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1 Muito se fala a respeito de comunicação. Mas, o que vem a ser isso? J. W. Penteado nos dá a seguinte definição: A palavra “comunicar” vem do latim - "communicare" - com o significado de “pôr em comum". Comunicação é convivência, está na raiz da comunidade, agrupamento caracterizado por forte coesão, baseada no consenso espontâneo dos indivíduos. Consenso quer dizer acordo, consentimento, e essa acepção supõe a existência de um fator decisivo na comunicação humana: a compreensão que ela exige, para que se possam colocar em "comum", ideias, imagens e experiências. A comunicação humana, portanto, através da compreensão, põe ideias “em comum". Seu grande objetivo é o entendimento, é necessário que se compreendam mutuamente indivíduos que se comunicam. Em resumo, podemos entender a comunicação como o ato de tornar comum algum tipo de informação, procurando, de alguma forma, o entendimento do que é tratado. Pode ser considerada, também, uma forma de transmitir sentimentos e ideias. Portanto, todas as vezes que procuramos tornar algo comum, estamos concretizando um ato de comunicação, que pode se dar antes mesmo de aprendermos a verbalizar os nossos desejos ou intenções. Por exemplo, o bebê, ao chorar, comunica a sua mãe que algo está errado: pode ser fome, dor, necessidade de ser trocado etc. Verifique se você consegue compreender o significado do que é apresentado a seguir: 1. desta poesia? Mar portuguez Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quere passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abysmo deu, Mas nele é que espelhou o céu. (Fernando Pessoa) 1 b) destes desenhos? c) destes gestos? A COMUNICAÇÃO HUMANA ALUNO (A): _____________________________________ DIREITO – REDAÇÃO E LINGUAGEM JURÍDICA Prof. M.e Nivaldo Fernandes Silva 2 A compreensão é possível porque há constituição de um conjunto de sinais organizados com o objetivo de comunicar algo a alguém. A isso é dado o nome de linguagem. A linguagem pode ser dividida em verbal (faz uso da palavra) e não verbal (não faz usos da palavra), conforme pode ser verificado nos exemplos dados anteriormente. Fazer uso de uma ou outra forma de linguagem ou associá-las depende sempre do objetivo que se quer alcançar e do receptor a quem se dirige tal informação. Por exemplo, numa situação de trânsito, estando o motorista a 120 km por hora, faria sentido uma placa com os dizeres: ATENÇÃO: PISTA SINUOSA À ESQUERDA? Será que haveria tempo para o motorista fazer a leitura completa da informação? Lógico é que não, por isso, para esse tipo de situação, o mais adequado é o uso do símbolo , pois, dessa forma, será conseguido o entendimento instantâneo da informação contida na placa; ou seja, o uso da linguagem não verbal propiciará uma forma mais rápida que leve ao entendimento da informação que está sendo passada. Agora, se um advogado está defendendo uma causa em um Tribunal, faz sentido o uso apenas de gestos, símbolos ou outra forma que não utilize a palavra? Nesse caso, ao contrário da situação descrita anteriormente, há a necessidade das palavras, ou seja, da linguagem verbal para que se possa construir um texto que leve à defesa do réu frente aos jurados e ao juiz. Não há problema se o advogado em questão associar a linguagem verbal e não verbal, mas, sem dúvidas, a palavra é essencial. Os homens não são os únicos seres que utilizam a linguagem; temos exemplos de animais como os golfinhos, baleias, abelhas, que também conseguem comunicar-se por meio de sons ou de danças. No entanto, o homem é o único dotado de linguagem verbal, que pode ser traduzida em língua e que varia de acordo com os grupos sociais que a utilizam ou, melhor dizendo, com as diversas nacionalidades que existem. A língua é um sistema formado por palavras (=unidades) que se combinam, ou seja, é a linguagem verbal usada por um grupo de indivíduos para expressarem seus pensamentos. Isso pode acontecer tanto oralmente (por meio de sons), como por escrito (por meio da representação gráfica dos sons). Não se pode esquecer de que a língua estabelece um tipo de acordo entre as pessoas que a utilizam, uma vez que só existe em sociedade, devendo, também, haver sempre cooperação entre os falantes, para que haja, efetivamente, a comunicação. Se tivermos como exemplo o dicionário, quantas pessoas conhecem todas as palavras lá contidas? Não há essa estatística, mas sabemos que é uma questão muito difícil. Nós conhecemos, na verdade, apenas uma parte das palavras ali apresentadas, aquelas das quais necessitamos para a nossa comunicação cotidiana, tem-se aí a fala. A fala nada mais é do que o uso individual da língua, a qual utilizamos para transmitir os nossos pensamentos, as nossas crenças. E isso só é possível mediante os conhecimentos que são adquiridos por cada um de nós ao longo da vida. Não se pode admitir, então, que duas pessoas se expressem da mesma forma, uma vez que cada pessoa fará uso do seu conhecimento a respeito da língua e ninguém conhece exatamente a mesma coisa que o outro. Para resumir temos a definição dada por Ferdinand de Saussure no livro Curso de linguística geral: LÍNGUA : “(...) É a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que, por si só, não pode nem criá- -la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude duma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade”. FALA: “(...) É sempre individual e dela o indivíduo é sempre senhor. A língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza os seus efeitos; mas esta é necessária para que a língua se estabeleça; historicamente, o fato da fala vem sempre antes.” 