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O CÓDIGO DE JUSTINIANO

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4. O CÓDIGO DE JUSTINIANO
4.1 O Império Bizantino
A fundação do Império Bizantino é muito difícil de ser explicada. Ele constitui uma complexa composição entre o mundo romano e o grego, entre o Ocidente e o Oriente. O Império Bizantino é o mesmo Império Romano do Oriente, instituído a partir da divisão bipartite consignada pelo imperador Teodósio, em 395. A sede do Império do Oriente é a cidade de Constantinopla (antiga Bizâncio), colônia grega fundada por marinheiros de Mégara, no Estreito de Bósforo, passagem do Mar Egeu para o Mar Negro. 
O Império Bizantino sobreviveu onze séculos ao Império Romano do Ocidente, lançando mão da diplomacia, da guerra ou do pagamento de tributos, para repelir, desviar ou enquadrar os inúmeros povos invasores que se abateram sobre ele. Manteve uma nação politicamente subordinada a uma monarquia despótica e teocrática exercida pelo basileus (imperador), bem como uma sociedade essencialmente urbana.
	As condições sociais da maioria da população do Império eram bastante precárias. Havia ainda um grande número de escravos, geralmente prisioneiros de guerra; essa situação perdurou até o século XII. Os trabalhadores livres eram mal-remunerados e a moradia tinha preços elevados. Em vista disso, muita gente vivia desabrigada, nas ruas de Bizâncio, embora as condições de vida nessa cidade fossem consideradas melhores do que em outras do Império. Semelhante ao que ocorria no Império do Ocidente com a “política do pão e circo”, a população pobre do Império Bizantino também recebia alimentos gratuitamente e se divertia assistindo às corridas de cavalo no hipódromo, que eram promovidas com o objetivo de conter as insatisfações populares.
	Entretanto, apesar disso, em 532, no governo do imperador Justiniano, eclodiu uma violenta revolta, na cidade de Constantinopla, fruto do descontentamento popular com a opressão geral dos governantes e os elevados tributos. Surpreendentemente, a revolta iniciou justamente no hipódromo, de onde ganhou as ruas da Capital imperial. O movimento popular passou para a história com o nome de Revolta de Nika, palavra que significa “vitória”. A sublevação foi violentamente reprimida por tropas do exército, resultando na morte de quase 35 mil pessoas. 
Além da agricultura, o comércio e a indústria asseguraram ao Império Bizantino a superioridade econômica sobre o Ocidente e fizeram de Constantinopla um dos maiores centros econômicos mundiais. Essas atividades eram rigorosamente controladas - e às vezes monopolizadas - pelo Estado. 
Todavia, nos últimos séculos da história do Império, seguiu-se o domínio estrangeiro do comércio bizantino, principalmente pelas cidades italianas de Veneza e Gênova, que estabeleceram entrepostos e privilégios dentro dos territórios bizantinos, depois de 1204. Tal fato provocou a estagnação econômica do Império, pois a riqueza que antes o sustentava passou a ser canalizada para fora de suas fronteiras. Assim, o Império Bizantino foi destruído por dentro, pelos italianos, antes mesmo de ser avassalado por fora, pelos turcos. 
4.2 O imperador Justiniano
	Considerado como um dos maiores imperadores bizantinos, Justiniano nasceu no ano 482, em Tauresium, perto de Skopje. Seu nome completo era Flávio Anício Justiniano. Foi casado com Teodora, mulher de personalidade profundamente forte e marcante, que ele tirou do mundo da prostituição para fazê-la imperatriz. Foi colaborador, co-imperador e sucessor do seu tio, Justino I, no trono de Constantinopla. Procurou seguir a tradição romana, instituindo uma monarquia absoluta com bases sólidas, e empreendeu a última grande tentativa de recuperação do Império Romano do Ocidente.
	Iniciou o seu governo, em 527, com uma paz perpétua com Cósroes I. Porém, em 532, irrompeu a revolta de Nika (= vitória), como consequência dos elevados impostos e de diferenças políticas e religiosas. O fim sangrento desta revolta representou a supressão definitiva da modesta participação do povo na política e o triunfo do despotismo imperial.
	Entre 528 e 535, sob a direção de Triboniano, e com a colaboração de Teófilo e Dorotéio, um grupo de juristas notáveis realizou uma grandiosa obra legislativa, que entrou para a história e ficou conhecida como Corpus Iuris Civilis, ou também como Código de Justiniano. Mormente, durante o seu governo, foi edificado um dos maiores monumentos da arte arquitetônica: a basílica de Santa Sofia, em Constantinopla.
	Em matéria religiosa, combateu os pagãos, fechando a Escola de Filosofia de Atenas (529), fundada onze séculos antes por Platão, bem como perseguiu e exterminou hereges, estabelecendo estreitas relações com o pontífice romano, Agapito. Também convocou o 2º Concílio de Constantinopla, considerado como o quinto concílio ecumênico da história da Igreja, para tratar sobre a chamada “questão dos três capítulos”, condenando as teses nestorianas.
	A tentativa de reconquista do Ocidente iniciou-se com a guerra contra os vândalos (533-534). Depois da Itália, Justiniano conquistou a franja meridional da Península Ibérica, que o general Libério conseguiu arrebatar aos visigodos, em 554.
	Após a morte de sua amada esposa, a imperatriz Teodora, Justiniano mergulhou num irreversível processo de melancolia, ou de angústia, que acabou lhe conduzindo à depressão e a modificação de sua personalidade. Ele faleceu em 565, na cidade de Constantinopla, capital do Império, passando para a história com o título de Justiniano I, o Grande.
4.3 O Corpus Iuris Civilis
	A codificação do Direito Romano foi, sem dúvida alguma, uma das maiores e mais duradouras realizações de Justiniano. Tal projeto teve como um de seus objetivos primordiais salientar a continuidade histórica com o antigo Império Romano e com a tradição jurídica latina.
	Entre os séculos III e VI, o volume de leis continuou a crescer, fazendo-se necessária a codificação do direito, porquanto o vasto conjunto de textos legais continha muitos elementos contraditórios ou obsoletos. Por essa razão, imediatamente após sua ascensão ao trono, em 527, Justiniano decidiu iniciar a revisão e codificação do direito existente, a fim de torná-lo fundamento autorizado de seu governo, bem como de harmonizá-lo com as novas condições históricas e culturais.
	Para a execução de tão laborioso empreendimento, o imperador nomeou uma comissão de juristas, supervisionada e coordenada por seu ministro Triboniano. Em dois anos, a comissão publicou o primeiro resultado de seus trabalhos, o Código, uma revisão sistemática de todas as leis promulgadas desde o governo do imperador Adriano até o de Justiniano. Posteriormente, o Código foi suplementado pelas Novelas, que continham a legislação de Justiniano e de seus sucessores imediatos.
	Em 532, a comissão completou o Digesto, que representava uma súmula de todas as obras dos grandes juristas. Porém, o produto final do trabalho de revisão foram as Institutas, compêndio dos princípios legais que se refletiam tanto no Digesto como no Código. Assim, a combinação desses elementos do programa de revisão representa o Corpus Iuris Civilis – ou Corpo de Direito Civil.
	Burns (1986) assegura que o Corpus de Justiniano exerceu uma influência extraordinariamente grande, quase monopolística, sobre a subsequente história jurídica e governamental. Além disso, em si mesmo, o Corpus foi uma realização brilhante e somente o Digesto já foi chamado, com toda razão, “o mais notável e importante livro de direito que o mundo conheceu”.
	Sobre a obra jurídica de Justiniano, comenta ainda Burns (1986, vol. I, p. 197):
			
