Buscar

O SETOR INDUSTRIAL PARAIBANO 5 ivan

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
O SETOR INDUSTRIAL PARAIBANO 
 
 
Ivan Targino
*
 
 
 
 
Este texto procura dar uma visão geral da evolução, importância e organização 
da indústria paraibana. Ele está organizado em cinco sessões, a saber: a) a primeira trata 
da importância da atividade industrial no contexto da economia estadual; b) a segunda é 
dedicada a traçar a evolução histórica do setor no Estado; c) a terceira aborda a 
organização do segmento produtivo em termos de ramos de atividade, valor da 
produção, geração de emprego, distribuição espacial; d) a quarta traça as principais 
políticas de estimulo ao setor e; e) a última traz as principais conclusões do trabalho. 
 
I – IMPORTÂNCIA DO SETOR INDUSTRIAL NA ECONOMIA PARAIBANA 
 
O setor industrial é um segmento importante da economia paraibana. Com efeito, 
durante o período de 2002 a 2009, ele representou em média, 20,25% do valor agregado 
estadual (veja Tabela 1). Como pode ser observado na Tabela 1, essa participação 
declinou ao longo do período, passando de 21,14%, em 2002, para 19,96%, em 2009. 
 e era responsável por cerca de ¼ do emprego da mão de obra estadual. 
 
Tabela 1 – Paraíba: Valor Agregado* total e industrial (2002-2009) 
Ano PIB (1) Indústria (2) (2/1).100 
2000 9.237.736,76 2578.546,99 27,91 
2001 9.426.548,50 2.839.450,49 30,12 
2002 10.321.326,50 2.182.410,27 21,14 
2003 10.333.864,41 2.195.799,43 21,25 
2004 10.149.143,77 2.124.940,65 20,94 
2005 10.630.083,28 2.137.642,81 20,11 
2006 11.844.279,54 2.333.609,49 19,70 
2007 12.449.655,33 2.503.062,50 20,11 
2008 13.301.103,93 2.563.422,55 19,27 
2009 13.868.624,08 2.767.957,42 19,96 
Taxa de 
crescimento 
34,37% 26,83% --- 
Taxa anual de 
crescimento 
3,76% 3,02% --- 
Fonte: IBGE – Contas Regionais. 
Nota: (*)Valores constantes, ano base 2000, em R$ 1000,00. 
 
O setor industrial compreende quatro segmentos: a) a indústria extrativa, que 
compreende as unidades produtivas voltadas para a extração de produtos fósseis (carvão 
mineral, petróleo, gás, minérios etc.); b) a indústria de transformação, que engloba as 
unidades produtivas responsáveis pela transformação de matérias primas e secundárias 
 
*
 Professor do Departamento de Economia da UFPB 
2 
 
em um novo produto (final ou intermediário); c) a construção civil, que agrega as 
unidades produtivas dedicadas à confecção. reforma de obras como, casas, edifícios, 
estradas, barragens, aeroportos, pontes etc.; e d) serviços industriais de utilidade pública 
(SIUP), que reúne as unidades produtivas de distribuição de energia, de água,de 
telefonia, etc. 
A composição do valor agregado do setor industrial pode ser observada nos dados 
apresentados na Tabela 2. 
 
Tabela 21 – Paraíba: Composição do Valor Agregado* da indústria (em mil reais) 
(2002 – 2009) 
Ano Indústria 
Indústria 
extrativa 
mineral 
Indústria de 
transformaçã
o 
SIUP 
Construção 
civil 
2002 
2.182.410,27 
100,0% 
51.970,43 
2,4% 
934.424,89 
42,8% 
616.208,03 
28,2% 
579.806,91 
26,6% 
2003 
2.195.799,43 
100,0% 
51.511,27 
2,3% 
1.200.247,66 
54,7% 
604.587,33 
27,5% 
339.453,17 
15,5% 
2004 
2.124.940,65 
100,0% 
56.105,88 
2,6% 
1.046.912,09 
49,3% 
597.034,50 
28,1% 
424.888,17 
20,0% 
2005 
2.137.642,81 
100,0% 
43.983,13 
2,1% 
1.090.666,64 
51,0% 
624.133,32 
29,2% 
378.859,72 
17,7% 
2006 
2.333.609,49 
100,0% 
53.754,01 
2,3% 
1.063.152,61 
45,6% 
671.827,42 
28,8% 
544.875,45 
23,3% 
2007 
2.503.062,50 
100,0% 
50.441,68 
2,0% 
1.065.982,68 
42,6% 
726.463,02 
29,0% 
660.175,12 
26,4% 
2008 
2.563.422,55 
100,0% 
47.245,27 
1,8% 
1.178.573,03 
46,0% 
660.296,93 
25,8% 
677.307,31 
26,4% 
2009 
2.767.957,42 
100,0% 
20.080,69 
0,7% 
1.257.394,94 
45,4% 
665.657,01 
24,0% 
824.824,78 
29,8% 
Média 2.351.105,64 
100,00% 
46.886,55 
1,99% 
1.104.669,32 
46,99% 
645.775,95 
27,47% 
553.773,83 
23,55% 
Taxa de 
crescimento 
26,83% -61,36% 34,56% 8,02% 42,26% 
Taxa anual de 
crescimento 
3,02% -11,21% 3,78% 0,97% 4,50% 
Fonte: IPEADATA– Elaboração própria. 
Nota: (*) Valores constantes, ano base 2000, em R$ 1000,00. 
Da observação da Tabela 2, podem ser ressaltados os seguintes aspectos: 
a) O segmento “indústria de transformação” é o mais importante, sendo 
responsável, na média do período, por 46,99% do valor agregado gerado 
pelo setor industrial. Em segundo lugar, vem os Serviços Industriais de 
Utilidade Pública (distribuição de energia, água, setor de telefonia, etc.) com 
27,47%. O segmento da indústria de construção ocupa a terceira posição, 
contribuindo com 23,55%. Destaca-se que o setor da construção civil é um 
grande absorvedor de mão de obra. A indústria extrativa mineral tem uma 
3 
 
pequena participação (1,992%) para a formação do valor agregado do setor 
industrial paraibano. 
b) A indústria extrativa mineral teve um desempenho declinante durante o 
período, vendo reduzir-se a sua participação no valor agregado da indústria 
estadual; 
c) A participação da indústria de transformação oscilou bastante, tendo a menor 
participação em 2007 (42,6%) e a maior em 2003 (54,7%); 
d) 
 O segmento da indústria de transformação apresenta uma forte concentração 
tanto em termos de ramos industriais quanto espacial. No tocante à concentração por 
ramos industriais, verifica-se que os mais importantes são: alimentos, minerais não 
metálicos, confecção e vestuário e couro e calçados. Em relação à concentração 
espacial, setor industrial paraibano apresenta uma forte concentração em dois pólos: a 
região polarizada por João Pessoa (João Pessoa, Bayeux, Santa Rita, Cabedelo, Conde, 
Alhandra) e a polarizada por Campina Grande. 
 A importância do setor industrial no contexto da economia paraibana tem sofrido 
fortes variações ao longo do tempo como será visto no tópico a seguir. 
 
2– A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA PARAIBANA 
 
 É possível identificar pelo menos quatro fases na evolução do setor industrial 
estadual: a fase pré-industrial; a fase de implantação da indústria de bens de consumo 
não durável; a fase da industrialização incentivada; a fase da integração global e da 
guerra fiscal. 
 
2.1 A fase pré-industrial: compreende, praticamente, todo o período colonial e o império. 
2.1.1 Os engenhos de açúcar 
A primeira manifestação da atividade industrial na Paraíba foi o engenho de 
açúcar. Como é sabido, o processo de colonização brasileira foi comandado pela 
produção do açúcar para exportação. 
O engenho compreendia tanto a atividade agrícola quanto a unidade industrial 
para a transformação da cana em açúcar. O primeiro engenho construído na Paraíba foi 
o Engenho Tibiri. Ele foi construído pelo Governador João Tavares como patrimônio da 
coroa portuguesa no local onde está situada a cidade de Espírito Santo, em 1587, dois 
anos após a fundação da cidade de Filipéia (LEAL, 1989). 
Os engenhos se disseminaram com certa rapidez, de modo que em 1634, ano em 
que os holandeses estabeleceram o seu domínio na Paraíba, já havia 18 engenhos: 
 
O vale do Paraíba e os terrenos banhados pelos seus tributários 
achavam-se densamente povoados e vestido o seu solo pelos 
imensos canaviais, que fornecia a matéria-prima para a 
movimentação de dezoito engenhos de açúcar, todos servidos de 
moradores, escravatura africana e silvícolas domesticados. 
(LEAL, 1989, p.32) 
 
 No domínio holandês, houve incentivo à produção de açúcar em virtude do 
acesso ao capitalmercantil detido pela Companhia das Índias Ocidentais. Na verdade, 
4 
 
os holandeses como detinham um volumoso capital mercantil, eles também controlavam 
as rotas comerciais e os canais de comercialização do produto na Europa. Assim, o 
número de engenhos na Paraíba elevou-se a 20. Alguns deles foram vendidos aos 
holandeses ou foram confiscados em virtude de não pagamento dos débitos contraídos. 
A tabela 2 apresenta a relação dos engenhos existentes e os seus proprietários. 
 
