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As modalidades de obrigações no direito civil brasileiro: comentários acerca das normas previstas no Código Civil acerca das obrigações - Faustino da Rosa Júnior

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As modalidades de obrigações no direito civil brasileiro: 
comentários acerca das normas previstas no Código 
Civil acerca das obrigações 
As modalidades de obrigações no direito civil brasileiro: comentários acerca das normas 
previstas no Código Civil acerca das obrigações 
 Faustino da Rosa Júnior 
 
1. Introdução: o Direito das Obrigações no Código Civil 
O Direito das Obrigações trata de direitos de índole patrimonial e constitui a matéria do 
Livro I da Parte Especial, a partir do Art. 233, do Código Civil. Há uma tendência atual de 
uniformização e de internacionalização do direito obrigacional. 
 
2. Conceito de obrigação 
O Código Civil brasileiro não apresenta uma definição de obrigação. São características da 
obrigação: (a) patrimonialidade: sempre envolve a patrimônio, seja em forma de bens, seja 
em espécie (dinheiro); (b) transitoriedade: a obrigação nasce com a finalidade de extinguir-
se, sempre, em algum momento toda a obrigação se extinguirá; (c) pessoalidade: trata-se de 
uma relação jurídica, um vínculo que se estabelece sempre entre duas ou mais pessoas: 
credor e devedor; e (d) prestacionalidade: o objeto é sempre uma atividade, uma prestação 
que pode ser de dar, fazer ou não fazer alguma coisa certa ou incerta. 
2.1 Elementos constitutivos da obrigação 
São dois: as partes e o objeto. 
2.1.1 Partes 
2.1.1.1 Sujeito ativo (credor): titular do direito de receber o objeto obrigacional. 
2.1.1.2 Sujeito passivo (devedor): titular da obrigação de entrega do objeto obrigacional, 
ficando com o dever de cumprir a obrigação, entregando para o credor aquilo a que se 
comprometeu. 
2.1.2 Objeto 
Pode constituir-se em obrigação de dar (coisa certa ou incerta), de fazer ou de não fazer; 
2.2 Fontes das obrigações 
O direito civil brasileiro acolhe três tipos de fontes geradoras de obrigações (deveres) 
jurídicas: (a) Obrigações derivadas de vontade humana: oriundas de um ato jurídico lato 
sensu (negócio jurídico, ato jurídico stricto sensu); (b) Obrigações derivadas de ato ilícito: 
seja pelo inadimplemento (total ou parcial), seja pelo cometimento de um delito; e (c) 
Obrigações derivadas direta ou imediatamente da lei: obrigações tributárias, 
administrativas, oriundas do poder familiar ou mesmo de um fato jurídico stricto sensu, 
como também os casos de enriquecimento sem causa, que implicam em um pagamento 
injusto e, em consequência, na obrigação de restituir, assim como nos casos de abuso de 
direito. 
2.3 Obrigações contratuais e extracontratuais 
As obrigações contratuais são aquelas que se originam das cláusulas contratuais. Já as 
obrigações extracontratuais, por exclusão, são aquelas que não se originam dos contratos, 
embora devam ser respeitados na formulação e no adimplemento das obrigações, como as 
obrigações decorrentes do direito positivo em geral (lei, constituição, etc.), da moral, dos 
bons costumes, da justiça e da equidade. 
2.4 Obrigações civis e naturais 
2.4.1 Obrigações civis 
As obrigações, em geral, caracterizam-se pela presença do débito e da responsabilidade, 
cuja consequência do inadimplemento é a possibilidade de sua execução forçada via ação 
judicial; por isto são ditas obrigações perfeitas ou civis. 
2.4.2 Obrigações naturais 
Trata-se de obrigações incompletas, na medida em que apresentam como características 
essenciais as particularidades de não serem judicialmente exigíveis, porém, se forem 
adimplidas espontaneamente, será sempre tido por válido o pagamento, que não poderá ser 
repetido, uma vez que há a retenção do pagamento, soluti retentio, não importando se a 
prestação era lícita ou ilícita (Exemplos: a prestação de alimentos provisionais [Arts. 1706 a 
1710, do Código Civil], o pagamento de dívidas de jogo [Arts. 814 a 817, do Código Civil], o 
adimplemento de dívidas prescritas [Art. 882, do Código Civil], o pagamento de juros 
indevidos [Art. 591, do Código Civil] e a vedação ao benefício da própria torpeza [Art. 883 e 
parágrafo único, do Código Civil]). 
