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O DIREITO NA GRÉCIA ANTIGA

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2. O DIREITO NA GRÉCIA ANTIGA
2.1 A Civilização Grega
	Etnicamente, o povo grego é o resultado da miscigenação de quatro raças ou etnias de origem indo-europeia, a saber: aqueus, eólios, jônios e dórios. Os aqueus chegaram por volta do ano 2000 a. C.; os eólios e os jônios por volta de 1700 a. C.; e os dórios se estabeleceram em torno do ano 1200 a. C..
	A história da antiga civilização grega pode ser dividida em quatro períodos:
Micênico ou Homérico – do século XIX ao século VIII a. C.;
Arcaico – do século VIII ao século VI a. C.;
Clássico – do século VI ao século IV a. C.;
Helenístico – do século IV ao século I a. C..
2.1.1 Período micênico ou homérico
	As principais fontes históricas para o estudo deste primeiro período da antiga civilização grega são os poemas de Homero – Ilíada e Odisséia – e as descobertas arqueológicas.
	O período homérico foi marcado pela chegada e estabelecimento, no mundo grego, dos quatro povos formadores (aqueus, eólios, jônios e dórios). Também neste período as estruturas comunitárias dos genos foram-se dissolvendo, à medida que surgiam o direito de herança, a diferenciação de classes e a generalização do sistema escravista.
2.1.2 Período arcaico
	Dois grandes acontecimentos marcaram o período arcaico: o desenvolvimento das cidades-estados e a colonização grega. A polis grega (cidade-estado) substituiu a divisão das pessoas por laços de parentesco pela divisão em classes sociais. Já a colonização grega constituiu-se numa expansão econômica e territorial, através da qual os gregos conquistaram diversas regiões da costa do Mar Mediterrâneo e do Mar Negro.
2.1.3 Período clássico
	Neste período, Atenas e Esparta tornaram-se as duas mais importantes cidades-estados gregas. Também nesta época a civilização grega atingiu seu maior esplendor, sobretudo no plano cultural.
	Dois fatos deste período devem ser destacados:
as guerras médicas contra os persas, quando as cidades-estados gregas se uniram para enfrentar o ataque do poderoso império pérsico;
a guerra do Peloponeso, que foi um conflito entre as diversas cidades-estados gregas, lideradas por Esparta e Atenas.
2.1.4 Período helenístico
	Este período caracterizou-se pela decadência da civilização grega e pela conquista da Grécia pela Macedônia, ao tempo do rei Filipe. Também nesta fase ocorreu a expansão do império macedônico, no governo de Alexandre, o grande, fazendo surgir o helenismo ou civilização helênica.
2.2 A lei e a justiça na antiga Grécia
2.2.1 A lei
	A lei era considerada pelos primitivos gregos como um costume sagrado, revelado e sancionado pelos deuses. Em grego, Θεσμοί (thesmoi) = costume sagrado. Nesse sentido, a lei fazia parte do espaço religioso, das religiões, e representava a harmonia de um ordenamento cósmico e moral divino.
	Aliás, conforme assevera Coulanges (2002, p. 208-209), os povos antigos não viam a lei como obra humana, mas defendiam sua origem divina, ou sagrada; para eles, a lei é coisa sagrada – em latim, res sacra. A lei “nasceu como consequência direta e necessária da crença; era a própria religião, aplicada às relações entre os homens. Os antigos afirmavam que suas leis tinham-lhes vindo dos deuses.”
	A segunda fase da história legal grega foi a coleta e coordenação desses costumes sagrados por legisladores, os thesmothetai, como Licurgo, Drácon e Sólon. Quando esses homens redigiram os seus novos códigos, os thesmoi, ou costumes sagrados, transformaram-se em nomoi, ou leis feitas por homens. 
De acordo com Durant (1955), nesses códigos a lei libertava-se da religião e tornava-se progressivamente secular (ou laica); a intenção do agente entrava mais a fundo no julgamento do ato; a responsabilidade da família passou para o indivíduo e a vingança privada cedeu lugar à punição estabelecida pelo Estado.
	O terceiro passo na evolução legal grega foi o acumulativo crescimento de um corpo de leis. Sob a coordenação dos nomothetai, ou determinadores de leis, foram formuladas leis em linguagem simples e compreensível, gravadas em lajes de pedra. Daí em diante nenhum magistrado teve mais o direito de decidir caso algum se baseando em leis não escritas.
	As leis não faziam distinção entre códigos civil e criminal, exceto nos casos de homicídio. O homicídio era raro, pois além de crime era sacrilégio; e ainda havia o pavor da vendeta, quando a lei falhava. Os assassinatos, fossem intencionais ou não, tinham que ser expiados como uma poluição do solo da cidade e os ritos de purificação eram dolorosamente severos e complicados. Se a vítima concedia o perdão antes da morte, nenhuma ação podia ser movida contra o assassino. Sob certas condições o desagravo direto ainda era tolerado no século V; quando um marido encontrava a esposa, a concubina, a mãe, a irmã ou a filha em relações ilícitas, tinha o direito de matar o sedutor no próprio local.
