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CLINÍCA COM CRIANÇAS A brincadeira para criança é uma forma de elaboração dos desejos inconscientes. Através das brincadeiras a criança fala cobre as dificuldades as crianças não tem a mesma facilidade de um adulto ao falar (Associação livre), como os adultos fazem nas clinícas. CONCEITO DE INFÂNCIA Na idade média tinha pouco valor social, as pessoas não tinham preocupação com o q/se podia ou não falar, se tinha problemas cognitivos, comportamentais, eram consideradas pequenos adultos, era um período rápido e logo passavam para a participar da vida dos adultos, havia muito descaso com as crianças. DA INFÂNCIA AO INFATIL Infantil recalcado: Base de Freud sobre o psiquismo humano, o que importava para Freud era o que as pessoas não lembravam. Realidade psíquica: Construída apartir do que o sujeito fala na análise (fantasia). *Para Freud tem sempre o valor da ficção; *Ouvi-lo apartir de sua realidade ficcional; *Freud não se preocupava com a educação formal da criança, ele se preocupava com sua realidade psíquica, constituição subjetiva, sujeito do inconciente. A → Atemporal M→Cronológica A fantasia vem de uma história ficcional é o canal para se chegar a uma realidade psíquica, no contexto da relação ranferêncial→sujeito→suposto→saber ( se liga ao analista através de um traço- voz, olhar que o reflete algo) MARCAR MNÊMICAS Lembranças recalcadas; Marcas de prazer e desprazer para a criança; Marcas que age sobre vc e que vc desconhece; Marcas sobrepostas e organizadas no inconciênte; Impressões de memórias no inconciênte. No momento da constituição o sujeito ele passa pelo desamparo que demanda ao outro a busca da satisfação>nível pulsional. Seio, leite→ necessidade de relação com o outro PULSÃO A pulsão faz ao bebê o que Feud chama de CORPO EROGÊNO relação para a mãe, necessidade sexual, RELAÇÃO LIBIDINAL →ENERGIA DA PULSÃO. O BLOCO IMAGINÁRIO Causa traumática real→neorose. Freud descobre que não>fantasia de desejo das mulheres A SEXUALIDADE É POLIMORFA E TEM CARÁTER PERVERSO 1. Ensaio das aberrações sexuais 2. Ensaio da sexualidade infantil 3. As pulsões segue para a fase genital LEMBRANÇAS EMCOBRIDORAS O INCONCIENTE CONDUZ O DISCURSO NA ANÁLISE. O sonho é o modo por excelência do retorno do recalcado Traços mnêmicos > forma deformada pela fantasia Cadeia associativa > associação livre > fala > discurso do analisante Cadeia significativa > estrutura linguística inconsciente > suposto saber O DESEJO É SEMPRE BUSCA DE UM OBJETO QUE NÃO EXISTE. CONCEITO DE TRAUMA Não é mais uma experiência concreta, mas uma experiência q não é apagada, mas recalcados. Conceito de sujeito para Decartes: O que eu sou? Conceito>consciência>sujeito>razão cientifica Lacan: inconciente> sujeito do inconciente>lógica ONDE ALGO FALTA O SUJEITO É CONVOCADO PROVA: O SUJEITO PARA A PSÍCANALISE É ESSA LEMBRANÇA APAGADA, ESSE SIGNIFICANTE QUE FALTA, ESSE VAZIO DE REPRESENTAÇÃO EM QUE SE MANIFESTA O SUJEITO. INCONCIÊNTE: É O SUJEITO SEM SUBSTÂNCIA, SEM REPRESENTAÇÃO. O SUJEITO PARA A PSICANÁLISE É SEMPRE UM SUJEITO VIR A SER. A realidade psíquica é construída pelos desejos iconciêntes e pelas fantasias ligadas a ela. O conceito de infância NÃO é o cronológico nem o genético, o infantil abordo a lógica do inconciente. Pulsão em alemão=TRIEB≠DE INSTINTO que é igual ao BIOLÓGICO. INSTINTO: Visa a reprodução da espécie Designa um comportamento hereditariamente fixado Possui um objeto específico PULSÃO: Visa o prazer A pulsão não implica em comportamento pré-formado NÃO tem um objeto específico Variedade de objetos A pulsão não tem um único objeto, a procriação. O 1º passo da criança é o seio materno OS TRÊS ENSAIOS DA SEXUALIDADE CONCEPÇÃO DA ÉPOCA: Feitichismo,homossexualismo,perversidade: não se segue o padrão constituído da sexualidade humana. A sexualidade passa pelo corpo todo. SEXUALIDADE POLIMORFA POLIMORFA: Envolve todos os órgãos do seu corpo PERVERSO: Satisfação sem procriação PULSÕES PARCIAIS: ORAL, ANAL / PULSÃO EROGÊNA: BOCA, ANUS, ORGÃOS GENITAIS. A sexualidade infantil é pré-genital E TENDE A SATISFAÇÃO AUTOERÓTICA > não precisa de nada externo pode usar o próprio corpo como objeto de prazer. CONCEITO DE SEXUAL Não corresponde a sexualidade, qualquer zona corporal é qualificada de sexual CORPO EROGÊNO: E NÃO CORPO BIOLÓGICO > sexual está relacionado a busca de prazer em função do objeto. As fases do desenvolvimento psicossexual: 0 a 1> Oral 1 a 3> Anal 4 a 6> Fálica 7 a 13> Período de latência 14 a 17> Fase genital > Período de puberdade Fase oral: quando tudo gira em torno da boca: incorpora, morde,cospe. As relações primordiais da criança com a mãe implica num plano onde a mãe se limita a satisfação das necessidades vitais, revele traços de demanda do desejo do outro(criança) necessidade>demanda A criança gosta tanto de si mesma quanto o seio ou a chupeta, como se fossem extenção de seu próprio corpo ( crianças com essas dificuldades apresentam quando adultos dificuldades de romper relacionamentos) O prazer da sucção é independente de necessidades alimentares e constituem um prazer auto-erótico. Quando não sentem mais fome sentem necessidade em continuar a sugar o peito ou a mamadeira. O desmame é vivido de forma traumática, como uma separação do objeto de prazer, o significado deste trauma só é editado no futuro. Fase anal: Demanda anal > Essa demanda vem da mãe que ao ensinar os hábitos higiênicos estaria demandando as fezes do bebê como prova de amor. Relação de ambivalência: (existência simultaneamente de duas emoções opostas) pois possui controle sobre o objeto e pode oferece-lo ou não. Equação simbólica: Fezes = presente = bebê = dinheiro Pessoas que pagam tudo > relação de ambivalência Pode ser obsessivo como na organização (etiqueta tudo etc...) Ex: Homem briga com a esposa e depois traz um anel de brilhante TRÊS ENSAIOS DA SEXUALIDADE Define a sexualidade infantil como peverso-polimorfo, auto-erotísmo aas fases pré- genitais, oral e anal. As teorias infantis são produzidas a partir de uma tentativa de esclarecimento sobre a ≠ sexual, o interesse sobre a ≠ sexual não surge naturalmente, mas devido as pulsões egoístas que a dominam. Nessa época o que corresponde ao nascimento de um irmão produz uma hostilidade que o torna como rival. Por volta do 2º ano a criança deseja livrar-se desse intruso. Portanto a masturbação e o nascimento de uma criança lançam o enigma sobre a vida e o sexo. “De onde vem os bebês”? Assim criam suas teorias sexuais. Ela se dá conta de sua sexualidade com a presença de um rival. Quando a criança entra na fase-fálica (4 a 6) anos só se conhece em ambos os sexos o genital masculino. A ≠ entre os sexos então é vista como ausência e presença de um órgão genital. Se tudo estiver acontecendo de forma funcional a criança “entende” que a mãe tem outro “objeto de desejo” que é o seu pai. Neste momento que vai acontecer a triangulação ou a questão “Edipiana”. É neste momento que o complexo de Édipo ocorre, é um complexo pq como o próprio nome indica > é uma rede de relações, que ocorrem na infância de todo o sujeitoe que é responsável pela organização de nossa subjetividade. Na fase inicial por volta dos 6 mêses a criança esta vivendo a fase oral podendo chamar de complexo de desmame, ela perde o seio como objeto privilegiado. Passando em seguida para o complexo de intrusão. Durante o período de desmame existe uma imagem de um corpo fragmentado, isto ocorre antes do estágio do espelho que ocorrerá antes do complexo de intrusão. O complexo de intrusão se passa na relação entre irmãos, tendo como ponto central a identificação afetiva como pré-cognição o ciúme pelo reconhecimento do outro semelhante. O Ciúme NÃO é compreendido como rivalidade e disputa do alimento materno, o que esse rival significa é a posição que ocupa, lugar privilegiado junto a mãe, esse irmão será alvo de agressividade, porque ele esta identificado e confudido com esse irmãozinho. Essa identificação e o irmão se relacionam no momento em que o bebê vê sua imagem refletida no espelho e a reconhece como sensação de júbilo(grande alegria). Esse interesse na imagem refletida no espelho ocorre no momento inaugural da formação do EU. É fruto do momento de alienação(imagem q vem de fora não responde por ele mesmo mas pelo outro, pelo q o outro pede ou faz). São as palavras da mãe que vão constituir o bebê, ou seja dizer o que ele é, ou seja somos sempre fruto de uma construção a partir do outro, ele é o que a mãe fala, o que a mãe deseja, ele é a fala da mãe. A partir de quando ele se entende é que ele constitui o seu EU. A Gestalt corporal grava no sujeito a forma de totalidade para o corpo. O registro simbólico prevalece, onde ocorre o complexo de Édipo. 