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Faculdade de Engenharia Departamento de Construção e Transportes Materiais de Construção Civil I Apostila de Materiais de Construção Civil I : AGLOMERANTES Prof.º: Moacyr Carvalho Filho Profª Luciana Nascimento Lins Atualização 2012 Assistente: Floriano Fernandes Barbosa Filho Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 2 SUMÁRIO 1. Aglomerantes 1.1 Definição e breve histórico 1.2 Qualidades essenciais das pastas e argamassas 1.3 Classificação dos aglomerantes 1.4 Propriedades e características físicas 1.5 Noções Gerais 1.6 Principais empregos das argamassas na construção civil 1.7 Cal 1.7.1 Introdução 1.7.2 Fluxo de processo para obtenção da cal 1.7.3 Impurezas 1.7.4 Formas de Endurecimento 1.7.5 Cal Aérea 1.7.5.1 Aplicação da cal aérea 1.7.5.2 Características 1.7.6 Cal Hidráulica 1.7.6.1 Classificação e propriedade 1.7.6.2 Aplicações 1.7.7 Recapitulando (Cal) 1.7.8 Normas relacionadas à Cal Perguntas e respostas Leitura Complementar 1.8 Cimento Natural 1.9 Gesso 1.9.1 Definição 1.9.2 Fases de desidratação da gipsita por calcinação 1.9.3 Propriedades 1.9.4 Fabricação 1.9.5 Utilização do gesso Paris 1.9.6 Normas relacionadas ao gesso Perguntas e respostas 1.10 Cimento Portland 1.10.1 A história do cimento 1.10.2 Composição do cimento Portland 1.10.2.1 Clínquer 1.10.2.2 Adições 1.10.3 Composição química do cimento Portland 1.10.4 Composição mineralógica do clínquer Portland 1.10.5 Reações de hidratação dos compostos do clínquer 1.10.6 Cristalização 1.10.7 Classes de resistência 1.10.8 Principais propriedades dos diversos tipos de cimento 1.10.9 Principais tipos de cimento Portland 1.10.9.1 Cimento Portland Comum (CP I) 1.10.9.2 Cimento Portland Composto (CP II) 1.10.9.3 Cimento Portland de Alto Forno (CP III) 1.10.9.4 Cimento Portland Pozolânico (CP IV) 1.10.9.5 Cimento Portland Alta Resistência Inicial (CP V) 1.10.9.6 Cimento Portland Resistente aos Sulfatos 1.10.9.7 Cimento Portland de Baixo Calor de Hidratação Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 3 1.10.9.8 Cimento Portland Branco 1.10.10 Exigências físicas e mecânicas 1.10.11 Exigências químicas 1.10.12 Normas relacionadas ao cimento (Portland e outros) Perguntas e respostas Leitura Complementar 2. Agregados 2.1 Definição 2.2 Classificação dos agregados 2.3 Características das rochas de origem 2.4 Principais propriedades físicas dos agregados Exercício 2.5 Outras propriedades 2.6 Agregados Naturais 2.6.1 Areia Natural 2.6.2 Seixo Rolado ou cascalho 2.7 Agregados Artificiais 2.7.1 Definições 2.7.2 Matéria-prima ou rocha de origem 2.7.3 Brita ou pedra britada 2.8 Agregados industrializados 2.8.1 Agregados Leves 2.8.2 Agregados Pesados 2.9 Exigências normativas do NBR 7211 – Agregado para concreto 2.9.1 Granulometria Exercício 2.9.2 Forma dos grãos 2.9.3 Substâncias nocivas 2.10 Umidade e inchamento do agregado miúdo 2.11 Outros índices de qualidade Leitura Complementar 3. Concretos 3.1 Introdução 3.1.1 O concreto como material estrutural 3.1.2 Algumas definições 3.1.3 Componentes do concreto 3.1.4 Tipos de concreto 3.2 Estrutura do Concreto 3.2.1 Fases do concreto a nível macroscópico 3.2.2 Fases do concreto a nível microscópico 3.3 Propriedades do concreto 3.3.1 Traço 3.3.2 Resistência do concreto 3.3.3 Importância da relação água/cimento 3.3.4 Medida da consistência do concreto 3.3.5 Dados práticos sobre os limites de consistência 3.3.6 Importância da consistência 3.3.7 Influência do módulo de finura dos agregados e do traço na relação a/c 3.3.8 Influência da areia úmida Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 4 3.4 Aditivos 3.5 Propriedades do concreto endurecido e sua importância 3.5.1 Resistência do concreto – Fazendo uma breve dissertação Exercício 3.6 Centrais de concreto / Processos e Sistemas 3.6.1 Recebimento dos materiais componentes 3.6.2 Estocagem 3.6.3 Disposição da central 3.6.4 Mistura 3.6.5 Transporte 3.6.6 Lançamento 3.6.7 Adensamento 3.6.8 Cura ou sazonamento 3.6.9 Métodos de cura 3.6.10 Pedido de concreto 3.6.11 Entrega do concreto 3.6.12 Controle tecnológico 3.6.13 Aceitação do concreto Leitura Complementar 3.7 Dosagem do concreto 3.7.1 Parâmetros específicos 3.8 Controle tecnológico do concreto 3.8.1 Controle de qualidade 3.8.2 Acompanhamento da obra 3.8.3 Conhecimento do projeto 3.8.4 Mão-de-obra disponível 3.8.5 Dosagem 3.8.6 Controle da resistência do concreto 3.8.5.1 Plano de Controle 3.8.5.2 Controle estatístico 3.8.5.3 Controle do concreto para amostragem total (100%) 3.8.5.4 Casos Especiais Exercício Bibliografia Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 5 1) AGLOMERANTES 1.1) Definição e breve histórico: Os aglomerantes são elementos ativos empregados na construção civil onde entram na composição das pastas, argamassas e concretos. Constituem o material ligante utilizado para fixar ou aglomerar materiais entre si. O primeiro aglomerante utilizado pelo homem foi a argila. São encontradas na bíblia citações do uso da argila nas construções pelos assírios, babilônicos, egípicios e outras civilizações da antigüidade. Argilas secas ao sol ainda são muito utilizadas nas construções rurais, em casas de “taipa”. Estas construções apresentam baixas resistências mecânicas e reduzida durabilidade por ser a argila um aglomerante quimicamente inerte. Aglomerantes tipo cal e gesso, que são quimicamente ativos, também eram do conhecimento dos antigos e muitas das obras que foram construídas com eles ainda existem. O cimento Portland, que também é um aglomerante quimicamente ativo, é o principal aglomerante em uso atualmente, representando o 2o produto em consumo per-capita pelo homem, tendo sido inventado no ano de 1824 por Joseph Aspdin, fabricante de tijolos do condado de York. Muitos são os materiais que tem propriedades aglomerantes, porém para a utilização na construção civil é essencial que as matérias-primas para sua obtenção sejam abundantes na natureza e se encontrem em condições de aproveitamento econômico. Os aglomerantes apresentam-se sob forma pulverulenta e, quando misturados com água, formam uma pasta capaz de aglutinar e formam suspensões coloidais, endurecendo por simples secagem, ou, em conseqüência de reações químicas, aderindo às superfícies com as quais foram postas em contato. 1.2) Qualidades essenciais das pastas e argamassas: Resistência mecânica; Durabilidade; Consistência; Plasticidade; Capacidade de retenção de água; Aderência; Resistência ao calor elevado. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 6 1.3) Classificação dos aglomerantes: a) Quanto ao processo de endurecimento, podem ser: Quimicamente inertes endurecem por simples secagem ou resfriamento. Exemplos: Argila e Asfalto. Quimicamente Ativos o endurecimento é decorrente de reações químicas. Exemplos: Cal, Cimento Portland e Gesso. Os aglomerantes quimicamenteativos podem, ainda, ser classificados em: Aglomerantes Aéreos necessitam estar em contato com o ar para que o processo de endurecimento ocorra e não resistem à ação da água depois de endurecidos. Exemplos: Cales aéreas e Gesso. Aglomerantes Hidráulicos o endurecimento ocorre sob a influência exclusiva da água, independentemente do ar e resistem satisfatoriamente à ação da água depois de endurecidos. b) Quanto ao tempo de pega: Pega rápida – menos de 8 minutos; Pega semi-lenta – de 8 a 30 minutos; Pega lenta – de 30 minutos a 6 horas; Pega muito-lenta - mais de 6 horas. c) Podemos classificar os quimicamente ativos conforme a composição: Simples são aqueles que depois de obtidos não recebem adição de nenhum outro produto. Corresponde a apenas um produto. Exemplos: Gesso, cal aérea, cal hidráulica, cimento natural, cimento Portland, cimento aluminoso. Composto mistura de um produto com um sub-produto. Misto mistura de dois produtos, ou seja, mistura de dois ou mais aglomerantes simples. Com Adições mistura de um produto com adições que visam conferir propriedades especiais. Exemplos: Cimento colorido, cimento para alvenaria. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 7 1.4) Propriedades e características físicas: a) Massa específica (D) e massa unitária (d). D (kg/l) d (kg/l) Cimento Portland 3,0 a 3,15 1,12 Cal 2,25 a 2,30 0,48 a 0,64 Gesso 2,55 a 2,60 0,65 a 0,80 Atenção: Onde: Volume total = V = volume de cheios + volume de ar. 1.5) Noções Gerais: Os aglomerantes minerais, quimicamente ativos podem ser empregados, conforme o caso, das seguintes formas: PASTA = aglomerante + água ARGAMASSA = aglomerante + água + agregado miúdo (areia) CONCRETO = aglomerante + água + agregado miúdo + agregado graúdo (brita). Das pastas e argamassas feitas com os aglomerantes minerais visamos as seguintes propriedades: ldimensiona deestabilida lidadeimpermeabi tração à aresistênci astemperatur altas às aresistênci porosidade aderência compressão à aresistênci sendurecida Quando água de retenção deplasticida iaconsistênc pega de início de tempo frescas Quando Massa específica (D) = amostra da cheios de volume amostra da massa Massa unitária (d) = totalvolume amostra da massa Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 8 1.6) Principais empregos das argamassas na construção civil: Chapisco É a primeira camada. É feito com areia grossa e cimento* (1:4 ou 1:5) Tem a função de dar aderência à parede, penetra nos tijolos, fecha poros, uniformiza e dá aspereza a superfície. Deve ser uma mistura bem úmida, lançada (jogada) sobre a parede. Cai muito no chão. Se o chão for revestido dá para recolher, e imediatamente colocar na caixa de mistura. Bater e jogar outra vez com rapidez pois o cimento já está hidratado. Antes da próxima camada (emboço) lançam-se as mestras que são ripas verticais distantes de 1,5 a 2,0 m e que servirão como guias para correr a régua que planificará o emboço. Emboço É a Segunda camada, lançada depois de algumas horas. Serve para regularização geométrica (aplainamento). É no emboço que se acertam as irregularidades das paredes. Revestimento interno: cal e areia. Revestimento externo: mistura bastarda (1 cimento: 4 cal: 12 areia). Reboco É a terceira e última camada – usar areia fina e cal em mistura bem rica (1:3 ou 1:4). Não usar cimento que pode dar trinca (devido à retração), atrapalhando a futura pintura, ou então o cimento pode “vidrar” à superfície. (*) A razão de usar cimento é que este é muito melhor cola que a cal e essa primeira camada é crítica e fundamental. Estudaremos agora, alguns aglomerantes, como por exemplo a cal, o cimento natural, o gesso e o cimento Portland. 1.7 CAL 1.7.1. Introdução Na antigüidade o aglomerante clássico dos elementos de construção foi a cal. Utilizada pelos gregos e romanos pode-se até imaginar que tenha sido descoberta acidentalmente num acampamento onde se acendeu uma fogueira sobre uma rocha calcária, cai uma chuva inesperada e deste modo ocorre a desagregação dos pedaços da rocha, com a produção de vapor de água e de uma pasta branca. Esta pasta ao transcorrer nos dias recupera a dureza e resistência da rocha original. Deste modo ou de uma maneira muito semelhante foi descoberta a argamassa de cal, séculos antes que se conhecesse o processo de obtenção da mesma (calcinação, extinção e recarbonatação), o qual veremos adiante. Atualmente no Brasil, segundo a ABPC (Associação Brasileira dos Produtores de Cal), consome-se, nas pequenas construções 1,1 saco de cal por m2 de construção, ou seja 22 kg/m2 de área construída. Isso dá bem uma dimensão da importância do material que é também empregado na estabilização de solos, em especial os sílticos e argilosos formando o solo-cal, nos processos de obtenção do aço (fundentes), na fabricação de açúcar de cana, na obtenção do vidro, no tratamento de água, na obtenção de papel e em concretos especiais para aumentar a trabalhabilidade. Podemos então, definir cal como sendo o nome genérico de um aglomerante simples, resultante da calcinação de rochas calcárias à temperatura inferior a de início de fusão, cerca de 900oC, suficiente para a dissociação do calcário, produzindo-se óxido de cálcio e gás carbônico. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 9 1.7.2. FLUXO DO PROCESSO PARA OBTENÇÃO DA CAL: Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 10 CALCINAÇÃO: 2 ou virgem vivacal C)900 ( forno calcárea rocha 3 COCaOCaCO o VEJA A ILUSTRAÇÃO ABAIXO: O produto obtido desta calcinação, chamado cal viva ou cal virgem, ainda não é o aglomerante, contém predominantemente óxido de cálcio, exibe estrutura porosa e formatos idênticos aos grãos da rocha original, porém, com menor volume, devido a perda de CO2. Definição de Cal Virgem ou Cal Viva: Cal obtida no processo de calcinação da qual o constituinte principal é o óxido de cálcio ou óxido de cálcio em associação natural com o óxido de magnésio, capaz de reagir com a água. Em função dos teores de seus constituintes pode ser classificada como cálcica, dolomítica ou magnesiana, conforme tabela 1: Tabela 1: Classificação da cal virgem (NBR 6453/1988)1 Classificação % de CaO em relação aos óxidos totais Cálcica 90 Magnesiana 65 a 90 Dolomítica 65 1 NBR 6453/1988 – CAL VIRGEM PARA CONSTRUÇÃO – ESPECIFICAÇÃO. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 11 Para a obtenção do aglomerante é necessário que a cal viva seja hidratada ou extinta. O óxido hidratado transforma-se em hidróxido, que é o constituinte básico do aglomerante cal. A operação de hidratação recebe o nome de extinção, e o hidróxido resultante denomina-se cal extinta ou cal hidratada. EXTINÇÃO: 22 hidratada ou extinta cal 22 virgem ou viva cal Ca(OH) de74gOHde18gCaOde56g Ca(OH) OH CaO calor VEJA A ILUSTRAÇÃO ABAIXO: O produto obtido no processode extinção da cal virgem é a cal hidratada, que é definida segundo a NBR 7175/1992 – CAL HIDRATADA PARA ARGAMASSAS, como: Pó seco obtido pela hidratação de cal virgem, constituída essencialmente de hidróxido de cálcio ou de uma mistura de hidróxido de cálcio com hidróxido de magnésio, ou ainda, de uma mistura de hidróxido de cálcio, hidróxido de magnésio e óxido de magnésio. A cal hidratada apresenta-se sob a forma de flocos ou pó de cor branca. Pode ser vendida e entregue a granel, em contêiner ou ensacada. A massa líquida de cada saco pode ser de 8, 20, 25 ou 40 kg. Conforme os teores de óxidos não hidratados e de carbonatos, indicados na tabela 2, A cal hidratada é designada por: CH-I – cal hidratada especial CH-II – cal hidratada comum CH-III – cal hidratada comum com carbonatos Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 12 Tabela 2: Exigências Químicas (NBR 7175/1992)2 Compostos Limites CH-I CH-II CH-III Anidrido carbônico (CO2) Na fábrica 5% 5% 13% No depósito ou na obra 7% 7% 15% Óxido não-hidratado calculado 10% Não exigido 15% Óxidos totais na base de não voláteis (CaO + MgO) 88% 88% 88% A reação de extinção se processa com forte desprendimento de calor (reação exotérmica) e grande aumento de volume. A extinção da cal cálcica, usualmente gorda, é muito violenta, podendo ocorrer a queima devido à grande elevação na temperatura, a qual pode atingir C400 o . Essa elevação tem provocado incêndios em vagões, silos, barracões de madeira, nos quais a cal virgem se hidratou em contato com a água, geralmente da chuva ou da umidade do ar. A cal gorda, na extinção aumenta cerca de 3 vezes o seu volume inicial. De acordo com o tempo de extinção, as cales podem ser classificadas em: extinção rápida: tempo 5 minutos; extinção média: tempo de 5 a 30 minutos; extinção lenta: tempo > 30 minutos. Para o processo de extinção rápida, é necessário que a cal seja colocada na água, nunca o inverso. 2 NBR 7175/1992 – CAL HIDRATADA PARA ARGAMASSAS - ESPECIFICAÇÃO Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 13 1.7.3 IMPUREZAS: Os calcários contém impurezas, tais como: Sílica - SiO2 (S) Alumina – Al2O3 (A) Ferro – Fe2O3 (F) Magnésio – (MgO) São denominadas impurezas argilosas a sílica, a alumina e o ferro. A variação dos teores destas impurezas do calcário alteram substancialmente as características dos aglomerantes obtidos. Quanto ao % de componentes argilosos a cal será considerada: cal aérea ou cal hidráulica. 32322 OFeOAl%SiO % Hidráulica Cal denominada será cal a 10% for se AéreaCal denominada será cal a 10% for se As cales podem ainda ser classificadas sob dois aspectos, segundo o autor Falcão Bauer em seu livro “Materiais de Construção”: a) Segundo a composição química MgO de 20% de mais :smagnesiana CaO de 75% de mais :cálcicas b) Segundo o rendimento em pasta toneladam 1,82 R :magras toneladam 1,82 R:gordas 3 3 / / Nota: Entende-se por rendimento em pasta o valor do volume de pasta de cal obtida com uma tonelada de cal viva. Essa pasta é uma suspensão do tipo coloidal, que se obtém na operação de extinção da cal viva. Para todos os efeitos, a pasta de cal pode ser considerada como o aglomerante realmente utilizado em construção. Do ponto de vista econômico, é primordial o conhecimento do rendimento em pasta, porque o produto comprado é a cal viva e o produto utilizado, a pasta de cal. Se o rendimento em pasta for maior que 1,82, a cal será denominada gorda, e se for inferior a esse valor, magra. Esse rendimento-limite corresponde ao rendimento de 1,82 m3 de pasta para uma tonelada de cal viva (550 kg de cal viva para 1 m3 de pasta). A cal é gorda quando são necessários 550 kg de cal viva para obter 1m3 de pasta, e a cal é dita magra quando são necessários mais de 550kg de cal viva para obter 1m3 de pasta. A cal gorda dá origem a uma pasta plástica e homogênea. Já a cal magra origina pasta terrosa e grumosa. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 14 De um modo geral, a cal magnesiana é magra. Observa-se, entretanto, que outros fatores, como a presença de impurezas, supercozimento ou subcozimento, têm maior influência no rendimento da cal. A cal extinta é utilizada em misturas com água e areia, em proporções apropriadas, na elaboração de argamassas. Estas têm consistência mais ou menos plástica, e endurecem por recombinação do hidróxido com o gás carbônico presente na atmosfera, reconstituindo o carbonato original, cujos cristais ligam de maneira permanente os grãos de agregado utilizado. Esse endurecimento ocorre com lentidão e ocorre, evidentemente, de fora para dentro, exigindo uma certa porosidade que permita, de um lado, a evaporação da água em excesso e, de outro, a penetração do gás carbônico do ar atmosférico. O mecanismo do endurecimento, que depende do ar atmosférico, explica o nome dado a esse aglomerante – cal aérea – que se opõe ao nome de outra variedade – cal hidráulica – que endurece principalmente por ação da água. A carbonatação da cal aérea é acompanhada de um aumento de volume. Devido a essa expansão, deve-se utilizar argamassas de cal aérea com areia, diminuindo assim a retração que se processa com a perda d’água, aumentando a porosidade, conseqüentemente, facilitando a penetração do CO2. Não se deve utilizar argamassas com muita cal e nem camadas muito espessas. 1.7.4 Formas de Endurecimento: a) Cal Aérea: Reação de Recarbonatação OH CaCO OH Ca(OH) 23(ar)CO22 2 Essa reação ocorre na temperatura ambiente e exige a presença de água, a qual funciona como agente catalisador. Verificou-se que o gás carbônico seco não combina satisfatoriamente com o hidróxido. O processo é lento, podendo, entretanto, ser acelerado pelo aumento da proporção de gás carbônico presente na atmosfera. O resultado, porém, não é satisfatório, uma vez que tal aceleração conduz ao desenvolvimento insuficiente dos cristais de carbonatos, que resulta no enfraquecimento final do produto. O endurecimento da cal aérea somente ocorre na presença do ar. Porém, depois de endurecida, se colocada em contato com água, dissolve- se aos poucos. b) Cal Hidráulica: cálcio. de aluminatos e silicatos de hidratação OH Ca(OH) 22 Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 15 O endurecimento da cal hidráulica se faz decorrente da hidratação de silicatos e aluminatos formados pela combinação de moléculas de CaO com os componentes argilosos. Após endurecida se for submetida ao contato com água não se dissolve. 1.7.5 Cal Aérea A cal aérea é obtida pela calcinação de rochas calcárias que tenham teores de componentes argilosos inferiores a 10%, sendo necessária a extinção para a obtenção do aglomerante. Por ser um aglomerante aéreo necessita estar em contato com o ar para que o processo de endurecimento ocorra. 1.7.5.1 Aplicação da Cal Aérea: Fabricação de argamassa Preparo de tintas Indústria química e cerâmica Estabilidade de solos Nota: As natas de cal são utilizadas em revestimentos e pinturas. 1.7.5.2 Características: Massa específica: 2,25 a 2,30 kg/l; Massa unitária: 0,48 a 0,60 kg/l. 1.7.6. Cal Hidráulica A cal hidráulica é obtida pela calcinaçãode rochas calcárias que tenham teores de componentes argilosos superiores a 10%. A cal hidráulica se caracteriza pelo fato de endurecer pela ação da água, sem necessitar da intervenção do ar, e de resistir satisfatoriamente quando em contato com água. Sua pega é muito lenta o que a torna mais adequada a emprego de menor responsabilidade, principalmente em misturas denominadas cimentos de alvenaria. Assim como a cal aérea, a cal hidráulica também necessita da extinção para a obtenção final do aglomerante. Ao ser utilizada como aglomerante, a cal hidráulica é misturada com água, e o endurecimento da pasta resulta de dois tipos de reação, o hidróxido de cálcio livre combina-se com o CO2 do ar, e os compostos de cal e argila hidratam-se, formando produtos insolúveis, que colocam o aglomerante na classe dos hidráulicos. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 16 1.7.6.1 Classificação e Propriedade: Quanto maior o percentual de componentes argilosos presentes no calcário de origem maior será a hidraulicidade da cal e melhor serão as suas características mecânicas. A hidraulicidade de uma cal é dada por: %CaO OFe%O Al% SiO % I.H 32322 onde I.H.= índice de hidraulicidade. 1.7.6.2 Aplicações: A cal hidráulica não é empregada no Brasil. I.H. % Componentes Argilosos Classificação Resistência à Compressão (kg/cm2) 0,16 a 0,31 10 - 15 Medianamente hidráulica 15 0,31 a 0,42 15 - 19 Hidráulica 40 0,42 a 0,50 19 – 22 Fortemente hidráulica 80 Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 17 1.7.7. Recapitulando (Cal) CaCO3 Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 18 1.7.8. Normas Relacionadas à Cal: DESCRIÇÃO DA NORMA NÚMERO ATUALIZAÇÃO Cal - Determinação do resíduo de extinção NBR6472 (orig. MB341) 7/6/1993 Cal hidratada para argamassas NBR7175 (orig. EB153) 7/6/1992 Cal hidratada para argamassas – Determinação da água da pasta de consistência normal NBR14399 30/11/1999 Cal hidratada para argamassas - Determinação da capacidade de incorporação de areia no plastômero de Voss NBR9207 (orig. MB2333) 31/3/2000 Cal hidratada para argamassas - Determinação da estabilidade NBR9205 (orig. MB2331) 12/1985 Cal hidratada para argamassas – Determinação da finura - "A SER REIMPRESSA, INCORPORANDO EMENDA Nº 1 DE 07/2000 (1 PÁGINA) NBR9289 (orig. MB2351) 31/7/2000 Cal hidratada para argamassas - Determinação da plasticidade NBR9206 (orig. MB2332) 12/1985 Cal hidratada para argamassas - Determinação de retenção de água NBR9290 (orig. MB2352) 30/4/1996 Cal virgem - Determinação do tempo de extinção NBR10791 (orig. MB3058) 11/1989 Cal virgem e cal hidratada - Análise química NBR6473 (orig. MB342) 7/5/1996 Cal virgem e cal hidratada – Retirada e preparação de amostra – Procedimento NBR6471 (orig. MB266) 19/2/1998 Cal virgem e cal hidratada para tratamento de água de abastecimento público – Determinação de óxido e hidróxido de magnésio NBR13294 28/4/1995 Cal virgem para aciaria NBR9551 (orig. EB1689) 9/1986 Cal virgem para aciaria – Determinação da granulometria NBR9552 (orig. MB2508) 9/1986 Cal virgem para aciaria – Determinação da reatividade pelo método Wührer NBR8815 (orig. MB2146) 1/1989 Cal virgem para aciaria – Determinação de anidrido carbônico por gasometria NBR9553 (orig. MB2509) 9/1986 Cal virgem para aciaria – Determinação de enxofre NBR9099 (orig. MB2297) 10/1985 Cal virgem para aciaria – Determinação de fósforo por colorimetria NBR9554 (orig. MB2510) 9/1986 Cal virgem para aciaria – Determinação de perda ao fogo, anidrido silícico mais resíduo insolúvel, óxido de cálcio e óxido de magnésio NBR8816 (orig. MB2147) 4/1985 Cal virgem para aciaria – Determinação do anidrido carbônico NBR9166 (orig. MB2335) 12/1985 Cal virgem para construção NBR6453 (orig. EB172) 7/1988 Extintor de cal NBR12805 26/2/1993 Materiais pozolânicos – Determinação de atividade pozolânica - Indice de atividade pozolânica com cal NBR5751 (orig. MB960) 7/6/1992 Preparação de amostras de cal virgem para aciaria - Análise química e reatividade NBR9169 (orig. NB968) 12/1985 Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 19 Perguntas e Respostas: 1) Descreva o processo de obtenção da cal. A cal é um produto obtido pela calcinação (queima) de rochas calcárias, compostas por carbonato de cálcio e magnésio. Após a rocha ser devidamente analisada e moída, obedecendo às exigências químicas e físicas, esta é enviada a fornos com altíssimas temperaturas para ser calcinada (o que promove a retirada do gás carbônico). O produto resultante deste processo é denominado CAL VIRGEM (ou cal viva) e não apresenta propriedades aglomerantes.Para obtermos o aglomerante cal (hidróxido de cálcio), é necessário que a cal virgem seja hidratada (extinta), reação esta que é resultante da adição de água à cal virgem. Somente após o processo de moagem e separação de acordo com a granulometria, é que a cal estará pronta para ser utilizada. 2) O que é cal viva? É o nome que se dá ao produto obtido da calcinação da rocha calcária. Ainda não é o aglomerante, contém predominantemente óxido de cálcio, e exibe estrutura porosa e formato idêntico aos grãos da rocha original, porém, com menor volume, devido à perda de CO2. 3) Por que a cal viva não necessita de moagem para tornar-se material pulverulento? Porque durante a reação de extinção ou hidratação a cal viva já se pulveriza. 4) Qual a diferença entre cal aérea e cal hidráulica? Cal aérea – aglomerante aéreo, necessita estar em contato com o ar para que o processo de endurecimento ocorra (não resistem bem a ação da água). Cal hidráulica – aglomerante hidráulico, seu endurecimento se dá sob a influência exclusiva da água, independente do ar, e resistem satisfatoriamente a ação da água depois de endurecidos. 5) Cite 5 qualidades essenciais das pastas e argamassas feitas com cal e cimento. Aumento da retenção de água e da capacidade de incorporação da areia; reconstituição autógena (existe por si mesma) das fissuras; plasticidade; maior trabalhabilidade do que as argamassas preparadas somente com cimento; raras eflorescências. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 20 6) Quais as diferenças entre os produtos denominados cal hidráulica e cal hidratada? A cal hidráulica é um produto obtido pela calcinação de rochas calcárias que tenham teores de impurezas argilosos superiores a 10%, conferindo a esta a característica de endurecimento pela ação da água, sem necessitar da intervenção do ar. Já a cal hidratada é o produto resultante da hidratação (extinção) da cal viva.A partir desta hidratação obtemos o aglomerante cal que, dependendo do teor de impurezas argilosas, será classificado em cal aérea ou cal hidráulica. 7) Por que as cales obtidas de calcários com teores mais elevados de impurezas argilosas são mais resistentes do que aquelas obtidas de calcários puros? Quanto maior o teor de impurezas argilosas, maior será a quantidade de silicatos e aluminatos presentes nesta cal, aumentando assim a hidraulicidade e a resistência mecânica desta cal. 8) Escreva, resumidamente o quesabe sobre a cal dentro dos seguintes tópicos: obtenção, reação de endurecimento e classificação. Obtenção – a cal é um produto obtido pela calcinação (queima) de rochas calcárias, compostas por carbonato de cálcio e magnésio. A partir desta calcinação obtemos a cal virgem, produto este que ainda não é o aglomerante. É necessário, então, que seja feita a hidratação da cal virgem, formando-se assim a cal hidratada, que apresenta propriedades aglomerantes. Endurecimento – a reação de endurecimento da cal dependerá do teor de impurezas argilosas presentes nesta, pois, dependendo desta quantidade, a cal será classificada em aérea ou hidráulica. A cal aérea apresenta menos de 10% de impurezas argilosas, e seu endurecimento se dá sob a ação do ar (a água que se encontra presente na reação funciona como agente catalisador). A reação de endurecimento da cal hidráulica se faz decorrente da hidratação de silicatos e aluminatos formados pela combinação de moléculas de CaO com os componentes argilosos. Classificação – as cales podem ser classificadas sob três aspectos: a)Quanto ao teor de componentes argilosos: - ∑(%SiO2 + %Al2O3 + %Fe2O3) < 10% → a cal será denominada Cal Aérea. - ∑(%SiO2 + %Al2O3 + %Fe2O3) > 10% → a cal será denominada Cal Hidráulica. b)Segundo a composição química: - Cálcicas: possuem mais de 75% de CaO. - Magnesianas: possuem mais de 20% de MgO. c)Segundo o rendimento em pasta: - Gordas: apresentam rendimento ≥1,82m3 / tonelada. - Magras: apresentam rendimento ≤ 1,82m3 / tonelada. 9) Como se processa o endurecimento da cal aérea? O endurecimento da cal aérea ocorre com lentidão, uma vez que tal processo se dá de fora para dentro da massa, exigindo uma certa porosidade que permita, de um lado, a evaporação da água em excesso e, de outro, a penetração do gás carbônico presente no ar atmosférico. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 21 Leitura Complementar: Como preparar argamassa de qualidade? “O maior equívoco cometido na preparação da argamassa é a adição de quantidades inadequadas de areia, aponta um especialista norte-americano, que indica também a fórmula que considera ideal para a mistura obter o melhor resultado nas obras civis, utilizando a cal”. John P. Speweit exalta as virtudes que a cal acrescenta à argamassa: aumento da retenção de água e da capacidade de incorporação da areia, reconstituição autógena (que existe por si mesma) das fissuras, plasticidade, melhor trabalhabilidade, raras eflorescências e outras. Para a obtenção dos melhores resultados nas obras, ele indica os ingredientes e a forma de preparo de argamassa Cimento Portland / Cal: a) Cimento Portland tipo I, definido pela norma ABNT – NBR 5732; b) Tipo S ou AS de cal hidratada, conforme definições contidas na norma brasileira ABNT – NBR 7175; c) Areia levemente úmida, limpa e frouxa, conforme determina a norma brasileira NBR 7214; d) Água com qualidade de água potável. O principal equívoco cometido na preparação da argamassa cimento-cal é a adição de quantidades inadequadas de areia. Esta falha causa não só problema de longevidade, como também de trabalhabilidade e ainda cria a possibilidade do surgimento de fissuras durante o processo de endurecimento da argamassa. Para garantir a consistência desejada é preciso medir corretamente o volume de areia. Se não houver uma caçamba de exatamente 1 metro cúbico, pode-se usar uma lata ou balde de 5 galões de capacidade (3,7853 litros). Cinco medidas de 1,5 galão (5,67 litros) equivalem a 1 pé cúbico. A areia deve ser medida na condição frouxa e levemente úmida. Para se obter argamassa de qualidade e trabalhabilidades ótimas é preciso seguir as seguintes etapas na preparação da argamassa cimento-cal: 1) Colocar 75% da água total recomendada; 2) Adicionar 50% da areia; 3) Adicionar toda a cal hidratada recomendada; 4) Proceder a mistura, sob agitação, por 2 minutos; 5) Adicionar todo o cimento Portland; 6) Adicionar os 50% restantes da areia; 7) Adicionar água suficiente para dar à argamassa a consistência para a trabalhabilidade desejada; 8) Proceder a mistura por 5 minutos completos. O texto acima foi retirado do Jornal da Cal / Dezembro de 1998, no 69 ABPC – Associação Brasileira dos Produtores de Cal. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 22 1.8 Cimento Natural Aumentando-se o teor de componentes argilosos no calcário de origem, aumenta-se a hidraulicidade e diminui-se a cal livre. A existência de cal livre é que provoca, na extinção, a pulverização do aglomerante. No caso dos cimentos naturais já se torna necessário a moagem para reduzir o tamanho das partículas. Pode-se assim definir o cimento natural como sendo: “Produto do cozimento de calcários argilosos, seguido de moagem até tornar-se um material pulverulento. O cimento natural difere- se da cal hidráulica por não conter CaO livre, estando este combinado com os componentes argilosos”. Não tendo o calcário uma composição uniforme, o cimento natural apresenta valores variáveis. De um mesmo calcário pode ser fabricado um cimento natural de pega lenta, semi-lenta ou rápida dependendo da temperatura no cozimento. Se a temperatura for menor que 1000oC (inferior ao início da fusão), o cimento natural será de PEGA RÁPIDA (IH varia de 0,6 a 0,8). Se a temperatura for aproximadamente 1450oC (início de fusão), o cimento natural será de PEGA LENTA ou SEMI-LENTA. Na prática, a relação entre os componentes argilosos e a cal, para os cimentos naturais de pega lenta, varia de 0,5 a 0,65, devendo preferir-se os valores mais próximos do limite superior, para, considerando a possibilidade de qualquer heterogeneidade no calcário, evitar a cal livre. No Brasil não é fabricado o cimento natural. 1.9 GESSO 1.9.1. Definição: Gesso é um aglomerante aéreo obtido pela desidratação total ou parcial da gipsita. A gipsita natural é constituída de sulfato biidratado de cálcio (CaSO4 . 2 H2O) geralmente acompanhado de uma certa proporção de impurezas, como sílica, alumina, óxido de ferro, carbonatos de cálcio e magnésio. O total das impurezas varia desde uma proporção muito pequena até um limite máximo de cerca de 6% . A massa específica da gipsita varia de 2,31 a 2,33 g/cm3, é abundante na natureza e as maiores reservas brasileiras de gipsita encontram-se no nordeste do país. O principal emprego da gipsita natural ou crua é na fabricação de cimento Portland, que veremos mais adiante. Em segundo lugar vem seu uso como corretivo de solos alcalinos. A gipsita calcinada é intensamente utilizada pela indústria de construção civil. Ao ser calcinada em temperatura adequada ela perde parte da água de cristalização, obtendo-se o produto geralmente conhecido como gesso. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 23 1.9.2. Fases da desidratação da gipsita por calcinação: A desidratação da gipsita por calcinação, dentro do limite das temperaturas e pressões correntes na operação de cozimento, conduz à formação dos seguintes sulfatos: a) Temperatura ambiente CaSO4 . 2 H2O. b) 120oC a 180oC A gipsita perde 1 ½ molécula de água, passando de diidrato (CaSO4 .2 H2O) a hemi-hidrato (CaSO4 . ½ H2O). Nesta forma é conhecida como Gesso de Paris, Gesso de Estuque ou Gesso Rápido, sendo amplamente utilizada na construção civil. c) 180oC a 300oC CaSO4 = Anidrita solúvel (é ávida de água, transformando-se rapidamente em hemi-hidrato). d) 300oC a 600oC CaSO4 = Anidrita Insolúvel (não é suscetível a reidratação rápida, sendo praticamente inerte, e, por esse fato, participa do conjunto comomaterial de enchimento, como a areia na argamassa. e) 900oC a 1000oC CaO + SO3 – decomposição parcial. Denomina-se gesso hidráulico, apresentando endurecimento lento e sendo utilizado em pavimentação. Nota: Os hemi-hidratos e a anidrita solúvel quando colocados em presença de água, em temperatura adequada, retornam rapidamente a sulfato biidratado original. Essa combinação faz-se com a produção de uma fina malha cristalizada, interpenetrada, responsável pela coesão do conjunto. Tal fenômeno, conhecido por “pega do gesso”, é seguido de uma elevação de temperatura (reação exotérmica). 