Tabela 2 – Engenhos existentes na Paraíba durante o domínio holandês e seus 
proprietários (1630-1654) 
Engenhos Proprietários 
Tibiri de Cima ou Santa Catarina Jorge Homem Pinto 
Tibiri ou São Felipe e Jacó Jorge Homem Pinto 
Três Reis Magos Francisco Camelo Valcassar 
São Gonçalo Antonio Pinto de Mendonça 
São Francisco Ventura Mendes de Castello 
Santo André Jorge Homem Pinto 
São Cosme e São Damião ou Inhobi Duarte Gomes da Silveira 
Engenho Novo Duarte Gomes da Silveira 
Espírito Santo Mense Francen Aurenhout * 
Barreiros Josias Marschal* 
Do Meio ou São Gabriel (Middelburg) Isac de Rasiere* 
Velho (em ruínas) Duarte Gomes da Silveira 
São João Batista Jerônimo Cadena 
Santa Lúcia João de Souto 
S. Antonio ou Van der Dussen João Cornelisz Jongeneel 
Genipapo André Dias de Figueiredo 
Itapoá Antonio Valadares 
Miriri Francisco Álvares da Silveira 
La Rasiere Isac de Rasiere* 
São Tiago Duarte Gomes da Silveira 
Fonte: SANTANA, 1990, p. 157 
*Engenhos vendidos ou confiscados pela Companhia das Índias Ocidentais 
 
O progresso da atividade canavieira foi, no entanto, interrompido durante a luta 
contra os invasores. A destruição dos canaviais e dos engenhos fazia parte da estratégia 
de luta. Era a estratégia da “terra arrasada”, pois os canaviais eram “fonte dos 
rendimentos dos ocupantes e do erário público e que estavam quase todos incorporados 
aos bens dos holandeses devido a violentas e abusivas expropriações dos 
engenhos.”(LEAL, 1989, p. 41). Ao término da expulsão dos holandeses, só havia na 
Paraíba dois engenhos em funcionamento. A recuperação se fez rapidamente. Segundo 
Irineu Pinto, no início dos anos 1660, já estavam em funcionamento 42 engenhos (1977, 
p. 63). 
 Essa recuperação econômica, porém, não teve longa duração, pois a produção 
açucareira brasileira teve que enfrentar a competição do açúcar antilhano comandada 
pelo capital comercial holandês (CANABRAVA, 1981). Com efeito, expulsos do 
Nordeste brasileiro, os holandeses se fixaram nas Antilhas, onde passaram a produzir o 
açúcar, cuja tecnologia de fabrico eles tinham aprendido no Brasil. O açúcar antilhano 
5 
 
era produzir com menores custos, pois os escravos vinham diretamente da Costa do 
Marfim
1
 e era de melhor qualidade de refino. 
No final do século XVIII, o número de engenhos existentes na província situava-
se entre 32 e 37 (LEAL, 1989, p. 100 e 108). Só em meados do século XIX é que se 
verifica um novo surto de crescimento da atividade açucareira. Em 1857, “safrejavam 
200 engenhos de açúcar.” (LEAL, 1989, p. 173). Data dessa época a introdução das 
primeiras rodas d’água “que representavam notável progresso no método de 
acionamento das moendas” (LEAL, 1989, p. 167), bem como do arado de ferro 
(PINTO, 1977, p.222). 
Os dados das exportações de açúcar, apresentados na tabela 3, revelam o surto 
de crescimento experimentado pelas exportações de açúcar no início da segunda metade 
do século XIX. 
 
Tabela 3– Província da Paraíba: exportação de açúcar, algodão e couro (1837-1861) 
 
Anos Açúcar
1
 Algodão
1
 Couro
1
 
1837/38 93.668 109.025 8.313 
1839/40 98.649 58.870 30.338 
1840/41 187.336 70.560 12.876 
1841/42 88.952 58.763 14.895 
1842/43 122768 97.010 8.300* 
1843/44 115.175 98.108 16.100 
1844/45 128.127 147.857 23.133 
1847/48 153.207 90.721 8.958* 
1848/49 369.087 187.941 4.862* 
1854 305.082 195.665 - 
1855 24.800 255.492 - 
1858 675.878 190.534 9.311* 
1859 914.843 243.187 28.117 
1860 405.194 178.267 - 
1861 599.594 187.787 12.083 
Fonte: PINTO (1977) 
Nota: (1) Quantidade exportada em arroba. 
 
 Além do espaço açucareiro da Zona da Mata, a Paraíba viu desenvolver outro 
espaço canavieiro na região do Brejo Paraibano, embora de menor expressão tanto 
econômica quanto social e política. Segundo Almeida: 
Tem-se notícia da existência de engenhos no Brejo já na 
segunda metade do século XVIII. Na verdade, eram engenhocas 
com trapiches totalmente de madeira, cujas fábricas eram 
palhoças montadas sobre as armações das almanjarras... O 
registro mais notável refere-se ao engenho Bolandeira, em 
Areia, onde teria se fixado Francisco Xavier de Miranda 
Henrique, em 1764, terminado o seu governo da capitania da 
Paraíba. (ALMEIDA, 1994, p. 20-21) 
 
1
 Com a expulsão, a Holanda recebeu como indenização pelos investimentos aqui realizados a Costa do 
Marfim e a ilha de Sal de Setubal. 
6 
 
 É, no entanto, na segunda metade do século XIX, que há um crescimento mais 
acentuado dos engenhos de açúcar e de rapadura para abastecer, principalmente, a zona 
sertaneja. Eram pequenas unidades de produção, com equipamentos sem grandes 
avanços: 
Adota-se a moenda de eixos horizontais e, em alguns casos, os 
cilindros de madeira são substituídos pelos de ferro. A tração 
animal somente começaria a ceder lugar ao motor a vapor no 
final do século. No cozimento, adotava-se o chamado ‘ trem 
francês’, com fornalha única. No campo, a cana ‘ crioula’ 
começa a ser substituída pela variedade cayenna ou ‘caiana’, 
como ficou conhecida. (ALMEIDA, 1994, p. 25) 
2.1.2 Olarias para o fabrico de tijolos e telhas 
Em 1858, assim se expressava o presidente da Província: “A industria pouco partido 
tem tirado das riquezas mineraes nesta província. Por ora, pelo que se observa, Ella 
apenas tem feito uso das argilas e do carbonato de cal, que se encontra em profusão; as 
primeiras em toda a parte, a segunda em muitos districtos e sobretudo nesta capital. 
Cumpre porém observar que as argilas, sendo de excellente qualidade não tem 
concorrido para o credito das olarias, porque as obras que dellas sahem e mormente o 
tijolo de alvenaria, são, em geral de péssima qualidade. Todas estas obras são fabricadas 
grosseiramente, em falta de aparelhos próprios, movidos a vapor.” (PINTO, p. 262-262) 
 
2.1.3 Artífices (marceneiros, pedreiros, funileiros, alfaiates, tecelões, etc.). 
Em relatório de 1858, o Presidente da Província, Rohan assim se exprimia a respeito 
da indústria paraibana: “Aqui reduz-se ao exercício de várias artes mechanicas como a 
marcenaria, serralheria,chapelaria, etc, em pequenas e raras officinas, pouco ou nenhum 
progresso tem tido nestes últimos annos e os seus productos não chegam para o 
consumo.” (PINTO, 262). 
 
2.2 Fase de instalação da indústria: articulação com a produção agrícola 
 
Tal como acontecia no Brasil, em meados do século XIX, a indústria paraibana era 
de pequena dimensão e as pequenas unidades de transformação estavam espalhadas pelo 
território estadual. Essa situação foi em grande parte devida à política anti-industrial que 
predominou durante todo o período colonial e mesmo durante o império, face às 
pressões inglesas para que não fosse permitida a produção, particularmente, dos 
produtos têxteis em território brasileiro. 
Assim, é só no final do século XIX é que começam a ser instaladas de forma mais 
consistente as empresas industriais. Como será visto a seguir, segundo os principais 
gêneros de indústria. 
 