2ª TÓPICA DO INCONCIENTE: ISSO → RESERVATÓRIO DAS PULSÕES EU → Senhor da consciência e do corpo SUPEREU → EXIGÊNCIAS DA CULTURA EU RIGÍDO (EXIGE RENÚNCIA, PRECISA PASSAR PELA CASTRAÇÃO =QUANDO VC ESTÁ DENTRO DO LAÇO FAMILIAR LIMITADO PELAS LEIS SOCIAIS. S¹ → SIGNIFICANTE MÃE S²→ SIGNIFICADO PAI SIGNIFICANTE >TESE DE LACAN EM QUE O INCONCIÊNTE É ESTRUTURADO COMO A LINGUAGEM Ex: Imagem acústica(sonoridades) que ficam armazenadas em nosso inconciente SIGNIFICADO> Que cada um pode dar a ele. SEGUNDA AULA: *Nos “Extratos dos documentos dirigidos a Fliess” (Freud, 1950[1892-1899]/1980) já havia a compreensão de que na reconstrução dos primeiros anos de vida feita em análise se referem as: 1- recordações de infância proferidas ao analista 2- a infância esquecida. Não era apenas aquilo que o paciente recordava que Freud considerava relevante na compreensão dos sintomas, mas também e, sobretudo, os fatos da infância que o paciente não conseguia lembrar. Mesmo quando se voltava à reconstituição dos fatos de infância relatados por seus pacientes, o que mantinha Freud ocupado com a infância era algo da ordem do recalcado. O infantil recalcado, muito mais que um relato sobre a infância, foi, desde sempre, o seu verdadeiro interesse. *Do conceito de infância para o do infantil em Freud A teoria de Freud deslizou do conceito de infância para o infantil nos primórdios da psicanálise. Há também um momento em que a fantasia passa a ocupar um lugar teórico relevante na compreensão da constituição do psiquismo. Esse lugar consiste em atribuir à realidade psíquica um valor de determinação antes atribuído apenas à realidade material. Será nesse momento de valoração da realidade psíquica, que Freud (1950[1892-1899]/1980) realiza uma mudança na compreensão teórica do modo como os primeiros anos de vida participam do processo de constituição psíquica. A fantasia é reposicionada na metapsicologia e assume um lugar de destaque na compreensão e na reconstrução do infantil em análise. A partir de então, a consideração da fantasia enquanto verdade psíquica confere ao infantil um estatuto inicial da constituição psíquica. Os sons, os cheiros, as sensações táteis compõem as marcas mnêmicas primordiais e estende-se para além delas. Assim, pensar o infantil como um conceito psicanalítico passa pela compreensão de uma infância que desliza da simples cronologia e das experiências passíveis de narração à realidade psíquica, e da fantasia como um elemento irrevogável da constituição do psiquismo. Desse modo, na psicanálise, a infância cronológica não pode ser confundida com o infantil reconstruído no discurso do analisando no contexto da relação transferencial. Como um conceito metapsicológico, o infantil não se dá a ver, mas se faz presente no discurso e no modo como o analisando se põe em análise. Pensemos que ao entender o aparelho psíquico desse modo, Freud está se deparando com uma sociedade, que como vimos na aula anterior, busca na ciência o modo de instruir e educar as crianças. As crianças eram de natureza infantil passível de ser moldada, seja pela educação ou pela psicologia, mas freud não se deixa capturar por essas ideias. Para Freud, a crianças são regidas pelas mesmas forças psíquicas dos adultos, e portanto, sua função será a de levar a psicanálise no sentido de ouvir do sujeito em qualquer idade, o que ele tem a falar do elemento infantil que compõe a sua constituição psíquica. *Na psicanálise, infância e infantil estão remetidos a estruturas conceituais diversas. Enquanto a infância refere-se a um tempo da realidade histórica, o infantil é atemporal e está remetido a conceitos como pulsão, recalque e inconsciente. Assim, se o infantil na psicanálise é constituído em referência aos conceitos metapsicologia em seu afastamento e diferenciação ao tempo da infância, embora que irrevogavelmente referido à mesma. O infantil diz do modo peculiar de tomar a infância no trabalho de análise, ou seja, como marca mnêmica recalcada, referente aos primeiros anos de vida. Podemos dizer que existe uma cumplicidade entre o conceito de infância e infantil, pois ao reconstruir a posteriori o infantil em análise o analisante se apóia na realidade história vivida por ele na infância transformando-a e deformando-a. *A pré-história do infantil Em “A interpretação dos sonhos”, Freud (1900/1980) consolida a sua compreensão sobre o lugar do infna constituição do psiquismo. Mas, muito anteriormente, nos chamados escritos pré-psicanalíticos, Freud já havia lançado e estabelecido as marcas constituintes da noção do infantil. Freud começa pelos acontecimentos da infância e sua importância na constituição dos sintomas da histeria. Persegue cada fato da infância de seus pacientes na busca da experiência cuja traumática e originou os sintomas. *No “Projeto para uma psicologia científica”, Freud (1950[1895]/1980) atribui às experiências infantis valor determinante e fundante do psiquismo. Ele estabelece o desamparo infantil e a busca de satisfação como elementos constituintes da subjetividade. Será por meio da compreensão do psiquismo em seus momentos iniciais, que Freud irá estabelecer o paradigma que sustentará suas elaborações. Segundo ele, o corpo do bebê impõe necessidades que o mesmo não tem como responder. Essas necessidades exigem, por sua vez, uma ação específica para que sejam satisfeitas. Impossibilitado de levar a cabo tal ação, a única descarga possível ao bebê será o choro que se torna signo de comunicação, pois traz até ele (o bebê) a proximidade do outro que providenciará sua satisfação. É nas vicissitudes dessas experiências que Freud situa a inscrição da pulsão na constituição psíquica e aponta para um deslizamento que muda o rumo das necessidades. Em 1905 quando Freud escreve Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, irá afirmar que a relação que o lactante estabelece com quem lhe ofereceo seio é a primeira e mais significativa relação libidinal ou amorosa. Para Freud o que acontece de mais importante nesse momento é o apoio da pulsão sobre a satisfação da necessidade. Ou seja, o seio e mais precisamente, o leite que escorre dele, passa a funcionar como objeto significante de prazer. O seio vem da mãe e passa a significar demanda de amor que a criança passa a fazer à ela. *Na Carta 46, que consta nos “Extratos dos documentos dirigidos a Fliess” (Freud, 1950[1892-1899]/1980), aparece a noção de transcrição que nos remete à metáfora da escrita na compreensão do funcionamento psíquico. *Em “Notas sobre o Bloco Mágico”, (1925[1924]/1980) Freud retoma a metáfora de transcrição da escrita fazendo referência a um brinquedo infantil. Ele representa o aparelho psíquico através da noção da inscrição de traços mnêmicos inapagáveis e da possibilidade inesgotável da realização de novas inscrições. “...nosso aparelho mental possui uma capacidade receptiva ilimitada para novas percepções e, não obstante, registra delas traços de memória permanentes embora não inalteráveis”...”Segundo esse ponto de vista, temos um sistema (percepção- consciência), que recebe percepções mas não retém traço permanente delas, podendo assim reagir como uma folha em branco a toda nova percepção, ao passo que os traços permanentes das excitações recebidas são preservados em “sistemas de memória” (Freud, Bloco Mágico, p. 286). que estão por trás do sistema perceptual(Freud, Bloco Mágico, p. 286). A lousa mágica (Bloco mágico) é uma boa metáfora utilizada por Freud para apresentar a superfície de acetato onde se escreve como a consciência e a parte de trás, onde ficam as marcas calcadas do que foi escrito, aos traços de memória inconscientes e permanentes. “Não penso, porém, que seja demasiado exagerado comparar a cobertura de celulóide e papel encerado ao sistema Pcpt.-Cs. E seu escudo protetor, a prncha de cera com o inconsciente por trás daqueles, e o aparecimento e desaparecimento da escrita com o bruxuleio e a extinção da consciência no processo da percepção” (Freud, Bloco Mágico, p.288). *Na Carta 52, Freud (1950[1892-1899]/1980) incorpora definitivamente a metáfora da escrita à compreensão do funcionamento do aparelho psíquico. Ou seja, as experiências deixam traços (traços mnêmicos, ou restos de lembranças). O que fica no psiquismo são marcas das experiências de prazer e desprazer vividas pela criança. Mas, se por um lado, percebemos que Freud (1950[1892-1899]/1980) já elabora algo que o faz pensar nos primeiros anos de vida como uma transcrição lacunar da infância vivida, por outro, percebemos que ele parece manter a idéia de um acontecimento real que originou o recalque e que se encontra na etiologia das neuroses. Freud ainda estava deixando sua primeira teoria que era a teoria da sedução. Era sua hipótese de que a histeria era originada por uma sedução vivida na infância e onde um adulto perverso havia sido seu agente. É o que ocorre na Carta 69, que data de 21 de setembro de 1897, quando Freud (1950[1892-1899]/1980) expressa, de modo claro, o embate teórico (isto é, metapsicológico) que se instalará entre a fantasia e a experiência na etiologia das neuroses. Nessa carta, ele escreve a célebre frase “não acredito mais na minha neurótica” (Freud, 1950[1892-1899]/1980, p. 350). A virada que realiza, nesse momento, consiste na introdução da fantasia na constituição das cenas rememoradas, que irá imprimir às lembranças da infância a marca da singularidade de cada analisando. Assim, a partir desse momento em que a realidade material da experiência passa a ser questionada em seu valor determinante da neurose, podemos pensar que o infantil, como uma reconstrução em análise, foi descolado da realidade vivida para a realidade psíquica, atravessada pela fantasia e marcada pelo recalque. Como sabemos, Freud propôs uma teoria chamada de neurótica, na qual o pai encarna o papel daquele que teria abusado sexualmente da criança, a qual apresentaria, em decorrência desse evento, uma neurose. Os relatos das pacientes histéricas de Freud em análise são a cena com base na qual essa teoria toma forma. Sem encontrar evidências fenomenológicas das falas das histéricas trazidas à