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HIPERTEXTO - METABOLISMO E EFEITOS DO ETANOL NO ORGANISMO E PRINCIPAIS INTERVENÇÕES MEDICAMENTOSAS

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
SETOR DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE MEDICINA
CURSO DE MEDICINA
ALLAN CATARINO KISKA TORRANI
METABOLISMO E EFEITOS DO ETANOL NO ORGANISMO E PRINCIPAIS INTERVENÇÕES MEDICAMENTOSAS
PONTA GROSSA
2013
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
SETOR DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE MEDICINA
CURSO DE MEDICINA
ALLAN CATARINO KISKA TORRANI
METABOLISMO E EFEITOS DO ETANOL NO ORGANISMO E PRINCIPAIS INTERVENÇÕES MEDICAMENTOSAS
Hipertexto criado à Universidade Estadual de Ponta Grossa, Setor de Ciências Biológicas e da Saúde, Departamento de Medicina, Curso de Medicina, para obtenção de nota em Disciplina Integradora I.
 
PONTA GROSSA
2013
Resumo
O alcoolismo é um dos grandes problemas sociais de vários países do mundo. Muitos países criaram leis com base no nível de etanol do ar alveolar, que possui uma relação com os níveis séricos de álcool do sangue. O alcoolismo também é chamado síndrome da dependência do álcool. O etanol pode ser metabolizado em diversos órgão e tecidos do corpo, sendo os principais o fígado e o estômago, e depende de diversos fatores (mulheres possuem menor atividade da enzima ADH). Os efeitos do etanol nos organismo são ocasionados pelo acúmulo de etanol e seus derivados (acetaldeído e aldeído), e podem se manifestar em diversos sistemas como hipertensão arterial, hipoglicemia, cirrose hepática, gastrite, pancreatite, até mesmo a morte devido à baixa disponibilidade energética O tratamento do alcoolismo é feito principalmente com o uso de ansiolíticos, que ajudam na síndrome de abstinência do álcool.
Abstract
Alcoholism is one of the major social problems in many countries worldwide. Many countries have laws based on the level of ethanol in the alveolar air, which has a relationship with serum levels of blood alcohol. Alcoholism is also named alcohol dependence syndrome. Ethanol can be metabolized in many organs and tissues of the body, especially liver and stomach, and depends on several factors (women have lower activity of the enzyme ADH). The effects of ethanol in the body are caused by ethanol and its derivatives accumulation (acetaldehyde and aldehyde), and can manifest itself in many systems as hypertension, hypoglycemia, liver cirrhosis, gastritis, pancreatitis, even death due to the low energy availability. The alcohol treatment is mainly done by the use of anxiolytics, which help in alcohol withdrawal syndrome.
Sumário
 
Introdução	 5
Absorção e metabolismo de etanol no organismo	 5
Efeitos do etanol no organismo	 7
Efeitos no sistema nervoso central	 7
Efeitos no sistema cardiovascular	 7
Efeitos no sistema gastrintestinal	 8	
Etanol e função sexual	 9	
Efeitos nos sistemas hematológico e imunológico	 9	
Terapia medicamentosa do alcoolismo	 9
Conclusão	 10
Referências	 11
INTRODUÇÃO
O alcoolismo é uma doença que afeta cerca de 13% da população brasileira (cerca de 20 milhões de pessoas), sendo o principal problema de saúde pública atualmente. Essa doença está relacionado com vários problemas da vida atual, como acidentes, violência familiar e urbana, diabetes, cirrose, hipertensão arterial, sendo responsáveis por grande parte de internações em hospitais gerais e psiquiátricos.(1)
Conhecida também como “síndrome da dependência do álcool”, o alcoolismo é caracterizado por certas manifestações clínicas, como compulsão, perda de controle, dependência física, tolerância, que podem ou não ocorrer juntos e que são aliviados através do uso de álcool ou outras drogas sedativas.(2)
Devido à alta taxa de acidentes relacionados ao consumo alcóolico, muitos países adotaram medidas de para restringir a condução de veículos automotores, medidas essas baseadas nos níveis séricos de álcool (NSA), que pode ser avaliado pela dosagem dos níveis de álcool no ar expirado. Os níveis séricos de álcool podem ser influenciados por fatores como sexo, peso corporal, índices metabólicos e esvaziamento gástrico, e possui um coeficiente de partição de 2000:1 entre o sangue e o ar alveolar.(3)
ABSORÇÃO E METABOLISMO DO ETANOL NO ORGANISMO
Quando ingerido, o etanol (nome científico do álcool das bebidas) é metabolizado por diversos sistemas/órgãos do corpo. O metabolismo do etanol ocorre em diversas partes das células, como mitocôndria e peroxissomo, e sua velocidade depende de diversos fatores, como sexo, idade, etnia.
