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O DIREITO NAS ANTIGAS CIVILIZAÇÕES DO ORIENTE MÉDIO

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O DIREITO NAS ANTIGAS CIVILIZAÇÕES DO ORIENTE MÉDIO
Civilizações da antiguidade oriental
A civilização egípcia, as civilizações da Mesopotâmia (sumérios, babilônios, assírios, caldeus), a civilização hebraica e a civilização persa estão entre as primeiras e mais grandiosas da antiguidade. Situadas na região do crescente fértil, essas civilizações são comumente denominadas de “civilizações hidráulicas”, em razão de se localizarem nas proximidades de grandes bacias hidrográficas, como os rios Nilo, Indo, Jordão, Tigre e Eufrates.
	Essas civilizações são também conhecidas como impérios teocráticos de regadio. Teocráticos, porque adotavam a teocracia como forma de governo. A palavra teocracia significa governo de Deus ou dos deuses. Assim sendo, nessas antigas monarquias do Oriente Médio o soberano assumia um caráter divino ou sagrado. E de regadio, porquanto essas civilizações utilizavam as águas dos rios para irrigar e fertilizar o solo, tornando-o propício às práticas agrícolas e pastoris.
O modo de produção asiático
Nas civilizações da antiguidade oriental predominava o modo de produção asiático, baseado no regime de servidão coletiva, isto é, em relações servis de produção. Nesse sistema, a terra era propriedade formal do Estado, mas os camponeses e pequenos agricultores tinham o direito ao uso-fruto da terra, ou seja, podiam usar a terra e dela tirar o seu sustento e o de suas famílias.
	Em contrapartida, os camponeses deviam pagar tributos (impostos) ao Estado pelo uso-fruto da terra. Geralmente, os impostos eram pagos in natura, em forma de produtos agrícolas – cereais, como trigo, cevada e centeio –, havendo, desse modo, uma grande apropriação do excedente pelo Estado. 
	Além disso, quando não estavam produzindo na agricultura, os camponeses e pequenos agricultores eram obrigados a prestar serviços ao Estado, tanto no exército quanto nas construções de grandes obras, como estradas, diques, canais de irrigação, templos e palácios. Isso também era uma forma de pagar tributos ao Estado.
	Nas grandes cidades (Mênfis, Babilônia, Persépolis), estava o centro do poder, a administração do Estado: o rei ou imperador cercado por um aparelho burocrático, constituído pela nobreza, a casta sacerdotal, os escribas e os chefes militares. Todas essas categorias sociais viviam, nababescamente, à custa da exploração do trabalho de camponeses, artesãos e escravos.
	Assim, no espaço geográfico do crescente fértil e em perfeita articulação com as estruturas do modo de produção asiático, surgiram os primeiros sistemas jurídicos da história humana, a saber: o código de Hamurábi, a lei de Moisés, as leis egípcias e persas. Evidentemente, todos esses códices legais refletiam as condições materiais concretas – infraestrutura, forças produtivas, relações de produção – dos povos que os legaram à posteridade.
O código de Hamurábi
Considerado o mais antigo código de leis escritas da história, o código de Hamurábi é composto por 280 artigos e reúne normas sobre diversos temas, tais como adultério, roubo, homicídio, lesão corporal e questões de economia. Essas normas foram recolhidas, em grande parte, dos costumes jurídicos já praticados na Mesopotâmia. Mas, ao organizá-las num código, Hamurábi reafirmou a importância da função do rei como ordenador da vida social.
	As leis de Hamurábi estão gravadas numa estela de diorito encontrada em Susa, no Elam, em 1902. O texto do código sugere a existência de uma estela semelhante no Esagil, o templo de Marduc na Babilônia. Atualmente, a estela encontra-se no Louvre, em Paris. Ela mede cerca de dois metros de altura. No alto, há um baixo-relevo que mostra Hamurábi em pé diante de Samas, o deus da justiça, sentado num trono, que lhe entrega as insígnias reais – anel e cetro.
Hamurábi e a Babilônia de seu tempo
Filho de Sin-mubalit, Hamurábi (1728-1686 a.C.) foi o sexto rei da primeira dinastia dos amorreus da Babilônia. Quando subiu ao trono, era um rei vassalo da dinastia elamita de Larsa. Por uma série de guerras que perdurou durante os primeiros trinta anos de seu reinado, ele conquistou Isin, Larsa, Esnuna e Mari, criando um império que se estendia do Golfo Pérsico ao Mediterrâneo. Esse império durou de 1700 a 1550 a.C..
