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Embriologia Ginecológica Paula Dumas Figueiredo – Turma XXI Apesar de o sexo cromossômico e genético de um embrião ser determinado na fecundação pelo tipo de espermatozoide que fecunda o óvulo, as características masculinas e femininas só começam a se desenvolver na 7ª semana. Os sistemas genitais iniciais nos dois sexos são semelhantes; por esta razão, o período inicial do desenvolvimento genital é referido como estágio indiferenciado do desenvolvimento sexual. Desenvolvimento das Gônadas As gônadas (testículos e ovários) são derivadas de três fontes: • O mesotélio (epitélio mesodérmico) que reveste a parede abdominal posterior. • O mesênquima subjacente (tecido conjuntivo embrionário). • As células germinativas primordiais. Gônadas Indiferenciadas Os estágios iniciais do desenvolvimento das gônadas ocorrem durante a 5ª semana, quando uma área espessada de mesotélio se desenvolve no lado medial do mesonefro. A proliferação deste epitélio e do mesênquima subjacente produz uma saliência no lado medial do mesonefro — a crista gonadal. Cordões epiteliais digitiformes — os cordões sexuais primários — logo penetram o mesênquima subjacente. A gônada indiferenciada consiste, então, em um córtex externo e uma medula interna. Em embriões com o complexo cromossômico XX, o córtex da gônada indiferenciada se diferencia no ovário e a medula regride. Em embriões com sexo cromossômico XY, a medula se diferencia no testículo e o córtex regride, exceto por alguns remanescentes vestigiais. Células Germinativas Primordiais Estas células sexuais grandes e esféricas são visíveis, no início da 4ª semana, entre as células endodérmicas do saco vitelino, próximo à origem do alantóide. Durante o dobramento do embrião, a parte dorsal do saco vitelino é incorporada dentro do mesmo. À medida que isto ocorre, as células germinativas primordiais migram ao longo do mesentério dorsal do intestino posterior até as cristas gonadais. Durante a 61 semana, as células germinativas primordiais penetram no mesênquima subjacente e são incorporadas nos cordões gonádicos. A migração das células germinativas primordiais é regulada pelos genes estella, fi-agilis e BMP-4. Determinação do Sexo O sexo cromossômico e genético é estabelecido na fecundação e depende da fecundação de um óvulo que contenha um cromossomo X por um espermatozoide que contenha um X ou um Y. Antes da 7ª semana, as gônadas dos dois sexos são idênticas em aparência e são chamadas de gônadas indiferenciadas . O desenvolvimento do fenótipo masculino requer um cromossomo Y. O gene SRY para o fator determinante do testículo (FDT) foi localizado na região determinante do sexo do cromossomo Y. E o FDT, regulado pelo cromossomo Y, que determina a diferenciação testicular. Sob a influência deste fator organizador, os cordões sexuais primários diferenciam-se em cordões seminíferos (primórdios dos túbulos seminíferos). A expressão dos genes Sox9 e Fgf9 está envolvida na formação dos cordões seminíferos.A ausência de um cromossomo Y resulta na formação de um ovário. Dois cromossomos X são necessários para o desenvolvimento do fenótipo feminino. Vários genes e regiões do cromossomo X possuem papéis especiais na determinação do sexo. Conseqüentemente, o tipo de complexo cromossômico sexual estabelecido na fecundação determina o tipo de gônada que se diferenciará a partir da gônada indiferenciada. O tipo de gônada presente, então, determina o tipo de diferenciação sexual que ocorre nos duetos genitais e na genitália externa. A testosterona, produzida pelo testículo fetal, a diidrotestosterona, um metabólito da testosterona, e o hormônio antimülleriano (AMH) determinam a diferenciação sexual masculina normal. A diferenciação sexual feminina primária no feto não depende de hormônios; ela ocorre mesmo se os ovários estiverem ausentes e, aparentemente, não está sob influência hormonal. A diferenciação sexual masculina é um processo “ativo”, requerendo a presença do gene SRY (região determinante do gênero), localizado no braço curto do cromossomo Y. Do ponto de vista cliníco, o gênero não é aparente até cerca da décima segunda semana da vida embrionária e depende da elaboração do fator de desenvolvimento dos testículos e, subsequentemente, de andrógenos pela gônada masculina. O desenvolvimento feminino é chamado “via de desenvolvimento básico do embrião humano”, necessitando não de estrogênio, mas da ausência de testosterona. As células germinativas primordiais migram a partir do saco vitelino pelo mesentério do intestino posterior ao mesênquima da parede corporal posterior perto do nível da décima vértebra torácica – o local inicial do futuro ovário. Uma vez que as células germinativas alcançam essa área, induze a proliferação de células nos mesonefros adjacentes e epitélio celômico para formar um par de cristas genitais mediais aos mesonefros. Isso ocorre durante a quinta semana de gestação. O desenvolvimento das gônadas é absolutamente dependente dessa proliferação, pois tais células dão origem a um agregado de células de sustentação ( os cordões sexuais primitivos) que envolvem as células germinativas, sem o qual as gônadas se degenerariam. Desenvolvimento dos Testículos O gene SRY para FDT, no braço curto do cromossomo Y, age como a chave que dirige o desenvolvimento da gônada indiferenciada em um testículo. A expressão do fator de transcrição SOX9 também é essencial para a determinação testicular. O FDT induz os cordões sexuais primários a se condensar e penetrar na medula da gônada indiferenciada, onde eles se ramificam e se anastomosam para formar a rede testicular. A conexão dos cordões sexuais primários — cordões seminíferos — com o epitélio de superfície é perdida quando uma cápsula fibrosa e espessa, a túnica albugínea, se desenvolve. O desenvolvimento de uma túnica albugínea densa é a indicação característica do desenvolvimento testicular no feto. Gradualmente, o testículo em crescimento se separa do mesonefro em degeneração e torna- se suspenso pelo seu próprio mesentério, o mesorquídio. Os cordões seminíferos desenvolvem-se em túbulos seminíferos, túbulos retos e rede testicular. Os túbulos seminíferos são separados