Cerca de metade da dose de etanol ingerida é absorvida em 15 minutos, sendo que a absorção total ocorre nas duas horas seguintes. Ele é absorvido rapidamente no estômago e no intestino delgado (mucosa duodenal), sendo que a velocidade de absorção depende do tempo de esvaziamento gástrico (a presença de alimento retarda a absorção de etanol). Da quantidade total de etanol ingerida, cerca de 90% do etanol é metabolizado no fígado e estômago e os 10% restantes eliminados intactos através da respiração e pelos rins.(4) O metabolismo de etanol ocorre em três etapas: oxidação do etanol em acetaldeído, oxidação acetaldeído em aldeído, e oxidação do aldeído em acetil-CoA.(5)
A principal via oxidação do etanol ocorre no citoplasma e é feita pela enzima álcool desidrogenase (ADH), que converte o etanol ingerido em acetaldeído, sendo consumido NAD+ e produzido NADH + H+; essa enzima possui atividade metabólica 60% menor em mulheres, aumentando a absorção de etanol pelas mulheres. A oxidação do etanol em acetaldeído também pode ocorrer nos peroxissomos, através da enzima catalase, e pelo sistema microssomal de oxidação do etanol (MEOS), com participação do citocromo P450 isoforma 2E1 (CYP2E1). O MEOS é ativado quando o consumo de álcool atinge um limite ou devido ao uso crônico, e possui uma alta toxicidade devido à produção de radicais livres (NADP+). Em alcoolismo agudo, o MEOS possui atividade 10% maior e pode aumentar com o aumento da ingestão de etanol(5) (figura 1).
 Figura 1 – Vias de oxidação do etanol.(6)
O acetaldeído é oxidado nas mitocôndrias em acetato a partir da enzima aldeído desidrogenase (ALDH), sendo gerado NADH + H+. Os orientais possuem baixa expressão gênica da ALDH, dado como “fator antialcoolismo”, sendo importante para a farmacoterapia do alcoolismo (ver adiante). O aldeído gerado na mitocôndria é convertido em acetil-CoA pela enzima acetil-CoA sintase, sendo assim lançado na corrente sanguínea e oxidado em outros tecidos (síntese de ácido graxos, corpos cetônicos, colesterol, e participação do ciclo de Krebs).(5)
EFEITOS DO ETANOL NO ORGANISMO
EFEITOS NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL(7)
O etanol pode interagir com várias substância do sistema nervoso central, como monoaminas (dopamina, norepinefrina, serotonina), aminoácidos neurotransmissores (glutamato, GABA), canais de cálcio e outros. O etanol ativa o sistema dopaminérgico mesolímbico, ativando o sistema de recompensa do cérebro, principalmente via área tegmental ventral e núcleo accumbens. Indiretamente, o sistema dopaminérgico ativa vias serotoninérgicas (receptores 5-HT3).
O etanol pode atuar também no sítio de ligação da glicina em receptores N-metil-D-aspartato (NMDA), inibindo a liberação de glutamato no organismo (neurotransmissor excitatório). Ele também atua sobre o sistema gabaérgico (GABA, neurotransmissor inibitório), através dos receptores GABAa e GABAb.
	O etanol atua nos canais de cálcio, reduzindo o influxo de cálcio através deles; no período de abstinência alcóolica, o efeito compensatório faz com que o influxo de cálcio aumente, causando certos efeitos (discutidos adiante).
	
EFEITOS NO SISTEMA CARDIOVASCULAR(3)
O etanol possui inúmeros efeitos no sistema cardiovascular. Estudos mostram que o etanol em baixas quantidades (principalmente do vinho, devido a presença de flavonoides) conferemefeito cardioprotetor, através da elevação dos níveis séricos de HDL e aumento dos níveis do ativador tecidual de plastinogênio (enzima que dissolve coágulos) e redução das quantidades de fibrinogênio. Porém se desconhece ao certo esse efeito cardioprotetor de baixas doses de etanol, por não haver ensaios clínicos randomizados. Entretanto, o uso crônico de altas doses de etanol podem causar efeitos negativos no sistema cardiovascular.