análise, Freud abandona sua teoria da sedução. Deixa de lado a hipótese de uma experiência traumática e passa a propor uma teoria ficcional, que se mantém como fruto da produção mental dos sujeitos trazida à cena analítica. A partir daí, é possível localizar a distinção entre realidade psíquica e realidade material estabelecida por Freud. Essa distinção se torna ainda mais importante porque é contemporânea à formulação do complexo de Édipo. *Os termos de Freud parecem mostrar a passagem da compreensão da sedução em seu caráter simplesmente perverso (patológico) para uma compreensão de sua função constitutiva da subjetividade. Fatos e fantasias irão mesclar-se na construção das recordações e no engendramento do esquecimento, possibilitando a elaboração freudiana de que não há fato possível de ser reproduzido em sua integridade e não há fantasia que não possua uma conexão com a realidade. No texto “Lembranças encobridoras”, Freud (1899/1980) já se mostra muito mais preocupado com aquilo que a recordação encobre do que propriamente com o material recapturado na memória. Nesse trabalho, ele chama a atenção para o lugar da fantasia, da ação do recalque que fragmenta as recordações das experiências e para a inscrição indelével do infantil no psiquismo. Assim, será a compreensão de uma lembrança fragmentada e lacunar que ocupará Freud nesse artigo. Nesse texto, Freud refere-se a uma lembrança de sua infância como se fosse contada por um analisante ao seu analista. Trata-se da seguinte lembrança: Vejo uma pradaria retangular, com um declive bastante acentuado, verde e densamente plantada; no relvado há um grande número de flores amarelas. No topo da campina há uma casa de campo e, frente a porta, duas mulheres conversam animadamente – uma camponesa com um lenço na cabeça e uma babá. Três crianças brincam na grama. Uma delas sou eu mesmo (na idade de dois ou três anos); as outras duas são meu primo, um ano mais velho que eu, e sua irmã, que tem quase exatamente a minha idade. Estamos colhendo as flores amarelas e cada um de nós segura o ramo mais bonito e, como por um acordo mútuo, nós – os meninos – caímos em cima dela e arrebatamos suas flores. Ela sobe correndo a colina, em lágrimas, e a título de consolo a camponesa lhe dá um grande pedaço de pão preto. Mal vemos isso, jogamos fora as flores, corremos até a casa e pedimos pão também. E de fato o recebemos; a camponesa corta as fatias com uma longa faca. Em minha lembrança, o pão tem um sabor delicioso. Freud percebe que essa lembrança na verdade é uma lembrança encobridora, uma montagem. É pouco depois de se deparar com a constatação de que as lembranças de suas pacientes histéricas não eram cenas factuais, mas fantasias, que Freud escreve sobre lembrança encobridora, cena de intensa acuidade visual, tida como lembrança do passado – em geral, da infância mais remota.Em geral, a lembrança encobridora traz um episódio irrelevante, algo banal, contrariando a ideia de que recordamos o mais importante, relegando ao esquecimento cenas cotidianas e sem valor afetivo. Freud mostra que o banal toma aí o lugar de algo essencial, mas que não pode se revelar como tal. A lembrança encobre outra coisa, um evento dotado de forte valor afetivo, que teria abalado o sujeito. A morte do avô a quem pertencia uma determinada caneca, que aparece como uma lembrança. Nossa lembrança mais vívida, mis certeira, é fantasia,é ficção. Não somos senhores de nossa própria memória. A realidade só se sustenta pela fantasia. A fantasia enquadra o real, lhe dá bordas. A lembrança encobridora nos ensina que uma cena esconde outra, impedindo que vejamos “demais”. Essa na é uma tela, portanto, que encobre a experiência traumática, mas faz ver, através de uma montagem complexa, elementos que permitem o desdobramento de outras cenas, na infindável teia da fantasia. Na recordação de Freud, é o amarelo das flores (deflorar) e o gosto maravilhoso do pão (ganha pão) que permitem eu se reengatem as fantasias referentes ao amor, à pulsão sxual (com ideia de “de- florar” a menina, arrancar-lhe as flores.E à fome, à pulsão de autoconservação (ao ganha-pao). Esses dois elementos levarão duas linhas de associação: a paixão adolescente de Freud por uma menina do campo que trazia um vestido amarelo na primeira vez em que a viu, e a ideia de que ele poderia ter crescido sudável e se tornado íntimo dela, se sua família não tivesse sofrido a falência que a fez migrar para a cidade grande. O amarelo das flores e o gosto do pão são imagens- significantes que ancoram uma encenação mítica da própria constituição do sujeito, entre a fome e amor, ao mesmo tempo velando e deixando entrever o recalcado. A lembrança encobridora é um curta-metragem da infância: ela inscreve, de forma deslocada, recortada, montada, o essencial na constituição do sujeito. Deve-se fechar os olhos, para recordar – e fazer dos fragmentos, dos traços deixados pelo vivido, uma fantasia, um espaço coerente composto de narrativas que dão ao sujeito um lugar, um ponto de vista. O amarelo das flores destaca-se exageradamente do conjunto, e o gosto bom do pão é excessivo, quase alucinatório. Isso trai a natureza de imagem dessa recordação, ao mesmo tempo em que aponta nela a implicação pulsão pusante, apaixonada, do sujeito *Conclusão Concluímos, portanto, que, no período que antecede a publicação de “A interpretação dos sonhos” (1900/1980) e de “Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905/1980), Freud já havia lançado os pressupostos teóricos que sustentam o conceito do infantil. Mais que isso, nesse período, de 1892 a 1899, Freud já associava, o infantil à sexualidade, à pulsão, ao recalque, à fantasia e ao determinismo psíquico das inscrições indeléveis que seriam a base e o fundamento do psiquismo. *A interpretação dos sonhos ou sobre um modelo para pensar o infantil na psicanálise A infância que aparecerá em “A interpretação dos sonhos” (Freud, 1900/1980) não estará mais relacionada a realidade dos acontecimentos dos primeiros anos. A infância aparecerá como lembrança e fantasia e terá consolidado seu lugar como fundante e constituinte do psiquismo. Foi essa compreensão que possibilitou Freud descolar-se da realidade vivida para a realidade psíquica, da infância para o infantil de seus pacientes. As elaborações de Freud (1900/1980) em “A interpretação dos sonhos” são fundamentais para compreendermos como o infantil comparece no trabalho de análise. O sonho é o modo, por excelência, do retorno do infantil recapitulando aspectos das experiências recalcadas que não seriam acessíveis de outra forma. Portanto, será o infantil, através do método da associação livre, que ocupara o centro do trabalho da psicanálise. Em “A interpretação dos sonhos”, o que é valorizado por Freud é o caráter revelador dos fragmentos dos sonhos. Também fragmentado será aquilo que o analisando reconstrói dos primeiros anos. Nesse sentido, os fragmentos mnêmicos aparecem como reveladores daquilo que está no cerne do infantil. A reconstrução do infantil em análise não tem mais o intuito de obturar as lacunas, mas tornam-se, elas próprias, reveladoras do sujeito. Assim como no sonho, podemos entender que a reconstrução do infantil nos remete a algo... “que é mais antigo no tempo e mais primitivo na forma e na topografia psíquica, ou seja, que está mais perto da extremidade perceptiva” (Freud, 1900/1980, p. 584). Assim, o infantil, além de seu caráter determinante na constituição psíquica, é, também, o mais antigo, o mais precoce. Tanto no sentido daquilo que é mais remoto, quanto no sentido daquilo que está em conexão com modos arcaicos do funcionamento psíquico. *O infantil na obra de Freud a partir da constituição da teoria da sexualidade infantil *Nesse sentido, o “traumático” se interioriza: não seriam mais as experiências como tais, mas os seus traços o que adquire estatuto traumático. Inscrições e traços esquecidos, mas não apagados. Freud enfatiza que não se pode falar de apagamento ou abolição, mas de recalque. Nos Três ensaios, o infantil inscreve-se definitivamente em associação ao desenvolvimento pulsional.No percurso freudiano da constituição do infantil, podemos situar Os Três Ensaios (Freud, 1905/1980) como o momento em que a fantasia em relação à sedução encontra o seu suporte dos destinos da pulsão e onde o infantil aparece associado à sexualidade perverso-polimorfa e as fases do desenvolvimento pulsional. Na elaboração de sua hipótese sobre o desenvolvimento pulsional, Freud (1905/1980) aponta para a marca da sobreposição que se constituirá como característica do processo de subjetivação, em que os modos mais arcaicos do desenvolvimento permanecem presentes, também, na sexualidade do adulto. Assim, o adulto portará para sempre o infantil que o constituiu. No adulto as pulsões parciais serão submetidas à ação do recalque e do processo secundário, mas nunca abandonarão seus intentos de retorno ao prazer primordial, agora elaborado teoricamente como fantasia de desejo. *1- Freud considerava mais importante os fatos da infância que o paciente não conseguia lembrar do que compreender os sintomas. 2- Freud estabelece o desamparo infantil e a busca de satisfação como elementos constituintes da subjetividade. 3- As experiências de demanda de amor feitas à mãe, como ser amamentado, deixam traços (traços mnêmicos, ou restos de lembranças recalcadas). O que fica no psiquismo são marcas das experiências de prazer e desprazer vividas pela criança. 