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Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará Campus Santarém Curso Técnico em Agropecuária Disciplina: Fitossanidade Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos Janeiro - 2010 Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 2 Índice Introdução ......................................................................................................... 3 Clorose Variegada dos Citros.......................................................................... 4 Declínio............................................................................................................... 11 Greening............................................................................................................. 14 Leprose............................................................................................................... 18 Gomose............................................................................................................... 22 Mancha de Alternária......................................................................................... 25 Bicho Furão........................................................................................................ 27 Cancro Cítrico.................................................................................................... 34 Cigarrinhas......................................................................................................... 44 Ácaro da Ferrugem............................................................................................ 52 Minador dos Citros............................................................................................ 55 Morte Súbita dos Citros.................................................................................... 59 Moscas das Frutas............................................................................................ 65 Mosca Negra dos Citros.................................................................................... 69 Ortézia................................................................................................................. 71 Pinta Preta.......................................................................................................... 75 Podridão Floral................................................................................................... 80 Rubelose............................................................................................................. 82 Tristeza............................................................................................................... 84 Verrugose........................................................................................................... 88 Melanose............................................................................................................. 91 Sorose................................................................................................................. 94 Xiloporose.......................................................................................................... 97 Mancha-Areolada............................................................................................... 98 Exocorte.............................................................................................................. 99 Tombamento de Mudas..................................................................................... 101 Antracnose......................................................................................................... 103 Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 3 Introdução A citricultura brasileira apresenta números expressivos que traduzem a grande importância econômica e social que a atividade tem para a economia do país. Alguns desses números são mostrados concisamente: a área plantada está ao redor de 1 milhão de hectares e a produção de frutas supera 19 milhões de toneladas, a maior no mundo há alguns anos. O país é o maior exportador de suco concentrado congelado de laranja cujo valor das exportações, juntamente com as de outros derivados, tem gerado cerca de 1,5 bilhão de dólares anuais. O setor citrícola brasileiro somente no Estado de São Paulo gera mais de 500 mil empregos diretos e indiretos. A citricultura paraense tem grande potencial para implementar seu crescimento sobretudo em função da ausência de doenças e pragas de grande importância que se encontram distribuídas no Sudeste, maior centro produtor. A região citrícola do Estado do Pará, que abrange os municípios de Irituia, Capitão Poço, Garrafão do Norte e Ourém, conta com uma área de 15 mil hectares de laranjeiras, o que corresponde a um total de 4 milhões de pés, que produzem anualmente 6 milhões de caixas de laranjas, ou seja, o equivalente a 240 mil toneladas. Absorve mão-de-obra em torno de 10.500 pessoas e movimenta um volume financeiro na ordem de R$ 30.000.000,00. O controle de pragas e doenças na citricultura representa um grande percentual no custo de produção. Como exemplo, citamos o ácaro de leprose, que na citricultura brasileira, o controle desta praga corresponde a 18% da produção, tendo sido gastos, em 1999, só no Estado de São Paulo, cerca de 210 milhões de reais, com a aquisição de acaricidas, mostrando que essa praga contribui em muito para o aumento dos custos de produção da cultura. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 4 Clorose Variegada dos Citros – CVC A clorose variegada dos citros (CVC), conhecida como amarelinho, é uma doença causada pela bactéria Xylella fastidiosa, que atinge todas as variedades de citros comerciais. Restrita ao xilema da planta, a bactéria provoca o entupimento dos vasos responsáveis por levar água e nutrientes da raiz para a copa da planta. A produção do pomar afetado cai rapidamente, os frutos ficam duros, pequenos e amadurecem precocemente. A perda de peso do fruto pode chegar a 75%. A bactéria é transmitida e disseminada nos pomares por insetos vetores. Como ainda não há uma forma específica de combate à Xylella fastidiosa, os citricultores devem implantar em seus pomares as estratégias de manejo da doença. Planta com sintomas de CVC Vasos do xilema obstruído por células de Xylella fastidiosa Células de Xylella fastidiosa Ocorrência A CVC foi identificada oficialmente no Brasil, em 1987, em pomares do Triângulo Mineiro e do Norte e Noroeste do Estado de São Paulo. Embora essas sejam as regiões mais afetadas até hoje, ela já está presente em quase todas as áreas citrícolas do país, com intensidades diferentes. Sintomas Os primeiros sintomas são vistos nas folhas, passam posteriormente para os frutos e acabam afetando toda a planta. Nas folhas - Os primeiros sintomas da clorose aparecem nas folhas maduras da copa. Em folhas novas, mesmo de plantas severamente afetadas, não há manifestação da doença. Surgem pequenas manchas amareladas, espalhadas na parte lisa da folha (frente) e que correspondem a lesões de cor palha nas Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 5 costas. Essas manchas evoluem para lesões de cor palha dos dois lados da folha. Com o avanço da CVC, observa-sea desfolha dos ramos mais altos da planta, locais mais atacados pelas cigarrinhas. Folhas com sintomas de CVC (pequenas manchas amareladas) Estágio mais avançado lesões de cor palha Desfolha dos ramos mais altos da planta Nos frutos - No início, pode-se observar poucos ramos com frutos pequenos. Em estágio avançado, toda a planta produz frutos miúdos. Quanto mais nova a planta infectada, mais rapidamente ela será totalmente afetada. Com o agravamento da doença, os frutos ficam queimados pelo sol, com tamanho reduzido, endurecidos e com maturação precoce. Nesse estágio, são imprestáveis para o comércio. Frutos sadios ao lado de frutos de tamanho reduzido devido à doença Sintomas de murcha em folhas e queimadura do sol em frutos Detalhe de murcha em folhas e queimadura do sol em frutos A identificação precoce ajuda na recuperação da planta e pode retardar a disseminação da CVC. Diferenças É comum o citricultor confundir os sintomas da CVC com deficiência de zinco ou sarampo. Esse engano pode retardar as práticas recomendadas pelos técnicos para eliminar o mais rápido possível a presença da bactéria na árvore. Veja a diferença entre as doenças: Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 6 Sarampo Deficiência de Zinco CVC Os pontos amarelos que identificam o sarampo são circulares, menores e distribuídos pela folha. Neste caso, as manchas são semelhantes às da CVC, mas a folha não apresenta lesões da cor palha na parte inferior. Pequenas manchas amareladas espalhadas na face superior da folha e que correspondem a lesões de cor palha face inferior da folha. Transmissão Onze espécies de cigarrinhas são comprovadamente capazes de transmitir a bactéria Xylella fastidiosa e, portanto, são responsáveis pela disseminação da CVC em todas as regiões citrícolas do país. Ao se alimentarem no xilema de árvores contaminadas, as cigarrinhas adquirem a bactéria e passam a transmiti- la para outras plantas sadias. Entre as medidas mais importantes de manejo da doença está o controle de cigarrinhas no pomar. O primeiro passo é saber reconhecê-las: Acrogonia citrina Oncometopia facialis Bucephalogonia xanthophis Dilobopterus costalimai Plesiommata corniculata Macugonalia leucomelas Sonesimia grossa Ferrariana trivittata Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 7 Acrogonia virescens Parathona gratiosa Homalodisca ignorata Estratégias de manejo O manejo da CVC exige cuidados e dedicação por parte do citricultor e está baseado em três estratégias: - Utilização de mudas sadias; - Poda de ramos com sintomas iniciais em plantas com mais de dois anos e erradicação de plantas abaixo dessa idade; - Controle do vetor - cigarrinhas Além dessas medidas, é importante manter os tratos culturais exigidos pelo pomar. Deve-se ressaltar que nenhuma das medidas de convivência poderá ter eficiência isoladamente. 