2.2.1 Indústria têxtil: beneficiamento das fibras têxteis, particularmente do algodão. 
A produção do algodão já estava presente na economiaparaibana, ocupando um 
lugar de importância, com a exportação da sua pluma rivalizando com a exportação de 
açúcar já na primeira metade do século XIX, como pode ser visto pelos dados 
apresentados na tabela 2. No entanto, é só no final do século XIX, que começou a se 
7 
 
destacar o ramo industrial ligado ao beneficiamento do algodão. É bem verdade que já 
havia pequenas unidades artesanais de fabricação de tecidos de algodão no interior das 
propriedades, particularmente no sertão, integrando o que ficou conhecido como 
complexo rural: nas propriedades além das atividades agrícolas (produção de alimentos 
e de culturas comerciais) e da pecuária, também se desenvolviam algumas atividades 
artesanais a exemplo da produção do fio (em fusos manuais) e de tecidos rústicos 
utilizando-se teares manuais. À medida que a cotonicultura se consolida e conquista 
espaços na agricultura estadual, cresce de importância o ramo têxtil. Ele desenvolve-se, 
inicialmente, com dois sub-ramos bem diferenciados: a produção de tecidos e o 
beneficiamento do algodão. 
2.2.1.1 As fábricas-cidades: A produção de tecido em manufaturas, inicia-se no final do 
século XIX com a instalação da Companhia de Tecidos Paraibana, fábrica Tibiri, no 
município de Santa Rita (1891)
2
. No início do século XX, tem-se a instalação da fábrica 
de tecidos de Rio Tinto. Estas fábricas absorviam uma grande quantidade de mão-de-
obra, tendo sido necessária a construção de verdadeiras cidades para abrigar a 
população trabalhadora. Toda a tecnologia era importada, principalmente da Inglaterra, 
centro dinâmico da indústria têxtil, na época. A principal matéria prima utilizada, o 
algodão, era proveniente do próprio Estado e dos Estados vizinhos. 
 
2.2.1.2 Unidades de beneficiamento do algodão: o algodão figurou durante muito tempo 
entre as principais culturas agrícolas da Paraíba, destinava-se tanto para o consumo 
interno quanto para a exportação. Antes porém de ser usada, essa fibra precisava passar 
por um processo de beneficiamento. No caso do algodão, o beneficiamento consistia na 
retirada dos caroços da pluma. Esse processo era chamado de descaroçamento. 
Inicialmente, isso era realizado em pequenas unidades, chamadas de bolandeiras, que 
estavam espelhadas pelas cidades e pelas fazendas de todo território estadual
3
. 
Na sequência, isso foi realizado por grandes unidades de produção, presentes nas 
principais cidades do Sertão, da Borborema e do Agreste. Essas empresas além de 
descaroçarem o algodão também processavam o caroço para extrair o óleo e para 
fabricar a torta do caroço para alimentação animal. A pluma depois de descaroçada era 
enfardada para comercialização. As principais empresas que operavam no Estado da 
Paraíba eram a SANBRA (Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro) e a Anderson 
Clayton, ambas de capital estrangeiro. A indústria Matarazzo, localizada em João 
Pessoa, também beneficiava a pluma, desenvolvendo também a fiação do algodão. 
 
2
 A Companhia de Tecidos Paraibana foi a primeira grande unidade industrial construída no Estado. A 
sua inauguração data de 1891. Os seus fundadores foram os irmãos portugueses Antonio Valente e os 
irmãos Joaquim Garcia de Castro e Antonio Garcia de Castro, proprietários da firma Castro Irmãos e 
Companhia, que operava em João Pessoa no ramo de tecido desde o ano de 1870. O maquinário da 
fábrica e a estrutura de ferro utilizada na sua construção foram importados da Inglaterra. Máquina de 
tecelagem na época inicial trabalhava com 424 teares, e empregava cerca de 700 operários. Na sua fase 
áurea, a fábrica chegou a empregar cerca de 2.500 trabalhadores. Dada a importância do empreendimento, 
foi construída uma estação ferroviária, já que a linha de ferro, que ligava João Pessoa a Campina Grande, 
passava em frente da fábrica. Isso facilitava tanto o transporte dos operários que não residiam na vila 
operária, quanto o transporte da matéria prima e dos tecidos produzidos até o porto de Cabedelo. A 
fábrica também mantinha um clube recreativo, uma escola e um time de futebol. 
3
 Em 1916, o número de descaroçadoras de algodão existentes no na Paraíba, elevava-se a cerca de 230. 
Esse número cresce de forma significativa, de modo que em 1922 eram registradas 581 unidades de 
descaroçamento de algodão, sendo 427 a vapor e 154 a animais (FERREIRA, 1986). Com o advento das 
usinas de beneficiamento de algodão, as pequenas unidades de descaroçamento sofrem uma forte 
concorrência, terminando por fechar as suas portas (MARIZ, 1978)). 
8 
 
De acordo com a tabela 4, entre 1891 e 1930, havia na Paraiba 20 
estabelecimentos têxteis, a maioria deles era de beneficiamento de algodão. Para 
produção de tecidos havia 5 unidades produtoras e um estabelecimento para produção 
de redes. Como a produção do algodão estava concentrada no Agreste e no Sertão, havia 
uma maior dispersão espacial das unidades de beneficiamento, com a presença dessas 
unidades em Cajazeiras, Santa Luzia, Picuí, Alagoa Grande , Campina Grande e João 
Pessoa. Essa maior dispersão espacial pode ser explicada pela tentativa de redução dos 
custos de transporte com a pluma. 
Das informações apresentadas, destaca-se, também, a grande concentração de 
unidades industriais existentes em Campina Grande: das 20 estabelecimentos industriais 
recenseados, 9 encontravam-se em Campina Grande. Com efeito, essa cidade já 
despontava como um pólo econômico importante no contexto estadual, não apenas 
como um centro comercial importante, mas também como um centro industrial 
expressivo para o contexto estadual. 
Tabela 4 – Paraíba: Estabelecimentos têxteis existentes na Paraíba entre 1891 e 1930 
Denominação Local Produto 
Ano de 
Fundação 
Cia de Tecidos Paraibana S. Rita Tecido 1891 
Fab. Campinense C. Grande Tecidos 1919 
Fab. de Tecidos R. Tinto R. Tinto Tecidos 1924 
Fábrica Arenápolis Areia Fiação 1925 
Fab. Bodocongó C. Grande Tecidos 1928 
Fáb. de Fiação e Tecelagem de Juta C. Grande Tecido 1928 
Kroncke & Cia J. Pessoa Ben. Algodão 1905 
Usina Borborema Picuí Ben. Algodão 1914 
J. Von Sohsten Cabedelo Ben. Algodão 1918 
W. P. & Cia C. Grande Ben. Algodão 1919 
T. Medeiros Sapé Ben. Algodão 1922 
Fábrica de Redes C. Grande Redes 1922 
Sanbra S. Luzia Ben. Algodão 1922 
Sion & Cia. C. Grande Ben. Algodão 1923 
Leitão & Cia C. Grande Ben. Algodão 1923 
Soares de Oliveira e Cia J. Pessoa Ben. Algodão 1927 
Usina Sta. Cecília Cajazeiras Ben. Algodão 1928 
J. de Vasconcelos & Cia. C. Grande Ben. Algodão 1930 
Soc. Paraibana de Benef. e 
Prensamento de Algodão 
A.Grande Ben. Algodão 1930 
Soc. Paraibana de Benef. e 
Prensamento de Algodão 
C. Grande Ben. Algodão 1930 
Fonte: FERREIRA, 1986. 
No final da década de 40, expande-se a produção de sisal e, em conseqüência, o 
beneficiamento do sisal. O beneficiamento dessa fibra é feito em três fases: a) a 
primeira é o desfibramento que consiste na retirada de toda celulose da folha do agave; 
isso é feito através de máquinas de desfibramento
4
 colocadas próximas aos campos de 
agave; as máquinas são movidas a diesel; b) a segunda fase é feita em grandes unidades 
para tratamento da fibra e enfardamento; as empresas Sanbra e Anderson Cleyton 
 
4
 O desfibramento também era realizado de forma manual, principalmente nas pequenas propriedades. 
9 
 
também atuavam nessa fase; c) a terceira fase é também efetuada em grandes unidades e 
representa um processo industrial propriamente dito com o fabrico de cordas, de tapetes, 
etc. As maiores unidades industriais estavam localizadas na cidade de Bayeux 
(Brascorda, Fibrasa, etc.).Corte da folha do agave e 
transporte até o “motor” para 
desfibramento. 
 
Motor de desfibramento do agave. 
 
Transporte da fibra do motor para 
lavagem e secagem nos estaleiros. 
 
Estaleiro para secar a fibra. 
 
Fardamento do sisal 
 
 
Produção de tapetes 
 
2.2.2 A indústria de alimentos 
 
 A indústria de alimentos instalada nessa época pode ser dividida em dois 
grandes blocos: a) as usinas de açúcar e; b) pequenas unidades de produtos alimentares. 
 