	A rigorosa execução dos contratos era garantida por leis de propriedade muito rígidas. Muito restrito ainda era o direito de herança. A tradicional concepção religiosa da propriedade ligada à família impunha, nos casos de filhos homens, que os bens imóveis passassem automaticamente a estes. O pai conservava a propriedade apenas como o depositário dos mortos, dos vivos ou dos que estavam ainda por nascer. A propriedade do marido nunca passava para a viúva; tudo que lhe ficava era o seu dote. Os testamentos mostravam-se bastante complexos na era clássica grega tanto quanto na nossa época, e redigidos em termos quase idênticos. Neste ponto, como em outros, a legislação grega foi a base da legislação romana, que por sua vez forneceu os fundamentos legais do mundo ocidental.
2.2.2 A justiça
	A democracia do século de Péricles transferiu os poderes judiciais do Areópago para os arcontes na heliaea, ou júri popular. Em geral, esse júri perante o qual deviam ser julgados os casos era escolhido por sorteio no último momento, para evitar corrupção. Como a maioria dos julgamentos não durava mais que um dia, não se sabe de muitos casos de suborno nessas cortes.
	Nos tribunais, cada parte em juízo defendia os seus interesses e era obrigada a fazer pessoalmente a apresentação da causa. Mas como a complexidade dos processos aumentasse e os litigantes percebessem nos jurados uma certa inclinação a se deixarem levar pela eloqüência, espalhou-se o hábito de contratar um mestre de retórica, ou orador, versado em leis, para falar em nome da acusação ou da defesa.
	Segundo Durant (1955), foi desse tipo do litigante-retórico que nasceu o advogado. Na Grécia, sua antiguidade transparece numa observação de Diógenes Laércio (1987), de que Bias, o sábio de Priene, era um eloquente defensor de causas, sempre pondo o seu talento ao lado da questão justa. Alguns desses “advogados” trabalhavam junto às cortes como exegetas, ou intérpretes (em grego, εξηγητή), já que a proficiência legal de muitos jurados não era maior que a das partes litigantes. 
	Conforme o ordenamento jurídico grego, a testemunha devia comparecer e jurar a veracidade do seu depoimento quando o grammateus, ou escrivão da corte fizesse a leitura das provas para os jurados, pois estas eram comumente apresentadas por escrito. Não havia interrogatório. O testemunho de mulheres e menores só era aceito em julgamentos de crimes de morte; o dos escravos só se admitia quando forçados pela tortura; era tido como certo que fora da tortura o escravo mentiria.
	Para Durant (1955, p. 338),
O código grego não era tão esclarecido como o poderíamos esperar, e pouco se adianta ao de Hamurábi. O defeito básico estava na restrição dos direitos legais aos homens livres, os quais formavam apenas um sétimo da população. Mesmo as mulheres e crianças eram excluídos da orgulhosa isonomia dos cidadãos; metics, estrangeiros e escravos só podiam iniciar demandas por intermédio de um cidadão.
	E arremata enumerando aquilo que considera como “manchas” no sistema jurídico grego:
A extorsão siconfantica, a frequente tortura de escravos, a pena de morte para ofensas menores, os abusos nos debates forenses, a disseminaçãoe enfraquecimento da responsabilidade judicial, a suscetibilidade dos jurados às artimanhas da oratória, incapacidade de temperar as paixões do momento com as lições do passado e a previsão do futuro (DURANT, 1955, p. 338).
	Não obstante essas nódoas apontadas por Durant, as penalidades aplicadas pela justiça da Grécia antiga variavam entre o chibatamento, a multa, a anulação dos direitos de cidadania, o ferro em brasa, o confisco, o exílio e a morte; raramente se usava a prisão como castigo. Constituía princípio da justiça grega que o escravo devia ser castigado no corpo e o homem livre na propriedade.
	Crimes de morte, sacrilégios, traições e algumas ofensas que a nós parecem hoje sem importância eram punidos ao mesmo tempo com o confisco e a morte; mas uma provável condenação à morte em geral podia ser evitada antes do julgamento por um exílio voluntário e o abandono da propriedade. No caso de escravos, a morte podia ser realizada por espancamento contínuo. Quando se lavrava sentença de morte contra um homicida, a execução fazia-se por meio de um carrasco público, na presença dos parentes da vítima, como concessão aos hábitos tradicionais e ao espírito de vingança. 
REFERÊNCIAS
COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Martin Claret, 2002.
DURANT, Will. História da civilização – 2ª parte: nossa herança clássica (tomo I). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1955.
LAÉRCIO, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2. ed. Brasília: Editora UnB, 1987.
LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
SCALQUETTE, Rodrigo Arnoni. Lições sistematizadas de história do direito. São Paulo: Atlas, 2014.

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