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1.1 – A industrialização e o novo papel do Estado sob o Governo Vargas (1930-45) Base Histórica: O ano de 1929 foi marcado pela crise de superprodução da indústria norte-americana que culminou com a quebra da bolsa de NY em 29/10/1929. Esse cenário afetou todos os países que exportavam para os USA, inclusive o Brasil, que deixou de vender milhões de sacas de café. Isso provocou uma crise econômica interna e o enfraquecimento da República Velha. Some-se a isso a ruptura política entre MG e SP (política do café com leite) devido ao desentendimento na indicação do sucessor de Washington Luís. A oposição às oligarquias tradicionais (lideradas pela “Aliança Liberal”) aproveitou o momento e formou alianças. No entanto a chapa formada por Vargas + João Pessoa perdeu a eleição de 1930, vencida pelo candidato paulista Júlio Prestes. Sob alegações de fraudes e com o assassinato de João Pessoa por motivos políticos eclode uma série de revoltas armadas pelo país. Nesse ambiente, os militares do RJ depuseram o presidente Washington Luís em 24/10/1930, poucas semanas antes do término do seu mandato, entregando o poder a Getúlio Vargas. Os acontecimentos mais relevantes dos 15 anos da “Era Vargas” (1930-45) foram: • Fechamento do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. Extinção dos partidos políticos e suspenção da Constituição Republicana de 1891. • Constituição de 1934: Voto secreto. Criação da CLT que garantia os direitos trabalhistas fundamentais como o salário mínimo, férias, jornada de trabalho diária de 8h, etc. Nacionalização das riquezas naturais (petróleo, minerais, etc). • “Estado de Guerra” decretado em 1937 sob o pretexto da “ameaça comunista”, com a intenção real de um golpe de estado por Vargas, visto que seu mandato chegava ao fim (1938) e que ele pretendia continuar no poder. Em 10/11/1937 Vargas ordenou o cerco e fechamento do Congresso Nacional e anunciou uma nova Constituição (autoritária). Iniciou-se o “Estado Novo”, período ditatorial do governo Vargas inspirado no fascismo. • Participação na II Guerra Mundial ao lado das Potências aliadas, com envio de tropas para Europa. Em troca, Vargas consegui dos USA um financiamento para construir a Usina de Volta Redonda (CSN). • Com o fim da guerra, ideias democrático-liberais se espalharam pelo mundo e pouco a pouco afetando as ideias do Estado Novo. Vargas foi “obrigado” a fazer uma abertura política, reconhecendo novamente os partidos políticos e “aceitando” uma nova eleição presidencial. Temendo que Vargas continuasse no poder, em 29/10/1945 tropas do Exército cercaram a sede do Governo (Catete) e obrigaram Vargas a renunciar. Com apoio político de Vargas, o general Dutra venceu as eleições. Economia na “Era Vargas”: A conjuntura econômica mundial pós-crise de 1929 repercutiu diretamente na economia brasileira, muito dependente da exportação de café, algodão, açúcar e borracha. Grupos regionais agrícolas abandonavam suas lavouras e vendiam suas terras. Isso liberou capital e mão-de-obra para o desenvolvimento urbano-industrial do país. Vargas implementa um modelo de industrialização por substituição das importações, com forte intervenção (incentivos) do Estado na economia. Com a carência e desorganização do comércio mundial durante a II Guerra Mundial (países focavam sua produção na indústria bélica, deixando de produzir os bens de consumo antes exportados para o Brasil) a industrial nacional se diversificou para suprir as necessidades do mercado interno. O Estado intervém fortemente na economia seja através de financiamentos, infraestrutura (energia, transporte, comunicações), produção de matéria-prima básica (ferro e aço). Atua também como importante mediador dos conflitos de classes (operários vs empresários) na medida em que concede benefícios para a classe trabalhadora, com intuito de manter uma estabilidade social que era essencial para o surgimento da vida industrial no país. São criadas a CSN e a CVRD. Foi notável o progresso no campo econômico ocorrido no Brasil durante o Estado Novo. O modelo nacionalista conseguiu desenvolver a indústria como nunca antes, mesmo predominando unidades industriais de pequeno e médio porte com produção inicial de bens de consumo imediato (roupas, calçados, chapéus, alimentos, utensílios domésticos, etc). No cenário externo, a crescente hegemonia norte-americana faz com que o Brasil deixe de ter a Inglaterra como referência externa e passa a ser mais influenciado por aquele país, inclusive para tomar empréstimos. 