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CARDIORRESPIRATORIO • Resistência do incentivador respiratório • Função pulmonar antes e após cirurgia de revascularização do miocárdio PILATES • Aderência no Pilates solo SAÚDE DA MULHER • Fotobiomodulação no tratamento de traumas mamilares TRAUMATO • Fratura do tornozelo • Avaliação funcional de acidentados de trânsito NEUROFUNCIONAL • Dança e hemiparesia • Acidente vascular cerebral e escalas de funcionalidade Fisioterapia B rasil - V olum e 1 4 - N úm ero 1 - Janeiro/ Fevereiro de 2 0 1 3 Fi sio ter ap iaB r a s i l An o 1 4 - n o 1 ISSN 1518-9740 Ph ys ic al T he ra py B ra zi l Janeiro / Fevereiro de 2013 www.atlanticaeditora.com.br 14 anos MR Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 20134 © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, ele- trônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. Fisioterapia Brasil Editor Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Conselho científico Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA) Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto) Dirceu Costa (Uninove – São Paulo) Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná) Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina) Jamilson Brasileiro (UFRN) João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo) Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul) José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP) José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC) Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ) Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos) Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ) Neide Gomes Lucena (UFPB) Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí) Grupo de assessores Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro) Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX Abreviação para citação: Fisioter Bras E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br www.atlanticaeditora.com.br Diretor Antonio Carlos Mello mello@atlanticaeditora.com.br Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: assinaturas@atlanticaeditora.com.br Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 260,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin jeanlouis@atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias guillermina@atlanticaeditora.com.br Direção de arte Cristiana Ribas cristiana@atlanticaeditora.com.br 5Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 Fisioterapia Brasil P h y s i c a l T h e r a p y B r a z i l (vol. 14, nº 1 janeiro/fevereiro 2013 - 1~80) EDITORIAL Engolindo pedras e outras coisas, Marco Antonio Guimarães da Silva .......................................................................................... 6 ARTIGOS ORIGINAIS Análise da resistência do incentivador respiratório em indivíduos jovens, Maria do Socorro Luna Cruz, Shirley Gabriélle Galvão de Morais Pinheiro, Thaianna Luíza de Lima Rodrigues, Melissa Pinto Gurgel, Paula Roquetti Fernandes, José Fernandes Filho, Fernando Policarpo Barbosa ................................................................................. 8 Comparação dos determinantes de risco para o desenvolvimento infantil entre pré-escolares de escola pública e particular na cidade do Recife/PE, Rebeca de Oliveira Silva, Cristiana Maria Macedo Brito, Ana Karolina Pontes de Lima, Cláudia Fonseca de Lima ............................................................... 14 Fotobiomodulação como uma nova abordagem para o tratamento de traumas mamilares: um estudo piloto, randomizado e controlado, Angélica Rodrigues de Araújo, Ana Luiza Valério do Nascimento, Juliana Moreira Camargos, Fernanda Souza da Silva, Natasha Valeska Maia Gonçalves de Faria ...................................................................................................................................... 20 Análise cinemática da passada normalizada e frequência da marcha de idosos com gonartrose após mobilização pelo conceito Maitland, Alan Lopes de Oliveira, Thiago Rebello da Veiga, Chang Che Yuan, Fabiano Gaspar da Silva Affonso Pereira, Marcello Paz Soares Felicio, Andre Custodio da Silva ........................ 27 Prevalência das principais patologias consideradas doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Araçatuba/SP, Amanda Cristina Gonçalves, Julye Kellen Carvalho da Silva, Fernando Henrique Alves Benedito, Simone Galbiati Terçariol ..................................................................................................................................... 33 Avaliação funcional dos acidentados de trânsito atendidos em um serviço de fisioterapia, Samara Sousa Vasconcelos Gouveia, Guilherme Pertinni de Morais Gouveia, Samila Sousa Vasconcelos, José Gomes Bezerra Filho ..................................................................................................................... 38 Comparação da função pulmonar no pré e pós-operatório de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca aberta de revascularização do miocárdio de um hospital filantrópico de Feira de Santana/BA, Cassio Magalhães da Silva e Silva, André Raimundo França Guimaraes, Ivana Oliveira DeLamonica Freire, Abner Portugal Tavares, Quétla Damiane Teles de Oliveira, Rebeca Santos Sampaio ..................................................................... 44 Aderência de pessoas no Pilates solo, Eliana Cristina Pereira, Rafaela Liberali, Charles Ricardo Lopes, Ticiane Marcondes Fonseca da Cruz, Maria Ines Artaxo Netto, Helena Brandão Viana, Gustavo Ribeiro da Mota........................ 49 Efeito da dança sênior no equilíbrio e no risco de quedas em hemiparéticos pós acidente vascular encefálico, Lucas Andreo Dias dos Santos, Patrícia Cristina de Carvalho, Soraia Micaela Silva, Silvia Sper Cavalli, João Carlos FerrariCorrêa, Fernanda Ishida Corrêa ......................................................................................... 56 REVISÕES Tratamento fisioterapêutico no pós-operatório de fratura do tornozelo, Diogo Carvalho Felicio, Valnez de Alcantara Halfeld, George Schayer Sabino, Daniele Sirineu Pereira, Alexandra Miranda Assumpção, Barbara Zille de Queiroz ............................................................................................................. 61 Acidente vascular cerebral e sua correlação com escalas de funcionalidade, Fernanda Cechetti, Priscila Stuani, Renata Paniz ........................................................................................................................... 72 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ...........................................................................................................................................78 EVENTOS ...........................................................................................................................................................................80 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 20136 Editorial Engolindo pedras e outras coisas Interrompo a revisão que faço do que já escrevi do meu quinto romance para atender a um telefonema do editor executivo da revista Fisioterapia Brasil. Com seu acento pro- nunciadamente francês, ele me cobra o editorial. Já há algum tempo não escrevo para a revista, e, para fazê- -lo novamente, preciso tomar alguns cuidados; afinal, como escritor ficcionista, sou escravo de minhas próprias mentiras, mas aqui não me é permitido inventar histórias, contando verdades que não são verdadeiras. Aqui não poderei ceder à força da ficção e deixar que a imaginação voe alto. Tampouco poderei, como faço em meus livros, exercitar a minha especulação silenciosa e egoisticamen- te individual, ferramenta imprescindível a qualquer escritor. Também não terei tempo de escrever através da linha do tempo; o prazo que me foi dado não vai permitir, caso haja algum arrependimento do tipo querer voltar atrás para reescrever alguma coisa, seja para buscar uma sonoridade melhor para uma ou outra palavra do texto, seja para mudar de opinião, ou até mesmo – como dizia Clarice Lispector – para impedir que as palavras esmaguem as entrelinhas. Porque se fizer isso, volto atrás e conserto as coisas. Esse talvez seja o maior instrumento que um escritor possui: ser senhor absoluto do tempo, retornar nesse tempo e ter o poder de desdizer amanhã o que disser hoje. Mas aqui, nada de ficção. Já recebi indultos mais do que suficientes por parte da editoria executiva da revista, que me tem permitido escrever crônicas que fogem do objeto da revista e, ousadamente, à luz de pobres conceitos filosóficos e antropológicos, analisar a conduta de nossa sociedade, sociedade essa cujo comportamento nos oferece material