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COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – COMENTÁRIOS DE OBRAS UESPI COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – www.procampus.com.br ÚRSULA MARIA FIRMINA DOS REIS PRO. JORGE ALBERTO I. RESUMO BIOGRÁFICO Maria Firmina dos Reis (1825 – 1917), escritora e educadora, nasceu na ilha de São Luís, capital da província do Maranhão. Foi registrada como filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis. Nessa cidade, onde foi criada, ingressou, em 1847, por concurso, no magistério público, para a cadeira de instrução Primária na vila de Guimarães, e lecionou até 1881, quando se aposenta. Em 1859 publica o romance ÚRSULA e passa a colaborar em jornais da época com textos poéticos. Em 1860 publica no jornal A Imprensa um poema usando as iniciais M.F.R., no ano seguinte participa da antologia poética Parnaso Maranhense. Ainda em 1861, o jornal O Jardim dos Maranhenses começa a publicar, em forma de folhetim, o romance Gupeva. Suas publicações chamam a atenção de leitores e repercutem nos meios intelectuais. A despeito dos obstáculos a uma mulher negra e vivendo numa província, Maria Firmina dos Reis supera tudo e firmase como uma mulher formadora de opinião. Tendo em vista a boa aceitação da obra junto ao público, em 1863 o jornal Porto Livre republica o romance Gupeva. Em 1865, a autora brinda o seu público leitor, em momentos diversos, com a publicação de poemas e novamente o romance Gupeva é reimpresso, agora pelo jornal Eco da Juventude. É de se supor que a autora já é bem conhecida, admirada e apreciada por seus escritos e pela ousadia de pensar e realizar coisas não apropriadas a uma mulher: três publicações da mesma obra em diferentes jornais. Rompendo barreiras machistas e manifestando exemplo de mulher determinada – exemplo a ser seguida , a mulher culta continua fértil na produção intelectual, em 1871 publica mais uma obra Cantos à beiramar. Vale lembrar que a educadora consciente do seu papel de mulher com responsabilidades históricas, e com um pensamento avançado para o seu tempo, funda em 1880, aos 55 anos, uma escola gratuita e mista. É algo inimaginável para as mentalidades retrógradas da época. Em 1887, Maria Firmina publica em A Revista Maranhense, nº 3, além de poemas, o conto A Escrava. O texto é mais um ato intelectual de consciência social contra o estigma da raça negra do Brasil. No ano seguinte compõe o “Hino da libertação dos escravos”, com letra e música. Os anos se passam para uma mulher que já ocupara um lugar de destaque no cenário cultural brasileiro, mas que ficara esquecida por conta do silêncio ideológico das elites condutoras da vida brasileira. Em 1917, Maria Firmina morre em Guimarães, com 92 anos, bem idos e vividos. O pesquisador afrodescendente, Nei Lopes, assim registra a escritora: “No Maranhão patriarcal de seu tempo, foi considerada um dos maiores exemplos de erudição, não obstante seu sexo e suas origens étnicas”. II. OBRA · ÚRSULA (romance, 1859). · Gupeva (romance de temática indianista, 1861). · Cantos à beiramar, poesia, 1871. · A Escrava (conto antiescravista, Revista Maranhense, 1887). III. ÚRSULA: ROMANCE PIONEIRO A obra Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, foi publicada em 1859. Informa Nei Lopes que cronologicamente foi a primeira mulher brasileira a ter um romance publicado. O livro é considerado pela maioria dos historiadores o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira, e também, o primeiro romance da literatura afrobrasileira, isto é, uma obra produzida por uma autora afrodescendente. Para o prof. Eduardo de Assis Duarte: “O romance tematiza o assunto negro a partir de uma perspectiva interna e comprometida politicamente em recuperar e narrar a condição do ser negro em nosso país”. A história do negro no Brasil, com seu passado escravista, marcou profundamente o estabelecimento de suas relações familiares. Ao escravo só era permitido adotar o discurso e o modelo de vida do colonizador, embora existissem as revoltas entre escravos, pois