos foram realizados na Alemanha, no maciço da Floresta Negra, onde Penck reconheceu vários níveis topográficos no entorno do maciço. A ideia de evolução das superfícies encontrou pouco entusiasmo por parte da comunidade científica, haja vista que os patamares estudados por Penck seriam explicados, segundo Davis, como superfícies de erosão que derivariam de ciclos erosivos parciais interrompidos por soerguimentos alternados (CHRISTTOFOLETTI, 1980). Ao passo que Penck atribuía a evolução das superfícies à existência de um domo com vários patamares que estariam ligados a ciclos de erosão cada vez mais recentes e originados por movimentos de soerguimento rápido que ocorrem na região. Assim, não haveria condições de estabilidade para a evolução completa do ciclo, mas sim uma série de ciclos interrompidos, constantemente abortados. No piedmonttrappen proposto por Penck (1953), a paisagem geomorfológica evoluiria por meio de processos de vertente, o levantamento crustal e a atuação dos processos denudacionais. Seus estudos foram baseados em três suposições: • As inclinações são estabelecidas pelo entalhe dos córregos e são mais íngremes quanto maior a taxa de entalhe; • As inclinações uma vez estabelecidas, o recuo remontante será paralelo à declividade original; • As inclinações íngremes são eliminadas mais rapidamente que as suaves. (Figura 2) 24 Figura 2 – Exemplo de modelos evolutivos do relevo. Evolução do Relevo segundo Davis, Penck e Hack. Fonte: Adaptada de Burbank & Anderson (2001) 2.1.4 Pedimentação e Pediplanação O modelo proposto por King (1962) pressupõe a permanência e generalização do nível de base. Deste modo, qualquer ponto do rio é um nível de base para todos os demais pontos que se localizam à montante deste. Portanto, qualquer ponto na vertente ou encosta torna-se um nível de base para os pontos da encosta situados à montante. O autor não tomava os oceanos como o nível de base geral, podendo o ciclo erosivo desenvolver-se em qualquer parcela dos domínios continentais. Outra diferença entre o modelo de King para a teoria davisiana reside no modo como as encostas recuam, pois ao invés do rebaixamento contínuo e generalizado das encostas, o processo se dá com regressão paralela das vertentes. A medida que o tempo passa, as vertentes preservariam sua declividade formando pedimentos entre o sopé das mesmas e o leito do rio. Com o intuito de melhor entendimento da evolução das encostas, King subdividiu- as em quatro segmentos a partir do topo: • Côncavo (Waxing Slope); • Face nua (Free Face), segmento sem cobertura detrítica; • Detrítico (Debris Slope); • Pedimento (Pediment). 25 King (1956) afirmava que o relevo se desenvolvia sem influência do clima, onde os condicionantes físicos de formação dos segmentos da encosta seriam os mesmos, independentemente das condições climáticas. O clima seria pouco importante na formação das encostas, exceto em casos excepcionais, que ocorreriam em áreas desérticas e glaciais. Na visão de King, são normais os processos que ocorrem em ambientes semiáridos, por conta da grande importância e pela enorme quantidade de depósitos continentais, derivados de condições de sedimentação semiáridas em um passado geológico remoto (PASSOS & BIGARELLA, 2006). King (1953;1962) afirma que o ciclo evolutivo se dá inicialmente com o soerguimento em uma parte do território em escala regional, estabelecendo novos níveis de base onde se dará a erosão. O processo erosivo se processa de acordo com diversos fatores, como tamanho e espaçamento entre os elementos da paisagem, como drenagem, soerguimento, e com menor relevância, o tipo de rochas e as atividades físicas. Para o autor o ciclo erosivo ocorre em três etapas: • Incisão fluvial; • Regressão das escarpas e pedimentação; • Rastejamento do regolito nos relevos rebaixados. • O predomínio destes processos na evolução do relevo é primordial para a correlação com os estágios propostos inicialmente por Davis (1989) de juventude, maturidade e senilidade. Os modelos de Davis e King, pelo fato de partilharem da mesma concepção teórica, com evoluções que levam ao aplainamento total da superfície sofreram inúmeras críticas e objeções da comunidade científica, de modo que as mesmas ressalvas levantadas para a teoria davisiana também foram aplicadas ao modelo de Lester King. Os debates foram intensos no que tange às implicações climáticas na evolução do relevo, levando a termos finais bastante genéricos. O peneplano de Davis representa superfícies sob condições de clima úmido, enquanto que o pediplano de King caracteriza-se pela elaboração sob clima seco, através da regressão paralela e contínua das escarpas. 