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HISTÓRIA-DO-PIAUÍ I

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OEIRAS, PRIMEIRA CAPITAL PIAUIENSE
O surgimento da primeira capital do Piauí tem duas versões: a primeira é a de que o berço do povoado foi um arraial de índios domésticos fundado por Julião Afonso Serra por volta de 1676 para proteger as suas fazendas e lavouras dos ataques dos índios bárbaros; a outra, considerada oficial, é a instalação da fazenda Cabrobó de Domingos Afonso Mafrense, que mais tarde recebeu o nome Môcha e no lugar foi construída a capela de Nossa Senhora da Vitória. O povoado  foi elevado à freguesia e desmembrado de Cabrobó por ordem do Bispo Diocesano de Pernambuco, Dom Frei
Francisco de Lima.
Em 30 de junho de 1712, Môcha foi transformada em vila e em 29 de julho de 1758, à cidade. Por  ter o maior núcleo populacional do Estado, em 19 de junho de 1761, foi escolhida para sediar o governo e em 13 de novembro de1761 o Governador João Pereira Caldas muda o nome para Oeiras, em homenagem ao Conde de Oeiras, Sebastião José de Carvalho Melo. 
A Cidade de Oeiras, em junho de 1772, conforme descrição de Luiz Mott, em “Piauí Colonial”
Segundo o Ouvidor da Capitania do Piauí, Antônio Jose de Morais Durão:
Cuidam muitos habitantes deste país e fugir da sociedade vivendo nos matos e brenhas, onde se figuram mais livres e donde vem a falta de instrução que padecem, e o respirar a tudo bárbaro e feroz. Verdade esta bem indicada e pelos muitos e graves crimes que cometem principalmente de morte e resistências. Nesta mesma cidade não há aula de gramática, só uma escola é q fiz abrir quando aqui cheguei. A mocidade se perde sendo educada na mesma desilusão e ociosidade e mais vícios que os pais e parentes com publicidade praticam.
Assim descrita, fica esta cidade no meio da Capitania; é situada na baixa com inclinação para o poente e cercada de montes. Daquela parte banha o Ribeiro da Mouxa que deu o nome à povoação enquanto vila; dele se bebe porque em toda a sua circunferência não tem fonte alguma.... a cidade da Mocha, com 157 fogos e 692 almas, não tem relógio, casas de Câmara, cadeia, açougue, ferreiro ou outra qualquer oficina pública. Servem de Câmara umas casas térreas de barro e sobre o que corre litígio. A cadeia é coisa indigníssima, sendo necessário estarem os presos em roncos de ferro para segurança.A casa do açougue é alugada, e de mais, coisa nenhuma. As casas da cidade, todas são térreas, até o próprio palácio do Governo. Tem uma rua inteira, outra de uma só face, e metade de outra.Tudo o que mais são nomes supostos: o de cidade, verdadeiramente, só goza o nome ... Há nesta cidade e todo se distrito uma só freguesia na invocação de Nossa Senhora da Vitória; mas é extensa demais e por esta causa, impossibilitada a administração de sacramentos.
A POPULAÇÃO
O Piauí, em 1772, cadastrava um total de 10.669 pessoas, dos quais 16,7% eram brancos,44,4% mestiços 33% negros e 5,9% índios. A grande massa da população era “ de cor”.Os mestiços: mulatos ( branco e negro), mamelucos (branco e índio), caful ( preto e índio), cabra (preto e mulato) e curiboca (mulato e índio) eram a maioria.
A mão-de-obra escrava, negra e mestiça, desenvolveu substantivamente a pecuária piauiense. Dos fogos do Distrito da Mocha, 66,9% possuíam cativa, a maioria deles, 1 ou 2, no máximo 5. A maior fazenda tinha 29 escravos. A pecuária extensiva necessitava de menor mão-de-obra do que as fazendas de algodão e cana-de-açucar das demais capitanias.
RELAÇÕES HUMANAS
No Piauí Colonial, em 22,8% das casas de fazenda, viviam pessoas sem nenhuma relação parental. O mais freqüente eram morar juntos um ou mais homens, solteiros na maior parte, com um ou mais escravos. Os proprietários moravam nas vilas.
Em carta ao Ministro do Ultramar, em 25 de junho de 1766, o Governador JP Caldas relata que – a existência de grande número de vaqueiros e agregados de cor empregados pelos donos das fazendas para administrar em seu lugar as distâncias que tanto separavam noutras áreas do Brasil s escravos do restante da população. A principal distinção social no Piauí colonial parecia basear-se mais na relação livre-escravo, do que senhor - escravo. Não temos notícia d’outra parte do Brasil onde “brancos, mulatos e pretos, por costume antiqüíssimo, têm a mesma estimação, uns e outros se tratando com a recíproca igualdade, sendo rara a pessoa que se separa deste ridículo sistema por se seguirem o contrario, expõem suas vidas...”
Miridan Brito Knox descreve Oeiras em seu “O Piauí na Primeira Metade do Século XIX”:
Em 1826, a capital possuía cerca de 1050 fogos. Sua área urbana de ruas sem calçamento e iluminação espalhava-se a partir da praça da Matriz, onde ainda se encontrava a igreja de Nossa Senhora da Vitória construída em 1733 com a imagem trazida de Olinda em 1896 e mais duas ermidas, a de Nossa Senhora da Conceição e de Nossa Senhora do Rosário.O palácio de residência dos governadores assim como o prédio da Câmara Municipal, que tinha dependências destinadas à cadeia Pública, a única em toda a Província. Em 1836 só havia um hospital que atendia escravos e indigentes em precárias condições. O barão da Parnaíba mandou construir uma ponte tentou facilitar a navegação no rio Canindé, executou aterros, calçamentos e colocou iluminação pública a querosene.
OEIRAS COMO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DO PIAUÍ
A antiga capital está localizada em uma área de 5.081 Km2, na microrregião dos baixões agrícolas piauienses, a 313Km da atual capital, Teresina, com 33.910 habitantes. O município de Oeiras dispõe de um aeródromo com 1.200x40m de pista, um artesanato a base de cerâmica e uma das maiores festas religiosas do Estado, a Semana Santa, que tem como ponto máximo a procissão do fogaréu. O Museu de Arte Sacra, o Centro Cultural Major Selemrico, as Igrejas de Nossa Senhora do Rosário e da Vitória, sendo a última, padroeira da cidade e do estado, festejada no dia 15 de agosto e reverenciada como o terceiro monumento do País. São estes os principais pontos turísticos de Oeiras.
Oeiras por si só, é  Patrimônio Histórico. Foi o primeiro centro urbano organizado do Piauí e também a primeira capital do Estado. O planejamento para a adesão do Piauí à independência do Brasil também aconteceu aqui. Uma das maiores preocupações, na época da ainda Vila da Môcha, era com a qualidade e a beleza da arquitetura; o que notabilizou mais tarde, a alguns prédios da cidade, o título de Patrimônio Histórico e artístico Nacional. Transformou- se ao longo dos tempos numa cidade tipicamente turística. Suas belas paisagens, com ruas construídas em estilo colonial, além de igrejas e casarões são  grandes atrativos dentre outros.
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória
A PRESENÇA DA COMPANHIA
DE JESUS
De junho de 1711 a agosto de 1760, grande extensão de terra sertaneja passou, por doação testamental de Domingos Afonso Sertão, para administração dos Jesuítas. Relata o Pe. Claudio Melo no Os Jesuítas no Piauí, que, durante esse período, as terras e propriedades foram levantadas, organizadas, e passaram a se tornar mais produtivas. Foram posses imensas que passaram a ser ordenadas em três grupos centralizados em residências (Santo Inácio, Nazaré e Canindé), cada uma delas com sede e capela, além de inúmeras cabeças de gado, população de 200 escravos instruída e espiritualmente atendida.
