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CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL
Constrangimento ilegal
Artigo 146 -	Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
Aumento de pena:	As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.
- Não se compreendem na disposição deste artigo:
I -	a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.
- Conceito e objetividade jurídica: protege a liberdade de autodeterminação. A disposição tem assento constitucional (CF, art. 5°, II). Trata-se de crime subsidiário (princípio da consunção), uma vez que constitui meio para outras infrações penais, como a dos art. 213, 158 e 161, II, do CP.
- Sujeitos do delito: Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime. Se for servidor público, pode cometer o crime do art. 350 ou abuso de autoridade. Quanto ao sujeito passivo, é necessário que tenha capacidade de autodeterminação.
- Possui três modos de execução: violência; grave ameaça; ou qualquer outro meio que reduza a capacidade de resistência da vítima.
- Elemento subjetivo: dolo (consciência de que a ação ou omissão visadas são ilegítimas).
- Consumação: no instante em que a vítima, coagida, toma o comportamento que não queira. Não confundir com o delito do art. 345 (exercício arbitrário das próprias razões). 
OBS: Constrangimento ilegal ≠ extorsão (art. 158)
 qualquer finalidade vantagem econômica
 (Protege a liberdade) (Protege o patrimônio)
 
- Figura típica de aumento: O art. 146, § 1° determina que as penas devem ser aplicadas cumulativamente e em dobro quando, para a execução do fato, se reúnem mais de três pessoas (mínimo 4) ou há o emprego de armas (gênero). Incide o aumento mesmo quando a arma não é empregada, mas seu porte é ostensivo, como o propósito de infundir medo no sujeito passivo. Diferencia-se da ameaça porque nesta o incutimento do medo é o fim em si mesmo. Se através do mal anunciado o objetivo é subjugar a vontade para alcançar outro fim, o crime é de constrangimento ilegal.
- Norma penal explicativa: De acordo com o art. 146, § 2°, além das penas cominadas ao autor do constrangimento ilegal, aplicam-se as correspondentes à violência. Significa que, se o sujeito pratica constrangimento ilegal ferindo a vítima, deve responder por dois crimes em concurso material: constrangimento ilegal e lesão corporal (as penas são somadas).
- Causas especiais de exclusão da tipicidade (antijuridicidade): São duas as hipóteses do art. 146, § 3°, I) intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento da paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida, que se trata de hipótese de estado de necessidade de terceiro; b) coação exercida para impedir suicídio que, como já visto, apesar do suicídio não ser crime, configura como ato ilícito, podendo ser impedido. Também é caso de estado de necessidade de terceiro. 
Ameaça
Artigo 147 -	Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
- Somente se procede mediante representação.
- Conceito e objetividade jurídica: Ameaça é o fato de o sujeito, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, prenunciar a outro a prática de um mal contra ele ou contra terceiro. A objetividade jurídica é a paz de espírito. A ameaça se diferencia do constrangimento ilegal, porque naquela o agente pretende somente atemorizar o sujeito passivo. O delito de ameaça é subsidiário com relação a vários outros crimes.
- Pode ser: direta (para a própria vítima), indireta (para terceiros), explícita ou implícita.
- Grave: se não for grave é atípico.
- Injusto: não acobertado pela lei. 
- O mal prometido deve ser futuro e injusto, bem como possível, de modo que não comete o crime, por exemplo, aquele que ameaçar alguém com uma abdução extraterrestre.
Trata-se de crime formal, a intenção do agente portanto é intimidar sua vítima, mas para consumar-se não é necessário que o sujeito passivo se sinta ameaçado, basta que o agente haja com uma verdade tamanha, capaz de realmente assustar a vítima.
- Sujeitos do delito: A ameaça não é crime próprio. Por isso, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. Quanto ao sujeito passivo, é necessário que tenha capacidade de entendimento (deve ser dotado de compreensão para interpretar o gesto ameaçador, assim, aquele que não tiver completo discernimento, não poderá ser sujeito passivo, por exemplo, o louco).
