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Resenha Vidal, vidas

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A GEOGRAFIA DE PAUL VIDAL DE LA BLACHE: 
Releituras da História do Pensamento Geográfico 
 
André Fialho Abrantes Pinheiro* 
Lara D’Assunção dos Santos** 
 
 
 
Resenha do livro Vidal, Vidais. Textos de geografia humana, regional 
e política. Organização de Rogério Haesbaert, Sergio Nunes Pereira e 
Guilherme Ribeiro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. 464p. 
 
 
A construção de uma ciência ocorre através de um viés complexo de amadurecimento 
e das interpretações advindas de uma gama de pesquisas. Assim, o processo de 
edificação do conhecimento passa, necessariamente, pelo resgate crítico daquelas 
obras tidas como “clássicas”. Elas não devem ser esquecidas, uma vez que são fontes 
indispensáveis para o entendimento do presente. 
Como pondera Guilherme Ribeiro, a impressão que se tem é que os geógrafos não 
valorizam suas obras e seus autores considerados clássicos (RIBEIRO, 2012). Neste 
contexto, o livro Vidal, Vidais. Textos de geografia humana, regional e política, 
 
* Formando em Geografia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Bolsista de Iniciação 
Científica pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Esta resenha foi 
escrita no âmbito de nossas atividades como bolsista. 
** Formanda em Geografia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Monitora das disciplinas 
Geografia Econômica e Formação Sócio-Espacial Brasileira. Integrante do Núcleo de Pesquisas Espaço e 
Economia (NuPEE-UERJ/UFRRJ). 
Revista Continentes (UFRRJ), ano 2, n.3, 2013 
 
Resenha: Vidal, Vidais 
144 144 
organizado, traduzido e comentado pelos geógrafos brasileiros Rogério Haesbaert 
(UFF), Sergio Nunes Pereira (UFF) e Guilherme Ribeiro (UFRRJ), com prefácio do 
géografo francês Paul Claval (Paris-Sorbonne), deseja apresentar ao público de língua 
portuguesa alguns dos principais textos produzidos por Paul Vidal de la Blache (1845-
1918) que, até o momento, só estavam disponíveis em francês. O intuito maior é 
resgatar a diversidade de seu pensamento, ensaiando provocar novas interpretações a 
seu respeito. Consagrado como um dos principais responsáveis pela constituição do 
campo da Geografia Humana, no entanto, ao longo do século XX sua credibilidade foi 
sendo posta em xeque, e suas análises ao redor da geopolítica, da economia e da 
modernização em um novo contexto internacional após a Primeira Guerra Mundial — 
representando suas múltiplas facetas, conforme sugere o “Vidais” do título ― foi 
simplesmente ignorada. 
O livro é dividido em três partes. A primeira, Geografia Humana, precedida do texto de 
apreciação crítica Geografia Humana: fundamentos epistemológicos de uma ciência 
assinado por Guilherme Ribeiro (RIBEIRO, 2012), contém os seguintes artigos: 
 
1. Prefácio ao Atlas Geral Vidal-Lablache. Geografia e História (1894); 
2. O princípio da geografia geral (1896); 
3. Aula inaugural do curso de geografia (1899); 
4. As condições geográficas dos fatos sociais (1902); 
5. A geografia humana: suas relações com a geografia da vida (1903); 
6. Da interpretação geográfica das paisagens (1908); 
7. Os gêneros de vida na geografia humana (1911); 
8. Os gêneros de vida na geografia humana (1911). 
 
