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Observar - Teresa Mateiro

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Observar, registrar e refletir durante o estágio supervisionado 
em música 
Teresa Mateiro 
Introdução 
 
Este texto tem como objetivo analisar e refletir sobre a técnica de 
observação, utilizada pelos estudantes de música durante o estágio curricular 
supervisionado, como um meio de aprendizagem, de coleta de dados e análise 
de situações educativas. O quê e como o estagiário observa? O quê o 
estagiário observa durante uma aula? Como é a interação do estagiário com o 
meio observado? Como são descritas essas observações? O que o estagiário 
pensa durante os momentos de observação? 
Durante o período de 2003 a 2005 foi desenvolvido um projeto de 
pesquisa1 com o objetivo de compreender o estágio curricular supervisionado 
através da narração dos relatórios dos licenciandos. Os relatórios de estágio de 
estudantes do curso de Música-Licenciatura, matriculados nas disciplinas de 
Estágio 3 e 4 foram utilizados como instrumento de análise e fonte de 
informação. Os estudantes foram convidados a participar desse estudo, 
cedendo os seus relatórios. Sete estudantes disponibilizaram tais documentos 
em via digital e impressos, autorizando o uso de seu conteúdo para trabalhos 
científicos. 
Naquele momento a disciplina de Estágio 3, localizado no primeiro 
semestre do ano letivo, iniciava em março com um período de observação no 
contexto escolar, de aproximadamente doze horas, distribuídas ao longo de 
seis semanas, pois a carga horária das aulas de música nas escolas é, 
geralmente, de duas horas semanais. O Estágio 3, diferentemente dos 
anteriores — que visavam um primeiro contato com o ambiente escolar —, 
estava direcionado a subsidiar a prática de ensino, pois é o momento em que o 
estudante em formação docente vai selecionar a turma na qual irá permanecer 
até o final do ano, bem como conhecer a escola e suas peculiaridades. 
Propõe-se neste texto descrever a observação no âmbito da pesquisa 
científica, ressaltando os tipos de observação, o papel do 
observador/pesquisador e o registro das observações. Na seqüência, 
apresentar e discutir a observação como um procedimento de aprendizagem 
na formação docente, citando-se pequenos fragmentos de texto extraídos dos 
relatórios utilizados na pesquisa acima referida a fim de exemplificar as formas 
de registro e os temas abordados. 
 