2.5 Obrigações reais (Propter rem) 
São as obrigações devidas que são originadas da mera titularidade de um direito real. 
Extinguindo o direito real, extingue-se a obrigação. Transmitindo-se a titularidade do direito 
real, transmite-se a titularidade da obrigação. Exemplos: a obrigação do condômino em 
concorrer, na proporção da sua parte, para as despesas de conservação ou divisão da coisa 
(Art. 1315, Código Civil); a obrigação de o proprietário confinante proceder, com o 
proprietário limítrofe, à demarcação entre os dois prédios, aviventar rumos apagados e 
renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os 
interessados as respectivas despesas (Art. 1297, caput, do Código Civil); a obrigação de 
cunho negativo de proibição, na servidão, do dono do prédio serviente em embaraçar o uso 
legítimo da servidão (Art. 1383, do Código Civil) 
 
3. Obrigações de dar (Arts. 233 a 246, do Código Civil) 
Ocorre quando o sujeito passivo compromete-se a entregar ao sujeito ativo uma coisa que 
pode ser certa ou incerta. 
3.1 Obrigação de dar coisa certa (Arts. 233 a 242, do Código Civil) 
Coisa certa é tudo que pode ser individualizada, identificado quanto a número, modelo, 
marca, etc. O credor de coisa certa não está obrigado a receber outra coisa no lugar, ainda 
que seja mais valiosa, tendo em vista que a vontade das partes voltam-se para um 
determinado objeto. A obrigação de dar coisa certa abrange também os acessórios da coisa, 
exceto se não houver possibilidade, ou o contrário tiverem ajustado as partes. 
3.1.1 Perda da coisa certa 
Caso ocorra a perda da coisa certa e ainda esteja pendente condição suspensiva, ou ocorre 
antes da tradição, sem que haja culpa do devedor, a obrigação fica resolvida para ambas as 
partes, sendo a perda considerada a causa de extinção da obrigação sem o correspondente 
pagamento. Ao revés, se o devedor concorreu com a culpa para a perda da coisa certa, este 
responderá pelo equivalente, acrescido de perdas e danos. 
3.1.2 Deterioração da coisa certa 
Caso ocorra a deterioração da coisa certa, ou seja, a coisa certa continua a existir, porém 
danificada, depreciada. Neste caso, a lei de igual forma, irá analisar a culpa do devedor pela 
deterioração da coisa. Se o sujeito passivo não concorreu com culpa no fato, o credor ficará 
com a faculdade de resolver a obrigação ou aceitar a coisa no estado em que se encontrar, 
desde que abatido o preço equivalente à deterioração. Se, contudo, a coisa certa se 
deteriorou por culpa do devedor, o credor poderá, de forma facultativa, exigir o equivalente 
à coisa ou aceitá-la no estado em que se encontra, podendo reclamar em ambos os casos 
indenização por perdas e danos. 
3.1.3 Melhorias 
Os melhoramentos que se acrescentem à coisa certa antes da tradição pertencem ao sujeito 
passivo que, ao entregar a coisa para o sujeito ativo, poderá exigir aumento do preço em 
decorrência destes melhoramentos, podendo resolver-se a obrigação se o credor não anuir 
com o acréscimo do preço. Da mesma forma, os frutos percebidos pertencerão ao devedor, 
enquanto aos pendentes terá direito o credor. 
3.2 Obrigação de dar coisa incerta (Arts. 243 a 246, do Código Civil) 
Coisa incerta é tudo aquilo que não pode ser individualizado, mas que deve ser ao menos 
indicado quanto a seu gênero e quantidade. Na obrigação de dar coisa incerta, como regra, o 
devedor é quem deve fazer a escolha da coisa que será entregue ao credor e, neste caso, 
aplica-se o princípio da equivalência, segundo o qual não se pode entregar a pior coisa 
quando se está obrigado a entregar melhor. No entanto, as partes podem ajustar que a 
escolha seja efetuada pelo credor e estabelecer estadeliberação no título. Quando a escolha 
couber ao devedor, enquanto este não designar qual coisa entregará, não poderá ser 
alegada a perda ou a deterioração da coisa, ainda que decorrentes de força maior ou caso 
fortuito. 