1. Mudas sadias Para que o citricultor não corra o risco de levar a bactéria Xylella fastidiosa para a sua propriedade e nem perca a árvore antes que ela comece a produzir, o primeiro passo é adquirir mudas que estejam livres da doença. Verifique se o viveiro adota todas as medidas de segurança que garantem a produção de mudas sadias. Elas devem ser compradas em viveiros certificados, que respeitam uma série de regras sanitárias estabelecidas pela Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo. O citricultor precisa dobrar a vigilância na época da colheita, quando aumenta o trânsito de equipamentos, veículos e frutos por todo o estado. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 8 2. Poda Essa é uma das mais importantes medidas de controle da CVC. A poda e, em alguns casos a erradicação, evita a proliferação da bactéria na planta e elimina as fontes de inóculo, nas quais as cigarrinhas poderiam adquirir a bactéria e posteriormente transmiti-la. Poda de ramos doentes em plantas com mais de 2 anos O sucesso da poda ocorre principalmente nos sintomas iniciais da doença. Os melhores resultados são obtidos em pomares com poucas árvores contaminadas. Árvores com sintomas severos apresentam a bactéria distribuída pela planta, chegando até o tronco. Nesses casos, a poda não é eficaz e deve-se fazer a erradicação da planta. Passos da poda: -Inspeção Inspecione o pomar para identificar ramos com sintomas de CVC, que precisam ser podados. Quanto mais cedo os sintomas forem identificados, mais eficiente será a poda. As inspeções devem ser feitas entre janeiro e julho, por ser a época em que os sintomas estão mais evidentes. -Identificação Para facilitar o trabalho, o galho com sintoma pode ser identificado com uma marca. Na foto abaixo, o citricultor usou uma fita. O galho deve ser eliminado o mais rápido possível ou de preferência durante a inspeção. -Poda Depois de feita a inspeção e identificados os galhos com sintomas, deve-se iniciar a poda. Para que seja eficiente, o corte deve ser feito em uma forquilha, distante mais de 70 cm dos sintomas. -Proteção Nos locais que foram serrados durante a poda, faça a aplicação da pasta cúprica. Trata-se de uma proteção contra doenças causadas por fungos e bactérias. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 9 Inspeção Identificação Poda Proteção Sintoma inicial de CVC Perda de turgidez Uso de algum tipo de marca, como, por exemplo, uma fita Corte deve ser feito em uma forquilha a cerca de 70 cm dos sintomas Aplicação da pasta cúprica nos locais que foram serrados durante a poda. Recomendações: -Em plantas acima de seis anos, com sintomas iniciais de frutos miúdos, a poda deve ser feita na "forquilha" do galho contaminado. Por precaução, as serras são desinfestadas com bactericida (amônia quaternária). -Plantas abaixo de dois anos, com sintomas, devem ser erradicadas e substituídas por mudas sadias. 3. Monitoramento e controle de cigarrinhas Em anos chuvosos as cigarrinhas aparecem na primavera e, em anos secos, surgem mais tarde, no verão. No meio do ano, quando se inicia a seca, elas começam a sumir dos pomares. -Monitoramento Existem vários métodos de amostragem da população de cigarrinhas, entre eles: armadilha adesiva amarela, observação visual e por rede entomológica (puçá). Em qualquer dos casos é necessário treinamento para identificar as cigarrinhas que transmitem a doença. O número de plantas inspecionadas deve corresponder a 1% ou 2% do pomar, em locais bem definidos. Escolha plantas que apresentam vegetação intensa, que são as preferidas pelas cigarrinhas. Armadilha adesiva amarela Armadilha com cigarrinhas capturadas Puçá -Controle químico Deve ser feito quando for constatado 10% das plantas de um talhão com Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 10 cigarrinhas, independente da espécie. Faça o controle até as plantas atingirem 6 anos. É aconselhado monitoramentos e pulverizações periódicas em talhões mais velhos, que estão próximosa talhões novos. A mesma recomendação vale para locais próximos a matas naturais e baixadas. Em plantas com até três anos de idade, pode-se aplicar inseticidas sistêmicos no início e final do período das águas, com aplicações de inseticidas de contato durante a seca. Caso se opte pela utilização somente de inseticidas de contato no controle do vetor, é recomendado a aplicação mensal do período das águas e, a cada dois meses, durante a seca. Se os pomares forem mais velhos, a recomendação dos técnicos para o combate é basear as aplicações de acordo com a população de cigarrinhas. As pulverizações devem ser criteriosas. O uso indiscriminado de produtos químicos elimina os inimigos naturais que, sozinhos, são responsáveis pelo controle de 40% da população de cigarrinhas e podem causar surtos de pragas secundárias. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 11 Declínio O declínio não tem causa (etiologia) conhecida. É semelhante ao "citrus blight", "young tree decline" e "sand hill decline" descritos nos Estados Unidos desde de 1891 (Flórida, Texas, Louisiana e Havaí), ao "declinamiento" na Argentina, ao "marchitamiento repentino" no Uruguai e ao "sudden decline" na Venezuela. A estimativa é que a doença afete 5% das plantas do parque citrícola por ano. Sintomas de declínio Ocorrência O primeiro caso da doença foi constatado em 1970, na Bahia. No Estado de São Paulo, o declínio apareceu em 1977 e, posteriormente, foi verificado em outros estados brasileiros. Sintomas O primeiro sintoma é murcha parcial ou total das folhas, causada pela incapacidade do xilema na condução de água. A absorção e transporte de água nas plantas com declínio são reduzidos ou quase nulos em relação aos de uma planta sadia. As folhas apresentam coloração verde opaca, sem brilho e com uma leve torção. Em plantas com declínio, se verifica ainda: - Aparecimento de deficiência de zinco nas folhas e excesso nos vasos lenhosos; - Brotação de primavera retardada; - Florada atrasada com produção reduzida; - Queda de folhas em estágio mais avançado; - Brotação interna na copa; - Frutos miúdos e sem brilho, impróprios para o comércio; - A evolução da doença provoca a morte de radicelas Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 12 Frutos miúdos e folhas murchas Brotações internas Desfolha Raramente ocorre a morte das árvores, podendo o estágio final da doença variar de meses a dois anos. Os sintomas só foram verificados em árvores a partir de quatro anos de idade. Daí por diante, pode manifestar-se em árvores de qualquer idade. A maior incidência é entre 8 a 12 anos. Diagnóstico Além da observação dos sintomas, o diagnóstico de uma planta com declínio também pode ser feito pelo teste da seringa. Aplicação do teste da seringa O método é utilizado para se determinar a velocidade de absorção de água pelo tronco injetando-se água por pressão. Nas plantas sadias normalmente se consegue injetar 10 ml de água em 30 segundos num furo de 1/8 de polegada de diâmetro no tronco com uma seringa plástica sem a agulha. Nas plantas doentes, esta absorção é muito reduzida ou nula. Controle A subenxertia com porta-enxertos tolerantes não têm mostrado resultados satisfatórios, por isso, recomenda-se a erradicação da planta doente e sua substituição por outra com porta-enxerto mais tolerante e que atenda às condições de clima e solo da propriedade. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 13 Variedades de porta-enxerto tolerantes e intolerantes Copas Porta-enxertos Intolerantes à doença Tolerantes à doença Laranja Doce Pomelo Limão Cravo Tangerinas Sunki e Cleópatra Limão Rugoso Laranjas azeda e doce Caipira Limão Volkameriano Citrumelo Swingle Poncirus trifoliata e alguns de seus híbridos Tangelo Orlando Citrange Carrizo Limas Limões verdadeiros Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 14 Greening Também chamado de huanglongbing (HBL), o greening, é uma doença de difícil controle. Provavelmente é originário da China, e hoje afeta seriamente a produção de citros na Ásia e na África. O agente causal é uma bactéria com crescimento limitado ao floema (vasos que distribuem a seiva elaborada), chamada provisoriamente Candidatus Liberibacter spp. Antes da constatação no Brasil, existiam duas formas de bactérias causadoras do greening: Candidatus Liberibacter africanus, associado à forma africana da doença, e Candidatus Liberibacter asiaticus associada à forma asiática. Propõe-se que a nova forma de greening seja chamada de forma americana e seja atribuída à bactéria Candidatus Liberibacter americanus. A transmissão das formas africana e asiática ocorre por vetores, que são duas espécies de psilídeos: Trioza erytreae, que ocorre na África; e Diaphorina citri, que é encontrada na Ásia, África e também nas Américas. Não existe nenhuma variedade de copa ou porta-enxerto resistente à doença. Histórico A primeira observação do greening nos pomares brasileiros foi em março de 2004, quando alguns citricultores relataram ao Fundecitrus a manifestação de sintomas por eles desconhecidos, em várias plantas de pomares em municípios diferentes. Um grupo de pesquisadores brasileiros e franceses iniciou os estudos para a identificação da doença. Agente causal As pesquisas apontam que existem duas formas de greening nos pomares paulistas. A conclusão é baseada nos resultados dos testes realizados pelo Centro APTA Citros "Sylvio Moreira" do IAC, e pelo Fundecitrus, em colaboração com o INRA, da França. As instituições detectaram bactérias distintas nas amostras. Os pesquisadores do Fundecitrus e do INRA descobriram nas plantas doentes uma bactéria diferente das causadoras das formas asiática e africana do greening, mas que tem mais de 93% de similaridade com essas duas formas conhecidas. A nova bactéria foi batizada de Candidatus Liberibacter americanus. Já o Centro APTA Citros "Sylvio Moreira" constatou em plantas doentes a Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 15 presença da bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus, agente causal da forma asiática do greening. Reforçando os resultados, a Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq/USP) detectou dentro do floema de planta doentes bactérias sem forma definida, característica das bactérias do grupo das causadoras do greening. Resultados: A Esalq detectou bactérias sem forma definida dentro do floema de plantas doentes, características das bactérias do grupo das causadoras do greening. Foto: Elliot W. Kitajima Foto: Francisco A. O. Tanaka Sintomas Ramos e folhas O sintoma inicial geralmente aparece em um ramo ou galho, que se destaca pela cor amarela em contraste com a coloração verde das folhas dos ramos não afetados. As folhas apresentam coloração amarela pálida, com áreas de cor verde, formando manchas irregulares (mosqueadas). Também é comum a ocorrência de sintomas semelhantes a deficiência de zinco, cálcio e nitrogênio nas folhasdos ramos afetados. Em alguns casos observa-se o engrossamento e clareamento das nervuras da folha, que ficam com aspecto corticoso. Com a evolução da doença, há intensa desfolha dos ramos afetados e os sintomas começam a aparecer em outros ramos da planta, tomando toda a copa, inclusive com o surgimento de seca e morte de ponteiros. O sintoma inicial é um ramo amarelo que se destaca na planta doente. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 16 As folhas de ramos afetados ficam amareladas e apresentam manchas. Frutos O fruto fica deformado e assimétrico. Cortando-se um fruto afetado no sentido longitudinal, é possível verificar internamente filetes alaranjados que partem da região de inserção com o pedúnculo (haste que segura o fruto). A parte branca da casca, em alguns casos, apresenta uma espessura maior que o normal. Também ocorre redução no tamanho dos frutos e intensa queda. É comum a ocorrência de sementes abordadas. O fruto pode apresentar internamente diferença de maturação nas diferentes partes, ou seja, ter um dos lados maduro (amarelo) e o outro ainda verde. Na casca podem aparecer pequenas manchas circulares verde-claras que contrastam com o verde normal do fruto. Frutos ficam assimétrico e na inserção com o pedúnculo surgem filetes alaranjados. Na casca, há manchas circulares verde-claras. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 17 Transmissão Os pesquisadores acreditam que no Estado de São Paulo a doença seja transmitida por um vetor Diaphorina citri, um pequeno inseto que mede de 3 a 4 mm e que é comum nos pomares brasileiro e na planta ornamental conhecida como falsa murta (Murraya paniculata). Diaphorina citri A hipótese é baseada no que ocorre com o greening nos países asiáticos, região em que a doença é transmitida pelo mesmo inseto. A transmissão pode ocorrer por borbulhas contaminadas. Mudas contaminadas também dissemina a doença. Controle As pesquisas ainda estão no início, mas já é possível fazer algumas recomendações de controle, embora não se saiba como será o comportamento da nova doença no Brasil. As recomendações são baseadas nas duas formas de greening - asiática e africana - conhecidas em outros países. As indicações se baseiam em três medidas de controle: - O primeiro passo é adquirir mudas sadias, produzidas em viveiros protegidos, que seguem a legislação fitossanitária; - Eliminar as plantas doentes assim que apresentem os primeiros sintomas, para que não sirvam de fonte de contaminação para outras plantas da mesma propriedade e dos vizinhos; - Fazer o controle químico do vetor com a aplicação de inseticidas. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 18 Leprose É uma das principais doenças da citricultura e atinge, principalmente, laranjeiras doces. Provocada por um vírus transmitido pelo ácaro Brevipalpus phoenicis, a leprose pode causar perdas de produção e redução da vida útil da árvore debilitada. Os gastos com acaricidas têm sido o principal fator de custo de um pomar em produção. A leprose dos citros pode ocorrer em qualquer época do ano, mas a sua propagação é mais freqüente em períodos de seca, entre abril e setembro, época em que a população do ácaro também é maior. Sintomas da Leprose Ocorrência A leprose dos citros atinge regiões tropicais. Tem casos relatados na América do Sul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Venezuela) e, mais recentemente, na América Central (Panamá e Costa Rica). No Brasil, foi identificada pela primeira vez em 1933, no Estado de São Paulo, onde ocorre de forma endêmica em todas as áreas do planalto paulista, principalmente nas regiões Norte e Noroeste. Também já foi descrita em quase todos os Estados que produzem citros. Sintomas O vírus induz sintomas nas folhas, ramos e frutos. As folhas apresentam lesões arredondadas e lisas, tanto na face superior como na face inferior. A coloração varia de verde-pálida a marrom no centro e em volta há um halo amarelo. Em grande quantidade, provoca a queda prematura das folhas. Em ramos novos, as lesões são amareladas. Com o tempo assumem a cor Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 19 marrom avermelhada, se tornam escamadas e adquirem uma casca grossa, podendo ser confundida com lesões de cancro cítrico ou sorose. Quando em grande número, ocasiona a seca dos ramos e morte dos ponteiros. Nas folhas, as lesões são rasas em ambas as faces Sintomas em ramos Sintomas na casca dos ramos Em frutos, as lesões são distribuídas de forma irregular na superfície. Nos frutos verdes observa-se um halo amarelo em torno da lesão. À medida que o fruto amadurece, as lesões vão se tornando escuras e profundas. Ataques intensos provocam a queda dos frutos. Sintomas em frutos Sintomas em frutos maduros Queda de frutos devido à Leprose Ácaro Brevipalpus phoenicis O ácaro da leprose é achatado, apresenta quatro pares de pernas e tem coloração avermelhada com manchas escuras no dorso. Uma vez infectado é capaz de transmitir o vírus por toda sua vida. Larvas, ninfas e adultos do ácaro são igualmente capazes da transmissão. O ácaro da leprose apresenta inúmeras plantas hospedeiras, entre plantas daninhas e cercas vivas em pomares cítricos, que favorecem sua multiplicação e disseminação. Detalhe de lesão em fruto Ácaro da Leprose Ácaro, ovos e ninfas Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 20 Suscetibilidade O ácaro da leprose infesta os pomares durante todo o ano. A