	Hamurábi foi um grande construtor de estradas, de canais e de templos. Esforçou-se bastante para unificar seu império política e culturalmente. A cultura babilônica que surgiu durante o seu governo foi uma duradoura fusão de elementos sumérios e acádios. Seu interesse na organização da sociedade demonstra-se em sua grande coleção de leis.
	À época de Hamurábi, Babilônia alcançou o seu primeiro período de glória. O 1º império babilônico, por ele estabelecido, foi um Estado burocrático, rigidamente administrado, que assegurou a seus habitantes – pelo menos por algum tempo – paz interna e segurança externa, fazendo florescer e se desenvolver a agricultura, o comércio e as artes.
	A cidade da Babilônia erguia-se na margem esquerda do rio Eufrates, não muito ao Sul da atual Bagdá, no ponto onde o Tigre e o Eufrates mais se aproximam. Trata-se de uma extensa planície de aluvião, cujo solo é enriquecido pelos sedimentos dos dois rios, cujos cursos, aliás, são devastadores quando não controlados por reservatórios e canais. 
	Na antiga Babilônia havia oito portas, cada qual dando para uma ampla rua; as ruas transversais dividiam a cidade em vários bairros. Duas pontes atravessavam o Eufrates. A cidade possuía cinquenta e três templos, o maior dos quais era o Esagil, o templo de Marduc, com sua torre ou zigurate, a célebre torre de Babel. Nesse templo se encontrava a estátua de Marduc, do qual o rei recebia todo ano a sua realeza. 
	No entanto, o império dos amorreus iria cair sob os golpes da invasão dos cassitas, que assumiram então o trono da Babilônia. Muito pouco se sabe sobre o período cassita (1530-1160 a.C.), mas a importância de Babilônia como centro cultural fora tão solidamente estabelecida por Hamurábi que não mais se perdera.
O sistema jurídico hamurábico
Os 282 artigos do código de Hamurábi estão dispostos sob os seguintes títulos: delitos contra a administração da justiça; delitos contra a propriedade; terra e casas; comércio; casamento, família e propriedade; injúria; profissões várias; agricultura; salário e aluguel; escravos. 
	A formulação empregada nas leis é do tipo chamado casuística; a situação é descrita numa cláusula condicional, e o período principal, isto é, a lei dominante, está disposta na apódose. Parece que essa formulação reflete a decisão judicial dos casos. Embora as leis sejam geralmente chamadas de código de Hamurábi, essa designação não é inteiramente correta, já que a coleção não é – nem tinha a intenção de ser – uma codificação completa da lei existente.
	As leis estão dispostas entre um prólogo e um epílogo. No prólogo, Hamurábi proclama-se rei nomeado pelos deuses; diz que trouxe paz, justiça, e boa ordem à terra, quer por suas conquistas, que pacificaram a área, quer por sua promulgação das leis. Afirma sua devoção aos deuses, enumerando os templos que construiu ou restaurou durante seu reinado. O epílogo contém outro panegírico sobre a justiça do governo de Hamurábi, especialmente para o que concerne à proteção dos pobres, dos fracos e dos oprimidos, agora defendidos por suas leis, e termina com uma extensa imprecação formal contra quem ousar mudar suas leis.
	Entre as características principais do sistema jurídico hamurábico, destaca-se primeiramente o princípio de talião, que diz: “olho por olho, dente por dente, braço por braço”. O termo “talião” significa retaliação e tem sua origem etimológica no latim – talis = tal, igual.
	Uma segunda característica era a administração da justiça em caráter semiprivado. Incumbia à própria vítima ou à sua família trazer o ofensor à justiça. O tribunal funcionava principalmente como árbitro na disputa entre o queixoso e o réu, e não como um agente do Estado para manter a segurança pública, embora os agentes da lei pudessem auxiliar a execução da sentença.Outro ponto marcante da legislação hamurábica era a desigualdade perante a lei. O código dividia a população em classes distintas: nobres, pessoas comuns, servos e escravos. Desse modo, em geral, as penalidades eram aplicadas de acordo com a classe da vítima, mas também, em alguns casos, de acordo com a classe do ofensor.
	Finalmente, caracterizava o código uma distinção insuficiente entre o homicídio acidental e o intencional. A pessoa responsável pela morte acidental de outra não estava isenta de punição, como acontece modernamente, mas tinha de pagar uma multa à família da vítima, baseando-se isso, aparentemente, na teoria de que os filhos eram propriedade dos pais e as esposas, propriedade dos maridos.