26 2.1.5 Equilíbrio Dinâmico de Hack A análise da paisagem feita através da teoria do equilíbrio dinâmico considera o modelado terrestre como um sistema aberto, que mantém constante troca de matéria e energia com os demais sistemas do universo. Supõe-se que num único sistema de elementos da topografia estejam todos ajustados de tal modo que se modificam na mesma proporção. Assim, as formas e os processos estariam em um balanço estabilizado e sendo considerados independente do tempo. As diferenças e características das formas são explicadas em termos espaciais, nos quais os padrões geológicos são primeiramente considerados (HACK, 1972). Preconizada inicialmente por Gilbert (1880) a teoria do equilíbrio dinâmico expôs o princípio de um sistema aberto para o desenvolvimento do modelado terrestre, tendo sido aplicada também por Strahler (1964). Hack (1960; 1965) usou esta abordagem na interpretação da rede de drenagem e suas vertentes. Esta teoria precisa de um estado de forças opostas, contrabalanceando-as. Deste modo, as forças atuariam em proporções iguais e seus efeitos anulam-se mutualmente para assim produzir um estado estável, no qual a energia está entrando e saindo continuamente do sistema (HACK, 1972). Na teoria de Davis (1899), o equilíbrio é atingido em alguma parcela do sistema de drenagem, quando há o balanço entre o material detrítico proveniente das cabeceiras e a capacidade de sedimentos que o rio pode transportar. Em um canal fluvial esse equilíbrio ocorre ao longo de uma etapa de um processo de evolução. O conceito de Davis (op.cit) implica que algumas parcelas de drenagem estariam em equilíbrio, enquanto que em outras o equilíbrio se estenderia em vários estágios gradativos através do tempo, a jusante de todo o sistema. Em lugar do balanço entre a carga do rio e a competência de transporte de um canal fluvial, seria muito mais válido fazer a análise da passagem particular a partir do balanço entre processos de erosão e resistência da rocha, também relacionando o balanço a possíveis soerguimentos ou rebaixamentos derivados de diastrofismo (HACK, 1972). Este conceito assemelha-se bastante com o de forças endógenas e exógenas de Penck (1953) no qual a área está sujeita a soerguimento de intensidade constante, caso o soerguimento seja rápido, o relevo deveria apresentar patamares altimétricos elevados e desta forma seria necessária uma força para prover energia erosiva suficiente para fazer o balanço do equilíbrio. A topografia está num estado imutável e permanecerá desta forma até quando a intensidade de soerguimento e de erosão não seja mudada e desde que as rochas que as estruturam à superfície sejam as mesmas. Caso haja mudanças na intensidade do soerguimento e da erosão, o estado de balanço irá mudar bem como o equilíbrio constante (HACK, 1972). Portanto a topografia 27 evoluiria de uma forma para outra. Esta evolução poderá ocorrer caso as forças de diastrofismo deixem de exercer sua influência, podendo ocorrer o rebaixamento do relevo e podendo também ocorrer uma mudança no balanço, caso rochas de diferentes resistências sejam expostas na superfície. No equilíbrio dinâmico são tratadas as propriedades inerentes ao sistema aberto, sendo responsáveis pela facilitação da interpretação desse tipo de abordagem (CHRISTOFOLETTI, 1980). O sistema aberto atingirá o equilíbrio quando a taxa de importação e exportação estejam equilibradas, que são um ajustamento das formas e geometrias do próprio sistema. Este ajustamento ocorre por conta do sistema de autorregulação e também pelo fato dos elementos serem independentes entre si. Desta forma, se houver uma alteração que se processa em alguma parte do sistema (como num sistema de drenagem, por exemplo), esta alteração será rapidamente comunicada a todos os outros componentes do sistema (CHRISTOFOLETTI, 1980). Assim a abordagem do equilíbrio dinâmico demonstra que as formas não são estáticas e imutáveis e que são mantidas a partir do fluxo de matéria e energia que passa pelo sistema. Com o passar do tempo, as formas de passagem vão sendo retrabalhadas, implicando em alterações de algumas propriedades geométricas com rebaixamento do relevo, quando não há condicionantes tectônicos (CHRISTOFOLETTI, 1980). No estágio em que o sistema atinge o equilíbrio dinâmico, desaparece a influência das condições iniciais e muitos traços da paisagem anterior são destruídos. Quando se faz a análise dos fenômenos com acentuada tendência para o equilíbrio dinâmico, a abordagem histórica torna-se dispensável. Essa perspectiva não depende da escala temporal e as formas residuais se manterão na paisagem, caso o equilíbrio ainda não tenha sido atingido. Contudo, isto não significa que as formas residuais sejam raras na paisagem, esta análise baseia-se na relação de equilíbrio entre os processos atuais e o arcabouço geológico. É importante salientar que nem todos os elementos da paisagem geomorfológica reagem com a mesma rapidez e intensidade às modificações realizadas nas variáveis externas. Exemplo disso seria a hidráulica dos canais fluviais que respondem de forma mais rápida às mudanças no sistema, em oposição à forma das vertentes e da rede de drenagem como um todo que levam um tempo maior para se ajustarem (TAVARES, 2010). A última propriedade afirma que os sistemas de caráter aberto podem atingir condições iniciais diferentes que podem levar a resultados finais semelhantes. Este conceito demonstra a variedade de processos morfogenéticos atuantes na paisagem, sendo contrário à análise cíclica da paisagem (CHRISTOFOLETTI, 1980). 