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CONTEÚDO - TEORIA GERAL DA PROPRIEDADE

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TEORIA GERAL DA PROPRIEDADE
Aula 1
Aspectos Sociais e Filosóficos. Noção Geral de Propriedade. 
No conjunto das instituições sociais e jurídicas a propriedade se projeta como umadas mais relevantes, pois permite a satisfação das necessidades primárias e complementares do serhumano, favorece o desenvolvimento da cultura e do progresso, além de apresentar profundas implicações na questão social. Se a propriedade privada funciona, de um lado, como instrumento de satisfação pessoal, estímulo ao trabalho e a criatividade, favorece, de outro, a concentração das riquezas em detrimento da distribuição dos bens. Ao mesmo tempo, abre um imenso campo de litígio de toda ordem, ensejando ações cíveis e criminais. Trata-se do mais completo dos direitos subjetivos, núcleo dos direitos reais. 
Por esses motivos, o seu estudo tido é objeto apenas de algumas ciências particulares, como o Direito, a Economia, a Antropologia e a Sociologia, mas fundamentalmente da Filosofia, que é a sede das discussões ideológicas em tomo da pessoa e da sociedade. As controvérsias ideológicas giram em torno da propriedade imobiliária, especialmente devido à possibilidade de concentração. Quanto à coisa móvel em geral, indiscutível a legitimidade de sua apropriação, pois negá-la seria o mesmo que impedir a sobrevivência da pessoa.
A evolução histórica da propriedade revela uma progressiva superação do individualismo em prol da justiça social. A preocupação atual é a de atenuar os excessos do capitalismo, impondo-se a propriedade uma função social. 
Há diversas posições que tentam explicar a propriedade, corno a de um grupo que situa a propriedade como direito natural (com origem antiquíssima). A teoria mais antiga é a da ocupactio, sustentada por jurisconsultos romanos.
Outro fundamento da propriedade seria uma convenção tácitafirmada pelos membros da sociedade, segundo a qual cada um deveria em nome da paz social, respeitar as coisas adquiridas pelos demais. Essa teoria se assemelha a do contrato social, exposta por Jean Jacques Rousseau, mas diferindo da anterior por não considerar os tempos primitivos, mas a sociedade já constituída e cada membro com os seus bens e posses.
O trabalho também tem sido invocado como fundamento da propriedade, pois as riquezas nascem de alguma atividade do ser humana. Tal concepção foi exposta por Locke. Contudo há limitações nela, pois não justifica que a propriedade pode nascer de fatores diversos, como a herança, a ocupação, o aluvião e do próprio efeito multiplicador do patrimônio. Essa teoria seria mais aplicável nos tempos primitivos do que no presente. 
Outra concepção em relação aos fundamentos da propriedadereside na imperiosa necessidade de as pessoas assegurarem a sua conservação, apropriando-se para sua própria sobrevivência. 
Por fim, o fundamentoúltimo da propriedade estaria no direito original de liberdade e de conservação, considerando aí como conceito mais fundamental para a vida humana. Na Encíclica Mater et Magistra, o papa Joao XXIII identificou a propriedade privada como instituto de Direito Natural: 
"... de nada valeria reconhecer ao homem o direito de agir livremente no campo econômico, sem que lhe fosse reconhecida, ao mesmo tempo, a liberdade da escolha e do emprego dos meios necessários ao exercício desse direito.” 
TEORIA GERAL DA PROPRIEDADE
Aula 2
O Direito depropriedade na antiguidade.
Ao longo da história a propriedade foi objeto das mais variadas formas de organização. Houve povos que não chegaram a conhecer a propriedade privada, variando entre eles, seja para admitir o domínio em relação ao rebanho, seja não reconhecendo o domínio sobre terras. Algumas tribos distribuíam as terras, para o seu cultivo, sem que se estabelecesse vinculo de domínio e, anualmente, os membros trocavam essas terras. A propriedade limitava-se aos frutos das colheitas. Entre os gregos as regras eram inversas: havia o domínio sobre as terras e o condominio quanto à colheita. 
Tanto na Grécia como em Roma, duas instituições se mantinham inseparáveis: a família e o direito de propriedade.Havia uma relação o muito forte entre a família e o solo ocupado, não se cogitando de mudança de lugar, salvo por motivos excepcionais. A casa era considerada propriedade da família e não de qualquer um de seus membros. 
Para Fustel de Coulanges, "não foram as leis, mas a religião o que primeiramente garantiu o direito de propriedade".
Em Esparta, uma das cidades-estado gregas, chegou-se a vedar a venda das terras, pelo que a propriedade assumia caráter de coisa inalienável. 
Em Roma, a Lei das XII Tábuas não ofereceu uma definição de propriedade. Os institutos jurídicos como um todo sofreram diversas alterações ao longo dos tempos, haja vista a longeva duração do império. Houve, tempos que em Roma, apenas os cidadãos romanos poderiam assumir a propriedade, enquanto aos não romanos era acessível apenas a posse para fins comerciais. Quanto ao objeto da propriedade tratou-se de coisa móvel, não havia restrições.Em relação aos imóveis eram suscetíveis de domínio apenas as terras localizadas em território italiano. Ao lado da quiritária, havia a propriedade pretória, também conhecida por bonitária, que podia ser adquirida através da usucapião, transformamdo-se empropriedade quiritária. O tempo de posse era de um ou dois anos, sendo também uma das exigências a cidadania romana, excetuando-se os não romanos que tivessem a posse do jus comercii. 
Denominava-se res publicae a coisas pertencentes ao Estado, como aspraças, as ruas, os teatros. Elas sujeitavam-se a regras próprias de proteção. 
Relativamente às terras pertencentes às províncias, podiam ser tanto como res publicaecomoaerarium populi romani ou do fiscus. 
Na Idade Média, os suseranos, visando à defesa de seus domínios contra possíveis invasões, firmavam pactos para a distribuição de terras mediante um pagamento como apoio bélico para defesa. Pelo sistema vigente pós-roma, os suseranos conservavam o domínio eminente, enquanto os feudatários, ou vassalos, permaneciam com o domínio útil. Havia o escambo por troca de alimentos.
O sistema feudal praticamente foi extinto no mundo ocidental logo após a Revolução Francesa em 1789 e a declaração de independência dos Estados Unidos da América do Norte. O Código de Napoleão traça a concepção individualista da propriedade.
				A propriedade privada consolidou-se como garantia dada pelo Estado, fruto das influências do pensamento liberal que nortearam a formação desses dois países, após ambas as revoluções. Não podemos também deixar de lembrar da Magna ChartaLibertatum como documento importante para a garantia e previsibilidade do domínio privado sobre bens e a limitação e respeito ao Estado ou autoridades.
				Esses valores perderam força ao longo do século XIX com o desenvolvimento industrial e com as doutrinas socializantes, os quais atribuem um sentido social ao domínio privado ou, até a abolição completa da propriedade privada. 
TEORIA GERAL DA PROPRIEDADE
Aula 3
Disposições gerais sobre a Propriedade 
O vocábulo propriedade, subjetivamente considerado, consiste no poder de usar, gozar e dispor da coisa com exclusão de outrem. O que incluem o poder de reavê-la de quem quer que seja. Como dito em outras aulas, entre os direitos de caráter patrimonial, revela-se como o mais completo e importante. É o instituto de Direito Privado que regula o domínio sobre as coisas em geral, definindo os direitos e os deveres do proprietário. Nesta condição é integrante do Direito das Coisas e referencial para os demais direitos reais. 
Enquanto o direito subjetivo da propriedade abrange, em tese, a plena disponibilidade da coisa, os demais direitos reais contém uma apenas ou algum tipo de poder sobre ela. O usufrutuário, por exemplo, temo direito de usar e fruir da coisa, mas não pode aliená-la.
Trata-se da configuração dos elementos do jus utendi, fruendi et abutendi, o direito de usar, fruir e dispor da coisa. Caso esses três elementosestejam consolidados numa pessoa, a relação de domínio dela é plena. O usufrutuário, como exemplo, tem o direito de usar e tirar os frutos que a coisa propiciar (incluindo os civis e naturais) enquanto o direito de disposição da coisa fica pertencendo ao nu-proprietário. 
O direito de propriedade é vasto, pois encampa todos os poderes possíveis sobre a coisa, ressalvados apenas os limites impostos pelas leis a favor do interesse social. Já houve tempos que o direito de propriedade se dizia como absoluto, mais por sua validade erga omnes, oponível a qualquer pessoa e não no sentido de franquear ao titular ilimitados poderes sobre a coisa.
 Embora a ordem constitucional garanta a propriedade privada, a cada dia surgem novas limitações ao exercício desse direito, ditadas pelo interesse social e, principalmente pela finitude dos bens e pelo excessivo acúmulo deles em mãos de uns poucos. Coube ao Estado, de diversos modos, tentar proporcionar a todos o acesso aos bens da vida, o que inclui a limitação social ao domínio. 
Desta forma, o titular da propriedade passar a ocupar o polo ativo da relação jurídica, sendo que a coletividade figura no polo passivo e como detentora do dever juridico de respeitar a propriedade e o seu exercício.
 Reconhecida a feição social da propriedade, o titular desta possui dever de ordem social, que lhe impõe a utilização da coisa na forma de sua destinação. O exercício do direito de propriedade além de sua natural finalidade e em detrimento de terceiros, constitui ilícito. O seu irregular uso pode configurar certas ilicitudes, previstas no Direito de Vizinhança e em regras administrativas. 
Há certas divergências nas correntes do pensamento jurídico, sendo que para alguns, o direito de propriedade incide apenas sobre bens corpóreos, enquanto para outra o objeto se estenderia também aos incorpóreos, neste caso, a propriedade literária, artística e científica. 