pelo mesênquima que dá origem às células intersticiais (células de Leydig). Por volta da 8ª semana, estas células começam a secretar hormônios androgênios — testosterona e androstenediona, que induzem a diferenciação masculina dos duetos mesonéfricos e da genitália externa. A produção de testosterona é estimulada pela gonadotrofina coriônia humana (hCG — human chorionic gonadotropin), que alcança um nível máximo da 8ª a 12ª semana. Além da testosterona, o testículo fetal produz uma glicoproteína conhecida como hormônio antimülleriano, ou substância inibidora de Müller. O AMH é produzido pelas células de sustentação (células de Sertoli), que continua até a puberdade, após o que os níveis de hormônio antimülleriano diminuem. O AMH suprime o desenvolvimento dos ductos paramesonéfricos, que formam o útero e as tubas uterinas. Os túbulos seminíferos permanecem maciços (z. e., sem luz) até a puberdade, quando a luz começa a se desenvolver. As paredes dos túbulos seminíferos são compostas de dois tipos de células : • Células de Sertoli, células de sustentação derivadas do epitélio da superfície do testículo. • Espermatogônias, células espermáticas primordiais derivadas das células germinativas primordiais. As células de Sertoli constituem a maior parte do epitélio seminífero no testículo fetal .Durante o desenvolvimento posterior, o epitélio da superfície do testículo se achata para formar o mesotélio da superfícieexterna do testículo adulto. A rede testicular torna-se contínua com 15 a 20 túbulos mesonéfricos que se tornam os ductos eferentes (Latim, ductuli efferentes). Estes ductos são conectados ao ducto mesonéfrico, que se torna o ducto do epidídimo. Desenvolvimento dos Ovários O desenvolvimento das gônadas ocorre lentamente em embriões femininos. Os cromossomos X carregam genes para o desenvolvimento ovariano, e um gene autossômico também parece desempenhar um papel na organogênese ovariana. O ovário não é identificado histologicamente até aproximadamente a 10ª semana. Os cordões sexuais primários não se tornam proeminentes, mas penetram na medula e formam uma rede ovariana rudimentar. Esta estrutura e os cordões sexuais primários normalmente degeneram e desaparecem. Durante o início do período fetal, os cordões corticais se estendem do epitélio da superfície do ovário em desenvolvimento para dentro do mesênquima subjacente. Este epitélio é derivado do mesotélio. À medida que os cordões corticais crescem em tamanho, incorporam células germinativas primordiais. Com cerca de 16 semanas, estes cordões começam a se romper, formando agrupamentos isolados de células — os folículos primordiais — cada um constituído de uma ovogônia, derivada de uma célula germinativa primordial, rodeada por uma única camada de células foliculares achatadas, derivadas do epitélio da superfície . Durante a vida fetal, ocorrem mitoses nas ovogônias, produzindo milhares de folículos primordiais. Não se formam ovogônias após o nascimento. Apesar de muitas ovogônias degenerarem antes do nascimento, os dois milhões, aproximadamente, que permanecem, crescem, tornando-se ovócitos primários antes do nascimento. Após o nascimento, o epitélio da superfície do ovário se achata e forma uma camada única de células, em continuidade com o mesotélio do peritônio no hilo do ovário. Antigamente, o epitélio da superfície do ovário era chamado de epitélio germinativo, o que era inapropriado, pois está bem estabelecido agora que as células germinativas se diferenciam das células germinativas primordiais . No córtex, o epitélio da superfície fica separado dos folículos por uma fina cápsula fibrosa, a túnica albugínea. Conforme o ovário se separa do mesonefro em regressão, fica suspenso por um mesentério — o mesovário . Desenvolvimento dos Ductos Genitais Durante a 5ª e 6ª semanas, o sistema genital está num estágio indiferenciado, quando ambos os pares de ductos genitais estão presentes. Os ductos mesonéfricos (duetos de Wolff) desempenham uma importante parte no desenvolvimento do sistema reprodutor masculino , e os ductos paramesonéfricos (ductos de Müller) têm um papel condutor no desenvolvimento do sistema reprodutor feminino. Os ductos paramesonéfricos desenvolvem-se lateralmente às gônadas e aos ductos mesonéfricos em cada lado, a partir de invaginações longitudinais do mesotélio, sobre as faces laterais dos mesonefros. As bordas destas invaginações paramesonéfricas aproximam-se uma da outra e se fundem para formar os duetos paramesonéfricos . As extremidades craniais afuniladas destes duetos abrem-se na cavidade peritoneal.Os ductos paramesonéfricos passam caudalmente, paralelos aos duetos mesonéfricos, até alcançarem a futura região pélvica do embrião. Neste local, eles cruzam ventralmente os ductos mesonéfricos, aproximam-se um do outro no plano mediano e se fundem para formar o primórdio uterovaginal em forma de Y . Esta estrutura tubular se projeta para dentro da parede dorsal do seio urogenital e produz uma elevação — o tubérculo do seio. Desenvolvimento dos Ductos Genitais Masculinos e Glândulas O testículo fetal produz hormônios masculinizantes (p. ex., testosterona) e uma substância inibidora de Müller. As células de Sertoli começam a produzir a substância inibidora de Müller com 6 a 7 semanas. As células intersticiais começam a produzir testosterona na 8ª semana. A testosterona, cuja produção é estimulada pela hCG, estimula os ductos mesonéfricos a formarem os ductos genitais masculinos, enquanto a substância inibidora de Müller causa o desaparecimento dos ductos paramesonéfricos por uma transformação epitelial-esenquimal. Sob a influência da testosterona produzida pelo testículo fetal na 8ª semana, a parte proximal de cada ducto mesonéfrico se torna altamente convoluta para formar o epidídimo. Conforme o mesonefro degenera, alguns túbulos mesonéfricos persistem e são transformados em dúctulos eferentes . Estes ductos se abrem no ducto mesonéfrico, que se transformou no ducto do epidídimo (Latim, duetus epididymis) nesta região. Distalmente ao epidídimo, o ducto mesonéfrico adquire um espesso revestimento de tecido muscular liso e se torna o ducto deferente. As células de Sertoli secretam uma glicoproteína conhecida