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HISTÓRIA DO PAISAGISMO A arquitetura da paisagem é a arte de intervir com elementos naturais, de remodelar os lugares para torná-los aproveitáveis e esteticamente agradáveis. Jardim expressão de arte – correspondência cultural, filosófica ou religiosa de refinado senso estético e simbólico (valores) da sociedade que o constrói. As origens: a paisagem como ordem cósmica As origens: a paisagem como ordem cósmica Populações antigas deram inicio a arquitetura da paisagem reconhecendo no espaço natural a presença de formas sagradas: montanhas, fontes, cavernas, bosques aos quais conferiam uma força espiritual. Complexo ritual de Stonehenge (2750-1500ac) O santuário de Stonehenge é um dos principais monumentos arquitetônicos do período Neolítico, a fase final da Pré-História, quando os grupos humanos passaram a se sedentarizar e a praticar a agricultura, criando uma série de ferramentas com novos materiais e novas técnicas. Stonehenge é entendido como um local de observação astronômica, principalmente na época dos solstícios de verão e inverno, já que as pedras parecem ter sido dispostas de acordo com a posição do Sol nestas épocas do ano. Por outro lado, há indícios de que o local era utilizado para a realização de rituais religiosos, evidenciando a união que existe na humanidade entre os conhecimentos astronômicos e o domínio religioso. Montanhas = portas de acesso ao céu. Na Mesopotâmia a partir do terceiro milênio antes de Cristo, surgiram os zigurates, templos em forma de montanhas escalonadas. No Egito, no mesmo período surgiram as primeiras pirâmides em degraus: o faraó subia em busca do contato direto com a divindade máxima- o sol. Zigurat de Ur Pirâmide Egito A revolução agrícola Com o desenvolvimento da agricultura o homem foi se transformando de ser habitante da paisagem em construtor da própria paisagem. O desenvolvimento das práticas agrícolas foi acompanhado da modificação, do ambiente natural, a fim de adaptá-lo aos cultivos O mundo antigo: a natureza como utilidade e ornamento Mesopotâmia os mais antigos espaços verdes documentados: Nas regiões médio- orientais banhada pelos rios Tigre e Eufrates, a riqueza de água permitiu a primeira atividade agrícola em ampla escala à qual se seguiu um crescimento e uma concentração populacional como jamais havia acontecido antes. Foi esse o evento que deu início ao fenômeno urbano. Jardins da Babilônia Áreas que eram simultaneamente pomar, horta, jardim, conciliando finalidade recreativa com alimentar; o mito dos jardins suspensos da Babilônia: sua construção é atribuída a Nabucodonosor ( 605-562 a.C.) Jardins murados, arborizados com água e animais silvestres. Jardins suspensos da Babilônia, 3.500a.C. Geometria como elemento de estruturação e de intervenção no território; Racionalidade da paisagem construída; Transformações no território e engenharia da paisagem; Jardins como oásis e a natureza idealizada como harmonia; Egito ( segundo milenio ac) Vem o testemunho de grande difusão das hortas ligadas às residências em uma produção doméstica de vegetais para suprir a falta de vegetação silvestre nas área desérticas. Jardim ornamental de classes mais abastadas Império Romana ( 27ac a 476 dc) A herança que a civilização romana deixou inscrita na paisagem da área mediterrânea e da Europa continental é ampla: os sistemas funcionais realizados na forma de estradas e aquedutos, evidenciam uma intensa açāo antrópica sobre a paisagem e influenciaram a distribuição territorial das populações. As estradas romanas modificaram profundamente o ambiente. Desenhadas segundo o traçado mais retilíneos possíveis e ininterruptos, sobrepuseram-se ao relevo com imponentes obras técnicas: transpondo pantanos por meio de aterros, atravessando vales e rios sobre pontes e viadutos , penetrando montanhas através de túneis Os aquedutos eram obras inovadoras corriam por dezenas de kilometros ao longo de traçados que para manter a inclinação o mais suave e constante possível, seguiam as curvas de nível. A água fluía através de canalizações de forma a alcançar as fontes nos cruzamentos viários, nos banhos públicos, etc. Villa Urbana O termo Villa urbana para os romanos indicava uma construção em meio a jardins, fora da cidade.Era o lugar para onde o rico cidadão romano se retirava para buscar contato