Buscar

a vitrude aristotelica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Ética Geral 
Aristóteles e a Ética da Virtude
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Américo Soares da Silva
Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
5
Nesta unidade, o tema abordado será: Aristóteles e a Ética da Virtude.
O mundo grego antigo foi extremamente fértil para a Filosofia. Dentre os vários 
desenvolvimentos no período, pode ser destacada a obra de Aristóteles. Para atender a 
demanda dessa unidade, nos concentraremos na parte do pensamento do velho mestre que 
trata da ética.
Para um bom aproveitamento e desenvolvimento de seus estudos, é necessário começar 
com o acesso ao Material Didático. É lá que você poderá encontrar o Texto Teórico, cujo 
conteúdo corresponde à base das atividades desta unidade. Leia-o com bastante atenção.
Você pode verificar se houve uma boa compreensão do tema ao responder as questões da 
Atividade de Sistematização. São questões sobre os principais aspectos abordados no texto.
O aprofundamento da discussão será obtido através dos Materiais Complementares, da 
Apresentação Narrada e da Videoaula.
Por fim, realize a Atividade de Aprofundamento da unidade; lá você encontrará dicas para 
aprimorar ainda mais seus conhecimentos sobre o tema Aristóteles e a Ética da Virtude.
Inserção no pensamento ético de Aristóteles.
A noção de Felicidade.
A noção de Virtude.
A ética como resultado de uma ação racional.
A noção de Justiça aplicada a casos particulares.
Aristóteles e a Ética da Virtude
 · Aristóteles e a Ética da Virtude
6
Unidade: Aristóteles e a Ética da Virtude
Contextualização
Leitura e reflexão:
“[...] parece ser confirmado tanto por indivíduos na sua vida particular 
como pelos próprios legisladores, os quais punem e castigam os que 
cometeram atos perversos, a não ser que tenham sido forçados a isso ou 
agido em resultado de uma ignorância pela qual eles próprios não fossem 
responsáveis (...). E sucede até que um homem seja punido pela sua 
própria ignorância quando o julgam responsável por ela, como no caso 
das penas dobradas para os ébrios; pois o princípio motor está no próprio 
indivíduo, visto que ele tinha o poder de não se embriagar, e o fato de 
se haver embriagado foi causa da sua ignorância [...]” (ARISTÓTELES, 
1984, Ética a Nicômaco, livro III, p. 88.)
Pense a respeito:
 · Como é tratada a questão da responsabilidade já na época de Aristóteles?
 · Há no mundo atual uma abordagem idêntica com relação às ideias de responsabilidade 
e punição?
7
Aristóteles e a Ética da Virtude
Por volta do ano de 384 a.C., nascia em Estagira o filho de um médico da corte do rei da 
Macedônia. Mais tarde, o apreço pelo entendimento da natureza levaria o então jovem estagirita 
a buscar uma sabedoria que ia além dos conhecimentos médicos paternos. Essa busca levaria 
o jovem, que atendia pelo nome de Aristóteles, a terras atenienses. Lá, tem contato com um dos 
gigantes da filosofia grega, Platão, que se tornaria seu mestre. Estava começando o caminho 
que levaria Aristóteles a gravar seu nome na história do pensamento ocidental.
A obra de Aristóteles aborda diferentes campos do 
pensamento filosófico, tais como a Lógica, a Política, 
a Metafísica, entre outros. Para o que propomos nesta 
unidade, daremos ênfase à Ética. 
A obra aristotélica sobre a qual nos debruçaremos é a 
Ética a Nicômaco. Nessa obra, podemos encontrar alguns 
componentes do pensamento ético do estagirita que 
ainda estão presentes nas discussões contemporâneas 
sobre o tema.
Questões filosóficas, como: “qual o sentido da 
vida?”, “existe uma melhor maneira de se viver?”, 
“qual a forma de agir corretamente?” são algumas 
das diversas questões filosóficas que remontam à 
antiga sabedoria grega. Como era de se esperar de um 
pensador do período, Aristóteles também se debruçou 
sobre essas questões.
Ponderando sobre a maneira como viviam seus contemporâneos, Aristóteles identificou três 
grupos principais:
a) aqueles que vivem apenas para o prazer;
b) aqueles que vivem para a política;
c) aqueles que levam uma vida contemplativa.