Aula 4
Conceito de Propriedade 
					O atual Código Civil brasileiro não contém uma definição de propriedade, mas apenas a enumeração dos poderes do proprietário, junto ao artigo 1.228:
"O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa e o direito de reavê-lá de quem quer que injustamente a possua ou detenha.”
					Esse texto é quase uma reprodução do artigo 524 do antigo Código Civil. A propriedade admite uma gama de faculdades asseguradas pela ordem jurídica ao titular do direito subjetivo. Tais atribuições não são fragmentadas, mas fazem parte de um conjunto unitário, que confere ao titular o amplo poder sobre a coisa. 
Usar significa tirar proveito das utilidades que a coisa oferece, sem destruí-la, derivado da própria posse do objeto. É o jus utendi romano. 
Já o direito de gozar, ou jus fruendi, confere ao proprietário o poder de perceber os frutos que a coisa produz. Ao valer-se de tal faculdade, o dono deve estar na posse da coisa. O exercício desse poder implica também o de uso. Graças a esse poder o proprietário, que cultivou a terra, semeando-a, procede à colheita de seus frutos. Os frutos, todavia, não se limitam aos naturais, produzidos pela terra, mas alcançam também os rendimentos que a coisa produz, como os aluguéis, daí o termo frutos civis. Há ainda os que defendem a existência de frutos industriais, derivados de uma atividade manufatureira.
No caso da locação, verifica-se o desmembramento dos poderes inerentes ao domínio: enquanto o proprietário permanece com o jus fruendi, ojus utendi fica em poder do locatário. 
O poder de disposição da coisa, correspondente ao jus abutendi, consiste na capacidade de o proprietário se desfazer do objeto, seja consumindo-o, alienando-o ou dando-lhe qualquer outra destinação, atendidos os requisitos de lei. 
O proprietário tem ainda, o direito de reaver a coisa, podendo va-ler-se da chamada ação reivindicatória, a fim de receber o que e seu de quem injustamente o possua. Quando o dispositivo legal se refere a "quem quer que injustamente a possua ou detenha", o legislador não restringe o poder da chamada posse injusta, que se caracteriza pela forma violenta, clandestina ouprecária de aquisição. 
Isso foi empregado com acepção bem ampla, como ação contrária ao valor justiça ou prática juridicamente condenável. 
Mesmo quando duas ou mais pessoas são proprietárias de uma coisa, formando-se um condomínio, diz-se que a propriedade é exclusiva, pois cada um dos titulares pode afastar a ação de terceiros sobre o bem. O artigo 1.314 do Código civil garante a casa condômino, amplos poderes sobre a coisa, como o de usá-la, reivindicá-la de terceiro e defender a sua posse.
					Portanto, diz-se que a propriedade é plena quando reuni todos os poderes previstos na lei civil. Ao proprietário não cabe o ônus da prova, pois a presunção o favorece. 
Aula 5 
Características da Propriedade
A doutrina indica, de uma forma geral,as seguintes característicasbásicas da propriedade: 
a) exclusividade; 
b) perpetuidade; 
c) generalidade; 
d) caráter absoluto; 
e) elasticidade. 
A exclusividade significa que o titular do direito detém poderes sobre a coisa com exclusão de outrem. 
Já a perpetuidade revela que o direito de propriedade não é, obrigatoriamente, sujeito ao tempo ou de carátertransitório, podendo ser transmitido inter vivos ou causa mortis. 
A propriedade é geral, vez que a seu titular tudo é permitido nos limites da lei, aplicando-lhe a norma da liberdade, de modo que não lhe for proibido, licitamente, poderá ser praticado. É um direito oponível a todos, possuindo validade erga omnes. 
No passado distante, quando predominava a filosofia individualista da propriedade, esse direito era dotado de poucos limites, mas tal fase se encontra diminuída nos tempos atuais, substituída pelo princípio de solidariedade que deve existir nas relações sociais explicitado na função social da propriedade privada, que impede, entre outras coisas, o exercício irregular desse direito subjetivo em detrimento do interesse da coletividade. Portanto,não significa de modo algum ausência de limites, pois já é admitida a possibilidade de o proprietário incidir em abuso de direito.
Há autores que apontam a elasticidade como umdas característicasda propriedade, envolvida em determinadas situações. Esta teria a capacidade de retornar a plenitude de seus poderes, quando se extinguisse um direito real limitador. Como exemplo, podemos citar a extinção do usufruto pelo falecimento do seu titular, quando então a propriedade volta a ser plena, deixando de ser apenas uma nua-propriedade, conforme expressa o artigo 1.410, inc. I, do Código Civil. 
Aula 6
Função Social da Propriedade e suas especificações
As necessidades criadas por mutações sociais induziram o legislador a modernizar o conceito de propriedade, compatibilizando-o com as exigências da época, mormente para incutir-lhe um sentido mais social. 
Esse avanço é visível na comparação dos conceitos emitidos no Código Civil de 1916com o atual Código de 2002.O primeiro, pelo artigo 524, limitou-se a indicar os atributos da propriedade —jus utendi, fruendi e abutendi —, enquanto que o vigente, além de reproduzir tais caracteres no caput do artigo 1.228, em seus parágrafos expôs alguns princípios que garantem a função social da propriedade.
Devemos fazer uma análise dos dispositivos introduzidos pelo Código Civil de 2002, que implementam da filosofia da função social, os quais apontam restriçõesprevistas desde a Constituição Federal como em outras leis administrativas. A função social, como atributo da propriedade, integra o elenco dos princípios fundamentais da Constituição da República, especificamente no inciso XXIII do famoso artigo 5º. 
Ao efetivar formas de aplicar a função social da propriedade, o legislador, ao mesmo tempo em que estabeleceu mecanismos de conversão da posse em domínio, com a multiplicação para 5 das modalidades de usucapião, seja com adesapropriação indireta.
O primeiro parágrafo do artigo 1.228 do Código Civil sublinha o dever juridico de o proprietário preservar, na forma da lei especial, aflora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitar a poluição do ar e das águas. São valores não limitados a sociedade brasileira, mas uma conquista da humanidade que, em todos os quadrantes, reivindica a proteção aos valores vitais a sua própria sobrevivência. 
Além da figura do abuso de direito como ensejador do ato ilícito (artigo 187 do Código Civil), o § 2° do artigo 1.228 particularizou a prática desse ilícito em relação propriedade, condenando os atos que não correspondem ao uso natural da coisa e que visam a prejudicar outros.
A função social obriga que o interesse do proprietário nãodeva prevalecer sobre os da sociedade. Nisto há previsão pelo § 3° do mesmo artigo a desapropriação da coisa por iniciativa do poder público, quando houver necessidade, utilidade pública ou interesse social. Esse dispositivo tem referencia com o previsto no artigo 5°, XXIV da Constituição Federal. Há possibilidade, também, de requisição da coisa, havendo perigo público iminente. 
A hipótese de uso da propriedade particular, previsto na Constituição da República, art. 5°, inc. XXV. A segurançajurídica do proprietário limita-se a certeza de que, desapropriado o bem, deverá recebê-lo previamente uma justa indenização em dinheiro. Na hipótese derequisição, ocorrendo dano a coisa, haverá indenização.
Na sequência das disposições do artigo 1.228, o legislador cuidou da chamadaposse-trabalho ou posse pro labore, cuja previsão constitucional está no artigo 184, § 3°. Trata-se de uma situaçãoespecialíssima, que exige alguns requisitos: 
a) o objeto deve consistir de extensa área; 
b) posse ininterrupta e de boa-fé, durante mais de cinco anos, por considerável número de pessoas; 
c) execução, pelos possuidores, em conjunto ou separadamente, de obras ou serviços de interesse social e economicamente relevantes, a critério do juiz.
Na Exposição dos Motivos do Anteprojeto do Código Civil, o professor Miguel Reale nos explicou que:
"A lei deve outorgar especial proteção à posse que se traduz em trabalho criador, quer este se corporifique na construção de uma residência, quer se concretize em investimentos de caráter produtivo ou cultural...”
Um dos requisitos, a exigência de boa-fé pelos compossuidores consiste no desconhecimento da existência de algum impedimento ou obstáculo legal a posse. Não cabe aos compossuidores a sua prova, mas, ao inverso, será uma atribuição do reivindicante a comprovação de eventual má-fé dos ocupantes da extensa área. Caso os compossuidores estejam munidos de justo título, a vista do parágrafo único, do artigo 1.201 do Código Civil, haverá a presunção de boa-fé. Numa simples analogia com o direito penal, é apropriada a comparação com o princípio da inocência. 
Trata-se de uma hipótese mais apropriada a desapropriação do que a usucapião, pois há justa indenização fixada pelo juiz, cujo pagamento constitui condição essencial para o registro do título de propriedade em cartório. Ela se fará nos autos da ação de reivindicação, ajuizada pelo dono do imóvel, quando então os citados devem oferecer o seu pleito, comprovando o preenchimento de todos os requisitos da lei. Acreditamos que o pedido dos compossuidores poderá vir mediante a peça processual da reconvenção. O prazo para pagamento deverá ser definido pelo juiz em sua sentença. Quanto não houver pagamento, acreditamos que a área deva serrestituída ao seu dono.
Como se trata de instituto jurídico relativamente novo é uma matéria envolta de muitas incertezas, dada a não definição de elementos importantes ao plenoconhecimento, cabendo à jurisprudência o fazer. 
Aula 7
Limites da propriedade. Osolo.