O etanol está relacionado também com a hipertensão arterial. O aumento do influxo de cálcio nas células aumentam a reatividade vascular, liberação de endotelina, inibição da produção de óxido nítrico.
O etanol está associado à arritmias cardíacas, devido ao prolongamento do intervalo QT, repolarização ventricular e estimulação simpática, podendo causar taquicardia supraventricular, fibrilação e flutter atrial. Pode ocasionar também miocardiopatia, devido à redução da contratilidade cardíaca ocasionada pelo etanol.
Os efeitos já discutidos ocasionados pelo etanol no sistema cardiovascular (arritmias cardíacas, hipertensão arterial, trombose) podem aumentar as chances de ocorrer um acidente vascular encefálico.
A sensação de calor causada pelo etanol se dá pelo fato que ele aumenta o fluxo sanguíneo cutâneo e gástrico, podendo causar sudorese. Altas quantidade de etanol fazem com que o calor interno se dissipe, podendo causar hipotermia.
O etanol também inibe a liberação a vasopressina (hormônio antidiurético) pela hipófise posterior, aumentando a diurese; a abstinência de etanol pode causar o aumento da liberação de vasopressina, diminuindo o volume urinário. 
EFEITOS NO SISTEMA GASTRINTESTINAL(3)
No esôfago, o álcool está associado ao aumento de ocorrência de certas patologias, como refluxo gastresofágico, esôfago de Barret, lacerações de Mallory-Weiss e câncer de esôfago (10x mais chance).
No estômago, pode causar gastrite crônica ou aguda, parecendo estimular a liberação de gastrina e histamina. Nos intestinos, alterações na mucosa intestinal e queda dos níveis de enzimas digestivas podem ocasionar diarreia crônica e queda dos níveis de substâncias como vitaminas e minerais. No pâncreas, o uso intenso de álcool pode causar pancreatite (aguda ou crônica), provavelmente devido ao efeito tóxico nos ácinos pancreáticos.
Dentre todos os órgãos do sistema gastrintestinal, o fígado é o que sofre mais danos relacionados ao etanol. Basicamente, o uso de etanol causa esteatose alcóolica, hepatite, e cirrose. A inativação do ciclo de Krebs, da oxidação de gordura, e a geração excessiva de NADH causam o acúmulo de gordura no fígado após a ingesta de pequenas quantidades de etanol.
O etanol provoca a deposição de colágeno em torno das vênulas terminais hepáticas (formação de miofibroblastos produtores de colágeno), causando fibrose e necrose (substituição de tecido hepático normal por fibroso), caracterizando a cirrose alcóolica, e inflamação do fígado (hepatite). O alto consumo de etanol faz com que o rendimento energético diminua, fazendo com que o fígado realize a gliconeogênese em larga escala, podendo ocasionar hipoglicemia caso o etilista não se alimente, uma vez que há falta de glicogênio e a baixa gliconeogênese. A queda dos níveis de glicemia do sangue pode levar ao coma alcóolico e até à morte (diminuição da disponibilidade energética no organismo)(5)
ETANOL E FUNÇÃO SEXUAL
O uso crônico de etanol pode causar vários efeitos relacionados com a função sexual, tanto em homens quanto mulheres. Uso de pequenas quantidades de etanol podem aumentar o libido. O uso de grandes quantidades de etanol pode causar em homens piora da ereção, redução dos níveis de testosterona, redução do número de espermatozoides; em mulheres, pode causar inexistência de orgasmo, piora da lubrificação vaginal, intercurso sexual doloroso.(8)
EFEITOS NOS SISTEMAS HEMATOLÓGICO E IMUNOLÓGICO(3)
No sistema hematológico, o uso crônico de etanol pode causar anemia microcítica (perda crônica de sangue e deficiência de ferro) e anemias macrocíticas. Dentre as anemias macrocíticas, pode ocorrer anemia normocrônica (defeito da hematopoiese), anemia sideroblástica (tratamento à base de vitamina B6). Pode causar também trombocitopenia reversível.
No sistema imunológico, o álcool pode causar leucopenia, alteração da produção de imunoglobulinas, entre outros. Essas alterações podem afetar a mobilidade de leucócitos para áreas de inflamação (baixa resistência a infecções), alteração da função de células linfoides (regulação alterada de citocinas).
