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O Movimento Cíclico e a Crise de 29 origens e evolução

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1 
Evolução do Capitalismo Moderno (ECM – Aula 3) 
 
O Movimento Cíclico e a Crise de 29: origens e evolução. 
 
“Quem não conhece a história está condenado a repeti-la, lembra Selwyn Parker, citando Marx, em uma de suas passagens. 
Quem lê o livro, oitenta anos depois daquela crise, quase que inevitavelmente fará uma analogia com a atual. Oriunda da 
bancarrota do mercado sub-prime norte-americano em 2008, a nova crise, desta vez, reflete o abalo na confiança do sistema 
financeiro, que se propaga por todo o mundo. Sua profundidade e extensão ainda trazem muita incerteza e permanecem como 
ponto de discussão aberta”. 
 
“Quem precisa de um juro fixo para viver não deve comprar ações”. (Arnold, um perito da bolsa na Alemanha; Informe 
estenográfico de pesquisa da Bolsa Alemã de 1893). 
 
“A longo prazo todos estaremos mortos”; (Keynes; Teoria Geral). 
 
“Apesar de constituírem lugares comuns, as crises são entidades metódicas. Elas se parecem um pouco com furacões: 
operam de forma relativamente previsível, mas podem mudar de rumo, e até reaparecer praticamente sem avisar. Este livro 
estabelece os princípios pelos quais essas tempestades econômicas podem ser rastreadas e monitoradas e ainda, dentro de 
certos limites razoáveis, previstas e até evitadas”. (Roubini e Mihm; Economia das Crises). 
 
“Plantar tâmaras para colher depois de cem anos? Como se já se decidiu que vamos plantar aboboras para colher daqui a seis 
meses?” (Rubem Alves). 
 
 
 Algumas Questões Prefaciais: Bolhas, Crashes, Pânicos e Crises Econômicas: da 
Crise da Bolsa de Valores de New York 1929 à Grande Depressão dos Anos 30. 
 
 Bolhas, Crashes, Pânicos e Crises Econômicas. 
 No estudo das crises econômicas é de fundamental importância a identificação de 
processos com efeitos semelhantes, mas que são gerados por mecanismos bastante 
diversos. Para melhor compreensão será citado alguns exemplos: 
 Estouro de bolha (crash): resultante de um colapso dos preços dos ativos, como ações ou 
títulos negociados em bolsas. Também podem ser resultantes da quebra de grandes 
bancos, financeiras ou empresas importantes de um setor econômico; 
 Pânico: caracterizado por uma corrida geral sem uma causa aparente gerando fuga de 
determinados ativos mais arriscados para ativos considerados mais seguros. Também 
pode se apresentar por um aumento na retirada de depósitos bancários, um aumento da 
 2 
preferência pela liquides, ou para aplicações que apresentam uma elevação em suas 
rentabilidades; 
 Crises Financeiras: podem ocorrer em função dos fenômenos acima que aumentem a 
percepção de risco para as instituições financeiras, afetando a oferta de crédito, a 
solvência dos bancos e, consequentemente, a liquidez da economia; 
 Crises Econômicas: em geral crises financeiras podem gerar uma redução no nível das 
atividades econômicas gerando um processo recessivo na economia. Em geral são crises 
relativamente curtas que afetam o nível das atividades econômicas (recessões). Podem ou 
não serem acompanhadas por queda nos preços de ativos e mercadorias; 
 Flutuações Econômicas ou Ciclos Econômicos: caracterizam-se pelas alterações na 
dinâmica (ritmos) das atividades econômicas em função da taxa de crescimento das 
atividades econômicas determinadas por variáveis econômicas como o investimento, nível 
de emprego, taxa de lucro, nível de preços, formação de estoque e tecnologia; 
 Depressões Econômicas: são fenômenos mais longos, raros e importantes. Tais processos 
estão associados a uma forte e duradoura queda no nível das atividades, podendo refletir 
no nível de preços e de emprego. São acompanhados por falências e redução de demanda 
interna e externa. Podem afetar aspectos mais amplos e estruturais da economia como o 
sistema monetário, destruindo antigas tecnologias e gerando novas e revolucionárias 
tecnologias. Provocam mudanças que transcendem a esfera econômica, afetando também 
as questões políticas, culturais jurídicas, etc. As grandes depressões em geral 
transcendem as questões nacionais e conjunturais e é o nascedouro de novas ideias 
econômicas na forma de teorias ou políticas econômicas. 
 
 
 A crise da Bolsa de Valores de New York: origens e evolução. 
 
 De acordo com Parker (2009) a crise de 1929 foi um prenuncio e ao mesmo tempo uma 
lição importante e duradoura para o capitalismo. Ao aprofundar o estudo sobre as origens 
e consequências do crash de 1929 e a depressão que se seguiu, caracterizou-se como 
um dos períodos mais complexos e polêmicos da história do século XX. Por outro lado, 
foi também um momento fecundo para o pensamento econômico, traduzido pelas 
importantes referências teóricas e a necessidade de explicar novos fenômenos 
 3 
econômicos até então sem explicações plausíveis no arcabouço da denominada ‘teoria 
clássica’. Desta forma, uma virtude importante do autor é “oferecer não apenas um amplo 
painel da história econômica, mas discutir sobre bases teóricas que, inclusive serão úteis 
para entender os processos atuais, como por exemplo, a crise do sub-prime”. 
 
 Segundo Delorme Prado (2009), “... uma conhecida frase, escrita por J. M. Keynes 
observava que as ideias dos economistas e dos filósofos políticos, estejam elas certa ou 
erradas, são mais poderosas do que normalmente se considera.” Em seu argumento, o 
autor justifica que sendo a economia uma ciência social, sua principal forma de testar 
“empiricamente suas proposições é através da análise de fenômenos históricos”. 
 