- Estão, via de regra, fora da tutela penal a pessoa jurídica, a criança e o louco. Constitui crime contra a segurança nacional ameaçar o presidente da República, do Senado, da Câmara dos Deputados e do STF (Lei 7.170/83, art. 28).
- A ameaça pode ser proferida diretamente ao sujeito passivo, através de terceira pessoa, por escrito.
- Elementos objetivos do tipo: O núcleo do tipo é o verbo ameaçar, que significa prenunciar. O crime consiste em o sujeito anunciar à vítima a prática de mal injusto e grave, consistente num dano físico, econômico ou moral. Se o mal é justo, como protestar um título, não há delito. O crime pode ocorrer mesmo se a ameaça for de um mal iminente. A ameaça não se confunde com a praga, com o esconjuro, como “vá pro inferno”.
- O STJ já se manifestou no sentido de que a ameaça de provir de ânimo calmo e refletido, pois o dolo específico é de infundir medo, não configurando o crime àquela proferida em momento de ira ou de nervosismo. 
- Também há o entendimento de que a ameaça proferida por pessoa em estado de embriagues não configura crime.
- Elemento subjetivo: dolo. Pressupõe que o agente não esteja tomado de raiva, pois a jurisprudência tem afastado o delito nesse caso. Deve ser séria, não pode ser em tom de brincadeira.
- Qualificação doutrinária: A ameaça é crime: a) formal, não é necessário que a vítima fique atemorizada, é suficiente que o comportamento tenha condições de amedrontar um homem prudente e de discernimento; b) subsidiário, pois integra o conceito legal de vários crimes, funcionando como elementar.
- Momento consumativo e tentativa: Consuma-se a ameaça no instante em que o sujeito passivo toma conhecimento do mal anunciado, independentemente de se sentir ameaçado ou não. A tentativa é, teoricamente, possível, quando se trata de ameaça realizada por meio escrito. Na prática, é de difícil ocorrência, já que se trata de crime cuja ação penal somente se procede mediante representação. Ora, se o sujeito exerce esse direito, é porque tomou conhecimento do mal prenunciado. 
- Ação Pública Condicionada a Representação (Juizado – Lei 9.099/95, cabe conciliação, transação e suspensão condicional do processo).
Seqüestro e cárcere privado
Artigo 148 -	Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
 
 § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
I - se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; 
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital;
III - se a privação da liberdade dura mais de 15 (quinze) dias.
IV - se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; 
V - se o crime é praticado com fins libidinosos. 
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
- Conceito e objetividade jurídica: Seqüestro e cárcere privado são meios de que se vale o sujeito para privar alguém, totalou parcialmente, de sua liberdade de locomoção. O legislador protege a liberdade de ir e vir.
- Sujeitos do delito: O seqüestro e cárcere privado não são crimes próprios. Assim, podem ser praticados por qualquer um. Tratando-se de ato de servidor público cometido no exercício da função o delito pode ser outro, como abuso de autoridade. Quanto ao sujeito passivo, incluem-se todas as pessoas, inclusive aquelas que não têm capacidade de conhecer ou de autodeterminar-se de acordo com esse conhecimento.
- Há divergência quanto àquele incapaz de locomover-se sozinho. Magalhães Noronha: “a liberdade de movimento não deixa de existir quando se exerce à custa de aparelhos ou com auxílio de outrem”. 
- Pode ser também crime contra a segurança nacional (inclusive aplicando-se o dispositivo referente à extraterritorialidade incondicionada – art. 7º, I ‘a’, do CP). 
