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Dos principais fatos econômicos e monetários do após-guerra às recentes transformações na ordem econômica mundial. Introdução: considerações sobre o Sistema Financeiro Internacional Sistema Financeiro Internacional (SFI): é a estrutura de acordos, regras, convenções e instituições sob as quais os mercados internacionais e a firmas operam. Anti-Sistema Monetário: ausência de um arranjo técnico, organizado e pactuado entre as nações. Sem regras claras e estáveis, sua dinâmica é pautada em função das características do mercado, moldando-o “segundo a vontade do país dominante, não sem passar através de compromissos e provas de força com outros grupos”. Funcionamento do SFI As três funções básicas do SFI: 1) Realizar e consolidar os pagamentos relativos às transações efetuadas no âmbito internacional; 2) Prover unidade estável de valor; 3) Estabelecer normas para pagamentos diferidos (a prazo). Outro aspecto importante no funcionamento do SFI trata-se do mercado cambial, da moeda internacional e da taxa de câmbio. 1) Mercado Cambial: como os pagamentos realizados no SFI são transnacionais, decorrentes das atividades comerciais ou financeiras, envolvendo, em geral, diferentes divisas, os mercados cambiais são partes importantes deste sistema. 2) Moeda Internacional: moedas nacionais que são aceitas por residentes de outros países nas transações internacionais. Uma moeda para ser considerada uma divisa internacional deve ser confiável e possuir grande liquidez internacional. 3) Taxa de Câmbio: preço pelo qual a moeda é trocada, sendo este determinado no mercado de compra e venda de divisas, a partir do sistema de câmbio utilizado pelo país. Para que o SFI funcione sem grandes percalços, são necessárias três condições: 1) Um mecanismo efetivo de ajuste; 2) Liquidez adequada; 3) Confiança no sistema. Mecanismos de Ajuste: são os meios e políticas pelas quais os desequilíbrios de balanço de pagamentos entre países são corrigidos. Estes mecanismos materializam-se através de políticas cambiais, controle de capitais e das importações, adoção de políticas (restritivas ou expansionistas) monetárias e fiscais. Em geral, de forma equivocada, os mecanismos de ajuste são pensados e aplicados apenas em situações de déficits no BP. Liquidez: significa prover disponibilidade adequada de moedas internacionais, de forma a não restringir o comércio e as transferências de capital no plano internacional. Confiança: decorre da confiabilidade na estabilidade do sistema como um todo e também em seus principais componentes, particularmente em relação ao valor e aceitabilidade de sua(s) moeda(s) chave(s). Sistemas Cambiais: em geral, podem ser identificados quatro possíveis sistemas cambiais, 1) Sistemas de taxas de câmbio automáticas; 2) Sistemas com (N – 1) taxas de câmbio; 3) Administração multilateral da taxa de câmbio; 4) União Monetária (Áreas Monetárias Ótimas); Sistemas de Taxas de Câmbio Automáticas: existem dois tipos de automatismo cambial; o sistema fixo com mercadoria padrão e o de livre flutuação cambial (flutuação limpa). É importante salientar que estes sistemas possuem mecanismos de ajustes completamente diferentes: 1) Sistema fixo com mercadoria padrão: os países fixam o preço de suas respectivas moedas nacionais em termos de uma mercadoria, em geral ouro ou prata, determinando assim as diversas taxas de câmbio bilaterais. Cada moeda é lastreada pelas reservas da mercadoria padrão, que possuem livre conversão, e déficits no BP são eliminados através de transferências de reservas; 2) Sistema de livre flutuação: a taxa de câmbio é definida livremente pelo mercado de divisas, sendo que qualquer desequilíbrio do BP é eliminado pelo ajuste automático da taxa de câmbio; Sistemas com (N – 1) Taxas de Câmbio: entre os países participantes, o enésimo membro fixa seu câmbio em termos de uma mercadoria, enquanto os demais fixam seu câmbio em termos da moeda do enésimo país. Nesse sistema há N – 1 taxas de câmbio. Para que este sistema possa funcionar, os participantes com desequilíbrios em sus BPs precisam adotar políticas econômicas internas de ajuste. O enésimo país ocupa uma posição especial que pode também apresentar problemas. Sua moeda é a principal divisa internacional, o principal meio de compensação e de reservas do