 Em outras palavras, as disciplinas de história econômica permitem uma comparação entre 
os fenômenos históricos e sua aderência, ou não, às proposições analíticas apresentadas 
pelos modelos teóricos à medida que se apresentam como um laboratório para testar o 
poder de explicação destes modelos. Três bons momentos históricos podem servir de 
exemplo: o das hiperinflações da Áustria, Hungria, Polônia e Alemanha; o da Crise da 
Bolsa de Valores de New York em 1929, e a da Grande Depressão na Europa e nos EUA 
nos Anos 30. 
 
 
 As causas e natureza da Crise de 29 e da Grande Depressão – uma abordagem 
teórica introdutória. 
 
 É importante ressaltar, como já foi mostrado anteriormente, que a crise da Bolsa de 1929 
não pode ser confundida com a Grande Depressão. Na verdade, esta se apresenta mais 
como uma consequência de um processo mais amplo, já em marcha, do que como causa 
deste. Uma consequência sem dúvida importante, por ser uma das primeiras e mais 
importante manifestação da grande depressão e ter efeitos cumulativos e desestruturador 
dentro das economias americana e europeia. 
 
 Conforme Delorme Prado (2009: 16), “nas referências à crise econômica entre as guerras 
não é incomum certo grau de confusão entre eventos de duração relativamente limitados, 
tais como a ou mania na Bolsa de Valores de Nova York e seu estouro (ou crash), em 
 4 
outubro de 1929, e a Grande Depressão. Essa, diferentemente daquele evento, que foi 
limitado no tempo e no espaço, foi um fenômeno extenso no espaço e prolongado no 
tempo. Chamamos de Grande Depressão não o ‘crash’ de 1929, mas a deflação do preço 
das mercadorias e dos ativos, causada pela drástica redução do nível de atividade 
econômica, que afetou a economia norte americana, mas também, embora de maneira 
desigual, a economia da maioria dos países do mundo, durante cerca de uma década, ou 
seja, até o advento da Segunda Guerra Mundial”. 
 
 Se a crise da bolsa em 1929 pode ser explicada por um boom especulativo, a Grande 
Depressão não podia ser vista desta forma, na verdade a crise de 29 não era suficiente 
para explicá-la. 
 
 Como mostraDelorme Prado (2009: 24), citando Galbraith que, “... é da natureza de um 
boom especulativo que qualquer coisa pode derrubá-lo. Mas a Grande Depressão não se 
explica pelo estouro da bolha entre 21 e 24 de outubro de 1929. Esses eventos 
certamente levariam a uma crise financeira e a uma recessão, mas não eram por si só 
suficientes para provocar uma depressão como a que devastou a economia dos EUA e do 
resto do mundo, transformando-se em uma crise política que foi uma das causas remotas 
da Segunda Guerra Mundial”. 
 
 
 O Quadro Geral: Alguns pressupostos iniciais: a Bolsa de Valores, a Sociedade 
Anônima, o Capital Financeiro, Dinheiro e Crédito. 
 
 Segundo Hilferding (1985:101), “no sistema capitalista de produção, qualquer soma de 
dinheiro tem a capacidade atuar como capital, ou seja, de render lucro, desde que seja 
colocada à disposição de capitalistas produtivos... Uma vez que o proprietário empresta 
seu dinheiro, para ele esse dinheiro passa a atuar como capital (capital de empréstimo), 
porquanto retorna a ele, depois de algum tempo, como dinheiro multiplicado. O capital, 
porém, só se valoriza no processo de produção e mediante a exploração da força de 
trabalho, pela apropriação de trabalho não pago”. 
 
 E continua o autor, “o capital monetário do capitalista prestamista deve converter-se, por 
isso mesmo, em capital monetário do capitalista produtivo para poder firmar-se no 
 5 
processo de produção, ou seja, para produzir lucro. Esse lucro é em seguida dividido; uma 
parte volta para o capitalista prestamista (com juros), e a outra fica com o capitalista 
produtivo. Como em circunstâncias o juro constitui uma parcela do lucro, este será o limite 
máximo do juro. Será esta a única relação existente entre o lucro e o juro”. 
 
 Em contrapartida, o juro não é nenhuma parte determinada ou fixa do lucro. O nível de 
lucro depende da oferta e da procura do capital de empréstimo. “É possível conceber e 
formular as bases da sociedade capitalista partindo do princípio de que os proprietários de 
dinheiro e os capitalistas produtivos sejam idênticos ou, em outras palavras, que todos os 
capitalistas produtivos dispõem, ao mesmo tempo, do capital monetário de que 
necessitam. Então não surgiria nenhum juro. Por outro lado, a produção capitalista seria 
inconcebível sem a produção de lucro; pelo contrário, ambos implicam a mesma coisa. A 
produção de lucro é mais valia consubstanciada no mais produto, é objetivamente. O lucro 
se origina diretamente da relação econômica, da relação do capital, isto é, da separação 
dos meios de produção do trabalho e da oposição entre o capital e o trabalho 
assalariado...” (Hilferding; 1985:102). 
 
 E continua Hilferding (1985:102), a magnitude deste conflito “depende do novo valor que a 
classe operaria produz com os meios de produção existentes e da divisão desse novo 
valor entre os capitalistas e a classe operária, que mais uma vez é determinada pelo valor 
da força de trabalho. Lidamos aqui com fatores objetivamente determinados”. 
 
 Outra questão apresentada pelo autor é em relação aos juros. Hilferding (1985:102) 
ressalva que o juro “é outra coisa. Ele não decorre de um aspecto essencial do 
capitalismo, ou seja, da distinção feita entre os meios de produção e o trabalho, mas de 
um fator acidental segundo o qual não são somente os capitalistas produtivos que 
dispõem de dinheiro. Em vista disso, não é necessário que o capital monetário entre 
integralmente, a toda hora, no ciclo do capital individual; de vez em quando ele pode 
permanecer ocioso. A parte do lucro da qual os capitalistas prestamistas podem apropriar 
dependerá das variações observadas na relação de demanda desse capital monetário por 
parte da produção”. 
 