suficiente para escrever uma centena ou talvez, para os mais profícuos, milhares de livros. Já que falamos de tempo (me perdoem se volto a fazer uma digressão), aproveitarei a mitologia para fazer a minha leitura sobre a eleição de um senhor para a presidência do Senado, que a minha memória, muito seletiva, recusa-se a lembrar, e que eu, por comodidade, também não me esforço para descobrir, apesar das facilidades oferecidas pelo Google. Conta a história que Cronos, rei dos Titãs, ao saber que um de seus filhos o mataria, resolvera engoli-los tão logo nasciam. Zeia, sua mulher, cansada de ver o marido exter- minar seus filhos, resolve enganá-lo, envolvendo uma pedra na manta do seu sexto filho, Zeus. Ele cresce e resolve vingar os irmãos, combate e vence Cronos, reinando supremo em todo o Universo. Pois bem, analogias à parte e guardadas as devidas pro- porções, soube que esse senhor engoliu as milhares de assi- naturas feitas para evitar a sua posse, sem dar sinais de que lhe pudessem causar qualquer tipo de distúrbio digestivo. Engoliu-as e sorriu, talvez porque soubesse que a lealdade de seus pares e subordinados não o trairia. Engolia também, naquele momento, a democracia, paradoxalmente pensando que os milhares de votos que recebera de seus incautos elei- tores o credenciavam a tomar tal atitude. Incautos eleitores que, por sinal, são em número muito maior do que podemos imaginar, a julgar pela quantidade de congressistas atrelados às barras da lei que elegeram em outras instâncias. Oxalá apareça uma Zeia da contemporaneidade, que consiga enganá-los e que consiga igualmente fazê-los engolir algo que os faça vomitar toda e qualquer vontade de se dedicar à vida pública. Marco Antonio Guimarães da Silva *Professor Associado da UFRRJ e de Doutorado no exterior. O Centro Universitário de referência na área de saúde, com os melhores cursos do Rio de Janeiro em Fisioterapia, Psicologia e Biomedicina, oferece cursos de Pós-Graduação com a qualidade intecom a qualidade internacional Laureate, a maior rede de universidades do mundo. Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 20138 Análise da resistência do incentivador respiratório em indivíduos jovens Resistance analysis of incentive spirometry in young individuals Maria do Socorro Luna Cruz, M.Sc.*, Shirley Gabrielle Galvao de Morais Pinheiro**, Thaianna Luiza de Lima Rodrigues**, Melissa Pinto Gurgel, M.Sc.***, Paula Roquetti Fernandes, D.Sc.****, Jose Fernandes Filho, D.Sc.*****, Fernando Policarpo Barbosa, D.Sc.****** *Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdades de Ciências Médicas - FCM/PB, Mestre em Ciências da Motricidade Humana pela UCB/RJ e Doutoranda pela Universidad Pedro de Valdivia-UPV/Chile, **Graduada pela Universidade Potiguar/UnP e Fisio- terapeuta da FISIOAR, **UFRN, ****Doutora do Centro de Excelência de Avaliação Física-CEAF/RJ, *****Professor da Universi- dade Federal do Rio de Janeiro/URFJ e Pesquisador do Centro de Excelência de Avaliação Física-CEAF/RJ, ******Professor Doutor da Faculdades Integradas de Patos-FIP/PB, Professor Coordenador do Facisa em Movimento da Faculdade de Ciências Médicas- -FCM/PB e Pesquisador do Centro de Excelência de Avaliação Física-CEAF/RJ Resumo A inspirometria de incentivo técnico na fisioterapia, que promo- ve o aumento da resistência nas vias aéreas, é comumente utilizada na recuperação e reabilitação da função pulmonar. O estudo teve por objetivo investigar a resistência gerada através da pressão inspi- ratória máxima (PImáx) no momento da execução da terapêutica do incentivador respiratório a fluxo, nos níveis do equipamento R0, R1, R2, R3 em 71 voluntários de ambos os sexos, idade entre 18 e 35 anos. Foram divididos em subgrupos, utilizando índice de massa corpórea (IMC) como variável determinante, obtendo-se subgrupos masculinos G1 (IMC = 22,48m/kg2; n = 10) e o G2 (IMC = 26,71 m/kg2; n = 20) e os subgrupos femininos G3 (IMC = 20,86 m/kg2; n = 26) e o G4 (IMC = 25,15 m/kg2; n = 15). Foram realizadas três mensurações de PImáx, e após cada medida o voluntário identificava o nível de esforço pela escala de percepção subjetiva de esforço (PSE) de Borg. A estatística aplicada foi descritiva e inferencial, análise de Cluster, teste t, Post Hoc de Bonferone e Kolmogorov-Smirnov. Conclui-se que a intensidade gerada pelo inspirômetro de incentivo é de leve a moderada para os níveis 1, 2 e 3, podendo atingir inten- sidades superiores a 80% em indivíduos com sobrepeso. Palavras-chave: inspirometria, manuvacuometria, adulto jovem. Artigo original Abstract Incentive spirometry is a physical therapy technique that pro- motes resistance in the air track has been commonly used in the recovery and rehabilitation of pulmonary functions. The present study investigated the resistance generated through maximum inspiratory pressure during therapy sessions with flow-oriented incentivespirometry, the equipment operating on levels R0, R1, R2, R3 in 71 volunteers from both genders, aging between 18 and 35. They were divided into subgroups, utilizing body mass index (BMI) as the determinant variable, obtaining male subgroups G1 (BMI = 22.48m/kg2; n = 10) and G2 (BMI = 26.71 m/kg2; n = 20) and the female subgroups G3 (BMI = 20.86 m/kg2; n = 26) and G4 (BMI = 25.15 m/kg2; n = 15). Three MIP measurements were obtained, after which the volunteer identified the effort level by Borg’s Rating of Perceived Exertion (RPE).Statistics applied were descriptive and inferential, Cluster analysis, T test, Post Hoc Bonferone and Kolmogorov-Smirnov. This study concluded that the intensity generated by incentive spirometry is light to moderate on levels 1, 2, and 3, possibly reaching intensity higher than 80% for over-weight individuals. Key-words: spirometry, manometer, young adult. Recebido em 22 de novembro de 2011; aceito em 12 de junho de 2012. Endereço para correspondência: Maria do Socorro Luna Cruz, Rua Prof. Luiza Soares, 199/102B Alto Branco 58401-405 Campina Grande PB, E-mail: socorrolcruz@gmail.com 9Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 Introdução Os procedimentos e equipamentos utilizados na reabili- tação motora e/ou funcional aplicados na fisioterapia estão fundamentados na confiabilidade e fidedignidade dos mesmos [1]. Hoje, a expectativa de recuperação das capacidades do sistema respiratório em sua complexidade encontra-se rela- cionada ao fortalecimento da musculatura respiratória, com o objetivo de restabelecer as pressões estáticas, assim como os volumes e capacidades pulmonares [1-3]. Entre os métodos de intervenção aplicada na recupera- ção da expansibilidade torácica e fortalecimento muscular destaca-se a inspirometria de incentivo. O instrumento promove uma resistência nas vias aéreas, sendo comumente utilizado na recuperação pós-cirurgias torácicas ou no período pré-operatório de indivíduos obesos submetidos à cirurgia bariátrica [4-6]. A intervenção por meio desta terapêutica é considerada satisfatória e confiável [8]. No entanto, há um ponto a ser investigado quanto ao procedimento, enquanto método de fortalecimento muscular, dentro dos pressupostos do conceito volume/intensidade, a aplicação de cargas deve promover estímulos superiores aos habituais de maneira a promover adaptações positivas. Fato esse que não é questionado no caso do inspirômetro de incentivo, já que os resultados obtidos têm demonstrado melhorias significativas para os volumes e capacidade pulmo- nares, assim como para as pressões estáticas máximas [8-9]. No entanto, o resultado esperado pode ser comprometido, uma vez que indivíduos com baixa aptidão respiratória são incapazes de exercer esforço inspiratório suficiente para vencer a resistência gerada pelo inspirômetro de incentivo, o que dificulta também, as manobras recomendadas no protocolo de alcançar e sustentar volumes inspiratórios máximos. A manobra da inspirometria de incentivo é comprometida pela falta de habilidade de realizar a técnica, fraqueza muscular e a dor. Pontos que poderiam ser atenuados pelo profissional ao se saber qual o esforço gerado em cada nível de resistência do inspirômetro de incentivo [10]. Sendo assim, passa a ser importante investigar qual seria a resistência gerada nas vias aéreas e a força promovida na aplica- ção da técnica. O conhecimento dessa resistência possibilitará ajustes na terapêutica dentro de parâmetros correspondentes à capacidade física avaliada [7-9]. Diante do exposto, surgiu a necessidade de investigar a resistência gerada na pressão inspiratória máxima no momento da execução da terapêutica do incentivador respiratório a fluxo, nos diferentes níveis de graduação do equipamento R0, R1, R2 e R3 e comparar os valores obtidos entre indivíduos jovens. Material e métodos O delineamento deste