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Cálculo Atuarial - Aula 02 - História do Seguro

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Aula Nº 2 – História do Seguro
Objetivos da aula:
O objetivo desta aula é mostrar o desenvolvimento da atividade de 
seguros através dos tempos. Desde a Antigüidade, o homem tenta, 
mesmo com técnicas rudimentares, amenizar suas perdas, passando pela 
Idade Média, com o desenvolvimento do comércio marítimo. Na Idade 
Moderna, contando com a sua matematização, consegue trabalhar com o 
risco de forma mais eficiente. Em nossos dias, a atividade expandiu-se para 
qualquer tipo de risco. 
Tenha uma ótima aula!
INTRODUÇÃO
Desde os primórdios, o homem tenta encontrar métodos para se proteger 
contra as incertezas do futuro. Já na Antigüidade, quando as condições 
de vida eram estritamente ligadas à natureza e os acontecimentos futuros 
pareciam depender apenas da sorte ou de circunstâncias totalmente alheias 
à vontade dos homens, as sociedades mais organizadas encontraram 
meios para atenuar os riscos envolvidos em suas atividades comerciais e 
agrícolas.
A idéia do seguro como medida de precaução contra um futuro incerto 
surgiu, provavelmente, na Babilônia, cerca de 23 séculos antes de Cristo. 
Os condutores de camelos, obrigados a atravessar um deserto extenso e 
perigoso para vender seus animais em outras cidades, fizeram um acordo por 
meio do qual quem perdesse algum camelo, por morte ou desaparecimento, 
receberia outro, pago pelos demais companheiros da caravana. O código 
de Hamurábi, conjunto de leis promulgadas pelo grande rei babilônio 
por volta de 1800 a.C., continha cláusulas que previam o estabelecimento 
de associações de navegadores para ressarcir aquele que perdesse a sua 
embarcação em alguma tempestade.
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1. Antigüidade
A atividade de seguros surgiu há mais de 5.000 anos entre os comerciantes 
marítimos mesopotâmicos e fenícios, aplicados à perda de carga de navios 
(naufrágio ou roubo). A prática foi continuada pelos gregos e romanos 
e acabou chegando no Mundo Cristão Medieval pelos comerciantes 
marítimos italianos. As técnicas empregadas pelos seguradores daqueles 
tempos são desconhecidas, mas pode-se afirmar que se baseavam em 
estimativas empíricas das probabilidades de acidentes para estipularem 
as taxas e prêmios correspondentes.
Foram os gregos que criaram as primeiras sociedades de socorro mútuo, 
as quais continuaram a existir durante o Império Romano sob o nome de 
collegia ou sodalitia. As sociedades não tinham fins lucrativos e reuniam 
indivíduos pertencentes às classes mais humildes com o propósito de 
cobrir, por ocasião da morte de um associado, as despesas funerárias que 
permitissem uma sepultura honrosa. O imperador Cláudio (10 a.C. a 54 
d.C.), interessado em estimular o plantio e o comércio de grãos, criou um 
seguro gratuito para todos os agricultores e mercadores romanos, ao tomar 
para si a responsabilidade sobre qualquer perda do cereal decorrente do 
mau tempo.
A desintegração do Império Romano privou a sociedade então existente de 
poder central, desorganizando o comércio e reduzindo a importância dos 
seguros. Entretanto, foi durante a Idade Média que surgiram corporações 
de classe, como as guildas e confrarias, sociedades de ajuda mútua com 
espírito religioso, as quais prestavam assistência aos seus membros em 
casos de doença, incêndio, desastres e morte. Essas instituições não 
diferiam muito das antigas, mas tinham uma organização mais perfeita e 
de maior poder econômico.
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2. Idade Média
No século XII, um novo surto de comércio provocou o reflorescimento 
de um sistema de cobertura de riscos que já era conhecido desde a 
Antigüidade: o contrato de dinheiro a risco marítimo. Essa operação 
consistia em um empréstimo em dinheiro, concedido por um capitalista, 
ao navegador que empreendia uma viagem. O navegador não pagava 
nenhum prêmio, mas deixava em garantia uma hipoteca sobre o seu navio 
e o valor da carga a ser transportada. Se o barco e a carga fossem perdidos 
na viagem, o empréstimo não precisaria ser restituído. Caso a viagem fosse 
bem-sucedida, o navegador pagaria o que recebera como empréstimo, 
acrescido de juros elevados como compensação pelos riscos assumidos.