A observação no âmbito da pesquisa científica 
A observação é uma técnica fundamental e um dos instrumentos mais 
utilizados para o desenvolvimento das investigações qualitativas, encontrada 
dentro dos diversos recursos técnicos da coleta de dados como estudo de 
caso, entrevistas, pesquisa de campo e outras. É utilizada para recolher 
informações e analisar fatos, fenômenos e ambientes, por exemplo, sendo a 
base para o processo da pesquisa científica (Marconi, 1999). Dessa forma, é 
uma ferramenta que leva o pesquisador a ter um contato mais direto com o 
objeto de estudo que está sendo analisado em seu ambiente natural, tornando-
se científica quando é planejada sistematicamente, quando está relacionada a 
um plano de pesquisa e é registrada metodicamente (Estrela, 1994). 
De acordo com Estrela (1994) o desempenho da observação em toda a 
metodologia, constitui a primeira etapa de uma formação científica, necessária 
para realização de uma investigação bem fundamentada. Os primeiros passos 
para uma boa observação é definir o campo a ser observado e traçar objetivos 
para poder determinar as estratégias a serem utilizadas. O autor ressalta, 
ainda, a importância da definição da “forma e meios de observação”, “critérios e 
unidades de registro dos dados”, “análise de tratamento dos dados” e a 
“preparação dos observadores” (Ibid., p.29). 
O papel do observador/investigador em campo determina a sua ação, 
definindo assim o tipo de observação: participante, onde o investigador atua 
nas atividades que está observando e, muitas vezes, se integra ao grupo 
observado; ou não participante, onde o investigador se mantém distante do 
objeto observado. A técnica de observação participante tem sido a mais 
freqüente utilizada em estudos etnográficos (Yin, 2001) que se caracterizam 
pela inserção direta do pesquisador na vida cotidiana do grupo, objeto de 
estudo. Efetivamente, a participação do pesquisador no entorno natural elegido 
define-o como o principal instrumento da pesquisa, pois a coleta dos dados se 
realiza através da interação social (Burguess, 1997). Conforme afirma Negrine 
(2004, p.68) “o observador participa dos acontecimentos, é um dos atores, 
registrando as informações depois do acontecimento”. 
No tocante à observação não-participante, o exemplo mais clássico, 
em pesquisas na área da educação, se produz quando o pesquisador se senta 
ao fundo da sala de aula codificando todos os comportamentos do professor e 
dos alunos, conforme suas categorias observacionais (Cohen and Manion, 
1994). Neste caso, o pesquisador somente observa, podendo registrar os 
acontecimentos no momento, sem ter responsabilidades preexistentes com o 
contexto em questão, aumentando, assim, as possibilidades de orientar a 
observação para o fenômeno, tarefa ou situação específica. Referindo-se a 
este papel assumido pelo pesquisador no trabalho de campo, Adler e Aldler 
(1994, p.379) o denominam de “pesquisador membro periférico”. 
Outro ponto que também merece atenção especial é a forma de como 
os dados observados são registrados. Os registros devem ser claros, o mais 
detalhado possível, em forma descritiva e sem a influência da avaliação ou 
julgamento do próprio observador, pois, muitas vezes, pode-se rotular e fazer 
interpretações errôneas dos fatos observados. O registro, de acordo com 
Postic (1990), deve também ser condizente com os objetivos da pesquisa, 
cabendo registrar os fatos relevantes de forma organizada. 
 
A observação na formação docente em educação musical 
A observação, como ferramenta de aprendizagem, em geral, está 
presente durante a prática pedagógica dos cursos de formação docente, assim 
como afirma Estrela (1994, p.56): 
 
Todos os sistemas de formação de professores, mesmo nos mais 
tradicionais, a observação tem sido uma estratégia privilegiada em que 
se lhe atribui um papel fundamental no processo de modificação do 
comportamento e da atitude do professor em formação. 
 
O estudante em formação docente2, através da observação, poderá ser 
capaz de reconhecer e analisar fenômenos, podendo, assim, expor problemas 
e verificar soluções. Para analisar os dados observados é pertinente saber 
observar e interpretá-los de forma consciente e fundamentada para poder 
assim agir, posteriormente, na sua prática de ensino, elaborando conteúdos 
significativos e gerando possibilidades de diálogo. Portanto, nesse processo, é 
importante saber recolher, organizar e interpretar informações objetivamente. 
A observação permite que o futuro educador possa analisar uma 
diversidade de situações no ambiente escolar como, por exemplo, os 
acontecimentos em sala de aula, pátio, refeitório, reuniões pedagógicas, 
atividades extracurriculares, entre outras. Inserido nesse contexto, será 
possível interpretar a realidade e construir relações entre teoria e prática. 
Nos relatórios de estágio analisados na referida pesquisa, foi possível 
verificar descrições que demonstram reflexões acerca das atividades de 
observação. A seguir um fragmento de texto que ilustra este pensamento: 
 
Hoje entendi como é bom este estágio preparatório para dar aula, pois 
fiquei ajudando os alunos a fazerem as suas caixinhas e muitos vieram 
me pedir ajuda e conversar comigo. Desta maneira nos conhecemos 
melhor e eles vão ganhando confiança na nova professora (Relatório 2, 
p.26, linhas 835-841). 
 
A estudante coloca o momento da observação, chamado por ela de 
“estágio preparatório”, como uma ferramenta imprescindível para as posteriores 
etapas da prática de ensino. Para ela, foi uma oportunidade de conhecermelhor os alunos e vice-versa, aprendendo a construir relações pessoais e a 
ser sensível aos interesses e às características das crianças. Neste sentido, 
concordamos com Freire (2002) quando ressalta que o “educando é o principal 
agente da educação”, pois o papel do educador é contribuir para que o 
educando seja o artífice de sua formação. 
 