estudo foi do tipo analítico corre- lacional exploratório de corte transversal, no qual se buscou estabelecer a relação entre as variáveis de estudo sem que houvesse uma identificação da causa efeito entre elas. Para tanto, foi constituída uma amostra intencional com 71 voluntários, alunos de um curso de fisioterapia, de ambos os sexos, com idades entre 18 e 35 anos. Todos receberam as informações e esclarecimentos sobre os possíveis riscos e desconfortos dos testes, com a subsequente assinatura do termo de consentimento livre esclarecido. O presente estudo foi submetido e aprovado pelo comité de ética em pesquisa, (protocolo nº081/2009). Procedimentos Os indivíduos responderam a anamnese e em seguida foi mensurada a massa corporal e estatura por meio dos respecti- vos equipamentos: balança eletrônica digital Toledo [10] com capacidade de 150 kg e acuidade de 50 g com o estadiometro acoplado com escala em centímetros. As pressões inspiratórias e expiratórias máximas (PImáx e PEmáx) foram determinadas por meio do manovacuômetro Gerar Ind. Brasil com limite operacional de -300 a +300 cmH2O. Os indivíduos foram previamente esclarecidos quanto aos procedimentos da manovacuometria, recebendo o treinamento com o objetivo de familiarização do protocolo. Em seguida foram realizadas três mensurações de PImáx e PEmáx, considerando-se a maior medida quando houves- se uma diferença menor que 10% entre elas, conforme as recomendações da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) [10]. Para determinação do nível de resistência gerada pelo in- centivador respiratório a fluxo utilizou-se um manovacuôme- tro acoplado através de um tubo T e traquéia ao incentivador respiratório (Figura 1 e 2), onde os indivíduos efetuaram a manobra ventilatória necessária para elevar as respectivas es- feras: R0, R1, R2 e R3 caracterizando os graus de resistência do aparelho. No momento da determinação da resistência do inspirometro de incentivo, o voluntário encontrava-se sentado com os pés apoiados e joelhos a 90º graus, com as costas recostadas e o tronco ereto formando ângulo de 90º graus com a articulação coxofemural. A cabeça posicionada seguindo o plano de Frankfurt; de forma que pudesse obter a visualização das esferas do incentivador respiratório a fluxo. Foi estabelecido um intervalo de recuperação entre as medidas das resistências compatível ao nível de aptidão física de cada indivíduo, porém com o mínimo de trinta segundos e o má- ximo de dois minutos entre cada medida, como recomendado pelas diretrizes para provas de função pulmonar [10]. Após cada tentativa o voluntário identificou na escala de percepção subjetiva de esforço (PSE) de Borg o nível de esforço gerado. Análise estatística Para estabelecer as relações entre as variáveis de estudo foi aplicada estatística descritiva e inferencial, seguida dos seguintes tratamentos: para formar os subgrupos aplicou- Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 201310 > 0,05 (Tabela I). O ponto de relevância para as diferenças observadas nas variáveis MC e IMC foi permitir e analisar a possível influência dessas variáveis sobre os valores e padrões das pressões inspiratórias máximas para os subgrupos. Na Tabela II são apresentados os valores médios para as variáveis respiratórias. Tanto a PImáx como a PEmáx do G1 foram significativamente diferentes quando comparadas ao G2 (t = 3,884; p = 0,001 e t = 2,854; p = 0,01) respectiva- mente. Os valores para a PImáx do G3 e G4 não apresentaram diferença significativa quando comparados (t = -1,337; p =0,19). Comportamento similar foi observada para a PEmáx quando comparados os G3 e G4 (t = -1,285; p = 0,21). A comparação das médias para os níveis de resistência gerados R0, R1, R2 e R3 pelo incentivador respiratório indicou que o nível de esforço gerado pelas esferas do inspirômetro de incentivo apontou padrõessignificativamente diferentes (Wilks’Λ; F(3; 3,401) = 7,000; p = 0,04) entre o nível R1 com o R3 no G1, para um poder observado de 51,2%. No G2 a diferença significativa ocorreu entre as mesmas resistências R1 e R3 (Wilks’Λ; F(3; 21,267) = 17,000; p = 0,001), no entanto, o poder observado foi superior 98,1% (tabela II). No subgrupo G3 a análise comparativa apontou que houve diferenças signi- ficativas (Wilks’Λ; F(3; 26,600) =23,000; p = 0,001); para um poder de 98,8%; entre todos níveis de resistência, o que indica aumentos constantes no esforço para esse subgrupo. O G4 se observou diferenças significativas entre o nível R2 e R3 (Wilks’Λ; F(3; 12,227)=12,000; p = 0,001), para o poder de 99,5%. Os resultados expostos confirmam que tanto no subgrupo masculino como no feminino o inspirômetro de incentivo pro- porciona estímulos diferenciados o que podem ser confirmados pelo nível da Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) obtido em cada resistência. No G1 a média para a R0 = 10,60 ± 1,26 e 11,30 ± 1,16; 12,90 ± 1,52 e 13,90 ± 2,38 para R1, R2 e R3 res- pectivamente. Os valores para a PSE no G1 denotam diferença significativa (Wilks’Λ; F(3; 7,301) = 17,000; p = 0,015) entre a PSE da R1 com a PSE de R2 e R3. A PSE no G2 apresentou diferença significativa (Wilks’Λ; F(3; 7,322)=18,000; p = 0,001) entre todas as resistências: R0 = 9,25 ± 1,97; R1 = 10,80 ± 1,85; R2 = 12,25 ± 1,97 e R3 = 13,90 ± 2,29. A percepção é compatível com o valor do delta percentual (Δ%) tanto no G1 como no G2. No G1 o R0 correspondeu a 65,49% da PImáx enquanto no G2 essa correspondeu a 43,13%. O Δ% R1 = 74,15%; R2 = 79,81% e R3 = 89,84%. Os valores respectivos do Δ% no G2 foram 53,15%; 61,20% e 68,14%. -se a análise de Cluster tendo como variável determinante o índice de massa corpórea (IMC); seguida da análise da curva de normalidade das medidas antropométricas e das medidas de esforço por meio do teste Kolmogorov-Smirnov. A comparação das médias entre os subgrupos, masculino e feminino, para as variáveis foi por meio do teste t para medidas independentes. As diferentes resistências geradas pelo inspi- rômetro de incentivo (R0, R1, R2 e R3) foram analisadas pelo teste de medidas repetidas com Post Hoc de Bonferone [11] quando observada diferenças significativas entre as médias. O nível de significância adotado foi de p < 0,05 para o aceite das diferenças. Os resultados serão descritos por meio da média e de dispersão desvio padrão (média ± DP). Figura 1 e 2 - Descrição da adaptação do manovacuometro para a determinação dos diferentes níveis resistência no inspirometro de incentivo. Resultados A partir do IMC como variável determinante obteve-se pela análise de Cluster os subgrupos, masculinos G1 (n = 10) e G2 (n = 20) e femininos G3 (n = 26) e G4 (n = 15) tabela I; a curva de normalidade dos dados para todas as variáveis apresentou distribuição normal p < 0,05. Os valores médios para o IMC do G2 e G4 caracterizou os subgrupos com sobrepeso sendo observada diferença significativa (t = 6,118; p = 0,001) para os seus respectivos pares G1 e G3 (Tabela I). A comparação da massa corporal (MC) entre os subgru- pos masculinos apontou diferença significativa para a massa corporal (t = 4,793; p = 0,001). Comportamento similar foi observado para os subgrupos femininos (t = -4,584; p = 0,001 e t = -9,736; p = 0,001) respectivamente. No entanto, a média de idade e a estatura tanto nos subgrupos masculinos como nos femininos não apresentaram diferenças significativas p Tabela I - Valores médios e o desvio padrão (DP) para as variáveis antropométricas de adultos jovens de ambos os sexos submetidos à análise das pressões estáticas máximas (PImáx e PEmáx). Masculino Feminino G1 (n = 10) G2 (n = 20) G3 (n = 26) G4 (n = 15) Idade (anos) 25,50 ± 3,21 24,60 ± 3,76 23,88 ± 3,09 25,13 ± 4,14 Estatura (m) 1,73 ± 0,05 1,73 ± 0,05 1,63 ± 0,08 1,61 ± 0,06 Massa corporal (kg) 67,16 ± 5,73* 80,30 ± 7,64 55,43 ± 7,57* 65,58 ± 5,26 IMC (kg/m2) 22,48 ± 1,88* 26,71 ± 1,74 20,86 ± 1,25* 25,15 ± 1,52 * = p < 0,05 entre os grupos; IMC = índice de massa corporal. 11Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 A PSE nos subgrupos G3 e G4 apresentaram comporta- mento similar aos observados para os subgrupos masculinos, sendo que no G3 houve diferença (Wilks’Λ; F(3; 25,208) = 23,000; p = 0,001) para PSE em todos os momentos: R0 = 9,92 ± 2,13; R1 = 11,77 ± 1,86; R2 = 13,46 ± 177 e R3 = 15,00 ± 1,90 e para o G4 respectivamente PSE foram signi- ficativamente diferentes (Wilks’Λ; F(3; 25,569) = 12,000; p = 0,001) R0 = 10,87 ± 1,60 com R2 = 13,53 ± 1,68 e R3 = 14,60 ± 19,2; a R1 = 11,93 ± 1,62 foi diferente de R2 e R3 e a R3 apresentou diferença com todos os momentos. Os valores médios para a PSE corresponderam ao Δ% no G3 de R0 = 55,92%; R1 = 63,32%; R2 = 70,73% e R3 = 74,33%. No G4 os valores foram 48,84%; 53,05%; 65,58% e 66,74% respectivamente. Os valores observados indicam uma pro- gressão na resistência, caracterizando alteração no estímulo gerado. No entanto, nota-se que essa progressão não apresenta uma proporção lógica no incremento da resistência gerada pelo equipamento. O que poderá gerar uma falha dentro do procedimento terapêutico, já que não se pode estabelecer um ajuste do esforço de forma precisa. Discussão Os valores médios para o IMC dos subgrupos foram caracterizados a partir da amostra como: indivíduos jovens 18,5 a 24,9 kg/m2 G1 e G3 e com sobrepeso 25 e 29,9 kg/ m2 G2 e G4 [12] (Tabela I). Os valores mensurados para as pressões estáticas máximas são divergentes para os indivíduos com sobrepeso G2 e G4, nesses subgrupos os valores tanto da PImáx como da PEmáx foram superiores e significativamente diferente entre os homens quando comparados aos valores normativos descritos por Neder et al. [13], que descrevem valores para a PImáx em homens de -116,78 ± 14,02 cmH2O. Enquanto para as mulheres os valores foram superiores mais sem apresentar diferença significativa para os valores norma- tivos -86,53 ± 8,76 cmH2O [13]. A diferença observada para PEmáx entre o G1 e o G2 foram similares aos da PImax, porém o G1 encontra-se fora dos valores normativos para o sexo masculino 126,30 ± 14,19 cmH2O. No grupo das mulheres os valores encontram-se den- tro da normalidade 85,88 ± 10,90 cmH2O para o sexo [13]. Embora não seja o objeto de estudo, os resultados obser- vados passam a ter uma importância para a compreensão das resistências geradas ou a força necessária para utilização do incentivador respiratório. Os valores para a PImáx e PEmáx comportaram-se de forma similar aos apontados por Teixeira et al. [14] porque obtiveram valores superiores para a PImáx e PEmáx em indivíduos de ambos os sexos, classificados com grau II e III de obesidade com média de idade de 38,1 ± 9,6 anos, quando comparados, os valores em média foram superiores em 6,7% e 39,2% respectivamente aos padrões normativos para a idade. O comportamento observado no presente estudo assim como os resultados apresentados por Teixeira et al. [14] são divergentes dos descritos no estudo de Rasslan et al. [15] que relata uma redução nos volumes respiratórios em indivíduos obesos de ambos os sexos. No entanto, cabe ressaltar que Rass- lan et al. [15] não estudaram o comportamento da PImáx e da PEmáx o que impossibilita uma comparação dessas variáveis de forma mais precisa. Embora não sejam apresentados de forma direta os valores para as pressões respiratórias estáti- cas máximas nos resultados de Rasslan et al. [15], os dados apresentados indicam uma redução na PImáx e na PEmáx em decorrência do aumento do IMC. Convergindo para o comportamento descrito por Parameswaran, Todd e Soth [6] em estudo de revisão, no qual os dados indicam a redução da complacência e na força da musculatura respiratória, indican-do assim, menores valores para as pressões estáticas máximas em indivíduos obesos. Os resultados antropométricos do G2 caracterizam uma condição de sobrepeso, o que poderia ser interpretado com uma variável morfológica a ser estudada, já que o aumen- to da massa gorda pode ser um estímulo positivo sobre a musculatura respiratória [12], enquanto a obesidade grau I, II e III apresenta maiores restrições à força e complacência respiratória [6]. A hipótese levantada quanto ao sobrepeso ser um estímulo positivo sobre as pressões estáticas, ganha sustentação pelos valores observados para a força gerada pelo inspirômetro de incentivo no G2 (Tabela II). O inspirômetro de incentivo utilizado na investigação foi do tipo a fluxo, que tem por objetivo melhorar as respostas ventilatórias do paciente em suas atividades diárias, pro- Tabela II - Valores médios e desvio padrão para pressões estáticas máximas (PImáx; PEmáx) e para as resistências observadas pelo incentivador respiratório em indivíduos jovens. Masculino Feminino G1 (n = 10) G2 (n = 20) G3 (n = 26) G4 (n = 15) PImáx -102,50 ± 22,88* -150,00 ± 34,94 -94,81 ± 24,35 -108,00 ± 39,00 PEmáx 108,00 ± 30,48* 146,00 ± 36,08 84,04 ± 24,62 95,67 ± 33,00 R0 64,00 ± 24,59 64,00 ± 25,83 51,35 ± 15,85 50,33 ± 18,07 R1 74,00 ± 22,46* 78,50 ± 21,47* 57,69 ± 14,78* 54,33 ± 16,99 R2 80,00 ± 23,09 89,75 ± 17,51* 63,85 ± 13,44* 66,67 ± 13,58* R3 90,00 ± 21,86 99,50 ± 14,59* 67,50 ± 14,02* 67,00 ± 16,88* * = p < 0,05; PImáx = Pressão Inspiratória Máxima ; PEmáx = Pressão Expiratória Máxima ; R0 = PImáx no grau 0 do IR ; R1 = PImáx no grau 1 do IR; R2 = PImáx no grau 2 do IR; R3 = PImáx no grau 3 do IR. Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 201312 movendo estímulos para o fortalecimento da musculatura respiratória. Para tanto, a musculatura respiratória deve ser submetida a estímulos que possibilitem alterar o limiar de força da musculatura, o que favorece o aumento na PImáx a partir da resistência gerada. Os resultados obtidos no presente estudo demonstram que há aumentos no estímulo (intensi- dade) gerado pelo inspirômetro de incentivo. Observou-se diferentes níveis de resistência, do menor esforço (grau 0) para o maior esforço (grau 3), com diferenças significativas entre as intensidades geradas pelos respectivos níveis R0, R1, R2 e R3, indicando aumento gradativo na resistência para os indivíduos dos subgrupos. Entretanto, a variação observada para a resistência não segue uma linearidade ou proporção entre as diferentes intensidades de esforço. Pelos resultados pudemos observar com relação aos ní- veis R1, R2 e R3, no grupo amostral dos homens, que eles necessitam aumentar a força absoluta e relativa em cada grau quando comparado às mulheres, o que condiz com as carac- terísticas fisiológicas entre os sexos, o que provavelmente é resultante das características das fibras musculares que apesar de apresentarem certa semelhança em homens e mulheres, o volume de cada fibra é maior nos homens, conferindo maior força muscular [16,17]. Pela a análise do Delta percentual (Δ%) correspondente ao esforço necessário para movimentar as esferas, nota-se que na R0 o G1 foi superior ao do G2 quando analisados os valores relati- vos, seguindo a mesma tendência nas outras resistências. O G1 teve o Δ% mais baixo que os demais grupos mostrando que este utilizou menor porcentagem da sua força inspiratória máxima na manobra com o inspirometro de incentivo, coincidindo com o fato de que este grupo apresentou a maior média de PImáx e, em- bora não tenham sido observadas alterações significativas no Δ% entre os níveis de esforço nos subgrupos femininos, observou-se que com o aumento dos níveis de esforço houve um acréscimo gradativo no Δ%, assim como nos subgrupos masculinos. A redução observada para o Δ% poderia explicar a capacidade de mobilização da musculatura acessória por parte do indivíduo no momento do uso do inspirometro de incentivo, o que explicaria a ineficácia da mobilização das esferas [18]. Villiot-Danger [19], em estudo comparativo da alteração das forças inspiratórias e expiratórias entre jovens saudáveis e idosos sedentários submetidos ao treinamento por 5 semanas como frequência semanal de 3 vezes, concluiu que houve aumento da força da musculatura respiratória dos idosos, no entanto, não ocorreu melhorias significativa para os jovens, considerando-se que para estes haveria a necessidade de uma carga adicional devido a integridade do sistema respiratório. O que parece ser intrigante, já que no presente estudo a resistência do nível de esforço R0 pode ser considerada de leve a moderada, uma vez que, se encontra entre 40 e 60% da PImáx da amostra e nos níveis R1, R2 e R3 de moderada para vigorosa, nota-se que na R3 do G2 = -89,84% da PImáx. Os valores correspondentes aos percentuais da PImáx ou intensidade de esforço no uso da inspirometria de incentivo são superiores em media (57,42 cmH2O) observados para o Threshold IMT descritos no estudo de Alves e Brunetto [20] 9,6 cmH2O para as cargas iniciais. Os autores procuraram a resistência em cmH2O gerada pelo Threshold conforme a massa das esferas e o diâmetro, indicando, assim, pressão inicial necessária para abertura da válvula do Threshold. A massa das esferas do inspirometro de incentivo apre- sentou uma variação irregular, sendo a segunda esfera com a maior massa (1,1153 g) e a primeira e terceira com as res- pectivas massas (0,8785 g e 0,9178 g). A determinação da resistência gerada pelo diâmetro dos tubos do inspirometro de incentivo não foi determinada no presente estudo, o que caracteriza uma limitação nos resultados obtidos inviabilizan- do estabelecer de forma concreta as pressões geradas por cada esfera como descrito em estudo anterior [20]. O motivo para não ser levada em consideração a medida do diâmetro dos tubos do inspirometro de incentivo é pelo fato do sistema de