O Marques de Pombal, determinou ao ouvidor do Mocha em 1759, o levantamento e posterior seqüestro dos bens da Companhia de Jesus, atendendo a decreto real que ordenava serem expulsos todos os representantes da Companhia de Jesus do território piauiense, a exemplo do que havia sido feito em todos os seus reinos e domínios. Em maio de 1760, todos os religiosos já estavam presos. Foram conduzidos à Bahia para extradição.
Ao partirem, deixaram tudo organizado,como se devessem continuar a administração, devidamente anotado, Foram 49 anos em que a administração da província experimentou a maior riqueza.
OS PRIMEIROS GOVERNADORES DO PIAUÍ
João Pereira Caldas (1758-1769) foi o primeiro governador do Piauí. Dentre as principais medidas tomadas porele, destacamos a criação das primeiras vilas do Pi, como São João da Parnaíba, Parnaguá, Valença, Campo Maior, Marvão e Jerumenha.
Gonçalo Lourenço Botelho de Castro (1769-1775) criou o Arraial de São Gonçalo do Amarante e um serviço de correio mensal, facilitando a comunicação com as demais vilas. Em 1772, um decreto real subordinava o Piauí as capitanias do Maranhão e Pará. Por não concordar com esta situação, este governador renuncia em 1775, e o Piauí passou a ser governado, até 1812, por uma junta governativa.
Junta Trina Governativa (1775-1797) formada por um ouvidor-geral, chefe-militar e vereador mais velho da Câmara. A nova administração é considerada como um período de transição em que predominavam os interesses da Capitania do Maranhão.
João de Amorim Pereira (1797-1799) criou a Companhia Militar para impedir a vinda ao Piauí de soldados do Maranhão. Foi o primeiro governador a cogitar a mudança da capital Oeiras para a Vila de Parnaíba.
CONTEXTUALIZAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA DO PIAUÍ
Até o final do século XVIII, Portugal não dava muita importância para o Piauí. A província foi entregue a exploradores maranhenses e baianos. Éramos subordinados à Bahia pelo lado jurídico e, pelo lado administrativo e religioso, estávamos sujeitos ao Maranhão. Muito embora a Freguesia da Mocha tenha sido instalada em 1697 sob a invocação de Nossa Senhora da Vitória, somente em 1715 foi criada a Capitania de São José do Piauí. A terra de Mafrense¹ era muito grande, territorialmente falando, para tão poucos habitantes.
Para se ter um quadro mais revelador dessa situação, Oeiras, por essa época, tinha pouco mais de mil habitantes e era a capital imperial do Piauí. Parnaíba dava os primeiros passos com o comércio de exportação de carnes e de algodão. Até as três primeiras décadas do século XIX, não existia sequer uma única escola regular. Saber ler e escrever era um privilégio de poucas pessoas, apenas as mais altas autoridades ligadas à administração. 
Em âmbito nacional, o sentimento de independência no Brasil teve inicio no século XVIII com a chamada Conjuração Mineira de 1789, a Inconfidência Carioca de 1794 e a Inconfidência Baiana de 1798, todas imbuídas numa causa comum que girava em torno de idéias liberais, segundo as quais a soberania reside na vontade do povo, na liberdade de expressão e de culto. A partir de então consignou-se o sentimento de liberdade que culminaria de um modo mais intenso com a participação popular na Revolução Pernambucana de 1817.
Em 1808, a chegada da família real ao Brasil marcou definitivamente esse sentimento de nacionalidade, com o Brasil se tornando a sede da Coroa Portuguesa e com os desdobramentos desse fato: a abertura do porto às nações amigas, a fundação do Colégio de Medicina e Cirurgia e da Escola de Comércio, a abertura da Escola de Belas Artes, a fundação do Banco do Brasil, a inauguração do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a elevação do País a Reino Unido, a criação da Imprensa Oficial e a edição do jornal Gazeta do Rio de Janeiro (em 10 de setembro de 1808). 
O reconhecimento dos direitos naturais e imprescritíveis da pessoa humana estava na ordem do dia, e o Piauí, apesar do isolamento e da distância em relação ao Rio de Janeiro, não ficou fora dessa epopéia libertária, que deu outros rumos ao destino do Brasil.
O quadro financeiro do Piauí, em 1821, era considerado bom. A atividade agropecuária crescia vertiginosamente. Quinze mil bois eram abatidos em Parnaíba para abastecer de carnes os mercados do Maranhão, Ceará e Bahia; o comércio de algodão era considerado um dos melhores do Brasil, além do fumo, cana-de-açúcar e outros produtos. Cerca de 50% da renda bruta das numerosas fazendas de gado do Piauí ia parar nos cofres das cortes portuguesas. O dinheiro que ficava no Piauí pagava os gastos com atividades militares e preservava a máquina administrativa.
Em abril de 1821, D. João VI deixou o Brasil e foi para Portugal. A comitiva, de quatro mil pessoas, era formada principalmente por membros da realeza, ricos comerciantes portugueses e outras autoridades, o ossário de D. Maria I, a Rainha Louca, e 50 milhões em cruzados, isto é, todo o dinheiro dos cofres do Brasil.
Com a volta da família real para a Europa, a responsabilidade pelo destino do Brasil ficou a cargo de D. Pedro I. A questão internacional provocada pela Revolução do Porto (1820), no bojo da qual se admitia a volta do Brasil à condição de colônia portuguesa, com a administração ligada diretamente à Lisboa, levou muitas províncias a se rebelarem, como a Bahia, Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. As que apoiavam D. Pedro I e os setores favoráveis às cortes portuguesas mergulharam num vai-e-vem de interesses sem precedentes na história política do País.
PIAUÍ ERA VISTO COMO PORTUGAL EM PLENA CAATINGA
Do outro lado, Piauí, Maranhão, Pará, Mato Grosso e Goiás deviam obediência e lealdade a Portugal. Oeiras, a capital do Piauí, era marcada pela grande quantidade de portugueses que queriam a todo custo que o Brasil continuasse colônia de Portugal.
Assim, dividido entre as pretensões dos brasileiros que queriam a independência e a dos portugueses que desejavam continuar com a política colonialista, D. Pedro I, no dia 7 de setembro de 1822, às margens do Riacho Ipiranga, consolidou a emancipação política brasileira. No Piauí, a noticia chegou no dia 30 de setembro.
Com a independência brasileira levada a efeito em São Paulo, Portugal voltou-se para a parte mais rica da nação, que era o Norte. E foi justamente para efetivar essa posse que os portugueses mandaram para o Piauí o oficial João José da Cunha Fidié , que chegou em Oeiras no segundo semestre de 1822.
A presença militar lusitana em terras piauienses, entretanto, não intimidou o ânimo emancipador dos piauienses. A independência caminhava lenta e gradualmente, mas com passos firmes e decisivos rumo à liberdade. As idéias revolucionárias desenvolvidas por piauienses ilustres vinham de Portugal, Estados Unidos e França. Essas idéias entravam no Piauí por Parnaíba, que era a porção mais rica da província.
Em 19 de outubro de 1822 a Câmara Provincial de Parnaíba, em sessão solene, reconheceu a independência do Brasil. Isso foi aceito como convite à ação libertadora e um não à presença militar portuguesa em terras piauienses. Nesta sessão estavam presentes os líderes Simplício Dias da Silva, Leonardo das Dores Castelo Branco e o juiz Cândido de Deus e Silva. Uma platéia lotava as dependências da Câmara. Apesar de um certo alinhamento às cortes portuguesas, os parnaibanos reconheciam a autoridade de D. Pedro de Alcântara, o Defensor Perpétuo do Brasil. 