população da praga começa a aumentar a partir de março, que corresponde ao início da seca e crescimento dos frutos. A partir de julho, as populações são altas, com pico em setembro e outubro, diminuindo com as chuvas de verão e com a colheita dos frutos. Longos períodos de seca aumentam a população da praga e a disseminação da doença. Suscetibilidade à Leprose dos Citros Condição Variedades de citros Suscetíveis à doença Laranjeiras doces Raramente apresentam lesões e quando isso ocorre são menos acentuadas Laranja Azeda Lima da Pérsia Limões Galego e Siciliano Tangerinas e tangores Controle O progresso da doença no pomar está diretamente relacionado à presença de plantas com sintomas e ao número de ácaros. Portanto, as medidas de controle são para remover ou diminuir as fontes dos vírus na planta e reduzir a população de ácaros. Medidas de controle: - Aquisição de mudas sadias livres de ácaros e de vírus; - Retirada de frutos temporões, caídos e com sintomas; Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 21 - No inverno, deve ser feita a poda de limpeza dos ramos afetados; - Utilização de quebra-ventos para reduzir a disseminação do ácaro; - Colheita antecipada e retirada de todos os frutos da planta na ocasião da colheita, não deixando frutos remanescentes. É a parte preferida para a multiplicação do ácaro, quanto mais tempo os frutos forem mantidos na planta, maior será sua multiplicação; - Retirada de todos os frutos da planta na ocasião da colheita. Éa parte preferida para a multiplicação do ácaro, quanto mais tempo os frutos forem mantidos na planta, maior será sua multiplicação; - Controle da verrugose e do ataque do minador do citros, uma vez que as lesões servem de abrigo ao ácaro; - Controle de plantas daninhas hospedeiras do ácaro; - A inspeção do ácaro no pomar deve ser feita a cada 7 ou 15 dias, em pelo menos 1% das plantas de cada talhão; - Pulverização do pomar com acaricida. O uso de acaricidas é indicado quando 5% a 10% dos frutos ou ramos examinados apresentam um ou mais ácaros. No período de um ano, deve se evitar o uso de um mesmo princípio ativo e classe química nas pulverizações, para que não haja seleção de ácaros resistentes ao acaricida empregado. A pulverização deve ser feita de modo a obter uma boa cobertura da planta; - A erradicação é necessária quando as lesões atingem toda a planta. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 22 Gomose Com base em critérios fenotípicos e genotípicos, o gênero Phytophthora foi reclassificado e está atualmente presente no reino Straminipila, deixando de ser considerado fungo. Das várias manifestações de doença que o gênero Phytophthora pode causar, a podridão do pé, na base do tronco, e as podridões de raízes e radicelas são as mais comuns, principalmente em pomares novos, devido à utilização de mudas contaminadas. O patógeno também pode causar doença em sementes, sementeiras, folhas, brotos novos e frutos. As espécies comuns a essa doença são, principalmente, Phytophthora nicotianae e Phytophthora citrophthora. Sintoma de Gomose na base do tronco de laranjeira Sintomas O sintoma característico da doença - mas não exclusivo - é a exsudação de goma em lesões de tronco e colo em porta-enxertos suscetíveis. A exsudação também pode ocorrer na região do tronco acima do ponto de enxertia, quando a copa é de variedade suscetível. As lesões de tronco, que produzem goma, são mais freqüentes em plantas muito enterradas, ou quando o tronco é ferido durante a realização de tratos culturais. Raramente, em nossas condições, as lesões ocorrem em ramos. Em troncos e ramos, os tecidos infectados da casca permanecem firmes até secarem completamente, quando começam a apresentar rachaduras e fendas longitudinais. A morte do tecido pelas lesões, pode levar ao anelamento na região do tronco ou das raízes principais, impedindo o fluxo da seiva elaborada para o sistema radicular. A conseqüência é o aparecimento dos sintomas reflexos na copa. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 23 Sintoma de Gomose - exsudação de goma na base do tronco Morte do sistema radicular Reflexos foliares devidos à presença de Gomose no tronco ou raízes Os sintomas nas folhas caracterizam-se pela descoloração de nervuras e amarelecimento do limbo, levando a murcha, seca e queda. Os florescimentos e frutificações tornam-se freqüentes e fora da época normal (extemporâneos). Os frutos produzidos ficam pequenos, de casca fina e maturação precoce. Também há seca e morte progressiva de ramos ponteiros ("die-back"). Há correspondência entre a face da copa onde esses sintomas se manifestam e a face do tronco ou das raízes onde as lesões ocorrem. A deterioração progressiva da copa, desfolhas e seca de ramos, podem levar a planta à morte. Os sintomas da copa ocorrem do mesmo lado das lesões no tronco Morte da planta em que a lesão atingiu toda a circunferência do tronco. Morte da planta - detalhe Controle Para se obter o controle da doença é fundamental que sejam adotadas algumas medidas: Preventivas - O uso de porta-enxertos resistentes constitui-se na medida mais importante de controle das várias doenças provocadas por Phytophthora em citros, principalmente a podridão do pé e as podridões de raízes e radicelas. As principais espécies e variedades de citros foram separadas em cinco classes de comportamento, em função de sua suscetibilidade às infecções de tronco por Phytophthora nicotianae e Phytophthora citrophthora: Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 24 Suscetibilidade Variedades de citros Muito alta Limões verdadeiros Alta Laranjas doces, limas ácidas, limões rugosos e pomelos Moderada Tangerinas Sunki e Cleópatra; limão Cravo; tangelo Orlando; limão Volkameriano, citranges Troyer e Carrizo Baixa Macrophylla e laranja azeda Muito baixa Citrumelo Swingle e trifoliata Nem sempre existe uma boa correlação entre a resistência de uma variedade à infecção de tronco, e sua tolerância às podridões de raízes. A laranja azeda e o citrange Carrizo são bons exemplos de porta-enxertos que não apresentam essa correspondência. Eles são tidos como moderadamente resistentes às infecções de tronco, mas são intolerantes às podridões de raízes e radicelas. - Seleção de áreas para plantio. Evite solos rasos, mal drenados e áreas sujeitas a encharcamento ou com problemas sérios de erosão; adoção de práticas de conservação de solo em terrenos em declive, para evitar o arraste de propágulos do patógeno, o acúmulo de terra e detritos junto ao colo das plantas e o encharcamento do solo nas baixadas; - Utilização dos adubos orgânicos no pomar, para favorecer a microflora de solo antâgonica a Phytophthora; - Utilização de mudas livres de Phytophthora e enxertadas a 15 ou mais centímetros acima do nível do solo; - Plantio alto, de modo que as raízes principais fiquem no nível do solo; - Evitar ferimentos de tronco e raízes principais; - Evitar a utilização de grades, sulcadores, subsoladores e outros equipamentos pesados no pomar adulto; - Em pomares irrigados por microaspersores, evitar que o jato d'água atinja a base do tronco das plantas. Curativas - Descalçar a planta, retirando toda a terra próxima ao tronco, para expor as raízes; - Remover as plantas severamente afetadas do pomar e preparar as covas para o plantio; - Uso de controle químico com produtos sistêmicos que apresentem comprovada eficácia no controle preventivo e curativo da doença. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 25 Mancha de Alternária A mancha de alternária é uma nova doença que afeta algumas tangerinas e seus híbridos: tangores e tangelos. É causada pelo fungo Alternaria alternata f. sp. citri, que produz uma toxina específica para algumas tangerinas e seus híbridos, não afetando laranjas doces, limões e limas ácidas. A doença pode causar desfolha, seca de ramos e queda de frutos. Os frutos com sintomas perdem o valor comercial. Sintomas em fruto Ocorrência A mancha de alternária foi constatada em 2001 no Estado do Rio de Janeiro e em 2003 no Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Variedades em que a doença já foi constatada: Tangerinas De Wildt Ponkan Sunburst Empress África do Sul Cravo Rose Haugh Nartjee Nova Tangor Ortanique Murcott Murcott irradiada Clementinas Clemenules Caçula 3 Híbridos Szuwinkon Sul da África Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 26 Sintomas O fungo causa lesõesem folhas novas, frutos e ramos. As folhas são suscetíveis até tornarem-se maduras (verde escuro). Os sintomas são observados 48 horas após a infecção, formando pequenas manchas escuras, rodeadas por um halo amarelado. Podem se expandir, ocupando grandes áreas da superfície foliar e atingir as nervuras. Nos ramos, os sintomas são semelhantes aos observados em folhas, com lesões de 1 a 10 