Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1. HORMÔNIOS VEGETAIS – AUXINA INTRODUÇÃO AOS HORMÔNIOS A existência dos hormônios vegetais foi proposta em 1800 pelo pesquisador Sachs que deduziu que os eventos de crescimento e desenvolvimento das plantas seriam coordenados por mensageiros químicos. Assim, define-se como hormônio vegetal as substâncias que são produzidas pelo metabolismo secundário das plantas e agem modificando, induzindo ou inibindo processos metabólicos e fisiológicos e agem em pequenas concentrações (Ex.: 1,00 micromol). Alguns hormônios possuem análogos sintéticos que podem ser aplicados exógenamente e agem apenas em altas concentrações e esses são denominados reguladores vegetais. Como os vegetais não possuem sistema nervoso, toda a coordenação dos processos vitais é feita pelos fitohôrmonios. É dessa forma também que as plantas respondem aos fatores externo e ambientais à sua volta. Os fatores edafoclimáticos como precipitação incidência solar, temperatura, sazonalidade, etc., influenciam diretamente a produção de metabólitos secundários. Os hormônios são produzidos e transportados para o local de síntese ou podem agir no local onde são produzidos. Esses sinalizadores químicos podem ser dois tipos: ácidos fracos ou esteróides e cada um deles possui um determinado modo de ação. A maioria dos hormônios são ácidos fracos. Estes possuem receptores específicos na membrana plasmática e agem através de mensageiros secundários (figura 1). Isso ocorre da seguinte forma: o hormônio se liga ao seu receptor na membrana plasmática da célula. Esse sistema de chave-fechadura, quando ativado, ativa a enzima fosfolipase-C que age quebrando uma molécula de fosfoenositol em DAG e IP3. Esses são os denominados mensageiros secundário. O IP3 no citosol encontra-se com seu receptor na membrana do vacúolo e ativa bombas de Ca+2. Uma vez ativada, a bomba de cálcio inicia a liberação do Ca armazenado no vacúolo para o citosol. No citosol, o cálcio se liga à sua molécula de afinidade: A calmodulina. O complexo Ca+Calmodulina será responsável então pela ativação enzimática que levará aos respectivos efeitos do hormônio. O DAG, por sua vez, ativa enzimas do tipo quinase C que também leva à ativação enzimática. Já os hormônios esteróides (figura 2) entram na célula, atravessando livremente a membrana plasmática, e se ligam aos seus receptores presentes no citoplasma ou no núcleo da célula, induzindo e ativando diretamente a enzimas catabólicas ou anabólicas. Alguns exemplos de hormônios conhecidos são: auxina (AX), giberilina (GA), citocinina (CK), etileno, ácido abscísico (ABA) e brassinoesteróides (BR). AUXINA A auxina foi o primeiro hormônio vegetal a ser descoberto e, juntamente com a citocinina, diferem dos demais hormonios por serem necessários para a viabilidade. São necessários em um certo nível continuamente durante toda a vida da planta. A principal função da auxina é o elongamento celular, mas ela pode estar envolvida também em processos de divisão celular em culturas de calos e na formação de raízes adventícias em folhas ou caules excisados. HISTÓRIA: Darwin e colaboradores se interessaram pela curvatura dos vegetais em direção à luz (fototropismo) (figura 1). Fizeram então experimentos utiliando plântulas de alpiste, nas quais as folhas jovens eram revestidas por um coleóptilo que é uma estrutura muito sensível à presença de luz e, quando iluminados, crescem em direção da luz. O experimento consistia em plantulas iluminadas lateramente: uma planta controle com coleoptilo, uma com o ápice removido, uma com o ápice coberto sem contato com a luz e uma com apenas a base da plântula coberto. Notaram que as plantulas com o ápice removido ou coberto não apresentavam curvatura em direção da luz. Deduziram assim que alguma substâncias produzida no ápice ocasionava um crescimento mais rápido do lado iluminado. Vários anos e especulações cientificas depois, alguns cientistas já haviam tentado extrair tais substâncias através de maceração do ápice. Porém, a maceração liberava substâncias inibidoras. O pesquisador Went conseguiu então obter essa substância evitando a maceração e permitindo a difusão do composto em blocos de gelatina e como análisar quantitativamente a auxina. BIOSSÍNTESE E METABOLISMO: A principal auxina encontrada nos tecidos é o Ácido Indol-Acético (AIA/IAA) (figura 2). A sua biossíntese ocorre em meristemas