28 Hack (1972) afirma que devem ser levadas em consideração as formas do relevo e os depósitos superficiais juntamente com a estrutura geológica. A altimetria do topo da vertente até o fundo do vale varia bastante caso ocorra diversos afloramentos de rochas distintas, enquanto que a amplitude pode permanecer a mesma caso aflore um único tipo de rocha. Neste sentido, as vertentes também variam conforme o tipo de litologia. É importante a análise da topografia em termos de relações espaciais, independentemente do tempo. Esta análise fornece um embasamento muito útil para a interpretação da paisagem (HACK, 1972). Na ciência geomorfológica há uma preocupação em explicara paisagem em termos de processos e intensidades de operação contemporâneas e, por isto faz-se necessário fazer a interpretação da evidência destes processos e suas intensidades, que mudam do acordo com o espaço e o tempo, deixando de forma clara as relações de forma e processo, fazendo com que as mudanças na paisagem possam ser elucidadas. O estudo das paisagens com a abordagem do equilíbrio dinâmico propicia uma revisão geral da ciência geomorfológica, oferecendo uma melhor definição e delimitação do objeto de trabalho e auxiliando na compreensão das preocupações com as técnicas quantitativas (CHRISTOFOLETTI, 1980). 2.1.6 As superfícies erosivas no Brasil Deffontaines (1945), um dos primeiros a abordar o tema das superfícies de aplainamento no Brasil, afirmava que a ação da erosão, operando sobre litologias de diferentes resistências resultaria no desenvolvimento de pequenas serras orientadas paralelamente às antigas dobras, numa espécie de relevo “apalachiano”, além disso, para o autor algumas cristas pareceriam formas de “monadnocks” de antigos peneplanos. Estas formas seriam resultantes de soerguimentos em escala regional, seguidos por momentos em que os processos erosivos atuariam na evolução das formas, rebaixando progressivamente o relevo. King (1956) afirmava existir três aspectos importantes que agiriam na evolução da paisagem, a erosão, a agradação e a tectônica. Também com a ideia de superfícies cíclicas, o autor identifica três níveis de superfícies, as mais antigas, as recentes e as intermediárias vinculadas ao Terciário Inferior. Em ordem cronológica decrescente as superfícies identificadas por esse autor no Brasil seriam assim nomeadas: a Gondwana (Cretáceo Inferior), a Pós- Gondwana (Cretáceo Superior), a Superfície Fóssil (Carbonífera), a Sul-Americana (Terciário Inferior), a Superfície Velhas (Terciário Superior) e o Ciclo Paraguaçu (Quaternário). 29 Assim teríamos, segundo King (1956) a Superfície Gondwana, como a mais antiga que para o autor seria a superfície mais alta, seguida do Ciclo Sul-Americana que aparece no relevo brasileiro, além de outras formas, correspondendo à cimeira de chapadas. Posteriormente, o Ciclo de Erosão Velhas apresenta superfícies pediplanadas com remanescentes semelhantes à inselbergs, assim como é marcado na costa pela sedimentação da Formação Barreiras. Por fim, o Ciclo de erosão Paraguaçu apresenta evidências morfológicas que só aparecem ao longo de sistemas fluviais de menor extensão que atingem diretamente o mar. King (1956) ressalta ainda a importância de acumulações recentes (aluviões) na interpretação dos ciclos erosivos anteriores, sendo sua dinâmica decorrente das variações do clima. Bigarella et al (1965) ressaltam que nos trópicos as superfícies de erosão estão associadas a longas fases de climas semiárido severos, ocorrendo coalescência dos pedimentos e a consequente formação de um pediplano. Afim de também propor sua classificação e discutir sobre as superfícies até então descritas, Ab’Saber (1955) afirmou que os planaltos cristalinos do sudeste brasileiros são perfeitos “dol lands”, pois além de constituírem núcleos muito antigos das porções emersas da crosta, não perderiam suas características de maciços antigos salientes, sempre reagindo aos ciclos erosivos que atuavam sobre os mesmos através de levantamentos e arqueamentos epirogênicos cíclicos. Ab’Saber (1955) ressaltou o problema da datação da superfície dos campos (1100- 2000m), sendo que a mesma constitui uma espécie de teto dos planaltos cristalinos de Austro- Brasília e foi sem dúvida a partir dela que se realizam os ciclos erosivos responsáveis pelo estabelecimento dos níveis mais baixos do “Planalto Atlântico”. Deste modo, eventos epirogênicos positivos, arqueamentos e deslocamentos de blocos falhados atuariam neste antigo peneplano soerguido, ocasionando a compartimentação atual do relevo. Mabesoone (2000) afirma que a maior parte das paisagens subaéreas são palimpsestos, sendo que processos prévios e fases de desenvolvimento podem ser identificadas sob ou dentro de paisagens agora em exumação. Para o autor nos últimos 10-20 anos chegou-se à conclusão que a história da Terra é essencialmente cíclica, embora existam algumas evoluções unidirecionais. Os fenômenos são cíclicos, principalmente os que se referem às forças internas, sendo que até mesmo a evolução unidirecional de alguns fenômenos depende de alguma repetição em sua dinâmica. Bigarella e Ab’Saber (1964) em concordância com a geomorfologia climática, onde os processos de pedimentação e pediplanação são responsáveis pela origem da maioria das superfícies de aplainamento do Brasil, também foram os primeiros autores a generalizarem as influências climáticas na explicação da morfogênese de grande parte da paisagem brasileira. 