- Bem jurídico disponível: O consentimento do ofendido exclui o crime, desde que tenha validade (causa justificante supralegal). Ex: retiro espiritual. Bitencourt: “contudo, tratando-se de bem jurídico tão elementar como é o direito de liberdade, convém destacar que o efeito excludente do consentimento da vítima não goza de absolutismo pleno, capaz de legitimar toda e qualquer supressão da liberdade do indivíduo. O consentimento não terá valor se violar princípios fundamentais do Direito Público”. 
- Elementos objetivos do tipo: O crime pode ser cometido mediante: 
a) seqüestro;
b) cárcere privado – b.1) detenção (ex: levar a vítima num automóvel e prendê-la num quarto); 
b.2) retenção (ex: impedir que a vítima saia de casa).
- Diferença entre SEQUESTO e CÁRCERE PRIVADO: No seqüestro a vítima tem maior liberdade de locomoção (vítima presa numa fazenda). Já no cárcere privado, a vítima vê-se submetida a uma privação de liberdade num recinto fechado, como por exemplo: dentro de um quarto ou armário.
- A diferença entre DENTENÇÃO E RETENÇÃO: Na detenção priva-se a vítima da liberdade, levando ela para algum lugar. Já na retenção impede-se a vítima de sair de um determinado lugar.
- Elemento subjetivo do tipo: O crime só é punido a título de dolo, consistente na vontade de privar a vítima de sua liberdade de locomoção. Havendo finalidade de atentar contra a segurança nacional, o fato passa a constituir delito especial.
- Consumação: com a efetiva restrição ou privação de locomoção por tempo juridicamente relevante (crime permanente). Se a privação de liberdade for momentânea, pode configurar o constrangimento ilegal. Admite-se a tentativa, quando há a prática de atos executórios, sem chegar à restrição de liberdade da vítima.
- Figuras típicas qualificadas: 
a) a vítima é ascendente, descendente ou cônjuge do agente; maior de 60 anos – não pode ser interpretado extensivamente; a relação de confiança justifica a maior censurabilidade; afasta as agravantes genéricas.
b) fato cometido mediante internação em casa de saúde ou hospital – a razão da maior punibilidade reside no emprego de meio fraudulento. Observe-se que na causa de aumento (§1º, II) relativo à internação da vítima, deve existir a vontade de sequestrar camuflando o seqüestro com a internação. A anunência ou participação de qualquer profissional do estabelecimento de saúde fará com que o mesmo responda pelo mesmo crime (concurso de pessoas). Aqui é necessário distinguir o dolo de sequestrar, da conduta relacionada aos Arts. 22 e 23 da Lei 3.688/41 (contravenções penais) relativo à contravenção conhecida como internação irregular.
c) a privação de liberdade dura mais de 15 dias – é irrelevante o tempo de duração da restrição de liberdade para configurar o delito, mas se ultrapassar o tempo de 15 dias, o crime passa a ser qualificado.
d) Se é praticado contra menor de 18 anos – considerar a idade da vítima na data da consumação (teoria da atividade – art. 4º).
e) Se o crime é praticado para fins libidinosos - Já no caso do fim libidinoso (previsto no § 1º, V) nunca é demais lembrar que abrange homem ou mulher, uma vez que o tipo “rapto” foi revogado pela lei 11.106/2005.
ATENÇÃO. O tipo diz respeito ao fim libidinoso. E esgota-se na finalidade. Contudo, se o agente praticar o ato sexual, responderá em concurso material de crimes: Sequesto + Estupro. Neste caso, aplicar-se o seqüestro do caput, sem o aumento de pena pelo fim libidinoso para que não incorra em bis idem.
- § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: 
 - Ação penal é pública incondicionada.
- OBS: concurso entre o crime de seqüestro e roubo: pode configurar:
1. Art. 157, § 2º, V;
2. Bitencourt: “se a privação da liberdade durar mais tempo do que o necessário para a subtração da coisa alheia ou da fuga, deixará de constituir simples majorante, para configurar crime autônomo, de seqüestro, em concurso material com o crime contra o patrimônio”. 