O Código Civil não dimensiona, com exatidão, a disponibilidade do subsolo e do espaço aéreo, limitando a atribuir o direito de propriedade englobado em relação a sua utilidade. O artigo 1.229 assim estabelece: 
"A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se as atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo emimpedi-las." 
Em síntese, ao mesmo tempo em que a lei tutela o proprietário quanto à dimensão vertical útil, veda-lhe o cerceamento do uso por terceiros além desse limite. Este dispositivo versa sobre limites ao direito de propriedade.
A interpretação do artigo 1.229deve ser em conjunto com o artigo 1.230, que exclui da propriedade do solo as jazidas, minas e demais recursos minerais. Esse dispositivo está em consonância com o disposto no artigo 176 da Constituição Federal e o artigo 84 do Código de Mineração (Decreto-Lei nº 227/1967).
Basicamente a fixação dos limites em cada caso concreto, ante as diferenças e respeitando as colocações regionais de cada local deve ser conforme a razoabilidade e dentro de imposições feitas pelas leis estaduais e municipais.
O Código Civil italiano, de 1865, retratando a simplicidade das edificações de sua época, pelo art. 4446 consagrava a regra pela qual o domínio do solo se estendia, sem limites, ao espaço aéreo e ao subsolo. 
O espaço aéreo, próprio para a navegação e domínio da soberania nacional, cabe a União legislar sobre as condições de seu uso. A parte superior do espaço aéreo de navegação deve excluir-se de que possa ser patrimônio privado ou mesmo do Estado.
				A restrição imposta ao proprietário é compatível com a função social da propriedade.As regrasque disciplinama propriedade, não se esgotam no âmbito do Código Civil, encontrando-se disposições em outros estatutos. Ele reproduz vários princípios que ficam dispersos pela legislação extravagante. 
				Dispõe o caput do artigo 1.230 do Código Civil que:
"A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais". 
Trata-se de um dispositivoinovador em relação ao Código de 1916. Dado o interesse social no aproveitamento dessas riquezas, o legislador não podia deixar o seu domínio e a sua exploração entregues a iniciativa privada de forma livre. A definição de jazida está contida no artigo 40 do Código de Mineração. 
O proprietário do solo tem direitoa participação nos resultados da lavra, fazendo jus a metade do valor total devido aos Estados, Distrito Federal, municípios e órgãos da administração direta da União, de acordo com oartigo 11, b, § 10, do Código de Mineração.
Aula 8 
Descoberta 
				A descoberta vem disciplinada do artigo 1.233 e seguintes do Código Civil. Há um regramento conjunto e inovador em relação à legislação anterior. 
Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor.
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente.
Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la.
Quem encontra coisa móvel alheia, assume a obrigação de devolvê-la ao seu dono ou possuidor. Trata-se de hipótese de coisa perdida, que não se confunde com a coisa sem dono, ou res nulliuse nem coma coisa abandonada, ou res derelictae. Estas, quando encontradas, podem ser apropriadas, que se opera mediante a ocupação, disciplinada no artigo 1.263 do Código Civil, ressalvada as hipóteses de vedação em lei. 
A diferença entre coisa perdida e coisa abandonadaestá no animus. A perda é não intencional, sem possuidor, sem transformar-se em coisasem dono, enquanto o abandono é despojamento voluntário da coisa. 
Uma das formas de perdada propriedade é pelo abandono. Também uma das de sua aquisição é pela ocupação, que é assenhoreamento de coisa sem dono. 
Sobre a ótica do Direito Penal, podemos extrair as lições de Nelson Hungria: 
"Cumpre acentuar que não se pode considerar perdida a coisa que, embora ignorado o exato lugar onde foi parar, continua na esfera de custódia do dominus. Assim, o pequeno brilhante que se desprendeu de um anel, sem que o percebesse o dominus, e foi insinuar-se na greta do assoalho da casa deste, não é, sub espécie juris, uma coisa perdida...”
				
				O atual Código Civil denomina descoberta, o achado de coisa alheia, enquanto o revogado Código usava o termo invenção. 
				Pelos artigos supracitados, a descoberta enseja fato que instaura relação jurídica entre o dono, o possuidor e o descobridor. Este assume a obrigação de devolver e, com o adimplemento, adquire o direito à recompensa, inclusive com pagamento não inferior a 5 % do valor do objeto restituído. O valor será fixado por equidade, devendo o juiz considerar: 
a) o esforço do inventor para localizar quem perdeu a coisa; 
b) as possibilidades de a coisa ser encontrada por quem a perdeu; 
c) as condições econômicas de ambas as partes. 
d) além disso, terá o direito ao reembolso das despesas de conservação e transporte da coisa. 
Quem perdeu poderá optar entre efetuar os pagamentos devidos ao inventor ou abandonar o objeto. O insuperável Pontes de Miranda nos explica que:
"o achador pode ser o incapaz, absoluta ou relativamente. Porque a achada não é negócio jurídico e nem ato jurídico stricto sensu: nela, há o encontrar; elemento puramente fático, e a tomada de posse, que e ato-fato juridico... "
				Quando a lei determina restituir a coisa, consagra um princípio de ordem moral, de boa-fé. O objeto da descoberta deverá possuir expressão econômica ou presumível valor de afeição. Eventualmente, admiti-se que poderá ocorrer a aquisição de domínio, fato que se concretiza quando o descobridor mantém a posse por tempo suficiente a usucapião, onde a aquisição se opera pela prescrição aquisitiva. Desta forma, se admite os efeitos da posse sobre a coisa descoberta.
				No capítulo das coisas vagas, o Código de Processo Civil, em seu artigo 1.174, estabelece que na hipótese de o dono da coisa, após a descoberta, abandoná-la, o inventor poderá requerer a sua adjudicação. Para que se opere a adjudicação, há de haver uma causa especial, ou seja, descoberta seguida de abandono. 		
				A descoberta, portanto, se materializa quando o inventor se apropria da coisa. O interesse na restituição da coisa não se limita ao titular da posse ou do domínio, mas se estende a toda sociedade. Prova disso é que o Código Penal, pelo inciso II, do seu artigo 169, considera crime a apropriação de coisa achada.Se for desconhecido o proprietário para o inventor, este deverá valer-se dos meios disponíveis para a sua localização, como o de anúncios escritos ou falados. A internet é um instrumento bastante útil nessa empreita. 
				Sendo infrutíferas essas diligências, a coisa achada deverá ser entregue a autoridade judiciária ou policial. O juiz também determinará que se divulgue a descoberta pela imprensa, inclusive com a possibilidade de editais. Transcorrido o prazo de sessenta dias da divulgação e não se apresentante o proprietário, a coisa será vendida em hasta pública e o valor apurado, feitas as deduções devidas, será do Município onde a coisa foi encontrada.
Quando a coisa for de reduzido valor econômico, o Município poderá desistir de seu direito em favor do inventor, consoante previsto no parágrafo único do artigo 1.237 do Código Civil. 
Aula 9 
Da aquisição da propriedade imóvel
				Como um direito subjetivo, a propriedade móvel ou imóvel, pressupõe um título que expresse a sua ocorrência ou umajusta causa.
A legislaçãoestabelece um regulamento distinto para as aquisições imobiliária e mobiliária, cercando a primeira de maior segurança jurídica, ante a sua costumeira maior importância econômica nas pessoas. 
Enquanto o modo de aquisição imobiliária se opera, pela transcrição do título em cartório do registro imobiliário, a propriedade móvel se faz pela tradição. 
O contrato de compra e venda, em nosso país, estabelece apenas direitos e obrigações, diferentemente de outros sistemas, como o françês, onde o contrato possui o poder de transmitir a propriedade.
Sua forma pode ser pública, quando lavrada em um tabelionato, ou privada. Mesmo em situações especiais, a forma privada, como por exemplo, quando há financiamento bancário para a compra do bem e o documento é elaborado pelo próprio agente financiador, funciona como instrumento de translação do domínio. Trata-se de legislação específica, também permitida quando há a compra com uso de recursos contidos na conta do FGTS do comprador.
Aula 10
Formas de aquisição da propriedade. 
1ª - Aquisição originária e derivada. 
Importante destacarmos a distinção existente entre aquisição originária e derivada.
Na originária não há transmissão e, para todos os efeitos, a propriedade inicia-se com o adquirente. Trata-se de domínio isento de qualquer vício anterior, não havendo, por derradeiro, o fato jurídico gerador do imposto de transmissão.A usucapião e a acessão natural são exemplos dessa modalidade. 
O Superior Tribunal de Justiça em um aresto já classificou também a desapropriação judicial como forma de aquisição originária:
“....a expropriatória, mesmo a indireta, corre em benefícios de ambas as partes, do particular, que por esse meio busca a compensação econômica do esbulho sofrido, e da Administração Pública que, embora já tenha a posse do bem ocupado, obterá o reconhecimento da efetiva aquisição originária da propriedade.”[2: REsp. nº 427427/SC. 2ª Turma, Rel. Min. Franciuli Netto.]
Há também quem sustente que a usucapião comporta divergência doutrinária, pois a aquisição da coisa não apaga os ônus reais anteriormente existentes. 
Na aquisição derivada verifica-se uma relação de causalidade entre a aquisição e o anterior estado da coisa. Nesta, se faz presente o princípio "nemo plus iuris in alium transferre potest quam tapse habet" ou, ninguém pode transferir a outrem mais direito do que possui. 
Na aquisição derivada, tem-se a perda do direito de propriedade pelo antigo titular, mas, em se tratando de direitos reais sobre a coisa alheia, dá-se apenas a diminuição no direito de propriedade preexistente. 
Tratando-se de imóveis, a aquisição corrente é a derivada excetuada as hipóteses de usucapião e desapropriação. 