4- O bloco mágico é uma metáfora de Freud para explicar que as marcas calcadas do que foi escrito, aos traços de memória ficam registrados no inconscientes de forma permanente e podem ser somadas a novas marcas. 5- Freud, ainda no Projeto Científico faz uma virada teórica: deixa a teoria de sedução (onde teria ocorrido um trauma sexual na realidade) pela teoria da fantasia, onde a realidade psíquica teria estrutura de ficção. 6- essa nova teoria onde prevalece uma realidade psíquica consiste na introdução da fantasia na constituição das cenas rememoradas, que irá imprimir às lembranças da infância a marca da singularidade de cada analisando 7- A infância será tratada pelo aspecto do infantil em“A interpretação dos sonhos” (Freud, 1900/1980), ou seja como lembrança e fantasia e terá consolidado seu lugar como fundante e constituinte do psiquismo. 8- O sonho é o modo, por excelência, do retorno do infantil recapitulando aspectos das experiências recalcadas que não seriam acessíveis de outra forma. 9- Nesse sentido, o “traumático” se interioriza: não seriam mais as experiências como tais, mas os seus traços o que adquire estatuto traumático. Inscrições e traços esquecidos, mas não apagados. 10- No adulto as pulsões parciais serão submetidas à ação do recalque e do processo secundário, mas nunca abandonarão seus intentos de retorno ao prazer primordial, agora elaborado teoricamente como fantasia de desejo. 11- Infância – um tempo da realidade histórica. 12- Infantil – 1- é atemporale está remetido a conceitos como pulsão, recalque e inconsciente. 2- são as marcas mnêmicas recalcadas, restos de lembranças que ficam impressos no inconsciente e se referem aos primeiros anos de vida. 3- o infantil aparece associado à sexualidade perverso-polimorfa e as fases do desenvolvimento pulsional. *Pela razão de estarmos trabalhando com o conceito de pulsão, estamos no campo das fantasias inconscientes que movem os desejos inconscientes. Então, quando alguém se põe em trabalho de análise, seja um adulto ou uma criança, estará no lugar de sujeito do inconsciente. Que sujeito é esse? Como vimos, a cultura moderna exige produções científicas que deem respostas sobre como educar os pequenos cidadãos, que trabalharão na produção de capital. Freud surge nessa época das grandes verdades científicas, onde a razão e a consciência devem possuir um saber sobre o sujeito. Para a psicanálise, é o próprio sujeito quem deve levar a cabo a descoberta de sua própria verdade. “O que sou eu?” – é a pergunta que leva o filósofo Descartes a fundamentar pela primeira vez na história das ideias o conceito de sujeito. O título do trabalho de Descartes chama-se “Discurso do método”. Descartes põe a duvidar de tudo. Nesse título já vemos como Descartes pretende “procurar a verdade nas ciências”. Ou seja, todo o pensamento de Descartes é um pensamento científico que pretende encontrar as respostas, as grandes verdades que a humanidade passa exigir na modernidade. Esse foi um passo precursor para o desenvolvimento da ciência moderna. Portanto, É esse mesmo sujeito da ciência sobre o qual opera a psicanálise – eis a tese de Lacan. Sem o advento do sujeito em Descartes, a psicanálise não poderia ter vindo à luz. Para responder à pergunta sobre “o que sou eu”, Descartes, em suas Meditações filosóficas, descarta de entrada os sentidos, pois estes são sempre enganadores, assim, como o próprio corpo. O que vejo, o que ouço, apalpo ou sinto não me dizem o que sou; meu corpo tampouco me define Descartes põe-se a duvidar da existência de tudo. Temos que entender que até Descartes, as verdades religiosas, portanto, externas ao próprio indivíduo, eram inquestionáveis. Descartes na vertente científica se põe a investigar e conclui que o único ponto de certeza que poderia ter é o pensamento. Se duvido de tudo, pelo menos uma coisa é certa, eu penso. Conclui que somente o pensamento é algo que não pode ser destacado dele. Portanto, a própria existência está vinculada ao ato de pensar. *Para a psicanálise, o sujeito é também sujeito do pensamento, mas do pensamento inconsciente. Pois o que Freud descobriu é que o inconsciente é feito de pensamento. Trata-se aqui do sujeito não da desrazão e sim da razão inconsciente, cuja lógica é também apreendida através de um método – o método psicanalítico. Essa herança da filosofia cartesiana conserva o ideal de cientificismo da psicanálise cujos efeitos de sua prática devem ser verificados, cujo modo de operação pode ser explicitado e cujos conceitos podem ser transmitidos, justificando assim o ensino da psicanálise, inclusive na Universidade. O pensamento freudiano é semelhante ao de Descartes, na medida em que, quando se sonha, muitas vezes o sujeito é tomado pela dúvida. Lá onde o sujeito duvida a respeito daquilo que surge no sonho é onde um pensamento se encontra. Quando duvidamos de um pensamento impreciso do sonho que vai levar a revelação do sujeito do inconsciente. A dúvida assinala assim a presença de uma formação do inconsciente. Quando, no meio de um sonho, o sujeito comenta “aqui o sonho está apagado” ou, como disse um paciente de Freud, “aqui está faltando algo”, é justamente aí que Freud convoca o sujeito, e que, no caso, respondeu com a restituição de uma lembrança infantil relativa a um gozo escópico: a visão do sexo feminino. O sujeito para a psicanálise é essa lembrança apagada, esse significante que falta, esse vazio de representação em que se manifesta o desejo. O pensamento freudiano nos ensina a seguir a proposição: penso logo desejo, pois a cogitação inconsciente presentifica o desejo sexual, indestrutível, inominável, sempre desejo de outra coisa. Mas o pensamento não o define, pois não há representação própria para o desejo, pois, como o sujeito, ele não tem substância; é o vazio, aspiração, falta, se não deixaria de ser desejo. Desejo logo existo. Desejo é o nome do sujeito de nossa era freudiana. Portanto, o sujeito que a psicanálise descobre das patologias, nos sonhos, esse sujeito é fundamentalmente desejo. O sujeito não é identificado ao pensamento e por isso pode ter várias identificações que podem ser desfolhadas em uma análise. Ele se encontra, como diz Lacan, nos intervalos significantes, pois ele assombra a cadeia significante como se diz de uma casa assombrada. *Para Freud, como vimos, a dúvida que aponta o lugar de um branco, nos fornece a certeza de que aí se encontra o inconsciente como pensamento ausente (da consciência). Portanto, Descartes parte do pensamento e chega a existência; Freud parte do pensamento inconsciente e chega no desejo. Sou onde não penso, lá onde se encontra meu ser de gozo que escapa a todo pensamento. No processo de análise, o sujeito se experimente como falta-a-ser, na medida em que não encontra representação simbólica para seu ser. O sujeito para Descartes possui substância, ele é uma coisa que pensa, mas para a psicanálise, o sujeito é sem substância que lhe permite ser um sujeito suposto, inclusive suposto saber que é a mola da transferência. Seu ser está fora do pensamento, lá onde se encontra a pulsão sexual. A castração, denota a divisão subjetiva, é a verdade do sujeito banida pelo discurso da ciência. Como entender esse sujeito sem substância? O sujeito não é o “eu”, aquilo que apresento ao outro, meu semelhante, igual e rival, como sendo o que quero que o outro veja. Não é a imagem corporal. O sujeito não é o homem e tampouco é a mente suscetível de estar doente ou saudável. O sujeito é patológico por definição afetado pela estrutura que obedece a uma lógica: os significantes que o determinam e o gozo do sexo que o divide, fazendo-o advir como desejo. *Freud, portanto, ao dar lugar ao sujeito do inconsciente, abandonando a sua primeira teoria “A teoria da sedução”, onde teria ocorrido uma cena sexual entre um adulto e a criança, manteve, de um modo radicalmente distinto, a origem dos conflitos neuróticos relacionados a um tipo de trauma, que era uma construção em análise, uma fantasia, produzida pelos traços mnêmicos deixados no inconsciente. Portanto, os conflitos neuróticos dos adultos estariam relacionados com o sexual e o infantil. Foi nessa mesma época que Freud descobre a existência do Complexo de Édipo. Ou seja, a rivalidade da criança com um dos pais pelo amor do outro. Portanto, Freud teve que reconhecer que as questões sexuais das crianças atuavam normalmente desde os primeiros anos, sem nenhuma necessidade de estimulação externa, ou seja, não eram os adultos que despertavam as crianças precocemente para a sexualidade. Assim, Freud abandona suas formulações acerca da cena de sedução e a substituir a crença na realidade desta cena pela suposição de que a sedução seria uma construção, em termos de fantasia, do próprio sujeito. Esse foi um momento teórico muito importante no desenvolvimento da teoria psicanalítica, no qual o relevante não são mais os fatos da infância, mas a realidade psíquica, constituída pelos desejos inconscientes e pelas fantasias a ela vinculadas, tendo como pano de fundo a sexualidade infantil. O efeito traumático está relacionadoao fato de a criança ser confrontada passivamente com a sexualidade do adulto. Através dos cuidados e do desejo materno, a criança será introduzida no campo da sexualidade, pois é pelo contato com a mãe, ou um substituto, que o corpo do bebê será erogenizado. *Quando Freud escreveu “Os