Campo Maior era também um caldeirão de idéias libertadoras. A 17 de setembro de 1822, a junta governista chamou a Oeiras, Lourenço de Araújo Barbosa, o precursor da independência no Piauí, para prestar esclarecimentos a respeito dos boatos sobre atividades emancipacionistas. Segundo informações dos espiões oeirenses infiltrados em Campo Maior, ele possuía uma fábrica de pólvora que seria usada num possível ato revolucionário, que a cada dia se tornava mais urgente.
Com a declaração parnaibana de independência em relação a Portugal, não restou outra alternativa a Fidié, Governador das Armas do Piauí, senão sufocar militarmente o levante revolucionário no litoral e, ao mesmo tempo, ver a situação explosiva em Campo Maior. A preocupação de Fidié era fazer nas “terras dos carnaubais” um foco de resistência portuguesa diante do sentimento nacionalista dos campo-maiorenses.
Corroborando o boato de que Portugal queria ficar com o norte do Brasil, que na época compreendia o Piauí, o Maranhão e o Pará, os portugueses enviaram para o Piauí uma quantidade enorme de armas por volta de 1820, alem da vinda de Fidié a Oeiras como Governador das Armas. Fidié, um militar de alta patente, foi enviado ao Piauí devido ele já ser considerado um herói em Portugal quando ele lutou contra os exércitos napoleônicos na época em que a França invadiuPortugal em 1807.
O GENERAL DESLOCA-SE PARA PARNAÍBA
Quando Fidié soube da proclamação da independência feita pelos parnaíbanos em 19 de outubro de 1822, rompendo os laços que uniam o Piauí a Portugal, tomou a decisão de marchar com quase todo o efetivo militar rumo a Parnaíba com o objetivo de manter a dominação portuguesa sobre o Piauí e sufocar o movimento libertador. De Oeiras para Parnaíba a distância era muito grande para os padrões da época. Cerca de 660 quilômetros. Fora o grupo de oficiais que iam a cavalo, os soldados teriam de fazer o trajeto a pé, o que constituía uma tarefa das mais árduas, mesmo para um exército bem treinado e disciplinado. 
Fidié partiu no dia 13 de novembro de 1822 de Oeiras, capital do Piauí, com destino a Parnaíba, passando por Campo Maior. Fidié chega a Campo Maior em 24 de novembro, depois de onze dias de marcha acelerada. Antes da chegada de Fidié em Campo Maior o clima na cidade era de alegria, com a entrada do mesmo e de toda sua tropa, tudo mudou, alguns passaram a dar vivas ao imperador D. João VI e a Portugal, sendo que estes que passaram a festejar eram lusitanos ali residentes e uma pequena parte do povo, sendo que estes últimos temiam represálias.
Para mostrar sua força, Fidié passou treze dias acampado em Campo Maior antes de seguir para o litoral. Como o objetivo de Fidié era prender os insurretos parnaibanos e restabelecer o império português no litoral, destituído desde 19 de outubro, ele partiu para Parnaíba em 8 de dezembro de 1822 deixando Campo Maior sob a responsabilidade do tenente-coronel João da Cunha Rebelo com cem praças, cem granadeiros e alguns instrumentos bélicos, além de milicianos que serviam de artilheiros para as peças de campanha.
Ao saber da aproximação de Fidié, os independentes parnaibanos fogem para o estado vizinho Ceará. O exército de Fidié era composto por seis mil homens. Os portugueses ainda contavam com o apoio de navios e barcos instalados na costa parnaibana para ajuda no caso de uma emergência.
Fidié chegou em Parnaíba no dia 18 de dezembro de 1822 sem a presença dos líderes que tinham proclamado a independência do Piauí, ele não encontrou qualquer resistência. Logo na sua chegada houve festas, missas e até fogos de artifício. Fidié se sentia o próprio rei.
MANOEL DE SOUSA MARTINS AGE EM OEIRAS
Enquanto Fidié vivia as delícias do litoral piauiense, em Oeiras, de onde ele partira para sufocar o levante libertário em Parnaíba, começava também o movimento separatista, tendo à frente o brigadeiro Manoel de Sousa Martins. Diferentemente dos parnaibanos, que agiram por impulso, o brigadeiro trabalhava silenciosamente a causa da independência do Piauí. Em 24 de janeiro de 1823, Oeiras declarou-se independente, rompendo os laços que mantinha com Portugal.
Quando Fidié soube do ocorrido em Oeiras, ficou enfurecido. Considerou uma grande traição. No dia 28 de fevereiro de 1823, convocou novamente a tropa, desta vez composta por 1.100 homens, onde a partir dessa data declarou os piauienses como inimigos de Portugal. Com muito júbilo partiu de Parnaíba numa viagem de volta para Oeiras, chegando em Campo Maior no dia 1º de março de 1823.
No caminho de volta ocorre um pequeno confronto na Lagoa do Jacaré entre os independentes piauienses e o exército português, com perdas apara ambos os lados. Após isso os portugueses marchavam com mais cautela. Em Piracuruca a independência tinha sido declarada em 22 de janeiro por Leonardo Castelo Branco. O mesmo Leonardo também proclamou a independência de Campo Maior, em 5 de março de 1823. A concretização da liberdade aflorava no coração dos piauienses. 
Fidié tinha de ser barrado em Campo Maior de qualquer jeito porque, se chegasse a Oeiras, a independência seria jogada por “água à baixo” e assim os portugueses consolidariam uma colônia portuguesa no norte do Brasil, mesmo com o Grito do Ipiranga. Em Piracuruca, Fidié encontrou a cidade abandonada. Os habitantes tinham fugido na noite anterior. Sem ter com quem lutar, seguiu em frente deixando para trás uma cidade fantasma, sem nenhum sinal de vida.
O CONFRONTO
A população de Campo Maior, ao saber que Fidié vinha de Parnaíba com destino a Oeiras e passaria ali, se mobilizou com intuito de impedi-lo de continuar viagem.
Na noite de 12 de março, os homens da cidade e das redondezas foram arregimentados. Todos queriam lutar para livrar o Piauí do domínio português. As mulheres estimularam os seus maridos, parentes e amigos, arrumaram o que puderam, venderam suas jóias; todos estavam empenhados a se unirem em só ideal: lutar.
O amanhecer do dia 13 de março de 1823 prenunciava um dia claro, com poucas nuvens e muito calor. Era um ano em que a seca castigava o nordestino. Ao sinal de comando, todos os homens se reuniram em frente à Igreja de Santo Antônio. Os combatentes piauienses e cearenses não vestiam fardas. Na saída da cidade, para encontrar-se com Fidié, houve uma apresentação com a banda de música na qual houve um desfile militar. A massa de combatentes que iam lutar pelo Brasil saiu exultante ao som dos tambores. 
Mesmo sem acertarem os passos eles levavam consigo a chama da liberdade queimando no peito. A certeza da morte não tirou o ânimo dos que iam morrer pela pátria. Cerca de dois mil homens marcharam para o combate. As armas que eles usaram foram espadas velhas, chuços, machados, facas e foices, paus e pedras e algumas espingardas usadas. Sem nenhuma experiência em guerras, os piauienses chegaram às margens do riacho Jenipapo , de onde pretendiam impedir a passagem de Fidié. 