2.2.2.1 Usinas de açúcar: 
 No final do século XIX, houve uma tentativa de modernização do fabrico do 
açúcar com a instalação dos chamados “engenhos centrais”, movidos a vapor, que 
tinham como orientação básica a separação da atividade agrícola da atividade 
10 
 
industrial
5
. Na Paraíba foi instalado um único engenho central. A concessão do 
Engenho Central na Paraíba data do início da década de oitenta do século XIX, quando 
a Companhia de Engenhos Centrais, formada por capital holandês obteve a concessão 
de um engenho na várzea do Paraíba (MARIZ,1939). No entanto, a sua construção só 
ocorre alguns anos mais tarde: 
Em meio a grandes festejos, a 20 de agosto de 1885 iniciou-se a 
construção do Engenho Central São João (na freguesia de Santa 
Rita, município da capital), com a finalidade de “melhorar o 
fabrico do assucar de canna mediante o emprego de aparelhos 
modernos e aperfeiçoados”. (SANTANA, 1990, p. 195) 
O Engenho Central São João já nasce em meio a dificuldades por conta dos 
investimentos e prazos estabelecidos pelo Governo Imperial para sua conclusão, além 
disso, a escassez de cana para suprir as necessidades da fábrica se apresentava como um 
grande problema. Com a chegada da República, ocorreram modificações nas concessões 
dos engenhos centrais, adotando uma lei republicana que permitia e incentivava a 
companhia a plantar cana. Diante do insucesso dos engenhos centrais, foram criadas as 
usinas de açúcar, reintegrando as atividades agrícola e industrial. As principais usinas 
instaladas na Paraíba foram: Usina São João (Santa Rita), Usina Santa Rita (Santa Rita), 
Usina Santana (Santa Rita), Usina Monte Alegre (Mamanguape), Usina Santa Maria 
(Areia) e Usina Tanques (Alagoa Grande). Além do açúcar, essas usinas também 
produziam álcool, ainda que em pequena proporção. 
 
2.2.2.2 Pequenas unidades de produção de alimentos 
 
Este segmento incluía pequenas unidades de produção com destaque para as 
padarias e a produção artesanal de doces e derivados de leite (queijo, manteiga, etc.). 
Embora houvesse concentração nos maiores centros urbanos, a indústria de alimentos 
apresentava uma maior dispersão espacial do que os demais ramos industriais. 
 
2.2.3 Indústria de couro e calçados 
Esse segmento incluía fábricas de sapatos e artefatos de couro (7 
estabelecimentos), localizados em João Pessoa, e 6 curtumes, localizados em Itabaiana 
(1), João Pessoa (4), Alagoa Grande (1) e Campina Grande (1). Desde os anos 1970 que 
o setor tem atravessado uma longa crise com o fechamento de quase todas as unidades. 
Havia e ainda há curtumes manuais no estado
6
 Além dos curtumes, havia também na 
 
5
 O governo imperial procurou incentivar o processo de modernização da indústria açucareira através de 
criação de linha de crédito a juros baixos para o melhoramento da produção de açúcar e de álcool, tendo 
em vista aumentar a competição do açúcar brasileiro no mercado internacional. Para tanto, em novembro 
de 1875, o governo publicou o. Decreto no 2.687, que “autoriza o Governo para conceder, sob certas 
cláusulas, ao Banco de Credito Real que se fundar segundo o plano da Lei nº 1.237 de 24 de Setembro de 
1864, garantia de juros e amortização de suas letras hipotecárias, e bem assim para garantir juros de 7% 
às companhias que se prepuserem a estabelecer engenhos centrais para fabricar açúcar de cana”. 
(BRASIL, 1875) O Decreto no 8.357, de dezembro de 1881 aprova o regulamento para as concessões de 
engenhos centrais, com garantia de juros ou fiança do Estado. Base da Legislação Federal. Disponível 
em: http://www.planalto.gov.br. 
6
 Para ter uma visão do funcionamento e da organização interna dos curtumes artesanais, visite o site: 
http://kenia.art.br/fotos_documentarios_brasilia_df/72157621973889148/1 
11 
 
Paraíba pequenas unidades de produtos de montaria (selas, arreios, roupa de vaqueiros 
etc.). 
2.2.4 Indústria química 
Nessa fase, foram instaladas algumas unidades de fabrico de sabão, velas, 
perfumaria e produtos farmacéuticos, nos principais núcleos urbanos do Estado, 
principalmente em João Pessoa. 
2.2.5 Indústria gráfica 
No Estado, foram instaladas pequenas unidades de editorial e gráfica, além da 
instalação de alguns jornais de maior circulação como a União, A Imprensa, etc. 
Tratavam-se tanto de litografias quanto de tipografias. Entre 1899 e 1911, há registro da 
existência de 6 unidades instaladas, das quais duas na cidade de Areia. Os principais 
produtos eram a edição de jornais, impressos em geral e carimbos (FERREIRA, 1986). 
No início do século XX, são introduzidas inovações tecnológicas na indústria gráfica, 
com a adoção de máquinas de composição por parte das gráficas (os lynotipos), o que 
desencadeou uma forte reação dos artífices gráficos da época (KOURY, 1986). 
2.2.6 Indústria de fumo e bebidas 
Havia um número significativo de pequenas oficinas de produção de cigarro (as 
cigarreiras), desenvolvendo uma atividade caracteristicamente artesanal. Tal como 
aconteceu com a indústria gráfica, no início do século, também houve mudanças no 
processo produtivo com utilização de máquinas “para manufactura de cigarros de fumo 
desfiado (...) acionada por um motor elétrico de força de 2 cavallos produzindo a media 
de 15 mil cigarros por hora” (Jornal União de 21/7/1915 apud KOURY, 1986, p. 35). 
No tocante à indústria de bebidas, já tinham se instalado algumas fábricas tais 
como Tito Silva (1892), Cabedelo (1905), Dore (1910) e Sanhauá (1922). Os principais 
produtos do ramo de bebidas eram: bebidas gasosas, cerveja, vinho de caju e de 
genipapo, vinagre, genebra, Os estabelecimentos produtores de bebidas estavam 
fortemente concentrados em João Pessoa: dos 15 estabelecimentos produtores de 
bebidas, existentes entre 1892 e 1930, apenas um estava localizado em Itabaiana; todos 
os demais estavam em João Pessoa. 
 
2.2.7 Indústria extrativa mineral e de minerais não metálicos 
Desde o final do século XIX surgiram as primeiras iniciativas relacionadas ao 
aproveitamento dos recursos minerais do Estado, com destaque para a primeira fábrica 
de cimento, fundada em 1892. Também há registros de fábricas de cal. Existiam 
também 7 olarias, produzindo tijolos, telhas e mosaico. 
 
2.2.8 Consideração geral sobre a indústria paraibana nessa fase 
 
Uma visão de conjunto da evolução do setor industrial paraibano no início do 
século XX pode ser obtida através da análise da Tab. 5. Da análise dos dados 
apresentados na Tabela 5, quatro observações podem ser feitas: 
 
 
12 
 
 Tabela 5 - Brasil e Paraíba: Número de estabelecimentos, capital empregado, 
empregados e valor da produção (1907-1920) 
Especificação 1907 1920 1940 
Brasil 
N. de estabelecimentos 2.988 13.336 
Capital empregado 580.691:074 1.815.156:011 
N. de empregados 136420 275.512 
Valor da Produção 668.843:372 2.989.176:281 
Paraiba 
N. de estabelecimentos 36 251 737 
Capital empregado 3.394:500 14.135:173 181.080 
N. de empregados 1.161 3.035 13.210 
Valor da Produção 3.307:921 33.137:059 191.328 
Fonte: IBGE – Estatísticas históricas 
 
a) o setor industrial paraibano representava uma pequena parcelado setor 
industrial brasileiro, embora tenha uma participação crescente em todas as variáveis 
apresentadas, indicando um maior dinamismo do que no quadro nacional; b) há um 
significativo crescimento tanto no número de empresas quanto no número de 
empregados; c) o tamanho médio das empresas, tomando como base o número de 
empregados, é de pequeno porte, tendo havido uma redução quando se compara os 
dados de 1907 (32) com os de 1920 (12) e 1940 (17); d) não uma grande diferença nos 
indicadores de produtividade da indústria paraibana em relação à nacional: em 1920, o 
valor da produção por trabalhador era de 10,8 contos de reais para a indústria brasileira 
e de 10,9 contos de reis para a paraibana; em 1940. 
 A composição do setor industrial paraibano pode ser analisada com base nos 
dados apresentados na Tabela 6, referentes ao ano de 1919. Como se pode observar, em 
1920, a indústria têxtil era o ramo industrial mais importante no cenário econômico 
estadual. Ela abrigava 67% dos estabelecimentos industriais, empregava 59,9% da mão 
de obra do setor e contribuía com 61,5% do valor da produção industrial paraibana. 
Como já ressaltado anteriormente ela era constituída tanto por unidades de produção de 
tecidos quanto por unidades de beneficiamento da pluma do algodão. 
 
