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Superior Tribunal de Justiça HABEAS CORPUS Nº 187.406 - RJ (2010/0187308-1) RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA IMPETRANTE : CELINA MARIA BRAGANÇA CAVALCANTI - DEFENSORA PÚBLICA E OUTRO IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PACIENTE : WILLIAN DANIEL DOS SANTOS RELATÓRIO MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA: Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de WILLIAN DANIEL DOS SANTOS, apontando-se como autoridade coatora a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (Apelação Criminal n.º 0008771-26.2009.8.19.0202). O paciente foi condenado à pena de 6 anos, 2 meses e 20 dias de reclusão, em regime semiaberto, e 26 dias-multa, pelo suposto cometimento de roubos circunstanciados, em concurso formal. Colhe-se da sentença (fls. 15/24): O réu perpetrou os crimes de roubo em concurso formal em face das vítimas ALEXANDRE QUEIROZ DA SILAV e ALEX SANDRO DOS SANTOS AMORA, vez que com uma só ação subtraiu bens de patrimônios diversos. (...) Atenta ao processo trifásico de aplicação da pena, adotado por nosso Estatuto Penal, inicialmente passo a analise das circunstâncias judiciais previstas em seu art. 59. O réu cometeu os crimes em via pública, em plena luz do dia em local movimentado, dentro de transporte coletivo e sem medo de mostrar o rosto o que denota personalidade violenta, extremamente audaciosa e confiante na impunidade. Fixo assim, a pena-base acima do mínimo legal, ou seja, em 4(quatro) anos e 4(quatro) meses de reclusão e 14(quatorze) dias-multa. Reconheço a circunstância atenuante prevista no art. 65, inc. I do CP, reduzindo a pena ao mínimo legal de 4(quatro) anos de reclusão e 10(dez) dias-multa. Face ao disposto no inciso II do par. 2o. do art. 157 do CP, aumento a pena em 1/3 (um terço), resultando em 5(cinco) anos e 4(quatro) meses de reclusão e 13(treze) dias multa. Considerando a existência de concurso formal de crimes, no caso 2(dois) crimes com uma única ação, aumento a pena em 1/6(um sexto), fixando a pena privativa de liberdade em 6 (seis) anos, 2 (dois) meses e 20(vinte) dias de reclusão. Tendo em vista a regra do art. 72 do Código Penal, fixo a pena de multa em 26(vinte e seis) dias-multa. Fixo o valor do dia-multa no mínimo legal. Imponho o regime inicialmente semiaberto para o cumprimento da pena, tendo em vista as circunstâncias judiciais já declinadas por ocasião da Documento: 27259189 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 de 8 Superior Tribunal de Justiça fixação da pena-base. Em sede de apelação, que manteve integralmente a sentença, o Tribunal de origem consignou (fls. 30/37): Por outro lado, não há como se acolher o pleito de afastamento do concurso formal de delitos, com o reconhecimento do crime único, levantado pela Defesa, eis que é inconteste que o apelante e seus comparsas, mediante uma só ação, cometeram dois crimes de roubo. Está demonstrado que houve subtração de pertences do patrimônio individual de ambos os lesados. Assim, tendo havido violação e desfalque em dois patrimônios distintos, caracterizados estão dois roubos, que foram perpetrados em concurso formal. Da mesma forma, não há como se prover o pleito de abrandamento do regime prisional, uma vez que a conduta praticada pelo apelante Willian é extremamente grave e tem causado repulsa e intranquilidade na sociedade e abalo na ordem pública. Além disso, na fixação do regime, devem ser consideradas as circunstâncias judiciais nos termos do § 3° do artigo 33 do Código Penal. Neste mandamus , a Defesa sustenta que "o crime de roubo a que responde o paciente ocorreu no interior de um coletivo, no qual, mediante uma única ação, houve a subtração dos bens de duas vítimas distintas". Informa que "a ação perpetrada decorreu em fração de minutos". Defende que "em razão do escasso tempo quando da realização da prática, bem como em virtude da realização no mesmo local, há que ser admitida a prática de crime único". Aduz que, "em sendo admitida a tese defensiva, no que concerne à aceitação do crime único, a redução da pena importará na possibilidade da fixação do regime menos gravoso para cumprimento da pena, qual seja, o regime aberto". Pugna pela concessão da