Os que vivem apenas em busca do prazer o mestre estagirita identifica como aqueles que 
levam uma forma de vida vulgar, “uma vida bestial”.
Já o grupo que se dedica à política pode acabar sendo vítima de uma busca superficial: a 
da honra. Apesar de ser a honra “a finalidade da vida política”, ela sempre dependerá “mais 
de quem a confere que de quem a recebe, enquanto o bem nos parece ser algo próprio de um 
homem e que dificilmente lhe poderia ser arrebatado” (conf. ARISTÓTELES, 1984, Ética a 
Nicômaco, livro I, p.52).
Fonte: Thinkstock/Getty Images
8
Unidade: Aristóteles e a Ética da Virtude
Mas, é o último grupo, por se dedicar à contemplação, à sabedoria e ao entendimento, 
que pode alcançar uma felicidade duradoura, algo que vá além dos prazeres efêmeros e da 
inconstância da honra. 
Sim, você, está entendendo corretamente. Para o pensamento aristotélico, a busca pela 
felicidade é parte fundamental da reflexão sobre Ética.
 
 Diálogo com o Autor
“[...] o conceito que preeminentemente fazemos da felicidade. É ela procurada sempre por si mesma e 
nunca com vistas em outra coisa, ao passo que à honra, ao prazer, à razão e a todas as virtudes nós de 
fato escolhemos por si mesmos (pois, ainda que nada resultasse daí, continuaríamos a escolher cada um 
deles); mas também os escolhemos no interesse da felicidade, pensando que a posse deles nos tornará 
felizes. A felicidade, todavia, ninguém a escolhe tendo em vista algum destes, nem, em geral, qualquer 
coisa que não ela própria.” (ARISTÓTELES, 1984, Ética a Nicômaco, livro I, p. 55).
O entendimento da ideia de felicidade em Aristóteles passa também pelo entendimento da 
ideia de virtude.
Mas, como acontece com diversos autores da filosofia, seus conceitos estão articulados de 
modo que estes se interpenetram. Apesar de tentar nos focarmos apenas na ética, para não 
perder de vista os objetivos da unidade, precisaremos que você nos acompanhe numa pequena 
digressão metafísica. Não perca a paciência, pois o resultado é compensador!
O sábio de Estagira, em suas reflexões, fez uma distinção, para explicar o movimento presente 
na natureza (aqui no sentido mais amplo, que inclui também o transformar), entre potência e ato.
A potência descreveria o vir a ser, a possibilidade, tudo aquilo que ainda não é, porém pode 
ser, pode se tornar. O exemplo mais simples disso: pegue uma semente de maçã na palma da 
sua mão. Essa pequenina semente carrega consigo a potência para se tornar uma grande árvore 
repleta de frutas com outras sementes como aquela. De certa maneira, a macieira está na sua 
mão, mas está em potência, como uma possibilidade a ser realizada. Ainda não está em ato. O 
ato é a potência realizada. No caso da semente, a árvore corresponde à atualização, a realização 
da potência que já existia na semente.
Fonte: istock/Getty Images
9
Assim, a relação potência/ato serve para descrever quando algo atinge sua finalidade. A 
realização da finalidade encontra-se na realização do potencial.
Ao abordar a ideia de virtude, o pensador estagirita recorre a um raciocínio análogo. Trata-se 
de entender a função que uma coisa possa ter – a realização de uma finalidade. A virtude está 
na excelência com que essa função é executada. Tomando um exemplo da natureza: qual a 
função do olho? Resposta: enxergar. E enxergar muito bem seria um olho virtuoso. 
É esse ponto que requer nossa atenção, e que retoma a reflexão sobre a ética. A virtude não 
é um conceito que se aplicaria somente às coisas presentes no mundo biológico – para usarmos 
termos contemporâneos –, não se trataria apenas da realização plena das potências presentes 
nesse aspecto do mundo. Mas, em harmonia com o mundo natural, nossas ações no plano moral 
também se direcionariampela realização de sua própria finalidade. Ao buscar uma conduta 
virtuosa, o homem estaria buscando realizar nada mais nada menos do que sua própria função. 
