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Modernidade Líquida

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Modernidade Líquida, Individualidade
Autor: Zygmunt Bauman
Resenhista: Gustavo de Almeida Lins
ZYGMUNT BAUMAN. Modernidade líquida. 1ª ed. Jorge Zahar Ed., 2001. Tradução de: Liquid modernity
	O presente trabalho versa sobre a visão de Baumam em relação a sociedade pós-moderna capitalista. Onde é analisado o comportamento social e individual, frente a imensa gama de produtos que podem ser comprados, impostos pelos mercados de produção. O autor trata de diversos assuntos, porém, aqui será abordado o tema referente a individualidade das pessoas segundo o proceder da sociedade de consumo analisada por Bauman.
	A primeira ideia do capítulo trata de uma abordagem sobre duas distopias diferentes. As duas visões eram de elevada diferenciação, um oposto ao outro em quase todos os aspectos e detalhes. Um mundo segundo Orwell, que seria “um mundo de miséria e destituição, escassez e necessidade”. E um mundo segundo Huxley, que seria um mundo de “abundância e saciedade”. Mesmo com vários aspectos opostos, as duas distopias dialogaram, pois compartilhavam de uma ideia em comum, que seria o pressentimento de um mundo minuciosamente controlado, onde a liberdade individual seria praticamente reduzida a nada ou quase nada, e as pessoas obedeceriam a ordens e rotinas estabelecidas por um grupo elitizado. Seria um mundo dividido em duas partes, administradores e administrados, que tem uma certa ligação com a teoria de classes de Karl Marx, principalmente no que diz respeito a alienação dos indivíduos que não fazem parte da elite controladora. As visões também tem ligação com as teorias de Marx, quando ambos abordam a questão de que, cada vez mais a elite controladora se distancia da classe administrada. Observa-se que esse mundo que é estritamente controlado, é compatível com a atual sociedade consumista, onde o comprar é a fonte de satisfação, ou seja, as grandes empresas produtoras de bens de consumo, são as administradoras e são elas que ditam o proceder do indivíduo. Mas esse ditar das empresas, não é algo coercitivo propriamente dito, pois elas fazem o uso da sedução e da manipulação para fazer com que as pessoas comprem, e não como uma norma que deve ser obedecida, e que seu descumprimento gera sanções.
	Dando sequência, o autor faz uma recordação histórica de modelos de produção capitalistas. Os quais são usados para dar apoio ao que ele vai chamar de “Capitalismo Leve” e “Capitalismo Pesado”. Dentro do conceito de capitalismo pesado, é abordado o modo de produção fordista, que era um modelo de industrialização onde as pessoas tinha funções definidas no processo de fabricação do produto. As tarefas desempenhadas pelos empregados, eram repetitivas e seguiam um padrão rigoroso de ordem. Ou seja, cada empregado é responsável por uma parte da fabricação. Uns colocavam os pneus, outros os bancos, outros só apertavam os parafusos etc. Tudo isso para a produção ser feita com mais rapidez, possibilitando que mais produtos sejam fabricados. Contudo, os indivíduos não poderiam escolher suas funções, elas eram determinadas, o que também impedia o processo de desenvolvimento dos trabalhadores. Já no capitalismo leve, os detentores dos meios de produção não usam esse padrão de ordem, eles utilizam da sedução e persuasão para que os trabalhadores sintam agradável e confortável o modo de trabalho. Os trabalhadores não fazem mais uma ação monótona e repetitiva na produção, serão suas especializações e suas habilidades que irão dizer qual a função ele deve realizar na empresa. Nota-se que o modelo de produção que atualmente é vivido, é o capitalismo leve. Onde os donos das empresas utilizam a sedução para atrair os empregados (por meio de propagandas por exemplo), que podem agora, crescer profissionalmente dentro da empresa, em vez de apenas realizar um trabalho repetitivo e sem perspectiva de desenvolvimento.
	Na parte em que Bauman versa sobre “a compulsão transformada em vício”, ele faz uma análise sobre o consumismo por desejo ao invés de por necessidade. É contemplado nesse tópico, que as possibilidades no mundo do consumo são infinitas, e que cada vez mais os objetos sedutores à disposição aumentam. O autor demonstra que o consumo desenfreado é um vício, que tem por objetivo alcançar a satisfação, mas que isso não é possível. Pois no mundo dos consumidores, não existe plena satisfação, porque os produtos que ontem trariam a satisfação, foram substituídos por novos produtos, e assim o consumidor vive nesse ciclo vicioso de comprar para se satisfazer. Ou seja, o consumismo de hoje não é mais referente a satisfação das necessidades, mas é relacionado a satisfação de realizar os desejos, que não precisam de justificação. Então, observa-se que o vício relacionado ao consumo, se dar primeiramente com o intuito da realização dos desejos individuais, o que faz com que as produções sejam sempre renovadoras, pois para manter a demanda do consumidor é necessário gerar nele o desejo de comprar, e para isso os produtos devem apresentar novidades (na maioria das vezes tecnológicas). Em contrapartida, não pode-se generalizar, pois mesmo em uma sociedade onde a maioria das pessoas se identificam e buscam sua identidade nos bens de consumo, existem pessoas que utilizam os produtos para suprir as suas necessidades e não por um desejo desenfreado de consumir o tempo inteiro.