Como o riacho estava quase seco, a maioria dos patriotas ocultou-se no próprio leito do riacho, enquanto a outra parte se escondeu nas moitas de mato ralo perto da ribanceira. E ficaram esperando o exercito português, que, com certeza, tinha de passar por ali. De onde estavam dava para ver quando os portugueses se aproximassem do palco da luta porque o terreno era bem plano, com várzeas imensas, abertas sem amparo algum.
O povo com espírito de tornar-se independente estava entrincheirado e sabiam que à frente deles havia uma estrada que se dividia em duas, uma pela direita e outra pela esquerda. Só que estavam em dúvidas em qual dos caminhos vinha Fidié. Logo após às oito horas, o capitão Rodrigues Chaves mandou uma patrulha sondar o lugar onde seria travada a batalha. Fidié ao chegar no local onde a estrada se dividia resolveu mandar uma metade do exercito por um lado e outra metade pelo outro lado. Ele foi junto com uma das metades pela esquerda e a cavalaria foi pela direita. Os independentes, sem saber da divisão que Fidié tinha feito no seu contigente, foram pela estrada da direita encontrando-se com a cavalaria portuguesa, sendo surpreendidos. Os mesmos avançaram bravamente contra a cavalaria. Os portugueses espantaram-se com a coragem e com a bravura dos piauienses, onde eles acabaram recuando. Neste momento os piauienses perseguiram os portugueses estrada adentro.
Os combatentes piauienses, ouvindo o tiroteio, acharam que o confronto havia começado. Saíram das trincheiras na qual utilizavam como posição defensiva e precitadamente foram pela estrada da direita atrás do inimigo, só que as tropas portuguesas não se encontravam mais ali.
Fidié ao saber do ocorrido atravessou o rio Jenipapo pela estrada da esquerda, construiu de forma apressada umas barricadas, distribuiu o armamento pesado, organizou os atiradores em posição de frente de combate (em linha) nas trincheiras onde antes estavam os piauienses e esperou que eles voltassem para lá. Antes os piauienses estavam em posição favorável agora tudo se reverteu.
Quando os piauienses viram a situação adversa só encontraram uma alternativa, atacar Fidé ao mesmo tempo e em todas as direções ao longo das margens do rio. No primeiro instante do combate houve muitas baixas por parte dos piauienses. Dezenas de corpos caíram pelas balas do exercito português. 
Os poucos que conseguiram atravessar a linha de fogo deram o último suspiro à boca dos canhões, com grande destemor não temendonada contra a vida e sim pela pátria em tremenda representação de amor pela mesma. Com essa demonstração de amor pela pátria e de bravura que os piauienses tinham, fez com que os portugueses ficassem assustados, devido eles nunca terem visto tanta audácia em nenhum lugar do mundo.
Os sucessivos ataques dos piauienses tinha como resultado muitos mortos pelo chão. A fuzilaria e os tiros de canhão dos portugueses varriam o campo de luta de um lado para o outro. Os que conseguiam passar pelo bloqueio de fogo conseguiam lutar corpo a corpo com os portugueses. No meio-dia, os piauienses estavam cansados e certos de que não venceriam os portugueses, neste momento já não lutavam mais se rastejavam ao encontro com a morte.
 Às duas horas da tarde, depois de cinco horas de combate, os libertadores retiraram-se em desordem, deixando 542 prisioneiros, 200 mortos e feridos, Fidié, que cujas perdas foram estimadas em 116 mortos e 60 feridos, estacionou na fazenda Tombador, à cerca de um quilômetro de Campo Maior. Fidié e seu exército caiam de cansaço. O sol escaldante e o medo da valentia dos piauienses não permitiram que as tropas portuguesas os perseguissem, mesmo sabendo que já tinham derrotado a eles. 
Os cearenses do Capitão Nereu na hora da retirada levaram a maior parte da bagagem dos portugueses, composta de comida, água, algumas armas e até mesmo um pequeno tesouro que Fidié trazia do saque que havia feito na cidade de Parnaíba. Fidié passou dois dias na cidade de Campo Maior enterrando os seus mortos. No dia 16 de março de 1823, saiu da cidade indo para o Estanhado.
Meses depois Fidié foi preso em Caxias, no Maranhão, de lá levado para Oeiras de onde foi mandado para o Rio de Janeiro. Do Rio ele foi mandado de volta para Portugal, onde foi recebido com honras militares pelos serviços prestados à Coroa Portuguesa. Entre os títulos recebeu o de comendador da Ordem de Avis, a mais antiga condecoração militar portuguesa, fundada por Afonso Henriques em 1162. Só recebia essa comenda o soldado que demonstrasse extrema valentia, ousadia e coragem.
CONSEQÜÊNCIAS DA BATALHA
A luta no Piauí decidiria a unidade brasileira. A iniciativa coube ao Coronel Simplício Dias da Silva, rico e viajado. O Norte era autêntico satélite de Portugal. No Sul, a Independência foi aplausos e festas. No norte, fome e peste, sangue e morticínio. Jenipapo foi o retrato da bravura de um povo em luta pela sua liberdade.
Fidié queria restaurar a Coroa Portuguesa no Brasil pelo Norte e terminou se deparando com o espírito de bravura e de libertação de um povo sofrido que deixou como herança aos piauienses um grande legado à qual podem se orgulhar, porque a Batalha do Jenipapo foi a única batalha com objetivo de adesão da independência na qual houve derramamento de sangue.
O poeta Carlos Drummond de Andrade, em reconhecimento à bravura dos combatentes independentes, imortalizou-os no poema “Cemitérios” (In Fazendeiro do Ar. item II. Campo Maior): “No cemitério de Batalhão os mortos do Jenipapo / Não sofrem chuva nem solo telheiro os protege / Asa imóvel na ruína campeira”. O poeta piauiense Clodoaldo Freitas também homenageou os emancipacionistas com uma poesia, denominada ‘O Combate do Jenipapo’.
O Combate do Jenipapo
"Parda manhã de março. Espessos nevoeiros
Cobrem o campo fatal de flores matizado.
Propaga o eco o som estrídulo e pausado
Das vezes de avançar em carga dos guerreiros.
Soou o clarim marcial num brado agudo e forte,
Os bravos impelindo às fúrias do combate.
O tropel dos corceis mais brusco torna o embate
Dos férreos batalhões marchando para a morte.
Povo do Piauí, vaqueiros ou soldados,
Quando a pátria te chama, aflita, nesses dias,
Nessas horas fatais de transes desgraçados.
É que sabes mostra-te abnegado e valente!
Se Fidié triunfou, tu, ao morrer, sabias
Que a nossa boa terra ficava independente!"
 Clodoaldo Freitas
Em homenagem aos combatentes da Batalha do Jenipapo, o governador Alberto Silva (1971-1975) construiu em 1975, um memorial que conta a história da Batalha do Jenipapo, que aconteceu às margens do rio Jenipapo, em Campo Maior.
Um grupo de camponeses piauienses enfrentou as tropas comandadas por João José da Cunha Fidié, numa luta que se pode considerar quixotesca, porque usaram paus e ferramentas de uso agrícola contra canhões e outras armas de fogo.
A bandeira do Piauí: o 13 de março
Bandeira do estado do Piauí, com a modificação de 1995
Em 1922, a Bandeira e o Brasão do Piauí foram aprovados pela Assembléia Legislativa do Piauí. Constituíam-se de elementos que representavam a riqueza do estado e a composição de elementos nativos do Piauí, como a Carnaúba, o Babaçu, o Algodão, a Cana-de-açúcar e o Buriti. Foram criados por iniciativa do então governador do Estado, João Luís Ferreira e por seu secretário de Obras e Viação Pública, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves. A bandeira constituía-se das mesmas cores da bandeira brasileira e a estrela corresponde ao Piauí como um estado da Nação.
