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INTRODUÇÃO: Sociologia e a Sociologia Jurídica Estudar a sociedade, sociabilidades e as relações sociais tornou-se uma determinação ética de quem está estudando na universidade e para quem está buscando a fortificação de sua cidadania, o rigor da cultura jurídica e posturas racionais mais coerentes. Torna-se ainda mais impres- cindível aos indivíduos que buscam ocupar lugares sociais nos quais se condensam interesses coletivos. Quem nos fornece as melhores abordagens metodológicas e te- óricas para este estudo é a Sociologia. Como uma das Ciências Sociais emergentes nos tempos modernos, a Sociologia criou sua autonomia ao fundamentar sua abordagem em metodologia clara, em construir con- ceitos específicos, em fazer demonstrações de suas descobertas e em criar teorias sociais. Estas descobertas, fundamentadas no rigor reflexivo, auxiliaram na criação de muitas instituições sociais e assessoram muitos procedimentos de indivíduos que procuram atender os interesses das populações, pois além de estudar e sistematizar estes interesses (organizá- los e expressá-los) a Sociologia também orientou ações de grupos que buscavam autonomia e direitos sociais. Dificilmente estudantes e pesqui- sadores da Sociologia deixaram de se tornar militantes de causas sociais, pois não se contentam em entender as causas dos problemas humanos e 16 E n i o W a l d i r d a S i l v a não contribuir para a solução deles. Dados de estudos epistemológicos mostram que quem procura estudar a Sociologia são indivíduos preocu- pados com a situação das vivências sociais (suas e as dos outros) e que estão procurando um mundo mais justo. Podemos afirmar, então, que a Sociologia se tornou a ciência das populações e das instituições e foi criada justamente com a perspectiva de resolver seus problemas. Além disso, a criação da Sociologia possibilitou a afirmação do caráter social da condição humana, constituiu-se em um conhecimento da sociedade que incide sobre ela, exercendo uma ação decisiva na produção e reprodução da sociedade, no sentido da conservação ou da transformação das relações sociais. É, também, um ato social porque seus conceitos não são apropriados apenas pelo sociólogo, mas por todos os sujeitos intérpretes dos problemas humanos. A institucionalização da Sociologia permitiu a pesquisa de temáticas diversas, estabelecendo vá- rias especialidades, compondo o que hoje denominamos como Ciências Sociais particulares ou campos teóricos: rural, urbana, trabalho, direito, religião, cultura, política, economia, a natureza, a história, a comunica- ção, a assistência social, etc. Mesmo que cada ciência tenha um campo particular, elas possuem uma identidade e um fundamento comuns: a existência social do homem. Como Ciências Sociais precisam enfrentar os mesmos problemas metodológicos que caracterizaram a história da Sociologia (Bressan, 2003). Trataremos mais tarde dos fenômenos que influenciaram na ori- gem da Sociologia, mas é importante destacar aqui que ela vai nascer como um reflexo dos problemas sociais resultantes do processo de con- solidação da modernidade, expresso em três transformações: 1 – A generalização do processo de produção de mercadorias (Revolução Industrial); 2 – A formação do Estado moderno (Revolução Francesa de 1789); 3 – Da nova cultura a partir dos valores da liberdade, da racionalidade e da ciência (Idealismo Alemão). 17 Introdução Nestes contextos os iniciantes da Sociologia poderiam ser assim destacados: Charles de Montesquieu (1689-1755), Auguste Comte (1796-1857), Karl Marx (1818-1883), Émile Durkheim (1858-1917) e MaxWeber (1864-1920), embora não possamos negligenciar estudos realizados por outros pensadores sociais da época, como Charles de Montesquieu (1689-1755), Friedrich Engels (1820-1895), Saint-Simon (1760-1825), Stuart Mill (1806-1873), Condorcet, Herbert Spencer (1820-1903) e Wilfredo Pareto, Harriet Maritineau (1802-1876), Ernest Mach (1834-1916), Wilhelm Dilthey (1833-1911), etc., que enunciaram os temas básicos da Sociologia, sua metodologia, e os detalharam de forma ampla na aplicação do entendimento das mudanças abrangentes que ocorreram nas sociedades humanas, nos modos de construir ma- terialmente as sociedades ocidentais, na forma de sua organização, na maneira de pensá-las e nas mudanças nas vidas das pessoas no decorrer dos últimos três séculos. Neste sentido, devido à complexidade dos interesses que movem os sujeitos ao estudo da Sociologia, faz-se necessário destacar os seus possíveis conceitos. Um dos conceitos mais aceitos de Sociologia é de que ela se constitui em uma ciência que estuda as relações sociais, entretanto não há um consenso quanto a seu conceito. Silva (2008a) recolheu as seguintes