Sem dúvida, estamos diante de um eixo que foi muito bem explorado e que constituiu 
uma das mais importantes vias de investigação de Vidal: o estudo das relações entre o 
homem e o meio. Com uma perspectiva ampla acerca da Terra como unidade de 
referência, ele explora escalas locais, regionais e globais, tendo em mente a dimensão 
Revista Continentes (UFRRJ), ano 2, n.3, 2013 
 
Resenha: Vidal, Vidais 
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integradora necessária para o entendimento dos fenômenos geográficos. Se o globo 
possui diferentes áreas, de forma direta ou indireta elas estão interligadas. 
Ciente de que para entender a ação humana junto à natureza a interdisciplinaridade 
era essencial, Vidal de la Blache parece estar à frente de seu tempo e dialoga a todo 
instante com a Geologia, a Sociologia e a História ― ela era historiador de formação, o 
que se explica pela inexistência do curso de graduação em geografia antes de 1870 ―, 
embora tenha sempre em mente os elementos propriamente geográficos da natureza 
e da sociedade. 
Vidal de la Blache percebeu bem que a intervenção humana deixava suas marcas no 
meio: eis um dos aspectos fundamentais da Geografia Humana, que “merece esse 
nome porque estuda a fisionomia terrestre modificada pelo homem; nisso ela é 
geografia” (VIDAL DE LA BLACHE, 2012:104 
[1903]). O objetivo deste novo ramo seria 
estudar “as condições que presidiram a 
distribuição da espécie humana, a composição 
dos principais grupos e sua adaptação aos 
diferentes ambientes” (idem, p.101). 
Ele também analisou como as sociedades 
tiraram proveito da natureza. Com séculos de 
experiência local, elas deixaram marcas explícitas na paisagem ― conceito-chave de 
sua reflexão e trabalhado de modo bastante rico do ponto de vista histórico, tal como 
observamos no texto Da interpretação geográfica das paisagens (1908) ― que, por 
sua vez, foram sendo moldadas por ferramentas peculiares. Estamos a falar das 
técnicas. Cada grupo social forjou as suas através dos recursos disponíveis em seu 
próprio meio ambiente. Trata-se de uma complexa relação dos saberes humanos — 
como forma de adaptação e de sobrevivência — com a natureza. Nesse contexto, em 
dois artigos publicados em 1911, Os gêneros de vida na geografia humana, Vidal de la 
Blache estabelece as bases para o conceito de gêneros de vida, que pode ser 
entendido como uma articulação entre grupos sociais, meio ambiente e técnica 
criando diferentes paisagens regionais. É o que podemos perceber da vida cotidiana de 
“Os artigos mencionados 
expressam quão atual é a 
obra de Paul Vidal de la 
Blache. Sua abordagem 
regional está associada às 
questões de âmbito nacional 
e à dinâmica econômica do 
continente europeu” 
Revista Continentes (UFRRJ), ano 2, n.3, 2013 
 
Resenha: Vidal, Vidais 
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caçadores, pastores, agricultores e pescadores em um mundo ainda dominado pelo 
campo. Tal conceito revela as influências de Lamarck e de Darwin no pensamento de 
Vidal, além de fornecer uma espécie de perspectiva geo-histórica global acerca da vida 
humana na Terra. 
Do ponto de vista dos alicerces epistemológicos da geografia, cumpre destacar 
também o Prefácio ao Atlas Geral (1894), O princípio da geografia geral (1896) e Aula 
inaugural do curso de geografia (1899). Neles, percebemos a importância da noção de 
unidade terrestre, bem como a necessidade de uma perspectiva espacial que articule 
as diferentes escalas analíticas. Por sua vez, o artigo As condições geográficas dos fatos 
sociais (1902) trata do diálogo da geografia com a sociologia, ecoando os debates com 
Émile Durkheim e a Morfologia Social. 
Antecedida pela apresentação Vidal e a multiplicidade de abordagens regionais, de 
Rogério Haesbaert (HAESBAERT, 2012), a segunda parte do livro, Geografia Regional, é 
composta pelos seguintes textos: 
 
1. As divisões fundamentais do território francês (partes I, II e IV) (1888) ; 
2. Estradas e caminhos da antiga França (1902); 
3. Os pays da França (1904); 
4. As regiões francesas (1910); 
5. A relatividade das divisões regionais (1911); 
6. Evolução da população na Alsácia-Lorena e nos departamentos limítrofes 
(1916); 
7. A renovação da vida regional (1917). 
 