Em 1234, o papa Gregório IX proibiu os contratos de dinheiro a risco, 
declarando-os como uma das diversas formas de usura condenadas pelo 
Direito Canônico. Foi uma decisão tão inesperada quanto grave para a 
continuação do comércio marítimo. Felizmente, as ordens do papa, embora 
não estivessem sujeitas à discussão, eram passíveis de interpretações 
diversas. Assim, os capitalistas deixaram de fazer empréstimos e tornaram-
se compradores da embarcação e das mercadorias transportadas. Se o 
navio naufragava, o capitalista perdia o dinheiro. Se a viagem tinha êxito, 
a cláusula de compra era anulada e o capitalista recebia uma dada quantia 
como pagamento pela operação. Não se falava mais em juros.
O grande desenvolvimento dos transportes marítimos propiciou o 
aperfeiçoamento dos diversos tipos de seguro. Em 1310, surgiu em Bruges, 
na Bélgica, uma Câmara de Seguros que efetuava o registro de todos os 
contratos de seguro negociados e arbitrava entre as partes, em caso de 
litígio. A maioria dos contratos era de seguros mútuos, realizados por 
corporações e sindicatos de navegação em benefício dos seus associados, 
cobrindo não só os riscos materiais, mas também prevendo auxílio em 
caso de doença ou morte.
O uso dos seguros não se limitava ao transporte de mercadorias. Os 
agricultores, sempre vulneráveis a fenômenos como secas, inundações e 
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pragas diversas, criaram cooperativas agrícolas na Itália para se garantir 
mutuamente contra os infortúnios da natureza. Aqueles que tinham 
boas colheitas compensavam os seus pares das regiões atingidas pelo 
mau tempo. O Monte dei Paschi, que se tornaria um dos maiores bancos 
italianos, foi criado em Siena, em 1473, para servir de intermediário nesses 
contratos.
Embora todos esses sejam casos de auxílio mútuo, em que um grupo 
concorda em indenizar outro grupo contra perdas, o processo dos seguros 
em geral funciona exatamente dessa maneira. As companhias seguradoras 
utilizam os prêmios pagos por pessoas que não tiveram perdas para pagar 
as pessoas que as tiveram. Contudo, os primeiros documentos referentes a 
contratos de seguro só surgiram na Europa do século XIV. Os historiadores 
divergem quanto à cidade onde isso ocorreu pela primeira vez, se em 
Gênova ou Barcelona. Mas não há dúvidas de que essa prática se estendeu 
por toda a Europa nos séculos seguintes, principalmente aos países que se 
dedicaram às Grandes Navegações. Por volta de 1600, o termo apólice (em 
inglês policy e em francês police), derivado do italiano polizza (certificado, 
contrato), já era de uso corrente.
3. Idade Moderna
Os seguros marítimos tiveram um papel importantíssimo no 
desenvolvimento da Europa mercantilista, mas foi só com o Renascimento 
e as grandes descobertas no campo da estatística e da teoria das 
probabilidades que os seguros começaram a adquirir as características 
científicas as quais permitiriam, mais tarde, a sua grande expansão para 
outros ramos, como vida e incêndio.Os pensadores dos séculos XVI e XVII buscavam leis racionais que os 
libertassem dos dogmas teológicos, enquanto os cientistas lutavam, 
obstinadamente, para diferenciar os fatos empiricamente verificáveis 
das meras superstições. E os seguros encontravam, no conceito de 
risco probabilístico, a racionalidade que faltava para o seu grande 
desenvolvimento.
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3.1. O início da matematização dos seguros
Com o término da Idade Média, o crescimento dos centros urbanos levou 
à popularização de um novo tipo de seguro: o seguro de vida. É em torno 
dele que surgirão os primeiros estudos matemáticos sobre seguros, nos 
idos de 1500. Não deixa de ser curioso observar que, nessa época, houve 
um enorme aumento nos negócios de seguros marítimos (associados 
aos preciosos carregamentos trazidos das Américas e das Índias), mas os 
seguradores continuaram a usar as milenares técnicas empíricas. 
O interesse dos matemáticos renascentistas pelo conceito de risco esteve, 
inicialmente, ligado aos jogos de aposta. O médico italiano Giovanni 
Cardano (1500-1571), jogador compulsivo e matemático amador, estudou 
as probabilidades de ganho em jogos de dados, gamão e nas corridas 
de cavalos. No século seguinte, os franceses Blaise Pascal (1623-1662) 
e Pierre Fermat (1601-1665) retomaram e desenvolveram o cálculo de 
probabilidades. Em 1660, o inglês John Graunt publicou um livro de 
análises demográficas sobre a população de Londres, com base apenas 
nos registros de óbito mantidos por algumas igrejas londrinas. Cerca de 
30 anos depois, o astrônomo inglês Edmund Halley (1655-1742) construiu 
tabelas minuciosas de distribuição da população por idade e calculou a 
probabilidade de uma pessoa de qualquer idade morrer no ano seguinte. 