sistema. Para que outros países detenham os montantes adequados da moeda-chave, o enésimo país tem de registrar déficit em seu balanço de pagamentos. Mas se este déficit tornar-se demasiado grande, os demais países perderão a confiança no enésimo país. A falta de confiança na moeda-chave acabará por minar a confiança no próprio sistema. (Roberts, 2000: 13) Administração Multilateral da Taxa de Câmbio: é uma forma de regime de taxa de câmbio flutuante com intervenções corretivas, também conhecida como flutuação “suja”. União Monetária: é quando o ajustamento da taxa de câmbio se dá através da adoção de uma moeda comum entre alguns países. São sistemas cambiais de natureza regional, ou seja, restritos aos países membros da União. Tipo de câmbio objetivo: Defesa da Taxa de Câmbio X Defesa do Nível de Reservas Uma visão prospectiva da organização e evolução do SFI 1. O Padrão Ouro, 1816-1933; 2. O Sistema de Bretton Woods, 1944-1973: - O papel pivô do dólar americano; - Taxas de câmbio fixas, mas ajustáveis (previsíveis); - Fundo Monetário Internacional; - Banco Mundial; - As décadas de 1940 e 1950: reconstruindo a conversibilidade; - A década de 1960: déficits nos EUA e expansão dos euromercados; - O fracasso do sistema de Bretton Woods. 3. Taxas de Câmbio Flutuantes – a partir de 1973 (o anti-sistema monetário): - Aumento dos preços do petróleo e reciclagem dos petrodólares; - A crise da dívida; - A explosão do mercado de ações nas décadas de 1980 e 1990; - Do comunismo ao capitalismo; - A globalização e a formação dos blocos regionais; - A crise do peso mexicano de 1994-95; - Crise financeira do Leste asiático no final dos anos 90; - A crise na Rússia e na América Latina; - O socorro do FED; 4. Mercados Financeiros Globais: - Desregulamentação dos mercados financeiros; - Revolução na tecnologia das comunicações; - Inovações financeiras: a nova arquitetura das finanças globais. Aula 5A O velho e o novo contexto das relações econômicas internacionais As características básicas das relações econômicas internacionais geradas a partir de Bretton Woods Mercado Financeiro com as seguintes características: 1) Taxa de câmbio fixa; 2) Capitais com movimentos limitados, e na maioria das vezes de natureza institucional; 3) Reservas cambiais no BC; 4) O mercado privado não conseguia criar reservas; 5) Instituições financeiras operavam no mercado doméstico, captavam depósitos e concediam empréstimos; 6) O mercado era regulamentado e cartelizado. O Mercado Real: 1) Eliminação de restrições comerciais e acordos bilaterais, supervisionados pelo GATT; 2) Grande dependência dos déficits norte-americanos; 3) Internacionalização do mercado via Estados Nacionais; 4) Prevalece a chamada “economia do cawboy”; 5) Ausência de uma reestruturação produtiva mais profunda e geral entre os países capitalistas, com exceção dos EUA; 6) Hegemonia absoluta dos EUA. Principais características da Nova Ordem Econômica Mundial Mercado Financeiro com as seguintes características: 1) A crise do sistema financeirode Bretton Woods e o enorme volume e volatilidade de capitais obrigou os países a adotarem câmbio flexível; 2) Agentes financeiros (não só bancos), via empréstimos internacionais, criam e destroem reservas em países que insistiam em manter o câmbio fixo; 3) A revolução da informática baixou os custos de transação e a rapidez na informação levou à criação dos derivativos, um mercado gigantesco e pouco regulamentado; 4) Em vez de bancos captando depósitos e emprestando, existem instituições financeiras e não-financeiras emitindo e negociando títulos; 5) A capacidade de criar ativos e derivativos em moeda estrangeira acabou com as fronteiras, independentemente das regras do país; 6) O grande volume de capital especulativo, a grande integração dos mercados e a já mencionada volatilidade do capital, tornam mais complexas as políticas de sustentabilidade dos fluxos de capitais, favorecendo também os ataques especulativos à moeda; 7) Neste cenário recomenda-se que o nível de reservas seja o equivalente a 1 ano de importações, para fazer frente às variações cambiais e seus impactos no movimento de capitais, contrapondo-se aos 3 meses de importações que prevalecia como limite ideal de reservas no sistema de Bretton Woods; 8) Os agentes do mercado, neste contexto, antecipam suas expectativas e, em