Tabela 6 – Paraiba: Estabelecimentos da indústria de transformação, segundo os grupos 
de indústria – 1920 
Ramos industriais 1920 
N. Estab N. Empr. V. Prod.* 
Têxtil 169 1.818 20.381 
Couro 4 174 3.899 
Madeira 2 28 296 
Cerâmica 4 47 165 
Produtos químicos 7 233 2.311 
Alimentos 31 420 4.294 
Vestuário 22 144 932 
Mobiliário 2 75 538 
Edificação 9 96 316 
Apar. de transportes 1 - 5 
Total 251 3.035 33.137 
FIBGE: Recenseamento do Brasil, 1920. Nota: (*) em contos de reis 
13 
 
 Em segundo lugar, estava a indústria de alimentos (segundo o censo de 1920 
incluía também os estabelecimentos produtores de bebidas), porém com participação 
bem inferior à indústria têxtil. Havia, na época 31 estabelecimentos, empregando 420 
trabalhadores e com um valor da produção da ordem 4,3 mil contos de reis. 
Convém destacar que a implantação dessas primeiras unidades industriais na 
Paraíba não foi o resultado apenas de decisões privadas. Isto é, tal como aconteceu em 
outros países, o processo de industrialização não ocorreu de forma espontânea. A 
participação do Estado, seja regulando, protegendo e criando mercado, seja estimulando 
a instalação de novas unidades produtivas, seja ordenando o mercado de trabalho, ou 
ainda propiciando a infraestrutura necessária para a produção e circulação de 
mercadorias industriais tem sido uma constante na história da industrialização 
(CHANG, 2006). 
No Brasil, a literatura sobre o assunto destaca a importância do Estado no 
esforço de superação do modelo primário exportador e na arrancada do processo de 
industrialização (STEIN, 1979; CANO, 1981;DEAN, 1978; FOOT E LEONARDI, 
1982; LUZ, 1961). 
Na verdade, desde a segunda metade do século XIX que o governo provincial 
vinha tomando algumas medidas no sentido de incentivar a instalação de fábricas e de 
infra-estrutura, como pode ser visto através das informações contidas no quadro 1. 
Como se pode observar, na Paraíba, também se verifica a influência do Estado na 
implantação e dinamização do setor industrial. 
Essa presença é encontrada nas diferentes fases da história da indústria estadual. 
Durante o período colonial, verifica-se o controle do Estado através do controle do 
comércio externo e das diferentes regulamentações sobre a atividade manufatureira. Já 
no império, quando no Brasil iniciam-se algumas iniciativas de produção industrial, são 
observadas algumas iniciativas do governo provincial com o objetivo de estimular a 
instalação de indústrias na Paraíba. No Quadro abaixo, são apresentadas algumas dessas 
medidas: 
 
Quadro 1 – Paraíba:Algumas medidas de estímulo às atividades produtivas 
durante o império e durante a primeira metade do século XX 
Ano Instrumento Objetivo Beneficiado 
1867 Lei n. 274 de 
24/9 
Concede financiamento a 
um juro de 3% a.a , durante 
um período de 30 anos 
Empresa que queira construir 
um porto de comércio em 
Cabedelo que assegure o 
comércio direto de importação 
e exportação com alguns países 
estrangeiros, não devendo 
exceder o capital a mil contos 
de re 
1867 Lei n. 277 de 
27/9 
Concede redução de 1% nos 
dízimos de exportação de 
gêneros de produção da 
Província que forem 
despachados diretamente 
para pais estrangeiro. 
Negociante que importar 
diretamente de pais estrangeiro 
pelo menos cem contos de reis 
de mercadorias e máquinas 
agrícolas. 
1875 Lei n. 595 de 
23/11 
Concede isenção de 
imposto por 15 anos para 
instalar uma fábrica de gelo 
em João Pessoa 
Luiz Ferreira Leal 
14 
 
1876 Lei n. 629 de 
26/7 
Concede prêmio de um mil 
contos de reis 
Para o plantio de seis mil pés de 
café 
1877 Lei n. 641 de 
21/9 
Concede isenção de 
imposto; 
Para Salviano Ramos instalar 
na Paraíba “prensas de ferro 
movidas a vapor para enfardar 
algodão” 
1888 Lei n. 850 de 
8/10 
Concede prêmio de mil 
contos de reis. 
Fazendeiro que construísse um 
açude em sua propriedade. 
1911 Lei n. 361 de 
18/10/1911 
Isenta de impostos Empresas que se utilizassem de 
quedas d’água para produção de 
energia 
1911 Dec. n. 484 
de 13/3/1911 
Isenta de impostos Coronel Segismundo Guedes 
Pereira para montar uma fábrica 
de laticínios na Paraíba; 
1912 Dec. n. 519 
de 1/12/1912 
Isenta de impostos Engenheiro francês Juan 
Andreaux para instalar uma 
fábrica de cimento na Paraíba; 
1912 Dec. n. 540 
de 29/6/1912 
Isenta de impostos Julius Von Sohsten para instalar 
uma indústria pesqueira; 
1912 Dec. n. 542 
de 1/7/1912: 
Isenta de impostos Sidney C. Dore para instalar 
uma fábrica de águas gasosas; 
1913 Dec. n. 658 
de 9/8/1913 
Isenta de impostos Francisco Sotter de Figueiredo 
Castro para explorar uma 
empresa de iluminação elétrica 
na cidade de Itabaiana; 
1913 Concede prêmio de 3 mil 
contos de reis 
empresa de navegação que 
escalasse pelo menos um navio 
por mês para fazer a linha 
Cabedelo-Europa. 
Fonte: MAIA; ZENAIDE,1986. 
 
Como se pode observar, são medidas que objetivavam ampliar a infraestrutura 
produtiva (porto e açude) e fornecer estímulo direto à atividade produtiva. Essas 
medidas ora eram destinadas a pessoas específicas, ora eram oferecidas em aberto a 
quem se interesse pela obtenção do benefício. Os principais instrumentos utilizados 
eram a concessão de prêmios, a isenção de impostos e a disponibilização de recursos a 
juros baixos. 
 
2.3 Fase de industrialização incentivada 
 
Esta fase é chamada de fase incentivada pelo fato do forte crescimento industrial 
experimentado na Paraíba ter resultado do conjunto de políticas implementadas entre 
1950 e a primeira metade da década de 1980. Portanto, não se está afirmando que os 
incentivos surgiram nessa época. Como ficou mostrado no item anterior, desde o início 
do processo de industrialização não faltaram iniciativas seja do governo central seja do 
estadual no sentido de estimular a instalação de unidades produtivas e de consolidar a 
infraestrutura necessária a esse processo. 
A intensificação da intervenção estatal nesse período é resultado de uma série de 
fatores, dentre os quais podem ser destacados: a) a experiência de planejamento 
centralizado vivenciada pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) 
15 
 
difundiu a necessidade de planejamento das economias como estratégiade 
desenvolvimento; b) a implantação do Estado do Bem-Estar, a partir da década de 30, 
aumentou a participação do Estado no fornecimento de serviços educacionais, de saúde 
e previdenciários; c) a implantação do Plano Marshall de reconstrução da Europa após a 
segunda guerra mundial mostrou a importância da intervenção estatal no processo de 
criação das condições necessárias para a recuperação econômica; d) a difusão da teoria 
keynesiana forneceu uma base conceitual para a intervenção estatal, uma vez que a 
instabilidade das despesas de investimento é transmitida à demanda agregada, 
provocando as crises periódicas do capitalismo; como medida corretiva, Keynes 
propunha que os gastos governamentais fossem utilizados como mecanismos para 
corrigir a insuficiência da demanda; e) consolidação e difusão da teoria heterodoxa do 
desenvolvimento econômico que argumentava ser a pobreza um processo resultante do 
próprio desenvolvimento das economias centrais e que o livre comércio antes de corrigir 
as distorções existentes entre os países avançados e os subdesenvolvidos aprofundava-
as.; e f) o desenvolvimento da teoria cepalina que advogava que a industrialização era a 
única forma dos países latino-americanos superarem o seu subdesenvolvimento. 
Como resultado desse conjunto de fatores, inicia-se no Brasil, de forma orgânica, 
a formulação de políticas de desenvolvimento e as práticas de planejamento 
(MIDDLIN, 2011; IANNI, 2009). É nesse contexto que são estabelecidas as medidas de 
desenvolvimento econômico nas diferentes esferas governamentais. Em relação às 
políticas de industrialização que impactaram diretamente na economia paraibana, tem-se 
que elas são oriundas tanto da instância estadual quanto federal. 
No tocante às políticas implementadas pelo governo estadual, podem ser 
destacadas as seguintes medidas: 
a) José Américo de Almeida através do decreto n.567 de 21 de fevereiro de 1953, 
criou a Comissão de Desenvolvimento Econômico como órgão consultor e de 
planejamento do desenvolvimento do Estado, abrangendo “toda atividade ou 
ação que possa ser exercida em proveito do desenvolvimento econômico da 
Paraíba e, particularmente, no campo de industrialização e aproveitamento de 
nossos recursos naturais”. Compreendia também, “a racionalização dos 
processos agrícolas, bem assim o seu fomento e melhoria das condições de vida 
de sua população.”A CDE foi dirigida pelo secretário de agricultura José 
Fernandes de Lima e integrada por membros das classes empresariais; 
b) O governador Flavio Ribeiro Coutinho, através da Lei n. 1564 de 25 de outubro 
de 1956, criou um sistema de incentivos fiscais para investimentos industriais 
que isentava de todos os impostos as indústrias de vulto econômico que se 
instalassem no Estado com a seguinte progressão: i) isenção de 10 anos se o 
capital fosse superior a 15 milhões de cruzeiros e utilizasse matéria prima local; 
ii) isenção de 8 anos se o capital fosse superior a 10 milhões; iii) isenção de 5 
anos se o capital fosse superior a três milhões; e iv) isenção de menos de 3 anos 
se o capital fosse inferior a três milhões. 
c) O governador Pedro Moreno Gondim, através do Decreto n. 1316 de 30 de maio 
de 1958, criou o Conselho Estadual de Desenvolvimento (CED), diretamente 
subordinado ao governador. O CED era constituído pelos secretários de Estado, 
pelos Chefes das Casas Cilvil e Militar, pelo Superintendente do Banco do 
Estado da Paraiba, pelos presidentes da Federação das Indústrias, da Federação 
do Comércio, da Federação das Associais Rurais e das Associações Comerciais. 
Competia ao CED: i) estudar as medidas necessárias à Coordenação política e 
econômica do Estado, particularmente no tocante ao desenvolvimento 
econômico; ii) elaborar planos e programas,visando aumentar a eficiência das 
16 
 