30 No Nordeste brasileiro Bigarella e Ab’Saber (1964) atribuíram às condições paleoclimáticas (variações entre semiárido e úmido) como responsáveis pelas formas erosivas e seus depósitos correlativos e estas condições estariam ligadas a uma ciclicidade de episódios que estariam expressos na paisagem. A relação entre as propostas de Bigarella e Ab’Saber (1964) e King (1956) recai na ciclicidade do relevo que ambos abordam. A diferenciação, entretanto, está no fato que King sugerir como causa a tectônica, para a interpretação dos ciclos, ao passo que Bigarella e Ab’Saber atribuíam a ciclicidade às mudanças climáticas. Para estes autores, as superfícies podem ser formadas em alvéolos com altitudes que variam bastante. Partindo deste princípio, os níveis recentes não teriam caráter regressivo como afirmava King e, portanto, o critério de análise baseado somente na altimetria tornava-se insuficiente para explicar e diferenciar os diversos níveis de aplainamentos (PASSOS & BIGARELLA, 2006). Diversos estudos das superfícies de erosão e dos seus depósitos correlativos no Quaternário, bem como fenômenos erosivos e agradacionais ocorridos no Cenozóico deixam evidente que houve uma alternância climática marcada por dois períodos distintos (semiárido e úmido), e esta alternância seria responsável pelos processos de degradação lateral ativa do terreno com períodos de dissecção vertical do relevo (BIGARELLA, MOUSINHO e SILVA, 1965; ERHART, 1956). Nas porções tropicais e subtropicais do Brasil meridional e Sudeste a evolução dos terrenos é resultante dos processos de degradação lateral das superfícies com períodos de dissecação vertical, seguidos de intemperismo químico e formação de solos (PASSOS & BIGARELLA, 2006). Tomando por base a teoria da bioresistasia de Ehart (1956), Bigarella & Andrade (1965) e Bigarella, Mousinho e Silva (1965) abordaram a questão das superfícies de erosão como testemunhos dos ciclos de pediplanação. Os pediplanos seriam remanescentes que foram preservados sobre rochas mais resistentes à erosão. Já nos climas úmidos estas superfícies são bastante dissecadas. Autores como Bigarella & Ab’Saber (1964) e Bigarella & Andrade (1965) atribuem à semiaridez o fator primordial na formação dessas superfícies de erosão. Dentro desta perspectiva os autores reconhecem três eventos de pediplanação da paisagem brasileira e suas respectivas superfícies. Estas superfícies foram denominadas Pd1, Pd2 e Pd3, onde Pd3 seria a superfície mais elevada e antiga, havendo sido elaborada no Cretáceo-Eoceno formando agora a superfície de cimeira, equivalente à superfície Sul-Americana ou Japi no estado de São Paulo; Pd2 seria a superfície intermediária e teria se desenvolvido durante o Paleógeno; enquanto a Pd1, a superfície mais rebaixada, teria sido desenvolvida no Plioceno e Pleistoceno, sendo nela 31 ainda identificadosníveis embutidos, o P1 e P2, que refletiriam uma resposta às mudanças climáticas do último período glacial, que no Brasil, principalmente no Sudeste, teriam proporcionado uma expansão dos climas secos, tendo como respostas à vigência desses os depósitos correlativos, sedimentos detríticos e Stone-Lines. 2.1.7 Superfícies de erosão no Nordeste do Brasil O modelo de evolução das superfícies de erosão mais aceito no Brasil foi o proposto por King (1956), que trata em seu estudo de uma relação das formas encontradas no leste do Brasil com as encontradas no sudoeste africano baseado na ciclicidade do relevo e evolução das formas a partir da elaboração dos pediplanos. De acordo com esta perspectiva, no Planalto da Borborema e seus entornos a evolução se processou por meio de sucessivos aplainamentos escalonados que ocorreram ao longo do Cenozóico. Estas superfícies foram geradas como respostas erosivas às fases de reativação da plataforma brasileira, devido à própria dinâmica cíclica do tectonismo vertical das margens passivas do continente. Ainda nesta linha de argumentação, os patamares mais elevados do Nordeste brasileiro corresponderiam às superfícies mais antigas, associados à superfície Pós-Gondwana do King, o patamar Pd3 proposto por Bigarella ou superfície Borborema, conforme Mabesoone & Castro (1975). Topograficamente estes níveis estariam acima dos 1.000 metros de altitude, onde ocorreria a dissecação mais forte, havendo sido desenvolvidos entre o Albiano e o Oligoceno. Os aplainamentos intermediários atingem cotas altimétricas entre 650 e 900 metros, equivalentes à superfície Sul-Americana proposta por King, o pediplano Pd2 de Bigarella ou superfície Sulamericana de Mabesoone e Castro. Localizada restritamente no interior do planalto, corresponde a um nível inferior denominado Cariris Velhos ou Soledade, com idade miocênica. Nível correspondente à Depressão Sertaneja de Mabesoone e Castro, superfície Velhas do Lester King ou Pd1 do Bigarella, a superfície de aplainamento geral do Planalto da Borborema, apresenta altitudes que variam entre 350 a 600 metros, com idade proposta do Plio- Pleistoceno a partir de sua correlação com os sedimentos da Formação Barreiras, constituindo o aplainamento mais recente da região. Este aplainamento foi entalhado durante o Neógeno através dos vales fluviais, que deram origem a dois níveis de terraços e pedimentos correspondente ao ciclo polifásico Paraguaçu, cuja evolução no Nordeste brasileiro está vinculada às glaciações quaternárias nas latitudes altas e médias. 