outros casos, se adaptam às mesmas, sendo que em ambos os casos, haverá ganhadores e perdedores e maior instabilidade no mercado. O Mercado Real: 1) Predomínio da microeletrônica, dos sistemas de automação flexível de manufaturas, da biotecnologia, da engenharia genética e dos novos materiais, como motores do desenvolvimento econômico; 2) Supremacia dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento e da qualificação da mão-de-obra como determinantes da competitividade internacional; 3) Redução da importância do custo da mão-de-obra como determinante da competitividade internacional; 4) Declínio da intensidade de utilização dos materiais tradicionais e uso crescente de novos materiais; 5) Adoção de novas técnicas gerenciais e de novas formas de organização industrial; 6) Globalização da economia através da formação dos grandes blocos regionais; 7) Crescente autonomia dos setores privados, aumentando seus poderes de influenciar os rumos da economia mundial; 8) Maior internacionalização da produção, com as empresas multinacionais transformando-se cada vez mais em supranacionais, apátridas, configurando os grandes multimercados mundiais; 9) Adoção crescente, por parte dos países desenvolvidos, das chamadas barreiras invisíveis às importações; 10) Erosão das vantagens comparativas tradicionais, entre os países em desenvolvimento, baseadas na abundância de matérias primas e na disponibilidade de mão-de-obra barata e desqualificada. Tais mudanças ambientais nas relações econômicas internacionais trazem a necessidade de uma revisão no papel das instituições nacionais e supranacionais, bem como na eficácia dos instrumentos de política macroeconômica. Alguns exemplos dessas implicações são: 1) Limitações e alterações para o Governo e o BC na condução e coordenação de políticas macroeconômicas por exemplo, os riscos e os valores dos ativos variam minuto a minuto, tornando virtualmente impossível fotografar o mercado e, mesmo, conhecer ou controlar a base monetária neste contexto, o BC pode no máximo estimular e educar o mercado. Outro fato importante a salientar neste quadro, e que torna-se uma visão atrasada, é achar que capital bom (investimentos diretos) são estáveis, e os especulativos são ruins devido às suas instabilidades. O que é importante ressaltar é que as crises nos BP não são causadas, em última análise, pelos capitais voláteis, mas por erros na condução das políticas macroeconômicas, como a inconsistência das políticas fiscais e cambiais, redução da poupança interna que afastam tanto os capitais externos quanto os internos. É importante lembrar que um país pode apoiar-se apenas temporariamente em poupanças externas; 2) O processo de internacionalização atinge o seu estágio mais maduro, o da globalização, sendo o seu estágio mais marcante o da globalização do mercado financeiro segundo Coutinho, “em pouco tempo formou-se um gigantesco mercado mundial de riqueza mobiliária cujo volume saltou de US$ 7 bilhões em 1983 para US$ 35 bilhões em 1995”. Grande parte destes recursos são ativos e derivativos em moedas estrangeiras que acabaram com as fronteiras, independentes das regras de cada país. Foram criados também os blocos regionais com grandes implicações na condução de políticas econômicas e comerciais. Aula 5B O acordo de Bretton Woods e a nova ordem econômica no pós-guerra Algumas questões prefaciais O quadro econômico e político do pós-guerra apresentavam uma dicotomia entre os EUA e os demais países capitalistas. No plano geral, existia uma desorganização das relações econômicas/financeiras internacionais, necessitando, portanto, a reorganização das mesmas. Os princípios norteadores do Acordo: - Teoria da escassez de dólares - Despreocupação com questões teóricas relativas aos problemas da economia internacional - Idéia de que taxas de câmbio flutuantes estavam, inevitavelmente, associadas à desordem econômica e comércio fraco. A ausência de regras levava a manipulação do câmbio, criando vantagens conhecidas como “beggar-thy-neigbor” (empobrecer o vizinho) desvalorizações competitivas. Volcker: Creio existir alguma dúvida, entre teóricos revisionistas, de que as desvalorizações competitivas fossem realmente tão importantes antes da guerra, como então se acreditava. Pressão nesse sentido foi observada, de forma mais significativa, em duas