	Para Cotrim (2005, p. 45),
No Código de Hamurábi encontramos um meio para limitar a extensão da pena: é o princípio de talião, pelo qual a pena não seria uma vingança arbitrária e desmedida, mas proporcional à ofensa provocada pelo criminoso (“olho por olho, dente por dente”). Esse princípio contém a preocupação de limitar a pena como uma retribuição proporcional ao crime. Assim, por exemplo, se alguém furasse o olho de outro, seu olho também seria furado; se arrancasse os dentes de outro, seus dentes também seriam arrancados. Quando analisamos hoje as penas do Código de Hamurábi, elas podem nos parecer brutais. No entanto, para a época, o princípio de talião era considerado expressão da justiça.
	Uma comparação das leis de Hamurábi com outras matérias legais antigas mostra que uma lei comum consuetudinária devia existir na região do crescente fértil, numa fase bem mais anterior. De qualquer forma, essas leis são a fonte de informação mais importante sobre a vida, os costumes, a economia e a estrutura da sociedade mesopotâmica no segundo milênio antes da era cristã.
A lei de Moisés
O termo hebraico Tôrah (Torá) é o mais comum para designar a lei no judaísmo. Na Bíblia cristã a Torá é o equivalente ao Pentateuco, conjunto dos cinco primeiros livros do Antigo Testamento – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. As tradições judaica e cristã atribuíram a autoria do Pentateuco a Moisés, não obstante a crítica exegética e teológica levantar algumas questões, sugerindo que as origens e a composição do Pentateuco são bem mais complexas do que aparentam ser. De qualquer forma, o Pentateuco é sempre denominado o livro de Moisés ou a lei de Moisés.
Moisés
Em que pese sua enorme importância histórica para Israel, as tradições judaicas não se esforçaram por delinear a personalidade de Moisés, que certamente é uma das figuras menos retratadas do Antigo Testamento. Mas, apesar da complexidade das tradições escritas e orais que a ele se referem, elas revelam um caráter pessoal coerente, que permanece identificável como tal mesmo através do curso dos acontecimentos.
	Além disso, não há informações extra-bíblicas sobre Moisés. A informação bíblica não é homogênea. As narrativas às quais a crítica literária atribui uma data mais antiga são da maior importância. As narrativas posteriores ao Pentateuco e as outras alusões a Moisés no Antigo Testamento dependem das narrativas anteriores no que se refere aos dados históricos.
	Todavia, isso não significa colocar em dúvida a sua existência ou a sua importância como fundador de Israel e de muitas instituições judaicas, que nenhum historiador moderno nega. Na verdade, isso apenas demonstra que as tradições relativas a Moisés são em grande parte fruto de reconstruções dos narradores judeus.
	Sendo assim, de acordo com o relato bíblico (Ex. 2), Moisés foi salvo de infanticídio pela mãe e a irmã, sendo adotado por uma princesa egípcia, que o educou como escriba. Consciente de sua origem hebraica, ele tentou defender seus compatriotas e suavizar o seu jugo, mas foi obrigado a se esconder em Madiã, onde se uniu a uma tribo nômade e desposou uma mulher madianita.
	Ainda segundo o livro do Êxodo, Moisés tem a visão de uma sarça ardente, na qual uma divindade que se identifica com o Deus dos Patriarcas de Israel revela o seu nome como sendo Javé ou Iahweh e lhe ordena que conduza os hebreus para fora do Egito, até Canaã. Acompanhado pelo irmão Aarão, Moisés apresenta o pedido ao faraó, que o repele.
	Aceitando a guia de Moisés, os hebreus aceitaram a mesma divindade que era adorada por seus Patriarcas e à qual tradições ainda mais antigas atribuíam a migração de seus pais para Canaã.
	Após vencer a resistência implacável do faraó com as famosas “pragas do Egito”, os filhos de Israel conquistaram sua libertação e deixaram o solo egípcio, depois de terem celebrado a Páscoa pela primeira vez. As alterações do humor pusilânime do faraó, que queria de volta seus servos hebreus, provocaram um dos episódios mais deslumbrantes dessa verdadeira saga judaica: a travessia do Mar Vermelho a pé enxuto. Em seguida, os israelitas passaram por Mara, nutriram-se com o maná e as codornizes, beberam a água do rochedo, colocaram os amalecitas em fuga, encontraram Jetro, sogro de Moisés, que também adorava Iahweh e que aconselhou o genro a instituir os juízes.
	Finalmente, Moisés morreu antes que os hebreus atravessassem o Jordão. É muito significativo o fato de que o lugar de sua sepultura se mantivesse desconhecido, não havendo qualquer indício de que algum lugar tenha sido jamais reivindicado como tal.
