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“Teoria e História Capítulo 8. Filosofia da História 1. O Tema da História A HISTÓRIA lida com a ação humana, isto é, com as ações executadas por indivíduos e grupos de indivíduos. Ela descreve as condições sob as quais as pessoas viveram e a maneira com que reagiram a estas condições. Seus temas são os julgamentos de valor humanos, os fins que os homens estabeleceram como meta, quando guiados por estes julgamentos, os meios a que recorreram para obter os fins que buscavam, e o resultado de suas ações. A história lida com a reação consciente do homem ao seu meio, tanto o meio natural quanto o meio social, tais como determinados pelas ações das gerações anteriores, bem como as de seus contemporâneos. Cada indivíduo nasce dentro de um ambiente social e natural específico. Um indivíduo não é simplesmente um homem genérico, a quem a história pode enxergar de maneira abstrata; um indivíduo é, a qualquer instante de sua vida, um produto de todas as experiências às quais seus ancestrais foram expostos, além daquelas às quais ele próprio foi, até então, exposto. Um homem real vive como membro de sua família, de sua raça, de seu povo, e de sua época; como cidadão de seu país; como membro de um grupo social específico; como praticante de uma determinada vocação. Está imbuído de ideias religiosas, filosóficas, metafísicas e políticas, que por vezes amplia ou modifica de acordo com sua própria maneira de pensar. Suas ações são guiadas por ideologias que adquiriu através do seu meio. Estas ideologias, no entanto, não são imutáveis: são produtos da mente humana, e alteram-se, a partir do acréscimo de novos pensamentos ao estoque antigo de ideias ou quando substituem ideias descartadas. Ao tentar rastrear a origem de novas ideias, a história não pode fazer nada além de determinar que foram produzidas pelo pensamento de um homem. Os dados irredutíveis da história, além dos quais nenhuma investigação histórica pode chegar, são ideias e ações humanas. O historiador pode determinar a origem das ideias em outras ideias, desenvolvidas anteriormente. Pode descrever as condições ambientais que motivaram o planejamento de determinadas reações. Mas nunca poderá dizer, sobre uma nova ideia ou novo modo de ação, nada além do fato de que se originaram num determinado ponto do espaço e do tempo, na mente de um homem, e que foram aceitas por outros homens. Houve tentativas de se explicar o surgimento das ideias a partir de fatores "naturais", em que foram descritas como o produto preciso do ambiente geográfico, ou seja, da estrutura física do habitat das pessoas. Esta doutrina claramente contradiz os dados disponíveis. Muitas ideias são, de fato, uma resposta ao estímulo do ambiente físico de um homem; no entanto, o conteúdo destas ideias não é determinado pelo ambiente. Diversos indivíduos e grupos de indivíduos reagem de diferentes maneiras ao mesmo ambiente físico. Outros tentaram explicar a diversidade de ideias e ações através de fatores biológicos. A espécie humana está subdividida em grupos raciais com traços biológicos hereditários distintos. A experiência histórica não impede o pressuposto de que os membros de determinados grupos raciais tenham sido dotados de uma melhor capacidade para conceber ideias sensatas do que os de outras raças. No entanto, o que deve ser explicado é: por que as ideias de um indivíduo diferem daquelas de outros de sua mesma raça? Por que irmãos são diferentes entre si? Além do mais, é algo questionável se o atraso cultural indica de maneira conclusiva a inferioridade permanente de um grupo racial. O processo evolutivo que transformou os antepassados humanos, semelhantes a animais, no homem moderno, se estendeu por centenas de milhares de anos. Visto sob a perspectiva deste período, o fato de que algumas raças ainda não alcançaram um nível cultural que outras raças ultrapassaram a muitos milhares de anos atrás não parece importar muito. Há indivíduos cujo desenvolvimento mental e físico avança mais lentamente que a média, e que mais tarde em sua vida superam a maioria das pessoas de desenvolvimento normal. Não é impossível que o mesmo fenômeno possa acontecer com raças inteiras. Não há, para a história, nada além das ideias das pessoas e os fins que estabeleceram como meta, quando motivadas por estas ideias. Se o historiador se refere ao significado de um fato, ele sempre se refere ou à interpretação que os agentes homens deram à situação em que viveram e agiram, e ao resultado subsequente dessas ações, ou à interpretação que outros indivíduos deram ao resultado destas ações. As causas finais às quais a história se refere são sempre os fins que os indivíduos e os grupos de indivíduos estabelecem como meta. A história não reconhece no curso dos acontecimentos qualquer outro significado e sentido além daqueles atribuídos pelos agentes homens, julgados a partir do ponto de vista de suas próprias preocupações humanas.
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