Redução à condição análoga à de escravo
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, além da pena correspondente à violência. (artigo com redação da Lei 10.803/03)
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: 
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: 
I – contra criança ou adolescente;
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. 
- Este dispositivo foi alterado pela Lei n.º 10.803/2003. Antes de tal alteração, o delito era de forma livre, pois não especificava o modo de reduzir a vítima a condição análoga a escravo. Atualmente, o crime é de forma vinculada, havendo a tipificação se ocorrer uma das hipóteses descritas.
- Crime de ação múltipla. A realização de mais de uma conduta em relação a mesma vítima constitui crime único.
- Consiste em submeter a vítima à total vontade do agente, como se escrava fosse, utilizando a fraude, a violência ou a ameaça (sem salário, moradia, etc.).
- Bem jurídico protegido e objeto material: Trata-se precipuamente da liberdade pessoal, entendida aqui como a liberdade individual, sob o aspecto ético-social da dignidade humana. Para Rogério Greco, quando a lei penal faz menção a condições degradantes de trabalho, podemos visualizar também como bens juridicamente protegidos a vida, a saúde, bem como a segurança do trabalhador, além da sua liberdade. Objeto material é a pessoa que é reduzida à condição análoga à de escravo, isto é, que é posta sob o domínio de outrem.
- Sujeitos ativo e passivo: O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Em regra, é o empregador e os seus prepostos. O sujeito passivo, por seu turno, também pode ser qualquer pessoa, inclusive o preso (ex: quando é submetido a trabalho forçado por outro preso). O consentimento da vítima é irrelevante para a configuração do crime que é permanente e progressivo absorve o seqüestro e consuma-se quando a vítima assume a situação de escravo. É possível a tentativa. 
- TIPICIDADE OBJETIVA:
A conduta típica consiste em reduzir alguém à condição análoga à de escravo. Reduzir significa subjugar, quer dizer, colocar um indivíduo sob o domínio de outrem, suprimindo completamente a sua liberdade pessoal. 
Trata-se de delito que representa o somatório dos crimes de constrangimento ilegal (fazer ou não fazer), ameaça (liberdade psicológica) e seqüestro (direito de ir, vir ou permanecer). Aqui, a vítima perde a sua identidade enquanto ser humano, passando a ser considerada coisa. 
Em suma, a nota característica deste delito reside na redução da vítima a um estado desubmissão física e psíquica, ensejando na completa anulação da sua personalidade.
Os meios de execução do delito, a partir da nova redação dada em 2003, hoje se encontram taxativamente especificados no próprio tipo penal, a saber:
a) submissão a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva;
b) sujeição a condições degradantes de trabalho;
c) restrição, por qualquer meio, de sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.
 
Faz-se necessário que o estado de submissão se prorrogue por certo lapso temporal de duração considerável. Logo, insuficiente a detenção passageira, que, em certas circunstâncias, poderia constituir sequestro ou constrangimento ilegal.
- Comum, doloso, comissivo, material, de forma livre e permanente.
- Consuma-se o delito quando a vítima é reduzida à condição análoga à de escravo por determinado período, mediante qualquer das condutas previstas no art. 149 do CP. Trata-se de crime permanente, cujo momento consumativo se protrai no tempo, por vontade do agente. É admissível a tentativa, desde que o agente tenha dado início à execução do crime e este não tenha se consumado por circunstâncias alheias à sua vontade. Ex: sujeito ativo é preso em flagrante quando transportava trabalhadores para a sua propriedade, onde iriam servi-lo por tempo indeterminado, sem poder retornar.
- FORMAS EQUIPARADAS (ART. 149, § 1º)
- CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (ART. 149, § 2º)
- Ação penal pública incondicionada.