como hormônio antimulleriano (HAM), que causa a regressão do sistema ductal paramesonéfrico no embrião masculino e, talvez, seja o sinal para a diferenciação das células de Leydig a partir do mesênquima circundante. As células de Leydig produzem testosterona psteriormente convertida pela enzima 5α-redutase em di-hidrotestosterona. A testosterona é responsável pela evolução do sistema ductal mesonéfrico em canal deferente, epidídimo, ducto ejaculatório e vesícula seminal. A di-hidrotestosterona inicia o desenvolvimento da genitália externa masculina, da próstata e das glândulas bulbouretrais. Na ausência do fator de desenvolvimento dos testículos, a medula regride, e os cordões sexuais corticais dividem-se em grupos celulares isolados ( os folículos primordiais). Na ausência do hormônio antimulleriano, o sistema ductal mesonéfrico se degenera, embora, em pelo menos ¼ das mulheres adultas, possam ser encontrados remanscentes no mesovário ou junto à parede lateral do útero ou da vagina. O sistema ductal paramesonéfrico se desenvolve de maneira subsequente. A porção inferior fundida se torna no canal uterovaginal, que, mais tarde, torna-se no epitélio e nas glândulas do útero, bem como na parte superior da vagina. O estroma endometrial e o miométrio se diferenciam a partir do mesênquima circundante. As porções craniais não fundidas dos ductos paramesonéfricos se abrem na cavidade celômica (futura cavidade peritoneal) e se tornam nas tubas uterinas. Glândulas Seminais Uma evaginação lateral da extremidade caudal de cada ducto mesonéfrico dá origem à vesícula seminal. Este par de glândulas produz uma secreção que nutre os espermatozóides. A parte dos ductos mesonéfricos entre o ducto desta glândula e a uretra torna-se o ducto ejaculatório. Próstata Múltiplas evaginações endodérmicas surgem da parte prostática da uretra e penetram no mesênquima circundante. O epitélio glandular da próstata diferencia-se a partir destas células endodérmicas, e o mesênquima associado diferencia-se em um estroma denso e no músculo liso da próstata. Glândulas Bulbouretrais Estas estruturas do tamanho de uma ervilha desenvolvem-se de evaginações pares da parte esponjosa da uretra. As fibras musculares lisas e o estroma diferenciam-se a partir do mesênquima adjacente. As secreções destas glândulas contribuem para formar o sêmen. Desenvolvimento dos Ductos Genitais Femininos e Glândulas Em embriões femininos, os ductos mesonéfricos regridem por causa da ausência de testosterona, persistindo apenas remanescentes não funcionais. Os ductos paramesonéfricos desenvolvem-se por causa da ausência de substância inibidora de Müller. O desenvolvimento sexual feminino não depende da presença de ovários ou hormônios. Os ductos paramesonéfricos formam a maior parte do trato genital feminino. As tubas uterinas desenvolvem-se a partirdas partes craniais não fusionadas dos ductos paramesonéfricos . As porções caudais fundidas destes ductos formam o primórdio uterovaginal. Como o nome desta estrutura indica, ela dá origem ao útero e à vagina (parte superior). O estroma endometrial e o miométrio são derivados do mesênquima esplênico. A fusão dos ductos paramesonéfricos também une uma dobra peritoneal que forma o ligamento largo e dois compartimentos peritoneais — a bolsa retouterina e a bolsa vesicouterina .Lateralmente ao útero, entre as camadas do ligamento largo, o mesênquima prolifera e se diferencia em um tecido celular — o paramétrio — que é composto de tecido conjuntivo frouxo e músculo liso. Glândulas Genitais Auxiliares das Mulheres Brotos crescem da uretra, penetrando o mesênquima circundante, e formam as glândulas uretrais e as glândulas parauretrais. Estas glândulas correspondem à próstata do homem. Evaginações do seio urogenital formam as glândulas vestibulares maiores na terça parte inferior dos grandes lábios. Estas glândulas tubuloalveolares também secretam muco e são homólogas às glândulas bulbouretrais do homem. Desenvolvimento do Útero e da Vagina A parede fibromuscular da vagina desenvolve-se a partir do mesênquima circundante. O contato do primórdio uterovaginal com o seio genital, formando o tubérculo do seio, induz a formação de um par de projeções endodérmicas — os bulbos sinovaginais. Eles se estendem do seio urogenital até a extremidade caudal do primórdio uterovaginal. Os bulbos sinovaginais fundem-se para formar a placa vaginal. Mais tarde, as células centrais desta placa se desintegram, formando a luz da vagina. As células periféricas da placa formam o epitélio vaginal. Até o final da vida fetal, a luz da vagina é separada da cavidade do seio urogenital por uma membrana — o hímen . O hímen é formado pela invaginação da parede posterior do seio urogenital, resultante da expansão da extremidade caudal da vagina. O hímen geralmente se As glândulas genitais acessórias femininas se desenvolvem como excrescências da uretra (parauretral ou de Skene) e do seio urogenital definitivo (vestibular maior ou de Bartholin). rompe durante o período perinatal e permanece como uma delgada prega de membrana mucosa dentro do orifício vaginal. Estruturas Vestigiais Derivadas dos Ductos Genitais Embrionários Durante a transformação dos ductos mesonéfricos e paramesonéfricos em estruturas do adulto, partes delas permanecem como estruturas vestigiais. Estes vestígios raramente são observados, a não ser que sofram transformações patológicas. REMANESCENTES DO DUCTO MESONÉFRICO NO HOMEM A vagina é formada no terceiro mês da vida embrionária. Durante a constituição do canal uterovaginal, o tecido endodérmico do tubérculo sinusal começa a proliferar, originando um par de bulbos sinovaginais, que se tornam nos 20% inferiores da vagina. A porção mais inferior do canal uterovaginal é ocluída por um núcleo solido de tecido ( a placa vaginal), cuja origem não está clara. Ao longo dos 2 meses subsequentes, esse tecido se alonga e se canaliza por um processo de descamação central, e as células periféricas se tornam no epitélio vaginal. A parede fibromuscular da vagina se origina do mesoderma do canal uterovaginal. A extremidade cranial do ducto mesonéfrico pode persistir como um apêndice do epidídimo, que geralmente está ligado à cabeça do epidídimo . Caudalmente aos ductos eferentes, alguns túbulos mesonéfricos podem persistir como um pequeno corpo, o paradídimo. REMANESCENTES DO DUCTO MESONÉFRICO NA MULHER A extremidade cranial do ducto mesonéfrico pode persistir como um apêndice vesiculoso. Poucos túbulos em fundo cego e um dueto, o epoóforo, correspondem aos dúctulos eferentes e ao dueto do epidídimo no homem. 