atividades governamentais e fomentar a iniciativa privada; iii) analisar relatórios 
e estatísticas sobre a evolução dos vários setores da economia; iv) estudar e 
preparar projetos, leis, decretos e atos administrativos; e v) manter-se informado 
da implementação das medidas aprovadas. Jose Lopes de Andrade foi quem 
assessorou o governador para a criação do CED e do FAGRIN, depois de ver a 
experiência da baiana, conduzida por Rômulo de Almeida. Lopes de Andrade foi 
o primeiro secretário do CED. No governo de Pedro Gondim, Ronald Queiroz 
assumiu a secretaria geral do CED. Organizou a equipe técnica formada por 
Heitor Cabral, Geraldo Stábile, Abelcir Daniel, Antonio Augusto de Almeida, 
Adalberto Barreto, Clidenor do Egito Araújo e Benigno Barcia. Integravam 
também a equipe técnica: Octávio de Sá Leitão Filho, Juarez de Paiva Macedo, 
João Soares, Hálamo Cunho, Arioswaldo Pereira e Jofre Borges de 
Albuquerque. 
d) O governador Pedro Moreno Gondim também criou o Fundo de 
Desenvolvimento Agrícola e Industrial (FAGRIN), através da lei n. 2031 de 8 de 
abril de 1959. A criação desse fundo objetivava permitir a intervenção do Estado 
no processo produtivo, mediante colaboração com pessoa de direito público e 
com pessoas jurídicas e físicas de direito privado, para a realização de 
programas de desenvolvimento da economia agropecuária, extrativa e industrial 
do Estado. A participação do Estado se daria através da participação no capital 
das empresas beneficiadas, por meio de ações nominais com direito a voto, 
assim como através da tomada de obrigações de empresas legitimamente 
organizadas. Não era permitido, “em qualquer hipótese, o controle do Estado 
sobre a maioria do capital”. 
e) Em 1967, durante o governo de João Agripino, são criadas duas instituições 
estaduais para dar suporte ao processo de industrialização estadual: o FUNDESP 
(Fundo de Industrialização do Estado da Paraíba) e a CINEP (Companhia de 
Industrialização do Estado da Paraíba), através do decreto n. 4.457. O 
FUNDESP absorveu o FAGRIN, após a sua liquidação, tendo como objetivos 
captar recursos para: i) instalar e operar os distritos industriais; ii) promover 
oportunidades de investimento no Estado, para fixar novos capitais no território 
estadual; iii) elaborar e executar programas e projetos para apoiar a indústria; iv) 
realizar pesquisas e programas de treinamento e aperfeiçoamento de recursos 
humanos; v) financiar, em convênio com o Banco do Estado, projetos industriais 
de pequena e média empresa. Por sua vez, a CINEP tinha por finalidade “a 
administração e operação do FUNDESP...” O FUNDESP vai ser reestruturado 
em 1986, dando origem ao FAIN (Fundo de Apoio ao Desenvolvimento 
Industrial da Paraíba), que “tem por finalidade a concessão de estímulos 
financeiros à implantação, à relocalização, à revitalização e à ampliação de 
empreendimentos industriais que sejam declarados, por maioria absoluta do seu 
Conselho Deliberativo, de relevância para o desenvolvimento do Estado.” 
(ZENAIDE, 1996). 
Em relação ao governo federal, a política de desenvolvimento industrial dirigida 
ao Nordeste vai ser reforçada com a criação da Superintendência de Desenvolvimento 
do Nordeste, em 1959, durante o governo de Juscelino Kubitschek 
A criação da SUDENE resultou de uma recomendação do Grupo de Trabalho 
para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), apresentada no relatório redigido por 
Celso Furtado, intitulado “Uma política de desenvolvimento para o Nordeste”. Em 
linhas gerais, o documento defendia a tese que o problema nordestino não estava na 
restrição do seu quadro natural, particularmente da semiaridez e, consequentemente, da 
17 
 
escassez de água. Para Celso Furtado, o problema do Nordeste estava no 
subdesenvolvimento em comparação com o desenvolvimento do centro-sul do Brasil. 
Para promover o problema nordestino, a sugestão central era promover a 
industrializaçãoda região
7
. 
Como promover a industrialização se não havia capital suficiente na região? Era 
necessário atrair o capital de outras regiões e de outros países. Para fazer isso, a lei de 
aprovação do 1
o
 Plano Diretor da SUDENE, no seu Art. 34 estabelecia que as empresas 
nacionais que quisessem investir no Nordeste, podiam utilizar 50% do imposto de renda 
devido à União para investir no Nordeste. Depois, na lei que aprovou o segundo plano 
diretor da SUDENE, no seu artigo 18, estendeu esse incentivo às empresas estrangeiras 
operando no território nacional. Este mecanismo ficou conhecido como sistema 34/18
8
. 
Esses recursos formavam um fundo de aplicação (posteriormente transformado no 
FINOR
9
 - Fundo de Investimentos do Nordeste) para financiar projetos de investimento 
no Nordeste. 
Sob o impulso dos incentivos fiscais, seja do Estado, seja da União, o setor 
industrial paraibano sofreu um forte impulso, como pode ser verificado pelos dados 
apresentados na tabela 7. Da observação dessa tabela podem ser feitas as seguintes 
constatações: 
a) Ocorreu um forte crescimento no número de estabelecimentos industriais no Estado 
da Paraíba, tendo o seu número triplicado entre 1959 e 1979; 
b) Verificou-se, também, um crescimento no número do pessoal ocupado, variando de 
17,2 mil, em 1959, para 42,3 mil, em 1979, o equivalente a um aumento de 2,4 
vezes; 
c) O aumento no nível do emprego, foi inferior ao crescimento no número 
estabelecimentos, resultando numa diminuição do tamanho médio dos 
estabelecimentos, tomando o número de pessoal ocupado como medida do tamanho 
dos estabelecimentos: passando de 14,8 trabalhadores por estabelecimento, em 1959, 
para 12,1 trabalhador por estabelecimento, em 1979. Esses dados permitem inferir 
que o processo de industrialização paraibano foi intensivo em capital, tal como 
ocorreu para o Nordeste no mesmo período (PELLERIN, 1976); 
d) O crescimento, no entanto, não se deu de forma homogênea, resultando em uma 
mudança na estrutura industrial do Estado; 
e) Essa mudança pode ser sintetizada nos seguintes termos: perde peso os ramos 
industriais mais tradicionais do Estado, como produtos alimentares, bebidas, 
mobiliário, confecções, couros, gráfica e sabão e velas. Por outro lado, alguns ramos 
industriais crescem de importância, como: extração de minerais, produtos minerais 
não metálicos, metalúrgica, mecânica, borracha e plástico. 
 
 
 
7
 Além dessa medida, o documento também propunha outros quatro eixos de ação: a) promover a 
racionalização da lavoura canavieira, a fim de liberar terras para a produção de alimentos, de modo a 
baratear o custo de vida nas cidades; b) reorganizar a produção na região semiárida de modo a torná-la 
mais resistente às restrições do regime pluviométrico; c) ordenar a migração do excedente populacional 
resultante da reorganização de semiárido para a pré-amazônia maranhense; e d) consolidar e expandir a 
infraestrutura regional, particularmente a produção e distribuição de energia, a rede de estradas, 
modernização dos portos, etc. 
8
 A denominação 34/18 refere-se aos artigos 34 da Lei 3.995 de 14 de dezembro de 1961, alterado pelo 
artigo 18 da Lei. 4.239 de 27 de junho de 1963 
9
 O FINOR foi criado pelo Decreto-Lei nº 1.376, de 12.12.1974. 
18 
 
Tabela 7 – Paraíba: Número de estabelecimentos e pessoal ocupado (1959 – 1979) 
Ramos industriais 
Número de 
estabelecimentos 
Pessoal ocupado 
1959 1969 1979 1959 1969 1979 
Extração de minerais 8 10 43 59 572 566 
Produtos minerais não 
metálicos 
103 274 762 1.186 1.817 6.099 
Metalúrgica 24 66 144 185 1.133 1.344 
Mecânica 5 91 33 81 335 1.015 
Mat.l elétrico e de 
comunicações 
2 39 10 96 93 332 
Material de transporte 8 45 32 40 192 262 
Madeira 45 96 231 228 397 1.145 
Mobiliário 142 179 286 536 605 1.592 
Papel e papelão 2 7 12 15 150 463 
Borracha 2 14 18 26 86 494 
Couros, peles e produtos 
similares 
32 30 42 614 288 568 
Química 22 31 62 11 466 2.012 
Prod. Farmac. e veterinários 2 1 2 x x 
Perfumaria sabões e velas 20 18 20 111 248 
Produtos de materiais plásticos - 7 18 x 1.548 
Têxtil 104 59 321 175 4.768 9.654 
Vest., calç. e artefatos de 
tecidos 
101 84 134 - 850 2.490 
Produtos alimentares 468 1.284 1.202 8.065 6.358 9.482 
Bebidas 37 105 47 628 492 785 
Fumo 1 5 4 3.956 17 x 
Editorial e gráfica 26 46 60 298 768 1.136 
Diversos 5 15 33 46 86 675 
Total 1.157 2.552 3.481 17.215 19.762 42.331 
Fonte: IBGE – Censos industriais 
 
A exaustão dessa fase está associada com a crise externa
10
 que se abateu sobre a 
economia brasileira no início da década de 1980, levando à crise financeira do estado 
brasileiro. 
 