1.9.3. Propriedades: O gesso é vendido em nosso mercado sob a forma de um pó branco, de elevada finura, em sacos de 50 a 60 kg , podendo também receber o nome de “estuque” ou “gesso-molde”. Sua densidade aparente varia de 0,70 a 1,0, diminuindo com o grau de finura. Sua densidade absoluta é aproximadamente de 2,7. Suas propriedades são: a) Pega: A velocidade de endurecimento das massas de gesso depende dos seguintes fatores: temperatura e tempo de calcinação; finura; quantidade de água de amassamento e presença de impurezas ou aditivos. A calcinação realizada em temperaturas mais elevadas ou durante tempo mais longo conduz à produção de material de pega mais lenta, porém de maior resistência. O gesso de Paris, que é constituído de semi-hidrato puro, dá pega em poucos minutos; gessos obtidos em segunda cozedura, constituídos principalmente de sulfato-anidro podem ter pega tão lenta quanto se desejar. Material supercozido, com predominância de anidro insolúvel, não dá pega, é sem valor aglutinante. Gessos de elevada finura dão pega mais rápida e atingem maiores resistências, em razão do aumento da superfície específica, disponível para a hidratação. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 24 A quantidade de água de amassamento influencia negativamente o fenômeno da pega e do endurecimento, que por deficiência, quer por excesso. A quantidade ideal se aproxima da quantidade teórica de água necessária à hidratação (18,6%). O semi-hidrato puro, gesso de Paris, dá pega tão rapidamente, entre 2 a 5 minutos, que é virtualmente inútil como material de construção, pois endurece antes que possa ser trabalhado. A presença de impurezas, que naturalmente ocorre na gipsita original, diminui muito a velocidade de endurecimento. Pode-se também reduzir o tempo de pega mediante o emprego de aditivos apropriados, como retardadores, cola, serragem fina de madeira,... Tais produtos retardam a hidratação por interferência mecânica, formando membranas protetoras intergranulares. No entanto, outras substâncias como o sal de cozinha ou mesmo o gesso hidratado, são aceleradores de pega. b) Resistência Mecânica: As pastas de gesso, depois de endurecidas, atingem resistência à tração entre 0,7 e 3,5 MPa e à compressão entre 5 e 15 MPa. As argamassas com proporção exagerada de areia alcançam resistência à tração e à compressão muito inferiores à estas. c) Aderência: As pastas e argamassas de gesso aderem muito bem ao tijolo, pedra e ferro, e aderem mal às superfícies de madeira. A aderência ferro-gesso, embora traduza uma compatibilidade físico-química entre os dois materiais, tem, infelizmente o defeito de ser instável, permitindo a corrosão do metal. Não se pode fazer gesso armado como se faz cimento armado. No entanto, a estabilidade é alcançada quando se faz armadura com ferro galvanizado. d) Isolamento: As pastas endurecidas de gesso possuem excelentes propriedades de isolamento térmico, isolamento acústico e impermeabilidade ao ar. Sua condutibilidade térmica é muito baixa, cerca de 1/3 do valor para o tijolo comum. Os revestimentos feitos com gesso possuem considerável resistência ao fogo. A água de cristalização é eliminada pelo calor, reduzindo o material superficial à condição de pó, que não sendo removido, atua como isolador que protege a camada interior de gesso. 1.9.4. Fabricação: A calcinação da gipsita, atualmente, pode ser feita em fornos de marmita ou em fornos rotativos. No processo da marmita, a gipsita pulverizada é aquecida dentro de um grande recipiente com capacidade variável entre 10 e 20 toneladas. O material é agitado e aquecido por fogo indireto. Entre 100 e 110oC, a umidade superficial é eliminada, ocorrendo a desidratação entre 120 e 150oC. A água de hidratação é eliminada sob a forma de vapor, com uma agitação violenta que se assemelha à fervura. Esta continua até que a desidratação de 1 e ½ molécula de água se complete, ocasião em que o material entra em repouso. O gesso, neste estágio de produção, é denominado de primeira cozedura e se constitui principalmente de semi-hidratos. Dando continuidade ao processo mediante a elevação das temperaturas até 190 ou 220oC, eliminar-se-á o restante da água de hidratação, observando-se nova fervura no cozimento. O material assim produzido, constituído quase que exclusivamente de sulfato-anidro solúvel, será de pega mais rápida. Observa-se que o gesso de primeira cozedura pode adquirir qualidades semelhantes às do de segunda cozedura, por meio do processo de envelhecimento ao ar atmosférico. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 25 O processo mais moderno de produção de gesso utiliza fornos rotativos para a calcinação da gipsita. Uma variedade bem conhecida do gesso de acabamento é o chamado cimento Keene. Esse gesso é produzido por calcinação dupla de gipsita muito pura. Após a primeira calcinação em temperatura elevada, o sulfato-anidro resultante é imerso numa solução de 10% de alúmen, depois é recalcinado e, finalmente, pulverizado num moinho de bola. O cimento Keene é branco industrialmente, e é sobretudo utilizado para a junção de lajes e painéis murais, como o mármore artificial e para aplicações especiais. 1.9.5. Utilização do Gesso de Paris: a) Argamassa para reboco (revestimento) na proporção: 1 gesso: 1 cal: 4 areia (volume); b) Rebaixamento de tetos; c) Blocos para paredes divisórias d) Painéis de paredes pré fabricados; e) Corpos ocos para lajes. Notas: 1) O gesso não serve para aplicações exteriores devido ao fato de se deteriorar em conseqüência da solubilização na água. 2) Para o preparo de argamassas de gesso para revestimento são necessários gessos que tenham tempo de pega lento e que sejam de endurecimento rápido. Para retardar o tempo de pega do gesso pode-se adicionar cal. 1.9.6. Normas Relacionadas ao Gesso: DESCRIÇÃO DA NORMA NÚMERO ATUALIZAÇÃO Gesso para construção - Determinação da água livre e de cristalização e teores de óxido de cálcio e anidrido sulfúrico NBR12130 (orig. MB3471) 29/11/1991 Gesso para construção - Determinação das propriedades físicas da pasta NBR12128 (orig. MB3469) 29/11/1991 Gesso para construção - Determinação das propriedades físicas do pó NBR12127 (orig. MB3468) 29/11/1991 Gesso para construção - Determinação das propriedades mecânicas NBR12129 (orig. MB3470) 29/11/1991 Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 26 Gesso para construção civil NBR13207 31/10/1994 Placas lisas de gesso para forro - Determinação das dimensões e propriedades físicas NBR12775 30/12/1992 Revestimento interno de paredes e tetos com pastas de gesso - Materiais, preparo, aplicação e acabamento NBR13867 30/5/1997 Perguntas e Respostas: 1) Quais as principais propriedades do gesso? O gesso é um aglomerante aéreo obtido pela desidratação total ou parcial da gipsita. As principais propriedades do gesso são: - Pega → a velocidade de endurecimento depende de vários fatores, como: temperaturae tempo de calcinação, finura, quantidade de água de amassamento e presença de impurezas e aditivos. - Resistência Mecânica → tração: entre 0,7 e 3,5 MPa e Compressão: entre 5,0 e 15,0 MPa. - Aderência → aderem muito bem ao tijolo, pedra e ferro, e aderem mal às superfícies de madeira. - Isolamento → possuem excelentes propriedades de isolamento térmico, acústico e impermeabilidade ao ar. 2) Quais as características que conferem ao gesso sua excelente propriedade de proteção contra o fogo? O gesso apresenta elevada resistência ao fogo devido à água de cristalização. Ao atingir a temperatura de 120˚C parte da água de cristalização se liberta, formando um “ véu de vapor” impedindo que a temperatura junto ao revestimento ultrapasse os 100˚C. A água de cristalização restante é libertada a uma temperatura em torno de 180˚C, reforçando assim o “véu de vapor”. 3) Cite as principais utilizações do gesso na construção civil. É utilizado na fabricação de argamassas, rebaixo de tetos, blocos para paredes divisórias, painéis de paredes pré-fabricadas, corpos ocos para lajes, entre outros. 4) A velocidade de endurecimento das pastas e argamassas de gesso depende de que fatores? A pega do gesso depende da temperatura e tempo de calcinação, finura, quantidade de água de amassamento e presença de impurezas e aditivos. 5) Em poucas palavras, escreva sobre o aglomerante gesso, dentro dos seguintes itens: obtenção, reação de endurecimento, propriedades e utilização. Obtenção: o gesso é obtido através da desidratação total ou parcial da gipsita ( CaSO4 . 2H2O). Reação de Endurecimento: misturado à água, o gesso rapidamente recupera as moléculas de água perdidas na sua fase de obtenção. A massa endurecida não resiste a ação da água. Propriedades: tempo de pega, aderência, resistência mecânica e isolamento. Utilização: o gesso é largamente utilizado na construção civil para diversos fins (ver questão 3). Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 27 6) Qual o principal emprego da gipsita crua? A gipsita crua é utilizada na fabricação do Cimento Portland e como corretivo de solos. 7) Qual a fórmula química da gipsita natural? CaSO4 . 2H2O (sulfato de cálcio biidratado). 