regulagem do fluxo apresentar uma escala de graduação de 0 a 3, o que inviabilizaria a coleta dos dados. O nível de esforço gerado pelo inspirometro de incentivo permite explicar os resultados apresentados por estudos com Cruz et al. [4] e de Villiot-Danger [19], os quais obtiveram melhoras significativas para pressões respiratórias estáticas máximas, corroborando as recomendações apresentadas no American Thoracic Society, European Respiratory Society. ATS/ ERS [21] para o fortalecimento da musculatura respiratória de indivíduos acometidos de doenças obstrutivas crônicas. Os resultados obtidos no estudo de Cruz et al. [4] indicam ganhos significativos nas capacidades pulmonares e força muscular respiratória de indivíduos obesos, indicando que este método terapêutico contribui para a recuperação da mecânica respiratória. Conclusão Conclui-se que a intensidade gerada pelo inspirômetro de incentivo é de leve a moderada para os níveis 1, 2 e 3 podendo atingir intensidades superiores a 80% no nível 3 em indivíduos com sobrepeso. As variações observadas para a massa das esferas explicam as diferenças significativas obtidas entre os diferentes níveis de esforço para indivíduos jovens de ambos os sexos. Recomenda-se investigações em outras faixas etárias e em grupos de características morfológicas diferentes. Ademais há necessidade de implementar estudos de adequação dos protocolos para cada grupo de população específico como, por exemplo, para obesos, visto que treinamento muscular respiratório específico pode contribuir para melhora funcional desses indivíduos. Referências 1. Overend TJ, Anderson CM, Lucy SD, Bhatia C, Jonsson BI, Timmermans C. The effect of incentive spirometry on posto- perative pulmonary complications: a systematic review. Chest 2001;120(3):971-8. 13Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 2.Domingos-Benicio NC, Gastaldi AC, Perecin JC, Avena KM, Guimaraes RC, Sologuren MJJ, et al. Body weight influence on respiratory pressures on sitting, supine and upright positions. Rev Bras Fisioter 2003;7(3):217-22. 3. Sharma S, Brown B. Spirometry and respiratory muscle function during ascent to higher altitudes. Lung 2007;185(2):113-21. 4. Cruz MSL, Fernandes PR, Sonehara E, Reis VM, Policarpo FB, Fernandes JF. Effects of respiratory therapeutics and physical activity in maximal respiratory pressures of obese womem. Revista Motricidade 2010;6(2):15-21. 5. Giacomazzi CM, Lagni VB, Monteiro MB. Postoperative pain as a contributor to pulmonary function impairment in patients submitted to heart surgery. Rev Bras Cir Cardiovasc 2006;21(4):386-92. 6. Parameswaran K, Todd DC, Soth M. Altered respiratory phy- siology in obesity. Can Respir J 2006;13(4):203-10. 7. 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Tel: (11) 3361-5595 | assinaturas@atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 201314 Comparação dos determinantes de risco para o desenvolvimento infantil entre pré-escolares de escola pública e particular na cidade do Recife/PE Comparison of determinants of risk on child development in preschool between public and private school at Recife/PE Rebeca de Oliveira Silva*, Cristiana Maria Macedo Brito, Ft., M.Sc.**, Ana Karolina Pontes de Lima, Ft., M.Sc.***, Cláudia Fonseca de Lima, Ft. M.Sc.**** *Universidade Católica de Pernambuco, **Professora assistente 1 da Universidade Católica de Pernambuco do Curso de Fisioterapia, ***Professora Auxiliar da Universidade Católica de Pernambuco, ****Professora Assistente da Universidade Católica de Pernambuco Resumo Objetivo: Comparar os determinantes de risco entre pré-escolares de escola pública e particular na cidade do Recife. Método: Foi utiliza- do um questionário, aplicado aos pais ou responsável legal da criança por meio de entrevista para identificar os fatores socioeconômicos e demográficos das crianças que frequentam a escola da rede pública municipal e privada. Foram incluídas no estudo todas as crianças, de ambos os gêneros, na faixa etária de quatro a seis anos, que fre- quentavam regularmente a escola, no período de abril a agosto de 2010; e excluídas as que apresentavam diagnósticos neurológicos ou que eram portadoras de deformidades osteoarticulares, deficiência visual, auditiva ou cognitiva. Participaram da amostra 40 crianças, sendo 20 da escola pública municipal e 20, da particular. Resultados: As crianças da escola pública apresentaram-se mais expostas aos determinantes de risco para o desenvolvimento infantil que aquelas da escola particular. Conclusão: Sendo assim, salienta-se a impor- tância da presença do profissional de saúde junto à equipe escolar, a fim de identificar de forma precoce esses determinantes para que sejam tomadas medidas preventivas que visem o desenvolvimento neuropsicomotor adequado na infância. Palavras-chave: desenvolvimento infantil, fatores de risco, saúde escolar, pré-escolar, serviços de saúde escolar. Artigo original Abstract Objective: To compare the determinants of risk among pres- chool children in public and private schools in the city of Recife. Method: A questionnaire was used, which was applied to parents or legal guardian of the child by means of questioning, to identify the socio-economic and demographic factors of children who attend public and private school. The study included all children of both genders, aged four to six years, attending school regularly, from April to August 2010, and excluded children who had some neurological injury or osteoarticular deformities, vision or hearing deficiency. The sample had 40 children, composed by 20 from public schools and 20 from particular ones. Results: The children in public school were more exposed to the risk determinants for child development than those in private schools. Conclusion: Therefore, it is stressed the importance of the presence of health professionals with the school staff in order to identify very early these determinants and preventive actions for the normal development of the child. Key-words: child development, risk factors, school health, child preschool, school health services. Recebido em 28 de setembro de 2011; aceito em 26 de novembro de 2012. Endereço para correspondência: Rebeca de Oliveira Silva, Rua Abreu e Lima, 65/701, Tamarineira, 52041-040 Recife PE, E-mail: rebec7@hotmail. com 15Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 Introdução O desenvolvimento infantil pode ser definido como mudanças de novos comportamentos, provocando transfor- mações no organismo, onde cada etapa é pré-requisito para a seguinte [1]. Porém, a forma como a criança utiliza seu potencial pode sofrer influência de fatores biológicos, gene- ticamente determinados e de circunstâncias ambientais [2]. Atualmente, já se considera que os fatores de risco para o desenvolvimento infantil podem estar presentes na própria criança (componentes biológicos, temperamento e a própria sintomatologia), na família (história parental e dinâmica fa- miliar) ou no ambiente (nível socioeconômico, suportesocial, escolaridade e contexto cultural) [3]. Contudo, apesar de distin- tos, esses fatores não são excludentes, definindo a característica multifatorial dos atrasos do desenvolvimento infantil [4]. Na infância, os principais vínculos, cuidados e estímulos necessários ao crescimento e desenvolvimento da criança são fornecidos pela família. É ela o primeiro universo de relações sociais da criança, sendo talvez, das formas de rela- cionamento a mais complexa e de ação mais profunda sobre o desenvolvimento humano, fato esse que é agravado quando essas famílias apresentam baixo nível socioeconômico [5,6]. Isso porque as dificuldades associadas à pobreza prejudicam não só o bem-estar psicológico dos pais, como também o ambiente interpessoal da casa, afetando o desenvolvimento dessas crianças, que pode se refletir em sua vida adulta [7]. É nesse ambiente, portanto, que a criança tanto pode receber proteção, quanto conviver com os riscos [5]. Nas últimas décadas, o interesse pelo acompanhamento do desenvolvimento integral da criança vem aumentando, devido ao reconhecimento de que a prevenção de problemas durante a infância exerce efeitos duradouros na constituição do ser humano [8]. Contudo, apesar da prática preventiva ainda não ser uma realidade totalmente instalada nas culturas ocidentais, já existem projetos voltados à prevenção primária, destinados aos pré-escolares [1]. As instituições que se destinam a educar e cuidar das crian- ças são as creches, que atendem a faixa etária de 0 a 3 anos, e as pré-escolas, que abordam a faixa etária de 4 a 6 anos [9]. No Brasil (2002), apesar dos pré-escolares corresponderem a 13,3% do total de habitantes, esse grupo é carente de procedi- mentos adequados que garantam o desenvolvimento integral da criança, fazendo com que ela entre na estrutura de ensino sem as mínimas condições intelectuais e motoras necessárias [10]. Diante disso, há uma crescente preocupação em se investigar a dinâmica e o nível socioeconômico das instituições que se destinam a matricular crianças pré-escolares [11]. Nesse sentido, quanto mais cedo uma dificuldade ou limitação for constatada, maiores serão as chances de um retorno funcional da criança ao seu ambiente escolar, familiar e social [12-14]. Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo comparar os determinantes de risco em pré-escolares de uma escola pública municipal com relação aqueles de uma escola privada da cidade do Recife. Material e métodos Trata-se de um estudo do tipo corte transversal descritivo, o qual foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do IMIP (Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira) sob CAAE – 0295.0.099.096-09. A pesquisa foi realizada no período de abril a agosto de 2010, em uma escola da rede pública municipal e uma escola da rede privada. Na qual foram incluídas todas as crianças, de ambos os gêneros (feminino e masculino), na faixa etária de quatro a seis anos, que frequentavam regularmente as escolas, durante o período de realização da pesquisa e cujos pais ou responsável legal assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídas as crianças que apre- sentavam alguma lesão neurológica ou que eram portadoras de deformidades osteoarticulares, deficiência visual, auditiva ou cognitiva. O tamanho inicial esperado da amostra era de 100 crian- ças, sendo 50 de uma escola pública municipal e 50 de uma escola particular. Porém, das crianças solicitadas, apenas 40 compuseram a amostra, visto que os pais ou responsáveis legais pelas demais crianças se recusaram a assinar o TCLE, de forma que a amostra foi constituída de 20 crianças provenientes da rede pública e 20 da rede privada. Inicialmente, realizou-se um primeiro contato com a coordenação pedagógica das escolas, no qual foi verificado o interesse das instituições em participar da pesquisa. Em seguida, foi feito o contato pessoal, nas escolas, com os pais ou responsável legal pela criança, no qual foram fornecidas as devidas explicações sobre o projeto e solicitado à assinatura do TCLE, os quais foram informados de que a participação da criança era de caráter voluntário, podendo haver desistência a qualquer momento. A identificação dos fatores de risco para o desenvolvimen- to infantil foi feita através da aplicação de um questionário impresso em papel aos pais ou responsável legal pela criança, cujos itens diziam respeito às condições socioeconômicas (quantidade de pessoas que trabalham na casa; valor da renda mensal); demográficas (tipo de residência; número de morado- res); e ambientais das famílias (escolaridade do pai/mãe; sabe ler e/ou escrever). Na rede pública municipal, o questionário foi aplicado pessoalmente pela pesquisadora nas dependências da escola, a qual anotava as respostas diretamente na folha do questionário em virtude de muitos pais ou responsáveis legais não saberem ler e/ou escrever. Já na escola particular, o questionário foi enviado, junto à agenda das crianças, aos pais que responderam em casa, e posteriormente encaminharam para escola. Esse questionário foi elaborado com base no estudo de Maciel [15]. A apresentação das variáveis mensuradas foi feita através de tabelas, incluindo também o uso de algumas medidas descritivas, como média e desvio padrão. Para testar a supo- sição de normalidade das variáveis envolvidas no estudo foi aplicado o teste de Kolmogorov-Smirnov. As análises compa- Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 201316 Tabela IV - Escolaridade dos pais da amostra estudada. Escolaridade do Pai Públicas Privadas Valor-p* 1° Grau Incompleto 15 (75,0) 0 (0,0) 0,00 3° Grau Incompleto 0 (0,0) 2 (10,0) 0,48 3° Grau Completo 0 (0,0) 18 (80,0) 0,00 Não soube informar 5 (25,0) 0 (0,0) 0,05 Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato de Fisher. A caracterização da amostra estudada quanto à execução de atividade laboral pelos pais e mães encontra-se na Tabela V, não sendo observada diferença significativa entre os grupos. Tabela V - Caracterização da amostra estudada quanto à execução de atividade laboral pelos pais e mães. Genitor Públicas Privadas Valor-p* Mãe 9 (45,0) 19 (95,0) 0,21 Pai 7 (35,0) 20(100,0) 0,07 Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato de Fisher. A Tabela VI apresenta a caracterização da amostra quanto à renda mensal dos responsáveis pelas crianças. É possível ob- servar que uma maior proporção de responsáveis pelas crianças das escolas privadas não informaram sua renda mensal (p = 0,02) ou possuem renda superior a dez salários mínimos (p = 0,00). Já no grupo de crianças de escolas públicas, uma maior proporção dos responsáveis recebe menos de um salário ou de um a dois salários mínimos mensais (p = 0,00). Tabela VI - Caracterização da amostra quanto à renda mensal dos responsáveis pelas crianças. Renda mensal (salá- rios mínimos) Públicas Privadas Valor-p* Não informado 0 (0,0) 6 (30,0) 0,02 < 1 9 (45,0) 0 (0,0) 0,00 1 a 2 10(50,0) 0 (0,0) 0,00 2 a 3 1 (5,0) 0 (0,0) 1,00 5 a 10 0 (0,0) 2 (10,0) 0,48 > 10 0 (0,0) 12(60,0) 0,00 Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato de Fisher. Discussão No que se refere aos fatores de risco ambientais para o desenvolvimento infantil, Rohenkohl e Castro [5] relatam que os pais constituem o primeiro núcleo social da criança, sendo, portanto, natural que a figura dos pais, bem como as práticas parentais adotadas tenha grande influência no pro- cesso de desenvolvimento da criança. Segundo esses autores a relação entre pais e filhos tem atuado como importante fator para a qualidade de vida das famílias, influenciando diretamente nos cuidados com os filhos. No entanto, esses rativas das proporções foramrealizadas utilizando-se o teste exato de Fisher. A comparação entre as médias obtidas nos dois grupos foi realizada utilizando-se o teste t-student para amostras independentes. Todas as conclusões foram tomadas ao nível de significância de 5% e os softwares utilizados foram o GraphPad Prism versão 4.0 e Microsoft Office Excel 2007. Resultados A amostra foi composta de crianças de ambos os gêneros, não sendo observadas diferenças significativas entre os grupos (p = 0,68), quanto à idade (4 a 6 anos). As Tabelas I e II apresentam o estado civil das mães e pais ou responsável legal das crianças avaliadas, observando-se um número significativamente maior de mães e pais solteiros no grupo de crianças de escolas públicas (p = 0,00) e de mães e pais casados no grupo de crianças de escolas privadas (p = 0,00 e p = 0,03, respectivamente). Tabela I - Estado civil das mães da amostra estudada. Estado civil da mãe Públicas Privadas Valor-p* Solteira 14 (70,0) 0 (0,0) 0,00 Casada 4 (20,0) 20 (100,0) 0,00 Falecida 1 (5,0) 0 (0,0) 1,00 Não soube informar 1 (5,0) 0 (0,0) 1,00 Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato de Fisher. Tabela II - Estado civil dos pais da amostra estudada. Estado civil do pai Públicas Privadas Valor-p* Solteiro 10 (50,0) 0 (0,0) 0,00 Casado 6 (30,0) 20 (100,0) 0,03 Falecido 1 (5,0) 0 (0,0) 1,00 Não soube Informar 3 (15,0) 0 (0,0) 0,23 Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato de Fisher. As Tabelas III e IV apresentam, respectivamente, o nível de escolaridade das mães e pais dos grupos analisados. É possível observar uma maior proporção de mães e pais com 1° grau incompleto no grupo de crianças de escola pública, além de uma maior proporção de mães e pais com 3° grau completo no grupo de crianças de escolas privadas (p = 0,00). Tabela III - Escolaridade das mães da amostra estudada. Escolaridade da Mãe Públicas Privadas Valor-p* 1° Grau Incompleto 14 (70,0) 0 (0,0) 0,00 1° Grau Completo 2 (10,0) 0 (0,0) 0,48 2° Grau Completo 1 (5,0) 2 (10,0) 1,00 3° Grau Incompleto 0 (0,0) 2 (10,0) 0,48 3° Grau Completo 0 (0,0) 16 (80,0) 0,00 Não soube informar 3 (15,0) 0 (0,0) 0,23 Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato de Fisher. 17Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 mesmos laços familiares que protegem podem também di- ficultar o desenvolvimento da criança e provocar problemas no seu ajustamento social [5]. Segundo Lucena et al. [2], crianças cujos pais eram se- parados estavam mais predispostas a apresentarem algum tipo de alteração psicomotora. Para ele isso ocorre porque o divórcio é considerado um evento estressor, que modifica a estrutura familiar, alterando a dinâmica das relações fa- miliares e, consequentemente, o ajustamento das crianças. Sendo assim, em seu estudo todas as crianças cujos pais eram separados apresentaram algum tipo de alteração psicomotora, sugerindo ser este um fator implicado no desenvolvimento motor primário dos escolares. Defilipo et al. [13], em estudo com 239 lactentes com idade entre três e 18 meses, residentes no município de Juiz de Fora/MG, em 2010, verificaram que o fato de a maioria das famílias serem formadas predominantemente por uniões estáveis apresentaram oportunidades mais favoráveis ao de- senvolvimento motor. Corroborando o estudo anterior, o presente trabalho, observou que a maioria dos pais da rede privada apresentou união estável, quando comparados aos da rede pública, que na maioria eram solteiros, sugerindo que as crianças da escola particular estariam menos expostas aos fatores de risco para o desenvolvimento. Dentro desse aspecto, a presença paterna também constitui um fator de proteção para os atrasos do desenvolvimento, o que foi evidenciado pelo estudo de Rohenkohl e Castro [5]. Para Delfilipo et al. [13] isso ocorre porque a presença do pai no ambiente familiar garante maior segurança no desempenho da função materna, contribuindo para o desenvolvimento saudável de seus filhos. Porém, o estudo de Amorim et al. [8] teve resultado oposto, observando que crianças que tiveram maior tempo com seus pais, apresentaram percentuais mais elevados de atraso na persistência motora. Para os autores isso pode estar atrelado ao fato da própria concepção paterna de ser apenas provedor, caben- do os cuidados corporais da criança exclusivamente as mulheres. Outro fator que pode trazer influência significativa para o desenvolvimento infantil é a escolaridade dos pais. Para Defilipo et al. [13] o maior grau de escolaridade da mãe está associado a melhores oportunidade de estímulos ambientais. E isso pode ser explicado pelo fato de as mães com maior grau de instrução apresentarem maior acesso a informações e melhor conhecimento sobre o processo de desenvolvimento dos seus filhos, contribuindo de forma positiva nas oportunidades de estimulação disponíveis no domicílio [14]. Entretanto, Carneiro [15] detectou em seu estudo que das 25,58% crianças que apresentaram risco de atraso no desen- volvimento, 16,28% são filhas de mães com menos 8 anos de estudo. Nesse sentido, Nascimento et al. [16] verificaram que a baixa escolaridade materna pode sim ser considerada fator de risco para atraso do DNPM. Segundo Santos et al. [7], bem como a escolaridade ma- terna, a paterna também interfere de forma significativa no bem-estar das crianças. Para esses autores crianças cujos pais tinham até 8 anos de escolaridade apresentaram risco de 4,63 vezes maior de apresentarem desempenho suspeito de atraso em habilidades de locomoção. Corroborando esses achados, Carneiro [15] verificou que a escolaridade paterna igual ou inferior a 8 anos de estudos influenciou o desenvolvimento infantil, visto que 27,91% das crianças avaliadas apresentaram risco para o desenvolvimento. No que diz respeito a esse aspecto, no presente estudo, foi possível observar uma maior proporção de mães e pais com 1° grau incompleto nas crianças da escola pública, além de uma maior proporção de mães e pais com 3° grau completo nas crianças da escola privada. Esse dado sugere que as crianças da escola pública apresentam mais chance de apresentarem atrasos no desenvolvimento, quando comparadas a população da escola particular. Paiva et al. [17], que avaliaram uma amostra de 136 crianças entre 9 e 12 meses de vida, verificaram, dentro do contexto de pobreza, as condições socioeconômicas desfavo- ráveis , expressas através do desemprego materno e paterno, o qual teve um impacto negativo em diferentes aspectos do desenvolvimento. Segundo esses autores a instabilidade eco- nômica em casa, resultante de desemprego, e consequente redução na renda familiar, constitui um importante fator de risco para o desenvolvimento. Nessa situação de desempre- go, os pais tornam-se mais punitivos, menos comunicativos e sensíveis às necessidades da criança, comprometendo seu desenvolvimento [17]. Ainda em relação à atividade laboral dos pais, Maria- -Mengel e Linhares [18] relatam que quanto maior o nível de escolaridade, melhor poderá ser o emprego dos pais. Ao avaliar escolaridade, o nível ocupacional e a renda das famí- lias das 120 crianças, de 6 a 44 meses, do Núcleo da Saúde da Família em São Paulo, Maria-Mengel [19] verificou que o nível escolar predominante foi de 1° completo, com a maioria dos pais exercendo trabalho não-qualificado ou de níveis semiqualificados, com renda familiar média de 500 reais. Para essa autora, os poucos recursos de escolarização e a baixa qualificação dos pais são elementos intrínsecos que acabam por provocar riscos psicossociais importantes no ambiente da criança. Já no que se refere ao presente estudo, apesar de não ter sido verificada diferença significativa importante entre os grupos,sugere-se que as crianças da escola particular, cujos pais apresentaram empregos mais qualificados, estariam menos expostas aos fatores de risco para o de- senvolvimento. Entretanto, ao avaliar o nível socioeconômico das famílias, o presente estudo encontrou diferença significante entre as duas populações. Segundo Halpern et al. [6] crianças cujas famílias apresentam menor renda, estão mais predispostas a terem atrasos no desenvolvimento. Para Mistry et al. [20] isso ocorre porque crianças em situação de pobreza enfren- tam, muitas vezes, múltiplos riscos, como: condições de vida Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 201318 inadequadas, poucos recursos materiais, acesso limitado a cuidados de saúde, entre outros problemas. Veleda et al. [21] ao avaliarem uma amostra de crianças entre 8 a 12 meses de idade indicadas como de risco ao nascer no município do Rio Grande, Rio Grande do Sul. Verificaram que crianças pertencentes às famílias com renda menor que dois salários mínimos apresentaram duas vezes mais riscos de terem suspeita de atraso no desenvolvimento. Ainda segundo esses autores crianças mais pobres apresentam 50% mais risco de terem um suspeita de atraso. Para Santos et al. [7], isso acontece porque as condições de pobreza amplificam a vulnerabilidade biológica da criança, levando a resultados desfavoráveis no desenvolvimento. Paiva et al. [17] constataram numa amostra de 136 crianças entre 9 e 12 meses de vida, em quatro Unidades de Saúde da Família do Distrito Sanitário IV da cidade do Recife. O efeito negativo mais importante da pobreza no desenvolvimento das crianças estudadas foi na área da comunicação receptiva. Isso porque famílias com um nível socioeconômico maior leem mais para seus filhos, engajando-os num rico discurso, à medida que proveem estratégias verbais mais complexas. Além do impacto direto na saúde e bem-estar da criança, a renda familiar associa-se também com as condições de vida e o acesso aos bens e serviços, estando relacionada a diferentes condições de risco para saúde materno infantil tais como, maior frequência de baixo peso ao nascer e déficit ponderal em recém-nascidos [21]. Desta forma percebe-se que a renda familiar, à medida que proporciona melhores condições gerais de vida para a família, está diretamente relacionada com as oportunidades de desenvolvimento e com a qualidade de vida da criança. Por outro lado, diferentemente do presente estudo, Amorim et al. [8] investigaram a associação de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor com possíveis fatores de risco biológicos, ambientais e socioeconômicos, observaram que a renda per capita não mostrou ser um fator de risco para atraso no desenvolvimento, o que pode ser justificado pelo fato de a amostra estudada apresentar-se relativamente homogênea em relação aos níveis de renda. Uma limitação do presente foi a dificuldade relaciona- das à falta de colaboração de algumas famílias na resposta do questionário, as quais foram fatores determinantes na redução da amostra, limitando as aná lises realizadas e a interpretação dos resultados. Todavia, as perdas amostrais sofridas durante a execução do trabalho não se constituem num fato isolado. Na literatura atual, há relatos de perdas de 40%, por razões bastante semelhantes às vivenciadas por estes autores [18]. Embora considerando as dificuldades vivenciadas durante o desenrolar da pesquisa de campo e as limitações do estudo, os resultados das associações sugerem que o ambiente, sobre- tudo, de crianças que vivem em contextos de desigualdades, acaba por interferir de forma importante no desenvolvimento, podendo atuar como um fator protetor ou de risco. Entretanto, é importante enfatizar que os resultados das análises realizadas mostram apenas indícios de associação entre as variáveis, não sendo, portanto, conclusivos, e a sua extrapolação deve ser vista com cautela, explorando