esses traziam dentro de si a cultura africana, que clamava pela identidade própria. As marcas do passado escravista favorecem ainda hoje, problemas com a identidade do negro (Rodrigues, 2007). COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – COMENTÁRIOS DE OBRAS UESPI COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – www.procampus.com.br IV. ELEMENTOS DA NARRATIVA 1. ENREDO O jovem Tancredo cavalgava abatido amorosamente por Adelaide quando seu cavalo, completamente esgotado, tombou junto com ele, deixandoo bastante machucado. Tancredo é socorrido pelo escravo Túlio, a quem Tancredo agradece com amizade e alforria. O escravo o leva até o pequeno sítio onde morava Úrsula e sua mãe, paralítica. Lá, aos cuidados de Úrsula, o enfermo vai se recuperando lentamente, tendo delírios e a amaldiçoar Adelaide. Úrsula se comove com o estado do mancebo e, nos dias em que se restabelecia, começou a surgir nela o sentimento do amor. A jovem evitava ver como ia Tancredo, haja vista sua perturbação diante dele. E, em um de seus passeios matinais, o jovem, que se recuperara quase completamente, vai ao seu encontro declarando seu amor para com ela e que Adelaide, de quem falara quando em delírio, era desprezada por ele. Úrsula fica feliz ao ouvir esta afirmação e escuta a narração dos infortúnios de Tancredo. O jovem, após passar seis anos cursando Direito na Faculdade de São Paulo, voltou para sua província, de onde tinha enormes saudades, em especial de sua mãe. Ao chegar, deparase com a figura paterna que ainda humilhava e trazia profundos sofrimentos à sua mãe. Havia ainda a presença de sua prima, por parte materna, Adelaide, que ficara órfã e estava morando lá. O amor dele pela prima foi instantâneo e ele achou ser correspondido. Depois que decidiram se casar, sua mãe foi falar com o esposo, que recusou de forma veemente e ríspida tal união. Conversando logo em seguida com o pai, obteve dele a permissão para o casamento, conquanto que assumisse um emprego que conseguira para o filho longe dali e por lá ficasse pelo período de um ano. A proposta foi aceita. Suas correspondências para com aquelas duas mulheres eram constante. Com poucos meses, Adelaide foi escasseando suas cartas até não mais enviar nenhuma. Torquato cai muito doente por conta disso. Após recuperarse, tem a intenção de ir à sua casa, mas uma viagem a trabalho adia seus planos. Ao retornar, leu algumas cartas que havia chegado na sua ausência. Elas traziam a notícia da morte de sua mãe. Ao retornar à sua casa, certo de que seu pai contribuíra para a fatalidade, encontrou Adelaide no meio da sala, vestida luxuosamente. Ao demonstrar a felicidade em revêla, ela, secamente, pede que respeite a esposa de seu pai. Tancredo abandona a casa, não antes de descarregar toda sua raiva aos dois que traíram sua confiança, descarregando acusações às mais diversas, saiu à cavalo, indo ter o acidente em que foi socorrido por Túlio. Úrsula e Tancredo trocam suas juras de amor. Ao despedirse da mãe de Úrsula, Luísa, revela então seu nome, onde se percebe sua origem nobre e que era primo de sua amada. Declara seu amor por Úrsula e tranqüiliza a mãe moribunda quanto ao futuro da filha. Tancredo parte com Túlio, prometendo retornar dali a quinze dias. Ela vai até o bosque, acompanhando com a vista a partida do amado. Inesperadamente, um tiro ecoa e cai, próximo a si, uma ave praticamente morta. Assustase com a fisionomia do caçador que, ao vêla, fica tão apaixonado por ela que promete seuamor à jovem, dizendo que ela é a única felicidade que ele poderia ter em sua vida. Ela sai sabendo que aquele estranho conhece sua história com a da sua mãe, mas não sabia que era a figura de seu tio que nunca vira, Fernando, o comendador. Fernando envia uma carta à irmã pedindo desculpas pelos sofrimentos causados e pede uma conversa com ela. Chega sem ser avisado. Diz a Luísa que foi ele o assassino de seu marido, que a renegou por ter se casado com Paulo e que queria reparar todo esse mal casandose com Úrsula, fazendoa sua herdeira. Luísa fica atônita com estas