com a natureza. Do ponto de vista compositivo , os jardins das vilas tinham uma organização geometrizada que descendia da própria arquitetura do edifício, adaptando-se a morfologia da paisagem, através da colocação de terraços em diversas cotas, em encostas ou à beira mar. Eram tidos como centros de retiro intelectual de sábios e artistas e a vegetação se caracterizava por receber cortes produzindo formas determinadas (topiaria). Villa Adriano: 300ha nas cercanias de Roma. Seqüência de espaços interligados e autônomos; Pátios e jardins justapostos com sentido de finitude; construções e espaços livres interdependentes jogos e práticas esportivas O Jardim do Islã A cultura islâmica sintetizou influências persas, romanas e bizantinas, desenvolvendo uma própria arquitetura do verde que por séculos teve grande influência. Em Ctesifonte (224-651 dc) capital do Império Persa, os árabes se depararam pela 1º vez com grandes complexos palacianos. Eram recintos de caça e parques desenhados de forma geometrizada por alamedas e canais de irrigação e caminhos em forma cruciforme. Surge assim as características estilísticas mais permanentes da organização espacial de seus jardins: a planta quadripartida, organizada com passeios em cruz, ligados a canais que se interceptam no centro do jardim. Este tipo de arranjo era adequado para exaltar a dignidade real, arrematando a hierarquia visual dos percursos que celebravam o soberano Ispahan, plano da cidade, seqüência de jardins, palácios e mesquitas Jardins de grande exuberância, para a diversão, consagrados ao prazer, ao amor, à saúde e ao luxo. Água em fontes e canais –elemento de grande valor e simbolismo. Ispahan, cidade dos jardins (capital da dinastia dos Safáridas) projetada por Abbas I, como “uma flor no meio do deserto”. Jardins geométricos de proporções quadradas e retangulares construídos em justaposição conformam a cidade – possível expansão pela continuidade; Princípio de desenho urbano. Jardim Islâmico do Ocidente Espanha: Expansão do Islã no ocidente: 711 -1492 dc. Andaluzia, Granada. Condição climática similar a dos territórios do oriente médio; Composição está baseada na vista sobre Granada (fortificação e controle); Jardins e arquitetura: espaços geometricamente proporcionados para a escala humana; estreita vinculação entre espaços interiores e exteriores; “controle climático”, frescor e vistas panorâmicas. Filosofia do prazer pela vida e pelo amor estão expressos nos jardins – Generalife: residência de verão dos reis Nazar, construído 300 anos após Alhambra; Alhambra, 1240 – 1391 Estrutura espacial cruciforme e de justaposição; Delicada composição espacial . O interior se projeta para o exterior, através de muros para captar vistas; construções avarandadas; pátios como oásis, vegetação com intenso cromatismo; água: elemento de valor; o passeio como deleite. Alhambra: Pátios externos se expandem para o espaço construído – referência da arte moura; uso de topiaria. Água: extremo valor. Paisagens da Idade Média Os jardins da nobreza são cercados e protegidos (jardim secreto), nos quais atividades ligadas à cultura, ao lazer, ao relaxamento e ao prazer são praticadas; tranquilidade e retiro (instrospecção); Estrutura espacial racional, geometrizado, água (sempre presente) em chafarizes ou tanques, plantio regular (ref. agricultura), privilegia espécies medicinais Idade Média na Europa: Jardim de flores Jardim de hortaliças e plantas medicinais Idade Média na Europa: Cidade Medieval As praças, sem vegetação(seca), se tornam importantes como espaço de práticas cidadãs: reunião, festas, feira. As cidades eram pequenas e o campo muito próximo Piazza del Campo, Siena, Itália Piazza San Marco, Veneza, Itália. O Renascimento do classicismo: a ordem da natureza No sec. XIV, ocorre entre as elites urbanas italianas o retorno as vilas: elegantes complexos em busca à recuperação do mundo clássico. As vilas renascentistas eram construídas em zonas elevadas de modo a desfrutar de uma bela vista. JARDINS ITALIANOS Inspirados nos jardins da Roma Antiga que possuíam muitas estátuas e fontes monumentais; Os sítios se encontravam nas colinas e nas encostas, em razão das vistas panorâmicas e também do clima; Uso de escadarias e terraços acompanhados de corredeiras de água; União dos jardins à casa por meio de galerias externas e outras prolongações