2.4 Fase da integração e reestruturação produtiva 
 
Essa última fase é regida por dois fenômenos importantes: a globalização 
produtiva e a guerra fiscal. Antes de analisar a evolução do setor industrial nesse 
período, convém precisar o que se entende por globalização e por guerra fiscal. 
 
10
 Com a segunda elevação do preço do petróleo em 1979, os Estados Unidos elevaram a sua taxa de juros 
como estratégia para combater a inflação interna. Essa elevação da taxa de juros trouxe sérias 
consequências para a economia brasileira, pois o Brasil tinha adotado a estratégia de continuar crescendo 
através da utilização dos petrodólares. Esses empréstimos foram contraídos a taxa de juros não fixada, 
isso é, o país deveria honrar os seus compromissos, com base na taxa de juros vigente na data de 
pagamento. Desse modo, ocorre uma forte elevação da dívida. Esse aumento da dívida, obrigou o Brasil a 
recorrer ao FMI, que passou a monitorar a economia brasileira, exigindo entre outras coisas um processo 
de ajustamento do orçamento, que implicou em corte dos subsídios e dos estímulos fiscais. 
19 
 
Por globalização entende-se o processo de unificação dos mercados nacionais. 
Para isto, os países tiveram que fazer mudanças na sua política cambial e comercial, 
expressa na redução das taxas de importação, na eliminação de quotas de importação, 
etc. Por guerra fiscal, entende-se a disputa dos estados em atrair investimentos para os 
seus territórios. Para isso procuram oferecer reduções do ICMS e vantagens outras 
(redução dos preços de terrenos, disponibilização de infraestrutura etc.). 
A crise financeira do Estado brasileiro, nas décadas de 1980 e de 1990, coloca 
em cheque a política de incentivos fiscais em nível do governo federal, comprometendo 
a política de industrialização até então implementada. Dessa forma, os governos 
estaduais procuram substituir o vazio estabelecido com a retirada da política industrial 
do governo federal, por incentivos oferecidos em nível dos Estados, utilizando 
principalmente as reduções do ICMS, imposto de competência dos Estados. Estabelece-
se, então, uma verdadeira luta entre as unidades federativas para quem oferece maiores 
vantagens para as indústrias que desejam se instalar em seus territórios. Daí o nome de 
guerra de fiscal atribuído ao processo. 
Essas vantagens oferecidas pelos estados nordestinos representavam, na prática, 
uma redução nos custos de produção, aumentando o poder de competição das firmas 
que instalassem no Nordeste. A essa vantagem, foi acrescido o baixo custo da mão-de-
obra regional e o baixo nível de organização dos trabalhadores. Daí, as firmas que 
procuraram se instalar no Nordeste (e na Paraíba) foram, principalmente, as indústrias 
cujos processos produtivos são intensivos em trabalho. 
Essas iniciativas surtiram efeito. Como pode ser observado na Tabela 8, durante 
esse período podem ser destacadosos seguintes aspectos: 
 
Tabela 8: Paraíba: Número de estabelecimentos industriais e pessoal ocupado no 
setor industrial (1984 – 2007) 
Anos 
Unidades 
locais 
Pessoal 
Ocupado 
1984 1.293 27.111 
1996 885 39.641 
1997 1.004 43.553 
1998 1.033 41.675 
1999 1.194 41.933 
2000 1.153 43.468 
2001 1.229 44.062 
2002 1.253 46.858 
2003 1.327 46.910 
2004 1.231 47.427 
2005 1.307 52.652 
2006 1.432 59.288 
2007 1.312 64.239 
Fonte: IBGE – Pesquisa Industrial Anual 
 
a) Houve uma redução no número de estabelecimentos industriais entre 1984 e 
2001, coincidindo com o processo de abertura comercial da economia brasileira 
que teve impacto negativo sobre o setor industrial, pois aumentou a exposição da 
indústria nacional à competição internacional. Nesse período a literatura registra, 
em nível nacional, o fechamento de muitas indústrias que não conseguiam 
enfrentar a competição; 
20 
 
b) Apesar da redução do número de estabelecimentos industriais, o nível do 
emprego apresentou uma trajetória crescente. Isso pode ser um efeito dos 
incentivos fiscais oferecidos pelo governo estadual, que conseguiu atrair para o 
estado empresas de grande porte intensivas no fator trabalho; 
c) A partir de 2001, verifica-se o crescimento do número de empresas locais 
instaladas no Estado, assim como o crescimento do nível de emprego. Como se 
sabe, após a mudança na política cambial realizada em 1999 e da política 
macroeconômica a partir de 2003, houve uma maior estimula às exportações e a 
a economia brasileira voltou a trilhar uma trajetória de crescimento econômico. 
Outro aspecto importante dessa nova fase é a maior diversificação do parque 
industrial estadual, como será visto na seção seguinte. 
. 
III - A ATUAL ESTRUTURA PRODUTIVA E ESPACIAL DA INDÚSTRIA 
PARAIBANA 
 
Quanto à atual estrutura do setor industrial (veja gráfico 1), observa-se que 
houve uma maior diversificação do setor industrial paraibano, consubstanciada nos 
seguintes aspectos: 
a) O ramo de alimentos embora continue sendo o mais expressivo em termos de 
unidades produtivas e de volume de emprego, vê sua importância reduzida; 
b) Os ramos têxteis e de couro e artefatos de couro aumentam a sua 
importância, sobretudo no tocante ao volume do emprego gerado; 
c) O ramo de produtos minerais não metálicos é reforçado, tanto em termo de 
unidades quanto de emprego; 
d) O ramo de produtos plásticos e de borracha também é incrementado. 
 
Gráfico 1 – Paraíba: Evolução da quantidade de unidades do subsetor de transformação, 
segundo os ramos industriais (2000-2009). 
 
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da RAIS. 
 
 
Apesar dessas mudanças, o setor industrial paraibano ainda está fortemente 
concentrado na produção de bens de consumo e de bens intermediários (estes últimos 
0 
500 
1000 
1500 
2000 
2500 
3000 
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 
U
n
id
ad
es
 
ALIM E BEB 
IND 
CALCADOS 
IND TEXTIL 
IND QUIMICA 
BOR FUM 
COUR 
PAPEL E GRAF 
MAD E MOBIL 
MAT TRANSP 
ELET E 
COMUN 
21 
 
com exploração dos recursos naturais locais – minerais não metálicos, principalmente 
do caulim) (veja Cartograma 1). 
 
Cartograma 1 – Valor adicionado da atividade industrial no ano de 2009 
 
Fonte: Albuquerque, 2012 
Em termos espaciais, apesar de ter havido uma maior desconcentração da 
indústria, ela ainda se apresenta com grande concentração no entorno das maiores 
cidades, particularmente na grande João Pessoa e na Grande Campina Grande, como 
pode ser visualizado nos Gráfico 2. 
 
Gráfico 2 – Paraíba: Evolução do emprego no subsetor da indústria de transformação, 
segundo os principais municípios (2000 – 2009). 
 
