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A prescrição da ação por dano ao erário decorrente de ilícito civil

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Há prescrição da ação por dano ao erário decorrente de ilícito civil, segundo o STF
"É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil". Essa foi a tese fixada pelo STF, nos autos do RE 669.069, com repercussão geral reconhecida, julgado no dia 03/02/2016. 
O Caso
O caso teve origem em acidente de trânsito em que uma viação de ônibus de Minas Gerais colidiu com uma viatura da Marinha do Brasil. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF/1) confirmou sentença que extinguiu a ação de ressarcimento por danos causados ao patrimônio público, decorrentes do acidente, aplicando o prazo prescricional de cinco anos. 
O RE foi interposto pela União contra a decisão do TRF/1. A União, por meio da AGU, suscitou interpretação literal da parte final do art. 37, §5º, da CF, para que fosse reconhecida a imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário.
O art. 37, §5º, da CF, tem a seguinte redação: "A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento". 
Os Votos/Decisão
No Supremo, o Min. Teori Zavascki (Relator) entendeu que a ressalva contida na parte final do §5º do art. 37, que remete à lei a fixação de prazos de prescrição para ilícitos que causem prejuízos ao erário, mas excetua as correspondentes ações de ressarcimento, deve ser entendida de forma restrita. Aduz o Relator que interpretação ampla da ressalva final tornaria imprescritível toda e qualquer ação de ressarcimento movida pelo erário, mesmo as fundadas em ilícitos civis que não decorram de culpa ou dolo.
Ressaltou ainda que a prescritibilidade é a regra no nosso ordenamento jurídico e, ainda, que é fator importante para a segurança e estabilidade das relações jurídicas e da convivência social.
O relator negou provimento ao recurso e propôs fixar a tese de que a imprescritibilidade, versada no art. 37, §5º, da CF, diz respeito apenas a ações de ressarcimento de danos ao erário decorrentes de atos tipificados como improbidade ou ilícitos penais.
O Min. Barroso, que votou com o Relator, aperfeiçoou a tese: "É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil", que foi acolhida pelo Plenário.
A exceção do Min. Fachin, que dava provimento ao Recurso por entender que "ninguém está autorizado a causar prejuízo ao erário eximindo-se de repará-lo", os demais ministros acompanharam o Relator e o ajuste promovido na tese pelo Min. Barroso. 
De ressaltar que prescritibilidade mencionada não alcança prejuízos que decorram de ato de improbidade administrativa, uma vez que o tema não foi discutido no RE, conforme afirmou o Min. Tofolli: “não há no tema de fundo discussão quanto à improbidade administrativa nem mesmo de ilícitos penais que impliquem prejuízos ao erário ou, ainda, das demais hipóteses de atingimento do patrimônio estatal nas suas mais variadas formas”. Logo, conclui que "não há como se debater sobre todo o comando jurídico do artigo 37, §5º”.
O Min. Ricardo Lewandowski lembrou que “a prescrição visa a impedir que o cidadão viva eternamente com uma espada de Dâmocles na cabeça” [1: Dâmocles é protagonista de uma anedota moral que figurou originalmente na história perdida da Sicília por Timeu de Tauromênio (c. 356 - 260 a.C.). Dâmocles era um cortesão bastante bajulador na corte do tirano Dionísio, de Siracusa. Ele dizia que, como um grande homem de poder e autoridade, Dionísio era verdadeiramente afortunado. Dionísio ofereceu-se para trocar de lugar com ele por um dia, para que ele também pudesse sentir o gosto de toda esta sorte, sendo servido em ouro e prata, atendido por garotas de extraordinária beleza, e servido com as melhores comidas. No meio de todo o luxo, Dionísio ordenou que uma espada fosse pendurada sobre o pescoço de Dâmocles, presa apenas por um fio de rabo de cavalo. Ao ver a espada afiada suspensa diretamente sobre sua cabeça, perdeu o interesse pela excelente comida e pelas belas garotas e abdicou de seu posto, dizendo que não queria mais ser tão afortunado. A espada de Dâmocles é uma alusão freqüentemente usada para remeter a este conto, representando a insegurança daqueles com grande poder (devido à possibilidade deste poder lhes ser tomado de repente) ou, mais genericamente, a qualquer sentimento de danação iminente. (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A2mocles)]
A Interpretação Anterior
O STJ e até o STF conferiam interpretação literal ao art. 37, §5º, da CF, assentando que a pretensão de ressarcimento por prejuízo causado ao erário era imprescritível. São exemplos da jurisprudência anterior no STJ: REsp 1.303.030/AL, DJe 30/06/2015; AgRg no AREsp 663.951/MG, DJe 20.4.2015. No STF, entre outros, conferir: MS 26210/DF, DJe 10.10.2008; RE 578.428/RS-AgR, DJe 14.11.2011; RE 646.741/RS-AgR, DJe 22.10.2012; AI 712.435/SP-AgR, DJe 12.4.2012.
Fora do Poder Judiciário, o TCU chegou a fixar a seguinte orientação no verbete de Súmula 282: "As ações de ressarcimento movidas pelo Estado contra os agentes causadores de danos ao erário são imprescritíveis."  
Como visto, essa interpretação não mais deve prevalecer.
Síntese
a) houve mudança na jurisprudência do STF;
b) a tese fixada pelo STF deve ser aplicada pelo Poder Judiciário, Poder Executivo e TCU, porque emana de RE com repercussão geral reconhecida e julgada;
c) o art. 37, §5º, da CF deve ter interpretação restritiva;
d) "É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil" (a tese);
e) essa interpretação não alcança prejuízos que decorram de ato de improbidade administrativa.
André Parada, advogado e sócio fundador da banca Magalhães Fonseca, Brito Lemos & Advogados
e-mail: contato@mfbl.adv.br

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