 
 Diálogo com o Autor
“[...] afirmamos ser a função do homem uma certa espécie de vida, e esta vida uma atividade ou ações 
da alma que implicam um princípio racional [...] o bem do homem nos aparece como uma atividade 
da alma em consonância com a virtude, e, se há mais de uma virtude, com a melhor e mais completa.” 
(ARISTÓTELES, 1984, Ética a Nicômaco, livro I, p. 56.)
Partindo-se do pensamento aristotélico, é importante frisar que um único dia de calor não 
constitui o verão. As vicissitudes de uma vida contemplativa, pelo menos no sentido da ética 
aristotélica, não podem ser encontradas em uma contemplação meramente passiva dos fatos 
da vida. Em outras palavras, seria de pouca ou de nenhuma ajuda se ficássemos presos aos 
conceitos abstratos sobre o que é a felicidade caso não fizéssemos nada para colocar isso em 
prática. O homem é feliz se vive bem e age bem. Para Aristóteles, a felicidade está ligada a “boa 
vida e boa ação” (conf. ARISTÓTELES, 1984, Ética a Nicômaco, livro I). Como resultado, o 
pensador estagirita não hesitou em identificar felicidade com virtude.
Também é um aspecto importante nessa correlação felicidade/virtude uma melhor aproximação 
daquilo que o autor sugere como boa ação ou ação virtuosa. A felicidade não deve ser percebida 
apenas como um estado de ânimo, pois, se assim o fosse, poderia ser considerado feliz aquele que 
se dedica firmemente aos prazeres mais imediatos ou, ainda, também seria muito feliz aquele que 
outrora fora coberto de honrarias. Pois bem, se viver a vida nas festas (“baladas” como diríamos 
hoje) ou depender da fama (ser popular de alguma maneira, como ter muitos “seguidores” em 
redes sociais) não são para o critério aristotélico indicador de felicidade, então como alcançá-la?
O sábio de Estagira formulou uma classificação dos tipos de conhecimento. Os teoréticos 
compreendem as coisas da natureza sobre as quais não temos nenhum controle ou poder 
de deliberação (escolha); por exemplo, a mudança das estações. Você pode até gostar mais 
da primavera, mas não é de sua escolha que ela pudesse durar por tempo indeterminado. 
Por outro lado, as ciências práticas (práxis) são aquelas cujos acontecimentos dependem 
diretamente da deliberação do agente. Nesse rol, podem ser relacionadas tanto a política 
como a ética, por exemplo. 
10
Unidade: Aristóteles e a Ética da Virtude
Agir ou não de maneira virtuosa dependerá da deliberação de quem age. Para o filósofo 
estagirita, a ética trata das ações que dependem da escolha de quem age. 
Contudo, não basta a ação por si mesma, numa espécie de voluntarismo, até porque um 
animal age e reage a estímulos, ataca a presa ou foge do predador, e isso pode ser avaliado 
como a realização de uma das funções daquele determinado animal; pode-se quiçá falar deste ou 
daquele animal como um exímio predador. Porém, no caso do homem, está presente o “princípio 
racional”, e este deve ser o guia para as suas ações na busca pela felicidade: “[...] A vida virtuosa 
é agir em conformidade com a razão, que conhece o bem, o deseja e guia nossa vontade até ele. 
A vida virtuosa é aquela em que a vontade se deixa guiar pela razão.” (CHAUÍ, 2003, p. 313.)
Você certamente está percebendo os diferentes ingredientes presentes nessa receita de 
pensamento: 1) a ética trata das ações que dependem de nossas escolhas; 2) a finalidade dessas 
escolhas está em buscar a felicidade; 3) como o homem é um ser dotado de racionalidade, o 
que diferencia nossas escolhas das ações dos animais, por exemplo, é o fato dessas escolhas 
poderem ser guiadas pela razão.
Então, poderíamos concluir que está tudo devidamente no lugar e que as pessoas são felizes, 
e que isso é uma decorrência própria da natureza humana!
Bom, isso seria uma conclusão apressada. O entendimento filosófico requer certo cuidado 
nos detalhes. 
Se agir em busca da felicidade depende de nossa escolha, então isso significa – por mais 
incrível que possa parecer – que podemos muito bem escolher o caminho que leva para 
longe da felicidade!