possíveis definições: – A Sociologia é uma ciência que estuda as relações sociais que são, ao mesmo tempo, produtos e produtoras da sociedade; – ... é um conjunto de conceitos, de métodos e de técnicas de investiga- ção produzidos para explicar os elementos potencializadores da vida social; – ... é um estudo sistemático da realidade social do homem... – ... é o estudo das mediações produtoras dos potenciais das práticas; – ... é uma construção teórica, resultado do esforço de compreender a sociedade em sua realidade objetiva e subjetiva; 18 E n i o W a l d i r d a S i l v a – ... é o estudo das formas de como o homem passa de um resultado da estrutura estruturada para uma estrutura estruturante, ou seja, o estudo das condições que produzem os lugares sociais ocupados pelo homem; – ... é o estudo de como o homem entende a sociedade, como ele a aceita, a legitima ou a transforma; – ... é o estudo que pode levar o homem a ser livre por entender o seu lugar no processo histórico; – ... é o estudo da própria vontade do homem em conhecer-se e a conhe- cer sua sociedade; – ... é o estudo das razões que impulsionam o mundo prático e dos re- sultados destas... Apesar destas definições, é mais fácil compreender a Sociologia pelos objetivos pelos quais a ela se recorre: procurar potenciais reflexi- vos capazes de alargar a compreensão dos processos humanos e adquirir uma base de conhecimentos que leve a entendimentos das forças que compelem o homem ao controle destas forças, dando-lhes significados e orientando-as para a construção da vida individual e coletiva, justa e solidária. Estas forças, como observa Norbert Elias (1970), são forças sociais exercidas pelas pessoas sobre outras pessoas e sobre elas mesmas (aquilo que liga uma pessoa a outra...). Geralmente, as explicações sobre estas forças têm por base as representações que se formam sobre elas. Isso faz com que o próprio pensador não se exclua daquilo que está pen- sando. Além de interpretar as forças que agem sobre as pessoas, nos seus grupos e sociedades empiricamente observáveis, também interpreta os discursos e pensamentos relativos a estas forças e assim vai produzindo seus próprios conceitos mais adequados ao entendimento das vivências humanas. É isto que queremos mostrar: a Sociologia é uma ciência dedicada a compreender as interações, as ligações ou as teias que conectam os indivíduos entre si, os indivíduos aos grupos, os grupos entre si e estes 19 Introdução com a sociedade como um todo. Esta rede produz potenciais orientadores de sociabilidades e identifica as sociedades. Assim, o todo está na parte e a parte está no todo, ou seja, os indivíduos são produtos e produtores da sociedade, os Outros estão contidos no Eu (o eu é multideterminado – pela família, natureza, cultura...), como indica o esquema a seguir. ©Anthropos Consulting 9 HUMANIDADE DA VIDA ETHOS CULTURADEMENS SAPIENS A figura anterior mostra algumas das mais importantesimplicações deste conceito de que a Sociologia aborda as relações sociais: este objeto específico é importante de ser compreendido mais cientificamente. Quer dizer: quando nascemos já existia a sociedade. Fomos preparados para entrar para ela. Posteriormente agimos de acordo com a estrutura estruturada. A família é o ponto de partida de nossa socialização. É ali que começamos nossas relações sociais, criamos os laços sociais mais profundos de nossa existência. Por isso muitas justificativas de nossas ações e entendimentos podem ser encontramos na nossa trajetória fami- liar. A estrutura de nossa personalidade, as potências afetivas de nossa vida, a valorização do outro, o respeito ao trabalho e a ordem social, etc., encontram-se na família, pois são produto e produtora da sociedade. Já a escola é onde aprendemos nossas potencialidades simbólicas e culturais e adquirimos capacidade para o controle objetivo do mundo expresso Natureza Os Outros Mídias Trabalho Religião Escola Família 20 E n i o W a l d i r d a S i l v a na escrita. Ali, os elementos racionais e universais da existência huma- na tomam novo sentido e somos pugnados para o social, o coletivo, a ordem social, a autoridade e a força da ciência... Estes dois espaços são fundamentais para entendermos as formas de ligações entres as pessoas, as redes que os conectam entre si e ao mundo social e assim seguem os estudos da Sociologia buscando compreender empiricamente a im- plicações da cultura, da economia, da natureza, da mídia, do Estado, da religião na constituição da dimensão social dos indivíduos. Estes estudos foram se ampliando cada vez mais ao longo do tem- po. A preocupação com o conhecimento científico surge no momento em que se percebe que o homem é um ser social que não se basta a si mesmo e que possui uma relação de