0 epoóforo pode persistir no mesovário, entre o ovário e a tuba uterina. Mais próximo do útero, alguns túbulos rudimentares podem persistir como o paraóforo. Partes do ducto mesonéfrico, correspondentes ao dueto deferente e ao dueto ejaculatório, podem persistir como o dueto de Gartner, entre as camadas do ligamento largo, ao longo da parede lateral do útero e na parede da vagina. REMANESCENTES DO DUCTO PARAMESONÉFRICO NO HOMEM A extremidade cranial do ducto paramesonéfrico pode persistir como o apêndice do testículo vesicular, que está ligado ao pólo superior do testículo . O utrículo prostático, uma pequena estrutura em forma de saco que se abre na uretra prostática, é homólogo à vagina. O revestimento do utrículo prostático é derivado do epitélio do seio urogenital. Dentro deste epitélio, células endócrinas contendo serotonina e enolase neurônio-especlfica foram detectadas. O colículo seminal, uma pequena elevação na parede posterior da uretra prostática, é o derivado adulto do tubérculo do seio. Ele é homólogo ao hímen da mulher. REMANESCENTES DO DUCTO PARAMESONÉFRICO NA MULHER Parte da extremidade cranial do ducto paramesonéfrico que não contribui para o infundíbulo da tuba uterina pode persistir como um apêndice vesicular, a hidátide [de Morgagni). DESENVOLVIMENTO DA GENITÁLIA EXTERNA Até a 7ª semana de desenvolvimento, as genitálias externas são semelhantes em ambos os sexos . Características sexuais distintas começam a aparecer durante a 9ª semana, mas as genitálias externas não são totalmente diferenciadas até a 12ª semana. No início da 4ª semana, o mesênquima em proliferação produz um tubérculo genital, em ambos os sexos, na extremidade cranial da membrana cloacal. As intumescências labioescrotais e as pregas urogenitais logo se desenvolvem em cada lado da membrana cloacal. A seguir, o tubérculo genital se alonga para formar o falo primordial. Quando o septo urorretal se funde com a membrana cloacal, no final da 6a semana, ele divide esta membrana em uma membrana anal, dorsal, e uma membrana urogenital, ventral. A membrana urogenital fica no assoalho de uma fenda mediana, o sulco urogenital, limitado pelas pregas urogenitais. As membranas anal e urogenital se rompem cerca de uma semana mais tarde, formando o ânus e o orifício urogenital, respectivamente. No feto feminino, a uretra e a vagina se abrem em uma cavidade comum, o vestíbulo. Desenvolvimento da Genitália Externa Masculina A masculinização da genitália externa indiferenciada é induzida pela testosterona produzida pelas células intersticiais dos testículos fetais. A medida que o falo cresce e se alonga para se tornar o pênis, as pregas urogenitais formam as paredes laterais do sulco, uretral na superfície ventral do pênis. Este sulco é revestido por uma proliferação de células endodérmicas, a placa uretral, que se estende a partir da porção fálica do seio urogenital. As pregas urogenitais fundem-se uma com a outra, ao longo da superfície ventral do pênis, para formar a uretra esponjosa. O ectoderma da superfície funde-se no plano mediano do pênis, formando a rafe peniana e envolvendo a uretra esponjosa dentro do pênis. Na extremidade da glande do pênis, uma invaginação do ectoderma forma um cordão ectodérmico celular, que cresce em direção à raiz do pênis para se unir à uretra esponjosa. Este cordão se canaliza e se une à uretra esponjosa previamente formada. Isto completa a parte terminal da uretra e desloca o orifício uretral externo para a extremidade da glande do pênis . Durante a 12ª semana, uma invaginação circular de ectoderma forma-se na periferia da glande peniana . Quando esta invaginação se rompe, ela forma o prepúcio — uma prega de pele de cobertura . Os corpos cavernosos e o corpo esponjoso do pênis se desenvolvem a partir do mesênquima do falo. As intumescências labioescrotaiscrescem uma em direção à outra e se fundem, formando o escroto. A linha de fusão destas pregas é claramente visível como a rafe escrotal . A agenesia do escroto é uma anomalia extremamente rara. Desenvolvimento da Genitália Externa Feminina O primórdio do falo no feto do sexo feminino torna-se gradualmente o clitóris. O clitóris, ainda relativamente grande com 18 semanas , se desenvolve como o pênis, mas as pregas urogenitais não se fundem, exceto na parte posterior, onde elas se unem para formar o frênulo dos pequenos lábios. As partes não fusionadas das pregas urogenitais formam os pequenos lábios. As pregas labioescrotais fundem-se na parte posterior para formar a comissura labial posterior e, na parte anterior, para formar a comissura labial anterior e o monte pubiano . A maior parte da pregas labioescrotais permanece não fusionada e forma duas grandes pregas de pele, os grandes lábios. No início da quinta semana da vida embrionária, dobras de tecido se formam em cada lado da cloaca e se encontram anteriormente na linha média para originar o tubérculo genital. Com a divisão da cloaca pelo septo urogenital e consequente constituição do períneo, essas dobras cloacais são conhecidas anteriormente como pregas urogenitais e posteriormente como as pregas anais. O tubérculo genital começa a crescer. No embrião feminino, seu crescimento de maneira gradual diminui para se tornar no clitóris, e as pregas urogenitais originam os pequenos lábios. No embrião masculino, o tubérculo genital continua a crescer para formar o pênis, e as pregas urogenitais, acredita-se, fundem-se para envolver a uretra peniana. Na lateral das pregas urogenitais, outro par de dilatações se desenvolvem, conhecidos no estágio indiferenciado como saliências labioescrotais. Na ausência do androgênios, eles permanecem separados para se tornarem nos grandes lábios. O seio urogenital definitivo dá origem ao vestíbulo vaginal, no qual se abrem a uretra, a vagina e as glândulas vestibulares maiores. DETERMINAÇÃO DO SEXO FETAL A visualização da genitália externa durante a ultra-sonografia é clinicamente importante por várias razões, tal como a identificação de fetos com risco de apresentar distúrbios graves ligados ao X. 0 exame cuidadoso do períneo pode detectar genitália ambígua. Somente a visualização dos testículos no escroto é que permite em 100% a determinação do sexo, o que não é possível fazer, no útero, até 22 a 36 semanas. Infelizmente, a posição fetal impede uma boa visualização do períneo em 30% dos fetos. Quando ocorre diferenciação sexual normal, a aparência da genitália externa e interna é condizente com o complemento cromossômico sexual. Erros na determinação e diferenciação do sexo resultam em vários graus de sexo intermediário — intersexualidade ou hermafroditismo. 