À luz da história do pensamento geográfico tal como ela é divulgada no Brasil, 
consagrou-se a imagem de Vidal de la Blache enquanto um geógrafo exclusivamente 
regional. Quem nunca ouviu falar da “região lablacheana”,tida como um verdadeiro 
obstáculo para a análise de outras escalas espaciais? Em seu livro mais famoso, A 
geografia ― isso serve, antes de mais nada, para fazer a guerra (LACOSTE, 1988 
Revista Continentes (UFRRJ), ano 2, n.3, 2013 
 
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147 147 
[1976]), o geógrafo francês Yves Lacoste caricaturou o pensamento vidaliano e, 
infelizmente, suas idéias foram reproduzidas inúmeras vezes entre nós. 
Com a tradução de As regiões francesas (1910), A relatividade das divisões regionais 
(1911) e A renovação da vida regional (1917) ― não podemos deixar de mencionar a 
percepção dos organizadores ao dispor os textos em ordem cronológica, o que facilita 
a compreensão e prende a atenção do leitor, priorizando as metamorfoses do conceito 
de região ―, espera-se que a comunidade geográfica brasileira reverta tal quadro. Os 
artigos mencionados expressam quão atual é a obra de Paul Vidal de la Blache. Sua 
abordagem regional está associada às questões de âmbito nacional e à dinâmica 
econômica do continente europeu. São interligações, influências, circulações, que 
modificam a dinâmica sócio-espacial como um todo e, consequentemente, afetam em 
cheio a constituição das regiões. 
Assim, acompanhando a trajetória das reflexões do próprio autor, a região adquire 
novas formas e novos significados. Podemos observar um movimento que vai dos pays 
às nodalidades, ou seja, do impacto da base geológica-geomorfológica na estruturação 
dos povoados rurais franceses à polarização causada pela dinâmica urbana-industrial 
moderna. Segundo Paul Claval, a viagem de Vidal de la Blache aos Estados Unidos em 
1904 merece relevo, pois este último passa a observar que a vida econômica, atrelada 
ao desenvolvimento dos meios de transporte, em muito influenciava a organização 
moderna da região (CLAVAL apud RIBEIRO, 2012a). 
Dito isso, em A renovação da vida regional Vidal de la Blache aponta a evolução dos 
meios de transporte e as enormes mudanças provocadas. Por intermédio da malha 
ferroviária, as sociedades adquiriram mobilidade suficiente para integrar cada vez mais 
as regiões, possibilitando o surgimento de estradas, a expansão dos mercados e, 
através da divisão do trabalho, da própria cidade. Desta forma, as feições das vilas 
tradicionais foram se dissolvendo para dar lugar às novas dinâmicas econômicas. Este 
quadro de desenvolvimento levou à migração interna em direção aos centros 
industriais regionais e à Paris, bem como à cooperação entre as cidades como sendo o 
principal impulso para o desenvolvimento de determinadas regiões. Nesta conjuntura, 
os pays são abordados como primordiais, consistindo em “pequenas peças de mosaico 
Revista Continentes (UFRRJ), ano 2, n.3, 2013 
 
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que se encaixam nos compartimentos principais” (VIDAL DE LA BLACHE, 2012:279 
[1911]. Ver também VIDAL DE LA BLACHE, 2012 [1916]). 
Vidal de la Blache fala de uma nova escalaridade, uma nova percepção do espaço a 
partir da proliferação das ferrovias. A contemporaneidade de Vidal é evidente quando 
observa a fundo os fenômenos trazidos pelo recém-chegado século XX. Ele percebeu o 
desenvolvimento industrial e a significativa migração para as áreas de Paris, enquanto 
o interior da França ainda vivia uma realidade camponesa. As pequenas vilas por onde 
as estradas de ferro não passavam tornaram-se desvalorizadas. Em A relatividade das 
divisões regionais, ele trata das formas recessivas e progressivas do território e da 
interessante coexistência de diferentes gêneros de vida (VIDAL DE LA BLACHE, 2012 
[1911]). Apregoando a necessidade de modernização do território francês em A 
renovação da vida regional, ele discute a posição que o Estado deveria assumir diante 
desta realidade. Em um trecho que guarda enorme semelhança com nossos dias, 
lemos o seguinte: 
 