A observação realizada pelo estagiário 
A observação utilizada no estágio curricular supervisionado, 
geralmente, é: estruturada (o estagiário observa com determinados objetivos), 
não-participante (o estagiário apenas observa), participante (o estagiário 
participa e tem influência durante as aulas), individual (sua percepção é 
própria) e na vida real (o estagiário está inserido no ambiente escolar durante o 
período de observação). 
São raros os casos em que essa estrutura de observação se modifica, 
pois normalmente o estudante em formação é inserido no ambiente de trabalho 
profissional, ou seja, escolas e/ou espaços onde ocorrem processos de ensino 
e aprendizagem, tem um plano de observação e o realiza individualmente. 
Caso aja alguma mudança, essa se dará na participação do estudante, 
podendo ser participante ou não-participante. 
Nos relatórios cedidos pelos estudantes constatou-se que o período de 
observação inicial deu-se de maneira não-participante. Veja o exemplo a 
seguir. 
 
Chegando à escola, me dirigi diretamente para a sala dos professores 
onde procurei a professora da classe que eu iria observar. Fui recebida 
mui gentilmente por ela e convidada a entrar na sala onde estavam os 
demais professores. Cada qual fazia suas tarefas e organizava seus 
materiais nos poucos minutos que restavam antes da aula iniciar. 
Batido o sinal nos dirigimos para o pavilhão central da escola onde os 
alunos se reúnem antes do início das aulas. A professora e eu fomos 
até as crianças da turma e todas já queriam saber quem eu era. 
Chegando à sala ela falou que eu era sua amiga e que iria vir alguns 
dias na classe, não dando mais informações. Sentei no fundo da sala e 
passei a observar (Relatório 6, p.8, 82-100). 
 
Continuando a estudante demonstra certa preocupação em manter 
neutralidade durante o momento da observação. 
 
Nesta primeira observação havia 14 crianças sendo que 16 estavam 
matriculadas. Durante alguns instantes a turma estava curiosa - ficou 
me olhando, mas aos poucos foi se envolvendo com as atividades 
propostas pela professora. Tive um breve contato com os alunos e 
procurei mostrar-me ‘neutra’, o que foi difícil, pois alguns insistiam em 
vir conversar (Relatório 6, p.8, linhas 100-108). 
 
Em geral, os pressupostos e fundamentos teóricos não são definidos e 
empregados no trabalho de campo pelo estudante. Este recorre mais à sua 
experiência de vida do que propriamente a regras, normas e/ou teorias 
estudadas. O que mais chama atenção para ele? Talvez isso, seja o que mais 
conte na hora de observar. O que observar? Como observar? Também são 
questionamentos freqüentes dos estagiários que vão para o campo de 
observação sem ter as respostas. 
Entretanto, ao ler os relatórios cedidos para este estudo pode-se 
perceber que as diversas observações foram delimitadas por um o foco de 
atenção. Nos registros de observação encontram-se títulos como: “O primeiro 
dia na escola”, “O primeiro dia com a segunda série” e “O segundo dia com a 
segunda série” (Relatório 1); “Contato com a classe” e “Professora de artes” 
(Relatório 2); “A escola”, “O professor”, “O aluno” (Relatório 4); “A primeira 
visita à escola” e “Papéis do professor na sala de aula” (Relatório 6). 
Este procedimento de registro sugere que houve por parte de alguns 
estudantes uma observação seletiva, buscando conhecer determinados fatores 
do ambiente escolar, não ficando, assim, pulverizado o processo de 
observação. Neste sentido, Negrine ressalta: 
 
Observar sem pautas prévias faz com que os registros das 
informações, recolhidas através da observação, sejam os mais 
variados possíveis, dando idéia ao próprio grupo, que passou pela 
experiência da subjetividade, da tarefa realizada, servindo, de certa 
forma, a uma multiplicidade de conclusões e a qualquer tipo de 
discurso que se queira inferir a partir dos registros realizados pelo 
observador. Destacamos que a observação a partir de ‘pautas’ não 
significa retirar como um todo a subjetividade (Ibid., 2004, p.66). 
 