32 Apesar de adotarem um esquema lógico dedutivo, estas intepretações sobre a elaboração do relevo “escalonado” do Nordeste oriental do Brasil são bastante generalistas (TWIDALE, 1982; THOMAS, 1994). Summerfield (2000) destaca a necessidade de se estabelecer uma cronologia absoluta dos eventos denudacionais e deposicionais formadores do relevo, que são responsáveis pela formação das superfícies aplainadas ou de topos aparentemente concordantes. Esta afirmação reside do fato de que nem sempre é possível correlacionar crono- estratigraficamente as superfícies nos interiores continentais tomando por base apenas os depósitos sedimentares que estão confinados em determinados níveis topográficos e modelados geomorfológicos, como a Formação Barreiras no caso do Nordeste. Estudos mais recentes afirmam que é necessário uma análise mais precisa e complexa na tentativa de elucidação da correlação das chamadas áreas fontes, áreas armazenadoras de sedimentos e áreas de transporte de material. Moraes Neto (1999) e Moraes Neto & Alkmim (2001) descrevem problemas nestes esquemas interpretativos através de análises empíricas de evidências de deformação e soerguimento tectônico das coberturas sedimentares do Terciário Superior do leste da Borborema. O próprio escalonamento do piemonte que antecede a escarpa do Planalto tem níveis de 100, 200 e 250 metros que sugerem a ocorrência de tectônica disjuntiva e reativação recente de antigas falhas paralelas à linha de costa. Corrêa & Mendes (2003) em um estudo sobre os problemas na conceituação das superfícies de erosão, apontam inúmeros problemas que necessitam de elucidação na aplicação clássica da teoria das superfícies de aplainamento, como a relação entre a denudação e deposição. Para os autores, esta trata-se de uma relação bastante complexa, uma vez que o relevo é resultado de fenômenos de destruição, e os modelados não se detém inertes após a produção de um nível deposicional correlato. Pelo contrário, continuam a evoluir de acordo com as leis de equilíbrio dinâmico de ajuste entre formas, litologia e processos superficiais. Os autores apontam elementos que impossibilitam o aferimento empírico de alguns parâmetros generalizados pelas teorias das superfícies de aplainamento: • Os continentes estão sujeitos a soerguimentos episódico generalizado; • Todas as encostas sofrem recuo paralelo por longas distâncias; • Os knick-points dos rios recuam continente adentro por longas distâncias; 33 • Superfícies de baixo relevo, extensas, só se formam em relação a um nível de base comum que é o nível do mar. Diante deste quadro, na tentativa de realizar uma análise do arcabouço morfoestrutural de um setor do piemonte oriental da Borborema, permanecem válidos algumas premissas morfoestruturais já conhecidas definidas por autores como Czajka (1959), Beurlen (1967), G. Andrade (1958; 1968), Mabesoone & Castro (1957) e Saadi & Torquato (1992), que são: a influência de estruturas herdadas, influência da litologia sobre os modelados erosivos e ocorrência de um bombeamento regional a partir do Cretáceo. 2.2 NEOTECÔNICA – HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO TERMO Segundo Gerbova & Tikhomirov (1962) a neotectônica vêm sendo tema de interesse de estudos desde o século XIX, quando pesquisadores russos como I.D. Sokolov, em 1939, e G.E. Schurovsky, em 1965 notaram que a reorganização da crosta da Terra aconteceu não somente no tempo passado, como se acreditava naquela época, mas ocorreria também no tempo presente. Surgiram então os primeiros métodos de reconhecimento de movimentos neotectônicos, relacionando-os às mudanças e geração de novas formas na paisagem geomorfológica. Foram de grande importância para o desenvolvimento dessa fase inicial, os estudos de W.M. Davis em 1899, A. Penck em 1924 e G.F. Mirchink em 1929, dentre outros. O reconhecimento da importância dos processos geológicos atualmente ativos levou Obruchev (1948) a propor um novo ramo da geociências, introduzindo o termo neotectônica, a fim de designar “os movimentos tectônicos recentes ocorridos no final do Terciário e início do Quaternário, os quais tomaram um papel decisivo na formação da topografia contemporânea”. O trabalho deste autor juntamente com o de outros pesquisadores soviéticos como I.D. Nikolaev em 1949 e Y.A. Mescheriov, em 1965 tiveram grande importância na fase inicial do desenvolvimento da neotectônica. MESCHERIOV (1968) e Wegman (1955) introduziram os termos neueste tektonik (tectônica mais jovem) e lebendige tektonik (tectônica viva). Em 1960 um mapa sumário da neotectônica da antiga URSS foi publicado na escala de 1:5.000.000 e caracterizava quantitativamente as amplitudes de soerguimentos e depressões crustais durante o Neógeno-Quaternário. Com a compilação deste mapa, foi aceito pela maior parte dos pesquisadores que o início de estágio da neotectônica teria ocorrido no Mioceno, ou seja, a partir do limite entre o Paleógeno e o Neógeno (NIKOLAEV, 1974). 