Transcorridos 83 anos, desde a aprovação dos símbolos originais, eis que a Assembléia Legislativa, no ano de 2005 aprova, por unanimidade, a inclusão da data 13 de março de 1823, dia da Batalha do Jenipapo, na bandeira do Piauí. O projeto, de autoria do deputado Homero Castelo Branco (PFL) a partir de relatos do escritor Adrião Neto, corresponde a um anseio antigo da comunidade historiadora e da população conhecedora da importância deste episódio para a Independência do Brasil.
Ainda assim, houve veto do governador Wellington Dias (PT), sob a alegação de que em bandeira nenhuma no mundo existia a indicação de data. O veto foi derrubado pela Assembléia e a data foi incluída na bandeira do Piauí. A expectativa daqueles que lutaram para a modificação do símbolo estadual é de que a inscrição na bandeira desperte a curiosidade das pessoas; e que elas busquem maiores informações sobre o ocorrido e tenham consciência da vitalidade da Batalha do Jenipapo.
As outras datas que marcaram a Independência do Piauí, 19 de outubro de 1822 e 24 de janeiro de 1823, já tiveram destaque. A primeira, marca a adesão do Piauí à Independência do Brasil, ocorrida em 7 de setembro de 1822 às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo; teve destaque ao ser condecorada como dia do Piauí. A última, independência em Oeiras, foi agraciada com a inclusão no Brasão Estadual. Já a data da Batalha do Jenipapo, considerada por muitos a mais importante das três, esteve esquecida até ao início da discussão do projeto.
A PARTICIPAÇÃO DO PIAUI NA CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR
O autoritarismo que marcou o processo de outorga da Constituição de 1824 inaugurou uma fase na história política do Brasil, onde a centralização política se transformou em uma prática severamente questionada. Mesmo contando com alguns princípios de natureza liberal, a Constituição de 1824 também foi marcada por uma série de dispositivos contrários ao seu aparente liberalismo. A centralização dos poderes acabava gerando a insatisfação de muitos dos representantes políticos do período.
Tomado por essa orientação contraditória de sua carta constitucional, o governo de Dom Pedro I acabou sendo alvo de diversos ataques políticos bem como de revoltas. Naquele mesmo ano, inspirados pelos levantes de 1817, um grupo de habitantes de Pernambuco iniciou um movimento antimonarquista. Tal oposição originou-se nas constantes crises da economia regional e as cargas tributárias impostas pelo governo.
Como se não bastasse sua situação desoladora, os pernambucanos sentiram o peso do autoritarismo real quando D. Pedro I depôs o então governador, Manuel de Carvalho Paes de Andrade, e indicou um substituto para o cargo. A troca do governo seria o último episódio que antecedeu a formação do movimento que ficou conhecido como Confederação do Equador, esse ganhou tal nome devido sua proximidade geográfica com a Linha do Equador.
A Confederação, que se iniciou com a ação de lideranças e populares pernambucanos,logo tomou corpo e conseguiu a adesão de outros estados do nordeste. Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Paraíba também se juntaram ao movimento. Impassíveis às tentativas de negociação do Império, os revoltosos buscaram criar uma constituição de caráter republicano e liberal. Além disso, o novo governo resolveu abolir a escravidão e organizou forças contra as tropas imperiais.
Depois de estabelecidas as primeiras ações da Confederação, alguns de seus líderes decidiram abandoná-la. Tudo isso porque alguns integrantes da revolta defendiam a radicalização de algumas ações do novo governo. Frei Caneca, Cipriano Barata e Emiliano Munducuru acreditavam que a ampliação de direitos políticos e reformas no campo social eram medidas urgentes no novo poder estabelecido. Com isso, os integrantes da elite que apoiaram a Confederação se retiraram do levante.
De outro lado, o governo imperial tomou medidas severas contra o movimento separatista. Dom Pedro I pediu empréstimos à Inglaterra e contratou mercenários ingleses para que lutasse contra os revoltosos. Não resistindo ao enfraquecimento interno do movimento e a dura reação imperial, a Confederação do Equador teve seu fim. Dezesseis envolvidos foram acusados e executados pelas instituições judiciárias do Império. Entre eles, Frei Caneca teve como pena a morte por fuzilamento.
As ideias liberais da Confederação chegam ao Piauí através de revoltosos cearenses. Em agosto de 1824, Parnaíba proclama a sua adesão à Confederação, Campo Maior também adere ao movimento. Os oeirenses logo tomam conhecimento do ocorrido. O governador Manuel de Sousa Martins prepara a repressão ao movimento, mandando tropas para fechar as Câmaras de Parnaíba e Campo Maior. 
Porém, a repressão no Piauí não chega a ser muito violenta. Sousa Martins exige que os revoltosos prestem juramento à Constituição e jurem fidelidade ao Imperador. Com isso, Manuel de Sousa Martins consolida definitivamente o seu poder no Piauí.
BALAIADA: a guerrilha sertaneja
A Balaiada foi um movimento social ocorrido no Piauí, Maranhão e Ceará, do final de 1838 a fins de 1841. De um lado, grandes proprietários de terra e de escravos, autoridades provinciais e comerciantes; de outro, vaqueiros, artesãos, lavradores, escravos e pequenos fazendeiros (mestiços, mulatos, sertanejos, índios e negros) sem direito à cidadania e acesso à propriedade da terra, dominados e explorados por governos clientelistas e autoritários formados pelas oligarquias locais que ascenderam ao poder político com a “proclamação da independência” do país.
A Balaiada ocorreu simultaneamente no Maranhão e no Piauí, mas este texto concentra-se no movimento da Província do Piauí, procurando desvendar até que ponto ele teve autonomia, em oposição à visão da historiografia dominante segundo a qual ele teria sido apenas uma repercussão dos acontecimentos do Maranhão.
O objetivo principal deste texto é destacar a participação popular no movimento balaio, através do exame da sua composição social, das formas de organização, mobilização, táticas, reivindicações, lideranças e das suas possíveis causas. Além disto, põe-se em relevo a eficácia da repressão liderada pelos governos provincial e imperial e o uso de toda uma série de mecanismos utilizados para acabar com o movimento rebelde.
Segundo a maioria dos documentos e grande parte da historiografia, a Balaiada [1] teve início em dezembro de 1838 na Vila da Manga (MA), estendendo-se até meados de 1841, pelo Piauí e Ceará. Em agosto de 1840 foi decretada anistia assinada pelo Imperador D. Pedro II, mas as autoridades do Piauí e do Maranhão declararam a “pacificação” das províncias apenas em janeiro de 1841.
O período que vai de 1831 a 1840-41, conhecido como Regencial, é marcado pela deposição de D.Pedro I e por forte instabilidade política nas Províncias. No Grão-Pará, Piauí, Maranhão, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul, ocorreram insurreições, rebeliões e revoltas, algumas caracterizadas como revoluções. Todas violentamente reprimidas, passando para a história como Cabanagem, Balaiada, Cabanada, Sabinada e Farrapos. 
A produção historiográfica propriamente relacionada à Balaiada se concentra majoritariamente no movimento rebelde no Maranhão, traçando narrativas que enfatizam o seu caráter político e social do ponto de vista das camadas dominantes da época, senão da própria repressão, passando uma visão unilateral. Ao lado desse oficialismo há uma outra historiografia que aponta para uma interpretação descaracterizando a Balaiada como uma revolta de bandidos. Registre-se ainda uma outra bibliografia que estuda o movimento balaio no Piauí, e que destaca a participação dos escravos no movimento no Maranhão (Alencastre, 1872; Amaral, 1906; Assunção, 1988; Castelo Branco, 1983; Corrêa, s/d; Dias, 1985; Janotti, 1987; Magalhães, 1848; Meneses, 1839; Nunes, 1985; Oliveira, 1987; Rodrigo, 1942; Santos, 1983; Serra, s/d; Tavares, 1984).