Fonte: Albuquerque, 2012 
 
0 
2000 
4000 
6000 
8000 
10000 
12000 
14000 
16000 
18000 
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 
Bayeux 
Caapora 
Cabedelo 
Campina Grande 
Joao Pessoa 
Mamanguape 
Patos 
Pedras de Fogo 
Santa Rita 
E
m
p
r
e
g
o
s
 
Ano 
22 
 
IV - AS POLÍTICAS DE ESTÍMULO AO SETOR 
 
 Como já foi ressaltado anteriormente, a existência de políticas de incentivo à 
industrialização não é uma realidade nova. Na verdade, ao longo da história econômica 
paraibana encontram-se diversas iniciativas governamentais voltadas para estimular o 
segmento das indústrias. No entanto, essas iniciativas são estruturadas de forma mais 
sistemática a partir da segunda metade do século XX 
 Atualmente, a política industrial do Estado da Paraíba está centrada na isenção 
fiscal (redução do ICMS), através do FAIN, e de ações complementares tais como: 
fornecimento de infraestrutura, fortalecimento dos distritos industriais, da construção de 
galpões industriais, da qualificação da mão de obra, de financiamento para aquisição de 
equipamentos para os operários, etc.
11
 
Em relação à infraestrutura disponibilizada pelo governo estadual, destaca-se a 
criação dos distritos industriais. O distrito industrial é um espaço devidamente 
organizado com toda a infraestrutura (energia, saneamento, água, telefonia, transporte, 
etc.) e reservado para a instalação de unidades industriais. A Tabela 9 traz informações 
sobre os distritos industriais existentes no Estado. 
Tabela 9 – Paraíba: Distritos industriais e empresas instaladas 
Distritos 
Nº de 
Empresas 
Distritos 
Nº de 
Empresas 
João Pessoa 
 
Várzea 
Distrito Industrial de João Pessoa 110 Dist. de Mineração de Várzea - 
Distrito Industrial de Mangabeira 103 Sousa 
Campina Grande 
 
Distrito Industrial de Souza 7 
Dist. Industrial de Campina Grande 65 Cajazeiras 
Dist. Industrial de Ligeiro 12 Dist. Industrial de Cajazeiras 13 
Dist. Industrial do Velame 28 Conde 
Distrito Industrial de Caatingueira 24 Dist. Industrial do Conde I 8 
Pólo Calçadista - Dist. Industrial de Conde II 7 
Santa Rita Alhandra 
Distrito Industrial de Santa Rita 30 Dist. Industrial de Alhandra 7 
Área Industrial de Santa Rita Rio Tinto 
Bayeux Dist. Industrial de Rio Tinto - 
Área Industrial de Bayeux - Catolé do Rocha 
Guarabira Dist. Ind. de Catolé do Rocha 5 
Distrito Industrial de Guarabira I 16 Pedras de Fogo 
Distrito Industrial de Guarabira II 3 Dist. Ind. de Pedra de Fogo 46 
Distrito Mecânico de Guarabira - Boa Ventura 
Queimadas 
 
Dist. Industrial de Boa Ventura 2 
Distrito Industrial de Queimadas 24 Cuitegí 
Patos 
 
Dist. Industrial de Cuitegí - 
Distrito Industrial de Patos 11 
Fonte: CINEP 
 
11
 Uma discussão mais aprofundada da política de incentivos do governo da Paraiba e de seus efeitos foi 
objeto do texto “Política de incentivos fiscais e geração de emprego na indústria paraibana” (NETO, 
BRASIL e TARGINO, 2006). 
 
23 
 
 Como se pode observar, existem na Paraíba 26 distritos industriais, distribuídos 
em 17 municípios, aí incluídos os de maior dimensão. Apesar dessa dispersão espacial, 
verifica-se que há uma forte concentração na Grande João Pessoa (João Pessoa, Santa 
Rita, Bayeux, Conde, Alhandra) e na Grande Campina Grande (Campina Grande, 
Queimadas). Com efeito, nessas duas áreas, estão instaladas 82% das unidades 
industriais beneficiadas. 
 
CONCLUSÃO 
 
 A evolução do setor industrial paraibano guarda uma estreita relação com o 
processo de industrialização brasileiro. Até meados do século XIX o setor industrial 
sofreu fortes restrições a sua expansão em decorrência das limitações impostas pelo 
projeto colonial português (produção de açúcar para exportação) e pelas proibições 
impostaspela Inglaterra para evitar a formação de núcleos de concorrência a sua 
indústria têxtil. Só no final do século XIX é que têm lugar as primeiras iniciativas de 
instalação de indústrias, que mantinham forte ligação com o setor agropecuário uma vez 
que beneficiavam as matérias primas dele procedentes (algodão, couro, leite, produtos 
alimentares, etc.). Na segunda metade de século XX, verificou-se um crescimento tanto 
do emprego quanto da produção industrial paraibana com base nos incentivos fiscais e 
creditícios ofertados tanto pelo governo federal quanto pelo governo estadual. Nas 
últimas décadas do século XX, o setor industrial paraibano é afetado pelo processo de 
globalização que provocou um deslocamento das indústrias intensivas em trabalho do 
centro-sul do país para a região Nordeste. Nessa última fase, tem-se que foi rompida a 
ligação do setor industrial com a economia estadual tanto nas relações a montante 
(deixou de beneficiar as matérias primas locais, à exceção da indústria de minerais não 
 A evolução do setor secundário permitiu que ele ocupe, atualmente, um lugar 
importante na economia estadual, representando cerca de ¼ da produção e do emprego 
da Paraíba. Quanto à indústria de transformação, ela ainda apresenta algumas 
limitações: não chega a representar a metade do valor agregado do setor; está 
fortemente concentrada nos ramos de produtos alimentícios, têxtil, calçados e minerais 
não metálicos, vale dizer está voltada principalmente para a produção de bens de 
consumo não duráveis e intermediários; verifica-se um concentração espacial 
significativa em torno dos maiores centros urbanos, particularmente em torno de João 
Pessoa e de Campina Grande; a dinâmica do setor depende de modo expressivo dos 
incentivos governamentais. 
 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
 
 ALBUQUERQUE, Diogo Daniel Bandeira de. O desempenho da indústria de 
transformação paraibana na década de 2000. João Pessoa: UFPB, monografia de 
conclusão do curso de Ciências Econômicas. 2012 
ALMEIDA, Antonio Augusto de. Brejo Paraibano: contribuição para o inventário do 
patrimônio cultural. João Pessoa: Secretária de Educação e Cultura, Departamento de 
Produção Gráfica, 1994. 
BRASIL. Decreto n. 2.687 de novembro de 1875. Base da Legislação Federal. 
Disponível em:http://www.planalto.gov.br. 
24 
 
CANABRAVA, Alice. O açúcar nas Antilhas (1697-1755). São Paulo: IPE/USP, 1981. 
CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo. São Paulo: T. A. 
Queiroz, 1981. 
CHANG, Ha-Joon. Chutando a Escada: a estratégia do desenvolvimento em 
perspectiva histórica. São Paulo: Editora UNESP, 2004. 
DEAN, Warren. A industrialização de São Paulo. São Paulo: Ed. Difel, 1978 
FERREIRA, Lúcia de F. Guerra. Indicadores da evolução industrial e urbana da 
Paraíba: 1890/1930. In NDHIR. Fontes para a história da industrialização do 
Nordeste: 1889-1920. João Pessoa: NDHIR/UFPB, Relatório Final de Pesquisa, Vol.I, 
1986. 
FOOT, Francisco Hardman; LEONARDI, Vitor. História da indústria e do trabalho 
no Brasil. São Paulo: Global, 1982. 
GTDN. Uma política de desenvolvimento para o Nordeste. Recife: Sudene, 1967. 
HERCKMAN, Elias. Descrição geral da capitania da Paraíba. João Pessoa: A 
Unidão, 1982. 
IANNI, Octavio. Estado e planejamento no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 
2009. 
KOURY, Mauro G. Pinheiro. Trabalho e disciplina: os homens pobres nas cidades do 
Nordeste 1889-1920. In NDHIR. Fontes para a história da industrialização do 
Nordeste: 1889-1920. João Pessoa: NDHIR/UFPB, Relatório Final de Pesquisa, Vol.I, 
1986. 
LEAL, José. Itinerário histórico da Paraíba. 2ª ed. João Pessoa: A União Editora, 
1989. 
LUZ, Nícia Vilela. A luta pela industrialização do Brasil. São Paulo: Difusão Européia 
do Livro, 1961. 
MARIZ, Celso. Evolução econômica da Paraíba. João Pessoa: A União Editora, 1978. 
MINDLIN, Betty. Planejamento no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2011. 
NETO, E. D. S.; BRASIL, P. M.; TARGINO, I. Política de incentivos fiscais e geração 
de emprego na indústria paraibana. In CAMPOS, F. L. S; TARGINO, I.; MOUTINHO, 
L. M. A economia paraibana: estratégias competitivas e políticas públicas. João 
Pessoa, Ed. Universitária, 2006. 
PELLERIN, Georges. O Emprego Industrial no Nordeste. Recife: PIMES/UFPE, 
1976. 
PINTO, Irineu Ferreira. Datas e notas para a história da Paraíba. João Pessoa: 
Editora Universitária, 1977. 
SANTANA, Martha M. Falcão de Carvalho e Morais. Nordeste, açúcar e poder: um 
estudo da oligarquia açucareira na Paraíba 1920-1962. João Pessoa: Editora 
Universitária, 1990 
SILVA, Sérgio. Expansão cafeeira e origem da indústria no Brasil 
STEIN, Stanley. Origens e evolução da indústria têxtil no Brasil – 1850/1950. Rio de 
Janeiro: Ed. Campus, 1979. 
ZENAIDE, Hélio. História da CINEP. João Pessoa: Editora A União, 1996. 
25

Outros materiais