1.2 – O pós-guerra, os governos liberais e o segundo Governo Vargas (1946-1955) Base Histórica: Com a eleição de Dutra (1946-1951) foi eleita uma Assembleia Nacional para elaborar a quarta constituição do país, de teor liberal-democrático: (República, Federalismo, Presidencialismo c/ separação entre os 3 poderes, manutenção da CLT com inclusão do direito à greve, Direito de pensamento e expressão) . Em 1951 Vargas volta ao poder eleito pelo povo e procura apagar a imagem de ditador do Estado Novo, construindo, em seu lugar, a figura de um estadista democrata. Retoma duas características marcantes de seu primeiro governo: o nacionalismo econômico e a política de amparo aos trabalhadores. Suicida-se em 1954, levando ao poder Café Filho (seu vice). Economia de 1946-1955: Ao final da II Guerra Mundial as autoridades monetárias do Brasil foram vítimas de uma “ilusão de divisas”: • Acreditavam que o país estaria em uma posição bastante confortável com relação às suas reservas internacionais, devido ao bom superávit acumulado com as exportações durante a II Guerra. (FAIL# As reservas eram, em sua maioria em moedas não-conversíveis) • Julgavam-se “credoras” dos USA pela colaboração oferecida durante a II Guerra. (FAIL# USA não deu bola pra isso). • Acreditavam que a política liberal de Câmbio atrairia fluxos significativos de investimento estrangeiro direto. (FAIL# USA priorizaram a reconstrução europeia, logo, não investindo aqui no BR) • Esperavam um aumento nos preços internacionais do café com o fim do “preço-teto” eliminado pelos USA. Com isso, o governo Dutra identificou na inflação o principal problema a ser combatido e aditou pra isso uma política monetária e fiscal contracionista. Essas ideias foram erodidas após 2 anos de governo pois as perspectivas listadas acima não se concretizaram e além disso quase a totalidade das reservas internacionais haviam sido gastar com importação de bens de consumo supérfluos e bens de capital obsoletos (máquinas e equipamentos expurgados pela indústria americana e inglesa). Ao invés de desvalorizar a moeda nacional (opção que parecia ser a mais sensata) o governo instituiu controles cambiais e de importações (com a implantação de um sistema de contingenciamento de importações onde certos produtos deveriam obter uma “Licença prévia” para serem trazidos ao país). Apesar da manutenção da taxa cambial sobrevalorizada ter feito com que as exportações brasileiras perderam competitividade no mercado externo, o Sistema de controle das importações foi bastante eficaz na medida em que provocou: • Redução do déficit comercial • Promoveu um crescimento da industrialização nacional na medida em que impunha barreiras para a importação de itens com similares produzidos no país – mas não para bens de capital como máquinas, matéria prima e combustíveis (que entravam no país a preços relativamente baixos). Importante ressaltar, porém, que o avanço no processo de industrialização nos primeiros anos pós-guerra foi muito mais em decorrência de movimentos e ações do setor privado do que pelas ações indiretas do governo (controle sobre as importações e expansão do crédito ao setor industrial). Podemos dizer que durante todo governo Dutra a única iniciativa de intervenção direta (e planejada) do Estado no desenvolvimentoeconômico foi o plano SALTE (Saúde, ALimentação, Transportes e Energia) que tentava canalizar os investimentos públicos nessas áreas. Esse plano, no entanto, foi pouco eficaz. Internamente a política econômica passou de ortodoxa nos 2 primeiros anos para expansionista no final do governo, também motivada pela proximidade das eleições o que provocava forte apelo para aumento dos gastos públicos. Vargas retorna ao poder em 1951 com um plano de governo bem definido: 1) estabilizar a economia com equilíbrio das contas públicas, política monetária restritiva (ortodoxa) e consequentemente redução da inflação; 2) empreendimentos e realizações (investimentos na indústria e em infraestrutura), com destaque para criação do BNDE e Petrobras. No campo da política externa o governo manteve o câmbio fixo (e sobrevalorizado) e afrouxou o regime de controle de importações: pretendia usar as importações a uma taxa de câmbio favorável como controle das pressões inflacionárias. Essa política provocou um déficit de 300 milhões na balança comercial em 1952, levando ao esgotamento das reservas internacionais. No início de 1953 o colapso cambial instaurado no país levou o Governo a fazer uma reforma ministerial reorientando sua política econômica. Com a entrada de Osvaldo Aranha no Ministério da