34 Desde então, inúmeras modificações foram realizadas por diversos autores, diferindo entre si, geralmente, no tempo e no espaço sempreem busca de uma definição mais apropriada para o termo (NIKOLAEV, 1974; MERCIER, 1976; ANGELIER, 1976; PAVLIDES, 1989; JAIM, 1980; SENGÖR et al, 1985; HANCOCK & WILLIAMS, 1986; MÖRNER, 1989a; 1989b). Segundo Nikolaev (1974) a neotectônica seria um ramo das ciências geológicas abrangendo os processos tectônicos ocorridos durante o Cenozóico Superior (Neógeno- Quaternário), que teriam reativado formas estruturais antigas ou criado formas novas. Estas formas teriam uma expressão evidente parcial ou encoberta no relevo da superfície da Terra. Mercier (1976) considerou a neotectônica como sendo um elo entre fenômenos tectônicos ativos e geológicos. O estudo destes fenômenos, de acordo com o autor, permitiria uma análise mais precisa da deformação e sua cronologia, sendo esta muito mais refinada do que as utilizadas pela orogenia antiga. Para Angelier (1976) a neotectônica corresponderia ao período no qual poder-se-ia extrapolar observações geofísicas à luz de dados geológicos. Outra definição foi a utilizada por Jaim (1980) que considerou como movimentos contemporâneos ocorridos na crosta terrestre, que se manifestavam no tempo histórico, estando em atividade até o presente e passíveis de observações imediatas, inclusive as instrumentais. De acordo com o autor, seria cômodo denominar movimentos contemporâneos os eventos ocorridos nos últimos seis mil anos, período no qual o nível dos oceanos se estabeleceu após o último máximo glacial (Würm). Neste trabalho o autor distinguiu as movimentações recentes (incluídas no Holoceno) e as novíssimas (atuai), considerando os movimentos do Neógeno e Quaternário como causadores do modelado do relevo atual. Para Hancock & Williams (1986) seria inútil a seleção de uma data arbitrária para o início da fase tectônica, aplicada globalmente para o período no qual estruturas neotectônicas teriam se formado. Uma alternativa seria a ideia de que para uma dada região, a fase neotectônica poderia ser iniciada quando a configuração atual dos limites das placas e movimentações relevantes fossem estabelecidas. Blenkinsop (1986, apud HANCOCK & WILLIAMS, 1986) modificou a proposta deste último autor, definindo o início da fase neotectônica através do estabelecimento dos campos de stresses contemporâneos de uma região, permitindo ao pesquisador a comparação regional de direções significativas de compressão e extensão horizontal, inferida das estruturas comprovadamente ativas durante um tempo apropriado, como as determinadas por medidas in situ ou por soluções de planos de falha. Pavlides (1989) discutiu e sintetizou as ideias de vários autores, concluindo que o início do período neotectônico não possuiria um valor global, pois estaria dependente das 35 características individuais de cada tipo geológico. Este autor definiu o termo neotectônica como o estudo de eventos tectônicos jovens, os quais ocorreram após a orogenia final da região ou mais precisamente, após a última reorganização tectônica significativa. O conceito admitido para os fins deste estudo foi proposto pela Comissão Tectônica da INQUA (International Union for Quaternary Research), que refere-se à neotectônica como “qualquer movimento da terra de deformação do nível de referência geodésico, seus mecanismos, sua origem (não importando o quão antiga ela seja), suas implicações práticas e suas extrapolações futuras” (MÖRNER, 1989a). De acordo com este conselho, a neotectônica não possuiria vínculo cronológico, incluindo toda a escala do tempo dos movimentos, desde os instantâneos (sismos) até 107 anos, caso necessário para permitir o entendimento da origem do movimento registrado. Mörner (1986b) afirma que o conceito de neotectônica denota todos os tipos de movimentos crustais verticais horizontais – sismotectônicos, interação de placas, movimentos isostáticos, etc. – durante um longo período de tempo. Este período pode incluir os últimos 2,5 Ma (período onde uma reorganização dos regimes tectônicos parece ter ocorrido), ou até os últimos 3,8 Ma (quando uma reorganização considerável da tectônica global parece ter ocorrido). Foi então introduzido o termo “tectônica ativa”, que tem sido aplicada estritamente a eventos ocorridos num passado próximo, sem margem inferior fixa, que varia de lugar para lugar. O enfoque seria dado às feições e eventos que poderiam sugerir algo a respeito das atividades tectônicas num futuro próximo. 