3.3 Obrigações de fazer (Arts. 247 a 249, do Código Civil) 
Ocorre quando o devedor compromete-se para com o credor a fazer determinada coisa ou a 
praticar determinado ato. A obrigação de fazer poder ser personalíssima e não 
personalíssima. 
3.3.1 Obrigação de fazer personalíssima 
A obrigação de fazer personalíssima não admite que terceiro a cumpra no lugar do devedor, 
porquanto é ele, o devedor, quem deverá cumpri-la pessoalmente. Caso cumpri-la torne-se 
impossível, sem que o devedor tenha concorrido com culpa, estará ela resolvida, 
extinguindo-se a obrigação sem o pagamento. Todavia, caso o devedor tenha concorrido 
com culpa para impossibilidade da prestação, este deverá arcar com as perdas e danos. 
3.3.2 Obrigação de fazer não personalíssima 
A obrigação de fazer não personalíssima permite que o terceiro cumpra a obrigação no lugar 
do devedor. Neste caso, podendo a obrigação ser executada por terceiro, o credor estará 
livre para mandar executar a obrigação à custa do devedor e, caso este se recuse ou se 
constitua em mora, de ainda pleitear perdas e danos. Em caso de urgência no cumprimento 
da obrigação de fazer não personalíssima, o credor, independentemente de autorização 
judicial, poderá executá-la ou mandar um terceiro fazê-lo, sendo ressarcido posteriormente. 
3.3 Obrigações de não fazer (Arts. 250 a 251, do Código Civil) 
Ocorre quando o devedor compromete-se perante o credor a não fazer determinada coisa 
ou a não praticar determinando ato. Assim, se o devedor descumprir a obrigação, praticando 
o ato que se comprometeu a não praticar, o credor poderá exigir que o devedor desfaça-o, 
sob pena de mandar o credor desfazê-lo à custa do devedor, sem prejuízo das perdas e 
danos. 
Entretanto, em caso de comprovada urgência, o credor poderá desfazer ou mandar que 
terceiro desfaça o ato independentemente de autorização judicial, sendo ressarcido do 
devido. Mas a obrigação de não fazer ficará resolvida para ambas as partes se tornar-se 
impossível, para o devedor, abster-se do ato. Isto, da mesma forma, consistirá em causa de 
extinção da obrigação sem o pagamento. 
3.4 Tutela específica da obrigação de fazer, não fazer e dar (Arts. 461 e 461-A, do Código 
de Processo Civil) 
A tutela específica da obrigação de fazer, não fazer ou de dar é regra de Direito Processual 
Civil, vindo disposta tanto no processo de conhecimento, como nas relações de consumo. 
Porém, a tutela específica destas obrigações tem cabimento ainda por ocasião da execução 
delas; portanto, cabe também no processo de execução. 
3.5 Astreintes (Art. 461, do Código de Processo Civil, e Art. 84, do Código de Defesa do 
Consumidor) 
O juiz, ao conceder a tutela específica da obrigação, poderá, de ofício ou a requerimento da 
parte interessada, determinar uma multa para cada dia em que o devedor deixar de cumprir 
a obrigação determinada em juízo. Tais multas são denominadas astreintes e, assim, 
enquanto perdurar o descumprimento da determinação judicial, incidirá multa diária. 
É importante ressaltar que, até 7 de agosto de 2002, as astreintes somente poderiam ser 
determinadas em processos de conhecimento ou de execução das obrigações de fazer ou 
não fazer. Porém, em 7 de agosto de 2002, com a entrada em vigor da Lei nº. 10.444/02, 
publicada em 8 de maio do mesmo ano, o Art. 461 do Código de Processo Civil foi alterado, 
acrescentando-se, inclusive, o Art. 461-A, que passou a admitir a incidência de multa diária 
também na obrigação de dar. 