dependência e complementaridade com a natureza, com os outros homens e com os esforços em ampliar seu entendimento do mundo que o envolve (ciência – pensamento sistematizado). O ser humano se distingue das demais espécies porque nem tudo o que ele faz surge de sua estrutura genética, nem se desen- volve automaticamente em sua relação com a natureza, mas necessita de aprendizado de uma série de atividades fundamentais para sua sobrevivência e reprodução. A construção desse aprendizado se faz por meio da relação com outros seres humanos. A partir dessa relação ele começa a instituir a sociedade como sua forma de existência. Ele passa a entender que sua vida e seu aprendizado se constroem na relação e é essa relação que se transforma em experiência vivida e é transmitida às gerações posteriores. Essas experiências construídas, refletidas e simbolizadas, coleti- vamente, fornecem ao ser humano a capacidade de entender a natureza, compreender a si mesmo e construir sua história. Essa capacidade de buscar o significado das coisas que o cercam fez o ser humano produzir cultura e elaborar as próprias ciências, uma delas a Sociologia. Alguns pesquisadores dizem que a humanidade triunfou diante dos outros ani- mais devido à mobilidade da força de sua inteligência capaz de modificar o ambiente natural e criar outro ambiente adequado a sua existência, 21 Introdução concretizado em vilas, aldeias e cidades. Foi quando agiu em grupos e com atividades solidárias que notamos as mais grandiosas realizações. Quando concorreu entre si vemos os desastres, as guerras e a violência destrutivas. Inteligentemente o ser humano aperfeiçoou seu modo de viver em grupo, criando normas, regras e regulamentos que permitiram inte- rações mais intensas. Inicialmente suas ações eram determinadas pelo instinto de vida. O encontro com outros diferentes provocou ações mais planejadas e combinadas. A organização humana em sociedades, a capacidade de interven- ção do homem na natureza aumentaram. Suas criações são chamadas de culturas e estas foram aos poucos se separando das atividades práticas e ao mesmo tempo possibilitando orientações de ações. Nossas escolhas, nossas ações são orientadas pelo lugar que ocupa- mos na estrutura social. Quando entendemos como se forma esta estrutura e como fomos preparados para viver dentro dela mais podemos orientar de modo criativo nossas ações e mais liberdade teremos. Assim, a Sociologia é uma ciência da liberdade, pois permite que se crie uma vida coletiva de modo regulado estruturado e sempre em aperfeiçoamento. Nos últimos tempos tem crescido o interesse em entender a densidade das relações sociais que estão produzindo conflitualidades para além dos sistemas de controle existentes. É a este assunto que vamos nos dedicar daqui para a frente, denominado de Sociologia Jurí- dica, reconstruindo os elementos que tornaram o Direito uma ciência e uma prática da sociedade, as crises e as críticas a ele dedicada e por último nos dedicaremos a mostrar as pesquisas atuais da Sociologia que ajudam a entender os processos regulatórios e emancipatórios presentes na sociedade. As pesquisas sociológicas procuram explicar os problemas sociais e apontar soluções para eles. Grande parte destes problemas refletem no Direito e, muitas vezes, este, o Direito, se torna parte dos problemas. 22 E n i o W a l d i r d a S i l v a Ou seja, a Sociologia Jurídica aponta a realidades sociais que envolvem o Direito, as normas, as leis e as estruturas jurídicas; estuda as crenças e descrenças dos grupos na validade do Direito e mostra como este orienta as condutas humanas. Podemos dizer inicialmente que a Sociologia Jurídica faz a tradu- ção da relação que existe entre a ação e a estrutura social, entre liberdade e regulação social.Os aspectos regulatórios e emancipatórios da socieda- de, que a Sociologia Jurídica estuda são todos aqueles elementos cujas funções são assegurar o controle social: Estado, Judiciário, Ministério Público, polícia, exército, prisões, burocracia, lei e instituições (criadas para um setor: ex. meio ambiente, comércio internacional, estatutos de profissões, remédios, energias)... Aspectos emancipatórios são as ações de indivíduos em seus mais variados aspectos, a cultura, o esporte, a arte, a ciência, etc... então a Sociologia Jurídica estuda as relações entre indivíduos e as leis, a sociedade e o Direito, a liberdade e obediência às leis. No caso específico da Sociologia Jurídica, o que interessa aqui é contribuir para entender o Direito como um dos fatos sociais mais perti- nentes da atualidade histórica, constituído de elementos – forças capazes de constituir a sociedade, consolidar convivências humanas e organizar o todo social, tarefas de todo cidadão. Ou melhor, se não soubermos como funciona o poder e quem o detém, dificilmente conseguiremos propor mudanças e atuarmos na construção de uma sociedade mais jus- ta. A cidadania é a expressão do nosso compromisso, do nosso dever em participar da organização da sociedade em que vivemos, e o direito de usufruir dos resultados da participação nas ações coletivas. Só podemos ser livres se desatarmos as amarras do poder hegemônico que negamos, mas para tanto é preciso saber que sociedade queremos. A sociedade é resultado do complexo de relações sociais em forma de teias, de redes ou nexos, as instituições, os indivíduos, a cultura, os comportamentos, as normas e os valores compartilhados. 