A história social fornece os parâmetros para a análise da Balaiada. Mesmo considerando que toda história é social e que esta deva integrar os resultados da história demográfica, econômica, política, das idéias e das mentalidades, aos poucos vai se constituindo uma história social, delimitando-se o seu objetivo: “o estudo de grandes conjuntos, as classes, os grupos sociais, as categorias socioprofissionais”, sendo que o estudo da estrutura social, das estratificações e a análise dos movimentos sociais constituem-se nos seus principais domínios, entendida a história social nesse sentido estrito (Cardoso & Brignoli, 1979).
Ao se buscar a especificidade da Balaiada depara-se com uma variedade de termos que vão desde rebelião, revolta, sedição, insurreição, revolução e sublevação. Qualquer uma dessas manifestações podem ser enquadradas no conceito de movimento social, conceito precário e contraditório, entre os estudiosos da questão (Da Silva, 1981; Costa Muls, 1981). 
Para o historiador Luís Werneck da Silva (1981), os movimentos sociais seriam confrontações deliberadas e crônicas, de tempo longo, permanentes, entre grupos sociais populares e seus reconhecidos opressores e se caracterizariam por pressuporem uma organização. Já para a socióloga Costa Muls (1981), os elementos que configuram os diferentes movimentos sociais, conferindo-lhes especificidade, são a forma como se manifesta seu conteúdo, o significado das reivindicações, a complexidade e a amplitude da dimensão política de suas ações.
A participação popular na Balaiada, sua organização guerrilheira (trincheiras nas matas, ataques de surpresa, a mobilidade dos grupos, fechamento de estradas e outras táticas), sua dimensão geográfica, duração e a ameaça que representou, dão-lhe a conotação de um autêntico movimento popular, “um dos mais sérios e notáveis que o Brasil conheceu”, no dizer de Sodré (1978: 243).
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Para abordar a Balaiada é preciso compreender o contexto histórico no qual ela se insere: o processo de lutas pela emancipação política do país, que vem desde as conjurações do final do século XVIII e se estende até meados do XIX, quando se consolidou a monarquia constitucional. É uma delimitação que procura resgatar os diversos conflitos e mobilizações populares verificados no período, fugindo dos marcos da historiografia tradicional que “aprisiona os historiadores na constelação dos seus objetivos metodológicos e que determina a forma e o conteúdos das pesquisas” (De Decca, 1981: 14). 
O processo da Independência foi longo, penoso e violento, permeado de manifestações em várias províncias. O grito do Ipiranga constituiu-se em uma forma encontrada pelas elites para frear as idéias revolucionárias, manter a dinastia, os privilégios do antigo sistema colonial e garantir os interesses econômicos. O movimento de independência foi “um complexo processo no qual lançam suas raízes todos os desenvolvimentos decisivos ulteriores da sociedade brasileira” (Fernandes, 1976: 71).
Para Caio Prado Jr. a Independência teve a feição de um “arranjo político” articulado à reveliada sociedade brasileira. 
A grande propriedade não foi tocada; permaneceu a mesma estrutura de produção escravista e foi a oportunidade para a afirmação no poder local dos grupos proprietários de terra e de escravos e dos comerciantes, principalmente a partir da deposição de D. Pedro I em 1831. Esta decorreu da teimosia do Imperador que não cedia aos interesses das oligarquias brasileiras e insistia em governar com o apoio dos portugueses, inaugurando a Regência, uma das fases mais violentas do século XIX, e que “dá acabamento ao processo de Independência, definindo o campo e as formas políticas que ocupam e dão fisionomia ao Estado em nosso país” (Sodré, 1979: 249). 
Um estado elitista e autoritário, instrumento dos grupos dirigentes da época que “assumiram os novos papéis políticos e jurídicos ou administrativos em todas as esferas da organização do poder” (Fernandes, 1976: 16). A sociedade brasileira da primeira metade do século XIX permanecia com as mesmas características dos tempos coloniais e no Piauí não era diferente: grande parte da população era escrava, e quando livre, vivia em péssimas condições de pobreza, sem acesso ao trabalho e à terra.
O passado histórico da sociedade piauiense é marcado por lutas e conflitos sangrentos, constantes desde os tempos de sua colonização, quando a população nativa foi morta, escravizada, aldeada e expulsa para dar lugar às grandes fazendas de gado. [3] A guerra contra a população nativa foi longa e cruenta. O branco colonizador implantou uma estrutura baseada na pecuária extensiva, predadora e escravista - durante muito tempo a principal atividade econômica da província.
É a partir dessa época que surgem os grupos sociais: de um lado, os donos das fazendas, grandes sesmeiros, formando as camadas dirigentes; de outro, os posseiros, os vaqueiros, lavradores e escravos, as camadas populares inseridas em uma sociedade em transição cuja “superestrutura política já não correspondendo ao estado das forças produtivas e à infra-estrutura econômica do país se rompe, para dar lugar a outras mais adequadas às novas condições econômicas ...” (Prado Jr., 1979:47). Essa transição corresponde à crise do sistema colonial, às lutas pela independência e à formação de um Estado Nacional excludente do direito à cidadania e do acesso à terra para a imensa maioria da população pobre. É essa população pobre que explode em manifestações de descontentamento durante toda a Regência, como na Balaiada.
A PARTICIPAÇÃO POPULAR NA BALAIADA
A Balaiada foi um movimento que se estendeu por quase toda a província do Piauí, tanto no que se refere aos balaios, quanto às forças da repressão, envolvendo quase a totalidade de seus municípios, como Parnaíba, Piracuruca, Campo Maior, Jerumenha e Paranaguá, além das margens e vales dos principais rios (Parnaíba, Poty, Canindé, Gurgéia) e interior das matas, ocupados pelos rebeldes balaios, ou seja, os vaqueiros, artesãos, lavradores, pequenos fazendeiros, escravos, índios, mestiços e caboclos. Eles pegaram em armas e conduziram a Balaiada contra as arbitrariedades do Barão da Parnaíba que governava o Piauí desde 1823 de forma autoritária e clientelista. Este constitui um dos principais motivos que levaram os setores populares a participarem da Balaiada no Piauí e se unirem aos balaios do Maranhão.
O governo do Barão da Parnaíba formou verdadeiras trincheiras às margens do rio Parnaíba para tentar impedir a influência que os rebeldes do Maranhão exerciam sobre os do Piauí, para bloquear as constantes passagens pelo rio que une e separa o Piauí e o Maranhão. Com a intensificação do conflito cresciam as dificuldades do governo para conseguir recrutas, sendo obrigado a recorrer a reforços de fora da província. Os proprietários de fazendas de gado piauienses forneciam mantimentos como farinha e carne seca para as tropas. 