ordem para que se afaste o concurso foral, reconhecendo a existência de crime único, bem como se fixe o regime aberto, além da redução da pena pecuniária. Com as informações (fls. 49/70), o Ministério Público Federal opina pela denegação da ordem (fls. 73/75). Em consulta à página eletrônica do Tribunal de origem, nota-se que o paciente obteve a progressão para o regime aberto em 26.01.2011. Contudo, em 02.03.2012 foi suspensa a saída temporária deferida, dada a sua evasão. Aguarda-se o cumprimento do mandado de prisão expedido (fls. 77/79). É o relatório. Documento: 27259189 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 2 de 8 Superior Tribunal de Justiça HABEAS CORPUS Nº 187.406 - RJ (2010/0187308-1) EMENTA HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DE RECURSO ESPECIAL. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. ROUBOS MAJORADOS. VÍTIMAS DIFERENTES. ÚNICA AÇÃO. CONCURSO FORMAL. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE PATENTE. NÃO CONHECIMENTO. 1. É imperiosa a necessidade de racionalização do emprego do habeas corpus , em prestígio ao âmbito de cognição da garantia constitucional, e, em louvor à lógica do sistema recursal. In casu , foi impetrada indevidamente a ordem como substitutiva de recurso especial. 2. Não há ilegalidade a ser reconhecida se as instâncias originárias justificaram adequadamente a configuração do concurso formal, haja vista o cometimento de dois crimes de roubos, contra vítimas diferentes, mediante uma só ação. A despeito do exíguo tempo, não há falar em crime único. 3. Writ não conhecido. VOTO MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA(Relatora): Preliminarmente, cumpre registrar a compreensão firmada nesta Corte, sintonizada com o entendimento do Pretório Excelso, de que se deve racionalizar o emprego do habeas corpus , valorizando a lógica do sistema recursal. Nesse sentido: HABEAS CORPUS – JULGAMENTO POR TRIBUNAL SUPERIOR – IMPUGNAÇÃO. A teor do disposto no artigo 102, inciso II, alínea “a”, da Constituição Federal, contra decisão, proferida em processo revelador de habeas corpus, a implicar a não concessão da ordem, cabível é o recurso ordinário. Evolução quanto à admissibilidade do substitutivo do habeas corpus. PROCESSO-CRIME – DILIGÊNCIAS – INADEQUAÇÃO. Uma vez inexistente base para o implemento de diligências, cumpre ao Juízo, na condução do processo, indeferi-las. (HC 109956, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 07/08/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 10-09-2012 PUBLIC 11-09-2012) É inadmissível que se apresente como mera escolha a interposição de recurso ordinário, do recurso especial/agravo de inadmissão do Resp ou a impetração do habeas corpus . É imperioso promover-se a racionalização do emprego do mandamus , sob pena de sua hipertrofia representar verdadeiro índice de ineficácia da intervenção dos Tribunais Superiores. Inexistente clara ilegalidade, não é de se conhecer da impetração. Passa-se, então, à verificação da ocorrência de patente ilegalidade. Documento: 27259189 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 3 de 8 Superior Tribunal de Justiça Colhe-se da sentença (fls. 15/24): O réu perpetrou os crimes de roubo em concurso formal em face das vítimas ALEXANDRE QUEIROZ DA SILAV e ALEX SANDRO DOS SANTOS AMORA, vez que com uma só ação subtraiu bens de patrimônios diversos. (...) Atenta ao processo trifásico de aplicação da pena, adotado por nosso Estatuto Penal, inicialmente passo a analise das circunstâncias judiciais previstas em seu art. 59. O réu cometeu os crimesem via pública, em plena luz do dia em local movimentado, dentro de transporte coletivo e sem medo de mostrar o rosto o que denota personalidade violenta, extremamente audaciosa e confiante na impunidade. Fixo assim, a pena-base acima do mínimo legal, ou seja, em 4(quatro) anos e 4(quatro) meses de reclusão e 14(quatorze) dias-multa. Reconheço a circunstância atenuante prevista no art. 65, inc. I do CP, reduzindo a pena ao mínimo legal de 4(quatro) anos de reclusão e 10(dez) dias-multa. Face ao disposto no inciso II do par. 2o. do art. 157 do CP, aumento a pena em 1/3 (um terço), resultando em 5(cinco) anos e 4(quatro) meses de reclusão e 13(treze) dias multa. Considerando