“(...) pela crescente complexidade das demandas da organização industrial e 
comercial, o que emerge cada vez mais é que o Estado não está em posição 
de conduzir a bom termo ― até o necessário grau de detalhe, nem com a 
rapidez de execução que se impõe ― os empreendimentos para os quais ele 
deu a impulsão geral. Ele encontra dois obstáculos principais: a rigidez 
administrativa que vem dos gabinetes e o provincianismo que vem de outros 
lugares” (VIDAL DE LA BLACHE, 2012:324 *1917+). 
 
Após essas leituras, uma suposta ingenuidade da “região lablacheana” e sua dimensão 
exclusivamente naturalista caem por terra. Seus estudos vão muito além da análise 
física da região e estão inseridos em um amplo contexto econômico e político. 
A terceira e última parte do livro, acompanhada do texto Estados, nações e 
colonialismo: traços da geografia política vidaliana, de Sergio Nunes Pereira (NUNES 
PEREIRA, 2012), é dedicada à Geografia Política e comporta os artigos a seguir: 
 
1. Estados e nações da Europa em torno da França (extratos) (1889); 
2. A zona fronteiriça entre a Argélia e o Marrocos conforme novos documentos 
(1897); 
3. A geografia política. A propósito dos escritos de Friedrich Ratzel (1898); 
Revista Continentes (UFRRJ), ano 2, n.3, 2013 
 
Resenha: Vidal, Vidais 
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4. O contestado franco-brasileiro (1901); 
5. A missão militar francesa no Peru (1906); 
6. A Colúmbia Britânica (1908); 
7. A carta internacional do mundo ao milionésimo (1910); 
8. A conquista do Saara (1911); 
9. Sobre o princípio de agrupamento na Europa Ocidental (1917). 
 
Embora os estudos sobre geopolítica, território e fronteira terem atravessado toda a 
obra de Vidal de la Blache, eis um eixo que somente a partir dos anos 1990 passou a 
ser explorado a contento pelos pesquisadores da história do pensamento geográfico. 
Os textos que norteiam sua dimensão política, com destaque para as resenhas, 
mostram seus interesses de leitura, seu engajamento junto ao colonialismo e sua 
atenção para com o contexto econômico internacional. Nunes Pereira destaca a 
geografia política vidaliana como “reflexão acadêmica sobre ações estratégicas e de 
controle do território desenvolvidas por Estados em nível nacional, continental ou, 
quando europeus, com relação a domínios de ultramar” (NUNES PEREIRA, 2012:338), 
acrescentando que “Vidal realizou leitura da situação européia e da influência francesa 
no mundo que constitui um importante registro de sua época, num contexto de 
redefinição do papel das principais potências no cenário global” (idem, pp.338-339). 
 Vidal de la Blache chegou a assumir posições oficiais de representação em nome do 
governo francês, tal como revelam O contestado franco-brasileiro e A carta 
internacional do mundo ao milionésimo. No primeiro, foi responsável pelo documento 
de defesa dos interesses de seu país no tocante ao litígio fronteiriço com o Brasil a 
respeito das Guianas, enquanto no segundo atuou como geógrafo representante do 
Ministro da Instrução Pública. Ambos os casos mostram as intervenções de Vidal de la 
Blache no campo da geopolítica ― a despeito desta expressão ter sido rejeitada pela 
Escola Francesa de Geografia. 
Uma passagem sobre a confecção do referido mapa resume, ao mesmo tempo, o 
espírito da época e as preocupações vidalianas: 
 