Sexta-feira, Abril 03, 2009
- STJ: crime de redução à condição análoga de escravo é da Justiça Federal 
- O STJ entendeu que crime de redução do trabalhador à condição análoga de escravo é da competência da Justiça Federal, por se tratar de crime contra a organização do trabalho, quando praticado contra determinado grupo de t Precedentes citados do STF: RE 398.041-PA, DJ 19/12/2008; RE 508.717-PA, DJ 11/4/2007; RE 499.143-PA, DJ 1º/2/2007; do STJ: HC 26.832-TO, DJ 21/2/2005, e HC 18.242-RJ, DJ 25/6/2007. CC 95.707-TO, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 11/2/2009.
Cite-se jurisprudência:
PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ARTS. 149 E 203 DO CÓDIGO PENAL. CONFIGURAÇÃO DE INTERESSE ESPECÍFICO DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
O delito de redução à condição análoga de escravo consistente em subjugar alguém, ainda que praticado contra determinado grupo de trabalhadores se enquadra na categoria dos crimes contra a organização do trabalho de competência da Justiça Federal (art. 109, inciso VI, da CF). (Precedente desta Corte e Informativo n.º 378 do Pretório Excelso). Habeas corpus denegado. (HC 43.381⁄PA, Rel. Min. Felix Fischer, DJ 16.06.2005).
Quinta-feira, 04 de fevereiro de 2010 
STF analisa se cabe à Justiça Federal ou Estadual julgar crime de exploração de trabalho escravo 
O Supremo Tribunal Federal (STF) está discutindo se cabe à Justiça Federal ou à Justiça Estadual processar e julgar o crime de exploração de trabalho escravo. No artigo 149 do Código Penal, o delito é tipificado como redução à condição análoga à de escravo.
A jurisprudência da Corte é no sentido de que o crime deve ser julgado pela Justiça Federal, mas nesta quinta-feira (4), o ministro Cezar Peluso propôs que esse entendimento seja revisto no sentido de que o delito passe a ser julgado pela Justiça Estadual. Em novembro de 2006, ele defendeu esse mesmo ponto de vista no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 398041, sobre um caso de crime de exploração de trabalho escravo no Pará. Na ocasião, ficou vencido, junto com os ministros Marco Aurélio e Carlos Velloso, já aposentado.
Hoje, após o voto de Peluso, o ministro Dias Toffoli posicionou-se pela manutenção da jurisprudência. O julgamento foi suspenso pelo pedido de vista do ministro Joaquim Barbosa. Não há previsão de data para o processo voltar a ser analisado no Plenário.
CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO PENAL III
UNIDADE I – CRIMES CONTRA A PESSOA. 
1.6. Dos crimes contra a liberdade individual 
 Data:____/09/2013.
 Texto 07
O termo escravidão logo traz à tona a imagem do aprisionamento e da venda de africanos, forçados a trabalhar para seus proprietários nas lavouras ou nas casas. Essa foi a realidade do Brasil até o final do século 19, quando, por fim, a prática foi considerada ilegal pela Lei Áurea, de 13 de maio de 1888.
Mais de um século depois, �porém, o Brasil e o mundo não podem dizer que estão livres do trabalho escravo atualmente. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que existam pelo menos 12,3 milhões de pessoas submetidas a trabalho forçado em todo o mundo, e no mínimo 1,3 milhão na América Latina.
Estudos já identificaram 122 produtos fabricados com o uso de trabalho forçado ou infantil em 58 países diferentes. A OIT calculou em US$ 31,7 bilhões os lucros gerados pelo produto do trabalho escravo a cada ano, sendo que metade disso fica em países ricos, industrializados.
O Brasil, apesar de assinar convenções internacionais, só reconheceu em 1995 que brasileiros ainda eram submetidos a trabalho escravo. Mesmo com seguidas denúncias, foi preciso que o país fosse processado junto à Organização dos Estados Americanos (OEA) para que se aparelhasse para combater o problema.