2.2.1 Tectônica Recente no Brasil Freitas (1951) publicou o primeiro trabalho que versava sobre neotectônica no Brasil, utilizando critérios geológicos e geomorfológicos associadamente com a finalidade de desenhar os grandes aspectos da Tectônica Moderna. No mesmo período, Guimarães (1951) apontou hipóteses para a interpretação da configuração de importantes redes hidrográficas, assim como a ocorrência de sedimentos cenozoicos em faixas Norte-Sul no centro de Minas Gerais que somente poderiam ser interpretadas a partir de controles tectônicos ativos. Vale salientar que antes destes dois pesquisadores, vários outros já haviam sugerido a ocorrência de atividades tectônicas recentes, a fim de explicar feições geológicas e geomorfológicas específicas e/ou localizadas. Por isso, faz-se necessário citar os trabalhos de Hartt (1870) a respeito dos sedimentos pliocênicos do médio Jequitinhonha; Gorceix (1884) 36 que trabalhou nas bacias terciárias do Quadrilátero Ferrífero; e Brajnikov (1847) a respeito da tectônica da região a leste da cidade de Belo Horizonte. A participação da Geomorfologia nos estudos tectônicos em escala regional foi trabalhada, a princípio, por DeMartonne (1943) e King (1956), a partir de estudos das superfícies de erosão do Brasil Oriental. Posteriormente através do trabalho de Hasui (1990) é que finalmente se dá a primeira reflexão acerca da Neotectônica Brasileira baseada no delineamento da história das reativações das estruturas tectônicas desde o Pré-Cambriano até o Cenozoico. Estudos mais recentes, a exemplo do feito por Saadi (1993) indicam a importância de se estudar os eventos neotectônicos no Brasil, assim como apresenta informações valiosas acerca do início do tectonismo na Plataforma Brasileira. O autor aponta que os movimentos neotectônicos permitiram reativações de falhas do Pré-Cambriano. Os sistemas de falhas reativadas geram sistemas de rifteamento que foram responsáveis pela formação de bacias sedimentares, resultando em bacias de compressão jovem caracterizadas pela inversão do relevo. As descontinuidades derivadas da neotectônica controlam o microrelevo e os padrões de drenagem assim como a orientação de algumas bacias hidrográficas. Saadi (1993) também aponta que os blocos limitados por essas descontinuidades são fragmentados por falhas de diferentes tipos e tamanhos, resultando em uma estrutura de escala regional alternando áreas de soerguimento e subsidência. As regiões Sul e Sudeste do Brasil apresentam várias pesquisas no âmbito da tectônica recente. Áreas na Serra da Mantiqueira e Serra do Mar foram as primeiras a serem objeto de estudo dos pesquisadores. A exemplo pode-se citar Almeida (1976) que abordou o sistemas de rifts da Serra do Mar, que se traduz em bacias no formato de hemi-grábens de gênese devido ao arqueamento da Serra do Mar e basculamento da Bacia de Santos. Já Hiruma (1999) em estudos no Planalto de Campos do Jordão usou a técnica de mapeamento morfométrico, análise morfoestratigráfica dos depósitos deformados, bem como o mapeamento dos campos de tensão no intuito de identificar valores anômalos da influência da neotectônica. Etchebehere (2000) e Bistrichi (2001) utilizaram parâmetros morfométricos sobre a drenagem e análise estratigráfica, o primeirona bacia do rio do Peixe com o intuito de comprovar a atuação da tectônica na alteração da drenagem, e o segundo para a verificação do desempenho de pulsações neo- cenozóica no controle da drenagem na região de Atibaia-Bragança Paulista. R. Brown et al (2000) utilizou datações por traço de fissão em apatita para interpretar a história morfotectônica da margem continental brasileira a partir das taxas de denudação a longo prazo. 37 Na região Nordeste, a ocorrência de importante atividade neotectônica, com decisiva influência sobre a evolução morfogenética, tem sido aceita em vários trabalhos geomorfológicos de caráter regional que se baseiam nas premissas de altos estruturais que são sustentados por sequências litológicas do Pré-Cambriano que se tornam divisores fundamentais da drenagem e que são controlados, todavia, por uma intumescência regional como descrito por Ab’Saber (1956), Dresch (1957) e Andrade & Caldas Lins (1963) ou pelas direções tectônicas principais (CZAJKA, 1959; BEURLEN, 1967; G. ANDRADE, 1968); de escalonamentos dos compartimentos aplainados que possuem estreita relação com os Altos estruturais e a “flexura continental” paraibana abordados por Ruelan (1952), King (1956) e Tricart (1959); espraiamento dos sedimentos em direção ao litoral (Formação Barreiras), enquanto os depósitos correlativos se concentram nos soerguimentos continentais (MABESOONE et al (1972); CASTRO, 1979). 2.2.2 Evolução Morfotectônica da porção Oriental do Nordeste Estruturadas por litologias do Pré-Cambriano e por poucas bacias sedimentares limitadas por pequenos divisores tabulares compostos por rochas sedimentares e por planícies costeiras bastante estreitas, a Província Borborema é composta principalmente por rochas do Paleoproterozóico, Eo-Neoproterozóico e terrenos deformados do Neoproterozóico com boa parte do tectonismo gerado ou retrabalhado durante a junção Pan-africana há cerca de 600 Ma durante o Brasiliano (BEZERRA et al, 2008). Tendo a Zona Transversal como sua feição mais proeminente definida por Brito Neves et al (2001a; 2001b) e por Almeida et al (2000), caracteriza-se pela presença de mega- cisalhamentos destrais, como por exemplo, a Zona de Cisalhamento de Pernambuco (ZCPE) e a Zona de Cisalhamento de Patos (ZCPA) que são muito importantes para o contexto tectonoestratigráfico da região. A ZCPA possui uma terminação oriental trifurcada, com seu ramo principal chegando à linha de costa na cidade de João Pessoa com continuidade no continente africano margeando a Fossa de Benoué, apresenta tectonismo formador e deformador, que inclui metamorfismos vinculados aos movimentos transcorrentes da evolução da margem equatorial brasileira-africana (BRITO NEVES et al, 2001c). Cerca de 200 Km ao sul da latitude de João Pessoa e praticamente paralela a ZCPA, cuja extensão africana recebe o nome de Gaoroua, localiza-se a ZCPE (extensão africana Adamoua-Ngaundaré) que é uma zona de cisalhamento destral bastante clássica, marcando o domínio da Zona Transversal da Paraíba. 