 Desta forma, “já que o juro depende da oferta e da procura, como será determinada então, 
por sua vez, a oferta e a procura? De um lado encontra-se o dinheiro momentaneamente 
 6 
ocioso, mas à procura de valorização; de outro lado encontra-se a demanda de dinheiro 
por parte dos capitalistas, que querem transformá-lo de capital monetário em capital 
produtivo. Essa alocação é feita pelo capital creditício, sendo que o nível do juro irá 
depender das condições do mercado de capitais. A cada momento dado haverá à 
disposição da sociedade capitalista uma soma de dinheiro quantitativamente determinada 
que represente a oferta; por outro lado, existe ao mesmo tempo, a necessidade de capital 
monetário por parte dos capitalistas produtivos, a qual se apresenta igual por força da 
expansão da produção e circulação. na presença de duas magnitudes determinadas”. 
(Hilferding; 1985:102). 
 
 E como argumenta o autor, encontramo-nos aqui, portanto, na presença “de duas 
magnitudes determinadas a cada momento, que se confrontam no mercado monetário e 
que determinam o ‘preço do empréstimo de dinheiro’, ou seja, a taxa de juros. Essa 
determinação não oferece nenhuma dificuldade; esta só vai se apresentar por ocasião da 
análise da variação da taxa de juros... Está claro, pois, que a expansão da produção e, em 
consequência, a da circulação significa uma demanda multiplicada de capital monetário. 
Mantida a oferta, a procura aumentada teria que causar um aumento das taxas de juros. A 
dificuldade decorre do fato da oferta alterar-se simultaneamente e em função da própria 
demanda alterada. Se atentarmos para o volume de dinheiro que entra na composição da 
oferta, verá que é constituído de duas partes: primeiro, da moeda corrente existente; 
segundo, da moeda fiduciária”. 
 
 A alteração destas variáveis trará consequências inevitáveis como descasamentos entre o 
setor real e o monetário, afetando a circulação, a produção e o investimento. 
 
 
 
 A Sociedade anônima: a mobilização e financiamento do capital financeiro, os 
dividendos e o lucro do fundador. 
 
 Diferentemente da visão tradicional que prioriza o foco na empresa individual Hilferding 
concentrará seu estudo na empresa constituída através das sociedades anônimas, 
discutindo os aspectos positivos e negativos destas em relação às empresas de capital 
fechado. Analisara também as formas organizacionais destas sociedades, sua arquitetura 
 7 
financeira, a apropriação do lucro/dividendos, a partir de um novo conceito desenvolvido 
pelo autor, o lucro do fundador. 
 Partindo deste novo conceito Hilferding (1985: 111) argumenta que “a sociedade anônima 
industrial, para a qual atentaremos primeiro, significa antes de tudo uma alteração da 
função exercida pelo capitalista industrial. Ela transforma em princípio fundamental o que 
tem sido ocorrência ocasional, causal na empresa individual: ou seja, a liberação do 
capitalista industrial de suas funções de empresário industrial. Para o capitalista, essa 
alteração de função atribui ao capital investido na sociedade anônima a função de puro 
capital monetário”. 
 
 E continua Hilferding (1985: 111) “o capitalista monetário enquanto credor, nada tem a ver 
com o que é feito com seu capital no processo de produção, embora esse emprego seja, 
na realidade, a condição necessária da relação de empréstimo. Sua função é apenas 
ceder seu capital monetário e recuperá-lo com juros depois de certo tempo, resumindo-se, 
pois sua função numa transação jurídica; assim também o acionista atua como simples 
capitalista monetário. Ele fornece o dinheiro para receber (em termos bem genéricos) um 
rendimento. Assim como o capitalista monetário só arrisca determinada soma cujo 
montante ele mesmo estabelece, o acionista também pode optar pelo montante que 
deseja aplicar e não responde por mais do este total”. 
 
 Outro aspecto Importante neste processo, segundo Hilferding (1985: 112) é que “devemoslevar em consideração, antes de qualquer coisa, que o rendimento do capital monetário 
posto à disposição sob a forma de ações não é de maneira alguma um rendimento 
totalmente indeterminado. A empresa capitalista é criada para dar lucro. A obtenção do 
lucro, ou seja, a produção do lucro médio obtido em condições normais é à condição 
prévia da fundação da empresa. De qualquer modo, o acionista aqui se encontra em 
situação semelhante à do capitalista monetário, que da mesma forma tem de contar com o 
aproveitamento produtivo de seu capital, para que seu devedor não se torne insolvente. 
De modo geral, a insegurança relativa do acionista, talvez maior do que a do capitalista 
monetário rende-lhe certo prêmio de risco. Só não é correto imaginar que este prêmio, 
como tal, seja de algum modo determinado e se apresente como exigência consciente e, 
sobretudo mensurável do acionista. Só não é correto imaginar que este prêmio, como tal, 
seja de algum modo determinado e se apresente como exigência consciente e, sobretudo, 
 8 
mensurável do acionista. Esse prêmio decorre, antes de tudo, do fato de a oferta de 
capitais monetários (que fundadores de companhias procuram e que se encontram 
disponíveis para investimentos em ações) será normalmente menor que a oferta para 
aplicação a juros fixos – eventualmente em investimentos especialmente seguros”. 
 
 E continua Hilferding (1985: 112) “é, sobretudo essa diversidade na oferta que explica a 
diversidade da taxa de juros e, respectivamente, a diversidade de cotação dos títulos que 
rendem juros. A maior ou menor segurança constitui a razão para a maior ou menor 
oferta. Mas é só a partir da diversidade registrada na relação entre oferta e procura que se 
verifica uma diferença na taxa de juros. Portanto, o resultado presumível desse 
rendimento da ação é determinado pelo lucro industrial, e, este, em iguais circunstâncias, 
pela taxa de juros média”. 
 
 Como ressalta o autor, “o acionista não é nenhum empresário capitalista, é um simples 
capitalista financeiro, que investe em função de um ganho monetário auferido pelas suas 
posições e ações”. Este processo este fortemente associado a transformações ocorrido na 
Europa entre a 1ª e 2ª Guerras mundiais, que trará também mudanças significativas na 
economia mundial. 
 