3.6 Obrigações alternativas (Arts. 252 a 256, do Código Civil) 
São aquelas nas quais existe mais de um modo pelo qual a prestação pode ser cumprida pelo 
devedor (Art. 252). Este se exonera ao prestar qualquer delas. Exemplo da barraca de beijos: 
se paga por um beijo, neste caso a obrigação resolve-se tanto se a garota der um selinho 
como se der um beijo de língua. 
Nessa modalidade, a escolha caberá ao devedor se não se estipulou outra forma, não 
podendo este, contudo, cumprir parcialmente uma ou outra. Se uma das duas prestações 
não puder ser objeto de obrigação, ou se tornar inexequível, subsistirá o débito em relação à 
outra (Art. 253). 
Caso não seja possível cumprir uma ou outra das obrigações, e o fato se der por culpa do 
devedor em que caiba escolha ao credor, ficará o devedor obrigado a pagar ao credor o valor 
da última prestação mais perdas e danos (Art. 254). 
 Se, por outro lado, couber escolha ao credor e uma das prestações não puder ser cumprida 
por culpa do devedor, o credor terá o direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da 
outra, mais perdas e danos (Art. 255). Todavia, se nenhuma das prestações puder ser 
cumprida, sem que haja culpa do devedor, obrigação restará resolvida para as partes (Art. 
256). 
3.7 Obrigações divisíveis e indivisíveis (Arts. 257 a 263, do Código Civil) 
3.7.1 Obrigações divisíveis 
São aquelas que podem ser executadas parceladamente, ou seja, em prestações (Art. 257). 
Exemplo: dívida de R$ 10.000,00, paga em cinco parcelas iguais. 
3.7.2 Obrigações indivisíveis 
São aquelas que não admitem tal parcelamento por sua natureza, por motivos de ordem 
econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico (Art. 258). Exemplo: dívida de 
R$ 10.000,00, que deve ser paga no prazo de seis meses. A obrigação indivisível perde tal 
característica se for resolvida em perdas e danos. 
* Mesmo que uma obrigação tenha por objeto uma prestação divisível, o credor não está 
obrigado a receber de forma parcelada nem o devedor a dessa forma pagá-la, se assim não 
tiver sido ajustado entre as partes. 
** Sendo divisível a obrigação e existindo mais de um credor ou mais de um devedor, a 
obrigação presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos forem os 
credores ou os devedores (Art. 257). Exemplo: se A deve 15 aos credores conjuntos B, C e D, 
e sendo divisível a obrigação, isto pressupõe que B, C e D têm direito a receber de A 5 cada 
um. 
*** Ao contrário, e forem vários devedores e a prestação for indivisível, cada qual será 
obrigado pela dívida toda (Art. 259). Aquele que pagar, todavia, sub-rogar-se-á do direito do 
credor (Art. 259, parágrafo único). 
**** Havendo pluralidade de credores, poderá cada um deles exigir a dívida toda. Aos 
demais credores assistirá o direito de exigir. Do credor que receber a prestação por inteiro, a 
parte que lhes cabia no total em dinheiro (Art. 260). 
3.8 Obrigações solidárias (Arts. 264 a 285, do Código Civil) 
A solidariedade no direito das obrigações ocorre quando, em decorrência da mesma relação 
jurídica, a obrigação estabelece-se entre dois ou mais credores (solidariedade ativa) ou dois 
ou mais devedores (solidariedade passiva), tendo cada um deles direito a exigir a dívida toda 
ou a ela ficando obrigado, respectivamente (Art. 264). O instituto das obrigações in solidum 
admite também a modalidade mista, situação em que existirão vários credores e vários 
devedores na mesma obrigação. Todavia, a solidariedade não é instituto que se presuma, 
isto é, deve ser resultante de lei ou da vontade das partes (Art. 265). Ressalta-se também 
que a solidariedade pode ser pura e simples ou estar sujeita à condição, ao prazo ou ao 
encargo (Art. 266). 