arquitetônicas; Os jardins eram tidos como centros de retiro intelectual; Villa Lante - Bagnaia A vegetação era considerada secundária; Podas e cortes em formas determinadas, conhecidas anteriormente nos jardins romanos por topiárias. Os vegetais mais utilizados foram: o louro, o cipreste, o azinheiro, o buxo e o pinheiro entre outros vegetais característicos dos jardins-italianos do Renascimento; Os jardins a paisagem era desenhada com régua e compasso, caracterizando a simetria de linhas geométricas; Havia também muito contraste entre as formas naturais e as criadas pelo homem. Jardim Giusti - Verona La Venaria Reale - Turim Toscana Jardins como arte de Estado: O Jardim Francês No sec XVII, os jardins europeus alcançaram uma dimensão e complexidade de construção que jamais haviam atingido. Eles compartilham de forma plena a arte de transformar o ambiente, de aproveitar a morfologia dos sítios, fazendo uso das ciências que se desenvolveram em torno dessas temáticas. Neste período se sobressaia modelo formal do jardim italiano construídos pelas mais influentes famílias italianas, como é o caso dos Médici, com influência na Igreja e na política. Seus jardins refletiam sobretudo o poder econômico e governamental alcançados. Para se impor diante deste poder, Luis XIV rei da França, , a mais poderosa e avançada nação europeia da época, contratou André Le Notre para elaborar o projeto do conjunto de jardim de Versailles: magnífico parque real, gesto político e simbólico que projetava na paisagem o governo do soberano. Versailles- vista aérea Imenso eixo de 12 km – espinha dorsal do projeto. Forma geometrizada de arte dos jardins Elemento central de composição é o grande canal de 1650 m comprimento e 62m de largura de implantação cruciforme. O ambiente foi planejado por meio de perspectivas estendidas até o limite visual. As culturas asiáticas: Metafísica da natureza Civilizações orientais Civilizações estruturadas pela religião e pela ética: base da ordenação espacial; Jardim: forma orgânica, sinuosa, sensível, espaço de corpo indivisível entre interior e exterior. Jardins são espaços para a meditação Kinkaku-ji, Kioto, Japão, sé. 14 China: ciências metafísicas e da terra fundamentam a concepção dos espaços; a cosmologia enfatiza o parentesco entre arquitetura e sociedade: sem harmonia não pode haver paz; os elementos são complementares – yang / yin ; todas as formas têm forças cósmicas e estão investidas de espírito humano ou animal; Japão: limites espaciais levam a paisagem a ser contida e profunda: base do minimalismo. Jardim: microcosmos da paisagem natural e espaço de veneração; casa e jardim são indivisíveis; Civilizações orientais: China Paisagem fluvial, Tung Yüan, 1.000a.C. Valores de respeito às tradições, aos antepassados cujos espíritos são próximos e amistosos; Código de conduta, moral e religioso – na pintura e no paisagismo - retratar a paisagem: pintura paisagística; Jardim: espaço para meditação: a quietude é essencial; Formas relacionadas às forças cósmicas com caracteres de complementaridade cuja presença associa-se a paz; harmonia das forças: YANG: força masculina, estimulante e positiva: pedra, colina ou montanha, árvores (ou bambu) YIN: a força feminina, serena e tranquilizadora: água em repouso, vegetação em forração; ; Suzhou Civilizações orientais: China Os jardins devem ter privacidade, tranquilidade, proporcionar proteção, e sobretudo, ter o sentido de um santuário interior, e a serenidade associada à natureza em repouso; Suzhou – unidade plurifamiliar, pequenas residências e jardins entrelaçados, para garantir reclusão e individualidade; Yu Garden, Shanghai The Humble Garden, Zhuozheng Yuan, 1540. Jardim de musgos do templo Seihoji, Kioto, Japão, sé. 16. Civilizações orientais: Japão Religião xintoísta e budista: intelectualidade para alcançar o infinito e esclarecer o significado e o propósito da existência, através da meditação e da contemplação da paisagem; O jardim japonês expressa um microcosmos da paisagem natural, com sentimento de amor e veneração; a influência chinesa é intensa, mas ao contrário daquela manifestação extrovertida e ampla, no Japão, por razões geográficas, a manifestação será introvertida e expressa com profundidade: base do minimalismo. Casa e jardim são indissociáveis. Jardim Zen: espaço de meditação. Recinto de