grandes desvalorizações: Grã-Bretanha em 31 e nos EUA em 33. Nesse último, as desvalorizações foram um ponto importante para a implementação do New Deal de Roosevelt. As negociações finais (1944): o fato de a guerra ter imposto o fechamento dos mercados internacionais, criava-se uma oportunidade impar para se buscar um realinhamento das relações econômicas internacionais. Os objetivos do Acordo: buscou-se detalhar um acordo que reorganizava completamente o SMI, sendo que isso só foi possível nas condições específicas da época, como, - esvaziamento de preocupações de caráter local; - enfraquecimento econômico/político de vários países capitalistas importantes. Não existiam, nesse contexto, muitas dúvidas sobre os pontos fundamentais do Acordo, que eram basicamente: - “Evitar os distúrbios monetários que tinham caracterizado a grande depressão e contribuído para ela. Para isso, desejavam um sistema de taxas de câmbio fixa, sob fiscalização e orientação internacionais; - Queriam terminar com o controle sobre comércio e serviços internacionais; - Desejavam apoiar mudanças nas taxas de câmbio somente em circunstâncias excepcionais, que definiram como um ‘desequilíbrio básico’ das contas internacionais de um país; - E para alcançar esses objetivos, criaram uma instituição internacional com uma equipe própria (o FMI) e o novo BIRD, a fim de prover fundos para a reconstrução do pós-guerra.” (Volcker e Gyohten, 1993: 26) As principais conseqüências do Acordo: - À medida que esta reorganização refletia muito mais a preocupação norte- americana de consolidar sua hegemonia do que garantir, em longo prazo, uma ordenação nas relações econômicas/financeiras internacionais, coloca-se de imediato a estreiteza de seus limites e sua alta potencialidade de conflitos. - Apesar disso, não podemos desconhecer seu significado histórico, ou “como disse Louis Rasminsky,Presidente do Banco do Canadá, em 1969, ‘algo de muito importante aconteceu em Bretton Woods em 1944, ou seja, o mundo assumiu conscientemente o controle do sistema monetário internacional’. ”. (Solomon, 1979) - Dessa forma, colocava-se a idéia de que as ações monetárias/cambiais de países isoladamente influíam sobre os demais, e ao fundar uma instituição monetária central de âmbito internacional estabeleceu-se um conjunto universal de normas de conduta monetária criava-se um embrião de um Banco Central mundial, organismo em tese e na prática superior ao esquema do sistema ouro/esterlino comandado pelo Banco Central inglês. Observações gerais para uma leitura de Bretton Woods: 1) Assimetria norte-americana preferência dos EUA pela imposição ao invés do consenso; acordo com grandes possibilidades de conflitos no futuro; 2) Reedição do “Acordo de Gênova”, (1922), sobre bases supostamente supranacionais; 3) Preocupação em evitar políticas bilaterais e protecionistas, bem como os processos especulativos (crise de 1929) decorrentes da desordem monetária/cambial nas décadas de 20 e 30; 4) Os debates de Bretton Woods refletiram a rivalidade entre o velho imperialismo inglês e o emergente norte-americano: Europa buscava a reconstrução econômica, consertar seus destroçados B.P., manter privilégios na nova ordem econômica e minimizar os efeitos negativos de sua posição devedora. EUA consolidar seu poderio econômico/financeiro, compatibilizando esse propósito com uma assistência para a reconstrução européia. 5) Esse debate refletia-se (no âmbito político e teórico) nos Planos Keynes e White: Plano Keynes mais ambicioso e incisivo, fugindo do padrão-ouro e do câmbio fixo (um plano dos devedores segundo os norte-americanos); Plano White mais conservador, defendendo a volta ao padrão-ouro e ao câmbio fixo. (Lichtensztejn e Baer, 1987: 34). 