apicais, folhas jovens, sementes em desenvolvimento e raízes (figura 3). O precursor de sua síntese é o aminoácido tiptofano. Este provem da união de serina+indol, da rota do ácido chiquímico (figura 5) ou a partir de uma rota independente, a rota triptofano-auxina (figura 4). A auxina geralmente está conjugada com glicose ou amido, glucano ou glicoproteínas que são moléculas de baixo e alto peso molecular, respectivamente. Alguns microrganismos também podem produzir auxina para controlar as plantas que hospedam. A degradação da auxina também pode se dar por diversas vias, por oxidação ou pela enzima peroxidase. TRANSPORTE: Uma peculiaridade da auxina é a forma com que é transportada na planta sendo o único hormônio vegetal transportado de forma polar. A auxina é principalmente transportada do ápice para a base sendo um transporte unidericional (polar). A principal rota do transporte é feita pelo floema, célula a célula parenquimática. Assim, o transporte da auxina produzida no ápice da planta desce (basípeto) e a auxina produzida nas raízes sobe (acrópeto) (figura 6). O transporte polar é dependente de gasto energético e ocorre independente da gravidade, não é orientado pelo posicionamento ou orientação do tecido. O influxo da auxina na célula é gerado pela força motriz proteônica e o efluxo por variação no potencial de membrana. A auxina pode entrar na célula de duas formas distintas (figura 7): 1) A auxina em sua forma protonada (IAAH) entra na célula por difusão passiva através da bicamada lipídica. 2) A auxina em sua forma dissociada (IAA-) entra na célula por transporte ativo via simporte 2H + e IAA - . As duas vias são necessárias, pois a permeabilidade passiva da membrana à auxina depende do pH do apoplasto. A forma protonada da auxina só atravessa a membrana por ser lipofílica. No citosol, que possui um pH neutro, a forma dissociada predomina e os ânions de auxina saem das células via proteínas carreadoras de efluxos de auxina localizadas na parte basal da céllula denominadas Proteínas PIN. Como a membrana plasmática é menos permeável à forma IAA-, há uma tendência de acúmulo no citosol. A repetição da entrada da auxina pleo lado apical da célula e sua preferência de efluxo pela parte basal dá a característica do transporte polar unidirecional. CONJUGAÇÃO: A conjugação da auxina com outras moléculas apresentam as seguintes funções: estocagem, forma fácil de transporte, forma antioxidativa e controle de nível e desintoxicação. EFEITOS FISIOLÓGICOS Alongamento Celular: A ação da auxina vai depender de seu local e sua concentração. Quando produzidas em grande concentrações na gema apical, o transporte da auxina inibe a produção nas gemas laterais e mais ainda nas raízes. O controle do alongamento celular nas raízes está relacionado com o fato da presença da auxina estimular a produção de etileno, um inibidor do crescimento radicular. A reação lenta de alongamento celular induzido pela auxina se dá pela ativação de genes diretamente no RNAm e na síntese protéica. Essa ação ocorre na fase G1 da divisão celular, quando são sintetizadas as organelas da nova célula e é o período de maior crescimento da vida de uma célula).Já a reação rápida é explicada pela teoria ácida do crescimento (figura 8). A auxina se liga ao seu receptor na membrana plasmática e ativa diretamente a ATPases que iniciam um bombardeio de prótons no meio celular, acidificando o mesmo. Em meio ácido, a enzima expansina se torna ativa promovendo o alongamento celular. Ela afrouxa a membrana plasmática permitindo a entrada de água no vacúolo, sem ocorrer romper o envoltório celular. Fototropismo e Gravitropismo O fototropismo é o crescimento em direção à luz e garante aos tecidos luz ótima para a realização da fotossíntese. Já o gravitropismo é o crescimento em resposta à gravidade e garante que as raízes não cresçam acima do solo e a parte aérea não cresça em direção reversa o que é fundamenta nos estádios iniciais de desenvolvimento. O fototropismo é mediado pela redestribuição lateral da auxina (figura 9). Em resposta ao estímulo luminoso unidirecional, a auxina produzida no ápice instantaneamente é transportado para o lado sombreado. As fototropinas são proteínas quinases autofosforilantes com suas atividades estimuladas pela luz. O gradiente na fosforilação da fototropina induz o movimento da auxina para o lado sombreado. Assim, as células do lado sombreado que