0 hermafroditismo implica a discrepância entre a morfologia das gônadas (testículos/ovários) e a aparência da genitália externa. As condições intersexuadas são classificadas de acordo com o aspecto histológico das gônadas: • Os hermafroditas verdadeiros possuem tecido ovariano e testicular na mesma gônada ou na gônada oposta. • Os pseudo-hermafroditas femininos têm ovários. • Os pseudo- hermafroditas masculinos têm testículos. Hermafroditismo verdadeiro As pessoas com esta condição intersexuada extremamente rara geralmente possuem núcleos cromatina-positivos (contêm cromatina sexual em células observadas em um esfregaço bucal) e 70% delas têm uma constituição cromossômica 46, XX; cerca de 20% têm mosaicismo (presença de duas ou mais linhas de células) 46, XX/46, XY, e cerca de 10% têm uma constituição cromossômica 46, XY. As causas do hermafroditismo verdadeiro ainda não são bem conhecidas. A maioria dos hermafroditas verdadeiros é criada como mulher e possui tanto tecido testicular quanto ovariano (p. ex., um ovário e um testículo, ou um ovotestículo). Os ovotestículos (contendo tanto tecido testicular quanto ovariano) se formam quando o córtex e a medula da gônada indiferenciada se desenvolvem. Estes tecidos geralmente não são funcionais. 0 hermafroditismo verdadeiro resulta de um erro na determinação do sexo. 0 fenótipo pode ser masculino ou feminino, mas a genitália externa é ambígua. Pseudo-hermafroditismo Feminino Pessoas com esta condição intersexuada têm núcleos cromatina-positivos e uma constituição cromossômica 46, XX. Esta anomalia resulta da exposição do feto feminino a um excesso de androgênios, e os efeitos são principalmente a virilização da genitália externa (aumento do clitóris e fusão labial . A causa comum do pseudo-hermafroditismo feminino é a HAC. Não há anormalidade ovariana, mas a produção excessiva de androgênios pelas glândulas supra-renais fetais causa masculinização da genitália externa, variando desde o aumento do clitóris até uma genitália quase masculina. Comumente, há hipertrofia do clitóris, fusão parcial dos grandes lábios e um seio urogenital persistente. Em casos muito incomuns, a masculinização pode ser tão intensa que resulta numa uretra clitoriana. A administração de agentes androgênicos a mulheres durante a gravidez pode causar anomalias semelhantes na genitália externa fetal . A maioria dos casos resultou do uso de certos compostos progestacionais para o tratamento de ameaça de aborto. Tumores maternos masculinizantes podem também causar virilização de fetos femininos. Pseudo-hermafroditismo Masculino As pessoas com esta condição intersexuada têm núcleos cromatina-negativos (não contêm cromatina sexual) e uma constituição cromossômica 46, XY. As genitálias externa e interna são variáveis, devido aos vários graus de desenvolvimento da genitália externa e dos ductos paramesonéfricos. Estas anomalias são causadas pela produção inadequada de testosterona e substância inibidora de Müller pelos testículos fetais. O desenvolvimento testicular nestes homens varia de rudimentar a normal. Defeitos genéticos na síntese enzimática de testosterona pelos testículos fetais e na diferenciação das células intersticiais produzem o pseudo-hermafroditismo masculino, através de uma virilização inadequada do feto masculino. SÍNDROME DA INSENSIBILIDADE ANDROGÊNICA Pessoas com síndrome da insensibilidade androgênica (SIA) —também denominada síndrome da feminização testicular — (um em cada 20.000 nascimentos vivos) são mulheres de aparência normal, a despeito da presença de testículos e de uma constituição cromossômica 46, XY . A genitália externa é feminina, mas a vagina usualmente é uma bolsa em fundo cego, e o útero e as tubas uterinas são ausentes ou rudimentares. Na puberdade, ocorre desenvolvimento normal das mamas e das características femininas, mas a menstruação não ocorre. A orientação psicossexual de mulheres com SIA é inteiramente feminina, e, dos pontos de vista médico, legal e social, elas são mulheres. Os testículos são geralmente no abdome ou nos canais inguinais, mas eles podem descer para os grandes lábios. A ausência de masculinização destes indivíduos resulta da resistência à ação da testosterona em nível celular no tubérculo genital e nas pregas labioescrotais e urogenitais. Pacientes com SIA parcial exibem alguma masculinização no nascimento, tal como genitália externa ambígua, e podem ter clitóris aumentado. A vagina termina em fundo cego e o útero está ausente. Os testículos estão nos canais inguinais ou nos grandes lábios. Estes pacientes usualmente têm mutações pontuais na seqüência que codifica o receptor para androgênio. Usualmente, os testículos são removidos logo que são descobertos, pois, em cerca de um terço destas mulheres, se desenvolvem tumores malignos em torno dos 50 anos de idade. A SIA segue a herançarecessiva ligada ao X, e o gene que codifica o receptor para androgênio já foi localizado. DISGENESIA GONADAL MISTA Pessoas com esta condição muito rara usualmente têm núcleos cromatina-negativos, um testículo em um lado, e uma gônada indiferenciada no outro lado. A genitália interna é feminina, mas algumas vezes derivados masculinos dos ductos mesonéfricos estão presentes. A genitália externa varia de uma mulher normal até a de um homem normal, passando por estágios intermediários. Na puberdade, não ocorre nem o desenvolvimento das mamas, nem a menstruação, mas