Fazenda foi mantida a visão ortodoxa do problema, mas privilegiando-se agora o ajuste cambial. Com objetivo de aumentar as exportações e desestimular as importações não essenciais o Governo cria em Jan/1953 o Sistema de múltiplas taxas de câmbio – que foi ineficaz. Em Out/1953 em nova tentativa de atacar os problemas cambiais e fiscais o governo baixa a Instrução 70 da SUMOC: • Retorno do monopólio cambial ao BB • Extinção do controle quantitativo (regime de controle de importações criado no governo Dutra) e instituição de leilões cambiais • No campo das exportações institui um sistema de bonificações incidentes sobre a taxa cambial oficial A desaceleração da economia provocada por essas medidas não foi suficiente para reduzir as taxas de inflação. Para os ortodoxos as causas eram o déficit público e no impacto das desvalorizações cambiais decorrentes da Instrução 70 da SUMOC pressionando os custos das empresas e aumentando o custo dos importados. O Saldo da balança comercial, no entanto, foi positivo em 1954 em 400 milhões (havia sido deficitário em 300 milhões em 1953). O cenário econômico contribui negativamente para aumentar a crise política do Governo Vargas. O aumento de 100% do salário mínimo aprovado pelo presidente em 1954 e a queda no preço do café no mercado internacional, foram, juntamente com a tentativa de assassinato de Carlos Lacerda os desencadeadores do suicídio de Vargas. Assume Café Filho com prioridade de enfrentar a situação cambial e o vencimento dos atrasados comerciais, criados pelo déficit na balança devido à queda dos preços do café. Gudim, Ministro da Fazenda, remove os obstáculos à livre entrada do capital estrangeiro e promoveu um dos mais ortodoxos programas de estabilização da história do país gerando ampla crise de liquidez e substancial elevação no número de falências e concordatas em 1955. Os 10 anos que se seguiram ao fim da II Guerra Mundial (1946-1955) foram marcados por forte expansão do PIB e de pressões inflacionárias. O investimento na economia também se elevou, refletindo o crescimento do processo de industrialização e atuação do governo na área de infraestrutura. O processo de substituição de importações foi notável, com uma produção de bens de consumo cada vez mais voltada para o mercado interno: em 1952 os importados representavam 16% da oferta doméstica e em 1956 era de apenas 7%. Impossível deixar de falar também na continuidade do nacionalismo-estatismo que teve como grande ponto positivo a aceleração das transformações estruturais da economia brasileira. 1.3 - “50 anos em 5”: o governo JK e o Plano de Metas (1956-1960) Base Histórica: Juscelino foi eleito pelo voto direto em 1955 pela coligação PTB-PSD (Vargas) tendo João Goulart como vice. Mais uma vez a UDN perdia as eleições e mais uma vez tentava dar um golpe de estado para tomar o poder – sem sucesso. O Governo JK é marcado por mudanças importantes (50 anos em 5) mas também representa um continuísmo com o modelo democrático-populista dos governos anteriores. Economia de 1956-1960: O Governo JK - e os governos seguintes, até a ditadura - foram marcados pela aceleração das transformações no processo produtivo do país com a perda relativa de importância da produção agropecuária e o ganho correspondente no setor industrial com a crescente urbanização da população. Com pesados investimentos públicos e privados nos setores industrial e de infraestrutura econômica o país viveu o apogeu do desenvolvimentismo. Com um crescimento do PIB de apenas 2.9% em 1956, nos anos seguintes (“Golden Age”) tivemos as respeitáveis taxas de 7,7%, 10,8%, 9,8% e 9,4% (1957- 1960). No entanto, o cenário não era o mesmo em relação à inflação (aprox. 35% durante o governo JK), finanças públicas (endividamento de aprox.. 35% das receitas totais) e das contas externas. Legado esse, que JK deixou para o governo seguinte. A industrialização substitutiva de importações que teve início nos primeiros anos da República avançou bastante com o setor de manufaturados leves (ou bens não-duráveis) respondendo por 40% da indústria nacional em 1961. Com isso o governo muda seu foco para os setores de bens intermediários (insumos industriais), bens de capital e bens duráveis (automóveis, por exemplo). A política cambial foi o principal instrumento de política econômica do governo brasileiro na década de 1950. Devido à “escassez de dólares” o governo criou mecanismos para atrair divisas para o país, como a manutenção da Instrução 70 da SUMOC (que permitiu a entrada no Brasil de, por exemplo, USD 401 milhões em 1960). O Plano de