Buscar

Apostila Feridas Complexas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

1 
 
 
Fundação Universidade Federal de Rondônia 
Departamento de Enfermagem 
 
 
ATUALIZAÇÃO NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE FERIDAS COMPLEXAS 
 
 
Elaboração: 
Profª Drª Vivian Susi de Assis Canizares 
 
 
I. Introdução 
 
Segundo Dantas (2003), “o significado da palavra ferida ultrapassa a simples definição da 
perda da solução de continuidade da pele”. Ao buscar sinônimos para ferida, encontramos a 
palavra chaga, que por definição significa: coisa que penaliza, desgraça, aquilo que deixa 
cicatriz. Culturalmente, a palavra traz consigo um significado que sobrepuja a lesão tecidual, e 
muitas vezes a expressão “ ferir alguém” é popularmente utilizada para situações onde o outro 
nem mesmo foi tocado pelo agressor. 
Da mesma forma, o cuidar da ferida de alguém vai muito além dos cuidados gerais da 
realização de um curativo. Uma ferida pode não ser apenas uma lesão física, mas algo que dói 
sem necessariamente precisar de estímulos sensoriais; uma ferida é algo que fragiliza e muitas 
vezes o incapacita. 
O portador de uma ferida orgânica carrega consigo a causa desta lesão: um acidente, uma 
queimadura, agressão, doença crônica, complicação após um procedimento cirúrgico, entre 
tantas outras. E a ferida passa ser a marca, o sinal, a lembrança da dor, da perda, mesmo após 
a cicatrização. 
Vivencia-se atualmente uma grande revolução na abordagem e terapêutica das feridas, 
principalmente quanto aos tratamentos tópicos. Apesar disso observa-se ainda no Brasil a 
utilização de condutas inadequadas e produtos ineficazes e até mesmo prejudiciais ao 
processo de cicatrização 
 
 
II. Aspectos Históricos do Tratamento de Feridas (Dantas, 2003; Blanes, 2005) 
 
Provavelmente a preocupação com o cuidar de uma ferida ocorreu já com o primeiro homem, 
na história da humanidade, que tenha se machucado. Há evidências de que na pré-história 
eram utilizadas plantas ou seus extratos como cataplasmas e umidificantes de feridas abertas, 
e muitos eram ingeridos para atuação por via sistêmica. Ainda nesta época alguns autores 
descrevem o uso da água, neve, gelo, frutas e lama em feridas com o objetivo de melhorar os 
resultados cicatriciais em menor tempo possível. 
A civilização egípcia, há mais de três mil anos, era repleta de realizações arquitetônicas e 
artísticas, mas também marcada pela opressão e violência; foi brilhante por criações científicas 
e técnicas, mas também por discórdias e homicídios; foi enegrecida pelo medo do demônio, 
mas iluminada pela sua fé. Naturalmente esses fatos influenciaram a medicina egípcia, 
especialmente rica em relatos de produtos tópicos para utilização em feridas. 
2 
 
Por volta de 2700 a.C., os egípcios utilizavam produtos que atualmente denominamos “ 
Farmácia da Sujeira”. Para o tratamento de feridas eram utilizados excrementos de mosca e 
lagartixa, urina humana, fezes de crianças recém-nascidas, pão mofado, e outros produtos que 
aparentemente absurdo, na realidade representavam a busca empírica de substâncias 
antimicrobianas para o tratamento ou prevenção de infecções. 
Por volta de 1550 a.C., os papiros egípcios de Erbs e Smith registravam inúmeras poções e 
drogas utilizadas para os mais diversos tipos de enfermidades e, embora já tivessem descrito 
mais de um terço dos remédios da farmacopéia atual, tinham associados às suas fórmulas, 
magias, orações e sacrifícios. Nesses papiros, há relatos de que ferimentos eram amarrados 
em tiras de linho impregnadas com resina ou atadas com carne fresca. Há também relatos do 
uso do salgueiro como antiinflamatório para feridas infectadas e da cauterização para 
hemostasia. Há relatos de outros povos, como os da Mesopotâmia (2000 a.C.) que faziam uso 
do salgueiro e do zimbro para o tratamento de feridas; os indús (2000 a.C.), tinham uma vasta 
farmacopéia com mais de 500 fórmulas medicamentosas de uso tópico e sistêmico. Os 
chineses (2800 a.C.) foram os primeiros a relatar o uso do mercúrio;os mexicanos e peruanos 
utilizavam o mactellu como antisséptico para feridas. 
Hipócrates (300 a.C.), célebre médico na história da medicina grega foi o primeiro a sugerir o 
tratamento de feridas com calor, uso de pomadas e remoção de material necrosado. Nesta 
mesma época, surgem recomendações de lavagem de feridas com vinho ou vinagre e 
manutenção do local seco. 
O histórico do tratamento de feridas revela uma enorme preocupação dos povos da 
Antiguidade com as complicações infecciosas. Entretanto esses povos não sabiam o que era o 
processo infeccioso, pois a Teoria dos Germes iria surgir apenas no século XIX. 
Conseqüentemente, na ausência de recursos científicos, os homens buscavam a salvação 
através de milagres junto a deuses e santos. Ainda hoje encontramos junto à população 
devotos a santos protetores de doenças. No caso das feridas, são invocados em orações São 
Bartolomeu, São Sebastião e São Cosme e Damião. 
No início da era cristã, com as influências da medicina hipocrática, a filosofia e a medicina se 
separaram e os deuses foram excluídos do tratamento. Hipócrates concentrava-se muito mais 
no doente do que na doença, e relacionava à saúde como um estado de equilíbrio físico e 
mental. Enfatizava os poderes curativos da natureza, a importância da alimentação, exercícios, 
banhos de mar e massagens. Os ensinamentos de Hipócrates deram início aos códigos morais 
e éticos da prática profissional. 
Nesse mesmo período começaram a ser descritos os princípios básicos dos procedimentos 
cirúrgicos. Aulus Cornélius Celsus descreve as características dos processos inflamatórios 
(edema, rubor, calor e dor). Gy de Chauliac (século XIV) diferencia as escolas médicas no 
tratamento de feridas: as que utilizavam os princípios cirúrgicos de fechamento por primeira 
intenção, as que estimulavam a formação do exsudato purulento; as que utilizavam substâncias 
leves sobre as feridas e as que ainda eram dependentes de milagres e encantamentos para 
auxiliar no tratamento. 
Ambóise Pare (1510-1590) consagrou-se como notável cirurgião francês, tendo sido 
responsável por consideráveis mudanças no tratamento de feridas. Paré aboliu a cauterização 
de feridas com óleos quentes, técnica que foi amplamente utilizada durante a guerra entre 
Francis I e Charles V na Europa. Pare substitui a cauterização por curativos realizados com 
solução feita à base de gema de ovo, óleo e solvente. 
No final do século XIX, com o desenvolvimento da Teoria dos Germes por Pasteur, surge o 
conceito de que as feridas deveriam ser mantidas secas e tratadas com substâncias 
antibacterianas para prevenção da contaminação e infecção. 
Somente no final da década de 1950 começaram a surgir os primeiros estudos sobre 
cicatrização de feridas em ambientes úmidos, despertando o interesse da comunidade 
científica. 
3 
 
No Brasil somente na década de 1990 começaram a surgir os primeiros trabalhos com 
curativos úmidos e, no final desta década, entraram no mercado nacional os produtos 
específicos para esta finalidade. 
O processo histórico do tratamento de feridas mostra que a humanidade sempre esteve em 
busca de cura de suas enfermidades, e os diferentes tratamentos tópicos utilizados revelam a 
realidade de cada época, os recursos disponíveis, as crenças ou novas descobertas. 
Hoje vivenciamos uma verdadeira revolução nos princípios de tratamento tópico de feridas. 
Entretanto ainda hoje é freqüente nos depararmos com condutas técnicas inadequadas e 
produtos ineficazes ou mesmo prejudiciais ao processo cicatricial. A história nos mostra as 
raízes de diversas condutas ainda hoje utilizadas e, embora na era da evolução médico-
científica, nos deparamos muitas vezes com condutas medievais. 
Nesse começo de terceiro milênio, onde uma nova e ampla mentalidade perpassa toda nossa 
sociedade propondo novas perspectivas, novas alternativas, com base na crítica aos modelos 
antigos considerados ultrapassados, tudoaspira e conspira pelo novo, por novas vias que 
minimizem a dor e o sofrimento humano e que possam conduzir o tratamento de doenças de 
forma integral e humanitária. As mudanças são de responsabilidade de cada um de nós. 
 
 
III. Aspectos Éticos do Tratamento de Feridas (Dantas Filho, 2003) 
 
Vivemos hoje felizmente, um tempo de liberalismo em todas as instâncias da vida humana. 
Notamos também uma maior abertura com relação à discussão de todas as verdades 
consideradas infalíveis em outros tempos. Os questionamentos morais são, da mesma forma, 
reforçados pelos consideráveis avanços da ciência em nossos dias, o que tem levado a um 
renascimento das discussões éticas, uma vez que a liberdade de ação do ser humano 
necessita de mínimos referenciais e limites para a convivência em sociedade. A moral (do latim 
mores, conduta) discute as bases abstratas, teóricas e de foro íntimo sobre o certo e o errado, 
preocupando-se muito mais com o que o homem e a sociedade onde ele vive realmente são. 
Os conceitos morais manifestam-se nos usos e costumes do indivíduo e da sociedade. Por 
outro lado a ética (do grego ethos, casa) preocupa-se mais com os aspectos práticos da vida 
do indivíduo e da sociedade, tenta criar regras e normas de conduta para a atividade livre do 
ser humano, orientada pelos preceitos morais mais aceitos. Assim a ética, ao assumir caráter 
de norma de conduta, vai andar ao lado com o direito (do grego directum, reto) e as leis, tendo 
ambos força coercitiva com relação ao respeito a essas normas. A ética e o direito preocupam-
se muito mais com o que o indivíduo e a sociedade a que ele pertence devem ser. 
Tentando focalizar a análise ética das questões relacionadas especificamente ao tratamento de 
feridas em nosso país, ressaltamos alguns pontos que necessitam de reflexão. Essa postura 
visa buscar uma ética mais aplicada, uma vez que o tratamento de feridas vem se tornando 
uma área cada vez mais específica e científica, diferenciando-se progressivamente como uma 
especialidade no campo de atenção à saúde. 
Inicialmente o doente que se nos apresenta, numa perspectiva mais contextualista, traz 
consigo os estigmas e preconceitos historicamente associados às lesões de pele, quer no 
súbito impacto daquelas que se manifestam agudamente, quer no desgastante sofrimento 
daquelas de curso crônico, associados à “ exposição de seus interiores” (“já que o mal e o bem 
à pele vem”, como lembra o dito popular). Numa perspectiva mais objetivista, temos à nossa 
frente um ser humano especialmente fragilizado, com odores e secreções, com dores, tanto no 
corpo como na “alma”. A auto-estima destroçada, a dura e prolongada recuperação e a 
perspectiva das complicações e sequelas são fantasmas que, geralmente, acompanham o 
tratamento desse tipo de doente. Já do ponto de vista mais subjetivista, o profissional de saúde 
sofre também o impacto das lesões a que se dispõe a tratar. Quantos mecanismos de defesa 
psicológica, em geral, vão sendo desenvolvidos com a dura convivência diária com o 
4 
 
sofrimento e a dor, quanta “frieza” temos que exercitar para os curativos e outros 
procedimentos, e quantas vezes nos percebemos que estamos nos tornando realmente “frios” 
no contato com as pessoas e os doentes? Não queríamos de modo algum, consciente ou 
inconscientemente estar “na pele” daqueles que nos procuram. Somos tentados a nos afastar 
cada vez mais do doente, das suas dificuldades. Evitamos a todo custo, tocar nas nossas 
próprias “feridas” e nas dos outros. As pressões frente à necessidade de atualização frente às 
rápidas evoluções científicas, as pressões econômicas e comerciais tanto dos custos do 
tratamento quanto dos fabricantes de novos produtos, sem falar das cobranças jurídicas que a 
sociedade nos impõe, tudo parece favorecer o distanciamento entre o profissional e o doente. 
Apesar de todas as influências contrárias devemos resgatar o sentido humanitário, a 
compaixão e a solidariedade no contato com todos os nossos semelhantes, principalmente com 
àqueles mais desprotegidos e doentes. A crescente tendência e necessidade da formação de 
profissionais especializados no tratamento de feridas nas diversas instituições, com funções 
específicas de orientar práticas diferenciadas de tratamento, coibir tratamentos empíricos e 
comprovadamente prejudiciais, além de adequar os custos conforme a situação econômica 
vigente, pode gerar situações de confronto entre os profissionais e os doentes e mesmo entre 
os profissionais, caso essas tendências não se realizem dentro de um razoável respeito entre 
os representantes dessa nova e científica mentalidade e os representantes da mentalidade 
tradicional, com base muito mais na benevolência e na “boa intenção” na assistência. 
Lembramos também que em qualquer parte dos casos o tratamento de feridas não se realiza 
dentro do ambiente hospitalar, ou não termina com a saída do doente do hospital. Os grupos 
de estudo e orientação do tratamento de feridas devem se responsabilizar pelo 
encaminhamento e orientação de todos os doentes, garantindo a continuidade do tratamento 
prestado. A documentação de todo o processo de tratamento deve estar presente no 
prontuário, bem como deve acompanhar o doente, no caso de encaminhamentos. 
Mais uma vez ressaltamos que, mesmo com todas essas e outras perspectivas, muitas vezes 
pensadas de forma fragmentária e reducionista, não devemos, em qualquer que seja a 
situação, perder de vista a fundamentação teleológica e deontológica da bioética no que diz 
respeito à salvaguarda integral da vida. 
 
IV. Aspectos Legais do Tratamento de Feridas 
 
Sabe-se que são muitos os fatores que interferem no processo cicatricial de uma ferida, 
portanto é indiscutível a importância de uma assistência multiprofissional ao seu portador. 
Contudo, deve-se destacar o papel do enfermeiro e da equipe de enfermagem neste contexto. 
Segundo a Lei 7.498 de 1986, em seu artigo 11, o enfermeiro exerce todas as atividades de 
enfermagem cabendo-lhe: “cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que 
exijam conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas, prevenção 
e controle sistemático de danos que possam ser causados à clientela durante a assistência de 
enfermagem”. Reforçando a descrição acima, Zarpão et al. (2005) relatam que “...sabe-se hoje 
que algumas lesões são decorrentes de fatores inerentes à doença e ao estado do cliente de 
alto risco, no entanto parte do problema pode ser evitado através do uso de materiais 
adequados para o alívio da pressão, cuidados da pele e considerações nutricionais”. 
O tratamento de feridas envolve procedimentos de alta complexidade técnica e o enfermeiro só 
poderá tomar decisões imediatas se tiver preparado cientificamente. Esse fato criou a 
necessidade da busca do aperfeiçoamento profissional, através de cursos de especialização e 
atualização. É importante salientar que a Resolução COFEN nº 240/2000 artigo 18, reforça que 
“é obrigação do enfermeiro manter-se atualizado, ampliando seus conhecimentos técnicos, 
científicos e culturais, em benefício da clientela, da coletividade e do desenvolvimento da 
profissão”. 
5 
 
Baseado na Resolução COFEN nº 240/2000, capítulo II, artigo 11, o enfermeiro “...deve 
suspender suas atividades, individual ou coletivamente quando a instituição pública ou privada 
para qual trabalhe não oferecer condições mínimas para o exercício profissional”. 
Ressaltando a autonomia do enfermeiro nesta área, Silva, Figueiredo e Meireles (2007), 
destacam que “com relação à recuperação da saúde ou da reabilitação, especificamente no 
tratamento de feridas, o enfermeiro pode prescrever (utilizar) qualquer tipo de cobertura que se 
enquadra na descrição de produtos para a saúde, segundo a classificação da ANVISA (Lei 
7.498 de 1986 e Decreto 94.406 de 1997). O enfermeiro é o profissional mais capacitado para 
identificar,avaliar, executar e acompanhar o tratamento dos diversos tipos de feridas. 
 
 
V. Aspectos Psicológicos do Portador de Feridas (Cruzeiro, Araújo, 2003; 
Giraldes, 2007) 
 
O homem sempre enfrenta crises, mudanças e instabilidades, sejam elas quais forem. Há uma 
tendência natural de nos sentirmos ameaçados e achamos que nossos alicerces estão ruindo. 
Tendemos a achar tudo ruim e muitas vezes nos sentimos impotentes e incapazes de 
transformar essas situações em algo bom e produtivo. Sempre tornamos tais situações em 
sofrimentos e nos esquecemos de que, na verdade, elas representam crescimento que nos 
impulsiona à vida. 
Quando ficamos presos a este tipo de relação distorcida, ao invés de nos integrarmos e 
traçarmos objetivos, nos dividimos entre razão e sentimento e isto contribui para 
desenvolvermos uma baixa auto-estima. 
A auto-imagem interfere diretamente na auto-estima. Ela é a imagem que cada um cria de si 
mesmo e que julga ser ideal para si, direciona e norteia nossas ações, nossos gestos em todos 
os momentos. Se a nossa auto-imagem for positiva, a nossa auto-estima também será. Porém 
nas situações diversas que vivemos no nosso dia-a-dia, precisamos ter maturidade e equilíbrio 
emocional para que não ocorra a baixa auto-estima. 
Outro fator que interfere na nossa auto-estima são nossas crenças, porque nossa tendência é 
achar que só as nossas são corretas. Falta imparcialidade aos nossos julgamentos. Com esses 
desequilíbrios, deixamos de buscar a nossa transformação interior, de melhorar a nossa 
percepção, a nossa auto-imagem e, conseqüentemente, a nossa auto-estima, criando ou 
desenvolvendo então as doenças. 
Segundo Requenha (1990) “os textos mais antigos da acupuntura chinesa afirmam que, se o 
psiquismo estiver em paz, equilibrado, o ser estará menos sujeito, até mesmo isento, de 
doenças, mesmo de origem externa, como por exemplo a influência das energias cósmicas ou 
climáticas, e ele não contrairá nenhuma doença, mesmo infecciosa, porque o psiquismo 
desempenha um papel importante na vulnerabilidade às doenças”. 
Para Dethlefsen (1997), “a doença significa a perda relativa da harmonia, ou o questionamento 
de uma ordem até então equilibrada. Essa perda de equilíbrio interior se manifesta no corpo 
como um sintoma. O sintoma nos informa que está faltando alguma coisa. A cura acontece 
exclusivamente pela transmutação da doença e nunca pela vitória sobre um sintoma, pois a 
cura pressupõe a compreensão de que o ser humano se tornou mais sadio, um todo se tornou 
mais perfeito. Como seres humanos estamos predispostos a conflitos, e por isso mesmo, 
também ficamos doentes”. 
Se observarmos as queixas de um doente, sempre o ouviremos dizer que, além das dores que 
sente, está triste, desanimado, irritado. A linguagem do nosso corpo é psicossomática, e muitas 
vezes não atentamos a ela; nossa tendência é dar somente explicações clínicas para os 
nossos sintomas e doenças. 
As relações que mantemos com as outras pessoas são de fundamental importância para o bem 
estar físico e mental e para a saúde do ser humano; assim, a saúde ou a doença seria o 
6 
 
resultado da conjugação de fatores originados do corpo, da mente e da interação de ambos 
com o meio ambiente e com o meio social. 
Percebemos claramente no portador de feridas a ligação entre corpo, meio e meio social. 
Dependendo do nível socioeconômico, o “viver com a ferida” é muito comum: vê-se isto nas 
ruas nos mendigos que se aproveitam da sua condição de “doentes” para obtenção de esmolas 
com maior facilidade, vivendo sem a menor condição de higiene e de tratamento adequado. 
Também no portador de feridas incuráveis que faz tratamento médico, tendo muitas vezes que 
se afastar do seu trabalho e até do convívio familiar. 
Devemos observar sempre como o portador de feridas está reagindo, qual a sua real intenção 
em curar-se e se está realmente colaborando com o tratamento. 
Muitas vezes percebemos que ele não colabora com o tratamento ou até não quer tratar-se, 
não faz curativos adequados, não toma a medicação, não possui higiene pessoal, nem tem 
condições de alimentar-se adequadamente. Nesses casos, a condição socioeconômica 
favorece o descuido da ferida, pois o portador da mesma não possui nível cultural nem 
econômico para curar-se e acaba tratando-se de maneira errada, seguindo muitas vezes as 
crendices populares no tratamento de feridas. Dessa maneira, o portador de feridas acaba 
utilizando-se da doença como uma forma para chamar a atenção das pessoas, atrair amor e 
simpatia, buscando com este comportamento apoio pessoal. 
O início de uma ferida, por via de regra, é percebido na nossa pele. Ali é o seu começo, mas é 
também uma informação de que algo não está bem em algum órgão do nosso corpo, porque a 
pele o reveste inteiramente. 
A pele é um órgão comunicador de nossas emoções; portanto reflete tudo o que se passa com 
nossos órgãos internos. 
A psoríase é diagnosticada por muitos clínicos como a doença que afeta indivíduos que 
buscam isolamento e são duros consigo mesmo. 
Como vemos, muitos podem ser os motivos que fazem surgir na pele, feridas. Buscar a sua 
causa no psiquismo é o melhor processo para curá-las, sem esquecer do tratamento tópico 
adequado e sistêmico, quando necessário. 
O profissional de saúde, responsável pelo tratamento de feridas, deve aprender a valorizar os 
aspectos psicológicos do portador de feridas, salientando mais uma vez a importância da 
abordagem interdisciplinar, e contando, muitas vezes, com o auxílio de um psicólogo. 
Na atualidade, o papel do enfermeiro como parte integrante da equipe multidisciplinar, no 
tratamento de portadores de lesões, consiste em desenvolver a ação terapêutica propriamente 
dita e dar suporte a eles e a seus familiares, no enfrentamento da doença, pois o tratamento 
pode ser prolongado e passível de efeitos adversos. Todo este conjunto provoca 
transformações nas relações sociais e pessoais entre o paciente e a família, o que requer 
atenção e suporte por parte do enfermeiro e/ou outro profissional envolvido, prestando 
orientação e acompanhamento, sempre levando em consideração as características pessoais e 
sociais. 
Silva et al.(2002) destacam a importância da família na recuperação do paciente portador de 
feridas quando ressaltam que “a doença de certa forma também é da família, quando os 
familiares estão presentes, dando apoio constante, a dor, do doente é compartilhada, diluída”. 
Em meio a tanto sofrimento, muitas vezes, o paciente não se rende perante a desfiguração do 
seu corpo, ele luta com determinação, apoiado na fé, a profunda ligação que paulatinamente foi 
estabelecendo com Deus. Pelzer e Sandri (2002) refletem sobre esta espiritualidade, relatando 
que nos últimos anos os enfoques na dimensão espiritual da saúde têm revelado que a sua 
prática, ligada a religiosidade, causa benefícios físicos, podendo prolongar a sobrevivência em 
condições crônicas. 
 
 
7 
 
VI. Anatomia e Histologia da Pele (Dantas, 2003, Malagutti e Kakihara, 2011, 
Guimarães, 2011) 
 
A pele é o maior órgão do corpo, representando 15% de seu peso. Trata-se do manto de 
revestimento do organismo, que isola os componentes orgânicos do ambiente externo. Sua 
complexa estrutura de tecidos de várias naturezas está adaptada a exercer diferentes funções, 
tais como, proteção de estruturas internas (impede a agressão de órgãos e tecidos por agentes 
físicos e biológicos), manutenção da homeostase (glândulas sudoríparas regulam a 
temperatura e o equilíbrio hidroeletrolítico) e percepção (na pele estão instalados os receptores 
neurais para a percepção do meio externo, tato, pressão, calor, frio, dor), entre outras. 
A pele é também chamada de tegumento e constitui-se em três camadas distintas: epiderme, 
ou camada externa; derme ou córion (intermediária) e hipoderme ou tecido celular subcutâneo 
ou adiposo (camadainterna). 
 
 
 
 
Epiderme 
A epiderme é uma camada superficial e bem fina. Sua espessura varia de 0,04mm nas 
pálpebras a 1,6mm nas regiões palmares e plantares. Tem como principal função a proteção. É 
formada por um epitélio queratinizado, escamoso e estratificado, sem vascularização mas cuja 
nutrição se efetua por difusão através dos capilares situados na derme. Compõe-se de duas 
subcamadas, denominadas camada córnea, mais externa, e extrato germinativo ou camada 
basal, mais interna. Esta última é constituída por cinco extratos ou planos visíveis pela 
microscopia eletrônica ou eletroforese. A constituição essencial da epiderme é determinada 
pelas células denominadas queratinócitos, as quais perfazem 80% do total de células 
existentes. A camada morta superficial é formada por queratina que exerce uma barreira para 
germes patogênicos, além de ser quase impermeável à água. Outras células presentes na 
epiderme são os melanócitos. Têm coloração clara e acham-se localizados na camada basal 
entre os queratinócitos basais da pele e a matriz do pelo. Possuem organelas citoplasmáticas 
denominadas melanossomas responsáveis pela síntese de melanina, a qual exerce papel 
importante na coloração da pele e na sua proteção contra os raios ultravioletas excessivos, 
através de pigmentos escuros de melanina. A produção de melanina pelos melanossomas é 
8 
 
controlada por um hormônio secretado pelo hipotálamo chamado hormônio estimulador do 
melanócito. Outras estruturas localizadas na epiderme são as células de Langerhans e 
possuem atuação na captura primária dos antígenos exógenos, tendo função imunológica. 
Existem ainda na epiderme as células de Merckel, localizadas na camada basal, só visíveis ao 
microscópio eletrônico. Possuem grânulos citoplasmáticos que contém substâncias 
neurotransmissoras, com suposto envolvimento na percepção tátil. 
 
Derme 
Camada um pouco mais profunda e espessa, de 1 a 4mm variando de espessura conforme o 
local do organismo. É constituída por tecido conjuntivo, subdividindo-se em duas camadas: a 
papilar e a reticular. A diferença entre ambas reside no fato de a camada reticular ser composta 
por fibras colágenas e fibroblastos, enquanto a papilar situa-se entre a linha divisória da derme 
e epiderme formando evaginações na forma de papilas (cristas interpapilares). Essa junção 
ancora a epiderme na derme e permite a livre troca de nutrientes essenciais entre as duas 
camadas. Possuem vascularização sanguínea e linfática, nervos e receptores sensitivos, 
terminações nervosas responsáveis pela percepção de diferentes tipos de sensibilidade: tátil, 
térmica e dolorosa. Nesta camada acham-se os folículos pilosos, os músculos eretores dos 
pelos e as glândulas sebáceas. Esse entrelaço entre a derme e a epiderme produz pequenas 
ondulações na superfície da pele. Nas polpas digitais essas ondulações são denominadas 
impressões digitais. A camada reticular possui três porções: derme papilar, derme perianexial e 
derme reticular. As duas primeiras camadas são idênticas, formando uma unidade denominada 
derme adventicial. Essa camada é composta por um gel, rico em mucopolissacarídeos, 
denominada substância fundamental e por um material fibrilar constituído por três tipos de 
fibras: colágenas, elásticas e reticulares. Esse gel confere resistência à pele nos traumas 
mecânicos tais como compressão e estiramento. As fibras colágenas totalizam 95% dos 
tecidos da derme. 
 
Hipoderme 
Denominada também panículo adiposo ou tecido areolar ou tecido subcutâneo. É constituída 
por tecido adiposo. Efetua a união dos tecidos vizinhos com a camada reticular da derme. Na 
junção derme-hipoderme encontra-se localizadas as glândulas sudoríparas. A característica 
deste tecido é ser frouxo o que lhe confere maleabilidade e elasticidade, com exceção das 
regiões palmares, plantares e dedos, permitindo amplitude de movimentos. A variação de sua 
espessura e sua distribuição no organismo está relacionada ao sexo e à idade. 
 
Elementos e características normais da pele 
 
 Coloração: é determinada pelo conjunto de vários fatores tais como, genético-raciais, 
individuais, regionais, sexuais e conteúdo dos vasos sanguíneos. 
 Continuidade ou integridade: a pele reage aos agentes macroscópicos que tentam 
lesá-la através do aumento da espessura da camada córnea e aos agentes 
microscópicos através da reação inflamatória. 
 Umidade, textura e espessura: a pele mantém-se úmida pela constante evaporação 
da água sendo capaz de eliminar até 4 litros de suor em uma hora. A perspiração 
insensível não se faz homogeneamente, a água perdida nas mãos e pés é três vezes 
maior que em outras partes do corpo. A umidade se acha diminuída nos idosos, nas 
pessoas com distúrbios renais, em algumas intoxicações, na avitaminose A e na 
desidratação. Em relação à textura da pele se tornar fina, áspera ou enrugada. O estilo 
de vida, a atividade exercida, a idade, os distúrbios nutricionais e hormonais, a perda 
rápida e excessiva de peso bem como a presença e eliminação de edemas, influenciam 
a textura e espessura da pele. 
9 
 
 Elasticidade e mobilidade: a elasticidade é a propriedade que possui o tecido de 
estender-se ao ser tracionado e a mobilidade é entendida como a capacidade desse 
tecido de deslocar-se ou movimentar-se sobre os planos profundos que se situam nas 
áreas adjacentes. Esses dois elementos não são essenciais no processo de 
cicatrização das feridas, mas têm realce quando se considera o processo fisiológico de 
envelhecimento, pois nos idosos ocorre diminuição na produção de colágeno e elastina. 
 Turgor: é um indicador de hidratação da pele, passando uma sensação de “suculência” 
ao se efetuar uma prega na pele com os dedos, a qual se desfaz rapidamente quando 
estes são soltos. Um turgor alterado se traduz em pele murcha, podendo também 
ocorrer nos casos de desidratação, caracterizando-se por lentidão no desaparecimento 
das pregas provocadas pelos dedos. 
 Sensibilidade: é constituída por quatro modalidades: dor, calor, frio e tato. Essas 
modalidades são mantidas por numerosas terminações nervosas, consideradas 
estruturas diferenciadas, subdivididas em terminações finas, amielínicas e ramificadas e 
terminações organizadas, um pouco mais complexas, puntiformes, constituídas por: 
 Corpúsculo de Meissner – localizados nas regiões plantares e palmares. São 
específicos para sensibilidade tátil; 
 Discos ou meniscos de Merkel-Ranvier – são plexos nervosos terminais, 
localizados nas pontas dos dedos, sendo responsáveis pelo tato de resposta 
lenta; 
 Corpúsculos de Ruffini – são principalmente detectores de sensibilidade 
térmica; 
 Corpúsculos de Vater Pacini – localizam-se especialmente nas regiões 
palmares e plantares, sendo específicos para detecção de sensibilidade à 
pressão; 
 Corpúsculos de Krause – são detectores da semsibilidade ao frio. Situam-se 
na derme papilar ou subpapilar. Estão localizados em maior número nos lábios, 
no clitóris e glande; 
 Cestos de folículo piloso – são responsáveis pelo tato às modificações de 
posição do pelo e consideradas estruturas importantes na regeneração da pele, 
principalmente a queimada. 
 
Funções da Pele 
 
A pele é um revestimento impermeável e quase indestrutível que possui propriedades 
protetoras e adaptativas: 
 
 Proteção: a pele protege o organismo contra lesões externas, entre elas destacam-
se as mecânicas (capacidade moldável e elástica), físicas (impedindo a absorção 
das radiações ultravioletas), físico-químicas (mantendo o ph ácido da camada 
córnea), química (pelo manto lipídico que possui atividade antimicrobiana), 
imunológicas (células de Langerhans presentes na epiderme, e dos macrófagos, 
linfócitos e mastócitos) e mantém o equilíbrio hídrico e eletrolítico (através de sua 
impermeabilidade relativa à água e aos eletrólitos); Previne a penetração: é uma barreira que impede a penetração por 
microorganismos e a perda de água e eletrólitos originados do interior do corpo; 
 Percepção: é uma vasta superfície sensitiva que contém órgãos neurosensoriais 
para tato, dor, temperatura e pressão; 
 Regulação da temperatura: permite a dissipação de calor pelas glândulas 
sudoríparas e o armazenamento de calor pelo tecido subcutâneo; 
10 
 
 Identificação: as pessoas identificam umas às outras por combinações únicas de 
características faciais, cabelo, cor da pele, e até mesmo impressões digitais. A auto-
imagem é estimulada ou desaprovada segundo os parâmetros de beleza da 
sociedade, comparados às características percebidas em cada pessoa; 
 Comunicação: as emoções são expressas na linguagem de sinais da face e 
postura corporal. Os mecanismos vasculares como enrubescer ou empalidecer 
também são sinais de estados emocionais; 
 Recuperação de feridas: é responsável pela substituição das células em feridas 
superficiais; 
 Absorção e excreção: a pele excreta com restrições alguns detritos metabólicos, 
produtos colaterais da decomposição celular, como minerais, açúcares, 
aminoácidos, colesterol, ácido úrico e uréia; 
 Produção de vitamina D: a pele é a superfície na qual a luz ultravioleta converte o 
colesterol em vitamina D. 
 
 
Características dos Tecidos Vivos 
 
Os tecidos vivos apresentam as seguintes características, segundo o tipo de tecido: 
 
 Pele – é formada por duas camadas de coloração conforme a etnia. É uma 
importante barreira de proteção do corpo e, com sua destruição total perde a 
capacidade de regeneração; 
 
 Tecido Adiposo: é amarelo, semelhante à “gordura de galinha” e é pouco 
vascularizado, podendo facilmente sofrer dano pela pressão e infecção; 
 
 
 Fáscia: é branca, brilhante e fina, porém pode ser mais espessa em algumas partes 
do corpo. É considerada um plano cirúrgico e é a camada do “pare e pense” por ser 
facilmente sujeita, não somente ao ressecamento e conseqüentemente necrose, 
mas principalmente à infecção. Deve ser mantida em meio úmido para permanecer 
viável; 
 
 Músculo: é vermelho vivo, muito vascularizado, podendo sangrar durante a 
manipulação e contrair-se ao ser pinçado; 
 
 
 Tecido ósseo: é branco brilhante, de consistência dura, recoberto pelo periósteo e 
resseca-se facilmente quando exposto; 
 
 Articulação: contém fluido lubrificante no seu interior, nela não existe fluxo 
sanguíneo e também apresenta facilidade de se infectar; 
 
 
 Tendão: é um cordão de tecido elástico, forte, branco, brilhante, pouco 
vascularizado, fixado do músculo para o osso e move-se com a manipulação da 
articulação adjacente. Esse movimento é uma importante característica na 
identificação do tendão, pois proporciona segurança ao profissional durante a 
11 
 
remoção de tecidos que o envolvem, principalmente se o método de escolha 
envolver instrumentos cortantes. 
 
Característica dos Tecidos Mortos 
 
O tecido morto de acordo com o tipo de tecido acometido apresenta-se da seguinte forma: 
 
 No epitélio – forma-se uma escara de consistência dura, de coloração cinza, 
marrom ou preta; 
 
 No tecido subcutâneo ou fáscia – necrose apresenta-se de coloração cinza 
amarronzado para preta; 
 
 
 No osso: estando ressecado, apresenta-se amarelo. Se não perder o periósteo, 
crescerá tecido de granulação. No entanto, se houver necrose do periósteo o córtex 
fica exposto e predisposto à infecção; 
 
 No tendão – fica semelhante à fáscia em coloração, e a recomendação é que não 
deve ser removido. 
 
As características mais importantes desses tecidos, que facilitam a retirada segura dos 
mesmos com instrumentos cortantes e sem uso de anestésicos são: 
 
 Ser avascular: assim não causará sangramento ao ser cortado e, se houver 
sangramento é porque tecidos vivos foram atingidos; 
 
 Ser insensível: por ser desprovidos de terminações nervosas, não causará 
dor; 
 
 
 Ter odor fétido: freqüentemente, pelo resultado da decomposição dos 
tecidos e do crescimento bacteriano. 
 
Vocabulário Científico para Registro das Lesões de Pele (Classificação de Shulmann 
modificada por Azulay et al., 2004) 
 
Para registro das características específicas de feridas traumáticas ou não, acompanhadas 
de lesões dermatológicas e comprometimento da pele periferimento é necessária a revisão 
de alguns termos científicos. 
 
Para descrição da distribuição das lesões: 
 Localizada: lesão em uma ou em algumas regiões; 
 Disseminada: lesões individuais em várias regiões; 
 Generalizada: lesões extensas, intercaladas por pele sadia; 
 Universal: comprometimento de todo o tegumento, incluindo o couro cabeludo. 
 
Para descrição das alterações de cor da pele sem relevo (manchas ou máculas): 
 Manchas Pigmentares 
1. Relacionadas à melanina 
 Hipercrômica (aumento) 
12 
 
 Hipocrômica (diminuição) 
 Acrômica (ausência) 
2. Relacionadas a pigmentos anormais 
 Bilirrubina (icterícia) 
 Alimentar (caroteno) 
3. Relacionadas a pigmentos exógenos 
 Medicamentos 
 Tatuagens 
 
 Manchas Vasculares-Sanguíneas: estas manchas possuem coloração 
avermelhada, determinada pelo sangue que circula nos vasos da derme. Ocorrem 
devido à dilatação ou constricção desses vasos ou ainda pelo extravasamento das 
hemácias. 
1. Vasculares Transitórias: o surgimento e tempo de permanência variam conforme 
seu elemento causal e são classificadas da seguinte forma: 
 Eritema: cor avermelhada, causada pela dilatação das arteríolas e 
consequentemente aumento do afluxo sanguíneo. 
 Cianose: cor azulada observada nas extremidades, leito ungueal, orelhas 
e conjuntiva quando a concentração de hemoglobina reduzida no sangue 
está aumentada e com valores acima de 5g%. 
 Enantema: eritema localizado na mucosa. 
 Cianema: cianose localizada na mucosa. 
 Exantema: surgimento súbito de lesões eritematosas disseminadas. 
 
2. Decorrentes do Pigmento Hemático: surgem em decorrência de hemorragias, 
mais frequentemente dérmicas do que hipodérmicas, causando modificação da 
coloração da pele. Dependendo do tempo da hemorragia varia a nuance, que vai 
do vermelho ao amarelo e castanho. As hemácias depositadas no interstício 
tecidual vão, com o tempo, sendo fagocitadas pelos macrófagos. A lesão 
elementar neste caso é chamada de púrpura, podendo ser classificada em três 
tipos de lesões purpúricas: 
 Petéquia: quando a lesão é puntiforme. 
 Víbice: quando a lesão é linear. 
 Equimose: quando a lesão apresenta-se com dimensões maiores que as 
anteriores. 
 Hematoma: termo usado nos casos de lesões com grandes coleções, e 
em geral, de origem traumática, e considerado foco de infecção. 
 
Para descrição da formação e tamanho 
 
 Conteúdo sólido: são resultantes de processo inflamatório ou neoplásico, podendo 
afetar de forma isolada ou conjunta à epiderme, a derme e a hipoderme. 
 
1. Pápula: lesão superficial, dura, medindo geralmente menos de 5 mm, não deixa 
cicatriz após involução. 
2. Placa: lesão elevada em platô. Pode ser o resultado da confluência de várias 
pápulas. 
3. Tubérculo: lesão elevada, dura, medindo geralmente mais de 5 mm, deixando 
cicatriz após involução. 
13 
 
4. Nódulo: lesão dura, de dimensões variáveis, surge em razão do aumento do 
número de células ao nível da derme profunda ou hipoderme, pode ser visível à 
simples inspeção ou reconhecida exclusivamente pela palpação. 
5. Ceratose: espessamento da epiderme decorrente da proliferação da camada 
córnea. Pode apresentar dimensões variáveis, e sua superfície normalmente é 
áspera e esbranquiçada. 
6. Vegetação: lesão que cresce para o exterior em decorrência da hipertrofia de 
papilas dérmicas. Existem dois tipos: verrucosa (lesãoseca, a epiderme se 
apresenta íntegra e com aumento da camada córnea) ou condilomatosa (lesão 
úmida, a epiderme se apresenta normal ou diminuída). 
7. Liquenificação: lesão circunscrita, produzida pelo ato de coçar frequentemente, 
acarretando espessamento da pele, que passa a evidenciar com maior nitidez 
sulcos e saliências. 
8. Infiltração: espessamento difuso da pele causado pela presença de um elevado 
número de células na derme e até mesmo na hipoderme. 
9. Esclerose: endurecimento da pele decorrente da proliferação de tecido 
colágeno. 
 
 Conteúdo líquido: formadas pelo acúmulo circunscrito de líquido. 
 
1. Vesícula: lesão de pequenas dimensões (mm), com conteúdo citrino, fazendo 
pequena saliência cônica ao nível da pele. 
2. Bolha: lesão de dimensões maiores (cm), com conteúdo seroso, fazendo 
saliência em abóbada. 
3. Pústula: lesão de dimensões variáveis com conteúdo purulento. 
 
 Por solução de continuidade: originam-se de uma alteração que provoca 
descontinuidade tegumentar. 
1. Escoriação: rotura da continuidade por mecanismo traumático. 
2. Erosão: solução de continuidade do tegumento, que compromete somente a 
epiderme, causada por mecanismo patológico superficial. 
3. Exulceração: caracteriza-se por uma erosão mais profunda, que atinge a derme 
papilar. 
4. Ulceração: lesão com maior profundidade podendo atingir toda a derme, a 
hipoderme, músculo e osso. 
5. Fissura: é uma solução de continuidade linear e estreita. 
6. Fístula: é uma solução de continuidade de trajeto linear, geralmente sinuoso, 
através do qual ocorre eliminação de material necrótico e outros elementos. 
Pode atingir além da hipoderme. 
 
 Caducas: são lesões que tendem a eliminação espontânea. 
 
1. Escama: lamínulas epidérmicas de dimensões variadas, desprendendo 
continuamente e com facilidade. 
2. Crosta: origina-se do ressecamento do exsudato, considerada melisérica nos 
casos de exsudato seroso ou purulento ou hemática nos casos de exsudato 
hemático. 
 
Para descrição dos tipos de exsudato 
 
 Seroso 
14 
 
 Hemático 
 Purulento 
 
Para descrição da simetria 
 
 Simétricas: iguais dos lados direito e esquerdo do corpo. 
 Assimétricas: surgem mais de um lado do que do outro, ou em locais diferentes 
em cada lado. 
 
Para descrição do formato 
 
 Anular: em forma de anel. 
 Circinada: em forma de círculo. 
 Numular: arredondada em formato de moeda. 
 Serpiginosa: em forma de serpente. 
 Em íris ou em alvo: centro eritematovioláceo, circundado por um halo mais 
claro e borda externa eritematosa. 
 Puntiforme: em pontos. 
 Lenticular: lembra lentilhas. 
 Foliácea: descamação em folhas. 
 Arciforme: lembra um arco. 
 Umbilicada: deprimida no centro. 
 
Para descrição das bordas 
 
 Nitidez: bem ou mal demarcadas. 
 Regulares ou irregulares 
 
 
VII. Conceito de Feridas 
 
Ferida é uma ruptura na continuidade de qualquer estrutura corporal, interna ou externa, 
causada por diversos fatores. A cicatrização da ferida consiste na restauração de sua 
continuidade. 
 
Mecanismos de Lesão Celular 
 
 Hipoxia: interfere na respiração oxidativa da célula, sendo uma das principais 
causas de lesão e morte celular. 
 Agentes físicos: compreendem traumatismos mecânicos, condições extremas de 
temperatura (queimaduras e frio intenso), choque elétrico, irradiação, entre outros). 
 Agentes químicos e drogas: há relatos de inúmeros agentes químicos que podem 
produzir lesão celular, como por exemplo, oxigênio em excesso, cianeto, monóxido 
de carbono, etc. O álcool, assim como as drogas narcóticas e terapêuticas, também 
está incluído nesta categoria. 
 Agentes infecciosos: a ação diferenciada de uma série de microorganismos 
também pode culminar em lesão e morte celular. Ex: Erisipela. 
 Reações imunológicas: embora o sistema imunológico sirva como defesa para o 
organismo humano contra a ação de agentes agressores, as reações imunes 
também podem resultar em lesão celular, como a reação anafilática. 
15 
 
 Distúrbios genéticos: defeitos genéticos podem resultar em malformações 
congênitas, anormalidades enzimáticas e outros distúrbios. Ex: Anemia falciforme. 
 Desequilíbrios nutricionais: diversos desequilíbrios nutricionais podem resultar em 
lesão e morte celular, como as deficiências calórico-proteicas e os excessos 
lipídicos, que causam predisposição à aterosclerose e à obesidade, entre outras. 
 
 
VIII. Classificação das Feridas 
 
As feridas possuem várias classificações que podem variar segundo o autor ou pesquisador e 
segundo algumas características específicas. Desta forma, abaixo destacamos um dos tipos 
de classificação mais utilizados: 
 
De acordo com a presença ou ausência de microorganismos 
 Limpa: quanto não contém microorganismos patogênicos. São àquelas 
realizadas por meios estéreis. 
 Contaminada: quando contém microorganismos patogênicos. Incluem feridas 
acidentais e cirúrgicas onde a técnica asséptica não foi respeitada devidamente. 
 Infectada: quando contém microrganismos patogênicos e os mesmos são 
virulentos e estão presentes em grande quantidade. Geralmente os 
microorganismos já estavam presentes antes da lesão. 
 
De acordo com sua duração 
 Feridas crônicas: feridas de longa duração ou de recorrência freqüente. Ex: 
úlceras de pressão. 
 Feridas Agudas: geralmente são feridas traumáticas. Em geral respondem 
rapidamente ao tratamento e cicatrizam sem complicações. 
 
De acordo com a presença ou ausência de uma solução de continuidade no 
revestimento superficial 
 Fechada: não existe ruptura na pele ou mucosas. 
 Aberta: envolve a destruição da pele ou mucosa e a destruição dos tecidos 
subjacentes. 
 
De acordo com sua causa 
 Traumática ou acidental: ocorre em condições sépticas. Possui grande 
condição de se tornar infectada. 
 Intencional: é produzida com uma finalidade específica e geralmente em 
condições assépticas. 
 
De acordo com o mecanismo da lesão (maneira que ocorrem) 
 Arranhadura: ocorre como resultado de fricção ou atrito. É uma ferida onde as 
camadas externas da pele ou mucosas são lesadas. 
 Contusa: ocorre como resultado do golpe de um instrumento sem corte, como 
martelo, que não rompe a pele. São caracterizadas por traumatismos das partes 
moles, hemorragia e edema. 
 Cortante ou incisa: ocorre como resultado de lesão por instrumento afiado. As 
bordas da ferida são uniformes. Ex: Ferida provocada por um bisturi durante um 
ato cirúrgico. 
16 
 
 Lacerada: os tecidos são rasgados. Suas bordas são recortadas e irregulares. 
Ex: Corte por uma serra. 
 Penetrante: ocorre como resultado da penetração profunda de um instrumento 
nos tecidos do corpo. Ex: ferida provocada por uma bala que penetra no tórax e 
se aloja no pulmão. 
 Perfurante ou puntiforme: causada por um instrumento pontiagudo como 
prego ou arame. Também é o nome utilizado para feridas causadas por 
mordidas de animais ou picadas de insetos. 
 
De acordo com o comprometimento tecidual (queimaduras, úlceras venosas e de 
pressão possuem suas próprias classificações) 
 Estágio I: caracteriza-se pelo comprometimento da epiderme apenas, com 
formação de eritema em pele íntegra e sem perda tecidual. 
 Estágio II: caracteriza-se por abrasão ou úlcera, ocorre pela perda tecidual e 
comprometimento da epiderme, derme ou ambas. 
 Estágio III: caracteriza-se pela presença de úlcera profunda, com 
comprometimento total da pele e necrose de tecido subcutâneo, entretanto a 
lesão não se estende até a fáscia muscular. 
 Estágio IV: caracteriza-se por extensa lesão tecidual chegando a ocorrer lesão 
óssea muscular ou necrose tissular. 
 
 
IX. Processo de Cicatrização 
 
Cicatrização é a transformação do tecido de granulação em tecido cicatricial,sendo a cicatriz a 
etapa final do processo curativo da ferida. 
O processo de cicatrização pode ser dividido em várias e diferentes etapas (segundo autor 
pesquisado). Didática e resumidamente vamos dividir o processo cicatricial em quatro fases: 
fase de hemostasia, fase de estase, fase de fibroplasia e fase de contração. 
 
9.1 Fase de Hemostasia 
 
Esta fase tem como objetivo interromper o sangramento, sendo composta sequencialmente, de 
vasoconstrição reflexa dos vasos seccionados, formação do tampão hemostático provisório 
(formado pelas plaquetas) e substituição desse tampão pelo coágulo formado pela rede de 
fibrina e pelas células sanguíneas nele encarceradas. A formação deste coágulo ocorre 
mediante ativação da cascata dos fatores de coagulação por “deflagradores”, antes escondidos 
pela barreira endotelial íntegra. Pode-se dizer que a hemostasia antecede a inflamação, pois a 
ruptura dos vasos no local da lesão, expõe o colágeno subendotelial às plaquetas, resultando à 
adesão, ativação e agregação plaquetária, com liberação concomitante de substâncias pró-
inflamatórias. As plaquetas formam tampões hemostáticos, liberam fatores de crescimento e 
fibronectina, substâncias que atraem células importantes no processo. O coágulo formado 
nesta região funciona como uma ponte para estas células invasoras, como os neutrófilos, 
monócitos, fibroblastos e células endoteliais, dando início à fase inflamatória. Clinicamente vê-
se a interrupção do sangramento com formação de crostas hemáticas aderidas ao tecido, o que 
começa a ocorrer poucos minutos após a produção da ferida. É possível identificar o tipo de 
sangramento presente pela simples inspeção da ferida, sendo ele arterial quando se faz de 
modo pulsátil, venoso quando “vaza” lentamente de vasos visíveis (veias) e capilar quando 
“mina” da ferida, sem identificação dos vasos seccionados a olho nu. A interrupção do 
sangramento pode ser auxiliada muitas vezes pela simples compressão da ferida por alguns 
17 
 
minutos ou pela realização de um curativo compressivo no local. Vasos de maior calibre podem 
ser ligados ou eletrocoagulados para hemostasia adequada. 
 
9.2 Fase de estase, fase inflamatória ou exsudativa 
 
Esta fase prepara a ferida para o processo cicatricial, removendo os restos celulares e tecidos 
desvitalizados. 
É caracterizada pelos sinais típicos do processo inflamatório localizado como dor, rubor, calor, 
tumor (edema) e, freqüentemente perda da função local. Nesta fase ocorre o processo de 
coagulação com a formação do “tampão” e ativação da cascata coagulante. Como resultado de 
uma lesão nas células, os capilares dilatam-se na área afetada. O volume sanguíneo aumenta, 
mas a velocidade do fluxo diminui. O sangue traz leucócitos e plasma que formam um exsudato 
na área lesada. Nesta ocasião as células lesadas desintegram-se e verifica-se algum edema 
devido ao tamponamento dos linfáticos pela fibrina. Durante esta fase a ferida torna-se 
normalmente coberta por uma leve crosta, ou rede de fibrina, que depois é absorvida. Dura em 
média 72 horas. A ferida pode apresentar-se com edema, vermelhidão e dor. 
 
9.3 Fase de fibroplasia, proliferativa ou regenerativa 
 
Nesta fase em que a ferida é considerada “limpa” (pelos leucócitos), o reparo do dano tecidual 
continua. 
Ocorre formação de capilares novos e brotos endoteliais linfáticos na área afetada. A 
fibroplasia resulta na formação de tecido de granulação, a seguir ocorre a epitelização. Nesta 
fase o colágeno é o principal componente do tecido conjuntivo reposto, por isso a vitamina C 
auxilia muito nesse processo metabólico da cicatrização. A ferida apresenta-se cor de rosa, 
devido aos novos capilares no tecido de granulação, e a área é frágil e sensível. Pode durar de 
1 a 14 dias. 
 
9.4 Fase de contração, reparativa ou de maturação 
 
Fase de remodelação. 
Ocorre cicatrização pelos fibroblastos após o término da fibroplasia. Os capilares e brotos 
endoteliais linfáticos no tecido novo desaparecem, há maturação das fibras colágenas. Nessa 
fase ocorre uma remodelação do tecido cicatricial formado na fase anterior. O alinhamento das 
fibras é reorganizado a fim de aumentar a resistência do tecido e diminuir a espessura da 
cicatriz, reduzindo a deformidade. Esta fase tem início no terceiro dia e pode durar até seis 
meses. 
 
 
X. Tipos de Cicatrização (Menegin, Valtimo, 2003, Guimarães, 2011) 
 
10.1 Cicatrização por primeira intenção 
 
É a situação ideal para o fechamento das lesões e está associada a feridas limpas, ocorrendo 
quando há perda mínima de tecido, quando é possível fazer a junção das bordas da lesão por 
meio de suturas ou qualquer outro tipo de aproximação e com reduzido potencial para infecção. 
O processo cicatricial ocorre dentro do tempo fisiológico esperado, e como conseqüência deixa 
uma cicatriz mínima. 
 
10.2 Cicatrização por segunda intenção 
 
18 
 
Está relacionada a ferimentos infectados e a lesões com perda acentuada de tecido, onde não 
é possível realizar a junção das bordas, acarretando um desvio da seqüência esperada de 
reparo tecidual. Este processo envolve uma produção mais extensa de tecido de granulação e 
também requer maior tempo para a contração e epitelização da ferida, produzindo uma cicatriz 
significativa. 
 
10.3 Cicatrização por terceira intenção 
 
As feridas cicatrizam por terceira intenção quando há fatores que retardam a cicatrização de 
uma lesão inicialmente submetida a um fechamento por primeira intenção. Esta situação ocorre 
quando uma incisão é deixada aberta para uma drenagem e posteriormente fechada, ou na 
deiscência da sutura inicial. 
 
 
XI. Avaliação e Tratamento de Feridas (Malagutti e Kakihara, 2011, Guimarães, 
2011, Domansky e Borges, 2012) 
 
 
11.1 Ambiente do tratamento 
 
Deve-se levar em conta o ambiente no qual o tratamento é administrado. Harding (1992) 
propôs uma matriz de cicatrização de feridas que inclui o ambiente e a pessoa que presta os 
cuidados. O tratamento de uma ferida é afetado pelas circunstâncias da vida do paciente. Por 
exemplo, a hora da troca de curativo talvez não seja importante para o paciente hospitalizado, 
mas pode ser crítica para um paciente que está em casa. A flexibilidade pode ser importante 
para o paciente com uma ferida crônica que precisa retornar ao trabalho. O profissional que vai 
realizar o curativo deve ser capacitado para tal, tendo conhecimentos básicos para avaliar o 
tipo de ferimento, qual a melhor técnica a ser utilizada, os materiais, o tipo de cobertura, etc. O 
local de realização deve ser apropriado, limpo, bem iluminado e de preferência restrito a 
realização de curativos. O profissional deve estar trajando roupa apropriada, jaleco, e EPIs 
(Equipamentos de Proteção Individuais), conforme a necessidade. 
 
11.2 Fatores que afetam a cicatrização 
 
Muitos fatores influenciam a velocidade e o caráter do processo de cicatrização, entre eles 
destacamos: 
 Nível nutricional – a diminuição dos elementos protéicos, vitamina C e desidratação 
são os principais causadores do retardo da cicatrização pois afetam diretamente a 
síntese do colágeno. Uma deficiência nutricional pode dificultar a cicatrização porque 
também deprime o sistema imune e diminui a qualidade e a síntese de tecido de 
reparação. 
 Condições de vascularização, perfusão de tecidos e oxigenação – como o sangue 
fornece os elementos cicatrizantes, quanto melhor a circulação mais rápida será a 
cicatrização. Doenças que alteram o fluxo sanguíneo normal podem afetar a distribuição 
dos nutrientes das células assim como as dos componentes do sistema imune do corpo. 
Estas condições prejudicam a capacidade do organismo em transportar células de 
defesas e antibióticos administrados, o que dificulta o processo de cicatrização. O fumo 
reduz a hemoglobina funcional e eleva a disfunção pulmonar o que reduz o transportede oxigênio para as células e dificulta a cura da ferida. 
 Idade – a cicatrização é mais rápida em crianças do que em pessoas idosas. Existem 
muitos fatores que retardam a cicatrização nas pessoas idosas, entre eles temos a 
19 
 
menor eficiência do sistema circulatório, particularmente nas áreas superficiais do 
corpo, e uma maior probabilidade de ser deficiente o estado nutritivo nas pessoas 
idosas além da vulnerabilidade do sistema imune. 
 Edema e obstrução linfática – o edema dificulta a união das extremidades da ferida 
porque diminui o fluxo sanguíneo e o metabolismo do tecido, inibindo o transporte de 
suprimentos regenerativos para a área e facilitando o acúmulo de catabólitos e 
produzindo inflamação. 
 Administração de drogas – a administração de alguns tipos de drogas pode dificultar o 
processo cicatricial porque mascaram a presença de infecção. Por exemplo os 
corticóides, os quimioterápicos e os radioterápicos podem reduzir a cicatrização de 
feridas pois diminuem a resposta imune normal à lesão. Eles podem interferir na síntese 
protéica ou divisão celular, agindo, diretamente, na produção de colágeno. Além disso, 
podem tornar a cicatriz mais frágil, aumentando a atividade da colagenase. Deve-se 
também evitar o uso de antimicrobianos nas feridas. As drogas anticoagulantes podem 
dificultar o processo de coagulação causando retardo no início do processo de 
cicatrização. 
 Técnica de curativos – a troca insuficiente do curativo, falhas na técnica asséptica, 
curativo apertado e outros erros podem provocar retardo na cicatrização. 
 Extensão da lesão – o processo de cicatrização é naturalmente mais demorado 
quando a lesão nos tecidos é mais extensa. 
 Localização da ferida – feridas em áreas mais vascularizadas e em áreas de menor 
mobilidade e tensão cicatrizam mais rapidamente do que aquelas em áreas menos 
irrigadas ou áreas de tensão ou mobilidade (como cotovelos, nádegas, joelhos). 
 Hemorragia – o acúmulo de sangue propicia o acúmulo de células mortas que 
precisam ser removidas, bem como o surgimento de hematomas e isquemia. Isso 
provoca dor e lentifica o processo de cicatrização. 
 Corpo estranho na ferida – implantes de silicone, válvulas cardíacas artificiais, 
material de curativo ou qualquer outro corpo estranho podem retardar o processo de 
cicatrização, por serem inertes. 
 Infecção – a infecção é definida como uma concentração bacteriana superior a 10. 
Colonização da ferida não pode ser confundida com infecção. A colonização ocorre 
quando a ferida é mantida livre de tecido necrótico e/ou material estranho e é controlada 
pela ação de neutrófilos e macrófagos. Já a infecção ocorre quando há uma alta 
concentração bacteriana, tecido local comprometido (necrose ou corpo estranho) e 
comprometimento geral do paciente. 
 Hiperatividade do paciente – a hiperatividade dificulta a aproximação das bordas da 
ferida. O repouso favorece a cicatrização. 
 Tabagismo – o ato de fumar reduz a tensão de oxigênio no sangue e nos tecidos e leva 
a uma hipóxia tecidual, que perdura por alguns meses após a interrupção do ato de 
fumar, que é associada a uma cicatrização defeituosa. Acredita-se que isto seja 
decorrente de uma vasoconstrição causada pela nicotina. 
 
11.3 Microorganismos mais comuns nas infecções de feridas 
 
Em decorrência de sua permanente exposição ao meio externo, a pele está sujeita a intensa 
contaminação microbiana. 
Os microorganismos mais encontrados nas infecções de feridas são: 
 Sthaphylococcus epidermidis; 
 Estreptococos alfa-hemolíticos; 
 Sthaphylococcus aureus; 
 Corynebacterium sp; 
20 
 
 Escherichia coli; 
 Klebsiella sp; 
 Proteus sp; 
 Acinetobacter sp. 
 
11.4 Formato e tamanho da ferida 
 
O tamanho e o formato da ferida se alteram durante o processo de cicatrização. Nos estágios 
iniciais à medida que se removem tecidos necróticos e/ou esfacelados, a ferida parece 
aumentar de tamanho. Isso ocorre porque a real extensão da ferida estava mascarada pelo 
tecido necrótico. O monitoramento do formato da ferida é importante para auxiliar na seleção 
do curativo. Uma ferida com cavidade requer curativo diferente de uma ferida superficial. 
Alguns curativos não são apropriados se houver sinus (cavidade em fundo cego, espaço morto 
na ferida). 
Para julgar a evolução de uma ferida, é essencial fazer medições objetivas na avaliação inicial 
e repeti-las a intervalos regulares As feridas crônicas devem ser medidas a cada 2-4 semanas, 
as agudas evoluem com rapidez bem maior e a medida deve ser feita a cada troca de curativo. 
A medida regular permite o monitoramento da taxa de cicatrização. 
 
11.5 Quantidade de exsudato na ferida 
 
A quantidade de exsudato varia durante o processo de cicatrização. Há considerável 
quantidade no estágio inflamatório e pouquíssimo na epitelização. Grande exsudação pode 
indicar prolongado estágio inflamatório ou infecção. Também afeta a seleção do curativo, 
tornando talvez necessário um curativo bem absorvente. Pode ocorrer maceração da pele 
circunvizinha se for usado um curativo que não seja suficientemente absorvente para o nível de 
exsudação. 
 
11.6 Localização da ferida 
 
A localização de uma ferida deve ser observada como parte da avaliação. Ela pode indicar 
problemas potenciais como risco de contaminação nas feridas na região sacra ou problemas de 
mobilidade, causados por feridas nos pés. Outro aspecto é o fato de que um curativo 
permanece no lugar em certas partes do corpo, mas não necessariamente em outras. 
 
11.7 Aparência da ferida 
 
A aparência de uma ferida dá indicação do estágio de cicatrização alcançado ou de qualquer 
complicação que possa estar presente. Feridas abertas ou feridas que cicatrizam por segunda 
intenção podem ser classificadas como: 
 Com necrose; 
 Com infecção; 
 Com esfacelos – slough (células mortas do exsudato) 
 Com tecido de granulação 
 Com tecido de epitelização. 
Algumas feridas podem encaixar em mais de uma categoria e por isso se apresentam como 
feridas mistas. Antes de se avaliar uma ferida, resíduos da cobertura anterior devem ser 
removidos totalmente. Muitos curativos modernos formam gel que pode dar impressão errônea 
se não for totalmente removido. 
 
XII. Curativos 
21 
 
 
Curativos são os cuidados dispensados a uma área do corpo que sofreu solução de 
continuidade. É todo material colocado diretamente sobre uma lesão a fim de prevenir uma 
contaminação. Para que se faça a escolha de um curativo adequado é essencial uma avaliação 
criteriosa da ferida. Essa análise deve incluir: condições físicas, idade e medicamentos, 
localização anatômica da ferida, forma, tamanho, profundidade, bordas, presença de tecido de 
granulação, presença e quantidade de tecido necrótico e presença de drenagem na ferida. 
 
12.1 Objetivos dos curativos 
 
 Os principais objetivos da aplicação dos curativos são: 
 Evitar a infecção nas feridas assépticas; 
 Impedir ou reduzir a propagação de infecção em feridas sépticas; 
 Absorver e facilitar a drenagem; 
 Promover hemostasia; 
 Promover a cicatrização; 
 Promover conforto ao portador da ferida. 
 
12.2 Tipos de coberturas (ou curativos) 
 
 Semi-oclusivo: é absorvente e comumente utilizado em feridas cirúrgicas. 
Vantagens: permitir a exposição da ferida ao ar, absorver o exsudato e isolar o exsudato 
da pele saudável adjacente. 
 Oclusivo ou fechado: sobre a ferida é colocada gaze ou compressa fixando-se com 
esparadrapo ou atadura de crepe. Pode ser oclusivo seco, úmido ou compressivo. 
Vantagens: absorve a drenagem de secreções, protege o ferimento das lesões 
mecânicas, promove hemostasia através da compressão, impede a contaminação do 
ferimento por fezes, vômito, urina e promove conforto psicológico ao paciente. 
 Aberto: recomendado nas incisões limpas e secas, deixando-sea ferida exposta. 
Vantagens: elimina condições necessárias para o crescimento de microorganismos 
(calor, umidade, ausência de luz solar, etc), permite melhor observação e detecção 
precoce de dificuldade no processo de cicatrização, facilita a limpeza, evita reações 
alérgicas ao esparadrapo e é mais barato. 
 Sutura com fita: após a limpeza da ferida, as bordas do tecido seccionado são unidas 
e fixa-se a fita. Este tipo de curativo é apropriado para cortes superficiais e de pequena 
extensão. 
 Compressivo 
 
12.3 O processo de limpeza e tratamento das feridas 
 
Para realizar o curativo de uma ferida ou qualquer outro procedimento invasivo, o profissional 
de saúde deve ser cuidadoso no manuseio de materiais estéreis, evitando assim a 
contaminação destes e também da ferida. O fato de uma ferida já estar contaminada não quer 
dizer que não sejam necessários materiais estéreis e uso de técnica asséptica, visto que é 
indesejável que haja aumento da carga de contaminantes no local e consequentemente retardo 
no processo cicatricial. 
Embora a reparação tecidual tanto por regeneração quanto por substituição de tecido, seja 
sistêmica, é absolutamente necessário favorecer condições locais através de terapia tópica 
adequada para dar suporte e viabilizar o processo fisiológico. Entre os diversos princípios da 
terapia tópica, a remoção não somente da necrose como também de corpo/partículas 
estranhas do leito da ferida constitui um dos primeiros e mais importantes componentes a 
22 
 
serem considerados na avaliação inicial e subseqüente da ferida. Esse conteúdo de agentes 
inflamatórios deverá ser retirado através de efetivo processo de limpeza. 
Limpeza é a ação de limpar. Limpar é retirar a sujidade e lavar é tirar as sujidades com água. 
Então a sujidade da ferida pode ser removida com água ou através de outros métodos. No 
processo de limpeza das feridas, cada etapa da trajetória de reparação tem uma necessidade, 
e para atender essa demanda, vários métodos e técnicas podem ser utilizados, optando-se por 
aqueles mais suaves ou mais agressivos, dependendo da condição do leito da ferida. 
Com relação às soluções de limpeza citadas por Rodeheaver (1997), normalmente para a 
maioria das feridas apenas a solução salina ou água é suficiente para lavá-las, não sendo 
necessário que a solução seja isotônica (cloreto de sódio a 0,9%), pois o tempo de 
permanência da solução na ferida é reduzido. Para o atendimento domiciliário, desde que a 
água seja adequada, a solução salina poderá ser preparada, acrescentando-se duas colheres 
das de chá em um litro de água fervida. 
Outros autores da Inglaterra e dos Estados Unidos utilizam rotineiramente a água de torneira, 
de boa qualidade e livre de contaminação, para a limpeza da ferida. Angeras e cols (1992) em 
estudo comparando o uso de soro fisiológico estéril e água de torneira para lavagem de lesões 
traumáticas agudas, concluíram que não houve aumento das taxas de infecção quando a água 
de torneira foi usada rotineiramente para a limpeza dessas feridas. Como se pode ver, a 
solução salina caseira e a água de torneira foram largamente utilizadas como solução de 
limpeza. Embora a água de torneira possa de fato, ser usada para a limpeza de feridas 
crônicas, deve-se considerar a concentração de flúor e cloro e as condições do reservatório, 
sendo mais adequado que seja fervida. 
Há consenso entre a maioria dos autores que, a limpeza das feridas em ambiente hospitalar 
deve ser realizada com solução de cloreto de sódio a 0,9%. 
 
Solução de Papaína 
Além da solução salina e da água, a solução de papaína em concentrações adequadas 
constitui, também, um excelente agente de limpeza a ser utilizado praticamente para todos os 
tipos de feridas, não somente para o debridamento mas também para limpeza, tanto de feridas 
infectadas quanto limpas, sem intervir no tecido viável, com resultados comprovados na 
bibliografia brasileira. As concentrações utilizadas são 1%, 2%, 4%, 10%, dependendo das 
características da ferida, recomendando-se maior concentração quanto maior a necessidade de 
limpeza. Para obter uma concentração a 2% diluem-se dois gramas de pó de papaína em 
100ml de água destilada ou soro fisiológico a 0,9%. De acordo com a rotina do Hospital 
Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP), a concentração de papaína utilizada é 
de 2% e a diluição é feita em almotolias limpas mantendo a diluição por um período de até 24 
horas. 
 
Antissépticos 
O antisséptico tópico ideal deveria preencher as seguintes características: ter ampla atividade 
antimicrobiana e persistente, toxicidade mínima e sem efeitos adversos. Infelizmente a maioria 
das soluções antissépticas falha nesse conceito. 
Os antissépticos são usados primariamente para diminuir o crescimento bacteriano em objetos 
inanimados. Quando são usados em feridas têm propriedades antibacterianas, mas inibem a 
cicatrização por destruírem as estruturas celulares mesmo em concentrações clínicas normais. 
Por esta razão devem ser evitados no interior de feridas. 
Conforme Malagutt & Kakihara (2010), nos removedores de gordura comerciais, as 
concentrações de clorexidina maiores que 0,05% e o hipoclorito de sódio parecem eficazes na 
remoção de bactérias e tecidos desvitalizados, mas a cicatrização pode ser prejudicada quando 
eles são utilizados. 
23 
 
A utilização de antissépticos deve ser criteriosa. Algumas feridas infectadas podem necessitar 
do seu uso, entretanto estes produtos só devem ser utilizados no contexto de um plano de 
tratamento, através de avaliação sistemática e rotineira da ferida por profissional qualificado 
para tal. É importante lembrar que o antisséptico não deve ser utilizado indefinidamente e nem 
como rotina. 
 
Artifícios materiais utilizados para limpeza 
No quesito respeito aos artifícios empregados para a limpeza, devem ser respeitadas a 
condição e a fase de reparação tecidual procurando minimizar traumas aos tecidos. Ao utilizar 
materiais como gaze, esponjas ou escovas é indispensável observar se são macias, e deve ser 
aplicada mínima força, devendo evitar o uso em tecido de granulação. 
A irrigação também é um método eficaz de limpeza. A combinação ideal é a seringa de 35ml e 
agulha de calibre 19, obtendo-se assim uma pressão de 8psi (per square inch) que é a mais 
adequada e efetiva para este tipo de limpeza. No Brasil ainda não se dispõe de seringa de 
35ml e os serviços têm utilizado a seringa de 20ml e agulha 40x12 ou frascos de soro 
fisiológico de 125, 250 ou 500ml perfurados de diferentes maneiras (com os frascos não é 
possível obter uma pressão constante). Até pouco tempo não se sabia qual a real pressão 
obtida com essa combinação de seringa e agulha. Atualmente já dispomos de uma pesquisa 
que validou essa técnica e chegou à conclusão que ao utilizar-se seringa de 20ml com agulha 
40x12 obtêm-se pressões de 9,5 a 12,5psi. Embora esses valores estejam acima do valor 
considerado adequado para o processo de limpeza, estão abaixo de 15psi, pois acima deste, 
segundo Rodeheaver (1997), causa danos ao tecido de granulação. A distância que a seringa 
deve estar da ferida deve ser segundo Sibbald e cols. (2000) de 10 a 13cm. Ao ser realizada a 
limpeza através de irrigação, recomenda-se o uso de máscara, óculos, avental e luvas para 
proteção do profissional devido a ocorrência de respingos. 
Uma outra forma de irrigar é através da irrigação pulsátil. É um dispositivo que funciona com 
bateria, muito interessante, principalmente para irrigar feridas com cavidades, pois tem 
mecanismo de aspiração do conteúdo injetado, o que facilita e efetiva o processo de limpeza. A 
limpeza com o uso de fluidos deve ser realizada a cada troca de cobertura primária. No 
entanto, quando a troca for realizada mais que uma vez ao dia, dependendo das condições da 
ferida, o enfermeiro deve considerar se há necessidade de lavar ou se nãoé satisfatório, 
simplesmente retirar a cobertura saturada e colocar uma nova. Segundo Gilchrist, a lavagem 
freqüente da superfície é indesejada e a ferida terá melhor reparação se for menos manipulada. 
Ao ser realizada a limpeza, utiliza-se solução aquecida para evitar a queda da temperatura da 
ferida. Essa recomendação deve ser levada em consideração na prática clínica, não somente 
pelo aspecto do resfriamento da ferida, mas também pelo conforto do paciente. O soro 
fisiológico de 250ml poderá ser aquecido em forno de microondas durante 20 segundos na 
potência alta. Porém a temperatura obtida com esse método pode diferir-se de um para outro 
forno fazendo-se necessária a realização de testes em cada tipo de forno e em frascos com 
volume diferentes. No atendimento domiciliário ou em locais onde não há disponibilidade do 
forno, o aquecimento poderá ser feito em banho-maria. Antes de utilizar o soro na ferida, deve-
se testar a temperatura na face interna da região do antebraço. Apesar de não se saber com 
exatidão a temperatura desse soro, temos como padrão à temperatura morna 
(aproximadamente 37ºC) de mamadeiras de recém-nascidos. 
Deve-se utilizar preferencialmente, técnica que minimize traumas tanto mecânicos quanto 
químicos. A técnica pode constituir-se de utilização de gazes úmidas para suave e 
cuidadosamente comprimir a ferida, despejar suavemente a solução sobre a ferida ou de 
irrigação sob pressão com seringas. 
 
Desbridamento 
24 
 
Durante a fase inflamatória do processo de reparação de feridas, os neutrófilos e os 
macrófagos digerem e removem, naturalmente, plaquetas, fragmentos e tecido avascular no 
leito da ferida. No entanto, quando ocorre um acúmulo de material para ser removido, esse 
processo natural torna-se insuficiente, ocasionando retardo na cicatrização. Sendo assim, a 
remoção desse material indesejado torna-se então, o objetivo central no planejamento dos 
cuidados, pois se considera que a presença da necrose, interfira no andamento adequado do 
processo de reparação da ferida por prolongar-se a fase inflamatória, inibir a fagocitose, 
favorecer o crescimento bacteriano, aumentando o risco de infecção e atuar como barreira 
física para a granulação e epitelização. 
O desbridamento objetiva: promover a limpeza da ferida, deixando-a em condições adequadas 
para cicatrizar; reduzir o conteúdo bacteriano impedindo a proliferação dos mesmos e também 
preparar a ferida para intervenção cirúrgica. Diversos autores recomendam que qualquer tecido 
necrosado observado durante a avaliação inicial e nas avaliações subseqüentes da ferida deve 
ser removido, desde que a intervenção seja consistente com os objetivos globais do tratamento 
e das condições clínicas do doente. As indicações gerais para o desbridamento são: 
purulência, infecção local e sistêmica, em especial osteomielite, presença de corpos estranhos, 
escara e grande área de necrose. Também existe consenso entre os autores quanto a melhor 
eficácia da técnica cirúrgica para o desbridamento. 
Embora o desbridamento seja realmente vital para a recuperação da ferida, existem 
determinadas situações nas quais não é a melhor indicação, como: 
 Feridas de membros inferiores com perfusão duvidosa ou ausente, como escara seca e 
estável até que o estado vascular seja melhorado; 
 Presença de escara em pacientes em fase terminal; 
 Úlcera de pressão no calcanhar com presença de escara seca e estável; 
Apesar das contra-indicações referidas cima, se houver instalação de processo infeccioso, 
essas orientações não se aplicam e o desbridamento deve ser implementado. 
 
 
12.4 Classificação das coberturas (Malagutti e Kakihara, 2011) 
 
 
As coberturas são classificadas de acordo com suas características e propriedades. Em vista 
da enorme diversidade de produtos pertencentes a diferentes grupos existentes no mercado, 
elas são classificadas com suas indicações, contra-indicações, mecanismos de ação, 
vantagens e limitações: 
 
Epitelizantes: substâncias que aceleram o processo de epitelização; 
Absorventes: absorvem secreções sobre o leito da ferida; 
Desbridantes: substâncias que degradam tecidos; 
Antibióticos: substâncias bactericidas e bacteriostáticas que impedem o crescimento 
bacteriano no leito da lesão; 
Antissépticos: substâncias que reduzem a microbiota presente nos tecidos vivos; 
Protetores: geralmente na forma de coberturas, confere proteção física ao leito da lesão. 
É importante lembrar que mesmo se tratando de substâncias químicas, nas mais diferentes 
formulações farmacológicas (gel, pomadas, óleos, etc), todas são, denominadas coberturas, 
podendo ser classificadas por: primárias, quando entram em contato direto com a pele íntegra 
ou com leito da ferida; secundárias, quando são utilizadas como cobertura final, muitas vezes 
para cobrir uma cobertura primária e conferir proteção. 
 
 
25 
 
Grupo P. Ativo Indicação Contra-indicação 
Epitelizantes Ácidos Graxos 
Essenciais 
(AGE) 
- Dersani 
Qualquer leão de pele 
infectada ou não, indiferente 
da fase de cicatrização. 
Não há. 
Absorvente e 
hemostático 
Alginato de 
Cálcio 
- Kaltostat 
- Acquacell 
Lesões superficiais ou 
cavitárias altamente 
exsudativas ou com 
sangramento, infectadas ou 
não. 
Feridas secas. Não 
deve ser associado 
a agentes 
alcalinos. 
Antibiótico 
bactericida 
Carvão ativado 
e prata 
- Actisorb Plus 
- Carboflex 
Feridas infectadas, 
exsudativas e com odores 
desagradáveis, superficiais ou 
profundas. 
Feridas secas, 
limpas ou 
queimaduras. Não 
é aconselhável o 
uso em tecido de 
granulação. 
Protetores, 
coberturas 
finais ou 
secundárias 
Filmes 
semipermeáveis 
- Opsite 
- Bioclusive 
- Tegaderm 
Feridas secas que cicatrizam 
por primeira intenção, 
queimaduras, como cobertura 
secundária, para proteção e 
fixação de dispositivos de 
punção venosa ou arterial. 
Feridas 
exsudativas e 
infectadas. Não 
utilizar no pós-
operatório 
imediato. 
Crescimento 
Celular 
Fatores de 
crescimento 
celular 
- Regranex 
Lesão de difícil cicatrização 
que já experimentaram 
diversas terapêuticas sem 
sucesso. 
Em pacientes fora 
de possibilidades 
terapêuticas em 
virtude do alto 
custo. Feridas 
infectadas, 
altamente 
exsudativas. 
Absorventes Hidropolímeros 
- Cavity 
- Transorbent 
- Polymen 
Feridas exsudativas, limpas, 
profundas, superficiais e 
granulando. 
Feridas secas ou 
com pequena 
exsudação. 
Umidificantes e 
aceleradores 
do 
desbridamento 
autolítico 
Hidrogel 
- Hydrosorb 
- Intrasite gel 
Feridas secas, limpas e 
superficiais. Enxertias, úlceras 
e queimaduras. 
Feridas cirúrgicas 
que cicatrizam por 
primeira intenção. 
Sobre a pele 
íntegra e em 
feridas com grande 
exsudação ou com 
infecção fúngica. 
Idem Hidrocolóides 
- Tegasorb 
- Hydrocoll 
- Biofilm 
Feridas secas, com dano 
parcial do tecido, com ou sem 
necrose, que estejam 
exsudando pouco ou 
moderadamente. Feridas 
cirúrgicas que cicatrizam por 
primeira intenção. 
Queimaduras em 
grau III, lesões com 
dano expressivo, e 
feridas infectadas, 
principalmente as 
fúngicas. 
Desbridantes Enzimas Desbridamento químico Feridas limpas e 
26 
 
enzimáticos proteolíticas 
- Iruxol Mono 
- Kollagenase 
- Papaina 
granuladas. 
Antibiótico, 
bactericida e 
bacteriostático 
Sulfadiazina de 
prata 
- Dermazine 
- Pratazine 
Controle do crescimento 
bacteriano no leito da lesão 
em feridas infectadas e tecido 
necrosado. 
Hipersensibilidade 
a prata. 
 
 
Informações Complementares sobre Coberturas mais utilizadas 
 
Alginatos – são sais de polímero natural de cálcio, ou sódio ou ácido algínico, derivados da 
alga marrom. Suas fibras têm capacidade de absorver a exsudação de feridas e convertê-las 
em gel. 
 Características:

Outros materiais