Três Ensaios da Teoria Sexual” em 1905, o grande debate da época era a oposição entre “normal” e “patológico” em termos de sexualidade. O pensamento da época de Freud dizia que a sexualidade era fruto dos instintos seguindo um padrão fixo e invariável de comportamento, comum a todos os indivíduos de uma mesma espécie. O instinto possui um objeto específico e pré- determinado de satisfação e que garante chegar a essa satisfação. A conduta sexual do indivíduo era entendida até Freud como sendo controlada pelo instinto sexual, ou seja, invariável ,na idade adulta, quando se buscaria como objeto um parceiro sexual do sexo oposto para a realização do ato sexual, com fins na reprodução da espécie. Seria uma questão de evolução, a sexualidade só surgiria na adolescência, com a maturação dos órgãos genitais, e com a finalidade de reprodução. Freud ao falar de realidade psíquica refere-se a um novo conceito criado por ele: A pulsão e não mais ao instinto animal e genético. E com essa nova noção sobre a sexualidade ele ultrapassa, a dimensão da genitalidade, ou seja, inscreve-se para além do registro da pura atividade, apreendida como união dos órgãos sexuais com fins de procriação. A sexualidade na psicanálise passa a ser definida, pelas diversas formas de possibilidades de satisfação sexual no plano da realidade psíquica, numa esfera que extrapola a região genital e contraria a ação real do ato sexual em si. É por isso que Freud pôde falar da sexualidade na infância, antes mesmo que o aparelho genital tivesse adquirido sua maturação final, ou seja, independentemente de uma determinação puramente biológica. *A criança perverso-polimorfa – base perversa da constituição normal O autoerotismo infantil – prazer com o próprio corpo Na amamentação: Objeto do instinto – o alimento Objeto da libido – o seio materno Início do auto-erotismo - Quando o seio é abandonado o bebê começa a fantasiar o seio sugando o polegar (chuchar). A mãe erotiza o corpo do bebê, um corpo simbólico, investido de afeto e de palavras que vão marcar o bebê e lhe dar um lugar na estrutura familiar. *Para Freud e para os psicanalistas em geral, o corpo, além de sua dimensão biológica, é um corpo simbólico. Simbólico no sentido de que a imagem que cada um tem de si é construída na relação com os adultos que ocupam a função de pais. O narcisismo primário postulado por Freud (1914/1976c) é instituído através do investimento narcísico parental que antecipa um sujeito e um lugar para o bebê antes mesmo de seu nascimento. Ou seja, Freud inverte a lógica do narcisismo enquanto amor a si mesmo, sugerindo que é necessário um investimento do outro para que haja um investimento no eu. Ao escrever Sobre o narcisismo: uma introdução, em 1914, Freud alerta para a face narcísica do amor parental: procuramos resgatar, através dos nossos filhos, a nossa infância perdida, nossos sonhos e ideais. Sua Majestade, o Bebê, nada mais é do que o bebê que outrora fomos ou que gostaríamos de ter sido. Por exemplo, Silvia Maria Zornig, (Psicologia em Estudo, 2008 ) explica que em seu trabalho em unidades intensivas neonatais com bebês prematuros e suas famílias, observou como alguns pais conseguem não só olhar o bebê na incubadora, lutando contra a morte, mas ir além, atribuindo-lhe traços de identificação a familiares. “Você é teimoso como seu pai, vai lutar e sair dessa”... “Ele é nervoso como eu, vai dar trabalho”... Estes comentários, que parecem totalmente desprovidos de sentido ao serem atribuídos a bebês de 900 gramas, pouco responsivos, no entanto, mostram uma amarração simbólica entre o bebê e seus pais que conseguem atribuir àquele bebê sentimentos e características muito além de suas reais possibilidades. Se estas atribuições são pertinentes ou não, pouco importa. O importante é que aquele bebê não é olhado como uma massa de carne de baixo peso, mas reconhecido como um sujeito com um lugar insubstituível na cadeia transgeracional daquela família. FASE NACÍSICA DO AMOR PARENTAL *O corpo simbólico – a auto-imagem é construída na relação com os adultos na função de pais. Narcisismo primário – surge através do investimento narcísico dos pais sobre o bebê antes do seu nascimento, antecipando-lhe um lugar de sujeito. Sua Majestade o Bebê – é uma tentativa dos pais resgatarem através dos filhos, a sua infância perdida, sonhos e ideais. *Conceito de pulsão – Portanto, precisamos deixar claro a diferença entre instinto e pulsão. Em alemão o termo Trieb utilizado por Freud é diferente de instinct (instinto). Trieb significa impelir, impulsionar. A pulsão tem por objetivo atingir o prazer. A pulsão está relacionada a realidade psíquica, aos traços das experiências deixadas no inconsciente. A pulsão é um impulso que Freud traduziu como desejo. As fantasias são movidas pelo desejo, portanto, pela pulsão e que não tem um único objeto a ser atingido. Freud transforma o corpo biológico em corpo erógeno. Onde era instinto (puramente biológico) surge a pulsão. Instinto é sempre inscrito em um determinismo que antecede o indivíduo, é da espécie. O instinto animal encontra o seu objeto de satisfação na realidade, como, por exemplo, a fome. A comida é um objeto determinado que satisfaz a fome mas não satisfaz necessariamente a pulsão oral. No ser humano, há algo na sexualidade que escapa ao controle instintivo do homem. Quando falamos de desejo e pulsão, não temos mais um objeto preestabelecido que satisfaça a pulsão. A pulsão se satisfaz com um objeto qualquer, mas daqui a pouco já não é mais isso. Não é pelo fato de se encontrar um objeto que vai saciar a fome que a pulsão oral vai deixar de se manifestar. Continua-se querendo comer uma determinada coisa, e em seguida outra e mais adiante outra, apesar de não se estar mais com fome. Quanto mais se come mais fome se tem. TERCEIRA AULA: *Vimos que, a partir da escuta de suas pacientes histéricas, Freud abandonou a teoria do trauma e da sedução e descobriu a fantasia. A partir daí, não mais são relevantes apenas os fatos reais da infância, mas, sobretudo, a realidade psíquica, constituída pelos desejos inconscientes e pelas fantasias a ela vinculadas, tendo como pano de fundo a sexualidade infantil. *Ocorre também uma modificação no conceito de infância, que deixa de ser vista a partir de um registro genético e cronológico para ser abordada pela lógica do inconsciente. *O efeito traumático está relacionado ao fato de a criança ser confrontada passivamente com a sexualidade do adulto. Através dos cuidados e do desejo maternos, a criança será introduzida no campo da sexualidade, pois é pelo contato com a mãe, ou de seu substituto, que o corpo do bebê será erogeneizado. *Mas a revolucionária posição freudiana só será apreendida, em todo o seu alcance, nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, quando Freud pôs em xeque as concepções moralizantes sobre a atividade sexual das crianças e define o conceito de pulsão. *Com o conceito de pulsão, Em alemão o termo Trieb utilizado por Freud é diferente de instinct (instinto). Trieb significa impelir, impulsionar. E a pulsão visa o prazer já que está ligada ao inconsciente que é regido pelo princípio do prazer e não pelo princípio da realidade. Segundo Freud a pulsão é um impulso traduzido como desejo.Freud transforma o corpo biológico em corpo erógeno. Onde era instinto (puramente biológico) surge a pulsão. Instinto é sempre inscrito em um determinismo que antecede o indivíduo, é da espécie. *No primeiro ensaio Freud defende a tese de que a sexualidade humana surge no nascimento e não segue um padrão fixo e determinado biologicamente. *O primeiro ensaio dos “Três ensaios da sexualidade”, denominado “As Aberrações sexuais”, Freud defende a tese de que a pulsão sexual dos neuróticos possui todos os elementos perversos. 1- fixação da libido em pessoas do mesmo sexo. 2- tendência inconsciente de transgredir a anatomia ao invés de privilegiar a genitalidade utilizando com mais intensidade a boca e o ânus. 3- o prazer de ver x exibicionismo 4- a crueldade (sadismo) x masoquismo Ou seja, na neurose, na maioria das vezes encontramos vestígio de todas as perversões. Então, uma certa predisposição às perversões faz parte da constituição normal. A PERVERSÃO É A DISPOSIÇÃO ORIGINÁRIA E UNIVERSAL DA SEXUALIDADE HUMANA. *Desse modo, Freud apresentou ao mundo uma nova criança, dotada de uma sexualidade perverso-polimorfa. Nos “Três ensaios”, Freud ressalta as características da sexualidade infantil. A criança é um ser perverso-polimorfo,com pulsões parciais emanando de zonas erógenas, que se constituem apoiando-se em funções vitais, ou seja, a sexualidade infantil é pré-genital – oral e anal – e as pulsões tendem, isoladamente, à satisfação autoerótica. *Sexual para Freud, portanto, não corresponde a genitalidade que só vai ser atingida na puberdade. Sexual está relacionado a busca de prazer através da pulsão em direção a um objeto que o satisfaça. Portanto, a sexualidade desperta na criança muito cedo, pois qualquer prazer em uma zona corporal é qualificado de sexual. Nesse sentido o corpo da criança é entendido como um corpo erógeno, um corpo de prazer e não como um corpo biológico como na medicina. Ex. o bebê sugando o seio da mãe, está tendo um prazer sexual, depois, ao sugar o polegar ou a ponta do lápis, ou posteriormente vir a fumar, estará lidando como a zona erógena oral. *O que Freud demonstra é que o desenvolvimento da criança