	O autor em seguida, trata sobre a relação da sociedade pós-moderna com seus membros. Os membros dessa sociedade, são vistos primeiramente como consumidores e não como produtores. A vida de produtor, é uma vida organizada e que segue padrões normativos, onde manter-se vivo é a principal finalidade. As pessoas como primariamente consumidoras, têm uma vida organizada em torno do consumo, sem padrões normativos para seguir. Essa vida de consumo é regida pela sedução e pelos desejos que não param de crescer. Nas palavras de Bauman, na “sociedade de consumidores” “o céu é o limite”. É notório uma relação entre esse ponto abordado, e o anterior. Os vícios fazem com que as pessoas comprem desenfreadamente, e isso se dar porque a sociedade pós-moderna considera os seus membros como consumidores, então as projeções dessa sociedade estará sempre voltada para o consumo.
	Nos dois tópicos seguintes, é tratado respectivamente sobre o consumo desenfreado como fuga da incerteza, e sobre o poder que a mídia tem, de seduzir as pessoas, e cada vez mais torna-las viciadas em consumir. Bauman diz (e com propriedade) que “o comprar compulsivo é também um ritual feito a luz do dia para exorcizar as horrendas aparições da incerteza e da insegurança”. Coloca-se então, que o consumo sem controle é a fuga da insegurança do ser humano, que precisa fazer algo para que esteja plenamente satisfeito. Por isso, as produções sempre estão em ritmo acelerado. Toda vez que é lançado um novo produto, as pessoas voltam a se sentir vazias e portanto, necessitam daquele novo produto para acabar com sua incerteza. No seguinte, o autor mostra que a mídia tem um papel fundamental na manutenção dessa sociedade de consumo. Pois ela dita como seria a vida ideal, os produtos da moda e o que deve-se consumir. As pessoas desejam ter a vida que é “vista na TV”. A mídia faz com que os indivíduos obedeçam aos padrões, despertando neles o desejo e os seduzindo, o que ao ver das pessoas, mostra-se como algo que elas podem escolher, que pode-se optar em quais produtos irão consumir, mas na verdade é uma força externa (mídia) que as conduz. Pode-se fazer uma analogia simples entre esses dois tópicos. É consideravelmente notório, que a mídia sustenta nas pessoas, o desejo de comprar, despertando nelas uma incerteza constante. Essa incerteza e insegurança, vai leva-las a consumir, pois consumindo estarão plenamente satisfeitas. O que torna o consumo crescente, é o fato dos produtos serem o tempo todo renovados e aprimorados, fazendo com que as pessoas se sintam sempre incertas, e que o ato de consumir (seduzidos pela mídia) trará a vida ideal e a satisfação da segurança.
	Por fim, o último e menor assunto abordado,versa sobre como a sociedade pós-moderna tem tratado a vida como “uma festa de compras”. Só existe a satisfação quando se pode comprar para realizar os desejos e não suprir as necessidades. Os consumidores que possuem recursos estão mais pertos da satisfação, do que as pessoas que não tem tantos recursos. Revoltas ocorridas em Londres no ano de 2011, foram uma demonstração da insatisfação de consumidores que não possuem recursos. Muitos invadiam as lojas e roubavam os produtos, mas outros simplesmente pegavam as mercadorias, juntavam e queimavam. Isso é o reflexo da insegurança que a sociedade do consumo está fada a possuir. As pessoas querem fazer parte desse grupo elitizado que possuem recursos, que podem todas as vez que é lançado um novo produto, compra-los. Porém, é necessário que exista uma parte de pessoas que detenham os recurso, pois, elas terão a vida que os que não possuem, querem ter, mas se todos tiverem recursos, não existirá mais busca pela satisfação plena nos produtos, e o processo de consumo desenfreado não será mais buscado para garantir a perda da insegurança. As pessoas não buscariam mais a sua identidade nos bens de consumo, o que acabaria com os vícios consumistas, e isso não é a intenção dos detentores dos recursos, eles querem que a classe controlada, continue com seus desejos ardentes de consumir e procurem a sua identidade, naquilo que possuem e não naquilo que realmente são.

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