O registro das observações 
Na pesquisa qualitativa é recomendável que o registro do fato 
observado seja descritivo, evitando juízos de valor. Segundo Negrine (2004) 
são dois momentos distintos: 
 
Primeiro registram-se os fatos tais como ocorrem para que, 
posteriormente, possam ser analisados (classificar e categorizar) e 
interpretados. Deve-se evitar emitir opiniões de mérito ao descrever, 
porque isso acaba contaminando a observação e 
prejudicando, sobremaneira, a interpretação (Ibid., p.70). 
 
Observar requer cuidado. Não só cuidado para manter os objetivos 
propostos, mas também para desenvolver uma neutralidade (imparcialidade) 
no observar e, principalmente, no descrever dos fatos. O registro deve ser feito 
de modo o mais descritivo possível, evitando comentários pessoais de quem 
observa e registra os fatos, pois não descreve o que realmente aconteceu. 
Burgess (1997) destaca que as observações podem ser descritivas, 
focalizadas e seletivas, dependendo do tipo de questão levantada pelo 
pesquisador. Elas servem como um guia básico ou pano de fundo para futuras 
observações, pois a partir da descrição de uma situação social pode-se 
direcionar a outras questões mais focalizadas que implicam em reflexões ou 
comentários do pesquisador. 
Nos relatórios de estágio dos estudantes de música exemplos 
descritivos e reflexivos foram encontrados. As descrições narram o que 
aconteceu em um determinado momento, como por exemplo, ao chegar à 
escola, na sala de aula, no pátio ou na sala dos professores. A seguir um 
fragmento de texto: 
 
Na segunda observação também me senti bem recepcionada. Quando 
cheguei ao pavilhão central, juntamente com a professora, as crianças 
pegaram na minha mão até chegarmos à sala de aula. Eu já sabia o 
nome da maioria delas e elas o meu. Nesse dia havia 15 alunos e um 
novo colega chegava na classe. A professora apresentou-o aos demais 
e esclareceu como as coisas funcionavam para que ele fosse se 
habituando ao novo ambiente e os novos colegas. Em roda, a 
professora e os alunos cantaram várias músicas fazendo gestos 
(Relatório 6, p.9, linhas 159-172). 
 
Por outro lado, quando o registro é efetuado somente de forma 
reflexiva, sem o acréscimo da descrição do que realmente aconteceu durante a 
observação, perde-se, total ou parcialmente, a informação do fato ocorrido. 
Veja o exemplo: 
 
Em primeiro lugar observei o aspecto da liderança. Apesar da turma 
(25 alunos) estar extremamente barulhenta, em apenas alguns minutos 
a professora conseguiu fazer com que se concentrassem (Relatório 2, 
p.19, linhas 472-476). 
 
É descrita pela estudante uma reflexão da atuação da professora em 
sala de aula com os alunos, mas nela não contém a descrição de como a 
professora, nesse caso, estabeleceu a relação de liderança na turma. Para a 
estagiária o fato ocorrido pode estar claro, mas para o professor orientador e 
outros que forem analisar tal relato, faltam dados para que se tenha uma maior 
clareza de como a professora da classe manteve essa relação de liderança 
com os alunos. Este é apenas um exemplo de como as descrições, ainda que 
contenham comentários do observador, devem ser mais completas e 
detalhadas. 
 
Espaços da escola observados e descritos pelos estagiários 
 Espaço físico 
A observação da estrutura interna e externa da escola realizada pelos 
estagiários é descrita por uns de forma mais breve dando um panorama geral 
do ambiente físico escolar enquanto outros adicionam mais detalhes a respeito 
das condiçõesdo local (higiene e organização) e características estruturais 
como disposição das salas de aula, refeitório, biblioteca, entre outros espaços. 
Seguem abaixo três exemplos: 
 
A condição física da escola não é das melhores. Há uma sala de vídeo, 
sala de música, sala de artes, sala dos professores, pequena 
biblioteca, banheiros velhos e com cheiro muito desagradável, salas 
com muita sujeira no chão, etc. Há um estacionamento em frente ao 
colégio, mas somente para professores (Relatório 1, p.8, linhas 100-
107). 
 