Exatamente por sermos a causa de nossas ações – pelo menos daquelas sobre as quais 
podemos deliberar –, há um componente de indeterminação. Podemos escolher em uma direção 
ou em outra, podemos nos omitir ou tomar a iniciativa de determinada atitude. Em todos esses 
cenários, não há decorrência automática, que nos conduza a uma ação mais apropriada. 
Quando se trata da ética, Aristóteles reconhece que não há como aplicar uma precisão extrema, 
mas ele não se furta de pensar um parâmetro que possa conduzir a um melhor resultado.
Como já vimos, algumas formas de se levar a vida não trazem felicidade duradoura, ou 
por dependerem de coisas efêmeras ou por dependerem de terceiros. Para o sábio estagirita, a 
felicidade também está articulada com a ideia de autossuficiência, pois sendo própria ao homem, 
dependeria unicamente dele mesmo (não de terceiros) e seria duradoura (não algo passageiro).
Assim, os ingredientes começam a se misturar, as escolhas boas ou ruins podem nos aproximar 
ou nos afastar da felicidade. Essa forma de realização, que podemos alcançar potencialmente, 
não está dada e, portanto, deve ser buscada, construída mediante a racionalidade de nossas 
ações. É na prática, na forma do meu agir em relação às outras pessoas, que posso ser avaliado 
como sendo justo ou injusto, bom ou mau.
Uma passagem de Aristóteles que exemplifica bem o espírito de sua ética é quando afirma que: 
“é possível errar de muitos modos, mas só há um modo de acertar” (conf. ARISTÓTELES, 1984, 
Ética a Nicômaco, livro II). Vamos imaginar um exercício para disparar uma flecha no centro do 
alvo determinado. A área de acerto (o centro) é muito menor do que todo o restante do alvo. O 
ponto de acerto pode ser um só, mas os lugares do alvo que são considerados erros são inúmeros.
11
Em nossa conduta em relação ao outro 
deve prevalecer o uso da razão. Contudo, 
o pensamento aristotélico refina um pouco 
mais a questão, oferecendo o “guia” para 
a ação boa e virtuosa. Não se trata de 
algo completamente preciso – Aristóteles 
reconhecera a dificuldade de uma maior 
precisão nesses casos – mas, sem dúvida, 
é um parâmetro bastante interessante: o 
meio-termo.
No entendimento do estagirita, as coisas 
no mundo parecem funcionar melhor 
quando estão em harmonia. Essa harmonia é expressa pelo equilíbrio. O excesso pode ser tão 
prejudicial quando a ausência. Alguém que come de maneira descontrolada, muito mais do que 
parece ser o necessário para saciar a sua fome, pode passar mal, ter fortes dores de estômago – e 
como ensinam os nutricionistas, nossos contemporâneos, isso pode acarretar problemas de saúde 
a longo prazo. Por outro lado, alimentar-se de forma insuficiente também é um risco para a saúde 
– a curto e a longo prazo. Entretanto, alimentar-se numa proporção que não é tão grande quanto 
o excesso e nem tão pequena quanto a ausência, na maioria dos casos, aponta para uma melhoria 
nas condições de saúde. O que dizer dos exercícios físicos ou da ingestão de remédios?
Alguns casos estão ligados a forças sobre as quais não podemos deliberar. Não posso, 
conscientemente, escolher que o remédio aplicado errado ou em dosagem alterada tenha o 
efeito desejado na dosagem correta que fora indicada pelo médico. Porém, como nos lembra o 
pensador de Estagira, podemos aplicar esse critério em nossas ações cotidianas, podemos levar 
esse parâmetro para o mundo moral.
 
 Diálogo com o Autor
“A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediania, 
isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem 
dotado de sabedoria prática.E é um meio-termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta; 
pois que, enquanto os vícios ou vão muito longe ou ficam aquém do que é conveniente no tocante 
às ações e paixões, a virtude encontra e escolhe o meio-termo.” (ARISTÓTELES, 1984, Ética a 
Nicômaco, livro II, p. 73.)
Aristóteles dedica algumas páginas da sua Ética para analisar diferentes tipos de conduta a 
partir do princípio do meio-termo. Por exemplo, no Livro II da Ética a Nicômaco, ele faz uma 
digressão – entre outras – de como a coragem é uma virtude posicionada entre o excesso da 
temeridade (aquele que não se importa se vive ou morre) e a ausência da covardia.