a existência de concurso formal de crimes, no caso 2(dois) crimes com uma única ação, aumento a pena em 1/6(um sexto), fixando a pena privativa de liberdade em 6 (seis) anos, 2 (dois) meses e 20(vinte) dias de reclusão. Tendo em vista a regra do art. 72 do Código Penal, fixo a pena de multa em 26(vinte e seis) dias-multa. Fixo o valor do dia-multa no mínimo legal. Imponho o regime inicialmente semiaberto para o cumprimento da pena, tendo em vista as circunstâncias judiciais já declinadas por ocasião da fixação da pena-base. Já o Tribunal de origem consignou (fls. 30/37): Por outro lado, não há como se acolher o pleito de afastamento do concurso formal de delitos, com o reconhecimento do crime único, levantado pela Defesa, eis que é inconteste que o apelante e seus comparsas, mediante uma só ação, cometeram dois crimes de roubo. Está demonstrado que houve subtração de pertences do patrimônio individual de ambos os lesados. Assim, tendo havido violação e desfalque em dois patrimônios distintos, caracterizados estão dois roubos, que foram perpetrados em concurso formal. Da mesma forma, não há como se prover o pleito de abrandamento do regime prisional, uma vez que a conduta praticada pelo apelante Willian é extremamente grave e tem causado repulsa e intranquilidade na sociedade e abalo na ordem pública. Além disso, na fixação do regime, devem ser consideradas as circunstâncias judiciais nos termos do § 3° do artigo 33 do Código Penal. Como visto, restou devidamente justificada a configuração do concurso Documento: 27259189 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 4 de 8 Superior Tribunal de Justiça formal, haja vista o cometimento de dois crimes de roubos, contra vítimas diferentes, mediante uma só ação. A despeito do exíguo tempo, não há falar em crime único. Sobre o tema, confiram-se os seguintes julgados: HABEAS CORPUS. PENAL. CRIMES DE ROUBO CONSUMADO. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA. PLEITO DE AFASTAMENTO DOS MAUS ANTECEDENTES. FOLHA PENAL DO PACIENTE NÃO JUNTADA. AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. DELITOS PRATICADOS MEDIANTE UMA SÓ AÇÃO, CONTRA DIVERSAS VÍTIMAS. PATRIMÔNIOS DISTINTOS. CONCURSO FORMAL CONFIGURADO. REGIME PRISIONAL FECHADO. LEGALIDADE. INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 59 E 33, § 2º, DO CÓDIGO PENAL. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. Impossível infirmar a conclusão de existência dos maus antecedentes, quando a Defesa, detentora do ônus de demonstrar de plano o constrangimento ilegal suportado pelo Paciente, não junta a folha de antecedentes penais ou certidão cartorária equivalente aos autos, não permitindo, assim, se aferir se, quando do cometimento do delito objeto do presente writ, o Paciente ostentava ou não, de fato, condenações definitivas anteriores. 2. Resta caracterizado o concurso formal quando praticado o crime de roubo, mediante uma só ação, contra vítimas distintas, pois atingidos patrimônios diversos. Precedentes. 3. Fixada a pena-base acima do mínimo legal, pelo reconhecimento fundamentado de circunstância judicial desfavorável ao réu, não há ilegalidade na imposição do regime prisional mais gravoso, valendo-se da interpretação conjunta dos arts. 59 e 33, § 2º, ambos do Código Penal. 4. Habeas corpus denegado. (HC 203.597/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 18/12/2012, DJe 01/02/2013) HABEAS CORPUS. ROUBO DUPLAMENTE MAJORADO. WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. DESVIRTUAMENTO. PRECEDENTES DO STF. DOSIMETRIA. PENA-BASE. CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO POR FATO POSTERIOR AO ILÍCITO ANALISADO. IMPOSSIBILIDADE. ARMA DE FOGO. APREENSÃO E PERÍCIA. DESNECESSIDADE. EXISTÊNCIA DE OUTROS MEIOS DE PROVA QUE COMPROVAM O EFETIVO EMPREGO DE ARMA. FRAÇÃO DAS MAJORANTES. AUMENTO DA PENA EM 3/8. CRITÉRIO QUANTITATIVO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO CONCRETA. CONCURSO FORMAL. CONFIGURAÇÃO. DELITOS DE ROUBO PRATICADOS MEDIANTE UMA SÓ AÇÃO, CONTRA VÍTIMAS DISTINTAS. CONCURSO FORMAL. QUANTUM DE AUMENTO. MATÉRIA NÃO ANALISADA PELA CORTE ESTADUAL. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. EXECUÇÃO. REGIME INICIAL SEMIABERTO. PRETENDIDA IMPOSIÇÃO. POSSIBILIDADE. PENA INFERIOR A 8 ANOS DE RECLUSÃO. PRIMARIEDADE. FAVORABILIDADE DE TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. MANIFESTO CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 1. É imperiosa a necessidade de racionalização do habeas corpus, a fim Documento: 27259189 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 5 de 8 Superior Tribunal de Justiça de preservar a coerência do sistema recursal e a própria função constitucional do writ, de prevenir ou remediar ilegalidade ou abuso de poder contra a liberdade de locomoção. 2. O remédio constitucional tem suas hipóteses de cabimento restritas, não podendo ser utilizado em substituição a recursos processuais penais, a fim de discutir, na via estreita, tema afetos a apelação criminal, recurso especial, agravo em execução e até revisão criminal, de cognição mais ampla. A ilegalidade passível de justificar a impetração do habeas corpus deve ser manifesta, de constatação evidente, restringindo-se a questões de direito que não demandem incursão no acervo probatório constante de ação penal. 3. No cálculo da pena-base, é impossível a consideração de condenação transitada em julgado correspondente a fato posterior ao narrado na denúncia, seja para valorar negativamente os maus antecedentes, a personalidade ou a conduta social do agente. Precedentes. 4. Para a incidência da majorante prevista no inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal, mostra-se prescindível a apreensão e perícia da arma para a comprovação do seu efetivo poder vulnerante, quando existirem nos autos elementos de prova que atestem o seu emprego na ação criminosa (EREsp n. 961.863/RS). Precedentes. 5. A simples existência de duas ou mais majorantes do crime de roubo não é suficiente, por si só, para ensejar o aumento de pena superior ao mínimo legalmente previsto, qual seja, 1/3, devendo a escolha da fração ser pautada pelo critério subjetivo, em obediência ao princípio constitucional da individualização da pena. 6. Ausente fundamentação concreta que justifique a imposição de fração superior à mínima legalmente prevista, evidente o constrangimento ilegal de que estaria sendo vítima o paciente, devendo, por isso mesmo, ser estabelecido o aumento de 1/3 na terceira etapa da dosimetria. 7. Resta caracterizado o concurso formal quando, mediante uma só ação, é praticado o crime de roubo contra vítimas distintas, pois atingidos patrimônios diversos. Precedentes. 8. Verificando-se que a Corte estadual não analisou a pretendida alteração do quantum de aumento de pena fixado em razão do concurso formal - de 1/3 para 1/6 -, fica impossibilitada a apreciação dessa questão diretamente por este Superior Tribunal, sob pena de incidir na indevida supressão de instância. 9. A gravidade abstrata do delito não justifica a determinação de regime mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta. Inteligência da Súmula 440/STJ. Precedentes. 10. Mostra-se devida a imposição do regime inicial semiaberto aos condenados à pena inferior a 8 anos de reclusão, quando primários, detentoresde bons antecedentes e favoráveis todas as circunstâncias judiciais, nos termos do art. 33, § 2º, c, e § 3º, do Código Penal. 11. Ordem não conhecida. Habeas corpus concedido de ofício, para reduzir a pena-base do paciente ao mínimo legal, fixar o aumento de 1/3 em decorrência das duas causas especiais de aumento (emprego de arma e concurso de agentes), tornando a reprimenda do acusado definitiva em 7 anos, 1 mês e 10 dias de reclusão e pagamento de 26 dias-multa, bem como para fixar-lhe o regime inicial semiaberto de execução. (HC 202.176/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 04/12/2012, DJe 13/12/2012) Documento: 27259189 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 6 de 8 Superior Tribunal de Justiça HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO PREVISTO NO ORDENAMENTO JURÍDICO. 1. NÃO CABIMENTO. MODIFICAÇÃO DE ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL. RESTRIÇÃO DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL. MEDIDA IMPRESCINDÍVEL À SUA OTIMIZAÇÃO. EFETIVA PROTEÇÃO AO DIREITO DE IR, VIR E FICAR. 2. ALTERAÇÃO JURISPRUDENCIAL POSTERIOR À IMPETRAÇÃO DO PRESENTE WRIT. EXAME QUE VISA PRIVILEGIAR A AMPLA DEFESA E O DEVIDO PROCESSO LEGAL. 3. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. EMPREGO DE ARMA DE FOGO. RECONHECIMENTO DE CRIME ÚNICO (SEGUNDO FATO). IMPOSSIBILIDADE. DUAS VÍTIMAS. PATRIMÔNIOS DISTINTOS. CONCURSO FORMAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. 4. PEDIDO DE UNIFICAÇÃO DE PENAS RELATIVAMENTE AO PRIMEIRO E SEGUNDO FATOS. REQUISITO SUBJETIVO NÃO PREENCHIDO. REITERAÇÃO CRIMINOSA. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE MANIFESTA. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. 5. REINCIDÊNCIA E CONFISSÃO ESPONTÂNEA. COMPENSAÇÃO. POSSIBILIDADE. ERESP Nº 1.154.752/RS 6. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, buscando a racionalidade do ordenamento jurídico e na funcionalidade do sistema recursal, vinha se firmando, mais recentemente, no sentido de ser imperiosa a restrição do cabimento do remédio constitucional às hipóteses previstas na Constituição Federal e no Código de Processo Penal. Louvando o entendimento de que o Direito é dinâmico, sendo que a definição do alcance de institutos previstos na Constituição Federal há de fazer-se de modo integrativo, de acordo com as mudanças de relevo que se verificam na tábua de valores sociais, esta Corte passou a entender ser necessário amoldar a abrangência do habeas corpus a um novo espírito, visando restabelecer a eficácia de remédio constitucional tão caro ao Estado Democrático de Direito. Precedentes. 2. Atento a essa evolução hermenêutica, o Supremo Tribunal Federal passou a adotar decisões no sentido de não mais admitir habeas corpus que tenha por objetivo substituir o recurso ordinariamente cabível para a espécie. Precedentes. Contudo, considerando que a modificação da jurisprudência firmou-se após a impetração do presente mandamus, devem ser analisadas as questões suscitadas na inicial no afã de verificar a existência de constrangimento ilegal evidente, a ser sanado mediante a concessão de habeas corpus de ofício, evitando-se, assim, prejuízos à ampla defesa e ao devido processo legal. 3. A jurisprudência desta Corte tem entendimento pacífico de que, se com uma só ação houve lesão ao patrimônio de várias vítimas, está configurado concurso formal, e não delito único. No caso, as instâncias ordinárias, de maneira fundamentada, afirmaram que o paciente, em uma única ação, subtraiu bens de vítimas diferentes (segundo fato), conduta que se amolda, nos limites do habeas corpus, à hipótese de concurso formal de crimes, nos termos do art. 70 do Código Penal. Precedentes. 4. Relativamente ao art. 71 do Código Penal, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça adota a teoria híbrida, exigindo para a aplicação da ficção jurídica a presença das condições objetivas, bem assim a demonstração da denominada relação de contexto entre as diversas infrações Documento: 27259189 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 7 de 8 Superior Tribunal de Justiça penais. Na espécie, relativamente ao primeiro e segundo fatos, as instâncias ordinárias aplicaram a regra do art. 69 do Código Penal, destacando tratar-se de criminoso habitual, não sendo possível, em tema de habeas corpus, debater matéria de fato discutida na causa e decidida com base na prova dos autos para desconstituir as afirmações do julgador. 5. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento dos Embargos de Divergência n.º 1.154.752/RS, assentou a compreensão de que é possível a compensação entre a agravante da reincidência e a atenuante da confissão espontânea. 6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício, apenas para compensar a agravante da reincidência com a atenuante da confissão espontânea. (HC 143.303/DF, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 27/11/2012, DJe 04/12/2012) Afastada a pretensão de reduzir a reprimenda, dispensa-se a apreciação do pleito consequente, atinente ao regime prisional, cabendo registrar, de qualquer sorte, que o paciente já obteve a progressão para o regime aberto, mas fugiu. Assim, tem-se que a impetração substitutiva não comporta a extraordinária cognição. Ante o exposto, não conheço do habeas corpus . É como voto. Documento: 27259189 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 8 de 8
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