graus variáveis de virilização são comuns. HIPOSPÁDIA A hipospádia é a anomalia mais comum do pênis. Há quatro tipos de hipospádia: • Hipospádia da glande •— o tipo mais comum. • Hipospádia peniana. • Hipospádia pênis-escroto. • Hipospádia perineal. Em uma em cada 300 crianças do sexo masculino, o orifício uretral externo é na superfície ventral da glande do pênis (hipospádia glandular) ou na superfície ventral do corpo do pênis (hipospádia peniana). Geralmente o pênis é pouco desenvolvido e curvado ventralmente — chordee. As hipospádias da glande e do corpo do pênis constituem cerca de 80% dos casos (Fig. 12-42). Na hipospádia pênis-escroto, o orifício uretral está na junção do pênis com o escroto. Na hipospádia perineal, as pregas labioescrotais não se fundem e o orifício uretral externo está localizado entre as metades não fusionadas do escroto. Como a genitália externa neste grave tipo de hipospádia é ambígua, pessoas com hipospádia perineal e criptorquidismo (testítuculos não-descidos) são às vezes erroneamente diagnosticadas como pseudo-hermafroditas masculinos. A hipospádia resulta da produção inadequada de androgênios pelos testículos fetais e/ou de localização inadequada dos receptores hormônios androgênios. Estes defeitos resultam na falha de canalização do cordão ectodérmico na glande e/ou falha da fusão das pregas urogenitais; como conseqüência, há formação incompleta da uretra esponjosa (peniana). As diferenças no momento e no grau de insuficiência hormonal, e/ou na falha do desenvolvimento de sítios receptores, contribuem para os diferentes tipos de hipospádia. EPISPÁDIA Em uma de cada 30.000 crianças do sexo masculino, a uretra se abre na superfície dorsal do pênis. Apesar de a epispádia poder ocorrer como uma entidade separada, ela é freqüentemente associada à extrofia da bexiga. A epispádia pode resultar de interações ectodérmicas-mesenquimais inadequadas durante o desenvolvimento do tubérculo genital. Como conseqüência, o tubérculo genital se desenvolve mais dorsalmente do que em embriões normais. Logo, quando a membrana urogenital se rompe, o seio urogenital se abre na superfície dorsal do pênis. A urina é expelida na raiz do pênis malformado. AGENESIA DA GENITÁLIA EXTERNA Ausência congênita do pênis ou do clitóris é uma condição extremamente rara. O não- desenvolvimento do tubérculo genital pode resultar de interações inadequadas entre o ectoderma e o mesênquima durante a 7a semana. Geralmente a uretra se abre no períneo, próximo ao ânus. PÊNIS BÍFIDO E PÊNIS DUPLO Estas anomalias são muito raras e estão usualmente associadas à extrofia da bexiga. Elas também podem estar associadas a anormalidades do trato urinário e ânus não-perfurado. O pênis bífido se forma quando dois tubérculos genitais se desenvolvem. MICROPÊNIS O pênis é tão pequeno que é quase totalmente escondido pelo panículo adiposo suprapúbico. Esta condição resulta de insuficiência testicular do feto e está comumente associada a hipopituitarismo. ANOMALIAS DAS TUBAS UTERINAS, ÚTERO E VAGINA As anomalias das tubas uterinas ocorrem raramente e somente alguns tipos foram relatados. Estes incluem cistos hidáticos, orifícios acessórios, falta completa ou de segmentos, duplicação da tuba, falta da camada muscular e falta de canalização da tuba. Períneo de uma criança. A genitália externa não está presente. (Cortesia do Dr. A.E. Chudley, Section of Genetics and Metabolism, Department of Pediatrics and Child Health, Children's Hospital and University of Manitoba, Winnipeg, Manitoba, Canadá.) Vários tipos de duplicação uterina e anomalias vaginais resultam de interrupções no desenvolvimento do primórdio uterovaginal durante a oitava semana: • Fusão incompleta dos ductos paramesonéfricos. • Desenvolvimento incompleto de um ducto paramesonéfrico. • Não-desenvolvimento de partes de um ou de ambos os ductos paramesonéfricos. • Canalização incompleta da placa vaginal para formar a vagina. Desenvolvimento Anormal do Útero O útero duplo (Latim, uterus didelphys) resulta da não- fusão das partes inferiores dos ductos paramesonéfricos. Ele pode estar associado a uma vagina dupla ou única . Em alguns casos, o útero parece normal externamente, mas é dividido internamente por um delgado septo . Se a duplicação envolve somente a parte superior do corpo do útero, a condição é denominada útero bicórneo. Se um ducto paramesonéfrico tem seu crescimento retardado e não se funde com o outro, desenvolve-se um útero bicórneo com um corno rudimentar. O corno rudimentar pode não se comunicar com a cavidade do útero. Um útero unicórneo se desenvolve quando um ducto paramesonéfrico não se forma; isto resulta em um útero com uma tuba uterina . Em muitos casos, os indivíduos são férteis, mas podem ter uma incidência maior de parto prematuro. Ausência de Vagina e Útero Aproximadamente uma vez em cada 5.000 nascimentos de meninas ocorre a ausência de vagina. Isto resulta da falta de desenvolvimento dos bulbos sinovaginais para formar a placa vaginal. Quando a vagina está ausente, o útero usualmente também está ausente, pois o útero em desenvolvimento (primórdio uterovaginal) induz a formação dos bulbos sinovaginais, que se fundem para formar a placa vaginal. Também pode haver outras anomalias envolvendo o trato urogenital e o sistema esquelético (síndrome Mayer-RokitanskyKüster-Hauser). Atresia Vaginal A falta de canalização da placa vaginal resulta no bloqueio da vagina. Um septo vaginal transverso ocorre, aproximadamente, em um em cada 80.000 mulheres. Usualmente, o septo é localizado na junção dos terços médio e superior da vagina. A falta de perfuração da extremidade inferior da placa vaginal resulta em um hímen imperfurado. As variações na aparência do hímen são comuns . O orifício vaginal varia de diâmetro, desde muito pequeno até grande, e pode haver mais de um orifício. DESENVOLVIMENTO DOS CANAIS INGUINAIS Os canais inguinais formam vias pelas quais os testículos descem de sua posição intra- abdominal, através de parede abdominal anterior, para o escroto. Os canais inguinais se desenvolvem em ambos os sexos, por causa do estágio morfologicamente indiferenciado do desenvolvimento sexual. Com a degeneração do mesonefro, um