está marcado por uma sucessão de momentos em que ela erogeneiza diferentes áreas do corpo, que são as fases do desenvolvimento sexual. Cada fase implica um modo de relação com o objeto. *Fase oral – do nascimento até o desmame. Primazia da zona erógena bucal. Assim, quando ela nasce, tudo gira em torno da boca, e o modelo transposto para todas as relações da criança será o de incorporar, cuspir e morder. Percebemos que a oralidade é a primeira pulsão, que evidencia que as relações primordiais da criança com a mãe implicam um plano não restrito à satisfação de suas necessidades vitais. A busca dessa satisfação oral revela traços da demanda ao desejo do outro.O prazer da sucção é independente das necessidades alimentares e constituem um prazer autoerótico. O bebê não tem ainda noção de um mundo externo diferenciado dele. Mesmo quando não sente mais fome sente prazer em continuar a sugar o peito ou a mamadeira. A criança gosta, tanto de si mesma como do seio ou da chupeta como se fosse extensão do seu próprio corpo, assim como a mãe é amada como se fosse ele próprio. O uso do próprio corpo como objeto de satisfação, como sugar o polegar, derivado da impossibilidade da criança dominar o mundo externo, confere à sexualidade infantil uma qualidade de autossuficiência. Freud verifica que na fantasia do bebê, o dedo é o substituto do seio materno e, assim, ele passa a não depender mais do Outro para a sua satisfação. O indivíduo adulto, fixado nessa fase, poderá escolher o objeto de amor de acordo com sua afeição ao papel de mãe nutriente. *Por volta de 1 e 3 anos, o ânus é erogeneizado e a criança passa a se interessar pelas fezes, sem destronar completamente a zona oral. A criança, que vive o modelo de reter e expulsar as fezes, passa pela demanda anal. Trata-se de uma demanda que emana do outro (mãe). A mãe demandaria as fezes como prova de amor. Desde pequenininho o bebê sente prazer nas funções excretórias. Quando está por volta dos 2 anos atinge o desenvolvimento neuromuscular e os adultos se ocupam em ensiná-lo os hábitos de higiene. Da mesma fora como suga o seio passa a reter as fezes como uma brincadeira, isso pode se estender até o final da infância e mesmo na vida adulta. Após defecar a mãe aplica os cuidados higiênicos. Se ela está satisfeita com o bebê, a limpeza se faz em um clima agradável, se o bebê sujou a roupinha ralham com ele. De todo modo a satisfação fisiológica da zona anal é agradável, mas gera emoções contraditórias que se associam à mãe. Surge uma situação de ambivalência. Evacuar na hora que a mãe quer passa a ser uma forma de recompensar a mãe, um sinal de harmonia com a mãe, ao passo que recusar-se a se submeter aos seus desejos equivale a uma punição, a um desentendimento com ela. Com a conquista da disciplina esfinquiteriana, a criança descobre, pois, a noção de seu poder, que ela oferece ou não. E esse “presente” que poderá dar se associa no futuro a outros “presentes”, dinheiro, qualquer objeto que ser torne precioso pelo simples fato de ter sido dado, até o bebê entra na série dos presentes. O bebê, na fantasia da criança, pelo fato de ter sido dado é expelido pelo ânus, após a mãe ter comido um alimento milagroso. Assim, Freud estabelece a famosa equação simbólica fezes=presente=bebê=dinheiro para ressaltar que essas marcas erógenas se deslocam, são vividas e transpostas para as relações da criança com o mundo. *A noção de fase fálica não surgiu nos Três ensaios da sexualidade de 1905. Foi formulado somente em 1923 no texto “A organização genital infantil”. Em 1908, a partir do material oriundo dos relatos do pai de Hans acerca das fantasias do filho, Freud escreveu o artigo “Sobre as teorias sexuais das crianças”, estabelecendo a relação entre a dimensão edipiana e a ideia de um complexo nuclear presente nas neuroses. Toda a questão do conflito será referida, em última análise, ao conflito nuclear do complexo de Édipo. Freud começa também a trabalhar as fantasias ligadas ao lugar do sujeito na dinâmica familiar. Nessa comunicação, são expostas duas teses fundamentais: a primeira é a de que nenhuma criança pode deixar de ocupar-se dos problemas sexuais; a segunda é a de que não há nas neuroses um conteúdo particular – elas derivam dos mesmo complexos que fazem parte da constituição humana. Nessa ocasião, Freud concluiu que o primeiro grande problema para a criança é a origem dos filhos, suscitado, geralmente, na ocasião do aparecimento de uma nova criança na família. Com essa temática instaura-se o primeiro conflito psíquico, decorrente da contradição entre as explicações que os adultos oferecem às crianças, como por exemplo, de que os bebês são trazidos pela cegonha, e a percepção delas sobre a natureza sexual da concepção. Freud nos diz que há aqui uma divisão entre as concepções consideradas boas, e que permanecerão, portanto, no consciente, e as concepções que a criança estabelece para si, mas que devem ser recalcadas, porque não são aceitas pelos adultos. É assim que, segundo ele, fica constituído “o complexo nuclear de uma neurose”. A partir desse momento, a criança passa a construir teorias sexuais que, embora sejam falsas em relação à realidade material, têm um núcleo de verdade correspondente às correntes pulsionais, ou seja, estão de acordo com as características da sexualidade infantil. *Em o esclarecimento sexual das crianças Freud retorna o que já havia dito nos Três ensaios a partir de questões levantadaspor um certo Dr. Furst; Deve a criança ser esclarecida sobre os fatos da vida sexual? Em que idade isso deve ocorrer? É claro para Freud que não se deve negar a sexualidade para as crianças! E diz: “Que propósito se visa atingir negando às crianças, ou aos jovens, esclarecimento desse tipo sobre a vida sexual dos seres humanos? Freud acrescenta que é a má consciência dos adultos sobre os assuntos sexuais que os leva a criar esse mistério todo sobre sexualidade diante das crianças. E retoma as questões importantes descobertas por ele: - de que a pulsão sexual não ocorre somente a partir da adolescência, mas muito antes, o recém-nascido já vem ao mundo com sua sexualidade, sendo seu desenvolvimento na fase da amamentação e na primeira infância acompanhado de sensações sexuais; - Não são apenas os órgãos sexuais que geram sensações de prazer sexual; - as sensações sexuais são produzidas em várias partes da pele – zonas erógenas – tanto pelo instinto biológico quanto pelo período de autoerotismo; - muito antes da adolescência a criança já é capaz de manifestações psíquicas de amor – amor, dedicação, ciúme. Com frequência, uma irrupção desses estados mentais associa-se às sensações físicas de excitação sexual, de modo que a criança não pode ficar em dúvida quanto à conexão entre ambos; - e por fim, o clima de mistério apenas impede a criança de apreender intelectualmente as atividades para as quais já está psiquicamente preparada e fisicamente apta. *O exemplo do pequeno Hans em o esclarecimento sexual das crianças (1907) Mesmo antes de publicar o caso, utilizou em textos anteriores exemplos retirados do caso do pequeno Hans. Freud então dá o exemplo do pequeno Hans, embora ainda não tivesse publicado o caso. O menino possuía esse interesse intelectual de toda criança pelos enigmas do sexo, e seu desejo de conhecimento sexual, revela-se numa idade surpreendentemente tenra. - Hans aos 4 anos não havia sido exposto a nenhum abuso sexual nem uma sedução pela babá; - apesar disso possuía um grande interesse pelo que ele chamava de seu ‘pipi’. - aos 3 anos, perguntou à mãe: ‘Mamãe, você também tem um pipi?’ Ela respondeu: “naturalmente. O que você acha?” Também perguntou ao pai, várias vezes a mesma coisa. - entrou num estábulo e viu uma vaca ser ordenhada e disse: “Olha! ‘sai leite do pipi dela’. - ao ver sair água de uma locomotiva, exclamou: “Veja, a máquina está fazendo pipi. Onde está o pipi dela?” e acrescentou, depois de refletir: “O cachorro e o cavalo têm pipis, a mesa e a cadeira não têm.” - Quando a irmãzinha nasceu e foi tomar banho, ele comentou: “o pipi dela é muito pequeno, mas vai ficar grande quando ela crescer.” Freud salienta que o pequeno Hans não é uma criança erotizada, nem possui uma disposição para patologias. Na opinião de Freud, Hans só não tem vergonha de expressar aquilo que pensa. O nascimento do irmãozinho também traz para a mente da criança o segundo maior problema, a origem dos bebês. As respostas que em geral se dá para a criança danificam seu genuíno instinto de investigação e lança um golpe na confiança que a criança tinha por seus pais. Dessa data em diante geralmente passa a desconfiar de seus pais. *Sobre as teorias sexuais das crianças (1908). estabelece a relação entre o Édipo e o complexo nuclear nas neuroses. estuda as fantasias ligadas ao lugar do sujeito na dinâmica familiar. lança duas teses fundamentais: 1 -todas as crianças se ocupam dos problemas sexuais; 2- o conteúdo das neuroses faz parte da constituição humana. o primeiro conflito psíquico: de onde vêm os bebês? – a percepção da natureza sexual da concepção levam a criança a estabelecer fantasias que ficam na consciência e outras que ficam recalcadas porque não são aceitas pelos adultos. É assim que, segundo ele, fica constituído “o complexo de uma neurose”. esse texto foi publicado um pouco antes de freud apresentar o caso clínico do pequeno hans em 1909. qual a diferença entre os neuróticos e as pessoas