Em sua teoria política básica, constituía um bastião do absolutismo (...). Entretanto, o Corpus oferecia também algum embasamento ao constitucionalismo, sustentando que os poderes do soberano emanavam originariamente do povo, e não de Deus. Como o governo provinha do povo podia, em teoria, ser-lhe devolvido. Talvez mais importante e influente tenha sido a concepção que o Corpus fazia do Estado como uma entidade pública e secular abstrata (...). A moderna concepção do Estado como umaentidade pública que se preocupa não com a vida futura, mas com negócios seculares e do dia-a-dia, ganhou força, no final da Idade Média, devido, sobretudo, à revivescência de pressupostos encontrados nas compilações jurídicas de Justiniano.
	A partir do século XI, época da escolástica medieval, o Corpus Iuris Civilis transformou-se em fundamento de todo o direito e jurisprudência dos Estados Nacionais europeus, quando foi revivido e reestudado nas primeiras grandes universidades da Europa ocidental. Finalmente, para se ter uma ideia mais clara e precisa da enorme influência da obra jurídica de Justiniano é suficiente dizer que o próprio Código Napoleônico do século XIX, que fundamentou as leis dos modernos Estados europeus e latino-americanos, nada mais é do que as Institutas em roupagem modernizada. 
REFERÊNCIAS
BURNS, Edward Mcnall. História da civilização ocidental (vol. I). 29. ed. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1986.
LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

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