2ª - Aquisiçãointer vivos e causa mortis. 
Pertinente ao modo de aquisição derivada, a doutrina distingue a formainter vivosda causa mortis. 
A primeira se opera entre pessoas vivas, derivadas de um negócio jurídico elaborado entre as partes. Temos como exemplo, a compra e venda e a doação.
Já a segunda deriva do evento, ou fato jurídico morte, quando então se dá a abertura da sucessão. 
Nesta vigora o princípio da automática, prevista no artigo 1.784 do Código Civil. Entre o evento morte e a sucessão, portanto, nãohá espaço temporal, pois a aquisição é instantânea, ainda que não se tenha definida a identidade do sucessor, funcionando o inventário como procedimento, como instrumento disso. 
Aula 11
Formas de aquisição da propriedade. 
3ª - Aquisição a título singular e universal. 
Na sucessão a título singular, adquire-se um bem ou um conjunto individualizado de bens e não a totalidade de umpatrimônio. Configura-se na transmissãocausa mortis, quando há legado atribuído, e o legatário sucede apenas em algum ou em alguns bens determinados, sem obrigar-se em outro sentido do espólio. 
Na sucessão a título universal, o objeto da aquisição é formado pela integralidade de um patrimônio, fato passível de ocorrer na sucessão legítima, quando os herdeiros assumemtambém as obrigações do espólio. Quando se diz no termo patrimônio, significa a coletividade de bens, móveis, imóveis, semovente, direitos, créditos, débitos deixados pelo de cujus.Em havendo dois ou mais herdeiros, cada qual será adquirente, a título universal de uma quota parte do todo, após paga todas as dívidas, caso essas existam. 
4ª – Aquisição a título gratuito e oneroso. 
Há efeitos práticos na distinção entre a aquisição gratuita e a onerosa. 
Na primeira inexiste a contraprestação, típica dos contratos unilaterais, onde transmitente é movido pela intenção de liberalidade. 
Na onerosa háobrigações para ambas as partes, tanto para aquele que transfere, como para o adquirente do bem, São situações típicas do sinalagma, ou dos contratos bilaterais. 
Na transmissão a título oneroso, em caso de inadimplemento de qualquer das obrigações, cada parte responde por culpa, ressalvadas as exceções legais. 
Aula 12. 
Formas de aquisição da propriedade.
Da Usucapião
Etimologia e Nótula Histórica
Através da usucapião, pode se adquirir tanto a propriedade da coisa imóvel quanto da móvel. Ambas as modalidades são reguladas separadamente pelo Código Civil. A primeira esta disciplinada, no conjunto dos artigos 1.238 a 1.244, enquanto a da coisa móvel, entre os artigos 1.260 a 1.262. 
				Pela etimologia, o termo usucapiãotem a sua origem no latim usucapio, vocábulo formado pela conjugação deusu, que outrora significava possessio (posse) e capere (adquirir). A partir disso, houve uma alteração feita pelo Código Civil atual, em atribuir ao termo pelo modo feminino (daí se expressão “a usucapião”) em substituição ao emprego do termo masculino, típico do Código revogado. Já ouvimos que alguns linguistas admitem as duas hipóteses, ante a habitualidade, o que definitivamente pode ter sido incorporado como certo. O dicionário Houaiss dá ao vocábulo seu duplo gênero, tanto masculino, quanto feminino.
				Sua origem é exclusivamente romana, onde ausucapio era a aquisição da propriedade quiritaria da coisa corpórea (res mancipi ou res nec mancipi), pela posse durante um tempo determinado. Essa resultou da unificação promovida á época de Ulpiano, da usucapio, que se referia aos fundos itálicos, com a praescriptio, aplicável aos fundos provinciais. 
				Seus fundamentos estavam no interesse público de ver a propriedade das coisas cercada de definição, permitindo-se aos proprietários, um tempo suficiente para a proteção de seus próprios bens. A posse ad usucapionem era apossessio civilis que, segundo a Lei das XII Tábuas, devia ser, ininterruptamente, de dois anos para os imóveis e de um, para os móveis (usus auctoritas fundi biennium, ceterarum term annus usus esto). Esse pouco tempo de posse tinha como justificativa de que Roma apresentava, a época, pequena extensão geográfica, circunstância que permitia aos proprietários acompanharem o estado em que se encontravam seus bens móveis e imóveis, notadamente quanto a eventual posse de terceiros. 
				Os que não eram cidadãos romanos, inicialmente, não se beneficiavam da usucapio, decisão com intuito de evitar que o patrimônio romano fosse adquirido por estrangeiros. Posteriormente, tal preceito foi modificado. 
				Como destaque de algumas características da época:
A - 	A coisa deveria ser idônea, ou seja, suscetível de ser propriedade quiritaria. Caso fossem furtadas ou roubadas não eram res habilis a usucapio, mas uma vez reincorporadas a posse do proprietário tomavam-se usucapíveis por esse. 
B –	Não eram suscetíveis da usucapio, as coisas fora do comércio (res extra commercium), os imóveis provinciais, as coisas do fisco, do príncipe e da Igreja. 
C – 	O possuidor deveria ter uma iusta causa, ou seja, o atual justo título, em sentido amplo como se fosse através de um ato jurídico que poderia ser, entre outros, feitos por meio de compra (pro emptore), por doação (pro donato), por dote(pro dote), por legado(pro legato), o abandono (pro derelicto). 
				Numa fase seguinte, precisamente no período da República romana, passou-se a se exigir a bona fides, ou boa-fé, fundamental no momento em que ocorra a tradição da coisa. Essa era presumida, cabendo a quem alegasse má-fé do postulante, o ônus de comprová-la. 
Aula 13
Formas de aquisição da propriedade.
Da Usucapião
Conceito 
Há em toda a doutrina várias conceituações obre a usucapião, mas podemos perceber a possibilidade de uma unicidade. Usucapião é modalidade de aquisição originária da propriedade, móvel ou imóvel, e de outros direitos reais. 
Teremos um foco, nessa aula, apenas a propriedade imobiliária. 
A usucapiãotem como pressuposto a posse ininterrupta da coisa, durante um tempo determinado, variando de acordo comuma de suas cinco modalidades previstas no direito brasileiro, quais sejam, especial urbana, especial rural, ordinária, extraordinária e coletiva. 
O fato gerador da propriedade é a sentença judicial de caráter declaratória.Ela também pode ser alegada como matéria de defesa, diante de uma pretensão petitória, muito embora não dispensando a propositura de ação própria, salvo em se tratando de usucapião prevista no Estatuto da Cidade (Lei n° 10.257/01). Neste sentido, asúmula 237 do Supremo Tribunal Federal:
 "O usucapião pode ser arguido em defesa". 
				Embora tenha o termo prescrição como uma de suas palavras definitivas, em nada se assemelha a prescrição como instituto jurídico que leva a perda de direitos. Neste sentido, nos demonstra Orlando Gomes:
“Diferenciam-se no fim, nos requisitos e nos efeitos, os dois institutos não devem ser englobados. Regular a usucapião no capítulo da prescrição como uma de suas firmas, é desconhecer sua própria natureza"
				A posse mansa e pacífica, comanimus domini (elemento subjetivo)deve ser por determinado prazo fixado em lei. Em havendo renúncia, acreditamos que deve prevalecer o valor de perda da usucapião, nos termos do inciso II do artigo 1275 do Código Civil. Orlando Gomes expressa que“o ato de renúncia antes da consumação implica causa de interrupção, ou seja, mata o tempo anterior de posse para efeito de usucapião.”
Aula 14
Formas de aquisição da propriedade.
Da Usucapião
Requisitos. 
 Para obter a declaração de domínio ou propriedade, por intermédio da usucapião, o interessado deve satisfazer alguns seguintes requisitos expressos como fundamentais pela doutrina:
1) 				O primeiro se refere à capacidade jurídica de fato da pessoa, podendo ser tanto a pessoa natural quanto a pessoajurídica. Também não deve haver distinção entre os nacionais e estrangeiros, com fundamento no caput do artigo 5° da Constituição Federal. Sempre lembrando, neste último caso em relação aos estrangeiros, por estrangeiros subordina-se a lei federal nº 5.709/71 e suas alterações posteriores, que estabelece algumas restrições, inclusive no âmbito do próprio INCRA.[3: Recente parecer da Advocacia Geral da União deu uma nova interpretação a lei, limitando as compras de terras por estrangeiros, modificando o regime para empresas e investidores do agronegócio do Brasil. O parecer da AGU coloca em situação diferenciada as empresas brasileiras daquelas que têm controle estrangeiro. Essas, para realizarem um compra de terras, são obrigadas a obedecer um rito, repleto de etapas.]
				Não há restrição aos absolutamente incapazes, devendo sua manifestação de animus dominiser suprida por seus representantes legais
2) 					O segundo requisito se refere a coisa usucapida. Ela deve ser certa e determinada. Temos a exceção clássica de que bens públicos não podem ser usucapidos. O artigo 102 do Código Civil é claro ao determinar que: 
"Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião" 
Consideram-se bens públicos aqueles pertencentes aos entes federativos brasileiros, a União, Estados, Distrito Federal, Municípios, suas autarquias e fundações de direitopúblico, além dos afetados a prestação de serviços públicos.
Em relação as terras devolutas, que são terrenos vagos e alienáveis, há divergências na doutrina quanto a possibilidade de serem usucapidas. Uma faixa de cento e cinquenta quilômetros de largura ao longo das fronteiras de nosso país, pertencem aos respectivos Estados, conforme o artigo 26, IV, da Constituição Federal. 