Fonte: iStock/Getty Images
12
Unidade: Aristóteles e a Ética da Virtude
Imaginemos o que se espera da conduta de um exército em batalha que diante de um inimigo 
em número muito maior, ataca impetuosamente, sem temer a própria morte. Isso até pode 
parecer bastante destemido, mas do ponto de vista mais racional, uma atitude impensada nessa 
direção poderia levar o pequeno exército a ser massacrado pelo invasor em maior número, o 
que provavelmente facilitaria a conquista do reino por parte do invasor. Outra linha de ação 
seria a do não enfrentamento: diante do inimigo em maior número e melhor equipado, o 
pequeno exército se rende enfraquecido, pois já não conta com uma parte de suas forças que 
foram capturadas. Mais uma vez, o reino é derrotado por seus invasores. Mas e se o pequeno 
exército faz um “recuo estratégico”, posicionando-se em uma localidade em que ele sabe que 
receberá reforços, aumentando seu número de equipamentos e provisões? Dessa forma a força 
invasora teria que se confrontar com um adversário que agora está em situação de igualdade. 
Isso certamente poderia mudar os resultados da guerra.
Para a ética aristotélica, o uso da razão como guia para as ações aumenta as chances 
das mesmas obterem um melhor resultado do ponto de vista dos fins. Se a ação possui uma 
finalidade, a mais virtuosa será a ação que atingir essa finalidade. 
O exército que tem como finalidade defender o reino não contribuirá para isso se expuser de 
maneira impensada e for massacrado pelo inimigo, tampouco os que se recusarem a combater 
diante de uma primeira adversidade são capazes de cumprir seu papel de defensores. Já os que 
mantiverem a disposição de combater e procurarem fazer isso de forma inteligente colocam 
a razão acima do medo ou da raiva imprudente e podem melhor executar o seu papel de 
combater os invasores.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado à maneira como guardamos ou gastamos nossos 
recursos financeiros, na maneira como lidamos com amigos ou com colegas de trabalho, enfim 
nas diferentes faces de nossas relações conosco mesmo e com as pessoas.
Diferentes autores, ao comentar a teoria aristotélica do “justo-meio”, como também é 
conhecida a ética aristotélica, fazem um quadro resumido como exemplificação. Para fins 
didáticos, adaptamos algumas características. Segue abaixo:
Vício por Excesso Virtude Vício por Ausência
Temerário Corajoso Covarde
Esbanjador Generoso Avarento
Precipitado Proativo Omisso
Muito mais do que apenas decorarmos longas listas de palavras sobre o que é virtude, ausência 
ou excesso, a ética de Aristóteles é um convite à prática, não apenas no sentido do agir, mas 
também no sentido de um aperfeiçoar-se, no sentido do exercitar. É o exercício da racionalidade 
na deliberação de nossas ações que ajudará na construção de disposições de caráter cada vez 
mais virtuosas. O meio-termo na moral sempre será um meio-termo relativo a nós mesmos. 
Então, quando e como vamos saber se atingimos o meio ou se nossas ações estão em 
desequilíbrio, pendendo ou para o excesso ou para a ausência? 
A solução aristotélica aponta para se forçar a buscar a direção contrária aos extremos, pois 
ali reside o erro. Quanto ao acerto “no centro do alvo”, apenas a prática acumulada poderá nos 
fornecer a destreza, ou melhor, a astúcia necessária. 
13
Além da relação entre ética e felicidade e da teoria do meio-termo, merece nossa atenção as 
considerações que Aristóteles faz acerca da justiça.
Naquilo que se refere à Justiça no seu sentido mais amplo, Aristóteles aponta diferentes 
sentidos que podem aparecer na sociedade, às vezes variando conforme as circunstâncias.
Por exemplo, o que dizer do ganancioso? A ganância pode ser sempre reprovada? Em dias 
atuais não se considera certa dose de ambição como algo positivo? Aqueles que almejam um 
maior crescimento profissional ou empreender abrindo o próprio negócio costumam receber 
menções elogiosas na sociedade. Mais uma vez, o sábio de Estagira nos oferece uma opção.