Revista Continentes (UFRRJ), ano 2, n.3, 2013 
 
Resenha: Vidal, Vidais 
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“(...) pela força das circunstâncias, o fato de que regiões que de nós 
dependem duplamente ― pela política e pela ciência ― fossem cartografadas 
sob selo estrangeiro, aos cuidados de outrem, poderia, em certas 
circunstâncias, causar inconvenientes. É preciso ter em mente que uma obra 
tão longamente elaborada e já transformada em objeto de emulação 
internacional será um documento ao qual sua origem e seus progressos não 
tardarão aconferir um caráter de autoridade quase oficial. Mesmo sendo 
sobretudo físico, tudo leva a crer que o mapa em questão será invocado nas 
negociações diplomáticas, nas quais pode ocorrer que um dado lineamento 
hidrográfico ou orográfico sirva de base para importantes decisões” (VIDAL DE 
LA BLACHE, 2012:324 [1910]). 
 
Cumpre separar ainda a relação de respeito e de aproximação mantida para com 
Friedrich Ratzel, pois, em A geografia política. A propósito dos escritos do sr. Friedrich 
Ratzel, suas divergências em relação ao alemão são abordadas com sutileza ; a atenção 
dada às colônias africanas e aos desdobramentos resultantes da questão em A zona 
fronteiriça entre a Argélia e o Marrocos conforme novos documentos e A conquista do 
Saara; e a percepção de que algo precisava mudar no cenário geopolítico internacional 
em Sobre o princípio de agrupamento na Europa Ocidental, um dos capítulos do 
célebre livro La France de l’Est (Lorraine-Alsace) (VIDAL DE LA BLACHE, 1994 [1917]). 
Enfim, as novas gerações devem muito a Vidal de la Blache, cuja contribuição 
epistemológica, regional e política à geografia foi realmente notável ― e permanece, 
em muitos aspectos, mais atual que se imagina. 
 
 
Referências bibliográficas 
 
HAESBAERT, Rogério, NUNES PEREIRA, Sergio, RIBEIRO, Guilherme (orgs.). Vidal, 
Vidais. Textos de geografia humana, regional e política. Rio de Janeiro: Bertrand 
Brasil (2012). 
 
HAESBAERT, Rogério. Vidal e a multiplicidade de abordagens regionais. In: HAESBAERT, 
Rogério, NUNES PEREIRA, Sergio, RIBEIRO, Guilherme (orgs.). Vidal, Vidais. Textos 
de geografia humana, regional e política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil (2012). 
 
LACOSTE, Yves. A geografia ― isso serve, antes de mais nada, para fazer a guerra. 
Campinas: Papirus (1988 [1976]). 
 
NUNES PEREIRA, Sergio. Estados, nações e colonialismo: traços da geografia política 
vidaliana. In: HAESBAERT, Rogério, NUNES PEREIRA, Sergio, RIBEIRO, Guilherme 
(orgs.). Vidal, Vidais. Textos de geografia humana, regional e política. Rio de 
Janeiro: Bertrand Brasil (2012). 
Revista Continentes (UFRRJ), ano 2, n.3, 2013 
 
Resenha: Vidal, Vidais 
151 151 
 
RIBEIRO, Guilherme. Geografia Humana: fundamentos epistemológicos de uma ciência. 
In: HAESBAERT, Rogério, NUNES PEREIRA, Sergio, RIBEIRO, Guilherme (orgs.). Vidal, 
Vidais. Textos de geografia humana, regional e política. Rio de Janeiro: Bertrand 
Brasil (2012). 
 
__________. Babel insaciável. Modernidade e urbanização nos Estados Unidos 
conforme Paul Vidal de La Blache. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e 
Regionais, v.14, n.1 (2012). 
 
__________. Interrogando a ciência: a concepção vidaliana da geografia. Confins, n. 8 
(2010). 
 
VIDAL DE LA BLACHE, Paul. La France de l’Est (Lorraine-Alsace). Paris: Armand Colin 
(1994 [1917]).

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