3.8.1 Solidariedade ativa (Art. 267 a 274) 
Ocorre quando cada um dos credores tem o direito de exigir do devedor o cumprimento da 
obrigação por inteiro, denominado de direito individual de persecução (Art. 267). O devedor 
de obrigação solidária, enquanto não for demandado, poderápagar a qualquer dos credores 
(Art. 268). Neste caso, o pagamento efetuado pelo devedor a qualquer dos credores 
solidários extinguirá a obrigação (Art. 269), o mesmo ocorrendo em caso de novação, de 
compensação ou de remissão (Art. 272). Caso a prestação converta-se em perdas e danos, 
subsistirá a solidariedade e em favor de todos os credores, correndo, inclusive, juros de 
mora (Art. 271). 
Entretanto, se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá 
direito a exigir a receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, 
salvo se a obrigação for indivisível (Art. 270). Por outro lado, há que se ressaltar que a um 
dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros 
(Art. 273). O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o 
julgamento favorável aproveita-lhes, a menos que se funde exceção pessoal ao credor que o 
obteve (Art. 274). 
3.8.2 Solidariedade passiva (Art. 275 a 285) 
Ocorre quando cada um dos devedores solidários poderá ser demandado para cumprir a 
integralidade da obrigação assumida por todos. O credor tem direito a exigir e receber de 
um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento 
tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto 
(Art. 275). Não importará renúncia da solidariedade à propositura de ação pelo credor 
contra um ou alguns dos devedores (Art. 275, parágrafo único). Se um dos devedores 
solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota 
que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível, mas todos 
reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores 
(Art. 276). O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não 
aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada 
(Art. 277). Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos 
devedores solidários o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento 
destes (Art. 278). 
Assim, o credor tem o direito de exigir e receber de um ou alguns dos devedores a dívida 
comum, e, ocorrendo impossibilidade do cumprimento da prestação por culpa de um dos 
devedores, subsistirá aos demais o encargo de pagar o equivalente, porém, por perdas e 
danos só responderá o culpado (Art. 279). Caso seja proposta uma ação contra um dos 
obrigados, todos responderão pelos juros de mora, mas aquele que der causa à situação 
responderá aos demais pela obrigação acrescida (Art. 280). O devedor demandado pode 
opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe 
aproveitando às exceções pessoais a outro co-devedor (Art. 281). Por outro lado, o credor 
pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores (Art. 
282); todavia, se o credor renunciar da solidariedade em favor de um ou de alguns, subsistirá 
a dos demais (Art. 282, parágrafo único). 
O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem o direito a exigir de cada um dos co-
devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, 
presumindo-se iguais, no débito, as parte de todos os co-devedores (Art. 283). No caso de 
rateio entre os co-devedores, contribuirão também os exonerados da solidariedade pelo 
credor, pela parte que na obrigação incumbia ao insolvente (Art. 284). Se a dívida solidaria 
interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com 
aquele que pagar (Art. 285). 
Ademais, há que se atentar para os seguintes dispositivos legais: 
Art. 127, caput, da Lei 11.101/05: “O credor de coobrigados solidários cujas falências sejam 
decretadas tem o direito de concorrer, em cada uma delas, pela totalidade do seu crédito, 
até recebê-la por inteiro quando então comunicará ao juízo”. 
Art. 54, do Código de Processo Civil: “Quando um devedor solidário é acionado, os demais 
podem intervir no processo como assistentes, na figura de assistente qualificado”. 
 
4. Outras modalidades de obrigações 
4.1 Obrigações de meio, de resultado e de garantia 
Tal distinção refere-se ao descumprimento das respectivas obrigações, onde a idéia 
fundamental reside na noção de saber e de examinar o que o devedor prometeu e o que o 
credor pode razoavelmente esperar. 
4.1.1 Obrigações de meio 
Nas obrigações de meio deve ser aferido se o devedor empregou boa diligência no 
cumprimento da obrigação. Seu descumprimento deve ser examinado na conduta do 
devedor, de modo que a culpa não pode ser presumida, incumbindo ao credor prová-la 
cabalmente. Exemplos: contrato de prestação de serviços advocatícios, contrato de 
prestação de serviços médicos. 
4.1.2 Obrigações de resultado 
Nas obrigações de resultado o que importa é a aferição se o resultado colimado foi 
alcançado. Só assim a obrigação será tida como cumprida. Sua inexecução implica falta 
contratual, dizendo-se que existe, em linhas gerais, presunção de culpa, ou melhor, a culpa é 
irrelevante na presença do descumprimento contratual. Exemplos: contrato de transporte, 
contrato de reparação de um bem. 