	Para Altavila (2004, p. 19), “nenhum outro povo encontrou um condutor de destino que se igualasse a Moisés”. Na sua concepção, Moisés foi verdadeiramente legislador e estadista. Legislador, quando redigiu uma nova lei e incutiu os fundamentos de um direito. Estadista, quando proveu o seu povo e estabeleceu regras legais para o culto, para a economia e para a higiene.
	Na verdade, Moisés não é apresentado como um santo: a tradição concorda em considerar que um pecado o teria impedido de entrar na “terra prometida”. De certa forma, essa conclusão poderia ser fruto de uma reflexão teológica: para o pensamento israelita, o fato de que Moisés não tenha vivido o suficiente para poder ver o êxito final de sua direção só poderia representar o castigo por um pecado.
	Na tradição judaica, Moisés é simplesmente o fundador de Israel. E nenhum atributo menor que esse poderia justificar o lugar que ele ocupa nessa tradição. Os historiadores modernos mostram-se pouco propensos a colocar em dúvida a validade dessa tradição, muito embora, em certa medida, a tradição tenha ampliado a obra de Moisés.
A legislação mosaica
A lei de Moisés ou Torá está contida no Pentateuco, principalmente em um conjunto de coleções denominadas impropriamente de códigos. Essas coleções normativas encontram-se assim distribuídas: o decálogo, o código da aliança, o código ritual javista, o código deuteronômico, o código da santidade e o código sacerdotal. Para a história do direito são particularmente interessantes o código da aliança e o código deuteronômico, em virtude da formulação de leis civis e criminais.
	O nome “código da aliança” provém da expressão “o livro da aliança” (Ex. 24,7). Os estudiosos concordam em que ele seja o mais antigo dos códigos depois do decálogo; alguns colocam-no antes do decálogo. Sua data só pode ser determinada de maneira relativa, e é deduzida do ambiente social e econômico que lhe serve de fundo. Não se trata de uma vida nômade; logo, o código pressupõe a posse de gado, cisternas, campos de trigo e plantações de vinha.
	Por outro lado, suas escassas referências à propriedade real e a ausência de referências a transações comerciais pressupõem um período anterior à monarquia. Sua data, portanto, deve situar-se mais provavelmente no período pré-monárquico. As leis civis e criminais, que mostram diversos pontos de contato com o código de Hamurábi, são a adaptação israelita da lei costumeira Cananéia ao próprio povo de Israel.
	Já o código deuteronômico, por sua vez, apresenta uma sociedade urbano-agrícola mais complexa do que o código da aliança; principalmente, seus requintes relativos à lei da vingança do sangue, distinguindo o homicídio voluntário do casual, são evidentes.O código deuteronômico se sobressai dentre outras coleções por causa de seu tom de exortação; as leis são mais pregadas do que promulgadas.
	O estilo do código deuteronômico foge facilmente de qualquer tipo de formulação encontrada em outros códigos antigos do Oriente Médio. Como um todo, o código deuteronômico representa uma transformação israelita da lei habitual e do uso comum que ele contém. Essa transformação afeta não somente a prática da lei em seus detalhes, mas também o espírito segundo o qual a lei foi concebida e expressa.
	A formulação casuística da lei é encontrada nas leis civis e criminais do código da aliança. A mesma formulação é empregada no código deuteronômico com as modificações estilísticas próprias do Livro do Deuteronômio. Há certas variantes relativas a esta formulação na lei israelita, porém não em outras leis antigas do Oriente Médio; em vez da oração condicional, emprega-se o particípio, ou a oração relativa. A primeira é ilustrada por Ex. 21,15: “Quem ferir seu pai ou sua mãe será morto”. A segunda é ilustrada por Lv. 20,10: “O homem que cometer adultério com a mulher de seu próximo deverá morrer, tanto ele como a sua cúmplice”.
	Entretanto, na parte final do código da aliança e na maioria dos outros códigos, aparece uma formulação cuja forma clássica é encontrada no decálogo: um simples imperativo ou proibição expressa na segunda pessoa do singular e no imperfeito. A segunda pessoa do plural é usada ocasionalmente. Esta formulação não encontra paralelo em outras coleções do antigo Oriente Médio. Além disso, ela é empregada nas leis morais e rituais-cultuais, e não em leis civis e criminais.
	Burns (1986) assevera que, em geral, as disposições do direito hebraico são mais esclarecidas que as do código de Hamurábi. E, ainda que estejam intimamente ligadas à religião, não deixam de apresentar relevantes aspectos seculares.
	De fato, sob o ponto de vista social e humanista, a Torá pode ser considerada um grande avanço. Exemplos disso são algumas das suas disposições, tais como: a que recomenda a liberalidade para com o pobre, o estrangeiro, o órfão e a viúva; a que ordena a libertação do escravo hebreu após seis anos de serviços prestados e insiste em que não seja mandado embora de mãos vazias; e aquela que estipula que os juízes e outros funcionários devem ser escolhidos pelo povo e proíbe que aceitem presentes ou mostrem qualquer forma de parcialidade.