mosteiro – solo luminoso – contraste com o entorno arborizado. A disposição dos grupos de pedras que parece arbitrária tem diagrama regido por proporções matemáticas, a transmitir sentido de harmonia, repouso e contemplação da natureza, só existente na imaginação e sublimação. Civilizações orientais: Japão Ryoanji, Kioto, séc. 14. Ryoanji, Kioto, séc. 14. Civilizações orientais: Japão Kinkaku-ji, Kioto, 1394 – reconstruído em 1950. Kinkaku-ji – expressão máxima de expressão pictórica. O pavilhão dourado foi concebido como lugar de contemplação para um nobre; o edifício parece flutuar sobre a água; o lago está dividido em 2 partes por uma ilha e a paisagem próxima ao pavilhão está animada por várias ilhotas e pedras. Num jogo sutil de efeitos ópticos quem está no pavilhão é induzido a concentrar a vista na complexidade do primeiro plano; a porção por trás da ilha é vista por entre as copas das árvores e parece desvanecer na distância. O Jardim Inglês O pitoresco natural JARDINS INGLESES No reinado de Luiz XV, o estilo francês entrou em decadência devido à busca exagerada da forma e simetria; Os jardins passaram a ter uma maior aproximação com a natureza, procuravam imitar a natureza em seu traçado livre e sinuoso e a água presente se encontrava disposta em lagos ou riachos; Passam a ser inspirados nos jardins chineses, tidos como "jardins paisagísticos”; Características básicas a irregularidade e a falta de simetria nos caminhos, planejados com maior liberdade; Ausência de esculturas vegetais, arcos e monumentos; Tais inovações iam de encontro às ideias do romantismo da época; Os principais paisagistas da época foram William Kent e William Chambers, este último foi quem introduziu a ideia chinesa nos jardins de seu país; Um dos objetivos deste estilo descrito era que as pessoas percebessem como jardim, toda a natureza que estava ao seu redor. As primeiras características do jardim inglês são as seguintes: Linhas graciosas; Amplas extensões verdes (gramados); Ruas amplas; cômodas, em pequeno número; Terreno acidentado e possibilitando a visão de belas perspectivas; Pequenos bosques, compostos de plantas da mesma ou de espécies diferentes, com ou sem divergência nas colorações; Grupos de árvores não muito numerosas; Os ingleses acabaram dando origem aos parques e jardins públicos que tiveram por finalidade refrescar as áreas urbanas. Características dos principais estilos de jardim ocidentais até meados do sec.XX Jardim Italiano No Renascimento, o Jardim Italiano retomou os elementos decorativos da antiga Roma, explorando seu caráter geométrico, traçado linear e profusão de estátuas e fontes. Em função dos terrenos acidentados, os jardins eram feitos nas colinas e nas encostas com construções de terraços justapostos Aplicavam-se eixos e coordenadas na sua composição, geralmente monumental para exaltar o poder do proprietário da Vila. Uso da topiária Jardim Francês Adquire grandiosidade, complexidade e uma rígida distribuição, marcada por perspectivas sem fim e a ideia do domínio do homem sobre a natureza. influenciados pela estética italiana, com valorização das formas e uso de topiaria É o jardim monumental para ser visto e pouco usufruído. Surgiu com o estilo renascentista do século XVII, época em que os jardins passaram a assumir o papel de complemento da arquitetura monumental, sempre usando acessórios como chafarizes, lagos, fontes, estatuas e pérgolas em sua estrutura. Jardim Inglês Século XVIII, por influência oriental, os ingleses propuseram uma reaproximação das formas orgânicas e naturais, através de paisagens pitorescas que embora trabalhadas procuravam imitar a natureza Apresenta formas mais naturais com plantas e maciços sem o a utilização de podas e a água presente se encontra disposta na forma de riachos ou lagos. Presença de gramados, flores em diferentes cores, pequenos bosques, grupos isolados de árvores ou arbustos sem simetria ou ordem. Valorização da paisagem natural e pictórica, influenciando as artes plásticas. Bibliografia: LAURIE, Michael. Introducción a la Arquitectura del Paisaje. Barcelona: GG, 1990. cap 2. JELLICOE, G. El Paisaje del Hombre. Barcelona: GG, 1995. PANZINI, Franco. Projetar a Natureza- Arquitetura da paisagem desde a origem até a época contemporânea. São Paulo: Editora Senac -2013.
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