4.1.3 Obrigações de garantia 
As obrigações de garantia viam a eliminar um risco que pesa sobre o credor. A simples 
assunção do risco pelo devedor da garantia representa, por si só, o adimplemento da 
prestação. A compreensão da obrigação de garantia deve partir da noção de obrigação de 
meio, podendo ser considerada subespécie desta, em muitas ocasiões. O inadimplemento 
deve ser verificado, quero efeito indesejado tenha ocorrido, quer não, tomando-se por base 
um “padrão” de serviços para a espécie. Exemplo: contrato de segurança. 
Levando-se em conta tais situações, pode-se afirmar que há obrigações tipicamente de 
garantia, como a dos contratos de seguro e de fiança, e outras obrigações de garantia, como 
a situação enfocada, em que ela surge combinada com uma obrigação de meio. 
4.2 Obrigações de execução instantânea, diferida e continuada 
4.2.1 Obrigação de execução instantânea 
É o tipo de obrigação cuja contraprestação a ser feita pelo devedor é simultânea à prestação 
efetuada pelo credor. Exemplo: contrato de compra e venda, contrato de permuta. 
4.2.2 Obrigação de execução diferida 
É o tipo de obrigação cuja contraprestação a adimplida pelo devedor é diferida no tempo 
(pro futuro) em relação à prestação efetuada pelo credor. Exemplo: contrato de seguro, 
contrato de depósito. 
4.2.3 Obrigação de execução continuada 
É o tipo de obrigação cuja contraprestação a ser adimplida pelo devedor é continuada no 
tempo em relação à prestação efetuada pelo credor. Exemplo: contrato de segurança, 
contrato de prestação de serviços educacionais, contrato de locação. 
4.3 Obrigações puras, condicionais e a termo 
4.3.1 Obrigação pura 
Trata-se das obrigações que não estão sujeitas à condição, à termo ou à encargo, na medida 
em que o credor possui o direito de exigibilidade prontamente, com o vencimento da 
obrigação pelo devedor. 
4.3.2 Obrigação condicional 
A condição subordina a obrigação a evento futuro e incerto. Não havendo futuridade, tendo 
já ocorrido o evento, não há condição e a obrigação é exequível desde logo. Exemplo: se 
subordinamos um pagamento a um resultado de uma competição esportiva que ocorreu 
ontem, da qual apenas não abemos o resultado, não há futuridade, não há condição, não se 
trata de obrigação condicional, embora sua aparência o seja. Há dois tipos de condições: 
condições suspensivas e condições resolutivas. 
4.3.2.1 Condições suspensivas 
Não existe a obrigação, não podendo assim ocredor exigir seu cumprimento, enquanto não 
ocorrer o implemento da respectiva condição. Portanto, o credor detém, neste caso, um 
direito eventual, que implica no fato de seu titular poder exercer os meios asseguratórios 
para conservá-lo (Art. 130, do Código Civil). 
Vale dizer que sempre que o devedor impeça que a condição suspensiva se realize, a 
condição tem-se por cumprida e torna-se exigível a obrigação (Art. 129, do Código Civil). 
Ocorrendo o implemento da condição, imediatamente é exigível a obrigação (Art. 332, do 
Código Civil), cabendo ao credor provar que o devedor teve ciência do evento. 
Assim, em não ocorrendo a condição suspensiva, a obrigação, assim, deixa de existir. 
Destarte, não tendo ocorrido o evento e tendo o devedor cumprido a obrigação, assiste-lhe 
o direito de repetição, porque se trata de pagamento indevido (Art. 876, do Código Civil). 
Além disso, é proibida a disposição posterior ao estabelecimento da condição suspensiva, se 
esta disposição é incompatível com a condição suspensiva previamente estabelecida (Art. 
126, do Código Civil). 