revelações. O irmão se despede dizendo que voltaria no dia seguinte com um padre para consumar o casamento. Úrsula é chamada ao quarto de sua mãe que estava em seus momentos finais por conta desta conversa e pede para que a filha nunca despose o tio e assassino de seu pai. Luísa falece e é enterrada no cemitério de Santa Cruz. Tancredo e Túlio chegam, e ouvem de Suzana sobre a visita e intenções do comendador, a morte de Luísa e da visita da filha ao túmulo da mãe. Ambos vão imediatamente ao seu encontro com receio de que Fernando poderia fazer para com a garota. No cemitério, Úrsula cai desmaiada e, como não havia ninguém para socorrêla, fica prostrada até o início da noite, quando Tancredo e Túlio a encontram. Eles a levam a um convento para que ela fique a salva da fúria do tio e para se casarem. O comendador vai até a casa da irmã com um padre amigo e, ao escutar da preta Suzana que a garota teria ido só ao cemitério, não acreditou. Manda trazêla para sua fazenda, Santa Cruz, a fim de torturala até a morte. Mesmo suas ações sendo condenadas pelo padre, este não o dá ouvidos, COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – COMENTÁRIOS DE OBRAS UESPI COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – www.procampus.com.br mandando prendelo para que este não o denunciasse. Um escravo avisa que Úrsula foi vista com Tancredo e Túlio se dirigindo a um convento. No dia seguinte, Túlio, ao ir por uma vereda, é emboscado por dois capangas do comendador, levandoo até ele. Este propõe que Túlio traia Tancredo para que possa matar seu rival. Túlio se opõe veemente. O comendador manda leválo para que fique preso junto ao escravo Antero. O amigo de Tancredo, sabendo do alcoolismo deste, dá dinheiro para que se embriague, conseguindo assim sua fuga. Parte para o convento a fim de avisar da emboscada de Fernando. Ao ver a carruagem que leva os noivos, avisa da emboscada, sendo morto pelo comendador. Tancredo abre a portinhola da carruagem e fere o comendador com um tiro. Como estavam cercados pelos capangas deste, Úrsula sai da carruagem, prostrandose aos pés do tio, oferecendose como sacrifício para que seja poupada a vida de seu marido, que é dominado pelos capangas do comendador e morto por este com punhaladas. Para desgosto do tio, Úrsula fica louca e, poucos dias depois, morre. Este, atormentado pelas culpas e mortes de que fora responsável, termina seus dias em um convento, assumindo a identidade de Frei Luís de Santa Úrsula, “o louco”. 2. NARRADO R A narrativa é em terceira pessoa. O narrador é um observador que se posiciona com intenções oniscientes. O pontodevista é declaradamente antiescravista. Apoiado enfaticamente nos conceitos religiosos e amenizado no discurso social. Percebe o narrador sem radicalismo, buscando a harmonia, mas revelando a situação do escravo como a maior injustiça perante Deus e os homens. O exemplo da escrava Susana é um flagrante libelo acusatório da agressão à liberdade. Da publicação do livro (1859) até a Lei Áurea (1888) é um longo percurso para a situação de milhões que viviam situações as mais diversas até a libertação. 3. ESPAÇO / TEMPO / CONTEXTO Embora o espaço e o tempo sejam indeterminados na obra, percebese que a narrativa é contextualizada à época da publicação do livro 1859 em ambiente rural do Maranhão e um convento que presumese na capital, destacandose sobremaneira o contexto da escravidão. A narrativa é linear, isto é, de tempo cronológico, apesar da presença do flashback (Tancredo, Susana, comendador, Luísa ... ) 4. PERSONAGENS As personagens não tem aprofundamento psicológico. São movimentadas mais do ponto de vista externo, mas alguns momentos expressam atitudes de sentimentos marcantes como narração da velha preta Susana, que expressa sentimentos internos profundos. Úrsula Filha de Luísa e Paulo, tem o pai morto pelo tio materno, o comendador, por não aceitar o casamento. Cuida de Tancredo, que é levado enfermo à sua casa, apaixonandose por este, sendo retribuída. Busca escapar da fúria do tio, que a deseja por esposa. Morre louca com o