6) As propostas basicamente se prendiam aos desequilíbrios comerciais, não tendo qualquer preocupação com os movimentos de capitais; 7) Os mecanismos estabelecidos no Acordo mostraram-se, precocimente, impotentes para eliminar a escassez de dólares e reativar o crescimento das economias capitalistas. No caso da Europa, foi necessária a implementação do Plano Marslhall para consolidar sua recuperação econômica. Esse Plano era, em muitos aspectos, conflitante com a filosofia de Bretton Woods; 8) Bretton Woods era um plano para funcionar em uma situação de equilíbrio estático, incompatível com os objetivos dos países capitalistas naquele contexto; 9) As principais fases de Bretton Woods: a)1945/48 a escassez de dólares; b)1949/58 desequilíbrio benéfico; c)1958/65 a revelação; d)1965/71 desintegração; e)1971/73 a tentativa de reforma e seu fracasso; f)Após 1973 o anti-sistema monetário. Aula 5C A Anatomia do Acordo de Bretton Woods: Os Planos Keynes e White Divergências em relação aos aspectos teóricos que nortearam as bases do acordo Pano de fundo das divergências enquanto os europeus, particularmente a Inglaterra, buscavam uma estabilização de seus B.P., e assim, evitar o aprofundamento do grave quadro recessivo do pós-guerra, os EUA buscavam consolidar sua hegemonia, acenando que sua ajuda ao processo de recuperação estaria condicionada ao primeiro propósito. Os Planos para a reorganização do SMI começaram a serem elaborados a partir de 1.943, por J. M. Keynes (assessor do Ministro da Fazenda Britânico) e por Harry Dexter White (técnico do Departamento do Tesouro Norte-Americano). As primeiras negociações já aconteciam desde a entrada dos EUA na guerra, sendo que na Conferência de Ajuda Mútua (fevereiro de 1.942) os EUA e a Inglaterra já apresentavam um propósito mútuo de buscar um desenvolvimento econômico mais equilibrado e multilateral. Os princípios gerais: 1. A idéia básica era a de criar organismos supranacionais, que seriam os responsáveis pela gestão econômica/financeira internacional; 2. Como de fato, foi criado o FMI, o BIRD e, posteriormente, o GATT; 3. A criação desses organismos mostrava o que seria um principio básico do Acordo: a reação às políticas bilaterais, ao protecionismo e aos processos especulativos decorrentes da desordem monetária/cambial nos anos 20 e 30. Por traz destes princípios, entretanto, podemos observar indícios da rivalidade entre os EUA e a Inglaterra na definição das novas regras do SMI. Os EUA vão levar uma nítida vantagem na definição das novas regras para o SMI, deixando claro sua hegemonia econômica/financeira entre os principais países capitalistas. Através dos organismos multilaterais, que apesar de serem assim denominados sofreram forte influência e controle dos EUA, criou-se um código de conduta para a condução de políticas econômicas nos países com problemas em seus B.Ps., institucionalizando diversas modalidades de empréstimos e mediações financeiras entre os organismos criados, os governos nacionais e o sistema de bancos privados internacionais. Conforme já citado anteriormente, apesar dos princípios comuns, os EUA e a Inglaterra apresentavam divergências no conteúdo e instrumentalização de suas idéias. Esses aspectos podem ser melhor compreendido através da análise dos Planos Keynes e White. Os Planos Keynes e White As convergências: os poucos pontos de convergência entre os dois planos, limitavam-se a alguns princípios gerais como; 1. Ambos defendiam uma posição multilateral e a inexistência de restrições no comércio internacional e suas formas de pagamentos; 2. Admitiam a necessidade da reconstrução européia, destacando a ajuda econômica dos EUA como um ponto decisivo para o desenvolvimento econômico; 3. Reconheciam a necessidade de se criar um código de conduta para a implementação de políticas econômicas em países com problemas em suas contas externas. As divergências: 1. Os pontos de divergências eram em número maior, indo desde princípios mais genéricos até pontos mais específicos; 2. As divergências mais gerais; Plano Keynes Plano White Era mais ambicioso e incisivo. Propunha a criação da União Internacional de Compensações, comprometendo recursos da ordem de 25 bilhões de dólares. Mais conservador, propunha a criação de um Fundo de Estabilização menos complexo do que a UIC, com recursos da ordem de 5 bilhões de dólares. A proposta de Keynes procurava reorganizar a ordem monetária internacional com o objetivo de obter as mais amplas vantagens para o seu país, e com isso, manter uma superioridade estratégica no novo sistema. Procurava impor a hegemonia norte- americana, aproveitando de uma posição de negociação desigual entre os EUA e a Inglaterra. As principais discrepâncias pontuais dos planos. 