mm de diâmetro. Folhas com sintomas de Alternária Sintomas em ramos Seca de ponteiro Os frutos são suscetíveis até quatro meses após a florada. As lesões são pequenas manchas necróticas escuras, que podem variar de tamanho, conforme a idade do fruto. Em alguns casos, podem ser observadas lesões com centro corticoso e saliente. Sintomas de Alternária no fruto Sintomas de Alternária no fruto Detalhe da lesão de Alternária Prevenção Para um controle adequado desta doença, há necessidade de se adotar estratégias de manejo do pomar e tratamentos com fungicidas. Como medidas de prevenção, o produtor deve: - Evitar adubação nitrogenada pesada e excesso de irrigação, pois a planta vegeta mais e forma tecidos suscetíveis ao fungo; - Fazer podas no inverno, para retirar tecidos doentes e melhorar a aeração da Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 27 planta. Bicho Furão O Bicho furão - Ecdytolopha aurantiana - é uma mariposa que deposita ovos em frutos, provando o seu apodrecimento e queda. Quando a infestação é precoce, os frutos verdes também podem ser atacados. A praga ganhou o nome de bicho furão porque na sua fase de lagarta fura o fruto, penetra e ali se desenvolve, só saindo para se transformar em pupa, na qual emerge o adulto, a pequena mariposa de coloração negra. Fruto atacado pelo bicho furão Ocorrência Foi descrito pela primeira vez no Brasil em 1915. Ocorre na maioria dos Estados produtores de citros do Brasil. Ciclo de vida Dura de 32 a 60 dias e é mais rápido em regiões quentes; uma temperatura média de 30oC é a ideal para seu desenvolvimento. O inseto ataca os pomares mais intensamente entre os meses de novembro e março. 1 - A fêmea da mariposa coloca os ovos em frutos maduros ou verdes que estão entre um a dois metros do chão. Costumam colocar apenas um ovo por fruto, geralmente ao entardecer, entre 17 h e 20 h - período ideal para o controle. 2 - Cada fêmea chega a colocar até 200 ovos durante o ciclo. 3 - Dos ovos, saem lagartas de cabeça escura, que medem cerca de 5 mm. Elas furam a casca e penetram nos frutos, onde se desenvolvem até chegarem a cerca de 18 mm. Durante o seu desenvolvimento no fruto, que pode durar de 14 a 30 dias, dependendo da temperatura, a lagarta se alimenta da polpa e joga excrementos e restos de sua alimentação para fora - esse material fica Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 28 endurecido e preso à casca. Essa característica ajuda a identificar a presença do bicho furão no pomar. Ciclo de vida do bicho furão 4 - Antes que o fruto caia, as lagartas tecem um fio para descer ao solo, onde passam para a fase de pupa. Algumas vezes, a pupação pode ocorrer no fruto. A lagarta tem a cabeça escura. Ao sair do ovo penetra rapidamente no fruto para se alimentar da polpa Elas saem do ovo medindo cerca de 5 mm e após seu desenvolvimento chegam a alcançar 18 mm Durante o dia a mariposa costuma se esconder em vegetações invasoras Sintomas Os frutos atacados pelo bicho furão tornam-se mais amarelos que os demais e, na sua maioria, caem. O orifício de penetração da lagarta fica evidente. Muitos citricultores confundem as lesões provocadas pelo bicho furão com aquelas decorrentes da ação da mosca da fruta. Saber qual a diferença entre eles ajudará no combate aos dois insetos. Frutos atacados - a principal diferença entre o ataque do bicho furão é que, após penetrar no fruto, ele lança excrementos e restos de alimentos para fora da casca. Esse excremento endurece e fica bem visível, grudado à abertura da casca. Além disso, o bicho furão consegue se desenvolver em frutos verdes, ao contrário da mosca da fruta. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 29 No local onde a lagarta penetra, podem-se observar secreções. São restos de alimentação e excrementos. Lagarta do bicho furão em fruto atacado Aparência da lesão causada pelo bicho furão em frutos - a consistência é endurecida. Diferença do ataque causado pela mosca da fruta Fruto atacado pela mosca da fruta O local da fruta atacado pela mosca fica mole e apodrecido enquanto o atacado pelo bicho furão torna-se endurecido. Larva da mosca da fruta e lesão causada pela mesma Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 30 Monitoramento Antes, o monitoramento do bicho furão era baseado em frutos atacados. A decisão de controle considerava uma porcentagem de frutos atacados ou, em casos extremos, que estavam caídos no solo. Entretanto, é melhor monitorar a população de adultos, antes de causarem danos aos frutos. É característica dessa praga ter aumentos populacionais muito rápidos, que impedem o sucesso do controle quando baseado em número de frutos atacados. Para maior eficiência, foi desenvolvido um método de monitoramento de mariposas do bicho furão por meio de feromônio sexual sintetizado, em pastilhas. O feromônio - uma substância química produzida pelas fêmeas - atrai os machos para acasalamento. Como fazer O feromônio é comercializado pela Coopercitrus, em um kit que contém uma plastilha com feromônio e uma armadilha, com paredes revestidas com cola para captura dos insetos. A montagem da armadilha é bastante simples. Pastilha de feromônio Armadilha Instalação O monitoramento é feito registrando-se o número de machos adultos coletados nas armadilhas a cada sete dias, utilizando para isso uma tabela. Área - cada armadilha cobre uma área de 10 hectares (de 3 mil a 3,5 mil plantas), ou seja, deve-se colocar uma armadilha a cada 350 m. Local - as armadilhas devem ser colocadas nos ponteiros das árvores, onde o bicho furão acasala, e trocadas a cada 30 dias (após esse período o efeito do feromônio acaba e a cola perde a aderência). Montagem da armadilha Siga corretamente as etapas descritas abaixo para que a armadilha seja eficiente. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 31 1 - Separe as armadilhas que vêm no kit, dobrando muito bem os vincos para que elas fiquem em forma de triângulo. 2 - Tire a pastilha do papel alumínio, com cuidado para não remover ou danificar o papel e a película plástica. Coloque a pastilha no local indicado pela seta. 3 - Retire a película protetora da fita adesiva, dobrando bem o vinco. Aperte a fita adesiva contra a parede da armadilha já montada, para evitar que se desprenda mais tarde. 4 - Passe o cordão pelo furo, evitando rasgar ou mesmo amassar a armadilha. Pendure a armadilha no terço superior da árvore. O monitoramento é feito por meio do registro do número de machos adultos coletados nas armadilhasa cada sete dias. O controle é recomendado se forem coletados, em cada armadilha, seis ou mais machos da mariposa por semana. Após a contagem, os insetos devem ser retirados (com um graveto, por exemplo) de dentro da armadilha. Modelo de tabela para o monitoramento do bicho furão Atenção Em épocas secas, o citricultor pode observar número altos de insetos capturados na armadilha, sem haver danos nos frutos. Isso ocorre porque há a redução da capacidade do bicho furão colocar ovos com umidade relativa abaixo de 50%. Nesse caso, consulte um engenheiro agrônomo. Quando se deve usar medidas de controle O controle com inseticidas recomendados para o bicho furão deve ser feito Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 32 somente se forem coletados, em cada armadilha, seis ou mais machos por semana. Após a contagem, os machos devem ser retirados (com um graveto, por exemplo) para evitar confusões nas contagens seguintes. O modelo de tabela apresentado abaixo deve ser usado para se registrar o número de machos adultos coletados nas armadilhas a cada semana. Lembre-se: uma armadilha é eficiente por quatro semanas. Controle Podem ser utilizados inseticidas químicos, biológicos ou reguladores de crescimento de insetos. - Hora certa - qualquer método de controle escolhido deve ser realizado ao entardecer (a partir das 17 h), horário em que a praga acasala e coloca os ovos. - Quando pulverizar - As pulverizações devem ser feitas somente nos talhões que atingirem o nível de controle (pelo menos seis machos por armadilha a cada semana). - Produtos - O controle pode ser feito com produtos biológicos ou químicos. O primeiro é indicado para infestações baixas (média de seis machos/armadilha/semana). O segundo para baixas e altas infestações. - Controle biológico - A pulverização deve ser por cobertura, na planta toda. Deve-se espalhar de sete a deoito dias após a contagem da armadilha atingir o nível de controle. O objetivo é esperar a postura e fazer o controle antes que a lagarta penetre no fruto. Os inseticidas biológicos, à base de Bacillus thuringiensis, são eficientes no controle do bicho furão por até 60 dias. A primeira aplicação deve ser feita logo que constatada a existência de mais de seis machos por armadilha. A segunda aplicação é feita 20 a 30 dias mais tarde. Esses inseticidas agem por mais tempo quando misturados com óleo vegetal ou mineral. - Controle fisiológico - Os produtos fisiológicos interferem na troca e formação quitina ("pele") dos insetos, inibindo ou acelerando seu crescimento. A aceleração faz com que haja mal formação da "pele" do inseto, o que mata a lagarta. Os inseticidas fisiológicos têm efeito por até 30 dias. A vantagem destes produtos é que eles são mais seletivos em relação aos inimigos naturais do bicho furão, preservando aranhas, formigas, ácaros e outros predadores. - Controle químico - Inseticidas químicos de largo espectro de ação, podem ser usados nos focos iniciais da praga. Durante dois a três dias após a pulverização, as lagartas podem se contaminar ao contato com o defensivo. - Recomendação - Se a escolha for pelo controle de adulto, é recomendável realizar a pulverização tão logo seja atingido o nível de controle. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 33 Cuidados adicionais Além das aplicações de inseticidas, o citricultor deve tomar alguns cuidados adicionais para controlar o bicho furão. Uma delas é a catação e destruição dos frutos atacados, com o objetivo de interromper o ciclo de vida do inseto. Além dos frutos que caem no chão, é muito importante retirar os que ficaram nas árvores. Isso porque os frutos caídos, na maioria das vezes, já não possuem a lagarta, que desce ao solo para passar à fase seguinte de seu ciclo, a de pupa. Para interromper esse ciclo, os frutos atacados devem ser triturados ou enterrados. A primeira opção requer uma máquina específica, mas a calda resultante pode ser usada como fonte de nutriente para a planta e deve ser jogada nas ruas do pomar onde bate sol. Se a calda for jogada embaixo da saia das árvores, na sombra, pode favorecer o crescimento do fungo Penicillium, que pode atacar os frutos saudáveis e provocar o seu apodrecimento. É bom lembrar que a aplicação desta calda não substitui a adubação convencional. A segunda alternativa é enterrar os frutos atacados no meio das ruas do pomar, colocando sobre eles uma camada de pelo menos 30 cm de terra para evitar que as lagartas sobrevivam e voltem à superfície, recomeçando o ciclo. Outra forma de se reduzir a população do inseto é realizar a colheita o mais rápido possível. A mariposa do bicho furão costuma migrar de talhões com frutos maduros para outros com frutos em fase inicial de maturação. Isso acontece principalmente em pomares que têm mais de uma variedade de citros. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 34 Cancro Cítrico Causado pela bactéria Xanthomonas axonopodis pv. citri, o cancro cítrico ataca todas as variedades e espécies de citros e constitue-se numa das mais graves doenças da citricultura brasileira. Não há medidas de controle capazes de eliminar completamente a doença. As plantas quando infectadas e a eliminação da bactéria de uma área exige a erradicação das plantas doentes e das demais suspeitas de contaminação. Por tratar-se de uma "praga" quarentenária o comércio de frutos cítricos, suco concentrado e seus derivados é regulamentado por legislação internacional e a não adoção de medidas de exclusão/erradicação impede o comércio destes produtos para países livres do patógeno. A doença manifesta-se por lesões em folhas, frutos e ramos, e quando em altas severidades pode provocar a queda de frutos e folhas com sintomas. As lesões podem ter variações nas suas características, podendo ser confundidas com outras doenças e pragas. Ocorrência A bactéria causadora dessa doença foi introduzida no Brasil em 1957 na região de Presidente Prudente (SP). Ela é de fácil disseminação e um de seus vetores é o próprio homem. Altamente contagiosa, ela é resistente e consegue sobreviver em vários ambientes por vários meses. Em folhas, ramos e frutos com sintomas, a sobrevivência da bactéria pode durar vários anos. Variedades e espécies mais resistentes (em ordem descrescente) 1. Poncan 6. Laranja Natal 10. Laranja Baianinha 2. Mexerica do Rio 7. Tangor Murcote 11. Limão Siciliano 3. Limão Taiti 8. Limão Cravo 12. Limão Galego 4. Laranja Pêra 9. Laranja Hamlin 13. Pomelo 5. Laranja Valência É bom lembrar que nenhuma variedade é imune ao cancro cítrico Sintomas As lesões provocadas pelo cancro cítrico são salientes, o que não ocorre na maioria das outras doenças e pragas. Os primeiros sintomas aparecem nas Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 35 folhas, e é nestas que encontram-se em maior quantidade, em comparação com a presença de sintomas em frutos e ramos. Folhas - O primeiro sintoma visível é o aparecimento de pequenas lesões salientes, que surgem nos dois lados das folhas, sem deformá-las. As lesões aparecem na cor amarela e logo se tornam marrons. É a única doença conhecida com lesões salientes que aparecem dos dois lados da folha. Quando a doença está em estágio mais avançado, as lesões nas folhas ficam corticosas, com centro marrom e um anel amarelado em volta. Folha com pequenas lesõessalientes, sintomas iniciais do cancro cítrico Folhas com lesões circundadas por anel amarelado Detalhe das lesões corticosas nas duas faces das folhas Frutos - A doença se manifesta pelo surgimento de pequenas manchas amarelas, com um ponto marrom no centro, que aos poucos vão crescendo e podem ocupar grande parte da casca do fruto. As manchas são salientes, mais superficiais, parecidas com verrugas, de cor marrom no centro. Em estágio avançado, as lesões provocam o rompimento da casca. Diferentemente do que ocorre com as lesões de verrugose, as lesões de cancro cítrico não se destacam facilmente da casca de frutos doentes e esta é uma das maneiras de diferenciar as duas doenças quando em frutos. Lesões causadas pelo cancro cítrico em frutos Detalhe das lesões: manchas marrons salientes Lesões vão se aglutinando e podem causar o rompimento da casca Ramos - As lesões também são salientes, na forma de crostas de cor parda. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 36 Sintomas do cancro cítrico em ramos Detalhe das lesões salientes e de cor parta em ramos Detalhe das lesões (crostas) em ramos Como a bactéria se dissemina A bactéria causadora do cancro se espalha de forma muito fácil, e um dos maiores agentes dessa disseminação é o homem, por meio do trânsito indiscriminado de pessoas pelos pomares, materiais de colheita, veículos, mudas e outros materiais cítricos contaminados. Folhas, ramos e frutos jovens são mais facilmente contaminados pela doença. Para que a bactéria penetre em folhas, frutos e ramos mais velhos e provoque os sintomas da doença, é preciso haver ferimentos, causados normalmente por material de colheita (escadas, sacolas), veículos que podem trazer a bactéria ou provocar ferimentos, pelo vento e, principalmente, pelo minador dos citros. A bactéria do cancro cítrico pode sobreviver por vários anos em material vegetal cítrico contaminado destacado da planta. Em outros materiais, como metal, plástico, madeira e tecido, a sobrevivência da bactéria é mais curta, geralmente de dias a semanas. Disseminação no pomar -Homem O principal responsável pela disseminação da doença é o próprio homem, que leva as bactérias de um lugar para outro nos materiais de colheita, em veículos, máquinas e implementos, ou mesmo por meio do transporte de folhas, ramos e frutos. -Natureza A bactéria também pode ser levada pelo vento, quando associado com chuvas, caracterizando uma disseminação de curta distância, ou seja, dentro do próprio pomar, ou mesmo de médias a longas distâncias, entre pomares e propriedades vizinhas. -Mudas As mudas contaminadas também contribuem para disseminar o cancro cítrico, levando a bactéria de uma propriedade para outra, ou para regiões distantes. Constitue-se na principal forma de disseminação da doença a longas distâncias (kilômetros) e por meio de mudas e materiais cítricos contaminados a doença Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 37 pode atingir cidades, estados e países até então livres da doença. O citricultor precisa dobrar a vigilância na época da colheita, quando aumenta o trânsito de equipamentos, veículos e frutos por todo o estado. Veja como o cancro cítrico se espalha no pomar A bactéria se espalha rapidamente no pomar: em uma a duas semanas depois da primeira lesão ter surgido, formam-se 1.000.000 de bactérias que, após a disseminação, podem formar 10 lesões com 10.000.000 de bactérias. Em mais duas semanas, já serão cerca de 100 lesões com 100.000.000 de bactérias e assim por diante. Como a doença se distribui no pomar A distribuição do cancro cítrico, dentro de um pomar ocorre entre folhas, frutos e ramos de uma mesma planta doente e também entre plantas, vizinhas ou não. Geralmente, quando em baixas contaminações (quantidade de plantas doentes), as plantas com