TERAPIA MEDICAMENTOSA DO ALCOOLISMO(3)(9)(10)
Há vários medicamentos que podem ajudar no tratamento do alcoolismo, que atuam no processo de abstinência e prevenção de recaídas do etanol. O dissulfiram atua inibindo a enzima aldeído desidrogenase, fazendo com que haja o acúmulo de acetaldeído, dando origem a sintomas como: vasodilatação, tornando a face ruborizada e quente; cefaleia pulsátil, dificuldades respiratórias, náuseas, sudorese, fraqueza, vertigem entre outros sintomas.
A naltrexona atua bloqueando a ativação das vias dopaminérgicas pelo etanol, ajudando a manter a abstinência, porém pode causar lesão hepática, sendo contraindicada para pacientes com insuficiência hepática ou hepatite aguda.
O acamprosato, um análogo do GABA, reduz a frequência de ingestão de álcool e a recidiva em alcóolatras abstêmios, e seu uso concomitante com dissulfiram pode aumentar sua eficácia; seu principal efeito colateral é a diarreia. A ondansetrona é um antagonista do receptor serotoninérgico 5-HT3, sendo indicado para tratamento do alcoolismo em fases iniciais. O topiramato é um anticonvulsionante que pode regular o NMDA e o glutamato, que são desregulados pelo uso de álcool.
CONCLUSÃO
Conclui-se que o alcoolismo é uma doença multifatorial que atinge a todos os países. Seu metabolismo ocorre principalmente no fígado e estomago, passando por três etapas de oxidação, sendo que a eficácia dessas vias variam de acordo com fatores étnicos. Suas manifestações clínicas podem se dar através de diversos sistemas, principalmente no sistema nervoso central, atuando como depressor do SNC e ativador do sistema de recompensa, e no fígado, como esteatose hepática e cirrose alcoólica. A queda dos níveis de glicemia do sangue pode levar o indivíduo ao coma alcóolico. O alcoolismo pode ser tratado através de fármacos, como o dissulfiram e naltrexona, que atuam sobre a síndrome de abstinência e em fatores antialcoólicos. Entretanto essas terapias ainda não possuem todo o seu mecanismo conhecido sobre o alcoolismo.
Referências Bibliográficas
1.Leite CS. Alcoolismo ontem em hoje: jovens envolvidos com drogas e álcool chegam ao “fundo do poço” precocemente. Disponível em: <http://www.aabr.com.br/ver.php?i d=259&secao=7>. Acesso em 19 de outubro de 2013, às 23:18.
2.Ministério da Saúde, Portal da Saúde. Alcoolismo – da diversão ao vício. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=557>. Acesso em 19 de outubro de 2013, às 23:34.
3.Fleming M, Mihic SJ, Harris RA. Etanol. In: Brunton LL. Goodman & Gilman: As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 10ª ed. Rio de Janeiro: McGraw Hill, 2005. Capítulo 18, p.325 – 337.
4.Dos Santos AMBP, Neves TLQ. Farmacocinética. In:Etanol. Dispónivel em: <www. ff.up.pt/toxicologia/monografias/ano0910/etanol/farmacocinetica.htm>. Acesso em 20 de outubro de 2013, às 14:58.
5.Auxiliadora M. Condições bioquímicas sobre o etanol. Disponível em: <http://www.slideshare.net/JuciVasconcelos/bioqumica-ii-13-metabolismo-do-etanol-arlindo-netto>. Acesso em 20 de outubro de 2013, às 16:35.
6.Pineda LC. 17. Alcohol em la gestacion y sus consequência em las relaciones feto-placentarias. Disponível em: < http://www.javeriana.edu.co/Facultades/Ciencias/ neurobioquimica/libros/perinatal/alcoholed.html>. Acesso em 20 de outubro de 2013, às 18:21.
7.Zaleski M, Morato GS, Da Silva VA, Lemos t. Aspectos neurofarmacológicos do uso crônico e da Síndrome de Abstinência do Álcool. RevBras Psiquiatr, v.26, Supl I, p. 40-42, 2004.
8.Peugh J, Steven B. Alcohol, drugs, and sexual function: a review. Journal of Psychoactive Drugs, n. 33, v. 3, p. 223-33.
9. Medicamento é testado contra o vício de cocaína. Disponível em: < http://www.antidrogas.com.br/mostranoticia.php?c=1722&msg=Medicamento%20%E9%20testado%20contra%20v%EDcio%20de%20coca%EDna>. Acesso em 20 de outubro de 2013, às 21:46.
10. Tratamento do Alcoolismo. Disponível em: < http://www.psicosite.com.br/tex/drg/ alc009.htm>. Acesso em 20 de outubro de 2013, às 21:48.

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