8) O gesso serve para revestir área externa? Por quê? Não, pois se tratando de um aglomerante aéreo, não resiste à ação da água. 9) Qual artifício pode ser usado para retardar o tempo de pega das argamassas de gesso? São vários os artifícios que podem ser utilizados, dentre os quais citamos: presença de impurezas, adição de cal, ou emprego de aditivos apropriados como retardadores, cola, serragem fina de madeira entre outros. 1.10 Cimento Portland 1.10.1 A história do cimento: A procura por segurança e durabilidade para as edificações conduziu o homem à experimentação de diversos materiais aglomerantes. Os romanos chamavam esses materiais de “caementum”, termo que originou a palavra cimento. O engenheiro John Smeaton, por volta de 1756, procurava um aglomerante que endurecesse mesmo em presença de água, de modo a facilitar o trabalho de reconstrução do farol de Edystone, na Inglaterra. Em suas tentativas, verificou que uma mistura calcinada de calcário e argila tornava-se, depois de seca, tão resistente quanto as pedras utilizadas nas construções. Coube, entretanto, a um pedreiro, Joseph Aspdin, em 1824, patentear a descoberta, batizando- a de cimento Portland, numa referência à Portlandstone, tipo de pedra arenosa muito usada em construções na região de Portland, Inglaterra. Poucos anos antes, na França, o engenheiro e pesquisador Louis Vicat publicou o resultado de suas experiências contendo a teoria básica para produção e emprego de um novo tipo de aglomerante: o cimento artificial. Aquele produto, no entanto, exceto pelos princípios básicos, estava longe do cimento Portland que atualmente se conhece, resultante de pesquisas que determinam as proporções adequadas da mistura, o teor de seus componentes, o tratamento térmico requerido e a natureza química dos materiais. O cimento Portland desencadeou uma verdadeira revolução na construção, pelo conjunto inédito de suas propriedades de moldabilidade, hidraulicidade (endurecer tanto na presença da ar como da água), elevadas resistências aos esforços e por ser obtido a partir de matérias- primas relativamente abundantes e disponíveis na natureza. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 28 A criatividade de arquitetos e projetistas, a precisão dos modernos métodos de cálculo e a genialidade dos construtores impulsionaram o avanço das tecnologias de cimento e de concreto, possibilitando ao homem transformar o meio em que vive, conforme suas necessidades. A importância deste material cresceu em escala geométrica, a partir do concreto simples, passando ao concreto armado e, finalmente, ao concreto protendido. A descoberta de novos aditivos, como a microssílica, possibilitou a obtenção de concreto de alto desempenho (CAD), com resistência à compressão até 10 vezes superiores às até então admitidas nos cálculos das estruturas. Obras cada vez mais arrojadas e indispensáveis (barragens, pontes, viadutos, edifícios, estações de tratamento de água, rodovias, portos e aeroportos), que propiciam conforto, bem- estar e o contínuo surgimento de novos produtos e aplicações, fazem do cimento um dos produtos mais consumidos da atualidade, conferindo uma dimensão estratégica à sua produção e comercialização. A fabricação do cimento portland é feita de acordo com as especificações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), existindo, atualmente, no mercado brasileiro as seguintes variedades comerciais: CIMENTO PORTLAND VARIEDADES COMERCIAIS NORMAS DA ABNT 1- Comum (CP I e CP I-S) classes 25, 32 e 40 NBR 5732 (EB – 1 / 91) 2- Composto (CP II-E, CP II-Z e CP II-F) classes 25, 32 e 40 NBR 11578 (EB – 2138 / 91) 3- Alto Forno (CP III) classes 25, 32 e 40 NBR 5735 (EB – 208 / 91) 4- Pozolânico (CP IV) NBR 5736 (EB – 758 / 91) 5- Alta Resistência Inicial (CP V) NBR 5733 (EB – 2 / 91) 6- Resistência à sulfatos NBR 5737 (EB – 903 / 91) 7- Especiais 8- Branco, Tipo G 1.10.2. Composição do Cimento Portland: O cimento portland é composto de clínquer e de adições. O clínquer é o principal componente e está presente em todos os tipos de cimento portland. As adições podem variar de um tipo de cimento para outro e são principalmente elas que definem os diferentes tipos de cimento. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 29 1.10.2.1. ) Clínquer: O clínquer tem como matérias-primas o calcário e a argila, ambos obtidos de jazidas em geral situadas nas proximidades das fábricas de cimento (veja a ilustração abaixo). A rocha calcária é primeiramente britada, depois moída e em seguida misturada, em proporções adequadas, com argila moída. A mistura formada atravessa então um forno giratório de grande diâmetro e comprimento, cuja temperatura interna chega a alcançar 1450oC. O intenso calor transforma a mistura em um novo material, denominado clínquer, que se apresenta sob a forma de pelotas. Na saída do forno o clínquer, ainda incandescente, é bruscamente resfriado e finamente moído, transformando-se em pó. O clínquer em pó tem a peculiaridade de desenvolver uma reação química em presença de água, na qual ele, primeiramente torna-se pastoso e, em seguida, endurece, adquirindo elevada resistência e durabilidade. Essa característica adquirida pelo clínquer, que faz dele um ligante hidráulico muito resistente, é sua propriedade mais importante. Fabricação do clínquer portland: Como já foi dito, as matérias-primasprincipais para a produção do clínquer são a rocha calcária e a argila que apresentam as seguintes características: CALCÁRIO O calcário é o carbonato de cálcio (CaCO3) que se apresenta na natureza com impurezas como óxido de magnésio. O carbonato de cálcio puro ou calcita, sob ação do calor, decompõe-se do seguinte modo: %)44( 2 %)56()100( 3 COCaOCaCO Vê-se, então que uma tonelada de calcário dá origem a 560 kg de cal, que é verdadeiramente a matéria-prima que entra na fabricação do cimento, porquanto os 440 kg de CO2 são perdidos sob a forma de gás, que sai pela chaminé das fábricas. ARGILA A argila empregada na fabricação do cimento é essencialmente constituída de um silicato de alumínio hidratado, geralmente contendo ferro e outros minerais, em menores porcentagens. A argila fornece os óxidos SiO2, Al2O3 e Fe2O3, necessários à fabricação do cimento. Quando ocorre deficiência de SiO2 na argila, é necessária a utilização da areia, como corretivo da farinha crua. O mesmo acontece com o Fe2O3, ou seja, quando a argila for deficiente desta substância, torna-se necessária a adição de minério de ferro (hematita). Durante a extração, processamento e estocagem, os materiais são analisados fisicamente e quimicamente pela equipe do laboratório da fábrica. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 30 A ilustração abaixo nos mostra, resumidamente, quais as matérias primas para a obtenção do cimento: A fabricação do CLÍNQUER PORTLAND segue as seguintes etapas: extração e preparo da mistura crua; dosagem da mistura crua; homogeneização; clinquerização; esfriamento. Extração e preparo da mistura crua: A matéria-prima é extraída das jazidas pelos processos usuais de exploração de depósitos minerais. O calcário pode apresentar-se com dureza elevada, exigindo o emprego de explosivos seguido de britagem, ou suficientemente mole, exigindo apenas o emprego de desintegradores, para ficar reduzido ao tamanho de partículas de diâmetro máximo da ordem de 1cm. As argilas contendo silicatos, alumina e óxido de ferro, normalmente, apresentam-se em condições de serem misturadas diretamente com o calcário. Calcário e argila, em proporções predeterminadas, são enviadas ao moinho de cru (moinhos de bolas, de barras, de rolos) onde se processa o início da mistura íntima das matérias-primas e, ao mesmo tempo, a sua pulverização, de modo a reduzir o diâmetro das partículas a 0,050mm, em média. A moagem, conforme se trate de via úmida ou seca, é feita com ou sem presença de água. Dosagem da mistura crua: A determinação da porcentagem de cada matéria-prima na mistura crua depende essencialmente da composição química das matérias-primas e da composição que se deseja obter para o cimento portland, quando terminado o processo de fabricação. Durante o processo de fabricação, a matéria-prima e a mistura crua são analisadas, quimicamente, numerosas vezes, a intervalos de 1 hora e, às vezes, de meia hora, e em face dos resultados dos ensaios, o laboratório indica as porcentagens de cada matéria-prima que deve compor a mistura crua. São numerosos os métodos de controle da composição química da mistura crua, sendo as fórmulas seguintes as mais empregadas: Módulo Hidráulico (Michaelis) 32322 OFeOAlSiO CaO MH Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 31 Módulo de Sílica Módulo de Alumina-Ferro Nos cimentos nacionais, como resultados de numerosos ensaios, realizados em seu laboratório, a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) encontrou os seguintes valores: Mínimo Máximo MH 1,8 2,2 MS 1,7 3,1 MAF 1,2 3,2 Homogeneização: A matéria prima devidamente dosada e reduzida a pó muito fino, após a moagem, deve ter a sua homogeneidade assegurada da melhor forma possível. No processo de fabricação por via úmida, a matéria-prima é moída com água e sai dos moinhos sob a forma de uma pasta contendo geralmente de 30 a 40% de água, e é bombeada para grandes tanques cilíndricos, onde se processa durante várias horas a operação de homogeneização. Os tanques de homogeneização são providos de equipamento que gira em torno de um eixo central e é constituído de uma série de pás que giram, por sua vez, em torno de vários eixos ligados à arvore principal. A pasta, nesta fase de operação, é ensaiada várias vezes, a fim de se controlar a homogeneidade da mistura e a dosagem dos constituintes do cimento, o que permite a sua correção, se necessário. No processo por via seca a matéria prima sai do moinho já misturada, pulverizada e seca. Normalmente os moinhos de cru do sistema por via seca trabalham com temperaturas elevadas (300 -400oC) no seu interior, o que permite secá-la (menos de 1% de umidade). Para tal fim, são usados, em certos tipos de moinho, os gases de combustão do forno, antes de serem enviados ao filtro retentor de poeiras, e, em seguida, à chaminé. O cru é transportado mecânica ou pneumaticamente para o silo homogeneizador, onde se assegura a homogeneização necessária da mistura e se corrige, eventualmente, a sua composição. 