sintomas encontram-se próximas umas das outras. Com o passar do tempo a doenças atinge novas plantas, mais distantes das plantas inicialmente contaminadas, e pode se disseminar por todo o pomar. O tempo necessário para o avanço da doença no pomar e a contaminação de várias plantas, distantes das inicialmente contaminadas, depende da variedade/espécie cítrica, idade e condição do pomar, ocorrência de chuvas com ventos, trânsito de pessoas, da adoção de medidas de controle (prevenção) da doença, entre outros fatores. Quando as condições são favoráveis para a disseminação da doença o número de plantas contaminadas pode ser altíssimo em poucos meses (numa mesma estação de chuvas, por exemplo), mesmo quando inicialmente existia apenas uma planta doente. Com a introdução do minador no Brasil, em 1996, ocorreu uma mudança no padrão de disseminação do cancro cítrico e a metodologia de erradicação até então adotada passou a não ser mais eficaz no controle da doença. Por esse motivo é que foi mudada a metodologia da erradicação. Veja como ocorre a distribuição dentro de um talhão Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 38 1. Talhão no início da contaminação 2. Propagação adiantada 3. Contaminação fora de controle O natural aumento da movimentação no pomar durante a colheita exige uma vigilância redobrada. Só permita que circulem no pomar pessoas e veículos que passaram pelas medidas preventivas de desinfestação. - Descontamine tudo Todos os veículos que entrarem na propriedade, sejam caminhões ou ônibus de trabalhadores, devem ser desinfestados. Isso pode ser feito pelo arco-rodolúvio, ou por meio de pulverizador, aplicando amônia quaternária. - Queime os restos Veículos que venham de outras propriedades, antes de passar pelo arco- rodolúvio ou pela pulverização, devem ser limpos: restos de colheita ou material vegetal (galhos, folhas ou frutos) devem ser coletados e queimados. Lembre-se que a bactéria do cancro cítrico sobrevive por anos em material cítrico. - Bins no limite Caminhões circulando no pomar podem ser transmissores da bactéria do cancro e também podem ferir as plantas, o que facilita a penetração da bactéria. Procure construir bins nos limites da propriedade. Eles podem ser de barranco, metálicos ou móveis. Uso de arco rodolúvio na entrada da propriedade Limpeza de restos de colheita, que devem ser queimados Uso de bins para evitar o trânsito de caminhões no pomar Controle Como não existe método curativo para a doença, a única forma de eliminar o cancro cítrico é por erradicação do material contaminado. Por essa razão o citricultor deve estar atento às medidas de prevenção e não esquecer da inspeção rotineira. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 39 Métodos de contenção da disseminaçao da doença usados anteriormente, como a poda drástica e a desfolha química foram suspensos pois não estavam sendo eficazes na eliminação da bactéria. Essa decisão foi tomada na Campanha Nacional de Erradicação do Cancro Cítrico (CANECC) e vai vigorar por tempo indeterminado. No entanto, só a erradicação das árvores contaminadas não garante a eliminação da bactéria causadora do cancro cítrico. Também é importante eliminar as rebrotas que surgem na área onde foi realizada a erradicação e queima das árvores. Essas rebrotas podem estar contaminadas pelo cancro cítrico. Todo o material (como enxadas), máquinas e implementos (trator e grade) usados na eliminação das rebrotas devem ser pulverizados com bactericida. A área(talhão) onde o foco da doença foi encontrado fica temporariamente interditada. Os demais talhões podem ser comercializados, depois de inspecionados. Não é permitido o replantio de citros por um período de dois anos, nas áreas que tiveram plantas erradicadas por causa da doença. A solução está na prevenção A bactéria pode se espalhar rapidamente por toda a propriedade e vizinhos, portanto, para evitar grandes prejuízos o produtor deve adotar todas medidas de prevenção. -Mudas O maior meio de disseminação do cancro cítrico, principalmente a longas distância, está nas mudas, por isso, o primeiro cuidado preventivo deve ser em relação a elas. Exija certificado de procedência de todo o material de propagação. -Material de colheita Prefira usar seu próprio material de colheita: escadas, caixas, sacolas e sacos- caixa. Se tiver que usar material vindo de fora, faça antes a desinfestação: mergulhe o material em uma solução de 1 litro de amônia quaternária em mil litros de água, e pulverize muito bem as escadas com essa solução. Mergulhar caixas e sacolas na solução é melhor do que apenas pulverizá-las. -Quebra-ventos O plantio de árvores de grande porte nas fronteiras diminui a ação do vento e da poeira sobre o pomar e dificulta a entrada ou disseminação da bactéria e outras pragas e doenças. Os quebra-ventos protegem uma distância de oito a dez vezes maior que sua altura. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 40 Mudas certificadas produzidas sob viveiro telado Desinfestação de material de colheita em solução de amônia quaternária O uso de quebra-ventos pode dificultar a entrada ou disseminação do cancro -Controle de entrada Cerque a sua propriedade, de preferência com cerca-viva (sansão do campo, jambolão), para evitar a entrada de pessoas estranhas, veículos ou animais. -Controle do minador do citros O minador provoca ferimentos que servem de porta de entrada para a bactéria do cancro cítrico. -Fiscalização Quanto mais cedo o cancro cítrico for descoberto, menor será o prejuízo para o citricultor e seus vizinhos. Por esse motivo, não deixe de fazer inspeções rotineiras em seu pomar. Uso de cerca-viva para evitar a entrada de intrusos no pomar Controle do minador dos citros Inspeções de rotina Inspeção Evite maiores prejuízos realizando inspeções rotineiras em seu pomar. Inspecionar o pomar rotineiramente é uma das medidas mais importantes para prevenir o cancro cítrico: a descoberta de um foco, logo no início, reduz os prejuízos da erradicação. Fique mais atento quando começarem a surgir os brotos, as partes da planta mais vulneráveis ao ataque da bactéria e do minador Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 41 dos citros. -Como inspecionar Todas as ruas do pomar devem ser inspecionadas. Os inspetores devem ser orientados antes do trabalho. A vistoria deve ser feita de cinco em cinco plantas -- inspeciona uma e pula quatro (inspeção a 20%) ou em todas as plantas (inspeção a 100%). Mas lembre-se: essas quatro árvores também devem ser observadas (veja a imagem abaixo). Inspeção a 20% O rendimento na inspeção vai depender do tamanho das árvores. É muito importante que toda a planta seja bem observada. A inspeção é fundamental, mas não deve ser a única medida adotada pelo produtor. O ideal é que seja acompanhada das outras medidas preventivas citadas anteriormente. Inspeção a 100% Inspeção a 20% - Quando inspecionar Faça a primeira inspeção de uma semana a, no máximo, um mês antes da colheita, e durante a safra intensifique a vistoria. Com tantos veículos, materiais e gente circulando, o risco de contaminação é maior. Propriedades com histórico da doença - nos talhões em que havia cancro cítrico e nos vizinhos, o ideal é que as inspeções sejam mensais e em todas as árvores (100%); nos outros, pode ser feita em uma a cada cinco árvores (inspeção a 20%). Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 42 Propriedades vizinhas de focos de cancro - inspecionar a 100%. Demais propriedades - fazer pelo menos três inspeções por ano, uma antes da colheita e duas logo depois do período de maior ocorrência de vegetação. Dicas importantes - Nunca retire folhas, ramos ou frutos quando houver suspeita de cancro, para não colocar em risco outras plantas ou mesmo todo o talhão. - Não tente resolver sozinho quando desconfiar que uma planta está contaminada: existe uma técnica adequada para resolver o problema. - Tenha consciência de que os prejuízos causados pelo cancro cítrico podem ser minimizados se o diagnótico e a erradicação forem realizados. Erradicação A única maneira de eliminar o cancro cítrico, uma vez que não existe controle químico para a doença, é a erradicação de plantas contaminadas. Uma nova metodologia passou a vigorar a partir de agosto de 1999, estabelecida por uma legislação estadual paulista com base em lei federal. Se for detectada uma planta contaminada, três equipes diferentes fazem inspeções consecutivas. Se no talhão houver mais de 0,5% de árvores contaminadas (6 ou mais plantas em um talhão com 1000 plantas, por exemplo), todo ele deve ser erradicado. Se o número de plantas contaminadas for menor ou igual a 0,5%, são eliminadas a(s) planta(s) foco e as que estão num raio de 30 metros. Nas reinspeções em talhões contaminados, se o número de árvores doentes for menor ou igual a 0,5%, são eliminadas apenas as árvores com sintomas, que serão queimadas no local. Se este número for maior que 0,5% todo o talhão deve ser erradicado. Plantio e colheita Propriedades contaminadas ficam proibidas de comercializar sua produção até que os trabalhos de erradicação sejam concluídos. Por dois anos não podem ser replantadas plantas cítricas na área erradicada. Rebrota O produtor deve ficar atento para o surgimento de rebrotas, comuns após o processo de erradicação. As rebrotas devem ser eliminadas. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 43 Processo de erradicação de focos de cancro cítrico Erradicação de plantas focos e raio de 30 metros Vista aérea de propriedade com áreas onde foi feita a erracadicação Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 44 Cigarrinhas As cigarrinhas são insetos sugadores que se alimentam em um grande número de espécies de plantas. Só na cultura de citros existem aproximadamente de 60 a 70 espécies de cigarrinhas que podem ser observadas nas árvores e na vegetação espontânea. Em anos chuvosos elas aparecem na primavera e, em anos secos, começam a surgir mais tarde, no início do verão. O motivo está no fato de preferirem se alimentar de brotações jovens, que ocorrem com maior freqüência em épocas de chuva. No meio do ano, quando se inicia a seca, as cigarrinhas começam a migrar para outras vegetações. Cigarrinha em folha de citros Muitos desses insetos podem transmitir doenças em diversas culturas. Um exemplo é a clorose variegada dos citros (CVC) ouamarelinho - doença causada pela bactéria Xylella fastidiosa, que vive nos vasos do xilema da planta. Para a sua disseminação natural e inoculação em plantas, essa bactéria depende de insetos vetores, que são algumas espécies de cigarrinhas. Além de viver nos vasos do xilema da planta, a Xylella fastidiosa consegue sobreviver no aparelho bucal dessas espécies transmissoras. Durante a sua alimentação, as cigarrinhas infectadas podem inocular a bactéria nas plantas. Todas as fases de desenvolvimento das cigarrinhas podem transmitir a bactéria, mas a fase mais importante é a adulta. Ao adquirir a bactéria, as cigarrinhas adultas passam a transmiti-la pelo resto de suas vidas. Com relação a preferência das cigarrinhas, as mais abundantes na natureza se alimentam em gramíneas. Algumas, como Bucephalogonia xanthophis, preferem plantas em viveiros e novos plantios. Outras espécies apresentam hábitos arbóreos e se alimentam de plantas cítricas maiores, como Dilobopterus costalimai, Oncometopia facialis, Acrogonia citrina, Homolodisca ignorota, Acrogonia virescens e Parathona gratiosa. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 45 Espécies transmissoras Onze espécies de cigarrinhas são comprovadamente capazes de transmitir a CVC, ao inocularem a bactéria em plantas sadias. As cigarrinhas adquirem a bactéria ao se alimentarem de plantas doentes. Dilobopterus costalimai Tem por hábito alimentar-se de brotações novas e tenras da planta e, algumas vezes, de folhas novas. Dificilmente é vista em pomares que não tenham vegetações novas. Os ovos, amarelados, são depositados dentro de folhas tenras e novas, ao longo das nervuras. Antes de atingir a fase adulta passa por cinco estágios ninfais, com duração média de 65 dias. O adulto mede cerca de 0,8 cm, apresenta linhas escuras na cabeça e possui olhos grandes e negros. Ocorre na Argentina, Brasil e Paraguai. Ovos, depositados em folhas novas Estágio ninfal Adulto de Dilobopterus costalimai Acrogonia citrina Localizam-se predominantemente na parte superior das folhas, preferindo as mais tenras e novas. Os ovos são alongados e dispostos lado a lado, em duas camadas. Geralmente são recobertos com cera pela fêmea. Ao saírem dos ovos, as ninfas são brancas, mas depois tornam-se esverdeadas. Essa fase tem duração de 50 dias. Os adultos possuem barriga e as pernas amarelas, as asas são marrons com nervuras verdes. As cigarrinhas medem cerca de 0,9 cm. É encontrada na Argentina e no Brasil. Ovos, recobertos com cera ninfas Adulto de Acrogonia citrina Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 46 Oncometopia facialis Prefere ramos mais desenvolvidos, mas não completamente lenhosos, sendo encontrada com mais freqüência em ramos eretos. Adultos de Oncometopia facialis Os ovos são depositados lado a lado, em uma única camada, e recobertos com cera pela fêmea. Normalmente, postos na face inferior da folha. As ninfas são escuras ao nascerem do ovo. Essa fase tem duração de 76 dias. A espécie tem asas de cor marrom com terminação transparente e áreas douradas. Mede cerca de 1,1 cm e a característica marcante é a mancha escura na parte posterior da cabeça. Ocorre na Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador e Paraguai. Bucephalogonia xanthophis Essa cigarrinha tem importância especial porque é muito encontrada em viveiros a céu aberto e, provavelmente, é a maior responsável pela transmissão da doença para mudas. Também está presente em plantas novas e na vegetação invasora do pomar. Adulto de Bucephalogonia xanthophis Os ovos são translúcidos e depositados em pares. Preferencialmente, são postos nos ramos tenros da planta. De tamanho pequeno, mede no máximo 0,5 cm de comprimento. Tem coloração esverdeada e a terminação de suas asas é transparente. Ocorre na Argentina e no Brasil. Plesiommata corniculata É uma espécie abundante, facilmente observada em gramíneas e está presente na planta cítrica. Adulto de Plesiommata corniculata Seu tamanho varia entre 0,4cm e 0,7cm de comprimento. Caracteriza-se por apresentar coloração entre gelo e palha, com nervuras marrons ou escuras nas asas. A coloração do corpo, abdômen e pernas também é clara. Encontrada na Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Paraguai e Peru. Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 47 Outros vetores Macugonalia leucomelas Prefere gramíneas, mas eventualmente pode ser vista em plantas cítricas. Apresenta grande diversidade de cores. As asas têm coloração escura com manchas amarelas ou brancas. Sonesimia grossa Uma das maiores espécies, chega a um centímetro de comprimento. Raramente é observada em plantas cítricas, vive nas gramíneas. Tem coloração marrom, com nervuras claras nas asas. Ferrariana trivittata Ocorre na vegetação invasora do pomar, principalmente gramíneas. As asas têm faixas de cor azul e laranja. Corpo e pernas são esbranquiçados. Macugonalia leucomelas Sonesimia grossa Ferrariana trivittata Homalodisca ignorata Semelhante a Oncometopia facialis, só que menos abundante. A diferenciação entre essas duas espécies se dá pela cor do corpo: Homalodisca ignorata apresenta coloração creme, enquanto O. facialis tem coloração arroxeada. Acrogonia virescens Vive preferencialmente em plantas cítricas. A coloração é verde intenso. Parathona gratiosa Também prefere viver sobre citros. A principal característica é a mancha clara e arredondada nas asas, que também são cobertas de pintas amarelas. Homalodisca ignorata Acrogonia virescens Parathona gratiosa Pragas e Doenças dos Citros Prof. M.Sc. Raimundo Sátiro dos Santos Ramos 48 Entre estas seis espécies, Acrogonia virescens e Parathona gratiosa são predominantes na região de Bebedouro. As demais estão distribuídas por toda a região citrícola do Estado de São Paulo. Espécies que são vetores potenciais Existem inúmeras cigarrinhas que podem transmitir a bactéria Xylella fastidiosa para os citros, pois se alimentam nos vasos do xilema das plantas. A sua identificação é necessária e importante para que se tome medidas de controle, principalmente em viveiros - já que a produção de mudas sadias é fundamental para evitar a disseminação da CVC. Além das cigarrinhas consideradas potencialmente transmissoras, pode haver outras espécies que ainda não foram identificadas. Por esse motivo, estão sendo feitas pesquisas para esclarecer dúvidas a respeito da biologia, ecologia e comportamento das cigarrinhas. Só assim haverá segurança nas medidas de controle. Hortensia similis Macugonalia cavifrons Molomea cincta Uma das espécies mais abundantes em pomares de citros. Encontrada com grande frequência em plantas cítricas. Não é comum encontrá-las em pomares Monitoramento de cigarrinhas Existem vários métodos de amostragem da população de cigarrinhas. Na hora da escolha, contudo, deve-se levar em consideração a sua eficiência e praticidade. - Armadilha adesiva amarela A sua distribuição deve ser uniforme pelo talhão. O tamanho mais comum é 12x7cm. Elas devem ser colocadas preferencialmente na face norte das plantas a uma altura de 1,5 a 1,8 m do chão. A sua duração é de no máximo um mês e podem ser afetadas pela chuva e poeira. Entre as suas vantagens estão a possibilidade
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