3 ATENÇÃO!!!: Não confundir fala, neste contexto, com o “ato de falar”. Fala, aqui, deve ser entendida como a maneira de cada indivíduo servir-se da língua em sua expressão oral ou escrita. O uso que cada falante faz da língua varia segundo alguns fatores como os geográficos e os socioculturais. Os primeiros são responsáveis pelos chamados regionalismos, provenientes de dialetos ou falares locais; os segundos ligam-se diretamente ao falante ou ao grupo a que pertence (idade, sexo, raça, profissão, posição social, grau de escolaridade, local em que reside na comunidade). Além de se ligarem ao falante, tais fatores podem também estar relacionados à situação, ou seja, às influências determinadas pelas condições extraverbais que cercam o ato de fala. Alguns autores costumam apontar três níveis de fala: Formal – utilizado em situações de formalidade, com o predomínio da linguagem culta, tendo um comportamento linguístico mais refletido, mais tenso, com sintaxe mais complexa, vocabulário técnico etc. Comum – seria a integração entre o formal e o coloquial, recebendo contribuições de ambos. Coloquial – utilizado em situações familiares ou de menor formalidade, com o predomínio de linguagem popular, tendo um comportamento linguístico menos tenso, emprego de gíria, linguagem afetiva, com simplificação sintática etc. Agora, para que a linguagem cumpra sua função social no processo de comunicação, é necessário que as palavras tenham significado, isto é, que cada uma represente um conceito. O nome dado à combinação de conceito e palavra é signo linguístico: aquele que une um elemento concreto, perceptível (= som ou letras) a um elemento inteligível (= conceito ou imagem mental). O primeiro recebe o nomede significante e o segundo de significado. Em resumo: signo linguístico = significante = som ou letra___ significado conceito, imagem Ao ouvirmos ou lermos a palavra cachorro (significante) vem a nossa mente a imagem de um animal, doméstico, quadrúpede, cão (significado); portanto, a palavra cachorro pode ser chamada de signo linguístico uma vez que reúne significante e significado. Por exemplo: cachorro = c-a-c-h-o-r-r-o (letras) � (conceito) Os signos linguísticos pertencem ao sistema que constitui a língua. O homem tem uma imaginação criadora, diferentemente dos outros animais, e a usa com muita frequência, por isso temos uma mesma palavra com sentidos diferentes, dependendo de sua colocação e combinação com outras palavras em uma frase, isso quer dizer que uma palavra pode ter seu significado ampliado, levando-nos a novos conceitos por meio de associações. Observe os exemplos a seguir: Meu cachorro foi vacinado no mês de agosto. O namorado de minha amiga é um cachorro. Na primeira frase a palavra cachorro significa “cão pequeno”, conforme encontramos no dicionário; já na segunda, teve seu significado ampliado e, por associações feitas, entendemos que significa “cafajeste”. Podemos dizer que na primeira frase a palavra apresenta seu sentido original, independente do contexto, tal como aparece no dicionário, sendo empregada, então, no sentido denotativo ou denotação. Já na segunda, a palavra aparece com seu significado alterado, podendo apresentar interpretações diferentes, dependendo do contexto em que é empregada; tem-se, então, o sentido conotativo ou conotação. 4 Vejamos as palavras de Francisco da Silva Borba em seu Pequeno vocabulário de linguística moderna a respeito desses termos: “A denotação é a extensão do conceito, o conjunto de objetos do qual esse conceito é o atributo, em contraste com a conotação, que é a compreensão do conceito, ou seja, o conjunto de traços que a ele pertencem. Em semântica, a denotação aparece como significação básica, independente do contexto, e a conotação como significação contextual, isto é, como conjunto de associações que a palavra desperta em várias direções. A denotação é, portanto, primária em relação à conotação, que abrange representações secundárias evocadas por uma palavra. Enquanto a denotação, sendo objetiva, é válida para todos os falantes, a conotação, como conjunto de valores subjetivos ligados a um termo, varia segundo os falantes. Ex.: em — ‘casa é casa’ — o primeiro ‘casa’ é denotativo, mas o segundo é conotativo, tem uma nota a mais (a apreciação).”
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