Metas de JK foi elaborado pelo “Conselho de Desenvolvimento” (órgão criado por JK e diretamente ligado à presidência) que criou 30 metas em 5 setores (Energia, transporte, indústria de base, alimentação e educação) com investimento total previsto de 5% do PIB no período 1957-61 – 71% para transporte e energia, 22,3% para indústria de base e 6,4% para alimentação e educação. Os 22.3% ficariam a cargo do setor privado (nacional e estrangeiro) responsável pela criação da indústria automobilística, construção naval, mecânica pesada e equipamentos elétricos. Sem apresentar, contudo, um plano de financiamento para seus investimentos, JK acabou usando o mecanismo da inflação (resultante da expansão monetária e aumento do crédito) como mecanismo de financiamento para o Plano de Metas. Mesmo com uma inflação elevada (24,4% em 1958, 39,4% em 1959 e 30,5% em 1960) JK “empurrou com a barriga” o problema da estabilização da economia, preferindo o crescimento desenvolvimentista. Entre 1956-60 a exportações caíram quase 15%e a dívida externa aumentou 50%, chegando a 3.4 bilhões de dólares em 1960. Esse foi o lado negro deixado por JK a seu sucessor. 1.4 – Instabilidade Política e as Reformas de Base no Governo Jango (1961-1964) Base Histórica: Jânio Quadros, ex-professor de português e governador de SP, foi eleito sucessor de JK (PTN c/ apoio da UDN). Porém, sem apoio num congresso dominado pelo PTB e PSD e massacrado pela oposição e imprensa por sua orientação comunista, Jânio renuncia em 25/08/1961. João Goulart, seu vice, estava em visita diplomática à China comunista e viu ameaçada sua posse, numa tentativa de golpe da oposição, alegando, mais uma vez a “ameaça comunista”. Apoiado por um movimento Legalista, comandado por Brizola (seu cunhado), Jango tomou posse sob a condição de ser alterado o sistema de governo brasileiro, que passaria ao Parlamentarismo. Tancredo Neves seria seu primeiro- ministro. Foi uma tentativa da oposição de limitaros poderes de Jango, com medo de sua proximidade com a URSS e China. No final de 1962 um plebiscito devolveu o poder presidencialista a Jango. Economia de 1961-1964: Tendo herdado os problemas macroeconômicos deixados por JK, Jânio Quadros lançou um pacote de medidas ortodoxas que incluíam uma forte desvalorização cambial e a unificação do mercado de Cambio, a contenção do gasto público, adoção de uma política monetária contracionista e fim dos subsídios à importações. Tal plano foi bem recebido pelos USA e FMI. O PIB cresceu 8,6% em 1961 mas a inflação continuava a subir (de 30,5% em 1960 para 47,8% em 1961) e a taxa de investimento externo no país também recuava. Jango assume o governo e lança o Plano Trienal de Desenvolvimento em 1962 com objetivo de conciliar crescimento econômico com reformas sociais e combate à inflação. Os objetivos do plano eram: • Garantir crescimento do PIB de 7% a.a do PIB • Reduzir a taxa de inflação para 25% em 1963 e 10% em 1965 • Garantir um crescimento real dos salários • Realizar a reforma agrária como forma de distribuição de renda • Renegociar a dívida externa Como consequência da aprovação da Lei de Remessa de Lucros (que limitava em 10% a remessa de lucros ao exterior de empresas multinacionais sediadas no país) o Brasil viu os investimentos externos caírem em 40% além conseguir uma “antipatia” do governo dos USA que inclusive negou um empréstimo ao país além de não aceitar o escalonamento da nossa dívida externa que vencia no curto prazo. Some-se a isso o descontentamento norte- americano com a chamada “Política Externa Independente” praticada pelo Brasil, que nos aproximou de Cuba e outros países socialistas. Devido ao insucesso do Plano Trienal, Jango resolve abandonar a ortodoxia econômica e chuta o balde: restituiu os subsídios à importação, aumentou em 60% os salários do funcionalismo e reajustou o salário mínimo em 56%. Assiste-se então um aumento da inflação, o descontrole das contas públicas com aumento significativo da oferta de moeda a partir de Maio/63 e a permanência do déficit do BP. Por fim, teve início uma forte desaceleração da atividade econômica devido às medidas contracionistas adotadas no início do seu governo (Plano Trienal). Aumenta-se os conflitos populares com invasões de terras. Acirra-se a conspiração militar contra Jango que culmina com sua deposição em 01/04/1964. Inicia-se a ditadura militar. 1.5 – Estagnação e reformas institucionais sob o regime militar (1964-1967) 1.6 – O “milagre econômico”: crescimento e distorções sociais (1967-1973)
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