O recrutamento militar utilizado em todo o país foi uma das pistas para identificar a participação popular na Balaiada. Objetivando formar contingentes armados para combater as revoltas em todo o país, atingia basicamente as camadas pobres da população, constituindo-se em um instrumento opressivo sobre o caboclo, o mulato, o negro, a “arraia miúda” ou a “ralé”, segundo expressões da documentação oficial. A situação de pobreza e exploração tornava-se mais crítica, provocando resistência e deserções das “fileiras legais”. O recrutamento foi largamente utilizado desde o período colonial e à época da Balaiada foi intensificado pelos governos provincial e imperial. [4]
Mais uma pista importante para caracterizar a composição social da Balaiada diz respeito à origem de seus líderes, homens das camadas populares, tanto no Piauí quanto no Maranhão. Como o vaqueiro Raimundo Gomes que iniciou o movimento na Vila da Manga e foi visto em quase toda a província organizando grupos e mobilizando a população; como Manoel dos Anjos Ferreira, o “Balaio”, artesão da palha, cujo apelido deu nome ao movimento e, de todos eles, o mais radical. 
Outras lideranças também se destacaram: como o “Ruivo”, igualmente vaqueiro; os irmãos Aguiar, pequenos fazendeiros no Sul do Piauí e os controvertidos José Mascarenhas e Lívio Lopes Castelo Branco, ideólogos do movimento. Cosme Bento das Chagas, “o preto Cosme”, escravo foragido que liderou mais de seis mil escravos no Maranhão é outro líder, que se empenhara na união dos balaios com os escravos durante o auge do movimento, entre meados de 1839 e começo de 1840. A maioria dos líderes dos grupos balaios eram conhecidos por apelidos como Andorinha, Tempestade, Trovão, Relâmpago, etc., denotando a sua origem popular. Até hoje perdura esse hábito de apelidar as pessoas das camadas populares.
Para Caio Prado Jr., os balaios “não souberam ligar o seu movimento ao dos escravos, que teriam se aproveitado da agitação reinante, para levantar-se em vários pontos da província. Os levantes desconexos e mal orientados, em nada contribuíram para fortalecer a insurreição”. O autor minimiza a participação dos escravos, afirmando que tinham a “direção grosseira” de um escravo chamado Cosme, auto-intitulado Tutor, Imperador e Defensor das Liberdades de todo o Brasil. Mas não deixa de observar que “os chefes legais, tudo fizeram para impedir a união de sertanejos e escravos” (Prado Jr., 1979: 72).
Nossa opinião é a de que os escravos não se aproveitaram de nenhuma “agitação” para se organizarem em quilombos ou para fazerem suas insurreições, como foi o caso do quilombo do Cosme. A história da rebeldia escrava antecede aos movimentos do período regencial e se prolonga até a oficialização da abolição da escravidão. A rebeldia dos escravos existiu desde o início do regime escravista.
As autoridades temiam a união dos escravos rebeldes com os movimentos da população livre, e tomavam medidas de controle e manipulação para impedir, como por exemplo, a proibição de “ajuntamentos”; a figura do capitão do mato, prêmios para captura de escravos foragidos, a anistia que não alcançava os escravos, entre outras. 
A Balaiada no Piauí foi a expressão viva do descontentamento da população. Suas causas estão fincadas na estrutura agrária piauiense, baseada na grande propriedade pecuarista e na expropriação dos posseiros por meio dos dízimos. Os motivos mais imediatos relacionam-se com o governo ditatorial do Barão da Parnaíba, com as medidas de intensificação do recrutamento militar, além da Lei dos Prefeitos que prejudicara as lideranças municipais opositoras ao regime político.
De 1839 a meados de 1841, o Piauí foi praticamente tomado pelo movimento, que ocupou uma extensa área compreendendo os vales e ribeiras dos principais rios, principais povoações e vilas, de Parnaíba ao norte até Parnaguá ao sul da província e as matas férteis do interior, além de repercutir nas províncias vizinhas.
O movimento balaio contou com a participação de diversos grupos sociais, como os pequenos fazendeiros, vaqueiros, artesãos, lavradores, escravos, índios, formando uma massa heterogênea complexa, cuja principal reivindicação - o fim do governodo Barão da Parnaíba - unia a todos. Foram essas camadas populares que enfrentaram a violenta repressão comandada pelo Barão da Parnaíba, Brigadeiro Manoel de Souza Martins.
Aparentemente o movimento não propunha mudanças estruturais da sociedade e a maioria da população nele engajada não estaria preparada para formular suas reivindicações, mas sem dúvida, estava disposta a se livrar da opressão e conquistar a liberdade individual. 
A Balaiada foi um movimento único no Maranhão e no Piauí: as lideranças atuaram em ambas as províncias; os grupos de rebeldes se locomoviam de uma para outra; as táticas de guerrilha foram usadas simultaneamente (ataques às fazendas, libertação dos escravos das fazendas). A área geográfica tem as mesmas características (vale dos rios, interior das matas), bem como as reivindicações se assemelhavam, além de sofrerem uma repressão que agiu unida.
O que distingue o movimento no Piauí é a ditadura do Barão da Parnaíba. No Maranhão, os presidentes eram substituídos praticamente todos os anos, criando grande instabilidade política, econômica e social, enquanto no Piauí o Barão permanecia. As condições de vida da população eram as mesmas e o estopim do movimento - o recrutamento militar - era intenso em ambas as províncias.
No decorrer de todo o movimento, uma das táticas mais usadas pelo aparato repressor foi impedir o contato entre os balaios das duas províncias (fortificando acampamentos militares às margens do rio Parnaíba). Apesar disso os grupos de balaios passavam de um lado a outro do rio, juntando-se para “tomarem” as vilas mais importantes e atacarem as capitais, rigorosamente defendidas, sobretudo depois da tomada espetacular de Caxias, no Maranhão. No Piauí, os balaios cercaram várias vilas, mas não chegaram a ocupar nenhuma delas, e a capital, continuamente ameaçada, nunca foi atacada.
Os balaios propunham um novo governo, tendo como base o pacto social elaborado por um dos líderes, que representava a parcela dos pequenos fazendeiros. Como sempre sucede, a massa popular analfabeta e rude está apta para lutar e escolher os seus líderes, mas não para governar, contradição presente também em outros movimentos. 
As lideranças dos fazendeiros que formavam uma parcela alfabetizada é enfatizada pela historiografia resistente em reconhecer a liderança originada dos grupos populares, citados na documentação por apelidos, mas que não deixaram seus próprios documentos por serem analfabetos. O índios, os escravos, os sertanejos pobres, não souberam formular suas idéias, mas na prática, agiram em sua defesa.
A REPRESSÃO ARMADA
Para enfrentar e vencer os balaios rebeldes e garantir a manutenção da ordem pública, o governo do Piauí se armou com forças internas e contingentes de outras províncias, utilizando toda sorte de táticas e métodos. A organização das “forças legais” espelha o nível da repressão. Observando-se o tipo de armamento usado, os meios usados para formar as tropas (mercenários, aventureiros e jagunços), inclusive a ajuda recebida de outras províncias, como Rio de Janeiro, Bahia e Ceará, tem-se uma idéia do nível da repressão desencadeada contra os balaios.
Graças ao prestígio pessoal do Barão da Parnaíba, o governo provincial recebeu apoio dos fazendeiros piauienses para o abastecimento das tropas, além de dinheiro, armas e munição provenientes de outras províncias, o que explica muito bem a derrota dos balaios. Embora estes fossem muito mais numerosos, em geral saiam derrotados dos combates mais importantes (estrategicamente planejados), inclusive nos conflitos próprios da guerra de guerrilha, que era usada por ambos os lados. [5]
A quantificação dos efetivos dos balaios é confusa e dificilmente pode ser precisada devido à grande mobilidade dos grupos que formavam a espinha dorsal do movimento rebelde. Segundo a repressão, no Maranhão eles teriam chegado à cifra de 11.000 balaios e no Piauí, entre 6 a 8.000. Esses dados são imprecisos, mas calculando que foram mais de 6.000 os mortos e os prisioneiros entre as dezenas de grupos de balaios espalhados pela província, pode-se ter uma idéia aproximada.