Pessoas jurídicas de direito público, também podem usucapir bens de domínio particular. 
Também não podem ser usucapidas as coisas fora do comércio, com exceção das inalienáveis por causa mortis ou inter vivos.
Quanto ao fideicomisso, previsto no artigo 1.951 do Código Civil, a propriedade é usucapível apenas em relação ao fiduciário, por ser ele que se encontra na posse da coisa. Quando ao fideicomissário, uma vez que o seu direito se acha pendente de condição ou termo, não corre a prescrição, nos termos do disposto no artigo 199, incisos I e II do Código Civil. 
Aula 15
Formas de aquisição da propriedade.
Da Usucapião
Requisitos.
3) 					O terceiro requisito é a posse, consistente no exercício de algum dos poderes inerentes a propriedade. Trata-se de elemento central do qual pode se atingir o domínio. A posse pode ser pessoal, pelo próprio pretendente a usucapião, como pode ser pelo seu representanteou procurador. O inciso II do artigo 1.205do Código Civil diz que terceiro sem mandato, depende de ratificação. 
A posse ad usucapionem deve ser mansa e pacífica, portanto, sem oposição. Indispensável que a posse sejapública. Se, durante o tempo em que a coisa permaneceu em poder do possuidor o proprietário contestar a posse sob qualquer forma, acreditamos que a usucapião se inviabiliza. Se houver uma sentença de improcedência da pretensão, transitada em julgado, essa oposiçãoserá inócua, não impedindo a usucapião. 
A posse adquirida de modo violentoou clandestino não geram aquisição de propriedade, enquanto durarem esses atos, conforme dispõe o artigo 1.208 do Código Civil. 
De acordo com a doutrina, a posse ad usucapionemexige oanimus domini, ou seja, que o possuidor exerça o seu poder sobre a coisa com a intenção de ser dono, passando isso aos olhos da sociedade. Os atos de mera detenção não induzem posse, pois a mantém sob a sua guarda em nome de outrem. Temos como exemplo, o caseiro em relação a casa ocupada, o motorista em relação ao veículo guiado. 
4) 				A posse, para ser proveitosa, levando a aquisição da propriedade, é preciso que se prolongue no tempo, sendo este variável de acordo com a modalidade da usucapião. Deveser sem interrupções. 
O artigo 1.244 do Código Civil prevê a extensão, para efeitos da usucapião, no que couber, das causas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição, nos termos dos artigos 197 a 201. 
 Consoante entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o prazo deve completar-se antes do ajuizamento da ação de usucapião: 
"Civil. Usucapião. Prazo. O tempo decorrido entre o ajuizamento da ação e a sentença não pode ser computado para o efeito do usucapião. "
(REsp. nº 30325/SP, 3ª turma, Rel. Ministro Ari Pargendler, julgado em 16.05.2002)
				Na comprovação judicial do tempo pelo usucapiente, deve haver a caracterização da época em que se verificou o primeiro ato de exercício da posse, sem que o tempo intermediáriodeva ser presumido. Cabe a qualquer interessado, provar a interrupção da posse
Aula 16
Formas de aquisição da propriedade. Da usucapião
Espécies. Da Usucapião extraordinária. 
Nas aulas anteriores, uma vez analisados o conceito e requisitos da usucapião, passaremos a compreender os seus caracteres complementares. 
A Usucapião da modalidade extraordinária vem prevista no artigo 1.238, sendo que o tempo de posse exigido é de quinze anos. No código anterior o prazo era de vinte anos, também tirando a distinção que lá havia entre proprietário presente e ausente. Imperioso é que o usucapiente, durante o prazo, exerça a posse comanimus domini, continuamente e sem oposição. 
Também não se exige que a posse seja fulcrada em justo título e boa-fé, pois ambos são absolutamente presumidos – juris et de jure – de nada adiantando ao contestante em juízo, a prova em contrário.
Já no parágrafo único deste artigo, inovou o legislador ao formular uma variação do modelo tradicional de usucapião extraordinária, reduzindo o prazo de posse para dez anos, desde que o possuidor fixe a sua morada no imóvel, realize obras ou serviços de caráter produtivo. 
Esses requisitos são alternativos e não conjuntivos. Pelo fato de exigir moradia, acreditamos que o legitimado para exercer essa espécie de usucapião é somente uma pessoa natural. 
Também não há interesse legal em quem edificou a moradia, pois a teleologia da lei é a de valorizar a morada e não a de induzir a sua construção. 
Sobre o requisito de natureza produtiva, o maior beneficiado é seja a pessoa que vive em zona rural, embora acreditamos que sobre esse fundamento possa ser exercitado em zona urbana.
O Direito Positivo também não fixou qualquer parâmetro de avaliação do requisito serviços de caráter produtivo, cabendo ao julgador guiar-se pelo valor ou utilidade social do empreendimento. 
Seu objetivo maior é a disposição de atribuir um caráter social e favorecer, de alguma forma, a crise habitacional e de trabalho. 
Havendo procedência na pretensão judicialmente deduzida, após o seu trânsito em julgado, constituir-se título a ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis. E a dicção do artigo 1.238, segunda parte, do Código Civil. 
Aula 17
Formas de aquisição da propriedade. Da usucapião
Espécies. Da UsucapiãoEspecial Rural
Também denominada como usucapião pro labore, sua origem remonta ao artigo 191 da Constituição Federal de 1988, onde o Código Civil de 2002 limitou-se a apenas reproduzi-lo. 
Nesta modalidade o legislador se orientou, fundamentalmente, pelo sentido social da propriedade e imperativos de justiça social. 
Para se obter a propriedade por essa espécie, o possuidor deverá, além de satisfazer os de caráter geral (capacidade jurídica, res habilis, posse contínua, pública e sem oposição, tempo de posse), deverá preencher os requisitos de caráter específico, a saber: 
1 – Negativa de domínio. O possuidor não pode ser proprietário de qualquer imóvel rural ou urbano. Esse requisito deve ser preenchimento mediante a apresentação de certidão negativa do cartório de registro de imóveis. Contudo, como sabemos que esse tipo de certidão se limita as informações da comarca, poderá ser requisitado, por exemplo, declaração de bens e renda entregue a Receita Federal.
2 –Prazo da posse. O tempo mínimo é de cinco anos período em que o usucapiente haverá de exercer a posse comanimus domini, sem interrupção, mansa e pacificamente. Neste caso, apesar do permissivo do artigo 1.243 do Código Civil, alguns não admitem a acessio possessionis. ressalvada a hipótese de sucessão hereditária, vez que o preenchimento trabalho e morada possui caráter pessoal e incomunicável. É admissível, todavia, esta garantida diante do permissivo do artigo 1.243;
3 – Imóvel rural e sua dimensão. Oimóvel objeto da usucapião deve ser uma área não superior a cinquenta hectares e situada em zona rural. Talvez alguns questionamentos quanto a esse requisito possam ser feitos em algumas cidades, ante ao hábito de prefeitos de estenderem a área urbana dessas, por meio de leis municipais, com intuito exclusivamente arrecadatórios. A estenderem a área urbana, mesmo sem sequer possuir pavimentação, redes de captação de esgoto ou distribuição de águas, guias e sarjetas, fazem isso para tentarem aumentar a arrecadação do IPTU – Imposto Predial Territorial Urbano, ofendendo regras deste imposto contidas no Código Tributário Nacional. 
4 – Trabalho produtivo e moradia. Durante o tempo de posse, o usucapiente deverádesenvolver atividade agropastoril, seja com o seu próprio trabalho ouo de sua família. Também é condição essencial a moradia na área. Como a norma destaca a área de terras como objeto da usucapião e, ao mesmo tempo, exige a moradia no local, subentende-se que a habitação pode preexistir a posse ou ser edificada pelo possuidor. 
Aula 18
Formas de aquisição da propriedade. Da usucapião
Espécies. Da UsucapiãoEspecial Urbana.
Também denominada como usucapião habitacional, assim como a espécie estudada da aula anterior, está já tinha previsão no artigo 183 da Constituição Federal de 1988. Também seu texto foi reproduzido no artigo 90 da Lei no 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) e, posteriormente no artigo 1.240 do Código Civil. 
Comessa espécie de usucapião, se pretende tutelar as dificuldades de acesso a casa própria, problema comum nas cidades brasileiras e favorecendo a chamada justiça social. Além dos requisitos comuns as todas as espécies, ela tem como requisito:
1 – Posse mínima de cinco anos sobre o imóvel.
2 – Negativa de domínio. O usucapiente não pode ser proprietário de qualquer outro imóvel, seja rural ou urbano, devendo fazer prova neste sentido. Essa exigência é compatível com o objetivo social da lei. A fim de evitar abuso, o § 2° do art. 1.240 veda a aquisição da propriedade pela segunda vez.
3 – Área urbana não superior a duzentos e cinquenta metros quadrados. Há limitaçãoda área urbana usucapida para de até duzentos e cinquenta metros quadrados, não existindo menção a área construída. O Estatuto da Cidade, que entrou em vigor após a Constituição e antes do Código Civil, no seu artigo 90, refere-se "área ou edificação urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados". A pergunta que surge é se constitui res habilis o prédio com área construída superior aquela dimensão, embora em terreno dentro daquele limite? 
Acreditamos que a solução adequada seria a de se restringir a usucapião a área construída compatível com as necessidades de quem ocupa o imóvel, mesmo que a área construída seja superior a posta no Estatuto da Cidade. 
4 – Utilização do imóvel como residência própria e de sua família.Pode ser residência do pretendente a usucapião como de sua família, quando aquele em trabalhar em outra cidade. Esse fato de fora não exclui a posse, uma vez que a coisa pode continuar, mesmo assim, sob o controle do usucapiente. 