Fui até a escola para conhecer a professora e a própria escola. 
Cheguei meia hora mais cedo para observar o lugar. Há uma da tarde 
não há muitos alunos na escola. Ao chegar me surpreendi com um 
pequeno jardim na frente do prédio e alguns alunos estavam brincando 
entre as pequenas arvores (Relatório 2, p.18, linhas 389-396). 
 
Cheguei ao Colégio quinze minutos antes do sinal bater e dei uma 
caminhada pelo espaço para observar o ambiente onde se realizará 
meu estágio. O colégio é simples, nenhum luxo, mas relativamente 
limpo e organizado no que diz respeito ao espaço e distribuição dos 
ambientes. Possui um grande espaço coberto no térreo e um grande 
pátio central ao redor do qual as salas e a administração se 
desenvolvem. Além das salas de aula, possui uma biblioteca, sala de 
vídeo, sala de artes e sala de música (Relatório 2, p.19-20, linhas 489-
502). 
 
O espaço mais observado, sem dúvida, é a sala de artes ou de música, 
local da escola onde o estagiário passa a maior parte do tempo. Podemos 
constatar através de um trecho extraído de um relatório as características 
observadas pelo estagiário quando teve o primeiro contato com a sala de aula: 
(...) aproveitei a oportunidade para conhecer a sala de aula de música, 
bem como a salas de vídeo e de artes, onde provavelmente irei 
ministrar as minhas aulas. Constatei que a sala de música não é uma 
sala específica e adequada para o ensino da arte-musical, com teto 
muito alto e sem tratamento acústico, o que gera uma enorme 
reverberação, sem falar que a sala é contígua a outras séries, o que 
certamente vai gerar reclamações (Relatório 2, p.22, linhas 631-641). 
 
 Durante a aula o quê o estagiário observa? 
O estagiário durante todo o processo de observação relata diversas 
situações relacionadas aos acontecimentos da sala como: o comportamento 
dos alunos, as atitudes do professor em relação aos alunos – disciplina, as 
atividades propostas pelo professor, o que os alunos fazem durante a aula 
(desenham, conversão, brincam), a professora da classe, suas características 
pessoais, bem como as características pessoais dos alunos. 
Nos seis relatórios de estágio, objetos deste trabalho, constatou-se que 
o foco principal da observação é o aluno. Há uma grande preocupação do 
estudante em formação docente em observar a interação do aluno em sala de 
aula. A seguir alguns trechos retirados dos relatórios que mostram as diversas 
situações. 
 
Sobre o comportamento dos alunos: 
Uma menina chorou na sala porque alguém pegou a cola dela. Outro 
menino quebrou uma régua na cabeça do colega. Outros dois estavam 
se batendo no chão (Relatório 2, p.24, linhas 726-729). 
 
Sobre as atitudes do professor em relação aos alunos: 
Neste segundo contato com a escola fui conhecer e observar um pouco 
mais o trabalho da professora. A professora que é muita educada e 
segura tem todos os alunos da turma como grandes aliados. Ela nunca 
berra com eles e quando algum grupinho conversa um pouco mais e de 
maneira alvoroçada ela chama atenção de maneira firme, mas sempre 
educada, pedindo a colaboração de todos para que a aula possa 
continuar (Relatório 3, p.15, linhas 530-540). 
 
Sobre as atividades propostas pelo professor: 
Hoje a atividade foi ao ar livre. A professora fez uma roda com a turma 
para cantar o ‘Atirei o pau no gato’. No miau todos sentaram e ela pode 
explicar a atividade (Relatório 4, p.21, linhas 730-734). 
 
São inúmeros os exemplos que se podem extrair da riqueza de cada 
um dos relatórios cedidos para este estudo, entretanto, o objetivo é apenas 
refletir sobre o período de observação, exemplificando, através de textos 
escritos o que acontece durante esse momento e como a atividade de 
observação pode ser uma técnica eficiente de aprendizagem. 
 