1) A definição do que seriam os meios de pagamentos internacionais e como regular o seu tamanho: Plano Keynes Plano White Criação da UIC para conceder créditos aos países com liquidez insuficiente e assegurar as regras internacionais em matérias financeiras; Introdução de uma nova forma de dinheiro em substituição ao ouro; uma moeda nominal creditável em uma conta corrente que se atribuiria a cada país, com base em uma quota de participação proporcional ao seu peso no comércio exterior; Mecanismo que operasse o mais automaticamente possível, consolidando as posições externas sem a necessidade de movimentação de reservas cambiais; A posição de Keynes procurava impedir a supremacia do dólar como moeda internacional, e a possibilidade de que a liquidez internacionalficasse subordinada às políticas internas dos EUA. Dessa forma, procurava impedir a supremacia absoluta dos EUA no novo SMI. Teve como ponto fundamental o restabelecimento do ouro como reserva internacional; Acordou-se como principio básico (à medida que as reservas de ouro mundiais eram insuficientes para expandir o comércio internacional) do novo padrão monetário que toda moeda nacional poderia adquirir o status de meio de pagamento internacional se tivesse sua paridade-ouro declarada e aceita pelos demais países e organismos multilaterais; Essa idéia foi vitoriosa em Bretton Woods, alicerçando a materialização do FMI e a volta ao padrão ouro, ou, na realidade, ao padrão ouro- dólar. 2) As formas de equilibrar os Balanços de Pagamentos e a definição dos tipos de câmbio: Plano Keynes Plano White Além da Contas Correntes, admitia a possibilidade de controlar os movimentos de capitais de curto prazo; Tinha uma concepção mais flexível dos tipos de câmbio, não pressupondo a conversibilidade em ouro obrigatória. Centrava sua preocupação nos procedimentos de compensação, aconselhando limites aos processos de conversibilidade das moedas em ouro e/ou a manutenção das mesmas como reservas internacionais. Não previa nenhuma medida relativa ao movimento de capitais; Concepção mais rígida em relação ao câmbio. As paridades dos tipos câmbio (expressas em ouro) não deveriam se afastar das paridades declaradas em mais de 1,00% (para cima ou para baixo). Toda alteração superior a esse limite deveria ocorrer somente quando houvesse um “desequilíbrio fundamental” em seus Balanços de Pagamentos, exigindo uma consulta prévia ao FMI se excedessem os 10,00%. A conversibilidade em ouro seria obrigatória entre as moedas. Era implícito ao Plano White que o FMI somente funcionaria em bons termos se houvesse uma trajetória de relativo equilíbrio entre os Balanços de Pagamentos entre os países membros e de estabilidade nas relações cambiais. 4) A implementação dos mecanismos de ajuste: Plano Keynes Plano White Os mecanismos de ajuste dos Balanços de Pagamentos deveriam ser aplicados tanto nos países devedores quanto nos credores. Previa assim uma política de ajustes de desequilíbrios através de mecanismos corretores globais. O Plano White (e posteriormente os estatutos do FMI) só criava obrigações e condições concretas de ajustes para os países deficitários; Em conseqüência, os EUA ficaram desde o início a salvo de prestarem contas de suas políticas econômicas, em função da ausência de mecanismos corretores globais. 5) Outras observações gerais sobre os planos. - Convém destacar que os mecanismos de “ajuste” adquiriram nesta fase um caráter diferente do que existiu durante o período da supremacia inglesa; - “Hegemonia inglesa” a complementaridade da divisão internacional do trabalho e as restrições que a evolução dos B.P. impunham aos sistemas monetários nacionais, regiam uma tendência sincronizada entre movimentos comerciais e a liquidez mundial, sendo que os ajustes dos desequilíbrios operavam através dos sistemas de crédito privado e do domínio que sobre ele exercia a política financeira inglesa; - “Hegemonia norte-americana” a nova organização da produção mundial e a autonomia dos sistemas monetários/crediticios, “não existia nenhum processo de ajuste de créditos das estruturas financeiras norte-americanas que pudessem assegurar que a situação de seus B.Ps. continuassem sendo compatíveis com o desenvolvimento da liquidez internacional (....) não há sincronia das conjunturas (...) e os ajustes em outros países passam a depender de suas políticas econômicas.” Assim, a assimetria no tratamento entre os países superavitários e deficitários ratificava a desigualdade que o Plano White, e posteriormente o