normais investigando as fantasias infantis? os neuróticos não se diferenciam acentuadamente das pessoas normais, e na infância não é fácil distingui-los dos que permanecerão sadios em sua vida posterior. os neuróticos adoecem devido aos mesmos complexos dos outros, a única diferença é que as pessoas sadias sabem superar esses complexos sem sofrer danos graves e visíveis na vida prática, enquanto nos casos nervosos a supressão dos complexos só obtém êxito à custa de dispendiosas formações substitutivas, isto é, do ponto de vista prático trata-se de um fracasso. para que nos serve conhecer as teorias sexuais infantis? são indispensáveis para uma compreensão das próprias neuroses, exercendo uma decisiva influência sobre a forma assumida pelos sintomas. como surge o interesse sobre a diferença sexual nas crianças? O interesse sobre a diferença sexual não surge naturalmente nas crianças, mas devido as pulsões egoístas (aqui Freud ainda não havia desenvolvido a dualidade pulsional (pulsão de vida e pulsão de morte) que a dominam. Talvez por volta do segundo anos de vida tenha surgido um irmãozinho novo na casa que tenha trazido à tona essas pulsões egoístas, mas mesmo que isso não tenha ocorrido, surge um temor de perder o carinho dos pais, um pressentimento de que isso ocorra. A criança mais velha expressa sua hostilidade ao rival (o bebê) através de críticas e esperando que a ‘cegonha o leve de volta’. Quando a diferença de idade é maior, a hostilidade é menor e a criança passa a desejar um companheiro para as brincadeiras. Mas o problemas já está lançado: De onde vêm os bebês? Ou melhor ‘De onde veio esse bebê intrometido?’ *Sobre as teorias sexuais das crianças (1908). A fábula da cegonha é uma das teorias sexuais da criança? Não! claro que não! A criança não acredita nessa besteira que contam para ela e observa os bichos e percebe que tem alguma semelhança. Tendo descoberto que os bebês crescem na barriga das mães, a criança estaria perto de solucionar o problema. No entanto, não chega a descobrir porque falsas teorias são impostas por sua própria sexualidade. Quais as características curiosas que Freud encontrou nas teorias sexuais falsas criadas pelas crianças? Embora as crianças cometam erros grosseiros, cada teoria contém um pedaço de verdade, parecido com os adultos que inventam teorias para decifrar os mistérios do universo. A parte correta dessas teorias ocorre por causa dos componentes da pulsão sexual que atua no organismo da criança. Por isso as teorias são as mesmas para todas as crianças. A partir desse momento, a criança passa a construir teorias sexuais que, embora sejam falsas em relação à realidade material, têm um núcleo de verdade correspondente às correntes pulsionais, ou seja, estão de acordo com as características da sexualidade infantil. Primeira teoria – se refere à universalidade do pênis. Ela dá origem ao complexo de castração na ocasião da percepção dos órgãos genitais femininos: a fantasia da mulher como um ser mutilado gera no menino a ameaça de castração e, na menina, a inveja do pênis. Dessa teoria resultam outras duas. Segunda teoria – o nascimento pela cloaca. A ignorância a respeito da vagina leva a criança a imaginar que os bebês seriam evacuados como excrementos. Terceira teoria – a concepção sádica do coito, ou seja, o ato sexual é concebido como uma violência e relacionado ao sadismo infantil. *Em 1909, quando Freud publicou a análise do pequeno Hans, ele queria comprovar suas teses sobre a sexualidade infantil. A partir dessa análise, ilustrou e ampliougrande parte do conteúdo que havia sido teorizado em “Sobre as teorias sexuais as crianças”, descobriu o complexo de castração e estabeleceu sua articulação com o complexo de Édipo, estando este último na base do conflito psíquico. Assim, as teorias sexuais infantis são expostas já vinculadas aos conflitos edípicos. *Um pequena consideração sobre o complexo de Édipo em Hans. Freud constatou diante do sintoma de Hans, sua fobia, que dois eventos foram os desencadeadores da fobia: 1- a manifestação de seu pênis, ele começou a sentir prazer em manipular o pênis. 2- o nascimento de sua irmã, Hanna. Esses dois acontecimentos constituíram a base para duas “questões-enigma”: a origem da vida e do sexo. Freud assinala que, de um modo geral, a criança tem o pressentimento de que esse sexo, que tanto a ocupa, participa do misterioso processo que precede a chegada de uma criança. Hans é descrito por Freud como um “pequeno Édipo desejoso de eliminar o pai e tomar para si a mãe”. A certeza da universalidade do pênis e da existência de criaturas castradas representa uma ameaça que se relaciona com impulsos hostis contra o pai, gerando o medo da retaliação, que se desloca para o cavalo. *Nesse momento da teorização de Freud, o complexo de Édipo do menino é descrito apenas em seu polo positivo, ou seja, desejo em relação à mãe e ódio ao pai. Com relação ao complexo de Édipo na menina, tudo se passa exatamente da mesma forma, ou seja, com uma afetuosa ligação ao pai e uma necessidade de eliminar a mãe por julgá-la supérflua e considerar que pode substituí-la. Anos mais tarde, Freud se apercebeu da falta de simetria no relacionamento edipiano de ambos os sexos, ou seja, o complexo de Édipo não se dá da mesma maneira na menina e no menino. Essa descoberta só se tornou possível a partir da conceituação, em 1923, da fase fálica da sexualidade infantil. As teorizações abordadas até esse momento referem-se ao período de elaboração da metapsicologia freudiana, denominado “primeira tópica”, onde a explicação do funcionamento do aparelho psíquico pressupõe três instâncias: consciente, pré- consciente e inconsciente. Nesse modelo, Freud situará o desejo como pertencente ao sistema inconsciente, e o objetivo da análise será tornar consciente os conteúdos inconscientes. Mas a primeira tópica não era suficiente para explicar o funcionamento psíquico dos sexos. Assim, em 1923, em “O eu e o isso”, Freud formulou a segunda tópica do funcionamento psíquico, a partir da qual teve elementos para responder à constatação da dessimetria entre o Édipo masculino e o feminino. *A partir da pulsão de morte e da repetição, Freud revê toda sua teoria e propõe uma nova divisão das instâncias psíquicas, que será conhecida como a segunda tópica: o isso, o eu e o supereu. O eu (aquele que diz eu, o senhor da consciência e do corpo) é da ordem do narcisismo, que se encontra achacado entre as exigências pulsionais do isso, reservatório das pulsões, e as do supereu, que exige do sujeito um comportamento ideal. Ao propor essa nova tópica, reformulando sua teoria, Freud tenta dar conta do que são as manifestações dessa satisfação pardoxal, para-além do princípio do prazer, que faz o sujeito gozar de seu mal-estar. *Após a elaboração da segunda tópica, Freud retoma a conceituação da fase fálica da sexualidade infantil. Podemos destacar três textos fundamentais desse período: A organização genital infantil: uma interpolação na teoria da sexualidade (1923). A dissolução do complexo de Édipo (1924). Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos (1925). *Com a segunda tópica, o complexo de Édipo – descoberto inicialmente por Freud a partir da análise de seus próprios sonhos como um duplo desejo inconsciente – adquire seu valor conceitual articulando a falta e a diferença dos sexos, o desejo e a lei, a castração e a angústia. Ao problematizar o Édipo nos anos 20, Freud estabelece a articulação entre o complexo de Édipo e o complexo de castração. É a partir da castração que o complexo de Édipo se reordena – em torno da ameaça de castração para o homem e da inveja do pênis para a mulher -, articulando a falta com o complexo de Édipo. Para o menino, trata-se da ameaça de castração pelo pai que viria a castrar o filho por desejar ficar com a mãe; e a menina, a inveja do pênis que supõe que iria satisfazer a mãe. Freud retoma, portanto, o complexo de Édipo em torno de algo que marca toda a psicanálise: a falta. Trata-se de uma falta que dá o selo à sexualidade eis que adquire no falo seu significante primordial, ou seja, a sua significação de castração. *Há duas vertentes da falta. Por um lado, a falta causa desejo, por outro, cria a angústia de castração, mostrando aí o mal-estar do sujeito. A angústia se manifesta quando o sujeito não consegue cumprir as ordens do supereu, sendo que, na verdade, ele nunca consegue, porque o supereu está sempre comparando o sujeito com aquilo que ele supõe que seria o ideal necessário (ideal do eu) para ser amado pelo Outro a fim de restituir o narcisismo da infância em que ocupava a posição de “sua majestade o bebê”. E o supereu está sempre aí, paradoxalmente exigindo e apontando essa impossibilidade. Freud verifica e desenvolve em 1930, as repercussões dessa estrutura subjetiva na cultura e escreve O mal-estar na civilização. A civilização é o lugar da expressão do supereu para o sujeito na medida em que exige sempre do sujeito a renúncia pulsional. Nela, as manifestações do supereu aparecem para o sujeito como uma figura do Outro, figura de autoridade, de imposição, de comando e até de tirania. Na medida em que o supereu tem sua raízes no Isso, de onde tira sua forma pulsional, ele é uma instância que está sempre acuando o sujeito ao forçá-lo a realizar o impossível de suas exigências, empurrando-o a satisfazer seus ideais e, ao mesmo tempo, a renunciar a pulsão. A cultura