5 – A coisa usucapida deve ser localizada em área urbana. Para os fins de usucapião, a definição do imóvel urbano não se faz por sua destinação, mas em função da região que se localiza no zoneamento municipal. A Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal aprovou o enunciado n° 85, com seguinte teor: 
"Para efeitos do artigo 1.240, caput, do novo Código Civil, entende-se por área urbana o imóvel edificado ou não, inclusive unidades autônomas vinculadas a condomínios edilícios." 
6 – Pessoa natural como usucapiente. Trata-se de uma exigência implícita neste modelo de usucapião, vez que exige como moradia. 
Aula 19
Formas de aquisição da propriedade. Da usucapião
Espécies. Da Usucapião ordinária. 
Esta modalidade é subdividida em outras duas subespécies, uma que exige dez anos de posse e a outra de cinco. 
A primeira, definida no caput do art. 1.242 do Código Civil, exige, além do preenchimento dos requisitos comuns, como justo titulo e boa-fé
Podemos considerar como justo titulo o ato jurídico que justifica a posse em poder do usucapiente. Pode configurar-se por uma compra, permuta, doação, entre outros. Certos acontecimentos podem tornar ineficaz ochamado justo titulo. Orlando Gomes indica três causas impeditivas da eficácia: 
a) o possuidor firma contrato para aquisição do imóvel com pessoa não proprietária; 
b) o negocio é feito com o domino, mas este não estava habilitado para alienar a coisa; 
c) incidência do vicio de erro no ato negocial.
Quanto a boa-fé, esta é tomada em sentido subjetivo, além de ser presumida. Trata-se como a crença do usucapiente de que o imóvel lhe pertencia de pleno direito, desconhecendo então o vicio impregnado no domínio. 
				Lembremos, neste caso, o que preceitua o artigo 2.029 das Disposições Transitórias do Código Civil:
Art. 2.029. Até dois anos após a entrada em vigor deste Código, os prazos estabelecidos no parágrafo único do art. 1.238 e no parágrafo único do art. 1.242 serão acrescidos de dois anos, qualquer que seja o tempo transcorrido na vigência do anterior, Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916.
			
	
				Os parágrafos mencionados dizem respeito as hipóteses em que o prazo é reduzido porque o possuidor estabeleceu no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizou obras ou serviços de caráter produtivo. Acrescenta-se ainda o artigo 2.030 do Código Civil que: ”O acréscimo de que trata o artigo antecedente, será feito nos casos a que se refere o § 4o do art. 1.228.”
Aula 20
Formas de aquisição da propriedade. Da usucapião.
Espécies. Da usucapião coletiva. 
O Estatuto da Cidade (Lei Federal n. 10.257, de 10.07.2001), ao dispor sobre a política urbana, pelo artigo 10 criou a modalidade coletiva de usucapião, visando a atender situações especiais, atingindo pessoas vivem abaixo da linha de pobreza e a regularizar situações de fato sobre imóveis possuídos. 
O imóvel usucapiendo deve situar-se em zona urbana e ocupar área superior a duzentos e cinquenta metros quadrados. A posse deve ser exercida por pessoas de baixa renda e que vivam coletivamente no local, sem divisão interna de espaço, de modo que não se possa identificar o terreno de cada um. Os interessados não podem ser proprietários de qualquer imóvel urbano ou rural. O prazo estabelecido para a posse, ininterrupta e sem oposição, é de cinco anos. Como se observa, não se exige justo titulo e boa-fé dos possuidores. 
A ação de usucapião coletiva pode ser ajuizada por qualquer possuidor, isoladamente ou em litisconsórcio originário ou superveniente; pelos possuidores, em estado de composse e por associação de moradores da comunidade, como substituto processual (art. 12). A entidade deve possuir personalidade jurídica e a sua iniciativa há de ser precedida de aprovação em assembléia. 
Importante inovação é o fato de a sentença que reconhecer a usucapião, alegada em defesa, constituir titulo hábil para o registro em cartório de registro de imóveis. 
Estabelecido o condomínio indivisível, os novos proprietários deverão decidir sobre os seus interesses, em assembléia, mediante aprovação de, no mínimo, dois terços dos condôminos.
Aula 21
Formas de aquisição da propriedade. 
Do Registro de Título Translativo. Aspectos Gerais e Históricos
A forma mais comum de aquisição da propriedade imobiliária é a tradição solene, que se opera pelo registro do título translativo no Registro de Imóveis da comarca em que o imóvel esteja situado.
O primeiro Registro Geral foi instituído pela Lei nº 1.237, de 24.09.1864. Essa lei vigorouaté o advento do Decreto n° 169-A, regulamentado pelo Decreto n° 370, ambos do ano de 1.890. Posteriormente, com a promulgação do Código Bevilacqua, aqueles diplomas foram revogados. 
Destacamos também que antes disso o Registro Geral, chegou a ser criado pela Lei Orçamentária nº 317, de 21.10.1843, mas com caráter de registro de hipotecas, contendo uma simples proteção aos credores, para quem a terra constituía uma segurança.
As regras pertinentes aos registros públicos, dada a sua amplitude, devem ser objeto de lei especifica, limitando-se o CódigoCivil ao referencial básico. São poucas as disposições contidas neste Código. 
Em Roma, a propriedade nãoo se transferia por força de simples contrato e também não adotou um sistema de registros públicos, embora houvesse como modalidades de aquisição de propriedade, amancipatio; a in iurie cessio.
Pelo primeiro, realizado o negócio, este ganhava publicidade, com as partes comparecendo perante o libripens (porta-balanca)e de cinco testemunhas, que representavam as cinco classes do povo, instituídas por SérvioTúlio (578-534). O adquirente (mancipatio accipiens), com um bastão de bronze (rauduscalum), batia em um dos pratos da balança e, ao mesmo tempo, pronunciava uma fórmula solene. Tratando-se de imóvel, utilizava-se de algo que o simbolizasse, como um torrão ouuma telha de barro; se móvel, o objeto devia estar presente.
Já a segunda modalidadeprocessava-se perante o magistrado e como se fosse uma ação. A forma de aquisição se revestia de publicidade e possuía natureza abstrata, desvinculada do negócio causal. 
Atualmente, em alguns ordenamentos, como o françês e o italiano, a propriedade se adquire pelo negócio juridico, valendo o registro para a produção de efeitos perante terceiros.
O controle da propriedade imobiliária, pelo assentamento em registro público, somente é possível diante da possibilidade de identificação de cada imóvel por sua localização geográfica, confrontações e medidas, ou seja, pela especialização, que é um dos princípios em que se funda o sistema. 
Veículos automotores tem a sua individuação pelo número do chassi, vezsão objetos de controle de propriedade pelo Estado. 
Para a firmeza jurídica dos negócios imobiliários é indispensável à existência dos cartórios especializados, que se sujeitam a fiscalização do judiciário. 
Tendo em vista que todos na sociedade possuem dever juridico de respeitar os direitos reais, que possuem validade erga omnes, a sua publicidade é imprescindível, função cumprida pelos cartórios. 
Conforme o sistema adotado no Brasil, o registro público gera uma presunçãojuris tantum de domínio. O que está registradoprevalece enquanto não se prove o contrário judicialmente. Esta é a letra do artigo 1.245, § 2°, do Código Civil.
Enquanto não houver ordem judicial de alteração ou cancelamento do registro, este continua a produzir efeitos jurídicos. 
O artigo 252 da Lei dos Registros Públicos é claro neste sentido, deixando induvidosa, também, a presunçãojuris tantum de veracidade dos assentamentos públicos ao dispor que, enquanto não cancelado o registro, dele continuarão fluindo efeitos jurídicos.
Aula 22
Formas de aquisição da propriedade. 
Do Processo do Registro. 
O Código de 2002 optou pela denominação genérica de registro, acompanhando neste ponto a Lei n° 6.015, de 31 de dezembro de 1973 – Lei dos Registros Públicos. 
O oficial do registro possui o dever de verificar se o título reveste-se das formalidades legais que lhe são inerentes, abrindo oportunidade ao apresentante, se for o caso, para sanar lacuna. Constatada alguma irregularidade, haverá de declarar dúvida ao magistrado responsável pela fiscalização do cartório, instaurando-se um procedimento, previsto nos artigos 198 e seguintes da Lei de Registro Públicos.
Pelo artigo 1.246 do Código Civil, o registro se torna eficaz a partir da apresentação do título e prenotarão no livro denominado protocolo, o qual se destina a anotação diária dos títulos que entram em cartório. Assim, a aquisição da propriedade se opera no momento da prenotação, pois os efeitos jurídicos do registro retroagem aquele ato. Ao ser prenotado, o documento recebe umnúmero correspondente à ordem de apresentação. Tal formalidade é importante, pois, havendo conflito entre títulos translativos, estes não poderão ser registrados no mesmo dia, ganhando prioridade o de número mais baixo. Se formalizados em escrituras públicas, onde constem dia e hora da celebração do ato negocial, o registro de tais títulos não obedecerá tal critério prevalecendo à ordem das lavraturas. Isto é o teor dos artigos 190 a 192 da Lei Especial. 
O registro público deve retratar, com fidelidade, o quadro geral da propriedade imobiliária, informando: 
a) a descrição das unidades com sua localização, medidas, confrontações, eventuais acidentes geográficos; 
b) a titularidade; 
c) os ônus reais (hipoteca, anticrese, servidão, usufruto) e penhora. 
Constatada qualquer divergência no registro, a parte interessada poderá requerer, judicialmente, a devida retificação.