 Antes da 1ª Guerra Mundial uma mudança importante acontecerá na estrutura do modo 
de produção capitalista: a passagem do capitalismo concorrencial para o capitalismo 
financeiro com um forte viés de concentração do capital, denominado ‘lato senso’ como a 
era do imperialismo. 
 
 O grande avanço tecnológico e o vigoroso crescimento de novos setores industriais como 
o químico, o melhoramento dos transportes e de um avanço tecnológico em vários setores 
da indústria, criou condições para um forte processo de concentração e centralização da 
produção e da comercialização dos bens de consumo e de investimento. Neste cenário 
tornou-se imperativo um rompimento com o capitalismo concorrencial, estimulando a 
concentração e centralização do capital para sustentar seus interesses imperialistas em 
um irrevogável processo de internacionalização da economia. 
 
 Assim, o antigo capitalismo concorrencial defendido por Adam Smith, David Ricardo e 
pelos clássicos em geral, será reformado pelas ideias intervencionistas, de alguma forma 
 9 
já formatada pelos mercantilistas, Malthus e, posteriormente, de forma mais elaborada, 
por Keynes. Esta reforma no capitalismo alcançará também os aspectos monetários e 
financeiros, criando uma concentração financeira, o capital financeiro, que será a outra 
face do imperialismo. 
 
 O grande avanço teórico de Hilferding é perceber que a “transformação estrutural do 
capitalismo é determinada pelo surgimento e desenvolvimento do mercado acionário. A 
propriedade por ações separa a propriedade do capital da realidade efetiva da produção. 
Ela libera o capitalista industrial da função de empreendedor industrial e permite a seus 
fundadores de recorrerem a todo conjunto do capital – dinheiro presente na sociedade. A 
sociedade por ações recorre imediatamente ao conjunto de capital da classe capitalista. 
Assim se realiza a expansão do capitalismo, liberado de tudo o que o ligava à propriedade 
individual, já não devendo mais levar em conta a não ser as exigências técnicas e da 
busca do lucro”. (Dottschalch, Wilfried: 2010) “Desenvolvimento e crise do capitalismo de 
R. Hilferding”. 
 
 E continua o autor, “incumbindo aos bancos à decisão de fornecer capital, estes preferem 
acordar créditos às sociedades por ações, às quais facilitam a supervisão da gestão 
financeira pelo envio de representantes aos seus conselhos de administração. E como 
sociedade por ações também pode reunir mais facilmente um capital inicial, não há mais 
perigo de imobilização de ativos da empresa. A isso se acrescenta que os grandes 
bancos, que detêm todo o capital dinheiro e o colocam à disposição das grandes 
empresas, distribuem mais amplamente o crédito de investimentos sob a forma de 
créditos de emissão, o banco não recebe juros propriamente dito, mas o que se chama 
‘ganhos (parte) do fundador’”. (Dottschalch, Wilfried: 2010). 
 
 Hilferding explica este procedimento da seguinte forma, “... substitui-se o capital portador 
de lucro por um capital portador de juros e os ganhos são, por sua vez, transformados em 
capital. Quando uma empresa tem como objetivo fazer 15% de lucro e a taxa de juros é 
de 7,5%, ela pode, transformando-se numa sociedade por ações, vender ações por uma 
soma que monta o dobro do capital realmente investido. A diferença entre a soma que 
deve render 15,0% de juros e a que deve render 7,5% de juros, portanto a diferença entre 
os dois capitais –aquele sobre o qual é calculado o dividendo e aquele sobre o qual é 
calculado o lucro- da parte do fundador, que vai para o bolso do fundador, o enriquece e o 
 10 
reforça para novas operações. O aumento do capital de uma sociedade anônima já 
existente pode também dar lugar a uma parte do fundador, quando seu lucro é maior que 
a taxa média de juros”. (Dottschalch, Wilfried: 2010). 
 
 Neste processo, o investimento é alto, arriscado e de longo prazo. O mesmo ocorre com o 
crédito. O crédito de longo prazo permite aos bancos supervisioná-los através de sua 
participação nos conselhos administrativos e, consequentemente, tornando os controles 
mais acurados. Às vezes, somente um terço de ações concentradas em mãos de 
acionistas o possibilita controlas a S.A. 
 
 Por outro lado, para o autor, o capital financeiro modifica a relação de classes e deixa o 
peso e a união das empresas pressionarem o Estado. O capital financeiro também chega 
a transformar pequenas empresas em tropas protetoras da grande indústria, à medida que 
estas últimas dependem das primeiras em várias situações. 
 
 O Cenário da Crise: os Antecedentes. 
 
 No final dos anos 20 a formação de capacidade ociosa crescente apresenta-se como um 
fenômeno mundial, com maior presença na economia americana. A principal 
consequência deste fenômeno é a formação de capitais excedentes, raiz e primeira 
manifestação da crise de 1929, e também da posterior depressão da década de 30, 
sentida principalmente nos EUA. 
 
 Desta forma, a análise das causas e dos desdobramentos da crise deve ter como cerne 
os fatos ocorridos na economia norte americana. Por ser o polo econômico dinâmico da 
economia mundial, os reflexos da crise foram transmitidos para o resto do mundo, 
principalmente para a Europa. 
 
 Embora os EUA já fossem reconhecidos como uma potencia importante entre os países 
capitalistas, sua importância era de certa forma obscurecida em “função do papel 
institucionalda Inglaterra como centro estruturador das relações internacionais sob o 
padrão libra-ouro e do fato de que os grandes momentos políticos ainda continuavam a ter 
a Europa como epicentro”. 
 
 11 
 É importante lembrar que a Inglaterra já pagava um alto preço decorrente de uma forte 
recessão, em parte decorrente de sua persistência na manutenção do padrão ouro 
esterlino que. Por outro lado, esta estratégia a garantia como centro estruturador das 
relações internacionais, embora os EUA já se apresentassem como uma ameaça, ao 
buscar abertamente o aumento da influência do dólar no continente europeu. 
 