e a relação com os outros são o terreno propício para a manifestação desse paradoxo do gozo, marca do supereu. O inconsciente, que se manifesta na cultura, traz a característica desse aspecto pulsional, fazendo os sujeitos repetirem nas relações com os outros aquilo mesmo que os leva ao pior – a expressão da pulsão de morte. *Em 1937, dois anos antes de Freud morrer, escreveu Análise com fim ou sem fim,e acaba concluindo que toda análise desemboca na questão da castração considerada, por ele um rochedo inamovível e intransponível. Em 1938, em sua última obra, Spaltung, traduzida como “A clivagem do ego no processo de defesa”, Freud aponta que o sujeito se divide frente à castração e que isso produz uma fenda que jamais se fecha, indicando portanto que a divisão do sujeito, assim como a castração, é incurável. Freud mostra essa divisão a partir do perverso, o qual diante da descoberta da castração no Outro sexo, da constatação de que a mãe não tem pênis, se divide. Por um lado, o sujeito dá crédito, por outro, nega, desmente: “não, ela tem, ela tem sim, eis aqui o pênis da mãe, transformado em fetiche”. Ora, na verdade, a questão da castração é da ordem do insuportável para todo mundo, Freud generaliza a divisão do sujeito. Diante da castração não há como não negá-la: o perverso desmente, o neurótico recalca e o psicótico rejeita completamente (foraclui). Mas a questão da verdade da castração retorna ao sujeito: o neurótico recalca e sintomatiza, o perverso desmente e fetichiza e o psicótico foraclui e alucina e ou delira. Ele coloca por terra todo e qualquer ideal de harmonia em que o sujeito seja inteiro em alguma situação. *Jean-Louis é um menino francês de oito anos, segundo filho de uma família quepassou uma temporada morando no rio de Janeiro, sendo o pai sul-americano e a mãe francesa. Dos quatro filhos homens desse casal, ele e seu irmão logo abaixo são hemofílicos, ou seja, os dois do meio são hemofílicos e o mais velho e o mais moço não. A hemofilia de Jean-Louis foi descoberta quando ele tinha um ano de idade devido a seus hematomas frequentes. Essa descoberta causou uma grande surpresa tanto na família materna quanto na paterna por ser o primeiro caso de hemofilia de ambas. Essa descoberta é vivida como uma catástrofe por esse jovem casal, não apenas pela ameaça de morte dessa criança como também pela quebra no ideal partilhado pelo casal de constituir uma família numerosa. A partir de então, a mãe não mais trabalhará, para se ocupar de seu filho hemofílico e dos que virão a seguir. O casal fará então um curso médico especializado para pais de hemofílicos, na França, aprendendo toda a técnica e todo o saber necessário à manutenção em vida de seu filho suscetível e frequentes hemorragias, o que permitiu-lhes não abandonar totalmente a ideia de ter uma prole numerosa. Ao fazer recentemente os exames habituais, ele foi ver um psicólogo e acabou encontrando um analista. E, a pedido seu, foi vê-lo várias vezes até que a família retornou ao Brasil e o analista indicou meu nome no Rio de Janeiro, onde estavam morando. *O que decidiu seus pais a levar o menino ao analista foi a indicação e o fato de Jean-Louis andar totalmente distraído, sem concentração alguma na escola, onde os pais foram chamados devido à preocupação do professor com sua falta de atenção. Eis o sintoma que o traz à análise. Ele é um sonhador,diferente dos pais, que dizem ter os pés na terra. No entanto, havia algo que, apesar de colocado em segundo plano, era bem mais grave do que a distração: os acidentes recorrentes que o colocavam em risco de vida. Caiu do primeiro andar da casa, atravessou uma porta de vidro e cortou-se todo, caiu de cima de uma árvore e o quarto acidente dizia respeito a uma suspeita de que ele teria empurrado o irmão de dois anos na piscina de casa, que não morreu porque a mãe o salvou. *Para esses pais formados no saber médico, o comportamento do filho consitutía um enigma, uma falha no saber e seu pudor lhes impedia de dizer a Jean-Louis que ele ia ver um analista. Preferiram dizer-lhe que ele ia encontrar um amigo de Henri, o analista de Paris. “amigo do Henri” foi a designação conferida a pessoa do analista servindo de engate transferencial. Na primeira entrevista, Jean-Louis entra resolutamente no consultório, senta no divã, e, muito decidido, diz ao analista: Eu estava ansioso para te conhecer. Você é amigo do Henri. Eu te conheço desde sempre. Eis como demonstra, dessa forma surpreendente, que a função do sujieot suposto saber já estava estabelecida independente da minha presença. Passa então a reclamar do irmãozinho de dois anos, que é muito barulhento em casa; em seguida diz que em sua casa ele é jogado de um lado para o outro e que quando está num lugar chamam-no para o outro canto. *Ele se põe a desenhar, dizendo que desenhará “coisas de guerra”. Desenha uma nuvem e a risca logo em seguida, dizendo que não vai desenhar coisas de menina, e sim de guerra, e faz um tanque. Durante a execução desse desenho, comenta que seu irmão mais velho fica mexendo com ele afirmando que ele está apaixonado pela menina, mas ele nega e me diz que não é verdade. Nesse primeiro desenho ele escreve o número do consultório do analista (401) situado no quarto andar, inscrevendo assim o local de endereçamento de sua mensagem. A nuvem ao ser riscada, barrada, é paradoxalmente reforçada, mostrando sua importância como significante recalcado. Podemos verificar como, de início, o sujeito se coloca como sexuado para o analista, trazendo a diferença dos sexos representada pelos significiantes nuvem e guerra: o significado de nuvem é ‘coisa de menina” e o significante guerra “coisa de menino. A oposição significante nuvem x guerra representa portanto oposição menino X menina. *A guerra será o tema quase constante de seus desenhos seguintes; guerra sendo também o significante relatado pelo pai que designa a relação de Jean- Louis com a mãe. Esse primeiro desenho pode também representar o sintoma de Jean-Louis detectado pelos pais e professores: a falta de atenção. Ele é um sonhador que vive nas nuvens até levar um tombo e cair das alturas no campo de batalha da guerra dos sexos – campo minado de morte onde de Eros jorra a hemorragia de gozo. O sintoma do sonhador articulado ao acting out das quedas ilustra a dimensão do sintoma que representa “o retorno da verdade como tal na falha de um saber”. Esses acidentes aparecem na falha do saber médico e científico sobre a verdade do sujeito relativo a castração, a diferença sexual que aí se estabelece. *O menino entra na sala do analista mostrando o dedo indicador que teria sido machucado na véspera quando caíra de bicicleta. O dedo não possuía nenhum ferimento aparente. O menino pede um copo de água. Vai até a janela com o copo de água e joga a água no dedo deixando que a água caia lá embaixo. O analista pontua: “você está deixando cair a água”. Ao esvaziar a água do copo o dedo fica imediatamente bom. O significante “cair”, duplamente presentificado na sessão (pelo relato da queda da bicicleta e pelo ato de deixar cair água em seu dedo), é o significante da transferência (S) que, articulado ao significante qualquer do analista, no caso, amigo de Henri (Sq), mostra o estabelecimento da transferência com o analista. Ele indica assim que situa o analista no lugar do endereçamento de seu apelo – apelo correlacionado a seus tombos, que já sabemos ser o lugar do pai. Nas sessões seguintes ele faz desenhos de guerra acompanhados por comentários sobre os efeitos das armas, projéteis e balas sobre os corpos: membros esparsos, esquartejamentos, pedaços arrancados, partes cortadas. Tudo isso regado a muito sangue e ênfase, denotando um gozo mortífero associado ao espetáculo e às imagens do corpo despedaçado. *Em uma sessão, que ocorreu em francês, ele está desenhando uma guerra (batalha naval ou guerra nas estrelas) e, como sempre, estão presentes as forças do mal (les forces du mal) que atacam a nave, que se encontra no centro do desenho, comandada por um personagem que é o herói da história e com o qual ele se identifica. Num momento de sua descrição, o analista produz um efeito de equívoco “Forces du mâle ou de la femelle?”. Ele olha o analista espantado, como se tivesse lhe dito alguma bobagem e diz: “ O mal contra o bem, ora!”. Esse dito do analista teve valor de interpretação, como veremos. Na sessão seguinte, ele se senta no divã e diz ao analista que está com problemas na escola, que não consegue prestar a atenção. Diz, em seguida, que teve um sonho em que Jaspion era atacado por rodelas lançadas pelos inimigos. Jean-Louis se levanta então e, de pé, passa a fazer a pantomima de seu sonho. Em um dado momento, ele troca o nome de Jaspion e, num lapso, diz “eu”. Fica então de pé pulando mostrando como Jaspion-Jean-Louis se desvia das “rodelas” que são como os projéteis, balas lançadas contra ele. O analista pergunta quem são os inimigos e ele diz: mulheres. *O analista propõe como brincadeira contar até três e no final ele deve dizer ao analista o primeiro nome de mulher que lhe vier à cabeça. Ele acata de bom grado a brincadeira e primeiro fala de Isabelle, que é a menina com quem dividia a carteira na escola. Não associa nada a partir daí e pede para continuar a brincadeira. O analista diz: um, dois, três e já, e ele diz: Marianne. A partir daí, conta uma recordação de
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