A repressão foi violenta, com ataques aos acampamentos dos balaios, combates corpo a corpo, típicos de uma verdadeira guerra civil. Nesses combates, as forças da repressão apreendiam a “bagagem” dos balaios, contendo panfletos, proclamações, planos, conforme consta nas correspondências enviadas ao presidente da província do Piauí. Nada disso tem sido encontrado.
Para reforçar a guerra contra os balaios, o governo regencial, em fins de 1839, enviou para o Maranhão o oficial do exército Luiz Alves de Lima, mas no Piauí o Barão da Parnaíba, presidente e comandante das armas da província garantiu a repressão, dirigindo as operações militares diretamente de Oeiras, então a capital do Piauí. Ambos receberam títulos de nobreza pela façanha de pacificar as províncias. O primeiro, agraciado com o título de Barão de Caxias e o segundo, de Barão passou a Visconde.
O aparato repressor contou com um contingente superior a 6 mil praças e o seu material bélico era infinitamente maior que o dos balaios. O governo compreendia que somente o poder das armas venceria um movimento das dimensões da Balaiada cuja participação popular crescia e ameaçava o governo da província.
A eficácia da repressão armada é o fator primordial para a derrocada geral da Balaiada e não a falta de uma organização, de uma base ideológica ou a formulação de programa alternativo de governo. O governo foi mais eficaz: contou com recursos suficientes e, com isso, conseguiu conter o movimento, coibir e refrear o fluxo daqueles que se organizavam para expressar o descontentamento popular.
Os balaios não estavam preparados para enfrentar um aparato militar de tamanha envergadura, cujos oficiais comandantes conheciam a tática da guerrilha, adotada pelas duas partes, numa tradição de revoltas que vinha desde as lutas pela independência. Além disso, empenhado em manter a ordem, o governo soube aproveitar as dissensões internas do movimento, acenando com a anistia concedida pelo imperador D. Pedro II em 1840 e fechando o cerco em torno das maiores concentrações dos balaios, no interior das matas de Campo Maior, Parnaíba e Parnaguá. O governo adotou também a tática de fortalecer as fazendas, para impedir que os balaios obtivessem recursos para seu sustento alimentar.
A repressão armada significa violentar, conter, punir, castigar, ou seja, é o exercício da ação pela força. Mas a repressão “não é apenas uma imposição exterior que despenca sobre nós, mas também um fenômeno sutil de interiorizarão das proibições e interdições externas” e, nesse sentindo, a repressão aparece “como um ato de domínio e de dominação, e o reprimido como submissão à vontade e à força alheia - como que uma alienação” (Chauí, 1984: 13). Visto dessa maneira, a repressão à Balaiada também se reveste de forma ideológica, na medida em que ela adulterou a memória dos balaios, prolongando-se ao longo do processo histórico. 
A eficácia da repressão extrapola o fim do movimento, atingindo qualquer tipo de oposição e contestação, gerando uma historiografia que difunde o ponto de vista oficial. Os grupos sociais que comandaram a repressão saíram fortalecidos politicamente. Puderam inculcar por gerações uma versão unilateral sobre o movimento, ocultando da memória coletiva esse passado violento. A sociedade piauiense se desenvolveu desconhecendo um fato da maior relevância para a sua história.
CONCLUSÃO
Segundo a tradição dominante em nossa história, as classes populares seriam ignorantes e alienadas, incapazes de conduzirem os seus próprios interesses e de realizarem mudanças. Aqueles que ousaram se levantar contra a ordem social sempre foram vistos como bandidos, subversivos ou terroristas, argumento que as classes dominantes utilizam para justificar a dominação e a repressão, quando o status quo é ameaçado.
Daí os movimentos pela independência serem fatos minimizados, justamente por mobilizarem a população em várias partes dopaís. Todos foram violentamente reprimidos pelas forças dos governos regencial e imperial. A memória histórica tem sido descaracterizada para dar lugar a uma visão de que quem dispõe de condições e de capacidade para dirigir e governar são sempre minorias proprietárias e elites intelectualizadas - mentalidade que permanece até os dias atuais e só contribui para manter a acomodação e o autoritarismo.
De fato, as lutas pela Independência foram abafadas e em seu lugar forjou-se a consciência do brasileiro pacífico, avesso à violência e a história dos mitos e dos heróis.
Que relevância teria para a história do Brasil um estudo que realça um movimento popular ocorrido no século passado em um estado pobre e esquecido como o Piauí? Que relação teria esse movimento com as lutas de independência e com o processo de formação do Estado nacional?
A história apresenta uma dinâmica de fatos e acontecimentos de tal ordem que é impossível elaborar um conhecimento global, mesmo que seja o estudo de um aspecto, de um caso. A Balaiada no Piauí é um acontecimento que durante muito tempo escapou à maioria dos historiadores. 
Um dos primeiros a estudá-la foi o Professor Odilon Nunes, historiador autodidata que pesquisou em documentos da época e publicou um volume em Pesquisas para a História do Piauí, na década de 1970 (Nunes, 1975). Ele proporciona um conjunto significativo de sugestões para a continuação das pesquisas em vários aspectos da história do Piauí ainda sem estudos mais aprofundados, como a guerra de extermínio das populações nativas durante a colonização, os conflitos de terras com a ocupação por colonos e colonizadores, a participação popular nas lutas pela Independência e na Balaiada; as tradições culturais, a família, a escravidão, a economia pecuarista, o cotidiano nas fazendas, os jesuítas, e muitos outros. Mas a visão que transmite sobre os balaios alterna o reconhecimento dos balaios como bravos camponeses e sertanejos e como ferozes bandidos.
Essa obra de Odilon Nunes poderá orientar outros pesquisadores dos movimentos populares do século XIX no Brasil, não só por chamar a atenção para um período tão pouco conhecido, como pelas novas questões sugeridas para um novo enfoque de história social no Piauí, abrindo interessantes perspectivas metodológicas.
Com a derrota dos balaios, mantiveram-se as péssimas condições de vida da população piauiense e o analfabetismo; as oligarquias rurais se fortaleceram mais ainda sob a liderança do Barão da Parnaíba que governou o Piauí até o ano de 1843, quando o governo do Segundo Império resolveu destituí-lo, após denúncias e acusações feitas por um irmão seu, deputado federal na Corte do Rio de Janeiro pela província do Ceará.
A historiografia brasileira ainda continua difundindo a idéia de que a Balaiada ocorreu apenas no Maranhão.
 [1] Nome dado pela historiografia, devido ao apelido de Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, o Balaio, um dos líderes mais importantes do movimento, artesão da palha.
 [2] Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Biblioteca Nacional e Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, Gabinete Real Português e Casa Anísio Brito (Arquivo Público do Piauí).
 [3] Os conflitos de terra primeiro ocorreram entre a população nativa e os sesmeiros, depois entre posseiros e sesmeiros. Em 1697 existiam mais de 100 fazendas de gado no Piauí e em 1762 elas superavam a 500, espalhadas por toda a capitania, margeando os principais rios.
 [4] A correspondência entre as autoridades do Piauí com as de outras província e com o governo no Rio de janeiro é significativa. Ver o Livro de Registro de Ofícios para fora da Província - 1836/1843. Arquivo Público do Piauí, Teresina.
 [5] Esses aspectos estão relatadas em várias correspondências. Ver o Livro de Registro de ofícios para fora da Província (1836/1843) - Livro 163. Casa Anísio Brito, Teresina-PI

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