Considerações finais 
As observações sistemáticas, determinadas por processos, métodos e 
instrumentos, bem como fundamentadas em critérios de registros e técnicas de 
analise, têm substituído as observações espontâneas relacionadas à ‘aula-
modelo’ ou ao ‘bom-professor’, tão freqüentes em sistemas tradicionais de 
formação docente (Estrela, 1994). Assim, a observação pedagógica enquanto 
técnica deve ser utilizada de forma sistematizada a fim de possibilitar uma 
prática pedagógica mais reflexiva. 
A análise dos sete relatórios de estágio possibilitou constatar que a 
fase de observação proporciona que o estudante conheça as seguintes 
situações: (a) condições institucionais, como a organização do espaço escolar, 
número de alunos por turma, infra-estrutura, sistema escolar, programa 
curricular, normas pedagógicas, situação geográfica e sociológica da escola e 
gestão administrativa; e (b) condições pedagógicas e pessoais, como as 
relações afetivas entre os alunos, entre os professores e entre professores e 
alunos, as intervenções do professor em sala de aula, as reações dos alunos 
advindas de motivações cognitivas e sociais, a natureza da comunicação 
estabelecida entre professor e alunos durante a aula, e outros. 
O saber observar e interrogar a realidade contribui significativamente 
para a fase seguinte do estágio: a intervenção. Esse aspecto ficou claro 
através das palavras escritas dos licenciandos. O estudo dos relatórios 
proporcionou avaliar como a observação tem sido empregada para coletar 
dados e compreender o contexto educacional onde o estagiário está inserido. 
Concluí-se, assim, que se faz necessário repensar esta estratégia de ensino a 
fim de possibilitar, ao estudante em formação, uma maior coerência entre teoria 
e prática, compreensão dos comportamentos e reações dos alunos em sala de 
aula, identificação de problemas e possíveis soluções. Enfim, que seja possível 
tornar o estudante mais consciente de si próprio enquanto professor e das 
situações de ensino. 
 
Referências 
BURGESS, Robert G. A pesquisa de terreno: uma introdução. Oeiras: Celta, 
1997. Trad. Eduardo de Freitas e Maria Inês Mansinho. 
ESTRELA, Albano. Teoria e prática de observação de classes. Uma estratégia 
de formação de professores, Porto: Porto Editora, 1994. 
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 25ªed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 
2002. 
MARCONI, Mariana de Andrade. Técnicas de pesquisas: amostragens e 
técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 4ªed. São 
Paulo: Atlas, 1999. 
MORATO, Cintia Thais; GONCALVES, Lilia Neves. Observar a prática 
pedagógico-musical é mais do que ver! In: MATEIRO, Teresa; SOUZA, 
Jusamara (Orgs.): Práticas de ensinar música. Legislação, Planejamento, 
Observação, Espaços, Formação. Porto Alegre: Sulina, 2008, p.115-129. 
NEGRINE, Airton da Silva. Instrumentos de coleta de informações na pesquisa 
qualitativa. In: NETO, Vicente Molina; TRIVIÑOS, Augusto (Org.): A pesquisa 
qualitativa na Educação Física. Alternativas metodológicas. 2ª ed. Porto Alegre: 
UFRGS, 2004, p.61-93. 
POSTIC, Marcel. Observação e Formação de Professores. Coimbra: Livraria 
Almedina, 1990. 
YIN, Robert. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. 2ªed., Porto Alegre: 
Bookman, 2001. 
 
 Documentos: 
RELATÓRIOS DE ESTÁGIO. Material impresso. 
 
 
1 Projeto coordenado por Teresa Mateiro, com apoio do PROBIC - Programa 
de Bolsa de Iniciação Científica da Universidade do Estado de Santa Catarina 
(UDESC), Brasil. 
 
2 Neste texto optou-se por utilizar a expressão ‘estudante em formação 
docente’ e não‘professor em formação’ (Estrela, 1994) para licenciando em 
música.

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