Estavam lançadas as bases do cálculo atuarial, que permitiria o grande 
desenvolvimento dos seguros nos séculos seguintes.
3.2. O amadurecimento da matemática dos seguros
O café aberto por Edward Lloyd, em 1687, logo se tornou popular entre 
os homens do mar que freqüentavam o porto de Londres. Percebendo a 
existência de uma insistente demanda por notícias sobre os navios, Lloyd 
passou a publicar um boletim – o Lloyd’s List – com informações sobre as 
partidas e chegadas, condições dos portos estrangeiros etc. As informações 
eram fornecidas por uma rede de correspondentes em todos os grandes 
portos europeus. Leilões de navios também começaram a ser realizados 
no café, com papel e tinta fornecidos gratuitamente pelo proprietário. 
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Um canto era reservado aos comandantes dos navios, para que pudessem 
trocar informações em particular.
O primeiro trabalho prático na área dos seguros de vida (Degrees of 
Mortality of Mankind) é devido a Halley (o mesmo do cometa), em 1693. 
Nesse trabalho, Halley mostrou como calcular o valor da anuidade do 
seguro em termos da expectativa de vida da pessoa e da probabilidade 
de que ela sobreviva por um ou mais anos.
Com Daniel Bernoulli, em 1730, a matemática dos seguros atinge um 
estado bastante maduro. Ele retoma o clássico problema de, a partir de 
um número dado de recém-nascidos, calcular o número esperado de 
sobreviventes após n anos. Ele também dá os primeiros passos em direção 
a novos tipos de seguros, calculando, por exemplo, a mortalidade causada 
pela varíola em pessoas de idade dada. Ao mesmo tempo, começaram a 
aparecer as primeiras grandes companhias de seguros as quais tiveram, 
assim, condições de se estabelecer com um embasamento científico.
4. Idade Contemporânea
O café de Edward Lloyd funcionava em tempo integral e estava sempre 
lotado. Em pouco tempo, tornou-se o quartel-general dos subscritores 
(seguradores individuais) de seguros marítimos, graças à qualidade de suas 
informações e conexões. Foi assim que, em 1771, quase um século depois 
da abertura do café de Edward Lloyd, 79 subscritores que operavam no local 
investiram 100 libras cada um na constituição de uma sociedade civil (não 
uma empresa), denominada Society of Lloyd’s, cujo propósito era reunir 
operadores individuais sob um código de conduta comum a todos. Esses 
foram os membros originais da Lloyd’s, os quais, mais tarde, passaram a ser 
conhecidos como Nomes (Names). Os Nomes têm o compromisso de se 
desfazer de todo o seu patrimônio pessoal, se necessário for, para pagar a 
indenização devida aos clientes. Talvez seja essa a principal explicação para 
o sucesso da Lloyd’s em mais de dois séculos de atividades.
A ampla difusão dos seguros terrestres, iniciada com os ramos de vida e 
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incêndio, no século XVIII, adquiriu maior vigor no século seguinte, com a 
exploração de outras modalidades. Impulsionados pelo aperfeiçoamento 
dos cálculos atuariais, surgiram os seguros de responsabilidade civil, 
acidentes pessoais, acidentes do trabalho e furto, entre outros. Datam, 
ainda do século XIX, os primeiros códigos comerciais contendo normas e 
regulamentos relativos aos seguros marítimos e terrestres.
De lá para cá, os negócios de seguros ampliaram-se e sofisticaram-se cada 
vez mais, a ponto de, em alguns países europeus, tornarem-se um mercado 
de trabalho que absorve quase um quarto dos egressos de cursos de 
Matemática.
5. O Seguro no Brasil
A história dos seguros no Brasil inicia-se, como nos demais países, com a 
cobertura aos riscos de transporte marítimo. A primeira seguradora do País 
chamou-se Companhia de Seguros Boa Fé e começou a operar na Bahia, em 
1808, com autorização do então príncipe regente Dom João VI.
Síntese
Esta aula foi uma breve viagem da Antigüidade até os nossos dias, contanto 
os fatos mais relevantes que aconteceram desde que surgiu o interesse do 
homem pelo seguro.
Na próxima aula, veremos o que aconteceu com essa atividade no Brasil, 
de sua introdução em nosso país até os dias atuais.
Referências
MARTINS, Gilberto de Andrade; SILVA, Fabiana Lopes da; CHAN, Betty 
Lílian. Fundamentos da Previdência Complementar - da Atuária à 
Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2006.
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SOUZA, Silney de. Seguros - Contabilidade, Atuária e Auditoria. São 
Paulo: Saraiva, 2001.
WEINTRAUB, Arthur Bragança de Vasconcellos; LEMES, Emerson Costa; 
VIEIRA, Júlio César. Cálculos Previdenciários. São Paulo: Quartier Latin, 
2006.

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