4.3.2.2 Condições resolutivas 
Ocorre a aquisição do direito por parte do credor de plano, não se diferenciando assim das 
obrigações puras e simples. A condição resolutória não proíbe a disposição da coisa para 
terceiro e, tendo isto ocorrido, e não sendo possível ir buscar a coisa com quem se encontre, 
só resta a resolução em perdas e danos. Em realidade, na condição resolutiva, o vínculo 
alcança terceiros, que adquirem uma propriedade resolúvel. O implemento da condição 
resolutiva, na realidade, invalida o vínculo. Se se tratar de imóveis, deve a resolução constar 
de registro, para que os terceiros não possam alegar ignorância. Com o implemento da 
condição resolutiva, deve o possuidor entregar a coisa com seus acréscimos naturais. Por 
outro lado, quando se frustra o implemento da condição resolutiva, a condição que já era 
tratada como pura e simples assim permanecerá. 
4.3.3 Obrigação a termo 
O termo, que sempre depende do tempo, é inexorável, razão pela qual o direito do credor é 
futuro, mas deferido, já que não impede a aquisição do direito, cuja eficácia fica apenas 
suspendida. As obrigações podem ser fruto de termo convencional (obrigações negociais), 
de termo legal (obrigações legais, como o pagamento de um tributo) e de termo judicial 
(obrigações oriundas de processo judicial). O termo inicial indica o momento do início, e o 
termo final indica o momento em que deve cessar o exercício do direito. Pelo termo, 
diferem-se direitos (termo suspensivo) ou se limitam em um prazo (termo resolutivo). 
O termo certo (ou determinado) constitui o devedor, de pleno direito, em mora, enquanto 
no termo incerto (ou indeterminado) é necessária a interpelação do devedor (Art. 397, do 
Código Civil). Depois do vencimento, a obrigação sujeita a termo converte-se em pura e 
simples, tornando-se exigível judicialmente. Ademais, convém ressaltar que a regra geral é a 
de que, antes da superveniência do termo, uma obrigação não pode ser exigida. Entretanto, 
há algumas exceções previstas no Art. 333, do Código Civil. 
4.4 Obrigações líquidas e ilíquidas 
4.4.1 Obrigações líquidas 
A obrigação é líquida quando é certa, quanto à sua existência, e determina, quanto ao seu 
objeto, ou seja, encontram-se presentes os requisitos que permitem a imediata identificação 
do objeto da obrigação, sua qualidade, sua quantidade e sua natureza. 
4.4.2 Obrigações ilíquidas 
A obrigação é ilícita quando depende de prévia apuração para a verificação de seu exato 
objeto. Se se trata de apuração em dinheiro, é seu exato montante que deve ser apurado. 
Todavia, a apuração poderá ser de outro objeto que não dinheiro. A obrigação ilíquida 
tenderá sempre a se tornar líquida, para possibilitar, se for o cão, a execução forçada. A 
conversão ocorrerá em juízo por meio das regras do processo de liquidação (Arts. 586 e §§ 
603 a 611, do Código de Processo Civil). 
4.4.3 Modalidades de liquidação judicial 
A sentença judicial sempre trará uma condenação líquida. A fase de liquidação de sentença 
poderá procrastinar desnecessariamente o deslinde da causa. Somente quando o juiz não 
tiver efetivamente elementos para proferir uma sentença líquida é que deverá deixar a 
apuração para a fase de liquidação, a qual, na verdade, se embute no processo de execução. 
O direito processual civil estatuiu tradicionalmente três formas de liquidação de sentença: 
por cálculo do contador, por arbitramento e por artigos. 
4.4.3.1 Liquidação por cálculo do contador 
É aquela realizada por simples cálculo aritmético, ocasião em que o próprio credor cuidará 
de fazer a memória discriminada dos valores atualizados. Dada a simplicidade dos cálculos, 
não há a necessidade de contador (Art. 604, do Código de Processo Civil). 
 
4.4.3.2 Liquidação por arbitramento 
É aquela que depende de conhecimento técnico para sua apuração, referindo o Art. 604, do 
Código de Processo Civil, a este aspecto, quando então se nomeará perito. A sentença que 
condena o réu a Agar o valor de uma máquina que se perdeu, por exemplo, requer 
arbitramento. O Art. 606, do Código de Processo Civil, especifica que se fará a liquidação por 
arbitramento quando determinado na sentença ou assim convencionado pelas partes e 
quando a natureza do objeto exigir essa modalidade. 