apresentam acumulo de auxina crescem mais rapidamente e as células do lado iluminado cessam o crescimento. Assim, cria-se o movimento de crescimento em direção à luz. Por outro lado, o gravitropismo não forma um gradiente entre as metades inferiores e superiores do orgão. Todas as partes recebem igualmente o estímulo gravitacional. As plantas apresentam estatólitos que são amiloplastos que se sedimentam no inferior da célula, funcionando como um sensor de gravidade (figura 10). Na parte aérea, é necessária a bainha de amido para a percepção do gravitropismo. Já nas raízes, o local de percepção da gravidade é a coifa. A auxina é produzida na parte aérea e transportada até a raiz. Os estatólitos estão sedimentados na base das células. A auxina, transportada em direção acrópeta, se distribui igualmente em ambos os lados da coifa. A auxina é, então, transportada em direção basípeta do córtex para a zona de alongamento. Na horizontal, os estatócitos se movimentam para a lateral desencadeando o transporte polar de auxina para a metade inferior da coifa. A maior parte da auxina da coifa é então transportada na direção basípeta no córtex na metade inferior da raíz. O aumento da concentração de auxina na região inferior da coifa estimula a produção de etileno e o alongamento é impedido. O decrescimo de auxina na região superior da coifa estimula o alongamento nessa região. Dominância Apical: Esse fenômeno é caracterizado pelo crescimento da gema apical inibir o crescimento das gemas laterais. Inclusive, se removido o ápice, ocorre estímulo e crescimento da gema lateral. Sabe-se que a auxina tem relação com esse fenômeno, porém não se sabe ao certo como. Caso seja aplicado um inibidor de transporte de auxina logo abaixo da gema apical, elimina-se a inibição das gemas axilares. Mas, de acordo com as pesquisas já realizadas, é improvável que a auxina haja diretamente na inibição das gemas. Outros hormônios provavelmente também estão envolvidos nesse processo, apesar do grande envolvimento da auxina. Formação de Raízes Laterais e Adventícias Embora o alongamento da raíz primária seja inibido com aumento da concentração de auxina, a iniciação da emissão de raízes laterais e adventícias é estimulada por altos níveis de auxina. Para iniciar a divisão celular no periciclo, é necessário o transporte acrópeto da auxina e a auxina é necessária para promover a divisão assim como manter a viabilidade das células durante o processo de desenvolvimento das raízes laterais. Outros Efeitos: A auxina retarda a abscisão foliar (figura 11). O nível de auxina é alto em folhas jovens decrescendo continuamente conforme essas amadurecem. Com o descréscimo da produção de auxina, inicia-se a produção de etileno na flora que leva à senescência foliar. O transporte apolar da auxina no meristema flral é necessário para iniciar o desenvolvimento das flores. Na ausência de transportador de efluxo, o desenvolvimento das gemas florais é interrompido. A auxini promove ainda o desenvolvimento do fruto. Após a fertilização, o crescimento do fruto depende da auxina produzida nas sementes. O endosperma da semente pode contribuir com a auxina durante o estádio inicial e depois o embrição pode ser a fonte principal de auxina durante dos estádios seguintes do desenvolvimento do fruto. USO COMERCIAL: As auxinas sintéticas apresentam vários usos comerciais. Inicialmente a auxina era utilizada comercialmente apenas como herbicída, pois quando aplicada em concentrações altas promove crescimento exacerbado e a planta morre por exaustão celular. Um exemplo é o defensivo 2,4-D. Atualmente usa-se a auxina na prevenção da abscisão de frutos e folhas, promoção de florescimento de abacaxi e o enraizamento de estacas para propagação vegetal. FIGURAS Figura 1. História da Descoberta da Auxina Figura 2. Caracterização Química da Auxina Figura 3.Produção em diferentes locais e em diferentes concentrações. Figura 4. Biossíntese de Auxina via Dependente de Triptofano Figura 5. Biossíntese de Auxina via Independente de Triptofano Figura 6. Modelo Quimiosmótico – Transporte da Auxina Figura 7. Transporte unidirecional da auxina. Figura 8. As duas formas de reação rápida da ação da auxina no alongamento celular: Via expansinas ou potencial de membrana. Figura 9. Fototropismo e gancho pulmunar. Figura 10. Gravitromismo e a auxina. Figura 11. Auxina e Etileno envolvidos na Abscisão Foliar
Compartilhar