FMI, impuseram ao padrão monetário internacional e aos seus mecanismos organizativos. Além de seus aspectos administrativos e suas regras, a filosofia de Bretton Woods se prendia a três pontos: 1. Apesar de seu aspecto supranacional, tratava-se de um sistema nacional onde cada nação se ajustava frente às outras através de suas balanças comerciais, desconsiderando a idéia de integração das grandes empresas ou dos mercados financeiros através dos movimentos de capitais; 2. Era um sistema de equilíbrio, portanto para que todas as nações estivessem em equilíbrio, não deveriam ter superávites nem déficits expressivos; 3. Defendia a manutenção de um sistema de câmbio fixo ou semifixo, que poderia ser comprometido pelo afastamento do sistema ouro (ou pela adoção parcial do mesmo) ou pelo agravamento de processos inflacionários entre os países participantes. Interesses assimétricos entre nações deficitárias e superavitárias: Deficitárias mecanismos básicos de ajuste: redução de custos e preços, ações para contrair a economia, forçando uma taxa de inflação mais lenta do que a de seus parceiros. Entretanto, quanto mais forte o compromisso dessas nações com o pleno emprego e o crescimento, mais difícil a adoção dos mesmos preferiam assim o caminho da desvalorização cambial ameaça ao câmbio fixo. Superavitárias não sofriam tal pressão, podendo calibrar de forma mais conveniente seus mecanismos de ajuste. A questão relativa ao equilíbrio “deriva do conceito interno de equilíbrio, que é transposto para o quadro externo. Esse conceito, subjacente à filosofia de B.W., baseava-se no principio de que as nações manteriam-se numa relação relativamente fixa entre si. Para tanto, os ganhos de uma nação se dariam em decorrência do dinamismo interno de cada uma, ou se conseguidas via comércio externo, através de um crescimento conjunto. Ganhos de uma nação às custas de outras eram vistos como uma situação de curto prazo sem grandes poderes de sustentação”. Pós II Guerra ninguém desejava um equilíbrio estável, ao contrário, todas as nações desejavam a recuperação, principalmente os europeus e os japoneses, através de um crescimento rápido e elevado. Conflito básico entre as metas de crescimento e a filosofia de equilíbrio, aspecto central dos acordos de Bretton Woods. Esse conflito será solucionado parcialmente através do chamado “desequilíbrio benéfico”, caracterizado como sendo o crescimento dos principais países capitalistas com base nos déficits dos EUA e, em grau menos, da Inglaterra. Bretton Woods não constituiu apenas o FMI, foi também responsável pela criação do BIRF (Banco Internacional de Reconstrução e Fomento), primeira das instituições que, mais tarde, com a CFI (Corporação Financeira Internacional), a AIF (Associação Internacional de Fomento) e o CIADI (Acertos de diferenças Relativas a Investimentos) constituem hoje em dia o Banco Mundial. As disputas foram menos intensas na criação do Banco Mundial, sendo este criado sobre três premissas: 1) O Banco Mundial não seria peça tão importante quanto o FMI no SMI; 2) A Grã-Bretanha e outros importantes países fundadores não questionaram a autoridade dos EUA na estrutura do Banco; 3) Reconhecia-se a influência decisiva do mercado financeiro norte-americano na provisão de fundos para o Banco, e, via de conseqüência, seu poder de ingerência direta em sua direção. A única polêmica mais significativa sobre a atuação do Banco centrava-se na questão relativa à priorização do objetivo de reconstrução ou de fomento. Com apoio dos EUA, o objetivo de reconstrução,defendido pelos europeus, sobrepôs ao de fomento/desenvolvimento, marcando as características iniciais de atuação do Banco. Conclusão “(...) o SMI se reorganizou em Bretton Woods baseado no poder econômico, financeiro e político dos EUA, estendendo internacionalmente a hegemonia de sua moeda e de suas políticas. Neste sentido, pode-se afirmar que o FMI e o Banco Mundial - mais que reguladores do sistema de relações internacionais - foram inicialmente forjados como instrumentos dessa dominação norte-americana. A grande diferença do passado inglês é que essa hegemonia conseguiu legitimar-se em instituições e mecanismos multilaterais que se definiram, se proclamaram e até hoje se projetam como de cooperação mundial”. () Aula5D
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