 Por outro lado, as tensões políticas mais agudas ainda eram as europeias, consequências 
do Tratado de Versalhes e das desgastantes fricções entre Alemanha e França 
decorrentes das modificações territoriais e das indenizações de guerra. 
 
 
 Liquidem Tudo: O Crash da Bolsa de Nova York em 1929. 
 
 O ponto de partida para a compreensão do que foi a Crise de 1929 é reconhecer, como já 
mostrado anteriormente, que ela não pode ser confundida com a grande depressão, e que 
a mesma deve ser compreendida a partir da situação interna da economia americana, 
particularmente do seu setor financeiro. 
 
 O epicentro do “do boom do mercado acionário, tanto em escala mundial como nos EUA, 
era a Bolsa de Valores de Nova York. O Edifício de aparência nobre e design neoclássico, 
localizado na Broad Street 18, apresentava uma elaborada escultura de mármore acima 
de uma fachada principal sustentada por seis pilares coríntios. Intitulada ‘Á integridade 
Protegendo os Trabalhos do Homem’, a escultura retratava a presença benigna de uma 
deusa grega presidindo a labuta dos indivíduos. A mensagem implícita da obra de John 
Quincy Adams Ward era que a bolsa estava ali para garantir que a produção humana 
fosse convertida em riqueza maior para o bem geral... Era certamente a ética que esta 
bolsa havia incorporado para si mesma ao longo de 137 anos, desde que foi fundada sob 
uma figueira externa, no número 68 da Wall Street. As pessoas que presidiam a Bolsa em 
1929 eram os grandes do mercado e, como seus predecessores, operavam-na com total 
independência do Governo. De fato, assim haviam feito desde seu estabelecimento, 
situação com a qual Washington estava razoavelmente satisfeita. De tempos em tempos, 
a liberdade da Bolsa quanto a uma supervisão era atacada, a ponto de um crítico 
 12 
denunciar ‘o carnaval – eu quase diria orgia- de corrupção e fraude que marcou sua 
história’”. (Parker; 2009: 24). 
 
 A Démarche da Crise. 
 
 Em 1927 já havia sinais evidentes de uma super acumulação de capitais (produtivos 
e principalmente financeiros) nos EUA, registrando o pico dos investimentos 
industriais. 
 Em alguns setores, especificamente a construção civil habitacional, já havia uma 
significativa redução dos investimentos. Embora já atingisse todo o mundo, a quebra 
de preços agrícolas e produtos primários também eram expressivos nos EUA. 
 Havia, em termos gerais, uma superprodução estimulada pelo boom do crescimento 
das economias capitalistas nos meados finais dos anos 20. Entretanto, estes sinais 
não foram suficientes para alerta-los para da probabilidade de uma crise de 
proporções importantes. Esta crise potencial decorria do fato de que após um boom 
de investimentos na bolsa americana, a realização dos lucros gerava uma 
desaceleração inercial, decorrente da defasagem entre as decisões e a realização 
dos investimentos; 
 Fortes defensores do liberalismo e do mercado, entretanto os americanos eram ainda 
inexperientes em matérias financeiras. O próprio Presidente Coolidge não via razão 
alguma para controlar o principal centro de investimentos da Nação. Assim, “os EUA 
estavam no meio do que era chamado de mercado em alta de Coolidge, e o 
Presidente, maravilhosamente taciturno em seu sétimo e último ano de mandato, em 
1929. Era herói de uma comunidade de negócios em ascensão”. (Parker; 2009: 25) 
 O período de entre 1928 e1929, de forma geral, presenciou uma forte desaceleração 
dos investimentos, consequência de um efeito derivado da defasagem entre as 
decisões e realização efetiva dos investimentos o que gerou capacidade ociosa não 
planejada, o que colocava uma nova questão: como aplicar os recursos ociosos? 
 Uma das saídas para tal situação foi dirigir o fluxo de capitais (principalmente o norte 
americano e o europeu) para a especulação financeira, tendo como principal destino 
a Bolsa de Valores de Nova Yorque. Entretanto não se percebia o perigo deste 
movimento em uma bolsa ainda bastante frágil e desregulada, não preparada para 
lidar com a grande entrada de recursos internos e externos; 
 13 
 Segundo Niveau (1979: 183), “Em princípios de outubro de 1929, o presidente do 
Banco da Reserva Federal de Nova Yorque, C. E. Mitchell, em viagem pela 
Alemanha declara que ‘a situação industrial nos EUA é completamente sã, que se 
atribuía uma excessiva importância aos empréstimos dos ‘brokers’ e que nada 
poderia parar as altas das cotações. Em 15 de outubro, no momento de sua volta 
para os EUA, Mitchell afirma: ‘Em geral, a situação dos mercados é satisfatória... as 
cotações têm uma base sã, dadas a prosperidade de nosso país’. Neste mesmo dia, 
o Professor Irving Fischer declara: ‘As cotações da Bolsa alcançaram um patamar 
elevado e consistente... espero ver a Bolsa muito mais alta que hoje dentro de alguns 
meses’. Não havia equivoco maior”. 
 
 Alguns fatos, entretanto, já apontavam para alguns problemas potenciais no mercado de 
ações: 
- O valor médio das ações havia crescido de US$118,00 em 1927 para 
US$190,00 em julho de 1929. Este crescimento era muito superior aos 
ganhos relativos dos dividendos que, em muitos casos chegavam mesmo a 
caírem; 
- Criava-se na verdade um circuito fechado, autoalimentado, com 
ramificações internacionais, a partir de valorizações fictícias das ações e, 
consequentemente, dos capitais por elas representadas; 
- Havia fusões artificiais de empresas, holdings fantasmas e um poderoso 
ciclo de valorização especulativa do capital descolada de qualquer suporte 
técnico, que sustentasse a valorização dos preços potenciais estimados 
para as ações negociadas no mercado; 
- Neste período, a orgia especulativa associava-se a outros ingredientes 
como a desaceleração de algumas economias europeias, como a Alemanha 
e a França, e de uma política de liquides monetária perniciosa adotada 
pelos EUA para dar influencia a moeda americana e aumentar seu poder na 
Europa; 
- Já havia sinais claros, embora desconsiderados pelas autoridades e 
analistas americanos, de que alguma coisa estava errada, e que a bolha 
especulativa iria estourar, e com ela, uma forte estava por vir. 
 