4.4.3.3 Liquidação por artigos 
É aquela que ocorre quando para determinar o valor de condenação, houver necessidade de 
alegar e provar fato novo, conforme disciplina o Art. 608, do Código de Processo Civil. Não é 
possível fugir ao pedido da petição inicial na liquidação da sentença. Entretanto, 
eventualmente, não poderá o autor estipular na petição inicial um pedido líquido (Exemplo: 
fixação do prejuízo pela produção de um produto falsificado pelo réu, onde a apuração do 
prejuízo dependerá de novos fatos a serem provados, uma vez que o montante do prejuízo 
não foi fixado na sentença). Pode ocorrer também a necessidade de perícia na liquidação 
por artigos. Não se pode, todavia, na liquidação por artigos, discutir-se novamente a lide ou 
se modificar a sentença que a julgou (Art. 610, do Código de Processo Civil). 
4.4.4 Obrigação ilíquida e obrigação de dar coisa incerta 
Na obrigação ilíquida, o objeto da prestação é desconhecido. Sempre é permitida a 
transação ou o simples acordo entre as partes para se atingir a liquidação. Porém, nas 
obrigações de dar coisa incerta, a incerteza da obrigação surge com a própria obrigação, 
enquanto nas obrigações ilíquidas a imprecisão não é originária, decorrendo, ao contrário, 
da natureza da relação obrigacional. O grande efeito da distinção é que o adimplemento de 
obrigação positiva e líquida, em seu termo, constitui de pleno direito o devedor em mora. É 
a mora da própria coisa, do próprio objeto (ex re). Na obrigação ilíquida, há necessidade da 
prévia liquidação para a constituição em mora (em relação aos juros, vide Art. 407, do 
Código Civil). 
4.5 Obrigações principais e acessórias 
4.5.1 Generalidades 
O princípio da Teoria Geral do Direito Civil, positivado no Art. 92, do Código Civil (“Principal é 
a coisa que existe sobre si, abstrata ou concretamente. Acessória, aquela cuja existência 
supõe a da principal.”), é incorporado pelo Direito Obrigacional. Existem obrigações que 
nascem por si mesmas, de maneira independente, ou seja, são obrigações principais. 
Entretanto, existem outras que surgem unicamente para se agregar a outras, isto é, são 
obrigações acessórias, cuja existência está na razão de ser da obrigação principal e em torno 
dela gravitam. 
A principal consequência da distinção é que a obrigação acessória segue a principal. 
Extinguindo a obrigação principal,transmite-se a obrigação acessória. Porém, o contrário 
não é verdadeiro. Em sendo nula a obrigação principal, nula será a obrigação acessória, mas, 
em sendo nula a obrigação acessória, não necessariamente será nula a obrigação principal. 
Assim também, se prescrita a obrigação principal, prescrita será a obrigação acessória. 
A transferência da obrigação principal também implica na transferência da obrigação 
acessória, embora tal regra tenha que ser considerada com reservas no caso do instituto da 
fiança, pois esta só poderá ser transladada se obtiver a anuência do fiador, pois se trata de 
uma obrigação fundada na confiança. 
4.5.2 Fontes 
O caráter de acessório ou de principal pode emanar da vontade das partes ou da lei. Pode a 
obrigação acessória surgir concomitantemente com a principal ou posteriormente, Podem 
estar no mesmo instrumento ou em instrumento diverso. Quando determinada 
convencionalmente pelas partes, os sujeitos ajustam uma obrigação a par da obrigação 
principal. Neste âmbito, é comum a presença dos direitos reais de garantia, como a fiança, a 
garantia pessoal (aval), o penhor e a hipoteca, que se constituem como obrigações sempre 
vinculadas à uma obrigação principal, na medida em que se constituem como uma garantia 
para o adimplemento da obrigação principal. 
A acessoriedade pode decorrer da lei. Exemplos: (a) o Art. 447, do Código Civil, que prevê o 
caso da evicção, pela qual o vendedor, além da obrigação inerente à compra e venda, de 
entregar a coisa vendida, é obrigado a resguardar o comprador contra os riscos da mesma; 
(b) os juros, porque sua existência depende da obrigação principal, pois os juros são frutos 
civis.

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