 
 Diálogo com o Autor
“[...] o homem sem lei, assim como o ganancioso e ímprobo são considerados injustos, de forma que 
tanto o respeitador da lei como o honesto são evidentemente justos. O justo é, portanto, respeitador 
da lei, e o probo e o injusto é o homem sem lei e ímprobo.” (ARISTÓTELES, 1984, Ética a 
Nicômaco, livro V, p. 121.)
De um ponto de vista mais geral, estar em conformidade com a lei aponta para a direção da 
justiça. Aproveitando o ensejo, tanto da ideia de “conformidade legal” como do lado “prático” 
da ética, Aristóteles faz uma reflexão não apenas sobre a justiça em geral, mas também sobre a 
justiça em particular.
O mestre de Estagira divide a justiça particular em: 
a) justiça particular distributiva; b) justiça particular 
corretiva. Sendo que neste último caso encontramos 
situações particulares voluntárias e involuntárias. 
A justiça particular distributiva se dá na relação entre 
o indivíduo e o Estado, a forma como o Estado (ou 
o governo da cidade) distribui honrarias, benefícios ou 
ônus, e que pode ser avaliada como justa ou injusta.
Com o parâmetro aristotélico, a mediana, ou seja, 
o meio-termo, nesses casos se busca a justa medida, 
nessa relação entre o indivíduo e o Estado. Isso pode 
ser condensado na fórmula: Tratar os iguais de forma 
igual e os diferentes de forma diferente.
Vamos imaginar alguns cenários, que mesmo contemporâneos ilustram bem o raciocínio 
de Aristóteles.
O governo de um município cobra impostos anuais sobre a posse de um terreno de um 
dos seus cidadãos. O valor – pela regra divulgada – é proporcional ao tamanho do terreno e 
à localização do mesmo (em determinadas áreas da cidade o valor do tributo pode ser mais 
Fonte: Thinkstock/Getty Images
14
Unidade: Aristóteles e a Ética da Virtude
alto ou mais baixo). Agora vamos imaginar que o cidadão em questão tem um vizinho cujo 
terreno é exatamente do mesmo tamanho. Quando o governo do município envia a cobrança 
dos tributos (ônus) – com a finalidade de posteriormente distribuir benefícios (serviços públicos) 
–, os vizinhos percebem que recebem contas de valores muito diferentes. Para um deles está 
sendo cobrado (sem nenhuma justificativa) o dobro do valor do outro. Seguindo o critério da 
justiça particular distributiva, o governo – que estaria encarregado de distribuir a cobrança dos 
impostos – fez uma distribuição desigual em uma situação de igualdade e, portanto, injusta.
Outra situação análoga que também serve como exemplo: imaginemos agora que a cobrança 
de impostos vai ser aplicada a dois cidadãos que desta vez não são vizinhos. Um dele possui 
um terreno em uma área considerada nobre na cidade (lugar em que os serviços públicos e a 
localização em relação à economia da cidade são extremamente favoráveis). Em contrapartida, 
o outro cidadão possui um terreno exatamente do mesmo tamanho, mas em uma localidade 
menos valorizada da cidade (carente de serviços públicos básicos e com muitas dificuldade 
de acesso). Outra vez chega a cobrança de impostos e agora o valor é igual para situações 
diferentes. O valor cobrado já seria considerado alto para o terreno mais valorizado. Para o terreno 
mais afastado (uma situação diferente),o valor igual pode ser considerado completamente 
desproporcional! Tudo isso porque se tratou situações diferentes de forma igual, desprezando a 
diferença e, portanto, a “medida justa” para a situação. Para qualquer variação desses tipos de 
cenário, o critério aristotélico é sempre estabelecer o equilíbrio, a mediana.