23 Introdução Foram os sociólogos que distinguiram mais amplamente o conceito de sociedade desta compreensão de que ela era um nome coletivo para muitos indivíduos. Eles entendiam que a sociedade tem uma identi- dade que lhe é característica e que transcende os indivíduos que a ela pertencem. Trata-se de uma coletividade organizada que se mantém por vínculos cooperativos para garantir a sobrevivência, para perpetuar-se,partilhando uma cultura sob as orientações de estruturas institucionais. Como é possível perceber, todas as definições apresentadas são amplas e geraram muita controversa (Silva, 2008a). Em uma formação social, os grupos, os setores ou as classes estabe- lecem relações de força. Os vencedores asseguram para si instrumentos que permitem controlar o poder/espaço por um determinado tempo, a ponto de impedir os resistentes de vencê-los. A hegemonia do grupo vencedor está em fazer valer a sua vontade como se fosse de todos e de garantir instrumentos de manutenção, ou seja, pode até existir a contestação, a discordância, mas estes são obrigados à conivência com quem detém a força. Ou seja, somos levados a entrar para uma socieda- de pelos mecanismos de socialização existentes e só com muito esforço reflexivo conseguiremos entender as forças que nos compelem à ação, às formas de pensar. Nenhuma sociedade funciona sem que o comportamento da maior parte das pessoas possa ser prevista ou controlada, uma vez que os indivíduos não são autossuficientes. O ser humano interioriza as normas moldadas pelos grupos existentes anteriormente e depois exterioriza-as em suas ações e pensamentos. A coerência entre interiorização e ex- teriorização vai depender dos processos de socialização instalados na sociedade capazes de fazer a coerção e a coação para que os indivíduos aprendam ao longo do tempo os comportamentos aceitos e quais os que seriam reprovados. Estas diferenças se concretizam nos papéis sociais (funções) assumidos. 24 E n i o W a l d i r d a S i l v a Quando as pessoas seguem aquilo que lhes foi ensinado aprovar diz-se que temos a ordem social. A disciplina de uma sociedade repousa na rede de papéis de acordo com a qual cada pessoa aceita certos deveres em relação aos demais e exige, por sua vez, certos direitos. Quanto mais se motiva condutas recíprocas de indivíduos, quanto mais se fizer com que eles se abstenham de certos atos que, por alguma razão, são consi- derados nocivos à sociedade, e se fizer com que executem outros que, por alguma razão são considerados úteis à sociedade, mais civilizados somos e mais ordem teremos (Kelsen, 2005). É neste processo que a Sociologia entende que entra o Direito, pois é nele que se percebe as relações sociais constituidoras da sociedade. No Direito, há sempre referências às relações sociais que se desenvolvem em sociedade, e da mesma forma, onde existem relações sociais pode ser encontrado o Direito. Em cada momento, em cada povo o Direito determina o modo de ser da sociedade, o perfil da estrutura básica é resultado da ação do Direito, que exerce a função do controle social e é condicionado pelas crenças religiosas, pelas convicções éticas, pelas ideologias, os costumes, os interesses econômicos, políticos, culturais, os avanços técnicos e científicos, etc. (Dias, 2009, p. 22). Ao pesquisar empiricamente as ações características de grupos sociais, a Sociologia foi consolidando métodos que contribuíram para que a própria ciência jurídica fosse se tornando um estudo sistematizado e autônomo. Assim, desde os primeiros cursos de Direito a Sociologia contribuiu para dar rigor às compreensões sobre o social. Os estudos sociojurídicos possuem sempre um caráter interdisciplinar, em que se pressupõe a colaboração equilibrada entre juristas e sociólogos que compreendem não apenas o Direito em sentido estrito, mas também os modos de regulação de conflitos que dele se aproximam ou com ele se relacionam. Isso requer a compreensão de que há uma interação objeto/ sujeito e noção de que as realidades sociais podem ser diferentemente representadas nas teorias, necessitando diálogos