ligamento — o gubernáculo — desce em cada lado do abdome, a partir do pólo inferior da gônada. O gubernáculo passa obliquamente através da parede abdominal anterior em desenvolvimento, no local do futuro canal inguinal. O gubernáculo prende-se caudalmente à superfície interna das intumescências labioescrotais (futuras metades do escroto ou dos grandes lábios). O processo vaginal, uma evaginação do peritônio, desenvolve-se ventralmente ao gubernáculo e forma uma hérnia através da parede abdominal, ao longo do trajeto formado pelo gubernáculo. O processo vaginal carrega à sua frente extensões das camadas da parede abdominal, as quais formam as paredes do canal inguinal. Nos homens, estas camadas também formam os envoltórios do cordão espermático e dos testículos. A abertura na fáscia transversal produzida pelo processo vaginaltorna-se o anel inguinal profundo, e a abertura criada na aponeurose oblíqua externa forma o anel inguinal superficial. COMPLEXOS CROMOSSÔMICOS SEXUAIS ANORMAIS Em embriões com complexos cromossômicos sexuais anormais, como XXX ou XXY, o número de cromossomos X parece não ser importante na determinação do sexo. Se um cromossomo Y normal estiver presente, o embrião se desenvolve como homem. Se não houver cromossomo Y presente ou se a região determinadora dos testículos do cromossomo Y estiver ausente, ocorre um desenvolvimento feminino. A perda de um cromossomo X não parece interferir na migração das células primordiais germinativas para as cristas gonadais porque algumas células germinativas foram observadas em gônadas fêmeas fetais de 45 X com síndrome de Turner. Entretanto, são necessários dois cromossomos X para que ocorra um desenvolvimento ovariano normal. LOCALIZAÇÃO DEFINITIVA DOS TESTÍCULOS E OVÁRIOS Descida dos Testículos A descida testicular está associada a: • Aumento dos testículos e atrofia dos mesonefros (rins mesonéfricos), permitindo o movimento dos testículos caudalmente, ao longo da parede abdominal posterior. • Atrofia dos duetos paramesonéfricos, induzida pela substância inibidora de Müller, que permite o movimento transabdominal dos testículos até os anéis inguinais profundos. • O aumento do processo vaginal, que guia os testículos pelos canais inguinais para dentro do escroto. Com 26 semanas, os testículos já desceram retoperitonealmente (externamente ao peritônio) da parede abdominal posterior para os anéis inguinais profundos . Esta mudança na posição ocorre com o aumento da pelve fetal e alongamento do tronco do embrião. O movimento transabdominal dos testículos é, em grande parte, um movimento relativo, que resulta do crescimento da parte cranial do abdome, afastando-se da parte caudal (futura região pélvica). Sabe-se pouco sobre a causa da descida testicular através dos canais inguinais para o escroto, mas o processo é controlado por androgênios (p. ex., testosterona) produzidos pelos testículos fetais. O papel do gubernáculo na descida dos testículos é incerto. Inicialmente ele forma uma via através da parede abdominal anterior, para o processo vaginal avançar durante a formação do canal inguinal. O gubernáculo também ancora o testículo no escroto e parece guiar sua descida para o escroto. A passagem do testículo através do canal inguinal também pode ser ajudada pelo aumento da pressão intra-abdominal, resultante do crescimento das vísceras abdominais. A descida dos testículos pelos canais inguinais para o escroto geralmente começa durante a 26a semana e leva 2 ou 3 dias. Os testículos passam externamente ao peritônio e ao processo vaginal. Após os testículos entrarem no escroto, o canal inguinal se contrai ao redor do cordão espermático. Mais de 97% de meninos recém-nascidos a termo possuem ambos os testículos no escroto. Durante os primeiros 3 meses após o nascimento, a maioria dos testículos que não desceu desce para o escroto. O modo pelo qual os testículos descem explica por que o dueto deferente cruza anteriormente ao ureter ; isto também explica o curso dos vasos testiculares. Estes vasos se formam quando o testículo está em posição alta na parede abdominal posterior. Quando o testículo desce, ele carrega com ele seu dueto deferente e seus vasos. Conforme o testículo e o dueto deferente descem, eles são embainhados por extensões de fáscias da parede abdominal. • A extensão da fáscia transversal torna-se a fáscia espermática interna. • As extensões do músculo oblíquo interno e de sua fáscia tornam-se o músculo e a fáscia do cremaster. • A extensão da aponeurose oblíqua externa torna-se a fáscia espermática externa. Dentro do escroto, o testículo se projeta para a extremidade distai do processo vaginal. Durante o período perinatal, o pedículo de conexão deste processo normalmente se oblitera, formando a membrana serosa — a túnica vaginal —, que cobre a frente e os lados do testículo. Descida dos Ovários Os ovários também descem pela parede abdominal posterior até a região inferior da borda da pelve. Entretanto, eles não passam da pelve e não entram nos canais inguinais. O gubernáculo prende-se ao útero, próximo ao local de ligação da tuba uterina. A parte cranial do gubernáculo torna-se o ligamento ovariano, e a parte caudal forma o ligamento redondo do útero . Os ligamentos redondos passam pelos canais inguinais e terminam nos grandes lábios. Na mulher, o processo vaginal, relativamente pequeno, geralmente se oblitera e desaparece muito antes do nascimento; quando este processo persiste, é denominado canal de Nuck. CRIPTORQUIDIA OU TESTÍCULOS NÃO DESCIDOS A criptorquidia (Gr. kryptos, escondido) ocorre em até 30% dos meninos prematuros e em cerca de 3% a 4% dos meninos a termo. Isto reflete o fato de que os testículos começam a descer para o escroto no final do segundo trimestre. A criptorquidia pode ser unilateral ou bilateral. Na maioria dos casos, os testículos descem para o escroto até o final do primeiro ano. Se ambos os testículos permanecem dentro ou apenas fora da cavidade abdominal, eles não amadurecem e a esterilidade é comum. Se não forem corrigidos, estes homens têm um risco significativamente maior de desenvolver tumores em células germinativas, principalmente em casos de criptorquidismo abdominal. Freqüentemente, testículos