Cada unidade imobiliária deve ter a sua matrícula própria, com um número de identificação. Deve ser manter inalterável a matrícula, devendo ser anotada sobre ela, todas as transferências da titularidade do domínio e ônus que recaiam sobre o imóvel.É possível a unificação de matrículas, se dois imóveis contíguos possuam o mesmo titular. Em caso de desmembramento, a parte destacada deverá ter matricula própria.
 Objeto do registro é o título. O ato de registro consiste na oficialização da transferência de domínio ou de qualquer fato suscetível de registro, previsto no elenco do art. 167, I, da Lei dos Registros Públicos. 
Pela averbação, o oficial do cartório faz anotações a margem do registro, consignando dados relevantes, como retificação de nome ou de metragem, penhora, extinção de direitos reais, unidade,convenção antenupcial, promessa de compra e venda, entre outras previstas no inciso II do art. 167, da Lei Especial. 
A matrícula, o registro e a averbação são susceptíveis de cancelamento, tanto por decisão judicial, como por iniciativa dos interessados e na forma legal prevista. 
Relativamente a matricula, ocorre o cancelamento na hipótesejá examinada de fusão.
O registro pode ser cancelado na em partes ou naíntegra.
O cancelamento de hipoteca deve ser expressa pelo credor ou seu sucessor, e feita por instrumento público ou particular; procedimento administrativo ou contencioso
Aula 23
Princípios vigentes no sistema registral. 
Os registros públicos se estruturam em conformidadecom princípios específicos, os quais apresentamos:
Princípio da especialização: É condição si ne qua non de um registro é a individuação do objeto do direito real, pela indicação de seus dados essenciais (localização, medidas, confrontações etc.); 
Princípio da publicidade: Dada a importância dos assentamentos, seu conhecimento deve ser acessível a todas as pessoas. Por solicitação de qualquer interessado, o oficial ou seus prepostos devem fornecer certidões, indicadoras dos elementos essenciais do registro; 
Princípio da continuidade: a sucessão dos registros configura uma corrente de titularidades. O transmitente há de ser, necessariamente, o titular do direito real, enquanto o adquirente se toma apto a transferir, na forma da lei, o direito incorporado ao seu patrimônio; 
Princípio da prioridade: na hipótese de serem levados a registro, dois ou mais títulos aquisitivos sobre o mesmo objeto, prevalece o apresentado e prenotado em primeiro lugar, observadas as disposições dos artigos 190 a 192 da Lei 6.015/73. 
Princípio da adequação: Por forca deste, os assentamentos públicos devem espelhar a realidade. Se esta, por qualquer motivo, se modifica significativamente, o registro deverá ser retificado a fim de adequar-se as novas características do objeto. 
Princípio de legitimidade do apresentante. Os registros públicos não se praticam oficiosamente, mas apenas por ordem judicial ou a requerimento de qualquer pessoa legítima. 
Aula 24.
Formas de aquisição da propriedade imóvel. 
As acessões.
				Continuando nosso curso em relação às formas de aquisição da propriedade imóvel, adentraremos agora no estudo das acessões.
				Constitui acessão um dos modos originários de aquisição da propriedade imobiliária. Ela se forma pela ampliação do objeto de domínio, seja por força natural (formação de ilhas, aluvião, avulsão, álveo abandonado) ou por artificial (construção, plantação).
Sob o aspecto legal, ele se configura com um fato jurídico. O direito do proprietário se estende parte que acresce, que pode ser propriedade de alguém ou não.
Orlando Gomes e Silvio Rodriguesidentificam a acessão não apenas pelo aumento do volume, mas também pelo do valor da coisa principal. 
Clóvis Bevilacqua define acessão: 
"Como o modo originário de adquirir, em virtude do qual fica pertencendo ao proprietário tudo quanto se une ou se incorpora ao seu bem"Quanto a sua formação, a doutrina em geral distingue no plano legal, duas espécies de acessão: a natural e a industrial ou artificial.
				A primeira origina-se espontaneamente de movimentos ou ação da natureza, englobando aformação de ilhas, a aluvião, a avulsão, o álveo abandonado.
A segunda é decorrência do intelecto humano e refere-se as edificações e acessão em plantações. 
Na acessão natural, objeto dos quatro primeiros incisos do artigo 1.248 do Código Civil, tem-se uma coisa imóvel ampliando outra da mesma classe. A acessão da coisa móvel a imóvel pode ser da espécie industrial. 
Outra modalidade — de móvel a móvel — apresenta-se sob as seguintes variações: especificação, confusão, comistão e adjunção, reguladas pelo Código Civil, no capítulo Da Aquisição da Propriedade Móvel.
Ilhas.
 A primeira hipótese de acessão tratada pelo Código Civil, em seu artigo 1.249 é a de formação de ilhas em rios particulares. A definição de rios particulares e navegáveis é contida no Código de Águas brasileiro (Decreto n° 24.643, de 10.07.34). Não se opera acessão em rios navegáveis, uma vez que são públicos e pertencem a União ou aos Estados. 
De acordo com o artigo 20, inciso IV, da Constituição Federal, as ilhas pluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países são bens da União. Aplicando-se o argumento inverso tem-se que as ilhas e lagos interiores pertencem aos Estados. 
 Para se saber a quem cabe a acessão, dever-se- considerar a linha que divide o álveo em duas partes iguais, a saber:
Se a ilha formou-se inteiramente de um lado do álveo, o seu domínio será adquirido pelo proprietário das terras situadas na margem correspondente. Tratando-se de mais de um imóvel com proprietários diversos, a acessão pertencerá aos respectivos titulares e na proporção de suas testadas, conforme reza o artigo 1.242, II, do Código Civil. 
Caso a localização da ilha corresponda a passagem do álveo, o direito de aquisição será dos proprietários de ambas as margens, proporcionalmente as testadas e ate a linha divisória do álveo, conforme reza o artigo 1.242, I. 
Quando as águas de um rio penetram em um terreno particular, formando um braço e provocando a formação de ilha, a área correspondente permanecerá no patrimônio do titular da propriedade afetada, conforme o artigo 1.242, III, do Código Civil. Não é ampliação de domínio, mas de preservação da coisa anteriormente existente, modificada por alterações pelo curso das águas. Como exceção a essa regra é o contido no artigo 24, parágrafo único, do Código de Águas. Quando a redefinição geográfica, formada pelo novo braço, constituir corrente navegável ou flutuável, poderá não ocorrer a acessão. Interessando-se o Poder Público, a ilha poderá entrar para o seu patrimônio, mediante previa indenização. 
Aula 25.
Formas de aquisição da propriedade imóvel. 
As acessões. Aluvião
				A aluvião é um crescimento de área não aparente, se formando de modo não ostensivo, imperceptível. Essa modalidade de acessão se configura pela formação de depósitos e aterros, provocada pela ação lenta e constante das águas dos rios, junto as propriedades ribeirinhas, aumentando-lhes os volumes. 
Temos a espécie denominada aluvião própriae por ficção o legislador considera aluvião os acréscimos formados por desvio de águas como aluvião imprópria. Ambas as hipóteses estão definidas no caput do artigo 1.250 do Código Civil. 
As propriedades são acrescidas, separadamente, de acordo com as suas respectivas testadas. Ou seja, os depósitos que se formarem em cada terreno, ampliando-os, favorecendo aos seus respectivos proprietários, aumentando o seu domínio. 
Três são os seus requisitos: 
1 – Entre os terrenos a serem acrescidos e a corrente de água deve haver contiguidade; 
2 – O acréscimo aos terrenos em decorrência do movimento das águas; 
3 – Fenômeno de formação lenta e progressiva; 
				Deve-se se ater ao disposto no artigo 16, § 10, do Código de Águas, o qual reconhece como públicos dominicais os acréscimos que se produzirem nas águas públicas ou dominicais. Se o rio for navegável, a acessão provoca um estreitamento no curso do rio com algum prejuízo a navegação, sendo que o Poder Público poderia retirar mecanicamente os acréscimos.
Avulsão 
Também provocado espontaneamente pela natureza, este fenômeno ocorre pelo deslocamento abrupto de uma porção de terras, que passa de um imóvel para outro, pertencentes à proprietários diversos. 
O artigo 1.251 do Código Civil refere-se com o termo prédio, tornado na acepção ampla de imóvel. 
Ela se caracteriza por dois elementos: 
1 – Identificabilidade da porção de terra deslocada; 
2 – A forma repentina do deslocamento. 
				A expressão porção de terras, empregada pelo legislador, deve ser interpretada extensivamente e para alcançar qualquer tipo de composição do solo. É irrelevante que o prédio ampliado seja fronteiro ou se situe ao lado do que se desfalcou, nem que o acréscimo se produza por justaposição ou superposição.
Se a coisa deslocada não possuir capacidade de aderência, o proprietário que a recebe em seu terreno deve observar o disposto no artigo 1.233 do Código Civil, devolvendo-a ao seu legítimo dono.
A propriedade da porção de terra será adquirida pelo titular do prédio acrescido, caso indenize o outro proprietário, ou este, ao cabo de um ano (decadência), não pleiteie em juízo. 
Havendo possibilidade técnica e interesse das partes, a situação pode retomar ao status quo ante, convencionando-se os termos do acordo. 
Aula 26.
Formas de aquisição da propriedade imóvel. 
As acessões. Álveo abandonado. 
Cuida o art. 1.252 deste instituto, prescrevendo a respeito em conformidade com a fórmula adotada para a formação de ilha. Os efeitos jurídicos previstos referem-se apenas a mudança definitiva do leito dos rios. 
Se for um fenômeno transitório, não se aplica a fórmula prevista no referido artigo. Igualmente se o fato for provocado por particulares e não uma decorrência de forças naturais. 