3232 2 OFeOAl SiO MS 32 32 OFe OAl MAF Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 32 Clinquerização: A matéria-prima, uma vez pulverizada e intimamente misturada na dosagem conveniente, sofre o seguinte tratamento térmico: Temperatura Processo Reação Até 100oC Evaporação da água livre Endotérmica 500oC acima Desidroxilação dos minerais argilosos Exotérmica 900oC acima Cristalização dos argilo-minerais decompostos Exotérmica 900oC acima Decomposição do carbonato Endotérmica 900oC a 1200oC Reação do CaO com os sílico-aluminatos Exotérmica 1250oC a 1280oC Início de formação da fase vítrea Endotérmica Acima de 1280oC Formação de vidro e dos compostos do cimento (clinquerização) Provavelmente Endotérmica Reações químicas de formação do clinquer que ocorrem no sistema de fornos de clinquerização, podem, aproximadamente, ser representadas como as seguintes: No processo por via úmida, todo o processamento termo-químico necessário à produção do clínquer se dá no forno rotativo. No processo por via seca, até temperatura da ordem de 900oC a 1000oC, o processamento da mistura crua se dá em intercambiadores de calor do tipo ciclone ou de contra-corrente. O processamento restante realiza-se no forno, de comprimento reduzido, que recebe a mistura já na referida temperatura. Pedra calcárea CaO + CO2 Argila SiO2 + Al2O3 + Fe2O3 + H2O 3 CaO . SiO2 = C3S 2 CaO . SiO2 = C2S 3 CaO . Al2O3 = C3A 4 CaO . Al2O3 . Fe2O3 = C4AF Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 33 Esfriamento: No forno, como resultado do tratamento sofrido, a matéria-prima transforma-se em clínquer. Na saída, o material apresenta-se na forma de bolas de diâmetro máximo variável entre 1cm a 3cm. As bolas que constituem o clínquer saem do forno a uma temperatura da ordem de 1200oC a 1300oC, pois há um início de abaixamento de temperatura, na fase final, ainda no interior do forno. O clínquer sai do forno e passa ao equipamento esfriador, que pode ser de vários tipos. Sua finalidade é reduzir a temperatura, mais ou menos rapidamente, pela passagem de uma corrente de ar fria no clínquer. Dependendo da instalação, na saída do esfriador o clínquer apresenta-se entre 50oC e 70oC, em média. O clínquer,após o esfriamento, é transportado e estocado em depósitos. 1.10.2.2. Adições As adições são outras matérias primas que, misturadas ao clínquer na fase de moagem, permitem a fabricação dos diversos tipos de cimento portland hoje disponíveis no mercado. Essas outras matérias primas são a gipsita (CaSO4 . 2H2O), as escórias de alto-forno, os materiais pozolânicos e os materiais carbonáticos. A gipsita tem como função básica aumentar o tempo de endurecimento do clínquer moído. Caso não se adicionasse gipsita à moagem do clínquer, o cimento, quando entrasse em contato com a água, endureceria quase que instantaneamente, o que inviabilizaria seu uso nas obras. Por isso, a gipsita é uma adição presente em todos os tipos de cimento portland. A quantidade adicionada é pequena: em geral, 3% de gipsita para 97% de clínquer, em massa. As escórias de alto-forno são obtidas durante a produção de ferro-gusa nas indústrias siderúrgicas e têm forma de grãos de areia. Antigamente, as escórias de alto forno eram consideradas como um material sem maior utilidade, até ser descoberto que elas também têm a propriedade de ligante hidráulico muito resistente, ou seja, que reagem em presença de água, desenvolvendo características aglomerantes de forma muito semelhante à do clínquer. Esta descoberta tornou possível adicionar a escória de alto-forno à moagem do clínquer com gesso, guardadas certas proporções, e obter como resultado um tipo de cimento que, além de atender plenamente aos usos mais comuns, apresenta melhoria de algumas propriedades, como maior durabilidade e maior resistência final. A composição química da escória granulada de alto forno deve obedecer a relação, fixada na norma NBR 5735 (EB – 208) da ABNT: 1 SiO OAl MgO CaO 2 32 Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 34 Isto significa que as escórias destinadas à fabricação de cimento devem ser alcalinas e não ácidas. Somente as escórias alcalinas possuem por si só características de hidraulicidade e isto acontece pelo fato de terem uma composição química que permite a formação de componentes capazes de produzirem, por resfriamento brusco, um estado vítreo com propriedades hidráulicas latentes. A natureza do processo no alto forno e o estado físico da escória são fatores decisivos para o desenvolvimento das propriedades hidráulicas da escória granulada. Exemplo de análise química de escória granulada de alto forno: SiO2 35,54 36,10 Al2O3 12,46 11,18 Fe2O3 0,40 0,41 CaO 41,64 43,19 MgO 6,01 5,59 MnO 1,94 1,62 S 1,42 1,33 = 99,41 ; I.H(*). =1,69 = 99,42 ; I.H = 1,66 (*) I.H. = Índice Hidráulico Os materiais pozolânicos são rochas vulcânicas ou matérias orgânicas fossilizadas encontradas na natureza, certos tipos de argilas queimadas em elevadas temperaturas (550oC a 900oC) e derivados da queima de carvão mineral nas usinas termelétricas, entre outros. Da mesma forma que no caso da escória de alto-forno, pesquisas levaram a descoberta que os materiais pozolânicos, quando pulverizados em partículas muito finas, também passam a apresentar a propriedade de ligante hidráulico, se bem que de forma distinta. Isto porque não basta colocar os materiais pozolânicos, sob forma de pó muito fino, em presença de água, para que passem a desenvolver as reações químicas que os tornam primeiramente pastosos e depois endurecidos. A reação só vai acontecer se, além da água, os materiais pozolânicos moídos em grãos finíssimos também forem colocados em presença de mais um outro material. O clínquer é justamente um desses materiais, pois no processo de hidratação libera hidróxido de cálcio (cal) que reage com a pozolana. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 35 Esse é o motivo pelo qual a adição de materiais pozolânicos ao clínquer moído com gesso é perfeitamente viável, até um determinado limite. E, em alguns casos, é até recomendável, pois o tipo de cimento assim obtido ainda oferece a vantagem de conferir maior impermeabilidade, por exemplo, aos concretos e às argamassas. Atualmente está sendo intensamente pesquisado o uso de novos materiais pozolânicos, tais como as cinzas resultantes da queima de cascas de arroz e a microssílica, um pó finíssimo que sai das chaminés das fundições de ferro-sílico. Os métodos brasileiros para a determinação da atividade pozolânica são: - NBR 5751 (MB – 960/72) – método de determinação de atividade pozolânica em pozolanas; - NBR 5752 (MB – 1153/77) – determinação do índice de atividade pozolânica em cimento Portland; e, - NBR 5753 (MB – 1154/77) – método de determinação de atividade pozolânica em cimento Portland pozolânico. Os materiais carbonáticos são minerais moídos, tais como o próprio calcário. Tal adição serve também para tornar os concretos e as argamassas mais trabalháveis, porque os grãos ou partículas desses minerais moídos têm dimensões adequadas para se alojar entre os grãos ou partículas dos demais componentes do cimento, funcionando como um verdadeiro lubrificante. Quando presentes no cimento são conhecidos como fíler calcário. Conclui-se, pois, que de todas as adições, o gesso não pode em hipótese alguma deixar de ser misturado ao cimento, e que as demais matérias-primas adicionadas (escória de alto-forno, materiais pozolânicos e materiais carbonáticos) são totalmente compatíveis com o principal componente do cimento portland – o clínquer – acabando por conferir ao cimento pelo menos uma qualidade a mais. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 36 FLUXO DO PROCESSO PARA OBTENÇÃO DO CIMENTO PORTLAND: Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 37 1.10.3. Composição Química do Cimento Portland: Os compostos formadores do cimento são denominados componentes do cimento. De acordo com a composição da matéria-prima, o clínquer de cimento Portland contém aproximadamente os seguintes elementos expressos como óxidos: Fórmula Abreviaçã o Composição (%) Óxido de Cálcio CaO C 59 – 67 Sílica SiO2 S 16 – 26 Alumínio Al2O3 A 4 – 8 Ferro Fe2O3 F 2 – 5 Magnésio MgO M 0,8 – 6,5 Sódio Na2O 0 – 1,5 Potássio K2O 0 – 1,5 Sulfato SO3 S 0,5 – 1,2 Vamos falar um pouco sobre cada um dos componentes do cimento: a) Cal (CaO) é o componente principal do cimento, originado, em sua quase totalidade, da composição do carbonato de cálcio (calcário: CaCO3), que se encontra quimicamente combinado com a sílica, alumina e óxido de ferro. Apenas uma pequena parcela encontra-se em liberdade (cal livre), cuja presença em estado anidro, acima de certos limites, prejudica a estabilidade de volume das argamassas e dos concretos. b) Sílica (SiO2) provém basicamente das argilas. Da sua combinação com a cal resultarão os compostos mais importantes do cimento: os silicatos bicálcico (C2S) e tricálcico (C3S). c) Alumínio (Al2O3) também conhecido como alumina, origina-se da argila. O composto formado pela alumina e a cal (aluminato tricálcico: C3A) acelera o início de pega do cimento, reduzindo, ao mesmo tempo, sua resistência ao ataque dos sulfatos; por isso, quanto menor sua proporção, até certos limites, melhor. Praticamente não se pode prescindir da alumina, pois sua ação fundente facilita o desenvolvimento das reações que possibilitam a formação do clínquer. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 38 d) Trióxido de Ferro (Fe2O3) também é gerado a partir da argila. O trióxido de ferro, desde que em porcentagemnão muito elevada, é útil pelo seu papel de fundente, desenvolvendo neste sentido uma ação ainda mais enérgica do que a alumina. Quanto ao óxido de ferro (FeO), não ocorre normalmente. e) Magnésio ou magnésia (MgO) provém do carbonato de magnésio presente no calcário, geralmente sob a forma de colamita (CaCO3, MgCO3), ou, em pequena quantidade na argila. Quando encontrado em quantidades superiores a certos limites, atua como agente expansor, prejudicando a estabilidade volumétrica das argamassas e dos concretos. f) Potássio e Sódio são álcalis, os quais desenvolvem papel de fundentes e aceleradores de pega. Atribui-se à presença dos álcalis as manchas que aparecem na massa depois de endurecida. Certos agregados podem reagir com os álcalis, provocando expansões anormais nas argamassas e nos concretos. g) Sulfato (SO3) advém principalmente do sulfato de cálcio, adicionado ao cimento como retardador de pega. É prática comum, na indústria de cimento, calcular o teor dos compostos do clínquer Portland a partir da análise dos óxidos, usando-se uma série de equações que foram originalmente desenvolvidas por R. H. Bogue. As equações de Bogue, para estimar a composição potencial ou teórica dos compostos minerais do clínquer Portland, são as seguintes: Alita % C3S = 4,071 C – 7,600 S – 6,718 A – 1,430 F – 2,850 S Belita % C2S = 2,867 S – 0,7544 C3S Alumina % C3A = 2,650 A – 1,692 F Ferrita % C4AF = 3,043 F 1.10.4. Composição Mineralógica do Clínquer Portland: A composição mineralógica do clínquer varia de acordo com as matérias primas disponíveis e o processo de cozimento aplicado. Para cada tipo de clínquer (minerais) formado, a composição apresenta diferentes comportamentos de endurecimento que proporcionalmente influenciam as propriedades do cimento nas suas aplicações. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 39 Imagine que o desenho abaixo seja um “grãozinho” de cimento Portland: A tabela abaixo mostra os principais compostos do clínquer e suas propriedades específicas: Compostos Fórmula Química Clássica Abreviatura % no clínquer Propriedades Tecnológicas Silicato Tricálcico 3 CaO . SiO2 C3S 50 – 65 Endurecimento Rápido Alto Calor de Hidratação Alta Resistência Inicial Silicato Bicálcico 2 CaO . SiO2 C2S 15 – 25 Endurecimento Lento Baixo Calor de Hidratação Baixa Resistência Inicial Aluminato Tricálcico 3 CaO . Al2O3 C3A 6 – 10 Pega muito rápido e deve ser controlado com adição de gesso; suscetível ao ata-que de meios sulfatados; alto calor de hidratação; alta retração; baixa resis- tência final. Ferro Aluminato Tetracálcico 4 CaO . Al2O3 . Fe2O3 C4AF 3 – 8 Endurecimento Lento; re-sistente a meios sulfatados; não tem contribuição para resistência; cor escura. Cal Livre CaO C 0,5 – 1,5 Aceitável somente em pe-quenas quantidades, em maiores quantidades cau-sam aumento de volume e fissuras. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 40 O silicato tricálcico é o maior responsável pela resistência em todas as idades, especialmente até o fim do primeiro mês de cura. O silicato bicálcico adquire maior importância no processo de endurecimento em idades mais avançadas, sendo largamente responsável pelo ganho de resistência a um ano ou mais. O aluminato tricálcico também contribui para a resistência, especialmente no primeiro dia. O ferro aluminato tetracálcico em nada contribui para a resistência. O aluminato tricálcico muito contribui para o calor de hidratação, especialmente no início do período de cura. O silicato tricálcico é o segundo componente em importância no processo de liberação de calor. Os dois outros componentes contribuem pouco para a liberação de calor. O aluminato tricálcico, quando presente em forma cristalina, é o responsável pela rapidez de pega. Com a adição de proporção conveniente de gesso, o tempo de hidratação é controlado. O silicato tricálcico é o segundo componente com responsabilidade pelo tempo de pega do cimento. Os outros constituintes se hidratam lentamente, não tendo efeito sobre o tempo de pega. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 41 1.10.5. Reações de hidratação dos compostos do clínquer: 1) Aluminato Tricálcico (C3A): a) C3A + 3 (CaSO4 . 2 H2O) + 26 H2O C3A . 3 CaSO4 . 32 H2O (gel de etringita) b) C3A + 6 H2O C3A . 6 H2O 2) Ferro Aluminato Tetracálcico (C4AF): C4AF + 2 Ca(OH)2 + 10 H2O C3A . 6 H2O + C3F . 6 H2O 3) Silicato Tricálcico (C3S): 2 (C3S) + 6 H2O C3S2 . 3 H2O + 3 Ca(OH)2 100 + 24 75 + 49 4) Silicato Bicálcico (C2S): 2 (C2S) + 4 H2O C3S2 . 3 H2O + Ca(OH)2 100 + 21 100 + 21 Os silicatos hidratados representam 50% da pasta endurecida. O hidróxido de cálcio Ca(OH)2 varia de 13 a 17%. O silicato de cálcio hidratado apresenta-se com semelhança ao mineral denominado tobermorita e como se parece com um gel, é denominado gel de tobermorita (C3S2.3H2O). 1.10.6. Cristalização: Os compostos anidros do cimento Portland reagem com a água (hidrólise), dando origem a compostos hidratados de duas categorias: a) compostos cristalinos hidratados; b) gel. Resumindo, um grão de cimento que tenha cerca de 50 de diâmetro médio, entrando em contato com a água, começa, no fim de algum tempo, a apresentar, em sua superfície, sinais de atividade química, pelo aparecimento de cristais que vão crescendo lentamente e pela formação de uma substância gelatinosa que o envolve, ou seja o gel. O gel que se forma inicialmente possui uma porcentagem muito elevada de água e é designado por gel instável (o gel é uma gelatina, sendo o gel instável uma gelatina muito mole). Os compostos cristalinos, para se desenvolverem, necessitam de água, que em pouco tempo é inteiramente transformada em gel. O processo de desenvolvimento dos cristais se faz retirando a água do gel instável, que à medida que vai perdendo água, transforma-se em gel estável e torna-se responsável, em grande parte, pelas propriedades mecânicas de resistência das pastas hidratadas – endurecidas. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Materiais de Construção Civil I 2012 42 Constata-se que durante a reação com a água (reação de hidratação), os silicatos tricálcicos e dicálcicos (este último também denominado bicálcico), liberam hidróxido de cálcio Ca(OH)2. Os cristais que se formam se entrelaçam à medida que avança o processo de hidratação, criando a estrutura que vai assegurar a resistência típica das pastas, argamassas e concretos. Os espaços vazios são preenchidos principalmente pelo gel, hidróxido de cálcio e água. Inicialmente o aluminato entra em atividade e, logo a seguir, o C3S; esses dois elementos, para se hidratarem, retiram a água de que necessitam do gel instável e a formação de cristais hidratados se inicia. Para se ter uma idéia da atividade dos vários compostos ao se hidratarem, é interessante observar o quadro abaixo, relativo à profundidade alcançada pela hidratação em mícrons com o tempo. Tempo C3A C3S C2S 3 horas 4,35 1,68 - 1 dia - 2,25 0,28 3 dias 5,68 - - 7 dias - 4,32 0,62 28 dias 5,68 4,44 0,83 5 meses - - 3,5 Observando o quadro acima, podemos concluir que a resistência do cimento Portland: a) até os 3 dias é assegurada pela hidratação dos aluminatos e silicatos tricálcicos; b) até os 7 dias praticamente pelo aumento da hidratação do C3S; c) até os
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