	Portanto, há que se concordar com Altavila (2004), quando, refletindo acerca da importância histórica e social da lei de Moisés, afirma que nela se encontram normas jurídicas que influíram não somente no direito que a sucedeu, senão também no próprio direito moderno. 
A lei no antigo Egito
Muito desenvolvida se apresentava a legislação civil e criminal da antiga civilização egípcia; e já na quinta dinastia a lei reguladora da propriedade privada e da herança era intrincada e precisa. Só havia igualdade perante a lei quando as partes contendoras ocupavam a mesma posição social. 
	Os casos eram apresentados aos juízes e debatidos, sempre sob forma escrita, nunca pela oratória. Havia cortes regulares, que iam das locais até as supremas cortes de Mênfis, Tebas e Heliópolis. Não existia nenhuma organização policial; mesmo o exército raramente era empregado para a disciplina interna. A segurança da vida e da propriedade, e a continuidade do governo e da lei repousavam inteiramente no prestígio do faraó.
	Às vezes, nos interrogatórios, usavam a tortura como parteira da verdade. Uma das penas usuais era o espancamento; e em casos mais graves, a mutilação de partes do corpo (nariz, orelhas, mãos ou língua), o exílio nas minas ou a morte por estrangulamento, decapitação, empalação, bem como queimado na fogueira. O perjúrio, por exemplo, considerado como crime grave, era punido com a morte. A pena mais severa consistia no embalsamamento em vida, quando o condenado era aos poucos devorado por uma camada do corrosivo natro. Os criminosos das classes altas escapavam à vergonha da execução pública; era-lhes permitido o suicídio.
Leis persas
O orgulho da antiga Pérsia consistia em afirmar que suas leis nunca mudaram, e que uma promessa ou decreto do rei eram irrevogáveis. Em seus editos e julgamentos o rei supunha-se inspirado pelo próprio deus Ahura-Mazda; por isso a lei do rei representava a vontade divina, e os delitos se perpetravam contra a deidade. Competia ao rei a função de supremo tribunal, mas o costume era a delegação dessa função a um homem da corte. Abaixo do rei vinha a Alta Corte de Justiça, com sete membros, e depois as cortes locais, espalhadas pelo império.
	Os sacerdotes formulavam a lei e, por muito tempo, funcionaram como juízes. Havia o uso da fiança nos casos de menor vulto, e o processo seguia tramites regulares. As cortes tanto decretavam recompensas como castigos; e levavam em conta, como atenuantes, os serviços prestados pelo acusado. Para evitar as delongas havia prazos; e também havia conciliação. À medida que as leis foram adquirindo complexidade, formou-se uma classe de homens, denominados “relatores da lei”, para explicá-las aos litigantes e ajudá-los na condução de suas causas.
	Os delitos menores puniam-se com a chibata – de cinco a duzentos golpes. A administração da lei era parcialmente financiada pela comutação das chibatadas em multas, à razão de seis rúpias cada. Os crimes mais sérios puniam-se com a marca a fogo, o aleijamento, a mutilação, a cegueira, a prisão e a morte. 
	A pena de morte cabia em casos de traição, estupro, sodomia, homicídio, onanismo, intrusão na intimidade dos reis, aproximar-se das suas concubinas, sentar-se acidentalmente no trono, ou qualquer ato que desagradasse à casa reinante. A letra da lei proibia que alguém, mesmo o rei, condenasse uma pessoa à morte por um crime comum.
	A aplicação da pena de morte fazia-se por meio do veneno, da empalação, da crucificação, do enforcamento, do apedrejamento, do enterro do corpo até o pescoço, do esmagamento da cabeça entre duas pedras ou do assamento em brasas. Alguns desses ferozes castigos foram legados aos invasores turcos e depois entraram para a herança geral da humanidade.
REFERÊNCIAS
ALTAVILA, Jayme. Origem dos direitos dos povos. 10. ed. São Paulo: Ícone, 2004.
ARRUDA, José Jobson de Andrade. História antiga e medieval. 4. ed.. São Paulo: Ática, 1981.
BURNS, Edward Mcnall. História da civilização ocidental (vol. 1). Rio de Janeiro: Globo, 1986.
COTRIM, Gilberto. História global: Brasil e geral. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
DURANT, Will. História da civilização: 1ª parte – nossa herança oriental (tomo 1º). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1954.
MACKENZIE, John. Dicionário bíblico. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 1983.

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