 14 
 Entretanto a fragilidade deste processo não era percebida. Segundo Niveau (1979:183), 
“Em princípios de outubro de 1929, o presidente do Banco da Reserva Federal de Nova 
Yorque, C. E. Mitchell, em viagem pela Alemanha declara que a ‘situação industrial dos 
EUA é completamente sã’, que se atribuía uma excessiva importância aos empréstimos 
dos brokers e que ‘nada poderia parar as altas das cotações. Em 15 de outubro, no 
momento de sua volta aos EUA, C. E. Mitchell afirma: ‘Em geral, a situação dos mercados 
é satisfatória... as cotações têm uma base sã dada a prosperidade de nosso país’. Neste 
mesmo dia, o professor Irving Fischer declara: ‘As cotações da Bolsa alcançaram um 
patamar elevado e consistente... espero ver a Bolsa muito mais alta que hoje dentro de 
alguns meses’. Não havia equivoco maior”. 
 
 Alguns fatos, entretanto, já apontavam alguns problemas potenciais no mercado de ações: 
 
- O valormédio das ações havia crescido US$118 em 1927 para US$190 em julho 
1929. Este crescimento era muito superior aos ganhos relativos aos dividendos, 
que em muitos casos chegavam mesmo a cair; 
- Criava-se na verdade um circuito fechado, autoalimentado, com ramificações 
internacionais, em cima de uma valorização fictícia do capital; 
- Havia fusões artificiais de empresas, holding fantasmas e um poderoso ciclo de 
valorização especulativa do capital descolada de qualquer mecanismo técnico para 
analisar o preço potencial de valorização das ações; 
- Neste período, a orgia especulativa associava-se a outros ingredientes como a 
desaceleração de algumas economias europeias (Alemanha e França) e uma 
política monetária perniciosa adotada pelos EUA. Já eram sinais claros, embora 
desconsiderados principalmente pelas Autoridades e analistas nortes americanos, 
de que alguma coisa estava errada, e que a bolha especulativa iria estourar e uma 
forte recessão estava por vir. 
 
 Os primeiros sinais do crack da Bolsa de Nova Yorque chegavam por etapas. Vamos 
aprofundar estas etapas: 
1. O boom especulativo da bolsa de Nova York atraia o capital externo, o que causa 
um sério problema político em nível internacional, uma vez que tal fluxo colocava em 
 15 
cheque a convertibilidade das moedas europeias, esvaziando os ativos financeiros e 
as reservas monetárias de seus Bancos Centrais; 
 
2. A adoção pelos EUA de uma política monetária e creditícia extremamente 
permissiva alimentava o processo especulativo, não existindo nenhuma forma efetiva 
de controle do envolvimento do sistema bancário nas bolsas. Apesar de o Presidente 
Coolidge ter sido avisado pelo Federal Reserve, nenhuma medida foi tomada contra 
a especulação e falta de solidez da bolsa; 
 
3. O setor industrial foi atraído para a especulação, utilizando para tanto, além do 
capital próprio, os créditos de curtíssimo prazo (call Money Market) para especular 
durante um ou dois dias, em grandes volumes, e sem ter coberturas reais, operando 
somente com coberturas de títulos e ações ficticiamente valorizadas. 
  
Assim, a especulação da bolsa conecta-se perigosamente com o sistema bancário e, 
indiretamente, reforça sua ligação com o setor industrial. 
 
4. Durante todo o ano de 1929 houve crédito fácil, sendo este dirigido para a 
especulação. A crise violenta da construção civil e a redução nos investimentos 
líquidos mostravam o prenuncio de uma crise de grandes proporções. 
 
5. A estrutura bancária norte americana era extremamente frágil, fragmentada e 
regionalizada, mostrando-se como um ponto frágil da economia americana. 
Operando com baixas taxas de reservas e, principalmente, com a agricultura e 
gozando de certa autonomia, estes bancos investiram pesadamente no crédito 
destinado à especulação. 
 
6. Os fatores psicológicos completaram o roteiro que levou ao crack da Bolsa. 
Conforme Niveau (1979: 194), “As estruturas financeiras e bancárias, os grandes 
interesses capitalistas, a psicologia das massas foram outras tantas causas 
acumulativas de inflação e de especulação anormal da alta. A política de crédito por 
si só não haveria bastado para arrastar os E.U.A. para um perigoso crash em outubro 
de 29”. 
 
 16 
7. Desta forma, a partir do crash ficava clara a incapacidade e o despreparo das 
autoridades em controlar a crise e suas consequências. 
 
 A crise, embora não deva ser confundida com a grande depressão, foi um prenuncio de 
uma situação estrutural mais grave, que ao contrário das análises realizadas na época, 
era mais profunda e duradoura. 
 
 Quem Ganhou e quem Perdeu em 1929? 
 
 Um especialista do Departamento do Comércio dos EUA definiu que cerca de metade dos 
cinco bilhões de dólares em títulos vendidos nos Estados Unidos durante os anos de 1920 
“era indesejável ou inútil. Mas isto significa que a outra metade era de papeis de mais ou 
menos de boa fé, oferecendo aos investidores uma participação em setores da economia 
que estavam gerando lucros genuínos”. (Parker; 2009:35). 
 