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e responsável pelas primeiras denúncias de trabalho escravo no país, são escravizados a cada ano pelo menos 25 mil trabalhadores, muitos deles crianças ou adolescentes. Apesar dos esforços do governo e de organizações não governamentais, faltam estimativas mais precisas sobre o trabalho escravo atualmente, até por se tratar de uma atividade ilegal, criminosa.
Sem informações exatas, o poder público e a sociedade organizada ainda lutam para prevenir e erradicar essa prática. Pior que isso, o país enfrenta grandes dificuldades para punir os responsáveis pelo trabalho escravo.
Ainda assim, o Brasil avançou. O próprio reconhecimento e a conseqüente adoção de uma política pública e de ações do Estado para reprimir a ocorrência de trabalho escravo são apontados como exemplos pela OIT.
Foram libertados 40 mil trabalhadores brasileiros de trabalho degradante desde a criação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel e do Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado, ambos de 1995.
Em 2003, foi lançado o Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, e para o seu acompanhamento foi criada a Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), com a participação de instituições da sociedade civil pioneiras nas ações de combate ao trabalho escravo no país.
Em dezembro do mesmo ano, o Congresso aprovou uma alteração no Código Penal para melhor caracterizar o crime de “reduzir alguém a condição análoga à de escravo”, que passou a ser definido como aquele em que há submissão a trabalhos forçados, jornada exaustiva ou condições degradantes, e restrição de locomoção em razão de dívida contraída, a chamada servidão por dívida.
A iniciativa acompanhou a legislação internacional, que considera o trabalho escravo um crime que pode ser equiparado ao genocídio e julgado pelo Tribunal Penal Internacional.
� HYPERLINK "http://www.legjur.com/sumula/stj-superior-tribunal-de-justica-n-174/" \l "topo#topo" �Súmula 174/STJ�. Roubo. Arma de brinquedo. Aumento da pena. CP, art. 157, § 2º, I. (Cancelada no Rec. Esp. 213.054-SP, j. em 24/10/2001, pela 3ª Seção).
Entre os comportamentos delitivos que caracterizam a figura típica, cumpre mencionar aqueles apresentados na Carta de Belém, síntese do Seminário Internacional sobre “Trabalho Forçado – Realidade a ser combatida”, realizado em Belém do Pará, in verbis� HYPERLINK "http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11183&revista_caderno=3" \l "_edn35#_edn35" \o "" ��:
“a) utilização de trabalhadores, com intermediaçãode mão-de-obra dos chamados "gatos" e por cooperativas fraudulentas;
b) utilização de trabalhadores aliciados em outros municípios ou estados, pelos próprios tomadores de serviços ou por interposta pessoa, com promessas enganosas e não cumpridas;
c) servidão de trabalhadores por dívida, com cerceamento da liberdade de ir e vir e o uso de coação moral ou física, para mantê-los no trabalho;
d) submissão de trabalhadores a condições precárias de trabalho, pela falta ou inadequado fornecimento de alimentação sadia e farta e de água potável;
e) fornecimento aos trabalhadores de alojamentos sem condições de habitabilidade e á míngua de instalações sanitárias adequadas;
f) falta de fornecimento gratuito aos trabalhadores de instrumentos para prestação de serviços, equipamentos, de proteção individual e materiais de primeiros socorros;
g) não utilização de transporte seguro e adequado aos trabalhadores;
h) não-cumprimento da legislação trabalhista, desde o registro do contrato na CTPS, passando pela falta de cumprimento das normas de proteção à saúde e segurança dos trabalhadores, até a ausência de pagamento da remuneração a eles devidas;
i) coação, ou, no mínimo, indução de trabalhadores no sentido de que se utilizem de armazéns ou serviços mantidos pelos empregadores ou seus prepostos;
j) aliciamento de mão-de-obra feminina para fins de exploração sexual, tolhendo-lhes a liberdade de ir e vir.”
Prof.ª. Msc. Shelley Primo |�� PAGE \* MERGEFORMAT �8���

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