38 É neste contexto, portanto, que se pode falar de um Median Shear Corridor que de acordo com Trompette (1994) dentro de Gondwana apresenta-se como uma forma quase retangular gerada pela tectônica extrusional que influi na geração, distribuição, arranjo e estruturação das bacias sedimentares (Figura 3). Figura 3 – Median Shear Corridor ou Zona Transversal. Região entre o Lineamento Patos e Pernambuco. CSF: Cráton São Francisco; PO: Riacho do Pontal; MO: Monte Orebe; IC: Icaiçara; PAB: Piancó Alto-Brígida; PAw e PAe: Maciço Pernambuco-Alagoas, ocidental e oriental; Mu: Mulungu; LC: Lagoa das Contendas; AP: Alto Pajeú; AM: Alto Moxotó; SE: Sistema Sergipano; CM: Canindé; JP: Jirau do Ponciano; RP + SED + JC: Maciços Rio Piranhas e Caldas Brandão e o Sistema Seridó entre eles, porção ao norte da Zona Transversal. Fonte: Brito Neves et al (1995a). Durante o Mesozoico, quando houve a separação da Pangea, ocorreu uma maior influência tectônica sobre a Província Borborema que caracterizou-se por duas fases, uma de rift e outra de pós-rift. O rifteamento principal, que se desenvolveu durante o Cretáceo Inferior (Aptiano) com reativação da zona de cisalhamento durante o Neoproterozóico, proporcionou o desenvolvimento de bacias ao longo das margens passivas, assim como rifts abortados em 39 direção ao interior (TAVARES, 2010). Através destes processos é que se formaram as bacias marginais e interioranas entre o Barrisiano até o Baremiano (MATOS, 1987; FRANÇOLIN et al, 1994). Bezerra et al (2008) afirma que grande parte destas bacias apresentam sequências sedimentares pós-rift que ocorreram após a abertura do oceano e evolução da margem passiva e que neste estágio continuaram a ocorrer falhamentos, contudo de forma menos intensa. Dentro deste pressuposto, tratando da evolução das bacias costeiras e interioranas, que se formaram antes da exaltação do Planalto da Borborema, pode-se afirmar que a gênese dessas bacias está associada à separação dos continentes Sul-Americano e Africano. O setor compreendido entre Recife e João Pessoa (Bacia da Paraíba) teve sua abertura no final do Maastrichtiano, e situa-se entre a ZCPA e ZCPE correspondente a uma zona transversal do Nordeste brasileiro (SOUZA, 1999; J. BARBOSA, 2004; BARBOSA et al, 2003). Esta bacia é dividida em duas sub-bacias, a Sub-bacia Olinda, ao sul localizada entre a ZCPE e o Alto de Goiana e a Sub-bacia de Alhandra/Miriri, localizada em um depocentro limitado na faixa costeira ao norte pela Falha de Mamanguape e ao sul pelo Alto de Goiana. Essas sub-bacias são caracterizadas por efeitos diferenciados do tectonismo que atuou na sua compartimentação (MABESOONE & ALHEIROS, 1993). Amus & Carvalho (1978) afirmam que os fenômenos tectônicos ocorridos na Bacia da Paraíba ao longo de sua história geológica se deram de forma diferenciada das bacias adjacentes. Os autores inferiram que o trecho correspondente até então à Bacia Pernambuco- Paraíba se diferenciava da maior parte das bacias da plataforma continental brasileira primeiro por atingir no máximo 2.500 metros, e pela interpretação de que a litologia desta faixa corresponde, essencialmente, ao empilhamento de sistemas cabornáticos, no que difere das demais bacias marginais que possuem complexo empilhamento de sistemas clásticos de origem continentais fluvio-lacustres, de plataforma e de talude. Rand & Mabesoone (1982) afirmam que a área foi provavelmente o último elo entre a África e o Brasil, o que torna a Bacia da Paraíba possuidora de características estratigráficas peculiares, se comparada às bacias circunvizinhas, pois possui uma formação e um preenchimento sedimentar diferenciado (J. BARBOSA, 2004). Mabesoone & Alheiros (1988; 1993) observaram que a norte da ZCPE não são encontrados sedimentos de deposição albiana e que possivelmente esta ligação entre os continentes teria desaparecido em intervalo posterior a esse período, estando este fato associado ao início tardio da deposição marinha na Bacia da Paraíba. Lima Filho et al (2005) propuseram uma sequência evolutiva para a bacia de Pernambuco e Paraíba (Figura 4), onde na bacia de Pernambuco o preenchimento se deu num 40 rift estreito gerado a partir de movimentos transcorrentes dextrais. Estes movimentos formaram um pequeno romboide que se estendeu até a ZCPE. Durante o Aptiano, possivelmente a ZCPE se movimentou na área afetada pelo rifteamento (Bacia Pernambuco) avançando um pouco mais além da zona de cisalhamento sendo abortado na plataforma em frente à Sub-bacia de Olinda, sendo os esforços de acordo com Mattos (1999) de direção NW. Ainda durante do Albiano,
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