 E continuava, “estes títulos permitiam ao investidor participar do crescimento econômico 
em setores glamorosos como a aviação, o varejo, o telefone e o telégrafo, o petróleo e a 
energia elétrica, o rádio – componentes básicos das mega indústrias do futuro. Os 
americanos se viam repartindo o irrefreável poder da economia americana. Embora em 
muitos casos o preço das ações superasse os ganhos subjacentes às companhias que as 
emitiam, a maioria dessas companhias evidenciava crescimento real”. (Parker; 2009:35). 
 
 Alguns dados mostram parâmetros importantes em relação a ações que proporcionaram 
ganhos aos seus proprietários, “como a da poderosa US Steel, com o preço de suas 
ações acima de US$241,00 ao final do outono de 1929; outro era a pioneira da telefonia, a 
A&T, na estratosfera a US$304,00. A General Electric triplicou de valor durante dezoito 
meses e até o inicio de setembro, chegando a quase impagáveis US$396,00 a ação”. 
(Parker; 2009:36). 
 
 Outras ações também mostraram recuperações impressionantes como e fascinante como 
as da aviação, “entre elas a Wright Aeronautics, cujos acionistas principais eram os 
irmãos Wright, e a Boeing, que fazia correio aéreo através dos EUA em seus 40AS de 
dois passageiros e acabara de lançar um hidroavião de quatro assentos para 
 17 
compradores particulares. Altamente aquisitiva, a Boeing havia incorporado nove 
concorrentes, entre os quais a Pratt & Whitney Aircraft e a Sikorsky Aviation. Outra ação 
popular era a de um fabricante principiante de escada rolante e elevador chamado Otis.” 
(Parker; 2009:36). Estes ganharam. 
 
 Mas também ganharam os banqueiros de Wall Street, frustrando Hoover que os viam 
controlar o próprio Sistema da Reserva Federal, influenciando as definições de políticas 
monetárias. E muitas vezes os agentes de banco privados importantes, vendiam quase 
todo o tipo de papeis para quase todo o mundo. E mesmo após a crise de 1929 havia 
compradores, que raramente se preocupavam com a qualidade dos papeis. Estes corriam 
riscos e muitos perderam. 
 
 Como mostra Parker (2009:49) “um cliente confuso, Edgar J. Brown, mais tarde 
testemunharia numa ampla investigação federal que, em vez dos sólidos títulos do 
governo americano que ele havia especificado, um representante do National City investiu 
seu dinheiro numa colcha de retalhos de títulos emitidos pela Áustria, Alemanha, Grécia, 
Peru, Chile, Hungria e até pela Irlanda, assolada pela pobreza. Quando esses títulos 
previsivelmente perderam valor, o National City lhe emprestou US$150 mil e o persuadiu a 
investir seus recém-descobertos empréstimos em ações. Ele fez isto, mas, quando as 
perdas se acumularam, furioso, Brown entrou numa agência do National City em Los 
Angeles e exigiu que todo o seu portfólio fosse resgatado antes que o banco perdesse 
todo o seu dinheiro. Ele foi convencido de que os investimentos se recuperariam e por 
isso deixou seu dinheiro com essa dissimulada instituição... Ao que parece, os 
vendedores do National City podiam vender quase tudo. Como o inquérito estabeleceria, 
certa feita os vendedores emitiram o equivalente a US$16,5 milhões em títulos em nome 
do estado brasileiro de Minas Gerais, um mutuário de infame delinquência. Mas de algum 
modo os vendedores conseguiam, na cara de pau, comercializar os títulos com o seguinte 
discurso: “A administração prudente e cuidadosa das finanças do estado tem 
caracterizado sucessivas gestões em Minas Gerais. Quando se encerrou o negócio com 
Minas Gerais, o National City, outros bancos e varejistas haviam perdido cerca de US$13 
milhões”. Os que apostaram nestes bancos eseus papéis foram os grandes perdedores. 
 
 
 18 
 Epilogo: O Crash da Bolsa em 1929 e sua Réplica em 2007- Novas formas e velhos 
conteúdos. 
 
 Segundo Parker (2009: 410) “Na verdade, aplicação imprudente de alavancagem -divida 
acumulada sobre o principal- tem uma longa história. Conforme assinalaram os 
economistas por mais de um século, isso geralmente resulta no risco sistêmico, tipo que 
invade uma infraestrutura inteira em lugar de apenas partes isoladas. Já nos anos de 
1870, Henry George estabeleceu ligações entre dívida fácil e especulação desenfreada. 
Meio século depois, os fundos de investimentos que proliferaram nos anos de 1920 eram 
pirâmides de dívidas oscilando sobre uma minúscula base de capital. Essas estruturas 
apareceram originalmente na Inglaterra, no fim do século XIX, mas foram convertidas no 
equivalente financeiro de arranha-céus nas mãos dos operadores de Wall Street. À 
medida que mais e mais margem –ou dinheiro emprestado- se acumulava nos fundos de 
investimentos, estes ficaram sobrecarregados de dívidas. Embora o Federal Reserve não 
praticasse na época a emissão desenfreada de moedas, a expansão rápida do crédito a 
enfraquecia. Na época, o economista britânico Lionel Robbins atribuía a depressão ao 
crescimento do crédito e J. K. Galbraith em grande parte concordava com ele”. 
 
 E continua o autor, “Tal como os agitados anos de 1920, assim também é o novo milênio. 
Os banqueiros centrais ficaram pasmos ao descobrir os coeficientes de alavancagens que 
se aplicavam nos bancos de investimento e em outros tipos de instituição que 
anteriormente eles haviam considerado responsáveis. Relações de dez para um eram 
comuns, e as principais instituições de Wall Street se permitiam 30 para um. No não 
regulamentado setor bancário secundário ou paralelo, era provável que os coeficientes 
fossem novamente mais altos. De fato existem notícias de cem para um”. (Parker; 2009: 
411). 
 