assassinato de Tancredo. É o foco principal do triângulo amoroso entre Tancredo e o comendador. Tancredo Jovem bacharel que, após ser iludido por Adelaide, a prima que amara, e seu pai, foge. Conhece Úrsula, a quem se apaixona e se casa. É morto na noite do casamento pelo vilão, tio e pretendente de Úrsula, o comendador Fernando P*. Fernando (o comendador) É um típico vilão romântico: traiçoeiro, misterioso aquele tipo "capa e espada". Fazendeiro cruel e prepotente. É extremamente perverso (sádico) para com seus escravos: explora a mãode obra cativa até o limite de suas forças. Assassino. Como não concordara com o casamento da irmã, mata o cunhado, Paulo. Fica completamente apaixonado Úrsula. Capaz de provocar muitas mortes e sofrimentos para obtêia. Ela enlouquece e morre. Ele, termina remoendo suas culpas em um COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – COMENTÁRIOS DE OBRAS UESPI COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – www.procampus.com.br convento, onde morre. É a encarnação do mal sobre a terra e passa a ocupar o plano principal das ações. Túlio É um bom momento de dignidade, solidariedade e elevação moral. Escravo da decadente fazenda de Luísa, mãe de Úrsula, que tivera a morte da mãe precocemente pelo comendador. Socorre Tancredo e consegue deste a amizade, a confiança e a alforria. Morre tentando alertar o amigo da emboscada que Fernando preparara para ele e Úrsula. Simboliza a humanidade sofrida do afrodescendente que não reflete rancor dos quilombolas. Sabemos o quanto é odiosa a situação, mas nem por isto o personagem é endurecido. A escritora usa a estratégia de combater o regime sem agredir diretamente. O comportamento de Maria Firmina dos Reis é pautado nos valores cristãos para melhor propagar suas intencões. A autora condena a escravidão enquanto instituicào posicão avancada, num momento em que a Igreja Católica apoiava o sistema escravista. Luísa Mãe de Úrsula, que suporta os mais diferentes sofrimentos. Tem o marido morto a mando do irmão. Tem uma vida de privações: paralítica e doente. Morre com a angústia de saber que seu irmão malvado pretende casarse à força com sua filha. Pais de Tancredo & Ade1aide O pai de Tancredo era uma pessoa extremamente despótica e patriarcal. Dominador que impõe à sua esposa, uma mulher passiva e resignada, seus desejos e vontades. Após a morte desta, desposa a noiva do filho que provocalhe inúmeros desgostos. Morre arrependido de ter se casado com Adelaide. Esta, não consegue encontrar a felicidade ao lado de nenhum homem. Susana Preta da casa de Úrsula que criou Túlio quando da morte de sua mãe. É morta impiedosamente pelo cruel comendador. Narra a sua captura na África e de como foi trazida e vendida como escrava.É um bom exemplo de dignidade eforça de caráter. Revelase pessimista ao ironizar a "liberdade" do alforriado de Túlio que afmal, irá conduziIo à morte. É ela que explica a Túlio o sentido da verdadeira liberdade, que não mia nunca a de um alforriado num país racista. Faz o flashback da sua terra natal e da vida feliz com a família. Susana é o melhor exemplo do foco individual que reflete o coletivo. É o discurso do outro fazendo ouvir pela primeira vez na literatura brasileira a voz dos escravizados. É o momento mais politizado do romance por que ocorre a inversão de que os bárbaros são os europeus que escravizam. É o ponto alto do discurso antiescravista de que relativiza a conquista da alforria de Túlio. A voz dessa personagem é a voz da autora. Susana é, de certa forma, espécie de alter ego de Maria Firmina dos Reis, quando expõe, argumenta, comenta com intervenções moralizantes e representa a própria autora na busca da superação da exclusão. Antero É escravo do comendador. A autora faz o contraponto do caráter elevado de Túlio com o escravo Antero, marcado pelo vício da bebida, quebrando o aspecto da idealização de que o branco é ruim e o negro é bom. Antero é o terceiro na ordem: a positividade e a ingênua bondade de Túlio, e a negatividade de Susana.
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