ainda mais as relações de causa e efeito. Conclusão Foi possível observar que as crianças da escola pública, por apresentarem precárias condições socioeconômicas e demográficas apresentaram-se mais expostas aos fatores de risco para o desenvolvimento. Sendo assim, salienta-se a importância da presença do profissional de saúde junto à equipe escolar, priorizando as populações mais expostas aos fatores de risco para o desenvol- vimento infantil, no sentido de identificar de forma precoce os principais problemas. E assim, estabelecer programas de intervenção que visem à estimulação do desenvolvimento neuropsicomotor normal da criança. Além disso, é de grande importância a orientação da família e dos educadores nesse processo de desenvolvimento da criança. Agradecimentos Às escolas, pela permissão dada para que a coleta de dados fosse realizada em suas dependências. Às famílias das crianças que compuseram a amostra do estudo pela confiança e por terem compartilhado um pouco dos seus contextos de vida. À Maria Elisa, a qual participou como colaboradora na pesquisa de campo, auxiliando na coleta de dados em diversas fases da pesquisa. Referências 1. Zilke R, Bonamigo ECB, Winkelmann ER. Desenvol- vimento neuropsicomotor de crianças de 2 a 5 anos que frequentam escolas de educação infantil. Fisioter Mov 2009;22(3):439-47. 2. Lucena NMG, Aragão POR, Andrade SMMS, Lucena LC, Melo LGB, Rocha TV. Estudo do desenvolvimento motor primário de crianças em idade escolar submetidas à avaliação psicomotora. Arq Ciênc Saúde 2009;16(3):120-26. 3. Braga AKP, Rodovalho JC, Formiga CKMR. Evolução do crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor de crianças pré-escolares de zero a dois anos do município de Goiânia (GO). Rev Bras Cresc Desenv Hum 2011;21(2):230-9. 4. Custódio ZAO, Crepaldi MA, Cruz RM. Desenvolvimento de crianças nascidas pré-termo avaliado pelo teste de Denver- -II: revisão da produção científica brasileira. Psicol Reflex Crit 2012;25(2):400-6. 5. Rohenkohl MIA, Castro EK. 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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 201320 Fotobiomodulação como uma nova abordagem para o tratamento de traumas mamilares: um estudo piloto, randomizado e controlado Photobiomodulation as a new approach for the treatment of nipple traumas: a pilot study, randomized and controlled Angélica Rodrigues de Araújo, D.Sc.*, Ana Luiza Valério do Nascimento, Ft.**, Juliana Moreira Camargos, Ft.**, Fernanda Souza da Silva, M.Sc.***, Natasha Valeska Maia Gonçalves de Faria, Ft.**** *Professora do curso de Fisioterapia da PUC Minas, **PUC Minas, ***Professora do curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG), ****Especialista em Fisioterapia aplicada à Neurologia Resumo Objetivo: Avaliar a eficácia de um dispositivo fototerápico desenvolvido especificamente para o tratamento dos traumas ma- milares. Material e métodos: Quatro puérperas foram aleatoriamente alocadas em dois grupos: controle (n = 4 mamas) e experimental (n = 4 mamas). O grupo controle recebeu somente orientações de cuidados com as mamas e sobre técnicas adequadas à amamentação. O grupo experimental (n = 4 mamas) recebeu, além das orientações, as aplicações fototerápicas por meio do protótipo fotobiomodulador (varredura de 880-904 nm e fluência de 4 J/cm²) durante 6 sema- nas. Foram avaliados: a área da lesão mamilar, a dor (Escala Visual Numérica) e a Qualidade de Vida (SF-36). Resultados: As lesões mamilares das participantes foram inicialmente classificadas como fissuras pequenas e médias. No grupo controle, 50% das lesões cicatrizaram completamente; as demais reduziram de tamanho. No grupo experimental, o percentual de cicatrização foi de 100%. O percentual de redução no tamanho das lesões mamilares foi de 54,5% no grupo controle e de 74,1% no grupo experimental. A diferença observada entre os grupos foi estatisticamente significativa (p = 0,036). A intensidade da dor reduziu satisfatoriamente em am- bos os grupos. A média da redução da intensidade da dor no grupo controle foi de 73,6% e no experimental de 81,5% (p = 0,116). Conclusão: Os resultados deste estudo demonstraram que o protótipo fotobiomodulador foi eficaz no tratamento dos traumas mamilares. Palavras-chave: doenças mamárias, aleitamento materno, fototerapia, cicatrização. Artigo original Abstract Objective: To evaluate the effectiveness of a specifically designed device for phototherapy treatment of nipple trauma. Methods: Four women were randomly assigned to two groups: control (n = 4 bre- asts) and experimental (n = 4 breasts). The control group received only the guidelines of the breast care and appropriate techniques for breastfeeding. The experimental group (n = 4 breasts) received guidelines care and phototherapy applications through luminous prototype (880-904 nm and fluence of 4 J/cm²) for 6 weeks. The area of nipple injury, pain (Visual Numerical Scale) and quality of life (SF-36) were assessed. Results: The participants of nipple injuries were classified as small and medium size. In the control group 50% of the lesions healed completely and the others reduced in size. In the experimental group the percentage of healing was 100%. The percentage reduction in the size of nipple trauma was 54.5% in the control group and 74.1% in the experimental group. The difference between groups was statistically significant (p = 0,036). Pain inten- sity satisfactorily reduced in both groups. The average reduction in pain intensity in the control group was 73.6% and 81.5% in the experimental (p = 0,116). Key-words: breast diseases, breast feeding, phototherapy, wound healing. Recebido em 20 de dezembro de 2011; aceito em 1 de outubro de 2012. Endereço de correspondência: Angélica Rodrigues de Araújo, Centro Clínico de Fisioterapia PUC Minas, Av. Trinta e Um de Março, 500, prédio 46, 30535-600 Belo Horizonte MG, Tel: (31) 3319-4425, E-mail: angelica@bios.srv.br 21Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 Introdução Cuidados inadequados no período gestacional e puerpe- ral são fatores predisponentes ao surgimento de problemas mamários, dentre os quais tem grande destaque os traumas mamilares (fissuras e rachaduras) [1]. Essas lesões caracteri- zam-se como uma solução de continuidade da pele na região do mamilo e estão altamente relacionadas à inflamação da camada superior da derme [2]. Podem ser circulares ou lon- gitudinais e de tamanhos variados. A lesão circular localiza-se geralmente na junção mamilo-areolar; a lesão longitudinal pode ser encontrada em qualquer local do mamilo, vertical ou horizontalmente, dividindo-o em dois [3]. Os traumas mamilares são causados pela má posição da criança em relação à mama, pelo número e duração inadequa- dos das mamadas e pelo mecanismo de sucção incorreto [1]. Normalmente aparecem entre a 2ª e 3ª semanas pós-parto, sendo causa frequente de dor mamária e de interrupção precoce da amamentação [2-4], situações prejudiciais tanto à saúde materna quanto à do lactante. O desmame precoce traz prejuízos ao bebê, uma vez que o fornecimento de nutrientes essenciais, de fatores de crescimento e de componentes imunológicos presentes na composição do leite materno deixarão de ser ofertados. Para a mãe, a interrupção da amamentação dificulta o processo de involução uterina, aumenta o risco de sangramento após o parto, da incidência de câncer de ovário e de mama, além de não proporcionar uma boa interação mãe-filho [5]. Atualmente, a abordagem terapêutica dos traumas mami- lares tem focado no reforço às orientações de cuidados com a mama e às técnicas adequadas para amamentação [6,7]. Essas medidas, entretanto, tem um caráter muito mais preventivo do que curativo, não sendo, na maioria das vezes, suficientes para potencializar o fechamento da lesão mamilar. Nesses casos, há a necessidade de técnicas mais efetivas, pois quanto mais rápido ocorrer a cicatrização, menores serão as chances do desmame precoce [4]. Riordar e Nichols [8] e Potter [9] relatam que apesar do melhor tratamento para as lesões mamilares ainda ser a pre- venção, estratégias que sejam efetivas em tratá-las também são de extrema importância, pois quanto mais rápido ocorrer a cicatrização, maiores serão as chances de retorno à prática da amamentação e menores serão os riscos de complicações ma- ternas secundárias, como por exemplo, a mastite e os abscessos. Dentre as condutas comumente utilizadas para o manejo das fissuras e das rachaduras mamilares, destaca-se a aplicação tópica de fármacos [10]. Essa terapia, além de muitas vezes não apresentar resultados satisfatórios, tem como desvantagem a necessidade de interrupção do ato de amamentar durante o período
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