 Entretanto, “quando as condições são corretas, como foram durante anos, tais níveis de 
alavancagem aumentam enormemente o potencial de lucros acima dos ganhos 
subjacentes ao instrumento. Mas é claro que o contrário se aplica quando as condições 
mudam para pior. Como bem observou Warren Buffett, um dos homens mais ricos do 
mundo, e certamente seu maior investidor, tais instrumentos são ‘armas de destruição em 
massa’” (Parker; 2009: 411). Até meados de 2007 muitos ignoravam esta bomba relógio. 
 19 
 Alguns autores, como Eichengreen e Mitchener, mostram também que nos agitados anos 
20 nos EUA, existiu o que poderia se chamar de grande euforia e endividamento por traz 
deste crescimento do consumo. O crescimento do consumo, por sua vez, era apoiado no 
aumento da oferta de crédito. Assim, como mostram os autores, igual o ocorrido nos anos 
20 nos Estados Unidos, existiu em 2007 um processo que se apoiava no crédito fácil, 
abundante e livremente disponível para quase tudo, inclusive para a especulação. Este 
crédito foi direcionado para a bolsa de valores, para novos instrumentos financeiros, 
particularmente para os derivativos de risco. 
 
 Em relação a estes últimos, o aspecto mais emblemático é o de que os derivativos de 
risco, que deveriam ser instrumentos protetores de risco, passaram a ser utilizados para 
‘apostas’ nos vários mercados com objetivos especulativos na tentativa de obterem 
maiores ganhos no mercado financeiro. Quase sem regulamentações e possibilidades de 
construírem um ‘Bent Mark’ de ganhos destes novos instrumentos, acabaram pagando um 
alto preço com a derrubada dos ganhos financeiros, expandindo o seu epicentro para todo 
o mundo. A ideia saudável de proteção financeira dos derivativos acabou cobrando um 
alto preço a aqueles que tentaram trocar a segurança pelas grandes apostas de ganhos 
financeiros através de derivativos complexos e cada vez mais exóticos. 
 
 O que podemos aprender com a Crise da Bolsa de 1929 nos tempos atuais?**** 
 
 A crise de 1929 também nos faz lembrar a construção de verdadeiras tramas 
internacionais, que em um ambiente de mercados desregulamentados e em forte 
expansão, abriram as portas para a emissão de títulos podres, como o caso do Banco de 
Crédito Real de Minas Gerais, que emitiu U$ 16 milhões em títulos levando os 
investidores internacionais perderem cerca de US$ 13 milhões, uma fraude infame contra 
os mutuários. 
 
 Promovendo um salto da história para o século XXI, segundo Roubini e Mihm (2010: 218); 
“Warren Buffet, redigiu para os investidores da Berkshire Hathaway um relatório anual 
hoje legendário. Ele condenou o uso crescente de derivativos, os quais profeticamente 
definiu como ‘bombas relógio’, tanto para as partes que negociam com eles como para o 
sistema econômico". 
 20 
 Posteriormente, ficou claro que Buffet não exagerou em considerar os ‘derivativos’ como 
armas letais. Como profeticamente mencionou, “o gênio dos derivativos esta agora 
completamente fora da garrafa, e esses instrumentos quase com certeza se multiplicarão 
em variedade e número, até que alguns acontecimentos tornem seu caráter tóxico 
evidente”. 
 
 Para Roubini e Mihm (2010: 218), se por um lado Buffet estava certo, por outro a história é 
mais complexa. “Os derivativos estão por ai a mais de um século, mas só recentemente 
assumiram a forma que os tornou uma grande ameaça para o sistema financeiro global. 
Afinal, um derivativo não passa de uma aposta no resultado de um evento futuro: 
oscilações das taxas de juros, preços do petróleo e do milho, cotação ou qualquer número 
de outras variantes”, inclusive ações. 
 
 Estes derivativos assumiram vários nomes como swaps, opções, futuros entre outros. Em 
suas concepções originais como forma de proteção, estes derivativos foram importantes 
para minimizar riscos. Em sua versão original, funcionou relativamente bem por certo 
período criando proteção para risco em situações especificas como, por exemplo, um 
instrumento de contra parte, protegendo, por exemplo, os fazendeiros contra uma queda 
de preços na agricultura. Assim, os fazendeiros poderiam vender sua produção no 
mercado futuro se houvesse uma margem de ganho, defendendo uma margem de ganho, 
evitando uma queda de preços na colheita. **** Entretanto, o derivativo de risco acabou se 
transformando em um instrumento especulativo ultrapassando os limites do risco de 
contraparte. E assim, uma aposta errada impedia muitas vezes a capacidade dos agentes 
honrarem seus compromissos. Este erro, ocorrendo em grande escala e ultrapassando os 
limites do risco de contraparte, implicava na incapacidade dos agentes envolvidos nas 
transações, honrarem suas promessas criando um ambiente propicio para uma crise 
financeira sistêmica. 
 
 Assim, este processo acabou desvirtuando a ideia original dos derivativos de risco. A crise 
de 2008 mostrou de forma clara o desvirtuamento dos derivativos e suas consequências, 
alimentando a crise do subprime. As instituições financeiras certas de que “nunca teriam 
de pagar, não alocaram as reservas necessárias. Isto representava um risco para todo 
sistema financeiro, particularmente no caso da AIG que havia assegurado mediante CDS 
 21 
(Credit Default Swap- seguro de risco de crédito). Esse instrumento, que foi comparado a 
um contrato de seguro, era de fato muito diferente”. (Roubini e Mihm; 2010: 218). 
 
 Outro aspecto inquietante era o denominado ‘risco da contraparte’ era representado pelo 
seguro de risco dos derivativos, que na verdade um efetivo risco de não ser capaz de 
honrar seus compromissos, principalmente em um cenário de crise sistêmica. Assim, “foi o 
que aconteceu à medida que a crise ganhava força: as grandes instituições financeiras,certas de que nunca teriam que pagar, não alocaram as reservas necessárias. Isso 
representava um risco para todo o sistema financeiro, particularmente no caso da AIG, 
que havia assegurado -mediante transações de CDS- mais de meio trilhão de dólares de 
tranches de ativos podres”. (Roubini e Mihm; 2010: 218). Praticamente não havia como 
evitar a falência, e quase foi o fim.

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