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Comentarios_carater_aberto_CRFB88

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Comentários sobre o caráter aberto da CRFB/88 
 
Cientificamente falando, não existe um sistema jurídico composto somente 
por princípios, nem somente por regras. Como lembra Canotilho, "não haveria 
qualquer espaço livre para a complementação e desenvolvimento de um 
sistema, como o constitucional, que é necessariamente um sistema aberto". 
Um sistema constitucional pautado apenas em princípios resolveria o proble-
ma da incompletude das regras, porém, pecaria pelo alto grau de 
indeterminação e de insegurança jurídica. Para usar linguagem de Luhmann, 
um sistema puro de princípios não realizaria a função do Direito, que é 
"reduzir complexidade". 
 
Assim, podemos concluir que a Constituição de 1988 deve ser percebida como 
um sistema aberto que desloca para a centralidade do ordenamento jurídico a 
força normativa de regras e princípios, e não, apenas de regras, como no 
sistema anterior. O intérprete ganha maior autonomia para realizar a 
Constituição, pois, tem maior legitimidade para captar o significado da letra 
da lei in abstrato transformando-a em norma efetivamente concretizada. 
 
Enfim, não podemos negar que a teorização de um direito 
"constitucionalmente aberto" é a mais consentânea com a Carta Magna de 
1988, que é classificada como sendo uma “constituição compromissória”, vale 
definir uma constituição que tenta harmonizar, ao mesmo tempo, os valores 
da democracia liberal e da social democracia. Ou seja, o legislador 
constituinte originário optou por positivar normas abertas que pudessem 
conciliar as duas correntes ideológicas em conflito. O melhor exemplo disso é 
o artigo 170 da CRFB/88 que coloca de um lado a livre iniciativa e do outro a 
valorização do trabalho humano e os ditames da justiça social. Igualmente, 
dispõe sobre a livre concorrência e o direito à propriedade e de outra banda 
consagra a função social da propriedade e o direito do consumidor. 
 
 
 
 
 
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De clareza meridiana, pois, a tentativa do legislador originário de desenvolver 
um sistema misto de regras e princípios, de modo a eliminar as 
inconveniências tanto de um "sistema puro de regras" (capacidade limitada de 
realizar a justiça social) quanto de “sistema puro de princípios” (capacidade 
limitada de gerar segurança jurídica).

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