não descidos são histologicamente normais ao nascimento, mas ao final do primeiro ano são detectadas falha no desenvolvimento e atrofia. Testículos criptorquídicos podem estar na cavidade abdominal, ou em qualquer lugar ao longo da via de descida usual do testículo, mas, usualmente, eles ficam no canal inguinal. A causa da maioria dos casos de criptorquidia é desconhecida, mas um fator importante é a deficiência da produção de androgênio pelos testículos fetais. TESTÍCULOS ECTÓPICOS Após atravessar o canal inguinal, os testículos podem desviar-se de sua via usual de descida e alojar-se em vários locais anormais : • Intersticial (externamente à aponeurose do músculo oblíquo externo). • Na parte proximal da coxa mediai. • Dorsalmente ao pênis. • No lado oposto (ectopia cruzada). Todos os tipos de ectopia de testículo são raros, mas a ectopia intersticial ocorre mais freqüentemente. Testículo ectópico ocorre quando uma parte do gubernáculo passa para uma localização anormal e o testículo o acompanha. HÉRNIA INGUINAL CONGÊNITA Se a comunicação entre a túnica vaginal e a cavidade peritoneal não se fecha, forma-se um processo vaginal persistente. Uma alça do intestino pode fazer uma hérnia através dele, para dentro do escroto ou do grande lábio. Remanescentes embrionários assemelhando-se ao dueto deferente ou ao epidídimo são freqüentemente encontrados nos sacos de hérnias inguinais. A hérnia inguinal congênita é muito mais comum em homens, especialmente quando há testículos não descidos. As hérnias inguinais congênitas também são comuns em associação com testículos ectópicos e em mulheres com a SIA. HIDROCELE Ocasionalmente, a extremidade abdominal do processo vaginal permanece aberta, mas é muito pequena para permitir a formação de uma hérnia do intestino. O líquido peritoneal passa pelo processo vaginal aberto e forma a hidrocele do testículo. Se a parte média do processo vaginal permanece aberta, o fluido pode acumular-se e dar origem a uma hidrocele do cordão espermático. RESUMO DO SISTEMA UROGENITAL O desenvolvimento dos sistemas urinário e genital está intimamente ligado. • O sistema urinário desenvolve-se antes do sistema genital. Três sistemas renais sucessivos se desenvolvem: pronefro (não-funcional), mesonefro(órgãos excretores temporários) e metanefro (rins permanentes). O metanefro desenvolve-se partir de duas fontes: o divertículo metanéfrico (broto uretérico), que dá origem ao ureter, à pelve renal, aos cálices e aos túbulos coletores; e o blastema metanefrogênico (massa metanéfrica de mesoderma intermediário), que dá origem aos néfrons. No início, os rins estão localizados na pelve, mas, gradualmente, ascendem para o abdome. Esta migração aparente resulta do crescimento desproporcional das regiões lombar e sacra do feto. As anormalidades do desenvolvimento dos rins e ureteres são comuns. A divisão incompleta do divertículo metanéfrico resulta em ureter duplo e em rim supranumerário. A não-ascensão do rim de sua posição embrionária na pelve resulta em um rim ectópico, com rotação anormal. A bexiga urinária desenvolve-se do seio urogenital e do mesênquima esplâncnico circundante. A uretra feminina e quase toda uretra masculina têm origem semelhante. A extrofia da bexiga resulta de um defeito raro da parede ventral do corpo, através do qual a parede posterior da bexiga urinária faz protrusão pela parede abdominal. Nos homens, a epispádia é uma anomalia associada comum; a uretra se abre no dorso do pênis. 0 sistema genital desenvolve-se em íntima associação com o sistema urinário ou excretor. 0 sexo genético é estabelecido na fecundação, mas as gônadas só começam a ter características sexuais na sétima semana. As células germinativas primordiais formam-se na parede do saco vitelino durante a 4a semana e migram para as gônadas em desenvolvimento, onde se diferenciam em células germinativas (ovogônias/espermatogônias). A genitália externa não adquire características masculinas ou femininas distintas até a 12a semana. Os órgãos reprodutores desenvolvem-se a partir de primórdios, que são idênticos em ambos os sexos. O sexo gonadal é determinado pelo fator determinante do testículo (FDT) do cromossomo Y. O FDT localiza-se na região determinante do sexo (SRY) do braço curto do cromossomo Y e direciona a diferenciação testicular. As células intersticiais (células de Leydig) produzem testosterona, que estimula o desenvolvimento dos ductos mesonéfricos em duetos genitais masculinos. A testosterona também estimula o desenvolvimento da genitália externa indiferenciada em pênis e escroto. A substância inibidora de Müller, produzida pelas células de Sertoli do testículo, inibe o desenvolvimento dos ductos paramesonéfricos (primórdios dos duetos genitais femininos). Na ausência do cromossomo Y e na presença de dois cromossomos X, os ovários se desenvolvem, os ductos mesonéfricos regridem, os ductos paramesonéfricos se transformam no útero e nas tubas uterinas, a vagina se desenvolve a partir da placa vaginal, derivada do seio urogenital, e a genitália externa indiferenciada se diferencia em clitóris e lábios (grandes e pequenos). As pessoas com hermafroditismo verdadeiro têm tanto tecido ovariano quanto testicular, e genitália, externa e interna, variável. Erros na diferenciação sexual causam pseudo-hermafroditismo. O pseudo-hermafroditismo masculino resulta da falha na produção adequada de hormônios masculinizantes pelos testículos fetais, ou da insensibilidade tecidual das estruturas sexuais aos hormônios. O pseudo- hermafroditismo feminino usualmente resulta de hiperplasia adrenal congênita (HAC), um distúrbio das glândulas supra-renais (adrenais) do feto, que causa produção excessiva de androgênios e masculinização da genitália externa. A maioria das anomalias do trato genital feminino, tais como útero duplo, resulta da fusão incompleta dos duetos paramesonéfricos A criptorquidia e os testículos ectópicos resultam de anormalidades da descida dos testículos. A hérnia inguinal congênita e a hidrocele resultam da persistência do processo vaginal. Nos homens, a ausência de fusão das pregas urogenitais resulta em vários tipos de hipospádia.
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