entre elas. 25 Introdução Para sintetizar podemos destacar o seguinte conceito da Sociologia Jurídica: é um ramo especializado da Sociologia que busca compre- ender as expressões das relações sociais presentes na organização normativa da sociedade. Ou seja, estuda: – As realidades sociais no entorno da ordem jurídica; – As relações sociais efetivamente registradas/concretizadas na socieda- de; – As aproximações e os distanciamentos entre a regulação e as vivências sociais; – O lugar e o papel do Direito na sociedade; – As possíveis respostas que a sociedade fornece aos sistemas regulató- rios; – A cultura jurídica dos agentes sociais e dos cidadãos da sociedade civil; – As estruturas regulatórias e as ações; – As forças das regras e a legitimidade destas; – Como são construídas as leis, quais os interesses em jogo nessa cons- trução; – Os espaços estruturais do jurídico; – As estruturas para garantir o acesso ao jurídico e à Justiça; – As relações sociais entre os sujeitos do Direito; – Os impactos sociais da ação do jurídico, etc. Então, a Sociologia Jurídica procura entender as relações entre liberdade e regulação, compreender como ocorre a relação entre a sociedade e o Direito, como uma sociedade se organiza para criar sua vida jurídica e como esta passa a refletir na sociedade. Pressupomos, pois, que o comportamento social é resultante das repostas que as pessoas dão a vários fenômenos complexos que somente podem 26 E n i o W a l d i r d a S i l v a ser analisados no contexto do ambiente no qual sua socialização se realizou. É este o peso empírico que a Sociologia carrega: estudar os comportamentos dos indivíduos em seus aspectos internos e externos1 conforme os contextos que estão sempre em mudança. À medida que os indivíduos vão continuamente se adaptando, como seres sociais, às exigências do grupo de convívio, o seu compor- tamento torna-se parecido ao dos outros membros e as expectativas de comportamento são possíveis de serem estudadas, de serem padro- nizadas e mesmo controladas. O controle, a padronização nunca são completos e nem os estudos são exatos, pois a conduta humana é bem mais do que simples respostas aos estímulos externos e internos, uma vez que lhe é possível planejar ações visando a algum objetivo. Quando os estudos do homem enquanto ser social começaram a se ampliar percebeu-se que seria possível verificar algumas tendências que se confirmavam. Daí resultou a cultura de que todos precisamos de regras para nossas condutas que sejam claras, conhecidas e ajusta- das ao grupo. E assim teve origem o controle social que muitas vezes entrou em choque quando um grupo tenta impor a outros o seu modo de ver, de sentir o mundo a sua volta. Para entender melhor este momento de afirmação da cultura jurídi- ca vamos fazer uma rápida revisão da evolução da sociedade descrita pela Sociologia e depois retornaremos ao contexto da modernidade, período histórico de intensas demanda por controle social. Antes, porém, vamos ver esta excelente descrição da Sociologia Jurídica criada por Souto: 1 Conforme Souto (1981), ao lado dos elementos considerados externos ao comportamen- to temos os outros, objetos, conhecimentos e do mundo interno como as substâncias químicas, as pressões e distensões mecânicas de nosso organismo.... a fome, a sede, o sono, por exemplo, são expressões dos estímulos provocados pelo meio interno. E isso não é objeto necessariamente da Psicologia, mas a Sociologia pode se valer de saberes de outras ciências (Souto; Souto, 1981). 27 Introdução O fenômeno jurídico pode ser percebido como norma ou como condu- ta.Tanto numa visualização como noutra, norma e conduta jurídica se implicam, pois conduta jurídica é sempre normada e a norma sempre se refere à conduta social. A norma jurídica se origina de uma conduta humana específica. Por isso o direito é fenômeno claramente social... se o jurídico é fato social este é preocupação constante da Sociologia Jurídica.Esta estuda este em sua correlação com a realidade social... A perspectiva sócio-científica do jurídico tem-se afirmado internacio- nalmente de forma clara e progressiva, e não pode ser ignorada por um país em desenvolvimento como o Brasil. Com efeito a expansão das sociedades e de seus problemas de contato social, o aumento da comunicação interna e externa, as necessidades da vida nacional e internacional, tudo parece demandar um tipo de controle social adaptável à sociedade: um controle menos formal, menos dogmático, mais dinâmico, que corresponda à rápida mudanças ocorrida dentro das sociedades particulares e à natureza da sociedade internacional, que permanece sendo, em grande escala, uma sociedade informal (Souto; Souto, 1981, p. 13).
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