Considerada a linha divisória do álveo, as terras situadas de cada lado pertencerão, respectivamente, aos titulares dos imóveis marginais e na proporção das testadas. Se, ligado a este fato, um novo curso de água se forma em terras particulares, os proprietários das terras acrescidas não estão obrigados a indenização. 
 Prevê o Código de Águas, em seu artigo 27, que se um novo curso de água se formar em terras particulares, decorrente de obras públicas os proprietários prejudicados serão indenizados pelo Poder Público,que assumirá o domínio do alveus derelictus como forma de compensação pelos encargos assumidos.
Na hipótese de o curso do rio ocupar o leito primitivo, os titulares das terras abandonadas reassumirão o seu domínio, salvo se a nova mudança decorrer de obras públicas, quando então permanecerão no domínio público. 
Aula 27.
Formas de aquisição da propriedade imóvel. 
As acessões. Construções e plantações. 
Como dito em aula anterior de um modo geral, as construções e plantações são consideradas como acessões artificiais ou industriais.
As construções e plantações constituem bens imóveis, pois nesta categoria estão enquadrados, por forca do artigo 79 do Código Civil, tanto o solo quanto o que se lhe incorpora natural ou artificialmente. 
Também em relação a tais espécies de acessões prevalece o principio accessorium sequitur naturam sui principalis. E o solo é principal, enquanto as construções e plantações configuram bens acessórios, considerando-se as definições do artigo 92. 
As construções e plantações configuram a modalidade de acessão de móveis a imóveis. 
O comum é que a matéria-prima, sementes e plantas empregadas nas acessões pertençam aos proprietários dos respectivos terrenos. 
Tendo em vista que a experiência ordinariamente revela, o legislador criou uma presunçãojuris tantum, relativamente à construção ou plantação, considerando-as realizadas pelosproprietários dos respectivos terrenos e as suas expensas. Tratando-se de presunção relativa, desde que haja questionamento quanto a autoria de tais acessões ou de seu custeio, a prova contrária deverá ser deduzida por quem alega
Essa presunção exige também a averbação da construção. 
Na hipótese de o proprietário do terreno semear, plantar ou construir, utilizando-se de sementes, plantas ou material de terceiro, adquirirá a propriedade destes, assumindo, porém, a obrigação de efetuar o pagamento correspondente. O valor deverá corresponder ao valor da coisa móvel a época em que foi incorporada. Haverá a responsabilidade por perdas e danos, caso tenha agido de má-fé. 
Já a hipótese considerada no artigo 1.255 do Código Civil, trás uma posição diferente: O dono de sementes, plantas ou material emprega algum desses produtos em propriedade alheia. Partindo do suposto da principalidade do terreno, o legislador atribui ao proprietário deste o direito sobre a acessão.
Diz a lei que, em caso de boa-fé, o titular da coisa móvel faz jus a indenização, podendo exercer o direito de retenção. Sobre esse assunto, foi a Jornada de Direito Civil, realizada pelo Conselho da Justiça Federal, aprovou o enunciado n° 81 como seguinte teor: 
"O direito de retenção previsto no artigo 1.219 do Código Civil, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica as acessões (construções e plantações) nas mesmas circunstâncias." 
O presente tipo de acessãoé comum no âmbito familiar, especialmente as edificações em parte de terreno de propriedade dos pais ou sogros de quem constrói, surgindo eventuais problemas por ocasião dos inventários ou de separação de casais.
Estando de má-fé o plantador ou construtor, o dono do terreno poderá exigir-lhe que o imóvel retome ao statu quo ante, desfazendo-se o que se plantou ou se construiu, sem prejuízoda indenização em caso de perdas e danos.
Optando o proprietário por não desfazer da acessão, não ficará sujeito a indenizar o dono da coisa que se acresceu, atuando de má-fé. O espírito da lei é o de não incentivar investidas em imóveis alheios, além de compensarpossíveistranstornos. 
Importante inovação foi trazida pelo parágrafo único do artigo 1.255 do Código Civil, ao admitir a principalidade na plantação e construção, desde que exceder consideravelmente o valor do terreno, estando de boa-fé quem plantou ou edificou, garantido ao proprietário do imóvel o direito indenização.Nesta hipótese, quem adquire a propriedade plena é quem plantou ou construiu com recursos próprios. 
Na hipótese de construção parcialmente em terreno alheio, apresenta o legislador, no conjunto dos artigos 1.258 e 1.259. 
A primeira é a hipótese de construção que se projeta parcialmente em terreno alheio, ocupando-o em dimensão não superior a sua vigésima parte. Se o valor da construção superar ao da área invadida, o construtor de boa-fé adquire a parte que ocupou do terreno. 
Mas se parte substancial da estrutura do prédio localizar-se no terreno alheio, dever-se-á considerar o valor pleno da edificação. 
Ao dono do terreno caberá indenização compreensiva da área invadida e do eventual prejuízo ao restante de sua propriedade. E a dicção do caput do artigo 1.258 do Código Civil.
				Diversamente será a solução caso o construtor tenha agido de má-fé. A parte irregular da obra deverá ser demolida se não provocar grave prejuízo para a construção. Se esta solução não for inaplicável, o construtor assumirá o domínio da área invadida, devendo, todavia, ressarcir pelo valor equivalente a dez vezes a indenização cabível em caso de boa-fé, ou seja, ao valor desfalcado do imóvel e outros possíveisprejuízos, como de desvalorização da área remanescente. 
				A segunda hipótese está no artigo 1.259. Se de boa-fé o construtor assumirá o domínio da área invadida, indenizando o proprietário nas seguintes verbas: 
1 – O valor que a invasão acrescentar a construção; 
2 – O valor correspondente ao terreno subtraído; 
3 – A correspondente a desvalorização da área remanescente. Em caso de má-fé, será obrigado a demolir a parte invasora e indenizar, pelo dobro, o valor das perdas e danos apurados.
Aula 28.
Perda da propriedade imóvel. Aspectos Gerais e Formas. 
				Ultrapassado o estudo das formas de aquisição da propriedade feito nas aulas anteriores, passaremos a analisar as formas de perda da propriedade e seus aspectos significantes. 
Perda da propriedade é fato juridico extintivo de direito subjetivo relativo ao domínio, sobre coisa corpórea de conteúdo econômico.A perda implica, quase sempre, a aquisição por parte de outrem. Tirando como exemplo instituto estudado em aulas anteriores, a avulsão, para um proprietário, é fato jurídico que amplia o seu domínio e, ao mesmo tempo, diminui o de outrem. Para o primeiro é aquisição; para o segundo é perda.Nasplantações e construções, acessões consideradas como artificiais, ocorrem apenas aquisição de domínio. 
Pelo elenco das formas contidas no artigo 1.275 do Código Civil, o abandono e a renúncia podem ser enquadrados como perda voluntária da propriedade, enquanto que o perecimento da coisa e a desapropriação, como forma de perda involuntária. A alienação, considerado com ato de transferir, constitui modo voluntário de perda para um, e de aquisição para outro.
Além das causas de perda da propriedade previstas no citado artigo do Código Civil (alienação, renúncia, abandono, perecimento da coisa e desapropriação)podemos acrescentar outras formas, todas previstas no ordenamento: a usucapião, acessões, casamento pelo regime de comunhão universal de bens e a morte.
Formas – Alienação.
Aalienaçãoé o ato de se tornar alheio o objeto da propriedade. Torna-se de outrem a coisa. O conceito de alienação não encontra voz uníssona na doutrina, havendo quem entende que é abrangente atodas as modalidades de perda da propriedade, enquanto outros limitam a sua compreensão aos atos que implicam a transmissão da propriedade. 
Contudo não há duvidas de que a alienação é o ato inter vivos. 				
São duas situações novas criadas pela alienação: 
1 – A perda da coisa pelo alienante; 
2 – A aquisição da mesma coisa pelo adquirente;
				Como perda de domínio se dá por meio de negócios jurídico oneroso, tais como a compra e venda, a permuta, a dação em pagamento, ou negócios jurídicos gratuitos, como exemplo, as doações. 
				Evidente que os requisitos previstos no artigo 104 do Código Civil devem estar presentes, como, agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prevista ou não defesa em lei. 
				A alienação de coisas é considerada como regra geral, enquanto a inalienabilidade da coisa é apenas exceção, o qual pode ser colocada de forma voluntária.
Ela também pode ser forçada, como nas vendas judiciais, leilão ou praceamento de bens, a fim de servir para satisfazer uma obrigação judicialmente determinada. 
Aula 29.
Formas de perda da propriedade imóvel. A renúncia.
Considera-se a renúncia a propriedade como o negócio jurídico unilateral pelo qual o titular do direito de domínio expressa a vontade de excluir a coisa de seu patrimônio. 
Caso o bem renunciado seja imóvel, a perda somente produz efeitos jurídicos após o registro do ato renunciativo no Cartório de Registro, nos termos do parágrafo único do artigo 1.275 do Código Civil. Ela, portanto, exige a forma expressa para se aperfeiçoar e produzir os efeitos desejados pelo agente. 
Na renúncia de coisa móvel, como esclarece Silvio de Salvo Venosa, pode ser necessária a declaração expressa do titular para conhecimento a terceiros, sem o que, pode ser considerado como abandono.
Diferentemente da alienação, que é ato bilateral e visa a aquisição de domínio por outrem, a renúncia não é ato translativo, embora, possa causar benefício para alguém. Trata-se de mero reflexo social e não negocial.
A renúncia também deve preencher os requisitos de validade dos negócios jurídicos, na forma do artigo 104

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