A outra modalidade de justiça particular é a corretiva. Esse conceito corresponde às situações 
em que a questão do justo ou do injusto envolve um ou mais cidadãos nas suas relações com 
outros cidadãos. A função do magistrado está em mediar essas relações e quando necessário, 
pela autoridade que representa, exigir que seja restaurado o equilíbrio. Por isso, são casos de 
justiça particular corretiva. Em situações que envolvem empréstimos, locações, compra e venda 
etc., os agentes envolvidos por interesses próprios firmam acordos voluntariamente. Na locação 
de um imóvel, por exemplo, se após o acordo firmado (contrato) o agente que alugou o imóvel 
deixa de pagar o combinado, a situação entrou em desequilíbrio, pois aquele que alugou continua 
com o imóvel de sua posse em uso pelo outro agente e não está mais recebendo por isso – como 
havia sido combinado anteriormente. Dependendo do impasse, o magistrado pode exigir que 
o imóvel seja devolvido ao proprietário e que o prejuízo lhe seja ressarcido (reparado), ou seja, 
recupera-se a situação de equilíbrio anterior.
Em outras situações, como quando um indivíduo comete um ato que prejudica outra 
pessoa, como em casos de crimes, roubo, agressão, homicídio, etc., Aristóteles entende que 
se deve avaliar o ocorrido considerando que parte dos envolvidos na relação foi envolvido de 
maneira involuntária. A vítima de um ato de agressão, roubo, conspiração, etc. não buscou essa 
relação livremente, cabendo à justiça, na medida do possível, reparar a situação (providenciar 
a devolução do que foi roubado), ou quando não for possível, contra efetuar o ocorrido. Não 
se pode “desagredir” ou ressuscitar a vítima de um homicídio, mas é esperado dos legisladores 
que criem sanções tão duras que o possível benefício que o crime poderia resultar seja diluído, 
de maneira a dissuadir que ocorra esse tipo de conduta.
Enfim, para a ética aristotélica, seja na busca pela felicidade, nas práticas cotidianas, ou 
mesmo na aplicação da justiça, sempre encontraremos à frente o uso da razão, e com ela a 
procura pelo meio-termo, pelo ponto de equilíbrio.
15
Material Complementar
Estudante:
A bibliografia complementar irá ajudá-lo(a) no aprofundamento dos seus estudos.
Sugerimos iniciar sua pesquisa de aprofundamento a partir dos “manuais mais gerias” e 
depois dedicar sua leitura aos textos específicos dos autores estudados na unidade. Indicamos 
também a leitura de algumas obras de história da filosofia, mas especificamente no período 
grego, como uma maneira de compreender melhor a “atmosfera intelectual” do período.
Importante também, estudante, é recorrer a um vocabulário filosófico. Essa abordagem 
facilita o movimento de investigação partindo dos textos mais introdutórios em direção aos 
mais complexos, o que permitirá ampliar a discussão principal da unidade, que envolve o 
pensamento de Aristóteles em torno da questão da Ética.
Bibliografia
ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. Tradução de Leonell Vallandro e Gerd Bornheim 
da versão inglesa de W.D. Ross. São Paulo, SP: Editor Victor Civita, 1984 (Coleção os 
Pensadores).
BITTAR, Eduardo C.B.; ALMEIDA, Guilherme Assis. Curso de Filosofia do Direito. 10ª 
edição. – São Paulo, SP: Editora Atlas, 2012.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª edição. – São Paulo, SP: Editora Ática, 2003.
MAC INTYRE, Alasdair. Depois da Virtude. Trad. Jussara Simões. – Bauru, SP – Edusc, 2001
REALE, Giovani, ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 7ª 
edição – São Paulo, SP: Paulus, 2002.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. – São Paulo,SP: Cortez Editora, 2002.
SCIACCA, Michele Federico. História da Filosofia. Trad. Luís Washington Vita. – São 
Paulo,SP: Mestre Jou, 1962.
VAZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Trad. João Dell’ Ana. – Rio de Janeiro, RJ: Civilização 
Brasileira, 1975. 
16
Unidade: Aristóteles e a Ética da Virtude
Referências
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Leonell Vallandro e Gerd Bornheim da 
versão inglesa de W.D. Ross. São Paulo, SP: Editor Victor Civita, 1984 (Coleção os Pensadores).
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª edição. – São Paulo, SP: Editora Ática, 2003.
BITTAR, Eduardo C.B.; ALMEIDA, Guilherme Assis. Curso de Filosofia do Direito. 10ª 
edição. – São Paulo, SP: Editora Atlas, 2012.
17
Anotações
www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Campus Liberdade
Rua Galvão Bueno, 868
CEP 01506-000
São Paulo - SP - Brasil
Tel: (55 11) 3385-3000

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes