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Universidade Federal Rural do Semi-Árido Departamento de Ciências Animais Disciplina: Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Professor: Eraldo Barbosa Calado RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA OTOHEMATOMA Componentes: Alessandro Pinheiro Gomes Anna Augusta F. de Queiroz Karoline Alves Moraes Roberio Gomes Olinda Rodolfo Gurgel Vale Mossoró, 11 de setembro de 2010 Introdução A aula prática da disciplina de Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais realizada dia 31 de agosto de 2010 no Hospital Veterinário da UFERSA, teve como objetivo a realização de uma drenagem de otohematoma bilateral. A cirurgia foi realizada em um animal da espécie canina, sem padrão de raça definido, macho, de aproximadamente 10 anos de idade e 21,5 kg. O animal apresentava comportamento dócil, estado nutricional regular, mucosas normocoradas, TPC 2seg, desidratação em torno de 5%, na pele e subcutâneo havia áreas circulares com alopecia, presença de ectoparasitas, córneas opacas com presença de secreção amarelada, aparência geral regular. O aparelho cardiovascular normal com FC:102BPM, aparelho respiratório sem alteração com FR: 80MPM, aparelho digestório, aparelho locomotor, aparelho geniturinário e sistema nervoso também não apresentaram alterações. Esse animal já tinha sido atendido anteriormente no HOVET a fim de tratar algumas infecções. Mas, a queixa atual era de que há 8 dias as orelhas do animal tinham começado a aumentar de tamanho, apresentando no momento um inchaço em toda a superfície côncava da orelha. O diagnóstico foi de otohematoma bilateral. Nesse caso, o procedimento recomendado é de cirurgia para retirada do acúmulo de sangue dentro da placa cartilaginosa auricular. Dados do paciente: PROPRETÁRIO: Naziosimo da Silva PACIENTE : Bob RAÇA: SRD SEXO: macho ESPÉCIE: Canina IDADE: 10 anos PELAGEM: Castanho PESO: 21,500kg DIAGNÓSTICO: Oto-Hematoma bilateral CIRURGIA PROPOSTA: Drenagem com sutura de fixação CIRURGIA REALIZADA: Drenagem bilateral com incisão em”s” e suturas festonadas AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA: FC: 102BPM MUCOSAS: Normocoradas Hidratação: 5% FR: 80MPM TPC: 2SEG. TºC: 38,9 ºC ASA: III Protocolo Anestésico A medicação pré- anestésica utilizada foi acepromazina na dose de 0,03 mg/kg intravenoso(0,3ml). Esse é um fenotiazínico e causa uma boa tranquilização ao animal mantendo-o relaxado, acordado, indiferente ao meio ambiente e a pequenos estímulos dolorosos. Passados uns 15 min, O animal foi encaminhado para o centro cirúrgico onde foi feita a indução e o agente utilizado foi o propofol que é um hipnótico de ação ultra- curta, na dose de 4 mg/kg intravenoso(8ml). Logo após o animal foi intubado com a sonda 8,5 e mantido com a anestesia inalatória, que tem como vantagem a rápida metabolização e absorção. Quando utilizada com a MPA e indução, provoca uma ausência de excitação no animal, oferece uma rápida recuperação e um controle dos planos anestésicos. Nesse caso o anestésico inalatório utilizado foi o isofluorano, que oferece uma rápida indução e recuperação anestésica, apresenta baixo risco de nefrotoxicidade e um bom custo-benefício, a CAM do isofluorano para o cão é de 1,41. O circuito utilizado para esse animal foi o com absorvedor de CO2 e a respiração foi assistida. A cirurgia teve início às 10:00 horas e término às 12:40 horas. Durante a cirurgia foi a plicado Meloxicam 2% (antiinflamatório) na dose de 0,2 mg/kg-IV(0,2ml). Também foi utilizado Tramadol, que é um analgésico opióide de ação mista: por oferecer recaptação de norepinefrina e liberação de serotonina, também oferece uma boa sedação e analgesia sendo, utilizado em casos de dor moderada. A dose utilizada foi de 3,0mg/kg –IV(1,0ml), sendo aplicada 0,5ml no meio da cirurgia e 0,5 ao final da cirurgia. Também foi utilizado Agrodel Plus (antibiótico) sem o antiiflamatório, no local da cirurgia. Descrição da técnica cirúrgica utilizada Inicialmente foi feito um pique na superfície côncava da orelha para o extravasamento do líquido contido na cartilagem auricular, em seguida foi realizada uma incisão em forma de S para expor o restante do hematoma e seu conteúdo de uma extremidade a outra. A cavidade auricular foi lavada com soro fisiológico e com o auxílio de gaze e pinça de housted foram retirados os coágulos de sangue e de fibrina, em seguida foi secada toda a cavidade e aplicado um antibiótico local em pó a base de penicilina (Agrodel plus). Após este procedimento iniciou-se o processo de sutura que foi colocada de 0,75 a 1 cm de comprimento através da pele, na superfície côncava da orelha e na cartilagem subjecente. As suturas foram colocadas paralelas aos vasos principais, ou seja, no sentido vertical e realizadas com o auxilio de pequenos pedaços de cateter, em ambos os lados da sutura (acima e abaixo da orelha) para evitar necrose tecidual. Foi colocado um numero amplo de suturas, de maneira a não formar nenhuma bolsa na qual possa se acumular líquido. As suturas não fecharam a incisão para permitir uma drenagem prolongada e para a realização destas foi utilizado o náilon 3-0, um fio de sultura monofilamentoso não absorvível. Foi realizado o mesmo procedimento em ambas as orelhas. Por fim foi colocada uma atadura protetora sobre as orelhas apoiando-as sobre a cabeça do animal. A remoção dos pontos deverá ocorrer em 10 a 15 dias após a cirurgia. Fonte: Fossum 2a edição Discussão O hematoma auricular em cães é uma das afecções mais comuns do aparelho auditivo, caracterizado pela formação de uma coleção de sangue, contusão de segundo grau, principalmente na face interna do pavilhão auricular. Isto ocorre devido à ruptura de vasos sangüíneos, em conseqüência de traumatismo, proveniente do choque da orelha com a cabeça do próprio animal, ato de coçar, inflamações, doenças que interferem nos fatores de coagulação, parasitas, alergias e mesmo corpos estranhos (Rosychuk; Merchant, 1994). Diante do quadro clínico-patológico deste animal, preconizou-se a realização de tratamento cirúrgico, seguindo a técnica operatória recomendada por Fossum et al., (2007). A técnica proposta neste trabalho trouxe vantagem porque os hematomas eram extensos com diâmetro superior a 5 cm, cujo conteúdo líquido e reações teciduais circunjacentes, com fibrina e fibrose, apresentam respostas insatisfatórias em tratamento clínico, defendido por Kuwahara (1986) No entender de Lorenzi e Bertolini (2001) uma incisão em forma de “S” permite uma maior exposição dos tecidos inferiores, facilitando a remoção de coágulos e fibrina, e minimiza o risco de retração cicatricial durante a cicatrização da ferida cirúrgica. Neste hematoma auricular ocorreu deposição de fibrina, com seroma sanguinolento, com volume flutuante, superfície côncava do pavilhão auricular e contração aumentada, com conseqüente deformação (Bojrab et al., 1993; Henderson, 1993). É importante resaltar que pode adota-se outros procedimentos terapêuticos para resolução do otohematoma, como citado: Drenagem e colocação de drenos (Kagan (1983), Drenagem com agulha (Lanz & Wood, 2004), Reparação com laser de CO2 (Dye, 2002), Reparação com cianoacrilato (Lanz & Wood, 2004), Reparação com múltiplos orifícios (Lanz & Wood, 2004), Reparação com selante de fibrina (Blatter et al.,2007) e Clamp de hematoma auricular (Whitton 2006), apesar de haver deformidade, além de esteticamente pouco atrativa, contribui para o aparecimento de alterações estruturais e funcionais, como a estenose da entrada do canal auditivo (Joyce, 2000). Segundo Schossler (2007), em torno do sétimo dia pós-cirúrgico, quando da retirada do dreno e dos pontos de compressão, a orelha demonstrou edema discreto e uniforme, possuindo um aspecto mais espesso que a orelha contralateral, entretanto, evidenciando aspecto normal, uma semana após a remoção dos pontos. Conclusão Tendo em vista a informação obtida no presente caso clínico, propondo a correção do otohematoma por meio de uma incisão em “S” e sutura adjacente à ferida cirúrgica, pode-se concluir que a execução foi feita com facilidade e apresentou uma recuperação do paciente, sem deixar seqüelas de retração cicatricial. Referências Bibliográficas Blätter, V., Harlin, O., Mettison, R.G., & Rampelberg, F. (2007). Fibrin sealant as a treatment for canine aural haematoma: a case history. The Veterinary Journal, 173, 697- 700. BOJRAB, M. J.; GRIFFIN, C. E.; RENEGAR, W. R. The ear. In: BOJRAB, M. J. Disease mechanisms in small surgery. 2. ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 1993. p. 120- 127. Dyce, R.M., Sack, W.O, & Wensing, C.J.G. (2004). Tratado de Anatomia Veterinária (3ª edição). Rio de Janeiro: Elsevier Editora. Dye, T., Teague, D., Ostwald, D., & Ferreira, S. (2002). Evaluation of a technique using the carbon laser for the treatment of aural hematomas. The Journal of the American Animal Hospital Association, 38, 385-390. Fossum, T. W., Hedlund, C. S., Hulse, D. A., Johnson, A. L., Seim III, B. H., Williard, M. D., Carrol, G. L. (2005). Cirurgia de pequenos animais. 2a ed. São Paulo. Roca. Fossum, T., Hedlund, C., Johnson, A., Schulz, Seim, H., Willard, M., Bahr, A., & arrol, G. (2007). Small Animal Surgery (3nd edition). St. Louis: Mosby Elsevier. HENDERSON, R. A. The pinna. In: SLATTER, D. Textbook of small animal surgery. 2. ed. Philadelphia: Sauders, 1993. p. 1545-1559. Kagan, K.G. (1983). Treatment of canine aural hematoma with an indwelling drain. Journal of the American Veterinary Medical Association. 183: 972-974. Kuwahara, J. Canine and feline aural hematomas: results of treatment with corticosteroids. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 22, n. 5, p. 641-647, 1986. Lanz, I.O., & Wood, C.B. (2004). Surgery of the ear and pinna. The Veterinary Clinics of Small Animal Practice, 34, 567-599. Lorenzi, D., & Bertolini, G. (2001). La chirurgia dell’orecchio nel gatto. Parte 2: chirurgiche pel la petologie dell’orechio esterno e dell’orechio medio. Veterinaria, 15, 79-88. MASSONE, F. Anestesiologia Veterinária: Farmacologia e Técnicas. 5a ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S/A, 2008. 571 p. Rosychuk, R. A.W.; Merchant, S. R. The Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 24, n. 5, p. 953-959, 1994. SCHOSSLER, J. R; MÜLLER, D; PINHEIRO, M. Proposição de técnica para drenagem de otohematoma em cães. Arq. Ciênc. Vet. Zool. Unipar, Umuarama, v. 10, 117-119, 2007. Whitton, D.F. (2006). Auricular hematoma clamp. Acedido em Jul. 6, 2008, disponível em: http:// www.wipo/int Anexos Exames Complementares HEMOGRAMA ERITROGRAMA: Hemácias: 4,5 (5,5-8,5) Hemoglobina: 10 (12-18) Hematócrito: 31 (37-55) VCM: 68 (60-77) CHCM: 32 (31-34) LEUCOGRAMA LEUCÓCITOS: 21.200 (6-18mil) NETRÓFILOS: Segmentados: 79 (60-77) Bastonetes: 2 (0-3) Metamielócito: 0 0 Mielócito: 0 0 Eosinófilos: 2 (2-10) Linfócitos: 9 (12-30) Monócitos: 8 (3-10) Plasmócitos: 0 0 Plaquetas gigantes PLAQUETAS: 310mil/mm³ (ref.180-500mil/mm³) Uréia: 18mg/dl Creatinina: 1,3mg/dl PT=9,4g/dl Fotos Tricotomia Oto-hematoma bilateral Vista dorsal da orelha esquerda Vista ventral da orelha direita Incisão em “S” com e exposição do hematoma e coágulos fibrina Sutura festonada com pequenos pedaços de cateter Suturas festonadas horizontais (orelha esquerda) Suturas festonadas verticais (orelha direita) Atadura protetora sobre as orelhas
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